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Medeiros Neto

ANTÔNIO GARCIA DE MEDEIROS NETO
(60 anos)
Político e  Fazendeiro

☼ Alcobaça, BA (14/08/1887)
┼ Itaberaba, BA (13/02/1948)

Antônio Garcia de Medeiros Netto foi um político brasileiro nascido em Alcobaça, BA, no dia 14/08/1887. Foi discípulo e amigo de Ruy Barbosa.

Medeiros Neto era formado em Direito pela Faculdade de Direito da Bahia em 1908, foi o primeiro advogado inscrito na Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), seção Bahia.

Em 25/03/1919, enquanto discursava em praça pública em defesa de Ruy Barbosa, que era então candidato à Presidência da República, foi vítima de um atentado a bala, que o feriu no pulmão direito. A família guarda ainda hoje a bala.

Foi eleito deputado estadual por três vezes e deputado federal por quatro vezes, mas não tomou posse, devido a embargos políticos. Elegeu-se deputado federal para a Assembleia Constituinte de 1933 pelo Partido Social Democrático (PSD), partido do qual fora um dos fundadores em 1932. Na Assembleia Constituinte, foi líder da maioria.

Após a promulgação da Constituição de 1934, foi eleito senador e foi escolhido como presidente do Senado Federal de 29/04/1935 até 10/11/1937, quando teve seu mandato cassado pelo golpe do Estado Novo.

Após a cassação, passou a se dedicar à vida de fazendeiro e pecuarista e voltou a advogar em causas especiais. Nesse período foi também membro fundador do Partido Trabalhista Brasileiro (PTB) e presidente da regional do partido na Bahia.

Medeiros Neto teve papel crucial na criação do Instituto de Resseguros do Brasil, empresa mista que manteve durante quase 70 anos o monopólio na área de resseguros no país.

Em 1945, depois da redemocratização do país, apoiou Eurico Gaspar Dutra na candidatura deste à Presidência da República.

Concorreu ao governo da Bahia no pleito de 1946 e foi preterido em favor de Octavio Mangabeira (UDN-PSD), embora tenha obtido 60% dos votos dos eleitores da capital baiana.

Antônio Garcia de Medeiros Neto faleceu em sua fazenda Morro de Pedra, em Itaberaba, BA, no dia 13/02/1948, aos 60 anos de idade. Deixou cinco filhos de seu casamento com Carola Helena Rodenburg de Medeiros Netto.

Dez anos depois, em 1958, o distrito de Água Fria, no município de Alcobaça, emancipou-se e recebeu o nome de Medeiros Neto, em homenagem ao senador alcobacense.

Fonte: Wikipédia

Francisco Morato

FRANCISCO ANTÔNIO DE ALMEIDA MORATO
(79 anos)
Advogado, Jurista e Político

☼ Piracicaba, SP (17/10/1868)
┼ São Paulo, SP (12/05/1948)

Francisco Antônio de Almeida Morato foi um advogado, jurista e político brasileiro. Foi promotor público e fundador da Ordem dos Advogados de São Paulo, a qual presidiu de 1916 a 1922 e de 1925 a 1927. Foi também membro do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo e professor da Faculdade de Direito de São Paulo, da qual foi diretor entre 1935 e 1938.

Na política foi deputado federal pelo estado de São Paulo em 1930 e secretário da Justiça e Negócios do Interior durante a interventoria de Macedo Soares.

Estudou Humanidades no Colégio Moretzsohn, prestando exames preparatórios no Curso Anexo da Faculdade de Direito de São Paulo, na qual matriculou-se em 1884, recebendo o grau de bacharel em 1888.

Em sua terra natal exerceu a profissão de advogado, ocupando também os cargos de promotor público, vereador, inspetor escolar e provedor da Santa Casa de Misericórdia.

Transferindo-se para São Paulo, foi um dos fundadores da Ordem dos Advogados de São Paulo, tendo sido eleito seu primeiro presidente, função que ocupou de 1916 a 1922 e de 1925 a 1927.

Aprovado em concurso, foi nomeado professor substituto da sétima seção da Faculdade de Direito de São Paulo, em 1917. Em novembro de 1918, tomou posse da cadeira e recebeu o grau de doutor. Em outubro de 1922, assumiu a cátedra de Prática do Processo Civil e Comercial.


Como advogado, ganhou fama por um caso constantemente lembrado: Conseguiu a absolvição de José de Almeida Sampaio, assassino de Almeida Júnior em frente ao Hotel Central, em 1899.

Na órbita política, foi fundador do Partido Democrático, eleito deputado federal em 1927, tendo sido um dos organizadores da Frente Única de 1932, com destacado papel no Movimento Constitucionalista.

Foi membro do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo e presidente do Tribunal de Ética Profissional. Jubilado na cadeira de Direito Judiciário Civil, foi-lhe conferido o título de professor emérito.

Após a Revolução, no período de 1932-1933 esteve exilado na França e em Portugal.

No período de 1935 a 1938, foi diretor da Faculdade de Direito de São Paulo.

Recusou a presidência do Estado, aceitando porém o cargo de secretário da Justiça e Negócios do Interior na interventoria Macedo Soares.

Fonte: Wikipédia

João Petra de Barros

JOÃO PETRA DE BARROS
(33 anos)
Cantor

* Rio de Janeiro, RJ (23/06/1914)
+ Rio de Janeiro, RJ (11/01/1948)

João Petra de Barros era irmão do também cantor Mário Petra de Barros. Começou cantando, no início dos anos 30, no Programa Casé, na Rádio Philips. Em pouco tempo, conquistou fama por ter um timbre parecido com o de Francisco Alves, grande ídolo do rádio na época. Passou a ser chamado de "A Voz de 18 Quilates".

Era figura constante em rodas de samba, juntamente com Noel Rosa, Luís Barbosa e Custódio Mesquita. Com eles e outros personagens de nossa música popular brasileira, entre os quais, Francisco Alves, Paulo BarbosaLuís Barbosa, Benedito Lacerda, Lamartine Babo e outros, frequentavam o famoso Café da Uma Hora, situado no nº 476 da Rua São Francisco Xavier, zona norte do Rio de Janeiro.

Em 1933, lançou seu primeiro disco, pela Odeon, interpretando o samba "Até Amanhã" (Noel Rosa). Logo na estréia, alcançou grande sucesso no carnaval. No mesmo ano, com acompanhamento da Orquestra Copacabana gravou de Ismael Silva o samba "Seja o Que Deus Quiser" (André Filho), a marcha "Gente Danada" (Noel Rosa e Francisco Alves), o samba "Nem Com Uma Flor" e, com Luís Barbosa lançou o samba "Seja Breve" (Noel Rosa). Também na mesma época, fez sucesso com o fox canção "Cantor de Rádio" (Custódio Mesquita e Paulo Roberto).

João Petra de Barros foi um dos principais artistas do elenco da Rádio Globo. Participou, ao lado de Carmen MirandaCustódio Mesquita, de vários programas de rádio e de teatros. Participou do recital em benefício do Sindicato Brasileiro de Artistas de Rádio, que reuniu grandes nomes do rádio, em 1934.



Seu maior sucesso foi "Feitiço Da Vila" (Noel Rosa e Vadico), gravada em 1934, pela Odeon. No mesmo ano gravou de Custódio Mesquita a marcha "Lourinha", de Ismael Silva o samba "Não É Tanto Assim" e dois sambas de Ary Barroso"Duro Com Duro" e "Sentinela Alerta", o segundo, em dueto com Noel Rosa. Ainda em 1934, fez sucesso com o fox trot "Ninon (Quando Tu Sorris)", versão de João de Barro para composição de B. Kaper e W. Jurman, e com a valsa "Nestas Noites De Amor" (Custódio Mesquita e Orestes Barbosa).

João Petra de Barros foi o intérprete da primeira versão de "Pastorinhas", ainda com o título "Linda Pequena", parceria de Noel Rosa e Braguinha, gravada pela Odeon em 1933 e lançada em 1935.

Ainda em 1935, gravou com Aurora Miranda, a marcha "O Tempo Passa" (Custódio Mesquita Paulo Orlando), e o samba "De Madrugada" (Vicente Paiva e Haroldo Barbosa). 

Em 1940 gravou a marcha "Olha Ela" (Russo do Pandeiro e Peterpan), e o samba "Em Cima Da Hora"(Russo do Pandeiro e Valfrido Silva).

Em 1941 lançou os sambas "Ai, Ai, Ai" (Haroldo Lobo e Milton de Oliveira) e "Mal-Agradecida" (Ataulfo Alves e Jardel Noronha).

Em 1942 fez sucesso com o fox "Mais Um Minuto Apenas" (Newton Teixeira e Mário Lago).

Em 1946 gravou seu último disco, interpretando de Pedro Caetano e Geraldo Costa o samba "Dorme Meu Amor" e o samba tango "Já Sou Feliz". Fez também sucesso com a canção "Última Inspiração" (Peterpan), gravada pela RCA Victor, com a marcha "Professora De Saudade" (André FilhoOrestes Barbosa), o samba "Foi No Teu Olhar" (André Filho) e o fox "O Que O Teu Piano Revelar" (Custódio Mesquita Orestes Barbosa). Ao longo de sua curta carreira, gravou 48 discos, com 94 músicas ao todo.

João Petra de Barros teve sua carreira interrompida por acidente do qual resultou a amputação de uma perna. Desgostoso com o ocorrido, acabou cometendo suicídio em 11/01/1947, mas deixou uma importante bagagem musical que acabou por incluí-lo entre os melhores intérpretes da Música Popular Brasileira.

Discografia

  • 1946 - Dorme Meu Amor / Já Sou Feliz (Continental, 78)
  • 1945 - Moça Bonita / Vingança De Palhaço (Continental, 78)
  • 1944 - Depois De Um Longo Inverno / Agora É Tarde (RCA Victor, 78)
  • 1943 - Quem Será? / Sou Eu Quem Volta (RCA Victor, 78)
  • 1942 - Teatro De Revista / Mais Um Minuto Apenas (RCA Victor, 78)
  • 1942 - Último Sonho / Louquinho Por Ela (RCA Victor, 78)
  • 1942 - Foi Ela Que Me Deixou / Saudade Do Teu Beijo (RCA Victor, 78)
  • 1942 - Só Vendo / Chorar É Meu Consolo (RCA Victor, 78)
  • 1942 - Não É Bem Isso / Quem É O Tal? (RCA Victor, 78)
  • 1941 - Ai, Ai, Ai / Mal-Agradecida (RCA Victor, 78)
  • 1941 - Segura O Bode / Já Passou Da Hora (RCA Victor, 78)
  • 1941 - Santo Antônio Amigo / Bonequinha De Veludo (RCA Victor, 78)
  • 1941 - Não Dou Liberdade A Mulher / Rosa De Veludo (RCA Victor, 78)
  • 1941 - É Feliz / Mariana Me Deu O Bolo (RCA Victor, 78)
  • 1941 - Não Adianta Beber / Não Há Razão (RCA Victor, 78)
  • 1940 - Última Inspiração (RCA Camden, LP)
  • 1940 - Olha Ela / Em Cima Da Hora (RCA Victor, 78)
  • 1940 - Pobre Pierrô / É Tarde (RCA Victor, 78)
  • 1940 - Flor Do Lodo / Última Inspiração (RCA Victor, 78)
  • 1940 - Olha ela/Em cima da hora (RCA Victor, 78)
  • 1935 - O Tempo Passa / De Madrugada (Odeon, 78)
  • 1935 - De Quem É O Meu Amor? (Odeon, 78)
  • 1935 - Beijo Mascarada / O Teu Olhar (Odeon, 78)
  • 1935 - O Que O Teu Piano Revelou / Tapera (Odeon, 78)
  • 1935 - A Noite É Nova / Quando Eu For Velho Para Sonhar (Odeon, 78)
  • 1935 - Linda Pequena / Você Prometeu (Odeon, 78)
  • 1934 - A Felicidade Não Sorri Duas Vezes (Columbia, 78)
  • 1934 - Lourinha / Não É Tanto Assim (Odeon, 78)
  • 1934 - Foi Tocando Violão / Olhei O Teu Retrato (Odeon, 78)
  • 1934 - Ave Noturna / Por Que Canto? (Odeon, 78)
  • 1934 - Duro Com Duro / Sentinela Alerta (Odeon, 78)
  • 1934 - A Lua Não Mudou / Meu Rosal (Odeon, 78)
  • 1934 - Ninon (Quando Tu Sorris) / Nestas Noites De Amor (Odeon, 78)
  • 1934 - Professora Da Saudade / Foi No Teu Olhar (Odeon, 78)
  • 1934 - Feitiço da Vila/Chegou Papai Noel (Odeon, 78)
  • 1934 - Noiva Do Meu Coração / Menina Bonita (Odeon, 78)
  • 1933 - Quero Falar Com Você / Até Amanhã (Odeon, 78)
  • 1933 - Amor, Meu Grande Amor / Seja O Que Deus Quiser (Odeon, 78)
  • 1933 - Daquele Jeito / É Carinho Que Ela Quer (Odeon, 78)
  • 1933 - Gente Danada / Nem Com Uma Flor (Odeon, 78)
  • 1933 - Tu És Bela / Morena Meu Amor (Odeon, 78)
  • 1933 - Sorrindo Sempre / Isso Não Se Faz (Odeon, 78)
  • 1933 - Cantor De Rádio / Veio D'Água (Odeon, 78)
  • 1933 - Se Eu Tivesse Um Bem / Canção Ao Microfone (Odeon, 78)
  • 1933 - Palacete De Malandro / Conto Da Carochinha (RCA Victor, 78)
  • 1933 - Seja Breve / Caixa Econômica (RCA Victor, 78)
  • 1933 - Dor De Uma Saudade / Sonho Bonito (RCA Victor, 78)

Fonte: Dicionário Cravo Albin da MPB
Indicação: Miguel Sampaio

Eugênia Brandão

EUGÊNIA ÁLVARO MOREYRA
(50 anos)
Jornalista, Atriz, Diretora Teatral e Tradutora

* Juiz de Fora, MG (06/03/1898)
+ Rio de Janeiro, RJ (16/06/1948)

Eugênia Álvaro Moreyra foi uma jornalista, atriz e diretora de teatro brasileira. De personalidade anti-convencional e transgressora, foi uma das pioneiras do feminismo e uma das líderes da campanha sufragista no país. Ligada ao Movimento Modernista Brasileiro e defensora de idéias comunistas, foi perseguida pelo governo de Getúlio Vargas, chegando a ser presa acusada de participação na Intentona Comunista.

Casada com o poeta e escritor Álvaro Moreyra, desempenhou com ele papel importante na renovação do setor teatral brasileiro, organizando campanhas culturais de popularização e trabalhando como atriz, diretora, tradutora, declamadora e posteriormente presidente do sindicato dos profissionais de teatro.

Juventude e Carreira Jornalística

Chamada do jornal 'A Rua' para
a notícia sobre a 'aposentadoria'
de Eugênia Moreyra, 1914
Eugênia Brandão nasceu em Juiz de Fora no ano de 1898. Filha do Drº Armindo Gomes Brandão e de Maria Antonieta Armond Brandão, e neta de Honório Augusto José Ferreira Armond, o Barão de Pitangui, teve uma infância confortável em sua cidade natal, mas com a morte de seu pai, a família passou a enfrentar dificuldades financeiras. Como Maria Antonieta não pôde requerer a herança deixada pelo marido, que pela lei deveria ficar sob responsabilidade dos filhos de sexo masculino, mudou-se com Eugênia para o Rio de Janeiro em meados de 1910 à procura de emprego. Conseguiu trabalho em uma agência do Correios nas redondezas da Lapa, enquanto a filha, autodidata, aprendeu a ler e a escrever em português e francês a partir da análise de jornais, livros e dicionários.

Eugênia conseguiu seu primeiro emprego aos 15 anos, como vendedora da loja de artigos masculinos e femininos Magazin Parc Royal, no centro do Rio de Janeiro. Pouco depois passou a trabalhar como atendente na Freitas Bastos, livraria localizada no Largo da Carioca. É ali, em meios às obras de autores nacionais e internacionais, que tomou gosto pela literatura e pelo teatro.

Aos 16 anos, encontrava-se totalmente integrada à vida boêmia da cidade, inclusive nos modos e nos trajes - fumando cigarrilhas, circulava pelas ruas vestida de terno, gravata e chapéu de feltro. É dessa forma que se apresentou na redação do jornal A Rua, à procura de uma vaga de jornalista. Aprovada pelo bom texto e pela ousadia, sua contratação provocou espanto e admiração em uma sociedade até então acostumada a ver o sexo feminino representado na imprensa apenas por poetisas, folhetinistas, cronistas e ensaístas. Uma mulher exercer o jornalismo era, inclusive, algo tão incomum que se cunhou até mesmo um termo para designar a função: "Reportisa".

Pouco depois o periódico noticiou o fim prematuro da carreira da jovem, que decidiu buscar refúgio em um internato para moças, o Asilo Bom Pastor. O mistério e a razão para tal só foram desvendados meses depois, quando uma reportagem assinada por ela foi publicada na primeira página do diário. Eugênia, na verdade, internara-se com a única intenção de entrevistar a irmã de uma mulher assassinada em um crime de ampla repercussão, que ficou conhecido como "A Tragédia da Rua Drº Januzzi, 13".

A mulher, porém, já havia sido retirada do asilo, mas Eugênia permaneceu morando no local na tentativa de obter informações com outras internas. Não conseguiu nada, mas percebeu ali a oportunidade de relatar o cotidiano restritivo da clausura. A série resultante de reportagens, publicada em capítulos durante cinco dias seguidos, conquistou um grande número de leitores, rendendo à sua autora o reconhecimento dos colegas, dos jornais concorrentes e do público, que passou a defini-la como a "a primeira repórter do Brasil". Antes de casar-se e abandonar temporariamente a profissão, Eugênia circulou ainda pelas redações de A Notícia e O Paíz, outros dois célebres jornais da época.

Da esquerda para a direita: Pagu, Elsie Lessa, Tarsila do Amaral, Anita Malfatti e Eugênia Álvaro Moreyra na Semana de Arte Moderna de 1922.
Casamento e Agitação Política e Cultural

No auge de sua carreira como repórter, Eugênia conheceu o poeta Álvaro Moreyra, que frequentava os mesmos círculos intelectuais e boêmios que ela. Apaixonados, casaram-se em 1914. Eugênia então adotou o nome do marido como seu sobrenome, e deixou a carreira jornalística de lado para se dedicar à nova família. O casal teve oito filhos, sendo que quatro sobreviveram à infância: Sandro Luciano, João Paulo, Álvaro Samuel e Rosa Marina.

Participou com Álvaro Moreyra da Semana de Arte Moderna de 1922, fundando com ele em 1927 o grupo Teatro de Brinquedo, cuja intenção era manifestar no teatro as idéias modernistas.

Entre 1928 e 1932, realizaram diversas excursões pelo interior e periferias do Rio de Janeiro, apresentando textos de autores modernos europeus.

Com a fragmentação do movimento modernista brasileiro após a Revolução de 1930, Eugênia passou a defender, juntamente com Álvaro Moreyra, Pagu e Oswald de Andrade, posições de esquerda, participando ativamente da Aliança Nacional Libertadora (ANL) e sendo consequentemente perseguida pelo governo de Getúlio Vargas.

Por influência de Carlos Lacerda, Eugênia Álvaro Moreyra filiam-se ao Partido Comunista do Brasil (PCB), e em maio de 1935, ela integrou o grupo de fundadoras da União Feminina do Brasil, organização promovida por mulheres filiadas ou simpatizantes do Partido Comunista do Brasil. A casa dos Moreyra nesta época tornara-se ponto de encontro de boêmios e intelectuais, e entre os diversos frequentadores estavam Di Cavalcanti, Vinícius de Moraes, Carlos Drummond de Andrade, Graciliano Ramos e Jorge Amado.

Em novembro de 1935, após a Intentona Comunista, Eugênia foi detida acusada de envolvimento com o Partido Comunista do Brasil e a revolta. Permaneceu cerca de quatro meses na Casa de Detenção da Rua Frei Caneca, onde dividiu cela com militantes comunistas como Olga Benário Prestes, Maria Werneck de Castro, Nise da Silveira, Armanda Álvaro Alberto e Eneida de Moraes. Foi libertada por falta de provas na madrugada de 01/02/1936, retornando ao ativismo político e exercendo, entre outras atividades, uma campanha para a libertação de Anita Leocádia Benário Prestes, o bebê de Olga Benário que nascera após a deportação da companheira de Luis Carlos Prestes para um campo de concentração na Alemanha nazista de Adolf Hitler.

Em 1937, Álvaro Moreyra apresentou à Comissão de Teatro do Ministério da Educação e Cultura o plano para a organização de uma "Companhia Dramática Brasileira", que foi aceito. Ele e sua esposa excursionaram então pelos estados de São Paulo e Rio Grande do Sul, realizando posteriormente uma temporada de três meses no Teatro Regina, Rio de Janeiro.

Na segunda fila, Eugênia Brandão é a segunda da direita para a esquerda. A garotinha na foto é Bibi Ferreira, famosa atriz do Rio de Janeiro.
Atuação Sindical e Morte

Entre 1936 e 1938, Eugênia foi presidente da Casa dos Artistas, o sindicato da classe teatral de São Paulo. Eleita para um novo mandato em fevereiro de 1939, foi impedida de assumir o cargo por Filinto Müller, que encaminhou ao Ministério do Trabalho a denúncia de que ela se tratava de "pessoa que figura como comunista na Delegacia de Segurança e Política Social", sendo a eleição consequentemente anulada por ordem direta do ministro Valdemar Falcão.

Ela candidatou-se ainda a deputada federal constituinte nas eleições gerais de 1945, mas na ocasião nenhuma mulher conseguiu ser eleita para representar os interesses femininos durante a elaboração da Constituição brasileira de 1946.

No dia 16 de junho de 1948, Eugênia estava em sua casa no Rio de Janeiro jogando cartas quando sentiu-se mal. Veio a morrer pouco depois no quarto, ao lado dos filhos, em decorrência de um Derrame Cerebral. Estava então com 50 anos de idade.


Legado

Em um depoimento publicado no jornal Correio da Manhã após a morte de Eugênia, o escritor Oswald de Andrade afirmou que "o que se deve a ela será calculado um dia". A realidade, porém, é que com o passar dos anos a importante e desbravadora atuação de Eugênia em setores até então predominantemente masculinos, como o político e sindical, tornou-se cada vez mais subestimada, e ela permanece uma personagem à margem dos livros de história - lembrada, quando muito, apenas pelo pioneirismo na imprensa.

Após a morte de Álvaro Moreyra em 1964, foi encontrado em seus arquivos pessoais um número expressivo de fotografias e recortes de jornais e revistas sobre a esposa. O acervo havia sido parcialmente utilizado por ele como referência na composição do livro autobiográfico "As Amargas, Não...", sendo posteriormente doado por parentes à Fundação Casa de Ruy Barbosa.

A veia jornalística do casal Moreyra persistiu na família. O filho Sandro foi cronista esportivo, a neta Sandra tornou-se repórter da TV Globo e a bisneta Cecília formou-se em comunicação.

Fonte: Wikipédia

Roberto Simonsen

ROBERTO COCHRANE SIMONSEN
(59 anos)
Engenheiro, Empresário, Político, Historiador e Escritor

☼ Santos, SP (18/02/1889)
┼ Rio de Janeiro, RJ (25/05/1948)

Roberto Cochrane Simonsen era filho de Sidney Martins Simonsen e Robertina da Gama Cochrane Simonsen, esta última de família nobre. Começou a sua educação primária em Santos, depois foi para o Colégio Anglo-Brasileiro, na capital paulista. Mais tarde, ingressou na Escola Politécnica de São Paulo, hoje integrante da Universidade de São Paulo (USP), formando-se engenheiro.

Após formado começou a trabalhar na companhia ferroviária Southern Brazil Railway. Logo saiu para ocupar por dois anos o cargo de diretor-geral de obras na prefeitura de Santos. Ali foi também engenheiro-chefe da Comissão de Melhoramentos de Santos. No ano seguinte fundou a Companhia Construtora de Santos, fato que foi o início de seu ofício de empresário.

Em 1919 iniciou-se na diplomacia, integrando missões comerciais. Graças à sua amizade com o ministro da Guerra no governo de Epitácio Pessoa (1919-1922), Pandiá Calógeras, sua companhia, executou a construção de quartéis para o exército em diversos estados do país.

Participou ativamente do Movimento Constitucionalista Paulista, em 1932, em resistência ao golpe de estado desferido por Getúlio Vargas e outros na Revolução de 1930. Integrou o movimento intelectual pela fundação da primeira escola superior que ofereceria sociologia e política no Brasil, a atual Escola de Sociologia e Política de São Paulo, onde lecionou história econômica do Brasil, atividade que o levou a publicar alguns trabalhos acadêmicos sobre o tema.

Em 1933 ingressou na política, sendo eleito deputado constituinte por São Paulo. Exerceu o mandato de deputado federal na legislatura de 1933 a 1937. Quando o país voltou ao regime democrático, após a II Guerra Mundial, elegeu-se senador, cargo que ocupava quando faleceu.

Era, ainda, presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (FIESP) e integrante do conselho superior da Escola de Sociologia e Política de São Paulo. Sua atividade empresarial continuava, como presidente da Companhia Construtora de São Paulo e da Cerâmica São Caetano.

Membro de Instituições

Foi membro da Academia Paulista de Letras e Academia Brasileira de Letras, do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo, Instituto Histórico e Geográfico de Santos e Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro. Pertenceu ao Clube de Engenharia do Rio de Janeiro e ao Instituto de Engenharia de São Paulo.

No exterior era membro da National Geographic Society, de Washington, DC, Estados Unidos, da Royal Geographic Society, de Londres, Inglaterra e da Academia Portuguesa de História.

A Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (FIESP) possui o Instituto Roberto Simonsen. Ele foi, ainda:
  • Comendador da Ordem Nacional do Mérito do Paraguai
  • Comendador da Ordem Nacional do Mérito do Chile
  • Medalha de Prata do Cinquentenário da Proclamação da República
  • Estádio Roberto Simonsen (Estádio do SESI) em Manaus, AM

Academia Brasileira de Letras

Foi eleito a 9 de agosto de 1945 para ocupar a cadeira 3 da Academia Brasileira de Letras, que tem por patrono Artur de Oliveira, como seu segundo ocupante, sendo recebido por José Carlos de Macedo Soares, a 7 de outubro do ano seguinte.

Roberto Simonsen veio a falecer em pleno Salão Nobre da Academia Brasileira de Letras, quando proferia um discurso de saudação ao Primeiro-Ministro belga, Paul van Zeeland, que visitava o país.

Sua produção foi toda voltada para os aspectos econômicos, e à sua atividade no magistério de economia. Publicou Roberto Simonsen os seguintes livros:
  • 1912 - O Município de Santos
  • 1912 - Os Melhoramentos Municipais de Santos
  • 1919 - Gado e a Carne no Brasil
  • 1919 - O Trabalho Moderno
  • 1923 - Calçamento de São Paulo
  • 1928 - A Orientação Industrial Brasileira
  • 1930 - As Crises no Brasil
  • 1931 - As Finanças e a Indústria
  • 1931 - A Construção dos Quartéis Para o Exército
  • 1923 - À Margem da Profissão
  • 1933 - Rumo à Verdade
  • 1934 - Ordem Econômica e Padrão de Vida
  • 1935 - Aspectos da Economia Nacional
  • 1937 - História Econômica do Brasil (2 Volumes)
  • 1937 - A Indústria em Face da Economia Nacional
  • 1938 - Conseqüências Econômicas da Abolição - Conferência promovida pelo Departamento de Cultura no Primeiro Centenário da Abolição. Rio de Janeiro. 'Jornal do Commercio' em 08/03/1938. Reimpressa na Revista do Arquivo Municipal de São Paulo. V. XLVII. P. 257 e Seguintes
  • Discurso Pronunciado na Colação de Grau dos Primeiros Bacharéis em Ciências Políticas e Sociais, SP - Correio Paulistano, 19-12-1937
  • 1938 - Aspectos da História Econômica do Café
  • 1939 - A Evolução Industrial do Brasil
  • 1939 - Objetivos da Engenharia Nacional
  • 1940 - Recursos Econômicos e Movimentos de População
  • 1940 - Níveis de Vida e a Economia Nacional
  • 1941 - As Indústrias e as Pesquisas Tecnológicas
  • 1942 - As Classes Produtoras de São Paulo e o Momento Nacional
  • 1943 - Ensaios Sociais Políticos e Econômicos
  • 1943 - As Indústrias e as Pesquisas Tecnológicas
  • O Plano Marshall e a América Latina, Relatório

Fonte: Wikipédia

Padre Leonel Franca

LEONEL EDGARD DA SILVEIRA FRANCA
(55 anos)
Professor e Sacerdote

* São Gabriel, RS (06/01/1893)
+ Rio de Janeiro, RJ (03/09/1948)

Entrou para a Companhia de Jesus em 1908, ordenando-se sacerdote em 1923. Foi então para Roma, onde doutorou-se em teologia e filosofia na Universidade Gregoriana.

De volta ao Brasil, foi professor do Colégio Santo Inácio, no Rio de Janeiro. Lecionou história da filosofia, psicologia experimental e química no Colégio Anchieta, em Nova Friburgo.

Foi membro do Conselho Nacional de Educação em 1931 e vice-reitor do Colégio Santo Inácio, no Rio de Janeiro. Teve papel destacado na fundação da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio) e foi, também, seu primeiro reitor. Em 1947 recebeu o Prêmio Machado de Assis.

Algumas de Suas Obras

  • 1918 - Noções de História da Filosofia
  • 1919 - Apontamentos de Química Geral
  • 1922 - A Igreja, a Reforma e a Civilização
  • 1949 - Pensamentos Espirituais (Publicada Postumamente)

Fonte: Wikipédia

Lorenzo Fernândez

OSCAR LORENZO FERNÂNDEZ
(50 anos)
Compositor

* Rio de Janeiro, RJ (04/11/1897)
+ Rio de Janeiro, RJ (27/08/1948)

Nascido no Rio de Janeiro e filho de pais espanhóis, ainda rapaz começou a tocar nas festas dançantes do Centro Galego. Aos dezoito anos compôs a ópera Rainha Moura.

Em 1917 ingressou no Instituto Nacional de Música, onde iniciou os estudos de teoria, harmonia, contraponto e fuga com os professores Antônio Francisco Braga, Henrique Oswald e Frederico Nascimento, considerado seu mentor artístico. Em 1923, por ocasião de uma doença de Frederico Nascimento, assumiu como substituto na caderia de harmonia, o que se tornou permanente dois anos depois.

Compositor brasileiro da fase nacionalista, tem obra relativamente pequena caracterizada pelo apuro formal. Marcou época o trio brasileiro, de 1924, para piano, violino e violoncelo.

Em 1936 fundou o Conservatório Brasileiro de Música, o qual dirigiu até a sua morte, em 1948.

Música

Sua obra abrange três períodos:

- No primeiro período, de 1918 a 1922, se observa a influência do impressionismo francês, o uso da bitonalidade e a ausência de temática brasileira.

- No segundo período, de 1922 a 1938, considerado como o ponto alto de sua produção, verifica-se uma forte presença nacionalista, com a utilização de temas folclóricos, que valorizam a presença das etnias branca, negra e índia na formação do Brasil, assim como a transformação moderna do país.

- No terceiro período, de 1942 até a sua morte, sua obra assume um tom universalista. Compôs canções, suítes sinfônicas, balés, peças para piano, música de câmara, concertos e sinfonias.

Sua obra vocal está baseada na modinha e na música dos seresteiros. Toada Pra Você é sua canção mais conhecida.

Obra - Primeiro Período
  • 1920 - Arabesca
  • 1920 - Miragem
  • 1922 - Noturno
  • 1922 - Arabesca
  • 1922 - Cisnes
  • 1922 - Ausência

Obra - Segundo Período
  • 1924 - Trio Brasileiro, Opus 32, para piano, violino e violoncelo
  • 1924 - Canção Sertaneja, Opus 31
  • 1925 - Suíte Sobre Três Temas Populares Brasileiros
  • Toada Pra Você, em parceria com Mário de Andrade 
  • 1929 - Imbapara, balé
  • 1930 - Amaya, balé
  • 1930 - Reisado do Pastoreio, suíte orquestral com o famoso Batuque
  • 1941 - Malazarte, ópera
  • Valsa Suburbana
  • Suítes Brasileiras, para piano solo
  • Essa Nega Fulô, para canto e piano

Obra - Terceiro Período
  • 1945 e 1947 - Duas Sinfonias
  • Quarteto de Cordas nº 2
  • Sonata Breve
  • Variações Sinfônicas, uma síntese de suas diferentes fases
  • Toada Pra Você
  • 1944 - Invenções Seresteiras, para clarinete e fagote.

Legado

Seu sucesso maior foi o do Reisado do Pastoreio, suíte em três partes que contém o famoso Batuque que encantou Arturo Toscanini e Serge Koussevitzky.

O Conservatório Estadual de Música Lorenzo Fernández, inaugurado em março de 1961, foi nomeado em sua homenagem.

Fonte: Wikipédia

Monteiro Lobato

JOSÉ BENTO RENATO MONTEIRO LOBATO
(66 anos)
Escritor, Advogado e Editor

* Taubaté, SP (18/04/1882)
+ São Paulo, SP (04/07/1948)

Foi um dos mais influentes escritores brasileiros do século XX. Foi um importante editor de livros inéditos e autor de importantes traduções. Seguido a seu precursor Figueiredo Pimentel "Contos da Carochinha" da literatura infantil brasileira, ficou popularmente conhecido pelo conjunto educativo de sua obra de livros infantis, que constitui aproximadamente a metade da sua produção literária. A outra metade, consistindo de contos (geralmente sobre temas brasileiros), artigos, críticas, crônicas, prefácios, cartas, um livro sobre a importância do petróleo e do ferro, e um único romance, "O Presidente Negro", o qual não alcançou a mesma popularidade que suas obras para crianças, que entre as mais famosas destaca-se Reinações de Narizinho (1931), Caçadas de Pedrinho (1933) e O Picapau Amarelo (1939).

Os Primeiros Anos

Criado em um sítio, Monteiro Lobato foi alfabetizado pela mãe Olímpia Augusta Lobato e depois por um professor particular. Aos sete anos, entrou em um colégio. Nessa idade descobrira os livros de seu avô materno, o Visconde de Tremembé, dono de uma biblioteca imensa no interior da casa. Leu tudo o que havia para crianças em língua portuguesa. Nos primeiros anos de estudante já escrevia pequenos contos para os jornaizinhos das escolas que frequentou.

Aos onze anos, em 1893, foi transferido para o Colégio São João Evangelista. Ao receber como herança antecipada uma bengala do pai, que trazia gravada no castão as iniciais J.B.M.L., mudou seu nome de José Renato para José Bento, a fim de utilizá-la. No ano seguinte, os pais o presentearam com uma calça comprida, que usou bastante envergonhado. Em dezembro de 1896 foi para São Paulo e, em janeiro de 1897, prestou exames das matérias estudadas na cidade natal, mas foi reprovado no curso preparatório e retornou a Taubaté.

Quando retornou ao Colégio Paulista, fez as suas primeiras incursões literárias como colaborador dos jornaizinhos "Pátria", "H2S" e "O Guarany", sob o pseudônimo de Josben e Nhô Dito. Passou a colecionar avidamente textos e recortes que o interessavam, e lia bastante. Em dezembro prestou novamente os exames para o curso preparatório e foi aprovado. Escreveu minuciosas cartas à família, descrevendo a cidade de São Paulo. Colaborou com "O Patriota" e "A Pátria". Então, mudou-se de vez para São Paulo, e tornou-se estudante interno do Instituto Ciências e Letras.

No ano seguinte, a 13 de junho de 1898, perdeu o pai, José Bento Marcondes Lobato, vítima de Edema Pulmonar. Decidiu, pela primeira vez, participar das sessões do Grêmio Literário Álvares de Azevedo do Instituto Ciências e Letras. Sua mãe, vítima de uma Depressão Profunda, veio a falecer no dia 22 de junho de 1899.

Tendo forte talento para o desenho, pois desde menino retrata a Fazenda Buquira, tornou-se desenhista e caricaturista(como fonte de renda) nessa época. Em busca de aproveitar as suas duas maiores paixões, decidiu ir para São Paulo após completar 17 anos.

Seu sonho era a Faculdade de Belas-Artes, mas, por imposição do avô, que o tinha como um sucessor na administração de seus negócios, acabou ingressando na Faculdade do Largo de São Francisco para cursar Direito. Mesmo assim seguiu colaborando em diversas publicações estudantis e fundou, com os colegas de sua turma, a "Arcádia Acadêmica", em cuja sessão inaugural fez um discurso intitulado: Ontem e Hoje. Lobato, a essas alturas, já era elogiado por todos como um comentarista original e dono de um senso fino e sutil, de um "espírito à francesa" e de um "humor inglês" imbatível, que carregou pela vida afora.

Dois anos depois, foi eleito presidente da Arcádia Acadêmica, e colaborou com o jornal "Onze de Agosto", onde escreveu artigos sobre teatro. De tais estudos surgiu, em 1903, o grupo "O Cenáculo", fundado junto com Ricardo Gonçalves, Cândido Negreiros, Godofredo Rangel, Raul de Freitas, Tito Lívio Brasil, Lino Moreira e José Antônio Nogueira.

Era anti convencional por excelência, dizendo sempre o que pensava, agradasse ou não. Defendia a sua verdade com unhas e dentes, contra tudo e todos, quaisquer que fossem as conseqüências. Venceu um concurso de contos, sendo que o texto "Gens Ennuyeux" foi publicado no jornal "Onze de Agosto".

O Advogado

Em 1904 diplomou-se bacharel em Direito e regressou a Taubaté. No ano seguinte fez planos de fundar uma fábrica de geléias, em sociedade com um amigo, mas passou a ocupar interinamente a promotoria de Taubaté e conheceu Maria Pureza da Natividade (Purezinha). Em maio de 1907 foi nomeado promotor público em Areias, e casou-se com Purezinha, a 28 de março de 1908. Exatamente um ano depois nasceu Marta, a primogênita do casal. Insatisfeito com a vida bucólica de Areias, planejou abrir um estabelecimento comercial de secos e molhados.

Em 1910 associou-se a um negócio de estradas de ferro e nasceu o seu segundo filho, Edgar. Viveu no interior e nas cidades pequenas da região, escrevendo paralelamente para jornais e revistas, como "Tribuna de Santos", "Gazeta de Notícias" do Rio de Janeiro e a revista "Fon-Fon", para onde também mandava caricaturas e desenhos. Passou a traduzir artigos do "Weekly Times" para o jornal "O Estado de São Paulo", e obras da literatura universal, também enviando artigos para um jornal de Caçapava. Contudo, era visível a sua insatisfação com a vida que levava e com os negócios que não prosperavam.

No ano seguinte, aos 29 anos, Lobato recebeu a notícia do falecimento de seu avô, o Visconde de Tremembé, tornando-se então herdeiro da Fazenda Buquira, para onde se mudou com toda a família. De promotor a fazendeiro, dedicou-se à modernização da lavoura e à criação. Com o lucro dos negócios, abriu um externato em Taubaté, que confiou aos cuidados de seu cunhado. Em 1912 nasceu Guilherme, o seu terceiro filho. Ainda insatisfeito, mas desta vez com a vida na fazenda, planejou explorar comercialmente o Viaduto do Chá, na cidade de São Paulo, em parceria com Ricardo Gonçalves.

A Fama

Na Vila de Buquira, hoje município de Monteiro Lobato (São Paulo), nessa mesma época, envolveu-se com a política e logo a deixou de lado. Sua quarta e última filha, Rute, nasceu em fevereiro de 1916, quando iniciava colaboração na recém fundada "Revista do Brasil". Era uma publicação nacionalista que agradou em cheio o gosto de Lobato.

Somente em 1914, como fazendeiro em Buquira, um fato definiria de vez a sua carreira literária: durante o inverno seco daquele ano, cansado de enfrentar as constantes queimadas praticadas pelos caboclos, o fazendeiro escreveu uma "indignação" intitulada "Velha Praga", e a enviou para a seção Queixas e Reclamações do jornal "O Estado de São Paulo", edição da tarde, o "Estadinho". O jornal, percebendo o valor daquela carta, publicou-a fora da seção que era destinada aos leitores, no que acertou, pois a carta provocou polêmica e fez com que Lobato escrevesse outros artigos como, por exemplo, "Urupês", dando vida a um de seus mais famosos personagens, o Jeca Tatu.

Jeca era um grande preguiçoso, totalmente diferente dos caipiras e índios idealizados pela literatura romântica de então. Seu aparecimento gerou uma enorme polêmica, em todo o país, pois o personagem era símbolo do atraso e da miséria que representava o campo no Brasil. Monteiro Lobato conheceu apenas o caipira caboclo, e generalizou o comportamento destes para todos os caipiras, causando então muita polêmica. Foi apoiado por Rui Barbosa e contraditado pelo especialista em caipiras, o folclorista Coenélio Pires, que explicou que Lobato só conheceu o caipira caboclo:

"Coitado do meu patrício! Apesar dos governos os outros caipiras se vão endireitando à custa do próprio esforço, ignorantes de noções de higiene... Só ele, o caboclo, ficou mumbava, sujo e ruim! Ele não tem culpa... Ele nada sabe. Foi um desses indivíduos que Monteiro Lobato estudou, criando o Jeca Tatu, erradamente dado como representante do caipira em geral!"
(Cornélio Pires)

A partir daí, os fatos se sucederam: a geada, (sobre a qual deixou uma crônica), e as dificuldades financeiras levaram-no a vender a fazenda Buquira, em 1916, e a partir com a família para São Paulo, com o intuito de tornar-se um "escritor-jornalista". Fundou, em Caçapava, a revista "Paraíba", e organizou, para o jornal "O Estado de São Paulo", uma imensa e acalentada pesquisa sobre o Saci. Lobato percorreu o interior de São Paulo, durante a Grande Geada de 1918, escrevendo um importante crônica a respeito, impressionado que ficou com a queima dos cafezais paulistas. Ainda em 1918, ano dos "4 G" (Geada, Greve, I Guerra Mundial e Gripe espanhola), Lobato, escrevia no jornal "O Estado de São Paulo", o mais importante jornal da capital, e, como todos os editorialistas acabaram pegando a gripe espanhola, vários editoriais do jornal "O Estado", daqueles dias, foram escritos unicamente por Lobato.

Em 20 de dezembro publicou Paranoia ou Mistificação, a famosa crítica desfavorável à exposição de pintura de Anita Malfatti, que culminaria como o estopim para a criação da Semana de Arte Moderna de 1922. Muitos passaram a ver Lobato como reacionário, inclusive os modernistas, mas hoje, após tantos anos, percebe-se que o que Lobato criticava eram os "ismos" que vinham da Europa: cubismo, futurismo, dadaísmo, surrealismo, que ele achava que eram "colonialismos", "europeizações", assim como ocorrera com os acadêmicos das gerações anteriores.

Lobato era a favor de uma arte devidamente brasileira, autóctone, criada aqui. Por isso criticou Anita Malfatti, embora admitisse que ela fosse talentosa. Isso tudo gerou um estranhamento entre ele e os modernistas mas, no fundo, todos eles tinham razão, apenas viam as coisas de ângulos diferentes. Mesmo assim Oswald de Andrade continuou a ser um profundo admirador de Lobato.

O Editor

Em 1918, Monteiro Lobato comprou a "Revista do Brasil" e passou a dar espaço para novos talentos, ao lado de pessoas famosas. Tornou-se, dessa forma, um intelectual engajado na causa do nacionalismo, a qual dedicou uma preocupação fundamental, tanto na ficção quanto no ensaio e no panfleto. Crítico de costumes, no qual não faltava a nota do sarcasmo e da caricatura, de sua obra elevou-se largo sopro de humanidade e brasileirismo. Nas mãos de Monteiro Lobato, a "Revista do Brasil" prosperou e ele pode montar uma empresa editorial, sempre dando espaço para os novatos e divulgando obras de artistas modernistas.

Lobato também foi precursor de algumas ideias muito interessantes no campo editorial. Ele dizia que "livro é sobremesa: tem que ser posto debaixo do nariz do freguês". Com isso em mente, passou a tratar os livros como produtos de consumo, com capas coloridas e atraentes, e uma produção gráfica impecável. Criou também uma política de distribuição, novidade na época: vendedores autônomos e distribuidores espalhados por todo o país. Logo fundou a editora Monteiro Lobato & Cia., depois chamada Companhia Editora Nacional, com a obra "O Problema Vital", um conjunto de artigos sobre a saúde pública, seguido pela tese "O Saci Pererê": Resultado de um Inquérito. Privilegiava a edição de autores estreantes como a senhora Leandro Dupré, com o sucesso "Éramos Seis". Traduziu também muitos livros e editou obras importantes e polêmicas como "A Luta Pelo Petróleo", de Essad Bey, para o qual fez uma introdução tratando da questão do petróleo no Brasil.

Em julho de 1918, dois meses depois da compra, publicou em forma de livro "Urupês", com retumbante sucesso e alcançando grande repercussão ao dividir o país sobre a veracidade da figura do caipira, fiel para alguns, exagerada para outros. O livro chamou a atenção de Rui Barbosa que, num discurso, em 1919, durante a sua campanha eleitoral, reacendeu a polêmica ao citar Jeca Tatu como um "protótipo do camponês brasileiro, abandonado à miséria pelos poderes públicos". A popularidade fez com que Lobato publicasse, nesse mesmo ano, "Cidades Mortas" e "Idéias de Jeca Tatu".

Em 1920, o conto "Os Faroleiros" serviu de argumento para um filme dirigido pelos cineastas Antônio Leite e Miguel Milani. Meses depois, publicou "Negrinha" e "A Menina do Narizinho Arrebitado", sua primeira obra infantil, e que deu origem a "Lúcia", mais conhecida como a Narizinho do "Sítio do Pica-Pau Amarelo". O livro foi lançado em dezembro de 1920 visando aproveitar a época de Natal. A capa e os desenhos eram de Lemmo Lemmi, um famoso ilustrador da época.

Em janeiro de 1921, os anúncios na imprensa noticiaram a distribuição de exemplares gratuitos de "A Menina do Narizinho Arrebitado" nas escolas, num total de 500 doações, tornando-se um fato inédito na indústria editorial. Fora atendendo um pedido do presidente de São Paulo, Dr. Washington Luís que Lobato era admirador. O sucesso entre as crianças gerou continuações: "Fábulas de Narizinho" (1921), "O Saci" (1921), "O Marquês de Rabicó" (1922), "A Caçada da Onça" (1924), "O Noivado de Narizinho" (1924), "Jeca Tatuzinho" (1924) e "O Garimpeiro do Rio das Garças" (1924), entre outros.

Tais novidades repercutiram em altas tiragens dos livros que editava, a ponto de dedicar-se à editora em tempo integral, entregando a direção da "Revista do Brasil" a Paulo Prado e Sérgio Millet.

A demanda pelos livros era tão grande que ele importou mais máquinas dos Estados Unidos e da Europa para aumentar seu parque gráfico. Porém, uma grave seca cortou o fornecimento de energia elétrica, e a gráfica só podia funcionar dois dias por semana. Por fim, o presidente Artur Bernardes desvalorizou a moeda e suspendeu o redesconto de títulos pelo Banco do Brasil, gerando um enorme rombo financeiro e muitas dívidas ao escritor.

Lobato só teve uma escolha: entrou com pedido de falência em julho de 1925. Mesmo assim não significou o fim de seu projeto editorial. Ele já se preparava para abrir outra empresa, a Companhia Editora Nacional, em sociedade com Octalles Marcondes e, em vista disso, transferiu-se para o Rio de Janeiro.

Os "produtos" dessa nova editora abrangiam uma variedade de títulos, inclusive traduções de Hans Staden e Jean de Léry. Além disso, os livros garantiam o "selo de qualidade" de Monteiro Lobato, tendo projetos gráficos muito bons e com enorme sucesso de público.

A partir daí, Lobato continuou escrevendo livros infantis de sucesso, especialmente com Narizinho e outros personagens, como Dona Benta, Pedrinho, Tia Nastácia, o boneco de sabugo de milho Visconde de Sabugosa e Emília, a boneca de pano.

Além disso, por não gostar muito das traduções dos livros europeus para crianças, e sendo um nacionalista convicto, criou aventuras com personagens bem ligados à cultura brasileira, recuperando inclusive costumes da roça e lendas do folclore.

Mas não parou por aí. Monteiro Lobato pegou essa mistura de personagens brasileiros e os enriqueceu, misturando-os a personagens da literatura universal, da mitologia grega, dos quadrinhos e do cinema. Também foi pioneiro na literatura paradidática, ensinando história, geografia e matemática, de forma divertida.

Em Nova York

Em 1926, Lobato concorreu a uma vaga na Academia Brasileira de Letras, mas acabou derrotado. Era a segunda vez que isso acontecia. Na primeira vez, em 1921, iria concorrer a vaga de Pedro Lessa, mas desistiu antes da eleição, por não querer fazer as visitas de praxe aos acadêmicos para pedir seus votos. Desta vez, estava concorrendo à vaga do renomado jurista João Luís Alves. Na primeira, recebera um voto no terceiro escrutínio, e, na segunda, dois votos no quarto. Em artigo à imprensa, Múcio Leão chegou a afirmar que esse "escritor de talento fora duas vezes repelido".

No mesmo ano saíram em folhetim os livros "O Presidente Negro" (1926) e "How Henry Ford is Regarded in Brazil" (1926).

Depois, enviou uma carta ao recém empossado Washington Luís, onde defendeu os interesses da indústria editorial. O presidente, reconhecendo nele um representante promissor dos interesses culturais do país, nomeou-o adido comercial nos Estados Unidos, em 1927.

Lobato escreve confirmando a tese de Washington Luís de que "Governar é abrir Estradas", as quais Lobato atribui o progresso dos Estados Unidos. Lobato ficara impressionado com a quantidade e qualidade das estradas norte americanas.

Mudou-se para Nova York e deixou a Companhia sob a direção de seu sócio, Octalles Marcondes Ferreira. Entusiasmado com o progresso material que viu nos Estados Unidos, passou a acompanhar todas as inovações tecnológicas estadunidenses e fez de tudo para convencer o governo brasileiro a propiciar a criação de atividades semelhantes no Brasil. Com interesses voltados no que diz respeito às questões de petróleo e ferro, planejou a fundação da Tupy Publishing Company.

Em Nova York escreveu "Mr. Slang e o Brasil" (1927), "As Aventuras de Hans Staden" (1927), "Aventuras do Príncipe" (1928), "O Gato Félix" (1928), "A Cara de Coruja" (1928), "O Circo de Escavalinho" (1929) e "A Pena de Papagaio" (1930). As obras infantis que datam dessa época foram publicadas no Brasil e reunidas num único volume, intitulado "Reinações de Narizinho" (1931).

Foi para Detroit no ano seguinte e, em visita à Ford e a General Motors, organizou uma empresa brasileira para produzir aço pelo processo Smith. Com isso, jogou na Bolsa de Valores de Nova York e perdeu tudo o que tinha com a crise de 1929. Para cobrir suas perdas com a quebra da Bolsa, Lobato vendeu suas ações da Companhia Editora Nacional em 1930. Voltou para São Paulo em 1931 e passou a defender que o "tripé" para o progresso brasileiro seria o ferro, o petróleo e as estradas para escoar os produtos.

Entusiasmado com Washington Luís e com seu candidato a presidente, em 1930, o Dr. Júlio Prestes, que, como presidente de São Paulo, realizara explorações de petróleo em território paulista, Lobato dá apoio irrestrito ao candidato Júlio Prestes nas eleições de 1930.

Em 28 de agosto de 1929, em carta ao Dr. Júlio Prestes, Monteiro Lobato transmite-lhe votos pela "vitória na campanha em perspectiva", afirmando que:

Sua política na presidência significará o que de mais precisa o Brasil: continuidade administrativa!
(Monteiro Lobato)

Com a deposição de Washington Luís e o impedimento da posse de Júlio Prestes, começa a antipatia de Lobato por Getúlio Vargas e seu infortúnio.

O Petróleo

Após implantar a Companhia Petróleos do Brasil, e graças à grande facilidade com que foram subscritas suas ações, Monteiro Lobato fundou várias empresas para fazer perfuração de petróleo, como a a Companhia Petróleo Nacional, a Companhia Petrolífera Brasileira e a Companhia de Petróleo Cruzeiro do Sul, e a maior de todas (fundada em julho de 1938) a Companhia Mato-grossense de Petróleo, que visava perfurar próximo da fronteira com a Bolívia, país vizinho que já havia encontrado petróleo em seu território. Com isso Lobato prejudicou os interesses de gente muito importante na política brasileira, e de grandes empresas estrangeiras. Começava a luta que o deixou pobre, doente e desgostoso. Havia interesse oficial em se dizer que no Brasil não havia petróleo. Tendo-os como adversários, passou a enfrentá-los publicamente.

Por alguns anos, seu tempo foi dedicado integralmente à campanha do petróleo, e a sua sobrevivência garantiu-se pela publicação de histórias infantis e da tradução magistral de livros estrangeiros, como O Livro da "Selva", de Rudyard_Kipling (1933), O "Doutor Negro", de Arthur Conan Doyle (1934), "Caninos Brancos" (1933) e "A Filha da Neve" (1934), ambos de Jack London, entre outros.

Teimava em dizer que era preciso explorar o petróleo nacional para dar ao povo um padrão de vida à altura de suas necessidades. Tentou, sem êxito, organizar uma companhia petrolífera mediante subscrições populares.

Muitas dificuldades apareceram e, mesmo assim, sua produção literária manteve-se e chegou ao ápice. Em "América" (1932) publicou as suas primeiras impressões sobre a luta na qual se engajara. Em seguida vieram "História do Mundo Para Crianças" (1933), "Na Antevéspera" e "Emília no País da Gramática" (1934), na qual defendia uma gramática normativa revisada. Meses depois, seu livro "História do Mundo Para Crianças" sofreu crítica, censura e perseguição da Igreja Católica. O padre Sales Brasil escreveu um libelo contra Lobato chamado "A literatura infantil de Monteiro Lobato ou comunismo para crianças".

Aceitou o convite para ingressar na Academia Paulista de Letras e, com isso, apresentou um dossiê de sua campanha em prol do petróleo, "O Escândalo do Petróleo" (1936), no qual acusava o governo de "não perfurar e não deixar que se perfure". O livro esgotou várias edições em menos de um mês. Aturdido, o governo de Getúlio Vargas proibiu e mandou recolher todas as edições. Em seguida, morreu Heitor de Moraes, seu correspondente e grande amigo.

Com isso, criou a União Jornalística Brasileira, uma empresa destinada a redigir e distribuir notícias pelos jornais. Em fevereiro de 1939 morreu Guilherme, seu terceiro filho. Abalado, Monteiro Lobato enviou uma carta ao ministro de Agricultura, que precipitara a abertura de um inquérito sobre o petróleo. Recebeu convite de Getúlio Vargas para dirigir um Ministério de Propaganda, mas Lobato recusou. Numa outra carta ao presidente, fez severas críticas à política brasileira de minérios. O teor da carta foi tido como subversivo e desrespeitoso e isso fez com que fosse detido pelo Estado Novo, acusado de tentar desmoralizar o Conselho Nacional do Petróleo, ironicamente presidido à época pelo general Horta Barbosa que foi o responsável por colocar Lobato atrás das grades do Presídio Tiradentes e que, abraçando as ideias de Lobato, se tornaria em 1947 um dos maiores líderes da nacionalista Campanha do Petróleo. Lobato foi condenado a seis meses de prisão, e permaneceu encarcerado de março a junho de 1941.

Uma campanha promovida por intelectuais e amigos conseguiu fazer com que Getúlio Vargas concedesse o indulto que o libertaria, reduzindo a pena de seis para três meses na prisão. Apesar disso, Lobato continuou sendo perseguido e o governo fazia de tudo para abafar suas ideias. Foi então que passou a denunciar as torturas e maus tratos praticados pela polícia do Estado Novo.

Curiosamente o petróleo no Brasil seria encontrado, por uma ironia da história, em um local chamado Lobato (Salvador), em 1939, e, justamente pelo então ministro da agricultura Dr. Fernando de Sousa Costa, que fora justamente o secretário da agricultura do Dr. Júlio Prestes, que, na década de 1920, procurara petróleo em São Paulo.

O Fim

Mesmo em liberdade, Monteiro Lobato não teve mais tranquilidade, e seu filho mais velho, Edgar, morreu em fevereiro de 1942, exatamente três anos depois do falecimento de Guilherme.

Em 1943 foi fundada a Editora Brasiliense por Caio Prado Júnior, que negociou com Lobato a publicação de suas obras completas. Logo em seguida, por ironia do destino, recusou a indicação para a Academia Brasileira de Letras. Entretanto integrou a delegação paulista do I Congresso Brasileiro de Escritores reunidos em São Paulo, que divulgou, no encerramento, uma declaração de princípios exigindo legalidade democrática como garantia da completa liberdade de expressão do pensamento e redemocratização plena do país.

Suas companhias foram liquidadas e a censura da ditadura faz com que Lobato se aproximasse dos comunistas, chegando a receber convite do Partido Comunista para integrar a bancada de candidatos. Foi na prisão, no Estado Novo, que Lobato fez seus primeiros contatos com os comunistas. Lobato recusou o convite para entrar na vida pública, mas enviou uma nota de saudação que foi lida por Luís Carlos Prestes num grande comício realizado em 1945, no estádio do Pacaembu. Meses depois foi publicado "Nasino", edição italiana de "Narizinho", ilustrada por Vincenzo Nicoletti. Em maio "A Menina do Narizinho Arrebitado" foi transformada em radionovela para crianças pela Rádio Globo no Rio de Janeiro.

Tornou-se diretor do Instituto Cultural Brasil-URSS, mas foi obrigado a se afastar do cargo em setembro de 1945, quando foi levado para ser operado às pressas de um Cisto no pulmão. A entrevista que concedeu ao Diário de São Paulo causou grande repercussão e, em 1946, muda-se para Buenos Aires, na Argentina, "atraído pelos belos e gordos bifes, pelo magnífico pão branco e fugindo da escassez que assolava o Brasil", conforme declarou à imprensa. Antes de partir, tornou-se sócio da Editora Brasiliense a convite de Caio Prado Júnior que, na sua editora, preparava as "Obras Completas" já traduzidas para o espanhol e editadas na Argentina. Em outubro fundou a Editorial Acteon, com Manuel Barreiro, Miguel Pilato e Ramón Prieto.

Voltou em 1947 por não se ambientar ao clima local e, em entrevista aos repórteres que o aguardavam no aeroporto, classificou o governo de Eurico Gaspar Dutra de "Estado Novíssimo, no qual a constituição seria pendurada num ganchinho no quarto dos badulaques".

Dessa indignação surgiu o seu último livro "Zé Brasil", publicado pela Editorial Vitória, em que Lobato mais uma vez reelaborava o seu personagem Jeca Tatu, transformando-o em trabalhador sem-terra e esmagado pelo latifúndio. Diante da proibição das atividades do Partido Comunista em todo o país, determinada pelo ministro da Justiça, escreveu "A Parábola do Rei Vesgo" para um comício de protesto, lido e aclamado pela multidão reunida no Vale do Anhangabaú, na noite de 18 de junho. O texto refletia o desencanto de Lobato com a democracia restritiva do general Dutra.

Em dezembro foi a Salvador assistir a opereta "Narizinho Arrebitado". Lobato escreveria novo libreto para o espetáculo, considerado a sua última criação infantil. Publicou "O Problema Econômico de Cuba", também a sua última tradução.

Em abril de 1948 sofreu um primeiro Espasmo Vascular que afetou a sua motricidade. Mesmo assim, afiliou-se à revista Fundamentos e publicou os folhetos "De Quem É o Petróleo na Bahia" e "Georgismo e Comunismo".

Dois dias após conceder a Murilo Antunes Alves, da Rádio Record, a sua última entrevista, na qual defendeu a Campanha de "O Petróleo é Nosso", Monteiro Lobato sofreu um segundo Espasmo Cerebral e faleceu às 4 horas da madrugada, no dia 4 de julho de 1948, aos 66 anos de idade.

Sob forte comoção nacional, seu corpo foi velado na Biblioteca Municipal de São Paulo e o sepultamento realizado no Cemitério da Consolação.

O Repórter Esso, na voz de Heron Dominges, assim anunciou sua morte, depois de um pequeno silêncio:

..E agora uma notícia que entristece a todos: Acaba de falecer o grande escritor patrício Monteiro Lobato!
(Heron Domingues)

Disputa

Em 1996, os herdeiros de Monteiro Lobato tomaram a iniciativa de sugerir à Editora Brasiliense, até então detentora única das obras (conforme acordo assinado entre Lobato e Caio Prado Júnior em 1945) a reformulação dos livros e da coleção infantil, a fim de que apresentassem um aspecto moderno com relação a ilustrações coloridas e nova paginação.

Essas tentativas continuaram em 1997 e fracassaram, simplesmente porque a editora não efetuou o investimento necessário, continuando a publicar os livros com ilustrações em branco e preto como fazia há décadas e continuou a fazer. Com isso, desde 1998, a obra de Monteiro Lobato virou centro de uma polêmica entre a Brasiliense e os herdeiros, que a acusam de negligenciar a obra. Há o desejo de uma divulgação maior e edições melhores. Entre os editores há o desejo de reciclar o texto dos livros.

São várias as ações movidas pelos herdeiros contra a Brasiliense, como contrato de cessão a terceiros (no caso à Editora Saraiva) e a publicação de um livro falsamente atribuído a Monteiro Lobato, que a editora intitulou Contos Escolhidos, sem autorização da família. Por outro lado, a Brasiliense alega ter um contrato Ad Infinitum assinado por Monteiro Lobato quando vivo.

Em setembro de 2007, por meio de acordo com os herdeiros, o STJ estabeleceu a rescisão contratual definitiva e concedeu à Editora Globo os direitos exclusivos sobre a obra de Monteiro Lobato, até 2018, ano em que o legado do autor deverá entrar em domínio público, pois se passarão 70 anos de sua morte.

A Fazenda Buquira, a qual Lobato visitava na infância quando pertencia a seu avô, o Visconde de Tremembé, e onde Lobato viu a geada, conheceu o caipira caboclo, e teve inspiração para seus personagens e paisagens de seus livros (como a pequena cachoeira que inspirou o Reino das Águas Claras), é atualmente centro de visitação, sendo que a casa-sede da fazenda ainda se encontra em seu estado original, situada à margem da rodovia atualmente denominada "Estrada do Livro", que liga a cidade de Monteiro Lobato à Caçapava.

Fonte: Wikipédia