Casé

JOSÉ FERREIRA GODINHO FILHO
(46 anos)
Saxofonista, Clarinetista, Arranjador e Compositor

☼ Guaxupé, MG (03/08/1932)
┼ São Paulo, SP (30/11/1978)

José Ferreira Godinho Filho, conhecido por Casé, foi um saxofonista, clarinetista, arranjador e compositor.

Numa família de oito filhos, quase todos os irmãos tocavam algum instrumento: trombone, banjo, bateria, percussão, trompete e saxofone. Casé se interessou por trombone, mas o pai o convenceu a estudar saxofone. Passou a ter aulas com o irmão mais velho, Clóvis, que tocava saxofone e clarinete.

Aos 7 anos, Casé levava uma vida itinerante com a família, que montou o Circo Teatro Irmãos Martins.

Na década de 1940, morando em São Paulo, teve o maior aprendizado musical assistindo às apresentações do irmão Clóvis em bailes e boates com variados conjuntos e orquestras. Posteriormente, teve aulas com o clarinetista Antenor Driussi e estudou harmonia com Hans-Joachim Koellreuter.

Em 1949, ele, com 17 anos, e o irmão são destaques na Orquestra da Rádio Tupi.

Casé fez sua primeira viagem internacional em 1953. Embarcou para Bagdá, ao lado do pianista e acordeonista belga, radicado em São Paulo, Rudy Wharton, da cantora Sonia Batista e do baixista Johnny.  Depois o grupo passou por Londres e Bruxelas. Gravou um disco em 78 rpm, com as músicas "Feitiço da Vila" (Noel Rosa e Vadico) e "At Last" (Mack Gordon e Harry Warren).

Retornou ao Brasil em 1954 e conviveu, em São Paulo, com o instrumentista João Donato e o trombonista Edson Maciel.

Em 1955, mudou-se para Assis, em São Paulo, e tocou na orquestra local.

Em 1956, voltou para São Paulo e participou, no Teatro Cultura Artística, de um show que resultou no primeiro LP de 12 polegadas feito no país: "Jazz After Midnight", reeditado em 1978 com o título "Dick Farney Plays Gershwin". Em agosto desse ano, no mesmo local, tomou parte da gravação dos discos "Jazz Festival nº 1", com as faixas "Pennies From Heaven", "Blues" e "Out Of Nowhere" - e "História do Jazz em São Paulo".

Tocou na orquestra de Sylvio Mazzuca de 1957 a 1961.

Participou de discos de Walter Wanderley, Dick Farney, Claudete Soares, além de se apresentar com a cantora no programa "O Fino da Bossa". Com o conjunto Brazilian Octopus, se apresentou no show "Momento 68", com Raul Cortez, Walmor Chagas, Gilberto Gil, Caetano Veloso, texto de Millôr Fernandes e direção musical de Rogério Duprat.

Fez os arranjos e gravou algumas faixas do disco "A Onda é Boogaloo", do cantor Eduardo Araújo, em 1969.

A partir de 1970, fez diversos jingles e trilhas para filmes publicitários.

Em 1974, compôs a trilha do filme "A Virgem de Saint Tropez", de Beto Ruschel e Hareton Salvanini.

Na década de 1970, afastou-se da gravação de discos, recusando convites de orquestras e artistas renomados.

Comentário Crítico

Existem poucos registros fonográficos deixados por Casé. Hoje em dia, discos que contêm gravações suas são encontrados com dificuldade em sebos e vendidos como raridades.

Temperamental, recusava propostas de shows e cachês, mantendo-se no anonimato até o fim da vida. Exigente e perfeccionista, dispensava convites para integrar orquestras renomadas no Rio de Janeiro - local de grande efervescência musical e com mais oferta de trabalho nos anos 1960 -, mantendo uma rotina nômade pelas boates de São Paulo e em pequenas excursões pelo interior do estado.

Capaz de fazer primeiras leituras de partituras complexas, acrescentando novidades e reparando erros em relação ao original, arranjando as composições de outros autores no primeiro contato, Casé é influência para vários instrumentistas brasileiros. Considerado um dos saxofonistas mais importantes da história do Brasil, ao lado de Severino Araújo e Moacir Santos, ele se tornou referência para saxofonistas e clarinetistas como Paulo Moura e Nailor Azevedo, o Proveta, da Banda Mantiqueira.

Ele também inspirou outros instrumentistas conceituados, como João Donato, Amilton Godoy, Rubinho Barsotti e Raul de Souza.

Na biografia "Casé - Como Toca Esse Rapaz", de Fernando Licht Barros, sua habilidade é definida em trecho que cita reportagem de Zuza Homem de Mello, na época da morte do saxofonista, dimensionando as qualidades do músico:

"Era um extraordinário leitor de partituras à primeira vista. Conta-se que muitas vezes transportava a parte do sax tenor para a do sax alto na primeira leitura. Casé tinha um sopro suave, como a sua maneira de falar. [...] Mesmo os estrangeiros que o conheceram ficaram admirados de suas qualidades. [...] Era capaz de deixar, num pobre cabaré do interior, sons inesquecíveis, dignos das maiores salas de concerto."


Entre os poucos registros fonográficos de Casé merecem destaque os realizados com a orquestra de Silvio Mazzuca. Em 1958, suas principais gravações estão nos LPs "Baile de Aniversário", com a orquestra do maestro, e "Coffee And Jazz" (Columbia), com o Brazilian Jazz Quartet, editado pelo selo Gravações Tupi Associados (GTA), em 1979, com o título "Casé In Memorian", em que o saxofonista participou de um quarteto ao lado do pianista Moacyr Peixoto, do baixista Luiz Chaves e do baterista Rubinho Barsotti, tocando standards norte-americanos. Além disso, ao lado do baixista Major Holley, do baterista Jimmy Campbell e de Moacyr Peixoto, Casé impressionou com a limpidez de suas notas e com fraseados originais e velozes em "The Good Neighboors Jazz", lançado pela Columbia, em 1958, resultado de jam sessions na boate Michel.

Em 1960, o selo colombiano Hi-Fi Variety lançou o LP "Samba Irresistível", divulgado no Brasil pelo selo Beverly, com Casé e seu conjunto - um dos pouquíssimos trabalhos em que o instrumentista tem o nome assinado na capa de um álbum. No grupo, artistas como Heraldo do Monte, na guitarra, e Paulinho Preto, no piano. No repertório, "Saudade da Bahia" (Dorival Caymmi), "Esse Teu Olhar" (Tom Jobim), "Palpite Infeliz" (Noel Rosa), além de "Ensaio de Bossa", de autoria do próprio Casé.

Mesmo tendo recebido os melhores ensinamentos teóricos na juventude, Casé nunca deixou de estudar, aprimorando sua técnica e leitura. A evolução de sua concepção de arranjo e do domínio interpretativo pode ser observada com clareza no disco "A Onda é Boogaloo", de Eduardo Araújo, de 1970. O LP, com repertório de versões Tim Maia, Eduardo Araújo e Chil Deberto para canções de Ray Charles, "Come Back Baby", James Brown, "Cold Sweet", além de composições de Tim Maia, como "Você", é o embrião do primeiro disco lançado pelo cantor no ano seguinte.

Outras gravações que demonstram a versatilidade de Casé no saxofone - não apenas interpretativa, mas também de escolha de repertório - são "Copacabana" (João de Barro e Alberto Ribeiro), no disco "The Good Neighbors Jazz", de 1958, "Feitio de Oração" (Noel Rosa e Vadico) e "Ensaio de Bossa", tema que evidencia também a capacidade de composição de Casé, no disco "Samba Irresistível", de 1960, "Don't Get Around Much Anymore" (Duke Ellington e Bob Russell), do álbum "Coffee & Jazz", de 1958, e "Summertime" (George Gershwin e Ira Gershwin), em "Meu Baile Inesquecível", de 1963, com Casé e seu conjunto, mostrando toda a familiaridade e o apreço do instrumentista pelo jazz e pela música norte-americana.

Seu último trabalho foi com Oswaldo Sargentelli, no show "Oba-Oba".

Casé morreu no dia 01/121978, num quarto de um hotel situado na chamada Boca do Lixo, no Centro de São Paulo. As causas da morte nunca foram esclarecidas.

Gilberto Mendes

GILBERTO AMBRÓSIO GARCIA MENDES
(93 anos)
Compositor, Regente Orquestral, Professor e Jornalista

☼ Santos, SP (13/10/1922)
┼ Santos, SP (01/01/2016)

Gilberto Ambrósio Garcia Mendes foi um compositor, regente orquestral, professor e jornalista brasileiro. Iniciou seus estudos de música aos 18 anos, no Conservatório Musical de Santos, com Savino de Benedictis e Antonieta Rudge. Praticamente autodidata em composição, compôs sob orientação de Cláudio Santoro e Olivier Toni, e frequentou o Ferienkurse Fuer Neue Musik de Darmstadt, Alemanha, em 1962 e 1968.

Entre 1945 e 1963, foi membro do Partido Comunista Brasileiro e deixou também sua marca na história social da música.

Em 1997, musicou o poema "O Anjo Esquerdo da História", de Haroldo de Campos, que fala sobre os 19 sem-terra assassinados em Eldorado dos Carajás, no Pará, no dia 17/04/1996, data que se tornou o Dia Mundial da Luta Camponesa e Dia Nacional de Luta pela Reforma Agrária.

Já em "Vila Socó, Meu Amor", Gilberto Mendes homenageia os 93 mortos no incêndio da favela Vila Socó, de Cubatão, em 1984. Ele escreveu a música dias após a catástrofe:

"Não devemos esquecer os nossos irmãos da Vila Socó, transformados em cinzas, lixo em pó. A tragédia da Vila Socó mostra como o trabalhador é explorado, esmagado sem nenhum dó!"

Um dos pioneiros da música concreta no Brasil, foi um dos signatários do Manifesto Música Nova, publicado pela revista de arte de vanguarda Invenção, de 1963. Foi porta-voz da poesia concreta paulista, do grupo Noigandres. Como consequência dessa tomada de posição, tornou-se um dos pioneiros no Brasil no campo da música concreta, da música aleatória, da música serial integral, mixed média, experimentando ainda novos grafismos, novos materiais sonoros e a incorporação da ação musical à composição, com a criação do teatro musical, do Happening.

Professor universitário, conferencista, colaborador das principais revistas e jornais brasileiros, Gilberto Mendes foi fundador, em 1962, diretor artístico e programador do Festival Música Nova de Santos, o mais antigo em seu gênero em toda a América. Como professor convidado e Composer In Residence, deu aulas Universidade de Wisconsin-Milwauke, nos Estados Unidos, na qualidade de University Artist 78/79 e Tinker Visiting Professor.

Gilberto Mendes era doutor pela Universidade de São Paulo, onde deu aulas no Departamento de Música da Escola de Comunicações e Artes até se aposentar.

Prêmios e Honrarias

No Brasil, recebeu, entre outros, o Prêmio Carlos Gomes, do Governo do Estado de São Paulo, foi também diversos prêmios da Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA), o I Prêmio Santos Vivo, dado pela ONG de mesmo nome, pela sua obra "Santos Football Music", além de ter sido indicado para o Primeiro Prêmio Multicultural do jornal O Estado de S. Paulo. Também recebeu a Bolsa Vitae, o Prêmio Sérgio Mota Hors Concours 2003 e o título de Cidadão Emérito da Cidade de Santos, dado pela Câmara Municipal de Vereadores.

Em cerimônia no Palácio do Planalto, em Brasília, no ano de 2004, o autor recebeu a insígnia e diploma de sua admissão na Ordem do Mérito Cultural, na classe de comendador, do Ministério da Cultura, das mãos do presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, e do Ministro da Cultura, Gilberto Gil.

Gilberto Mendes era membro honorário da Academia Brasileira de Música e do Colégio de Compositores Latino-americanos de Música de Arte, com sede no México.

Verbetes com seu nome constam das principais enciclopédias e dicionários mundiais, como o Grove em inglês, o Rieman alemão, o Dictionary Of Contemporarry Music, de John Vinton e vários outros.

Morte

Gilberto Mendes morreu em 01/01/2016, aos 93 anos. Ele estava internado desde a véspera do Natal, 24/12/2015, na Unidade de Tratamento Intensivo (UIT) da Santa Casa de Santos devido a problemas respiratórios. Sofria de asma e teve uma crise, segundo o escritor Flávio Viegas Amoreira. Morreu às 18h40min, por falência múltipla de órgãos.

Gilberto Mendes era casado há 40 anos com Eliane Ghigonetto e tinha três filhos, um deles já falecido.

Obra

Sua obra já foi tocada nos cinco continentes, principalmente na Europa e Estados Unidos.

Destacam-se, dentre as peças para orquestra:

  • Santos Football Music
  • Concerto para Piano e Orquestra

Para Grupos Instrumentais:

  • Saudades do Parque Balneário Hotel
  • Ulysses em Copacabana Surfando com James Joyce e Dorothy Lamoura
  • Longhorn Trio
  • Rimsky

Para Coro:

  • Beba Coca-Cola
  • Ashmatour
  • O Anjo Esquerdo da História
  • Vila Socó Meu Amor

Escreveu também inúmeras peças para piano e canções. Seu livro "Uma Odisséia Musical" foi publicado pela Editora da Universidade de São Paulo (EDUSP).

Fonte: Wikipédia