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Antônia Marzullo

ANTÔNIA DE OLIVEIRA SOARES MARZULLO
(75 anos)
Atriz

☼ Rio de Janeiro, RJ (13/06/1894)
┼ Rio de Janeiro, RJ (25/08/1969)

Antônia de Oliveira Soares Marzullo foi um atriz brasileira, nascida na cidade do Rio de Janeiro, em 13/06/1894. Mãe de Dinah Marzullo, do poeta Maurício Marzullo e da atriz Dinorah Marzullo. E ainda avó das atrizes Marília Pêra e Sandra Pêra.

Ninguém diria que aquela mocinha franzina que estreou um dia num circo (ensaiou 15 dias para só atuar uma noite) fosse continuar a vida toda no teatro e que se tornaria mãe e avó das atrizes Dinorah Marzullo e Marília Pêra.

Antônia Marluzzo já fez todos os gêneros, tendo trabalhado ao lado de Apolônia Pinto, Conchita de MoraisAlda Garrido, Dulcina de Moraes, Bibi Ferreira e várias ouras atrizes.

Participou do primeiro falado no Brasil em 1934, "Favela dos Meus Amores" num papel de destaque.

Carmen Santos e Antônia Marzullo
Antônia Marzullo trabalhou em teatro, cinema e rádio. Atuou na Rádio Nacional e Rádio Tupi, do Rio de Janeiro. Estreou no teatro em 1920, na Companhia João de Deus, onde era corista, e atuava na peça "O Frade da Brahma".

Em 1922, estreou em Lisboa, no Teatro Apollo. Voltou ao Rio de Janeiro e foi para o Teatro Recreio. Depois foi para o Teatro São Pedro e fez a peça "Os Hunguenotes". Era uma atriz importante e por isso viajou por todo o Brasil.

Em 1935, a convite do diretor Renato Viana, atuou no Teatro Cassino.

Em 1936, foi trabalhar para a Companhia de Alda Garrido.

A última peça que a atriz fez, foi "A Moreninha", no Teatro João Caetano. Nesta peça trabalharam também a filha Dinorah Marzullo e a neta Marília Pêra, que fazia o papel principal.

Seu sobrenome artístico originou-se de seu primeiro casamento, com o imigrante italiano Emílio Marzullo, pai de seus filhos.

Filmografia

  • 1934 - Favela dos Meus Amores
  • 1937 - João Ninguém
  • 1945 - Loucos Por Música .... Dona da Pensão
  • 1946 - O Ébrio .... Lindoca
  • 1948 - Inconfidência Mineira
  • 1949 - Pinguinho de Gente
  • 1950 - Um Beijo Roubado .... Discretina
  • 1953 - Balança Mas Não Cai
  • 1955 - Mãos Sangrentas
  • 1956 - O Diamante
  • 1963 - Bonitinha Mas Ordinária .... (Apresentando)
  • 1965 - Samba .... Avó de Belém
  • 1967 - O Menino e o Vento
  • 1968 - Massacre no Supermercado
  • 1968 - O Homem Que Comprou o Mundo
  • 1968 - As Aventuras de Chico Valente
  • 1968 - Como Vai, Vai Bem?


Fonte: Wikipédia

Guilherme de Almeida

GUILHERME DE ANDRADE DE ALMEIDA
(78 anos)
Advogado, Jornalista, Heraldista, Crítico de Cinema, Poeta, Ensaísta e Tradutor

☼ Campinas, SP (24/07/1890)
┼ São Paulo, SP (11/07/1969)

Guilherme de Andrade de Almeida foi um advogado, jornalista, heraldista, crítico de cinema, poeta, ensaísta e tradutor brasileiro. Filho de Estevam de Araújo Almeida, professor de direito e jurisconsulto, e de Angelina de Andrade.

Foi casado com Belkiss Barroso de Almeida, de cuja união nasceu o filho, Guy Sérgio Haroldo Estevam Zózimo Barroso de Almeida, que se casou com Marina Queirós Aranha de Almeida. Foi, com seu irmão, Tácito de Almeida, importante organizador da Semana de Arte Moderna de 1922, tendo criado em 1925 conferência para difusão da poesia moderna, intitulada "Revelação do Brasil Pela Poesia Moderna", que foi apresentada em Porto Alegre, Recife e Fortaleza.

Um dos poemas de Guilherme de Almeida, "A Carta Que Eu Sei de Cor", presente em seu livro "Era Uma Vez", foi declamado na Faculdade de Letras de Coimbra, em 1930, na importante conferência "Poesia Moderníssima do Brasil". Esta conferência foi estampada na revista Biblos (Faculdade de Letras de Coimbra), Vol. VI, n. 9-10, Coimbra, setembro e outubro de 1930, pp. 538 - 558; e no Jornal do Commercio, Rio de Janeiro, domingo, 11/01/1931, página 3.

Guilherme de Almeida foi um dos fundadores da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo, onde lecionou Ciência Política. Foi ainda um dos fundadores da Revista Klaxon, que visava a divulgação da ideias modernistas, tendo realizado sua capa, assim como os arrojados anúncios da Lacta, para a mesma revista. Elaborou também a capa da primeira edição do livro "Paulicéa Desvairada", de Mário de Andrade.

Participou do grupo verde-amarelista e colaborou também com a Revista de Antropofagia, tendo escrito poemas-piada à moda de Oswald de Andrade.

Guilherme de Almeida foi o primeiro modernista a entrar para a Academia Brasileira de Letras em 1930.

Em 1958, foi coroado o quarto "Príncipe dos Poetas Brasileiros", depois de Olavo Bilac, Alberto de Oliveira e Olegário Mariano. Entre outras realizações, foi o responsável pela divulgação do poemeto japonês Haikai no Brasil.

Vida Pública

Combatente na Revolução Constitucionalista de 1932 e exilado em Portugal, após o final da luta, foi homenageado com a Medalha da Constituição, instituída pela Assembleia Legislativa de São Paulo. Sua obra maior de amor a São Paulo foi seu poema "Nossa Bandeira". Ainda, o poema "Moeda Paulista" e a pungente "Oração Ante a Última Trincheira".

É proclamado "O Poeta da Revolução de 32". Escreveu a letra do "Hino Constitucionalista de 1932 / MMDC", "O Passo do Soldado", de autoria de Marcelo Tupynambá, com interpretação de Francisco Alves.

É de sua autoria a letra da "Canção do Expedicionário" com música de Spartaco Rossi, referente à participação dos pracinhas brasileiros na Segunda Guerra Mundial.

Autor da letra do "Hino da Televisão Brasileira", executado quando da primeira transmissão da Rede Tupi de Televisão, realizada por mérito de seu concunhado, o jornalista Francisco de Assis Chateaubriand Bandeira de Melo.

Foi presidente da Comissão Comemorativa do Quarto Centenário da cidade de São Paulo.

Casa Guilherme de Almeida

Guilherme de Almeida mudou-se para o local em 1946, um sobrado na Rua Macapá, no Pacaembu, em São Paulo. Era chamado carinhosamente por ele como a "Casa da Colina". E ele a descreveu:

"A casa na colina é clara e nova. A estrada sobe, pára, olha um instante e desce".

Nela, o poeta viveu até 1969 e nela faleceu. Lá, os saraus eram bem animados, como lembra o poeta Paulo Bomfim. Também estavam sempre presentes os amigos Tarsila do Amaral, Oswald de Andrade, Anita Malfatti, Victor Brecheret, Noemia Mourão, René Thiollier, Saulo Ramos, Roberto Simonsen, Carlos Pinto Alves e tantos outros.

A casa, em 1979, tornou-se o Museu Casa Guilherme de Almeida, pertencente à Secretaria de Estado da Cultura do Governo do Estado de São Paulo, tendo sido "tombado como museu biográfico e literário" pelo Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental da Cidade de São Paulo (Conpresp), em maio de 2009.

O museu conta com importante acervo de obras de arte: quadros de Di Cavalcanti, Lasar SegallAnita Malfatti, as primeiras edições dos livros do poeta, entre seis mil volumes no total, além de mobiliário, peças pessoais e relíquias da Revolução de 1932.

Guilherme de Almeida encontra-se sepultado no Mausoléu do Soldado Constitucionalista de 1932, no Parque do Ibirapuera, na cidade de São Paulo, ao lado de Ibrahim de Almeida Nobre, o "Tribuno de 32", dos despojos dos jovens conhecidos pela sigla M.M.D.C. (Mário Martins de Almeida, Euclides Bueno Miragaia, Dráusio Marcondes de Sousa e Antônio Américo Camargo de Andrade), e do caboclo Paulo Virgínio.

Obras do Autor


Poesia

  • 1917 - Nós
  • 1919 - A Dança Das Horas
  • 1919 - Messidor
  • 1920 - Livro de Horas de Soror Dolorosa
  • 1922 - Era Uma Vez…
  • 1924 - A Frauta Que Eu Perdi
  • 1925 - Meu
  • 1925 - A Flor Que Foi Um Homem (Narciso)
  • 1925 - Encantamento
  • 1925 - Raça
  • 1929 - Simplicidade
  • 1931 - Carta à Minha Noiva
  • 1931 - Você
  • 1932 - Cartas Que Eu Não Mandei
  • 1938 - Acaso
  • 1941 - Cartas do Meu Amor
  • 1947 - Poesia Varia
  • 1951 - O Anjo de Sal
  • 1954 - Acalanto de Bartira
  • 1956 - Camoniana
  • 1957 - Pequeno Romanceiro
  • 1961 - Rua
  • 1965 - Rosamor
  • 1968 - Os Sonetos de Guilherme de Almeida
  • 2010 - Margem: Poesia

Poesia (Traduções)

  • 1932 - Eu e Você (Tradução do Toi et Moi, de Paul Géraldy)
  • 1923 - O Gitanjali (De Rabindranath Tagore)
  • 1936 - Poetas de França
  • Suíte Brasileira (Terceira parte do livro de Luc Durtain Quatre Continents)
  • 1939 - O Jardineiro (De Rabindranath Tagore)
  • 1943 - O Amor de Bilitis (Algumas Canções) - De Pierre Louÿs
  • 1944 - Flores da Flores do Mal (De Charles Baudelaire)
  • Paralelamente a Paul Verlaine
  • 1965 - Festival (De Simon Tygel)
  • Arcanum (De Niles Bond)
  • 1967 - Os Frutos do Tempo (Les Fruits du Temps, de Simon Tygel)

Seleção de Poemas e Poesia Completa

  • 1931 - Poemas Escolhidos
  • 1952 - Toda a Poesia (1ª edição, 6 volumes)
  • 1967 - Meus Versos Mais Queridos

Teatro

  • 1916 - Mon Coeur Balance e Leur Ame (Escritas em colaboração com Oswald de Andrade)
  • 1921 - Scheherazada, Um Ato Em Versos
  • 1939 - O Estudante Poeta (Escrita em colaboração com Jaime Barcelos)

Teatro (Traduções)

  • 1950 - Entre Quatro Paredes (Huis Clos), de Jean-Paul Sartre
  • 1952 - A Antígone, transcrição da tragédia de Sófocles
  • 1954 - Na Festa de São Lourenço (Tradução em versos, nas partes tupi e castelhana, do Auto de José de Anchieta, segundo o texto de Maria de Lourdes de Paula Martins)
  • 1965 - História de Uma Escada (Historia de Una Escalera), de Antonio Buero Vallejo

Teatro (Traduções Inéditas)

  • A Importância de Ser Prudente (The Importance Of Being Ernest), de Oscar Wilde
  • Orfeu (Orphée), de Jean Cocteau
  • Lembranças de Berta (Hello From Bertha), de Tennessee Williams
  • Eurídice (Eurydice), de Jean Anouilh

Prosa

  • 1924 - Natalika
  • 1926 - Do Sentimento Nacional na Poesia Brasileira (Tese de concurso)
  • 1926 - Ritmo, Elemento de Expressão (Tese de concurso)
  • 1929 - Gente de Cinema, I (Série)
  • 1933 - O Meu Portugal
  • 1935 -  A Casa (Palestra pronunciada no salão do Clube Piratininga e dedicada aos alunos do Ginásio Bandeirantes)
  • 1944 - Gonçalves Dias e o Romantismo (Conferência realizada na Academia Brasileira de Letras)
  • 1948 - Histórias, Talvez...
  • 1948 - As Palavras de Buda
  • 1953 - Baile de Formatura
  • 1961 - Jornal de Um Amante (Do Journal d’un Amant, de Simon Tygel)
  • 1962 - Cosmópolis

Literatura Infantil

  • 1941 - O Sonho de Marina
  • 1941 - João Pestana (De Hans Christian Andersen)
  • 1942 - João Felpudo (De Heinrich Hoffmann)
  • 1943 - Pinocchio (De Carlo Collodi)
  • 1943 - O Camundongo e Outras Histórias (De Wilhelm Busch)
  • 1943 - Corococó e Caracacá (De Wilhelm Busch)
  • 1943 - O Fantasma Lambão (De Wilhelm Busch)
  • 1946 - A Mosca (De Wilhelm Busch)
  • 1946 - Uma Oração de Criança (De Rachel Field)
  • 1949 - A Cartola (De Wilhelm Busch)

Heráldica

Autor de Brasões-de-Armas das seguintes cidades:

  • São Paulo (SP)
  • Petrópolis (RJ)
  • Volta Redonda (RJ)
  • Londrina (PR)
  • Brasília (DF)
  • Guaxupé (MG)
  • Caconde (SP)
  • Iacanga (SP)
  • Embu das Artes (SP)

Fonte: Wikipédia

João Cândido

JOÃO CÂNDIDO FELISBERTO
(89 anos)
Militar

* Encruzilhada do Sul, RS (24/06/1880)
+ Rio de Janeiro, RJ (06/12/1969)

João Cândido Felisberto, também conhecido como "Almirante Negro", foi um militar brasileiro da Marinha de Guerra do Brasil, líder da Revolta da Chibata (1910).

Nasceu em 24/06/1880, na então Província, hoje Estado, do Rio Grande do Sul, no município de Encruzilhada, hoje Encruzilhada do Sul, na Fazenda Coxilha Bonita que ficava no vilarejo Dom Feliciano - o quinto distrito do Município Encruzilhada, que havia sido distrito de Rio Pardo até 1849.

Filho dos ex-escravos João Felisberto e Inácia Cândido Felisberto, apresentou-se, ainda com treze anos, em 1894, na Companhia de Artífices Militares e Menores Aprendizes no Arsenal de Guerra de Porto Alegre com uma recomendação de atenção especial, escrita por um velho amigo e protetor de Rio Pardo, o então capitão-de-fragata Alexandrino de Alencar, que assim o encaminhava àquela escola.

Em 1895 conseguiu transferência para a Escola de Aprendizes Marinheiros de Porto Alegre, e em dezembro do mesmo ano, como grumete, para a Marinha do Brasil, na capital, a cidade do Rio de Janeiro.

Desse modo, nos anos 1890, época, em que a maioria dos marinheiros era recrutada à força pela polícia, João Cândido alistou-se com o número 40 na Marinha do Brasil em Janeiro de 1895, aos 14 anos de idade, ingressando como grumete a 10/12/1895.

Em depoimento para a Anamnese do Hospital dos Alienados em abril de 1911 e para a Gazeta de Notícias de 31/12/1912, João Cândido afirmou ter sido soldado do general Pinheiro Machado, na Revolução Federalista, em 1893, portanto antes de entrar para a escola de aprendizes do Arsenal de Guerra de Porto Alegre.

Teve uma carreira extensa de viagens pelo Brasil e por vários países do mundo nos 15 anos que esteve na ativa da Marinha de Guerra (17 anos, se contar os 2 anos de prisão, após a Revolta). Muitas delas foram viagens de instrução, no começo recebendo instrução, e depois dando instrução de procedimentos de um navio de guerra para marinheiros mais novos e oficiais recém-chegados à Marinha.

A partir de 1908, para acompanhar o final da construção de navios de guerra encomendados pelo governo brasileiro, centenas de marinheiros foram enviados à Grã-Bretanha. Em 1909 João Cândido também para lá foi enviado, onde tomou conhecimento do movimento realizado pelos marinheiros russos em 1905, reivindicando melhores condições de trabalho e alimentação, a Revolta do Encouraçado Potemkin, que virou filme do diretor Sergei Einsenstein em 1925.

Tornou-se muito admirado pelos companheiros marinheiros, que o indicaram por duas vezes para representar o "Deus Netuno" na travessia sobre a linha do equador, e muito elogiado pelos oficiais, por seu bom comportamento, e pelas suas habilidades principalmente como timoneiro. Era o marinheiro mais experiente e de maior trânsito entre marinheiros e oficiais, a pessoa indicada para liderar a revolta, na opinião dos demais líderes do movimento.

João Cândido, o Almirante Negro
O Movimento dos Marinheiros da Marinha de Guerra

O uso da chibata como castigo na Marinha brasileira já havia sido abolido em um dos primeiros atos do regime republicano, o decreto número 3, de 16/11/1889, assinado pelo então presidente marechal Deodoro da Fonseca. Todavia, o castigo cruel continuava de fato a ser aplicado, a critério dos oficiais da Marinha de Guerra do Brasil. Num contingente de 90% de negros e mulatos, centenas de marujos continuavam a ter seus corpos retalhados pela chibata, como no tempo da escravidão. Entre os marinheiros, insatisfeitos com os baixos soldos, com a má alimentação e, principalmente, com os degradantes castigos corporais, crescia o clima de tensão.

Já em 1893, na canhoneira Marajó, um contingente de marinheiros havia se revoltado contra o excesso de castigos físicos, exigindo a troca do comandante que abusava da chibata e outros suplícios. Na época, ainda não queriam o fim da chibata, mas a troca do comandante do navio, para evitar abusos. Definitivamente, não era normal receber chibatadas. E, para piorar, os oficiais extrapolavam o limite de próprio regimento da Marinha, baseado num decreto que nunca foi publicado no Diário Oficial, que estabelecia a criação de Companhias Correcionais que poderiam indicar a punição de até 25 chibatadas, mesmo após a Abolição da Escravatura.

Ainda na Grã-Bretanha, e depois, ao retornarem ao Brasil, os marinheiros que lá estiveram para acompanhar a construção dos Encouraçados Minas Gerais e São Paulo, e do Cruzador Bahia, iniciaram um movimento conspiratório com vistas a tomar uma atitude mais efetiva no sentido de acabar com a chibata na Marinha de Guerra do Brasil.

As eleições presidenciais de 1910, embora vencidas pelo candidato situacionista marechal Hermes da Fonseca, expressaram o descontentamento da sociedade com o regime vigente, além das denúncias de fraude e violação de urnas nos bairros em que ele não tinha maioria de simpatizantes. O candidato oposicionista, Ruy Barbosa, realizou intensa campanha eleitoral, reforçando a esperança de transformações do povo brasileiro.

Esgotadas as tentativas pacíficas e propositivas dos marinheiros, incluindo uma audiência de João Cândido no Gabinete do presidente anterior, Nilo Peçanha, e na presença do ministro da marinha, Alexandrino de Alencar sem qualquer providência efetiva para o fim dos castigos físicos, os marinheiros decidiram que iriam fazer uma sublevação, uma revolta pelo fim do uso da chibata em 25/11/1910. Inicialmente os comitês revolucionários pensaram no dia 14, depois dia 15, depois 19, e por fim fixaram o dia 25.

Entretanto, menos de uma semana após a posse do marechal Hermes da Fonseca, o marinheiro Marcelino Rodrigues de Menezes foi punido a 21/11/1910 com 250 chibatadas, que não se interromperam nem mesmo com o desmaio do mesmo, conforme noticiado pelos jornais da época, aplicadas na presença de toda a tripulação do Encouraçado Minas Gerais, nau capitânia da nova Esquadra. Este fato antecipou a data programada de 25 para 22/11/1910. Seria na noite deste dia porque o comandante do Navio Minas Gerais, o capitão João Batista das Neves, dormiria fora do navio, e então os marujos tomariam posse das armas, dominariam os oficiais em seus camarotes, e teriam o controle do navio mãe, e depois de todos os demais que estavam na Bahia da Guanabara.

Entretanto o comandante Batista das Neves voltou mais cedo do que eles esperavam, e um marinheiro mais descontrolado partiu para cima do oficial de serviço, pois não queria mais o adiamento da revolta. O comandante ouviu os barulhos, assim como os outros oficiais e todos foram para o convés. Mesmo aconselhado pelo marinheiro Bulhões a se abrigar, Batista das Neves, se recusou a sair dali, e disse que não sairia de bordo do navio, insistindo em tentar fazer os marinheiros formarem e obedecerem às suas ordens.

Os marinheiros já muito exaltados, ao ver que o comandante feriu um dos marinheiros, começaram a jogar objetos nele, e por fim um marinheiro deu um tiro na cabeça dele. Morreram no Minas Gerais além do comandante, mais dois oficiais (tenente para cima) e 3 marinheiros (sargento para baixo, na simplificação usual). Durante os combates morreram mais um oficial e um marinheiro no Navio Bahia, revoltados sob responsabilidade do marinheiro Francisco Martins, e um oficial no Navio São Paulo, sob responsabilidade do marinheiro Manoel Nascimento.

Terminados os combates, João Cândido, um dos chefes das reuniões conspiratórias, que atuou ao lado de Vitalino Ferreira na revolta do Minas Gerais, é indicado pelos demais líderes como o comandante-em-chefe de toda a esquadra revoltada, inicialmente composta por 6 navios, e depois concentrando as guarnições em 4, entre eles os dois encouraçados fabricados na Inglaterra, considerados os mais potentes do mundo à época: Minas Gerais e São Paulo.

Marinheiros durante a Revolta da Chibata, com João Cândido ao centro (1910)
Revolta da Chibata

No dia 22/11/1910, João Cândido, ao assumir, por indicação dos demais líderes, o comando do Minas Gerais e de toda a esquadra revoltada, controla o motim, faz cessar as mortes, e envia radiogramas pleiteando a abolição dos castigos corporais na Marinha de Guerra brasileira. Foi designado à época, pela imprensa, como Almirante Negro.

Por quatro dias, os navios de guerra Minas Gerais, São Paulo, Bahia e Deodoro apontaram os seus canhões para a Capital Federal. No ultimato dirigido ao presidente Hermes da Fonseca, os revoltosos declararam:

"Nós, marinheiros, cidadãos brasileiros e republicanos, não podemos mais suportar a escravidão na Marinha brasileira"

A rebelião terminou com o compromisso do Governo Federal em acabar com o emprego da chibata na Marinha e de conceder anistia aos revoltosos. Entretanto, no dia seguinte ao desarmamento dos navios rebelados, dia 27/11/1910, o governo promulgou em 28/11/1910 um decreto permitindo a expulsão de marinheiros que representassem risco, o que era um nítida quebra de palavra, uma traição do texto da lei de anistia aprovada no dia 25/11/1910 pelo Senado da República e sancionada pelo presidente Hermes da Fonseca, conforme publicação no diário oficial de 26/11/1910, levado ao Minas Gerais pelo capitão Pereira Leite.

João Cândido sendo escoltado
Expulsão da Marinha

Pouco tempo depois do decreto que quebrou a anistia e de boatos de que o Exército iria se vingar dos marinheiros, houve a eclosão de um novo motim entre os fuzileiros navais, ligados à Marinha, no quartel da Ilha das Cobras, no Rio de Janeiro, em 09/12/1910. Não tinha ligação com a Revolta da Chibata, exceto que ali na ilha estavam algumas dezenas de marinheiros participantes da revolta presos apesar de anistiados.

A "segunda revolta" nada exigia, não tinha qualquer organização, baseava-se em boatos de que o Exército atacaria a qualquer momento navios e batalhão naval como resposta à vergonha que significou a revolta para o governo de Hermes da Fonseca.

Durante o dia 10/12/1910, o motim foi reprimido pelas autoridades, Marinha e Governo, com um bombardeio implacável sobre pouco mais de duas centenas de amotinados ilhados (na Revolta da Chibata eram 2.379 homens, 3 encouraçados e um cruzador, alvos móveis e fortemente armados), e serviu de justificativa para Hermes da Fonseca demandar e obter do Senado aprovação do Estado de Sítio (Lei Marcial) neste mesmo dia. João Cândido chegou a ordenar tiro de canhão sobre os marinheiros-fuzileiros amotinados na Ilha das Cobras para provar sua lealdade ao governo. Mas de nada adiantou. Com o estado de sítio, centenas de marinheiros foram dados como mortos ou desaparecidos e 2000 marinheiros foram expulsos da Marinha. Onze foram fuzilados a bordo do Navio Satélite, que levava 105 marinheiros rebeldes para serem jogados nos seringais do Acre, destino dos 96 que lá ainda chegaram vivos.

Apesar de não haver participado da conspiração, se é que houve, deste segundo levante, João Cândido foi expulso da Marinha, sob a falsa acusação de ter favorecido os fuzileiros rebeldes. Foi preso em 13/12/1910 no quartel do exército, e transferido no dia 24/12/10 para uma masmorra, a cela 5, na Ilha das Cobras, onde 16 de seus 17 companheiros de cela morreram asfixiados.

De seu depoimento ao jornal Gazeta de Notícias e outras fontes, descobriu-se que 29 marinheiros e fuzileiros navais foram submetidos ao cal em 2 celas da Ilha das Cobras. Numa cela, morreram 16 e na outra cela, morreram mais 2.

Em abril de 1911 foi transferido para o Hospital dos Alienados, como louco, mas recebeu alta e voltou para a Ilha das Cobras, de onde foi solto em 1912, absolvido das acusações juntamente com nove companheiros. À época, o seu defensor foi o rábula Evaristo de Moraes, contratado pela Ordem de Nossa Senhora do Rosário e dos Homens Pretos, que declinou o recebimento dos honorários que lhe eram devidos.

Banido da Marinha, João Cândido sofreu grandes privações, vivendo precariamente, trabalhando como estivador e descarregando peixes na Praça XV, no centro do Rio de Janeiro.

De acordo com a sua ficha, nos 15 anos em que permaneceu na Marinha, foi castigado em nove ocasiões, preso entre dois a quatro dias em celas solitárias "a pão e água", além de ter sido duas vezes rebaixado de cabo a marinheiro. A sua ficha registra ainda dez elogios por bom comportamento nos últimos três meses antes da revolta.

A sua vida pessoal foi profundamente abalada pelo suicídio de sua segunda esposa em 1928. Em 1930 foi novamente detido, acusado de subversão.


Adesão ao Integralismo

Em 1933 foi convidado e aderiu à Ação Integralista Brasileira, movimento nacionalista de direita inspirado no fascismo italiano fundado em 1932 pelo escritor Plínio Salgado, chegando a ser o líder do núcleo Integralista da Gamboa, bairro portuário da cidade do Rio de Janeiro.

Em entrevista ao historiador Hélio Silva, gravada em 1968 e arquivada no Museu da Imagem e do Som (MIS), João Cândido declarou manter sua amizade com Plínio Salgado e de ter orgulho em ter sido integralista. O Integralismo permitia que mulheres e negros se filiassem ao partido, no que se diferenciava do nazismo.

João Cândido, que era sobretudo um ex-militar que sonhava voltar à Marinha de Guerra, foi muito assediado por parte de oficiais da Marinha para que fizesse parte do Movimento Integralista, com a promessa de reintegrá-lo. Muitas personalidades na época aderiram ao Integralismo: o líder negro Abdias do Nascimento e o bispo Dom Hélder Câmara são dois exemplos.


Orientação Sexual

Em 1949, num artigo de jornal, no Diário de Notícias, o almirante Alencastro Graça escreveu:

"João Cândido, indivíduo de poucas prendas e até inócuo, solicitando dinheiro aos oficiais a troco de lavar-lhes a roupa, o que obstava que sofresse, por vezes, castigos corporais pelos vícios de pederastia e alcoolismo e aceitando, posteriormente, coagido, a direção do movimento revolucionário, para assistir impassível ao massacre dos antigos benfeitores, sob o controle dos verdadeiros cabeças."

Convidado a responder ao ataque público na grande imprensa, João Cândido limitou-se a dizer:

"Contestá-lo? Como, se não tenho as letras do almirante? O galho quebra sempre do lado mais fraco. Há anos que sou espezinhado!"

Portanto, assim como o jornalista-historiador Edmar Morel muito responsavelmente fez em 1959, primeira edição do livro "A Revolta da Chibata", é importante deixar o registro, e o benefício da dúvida. Além do mais, nos dias de hoje, censurar o assunto, ou julgar João Cândido por ele ter tido ou não alguma experiência homossexual é completamente fora de propósito.

Perdura, portanto, certa controvérsia sobre a vida particular de João Cândido, precisamente no que toca à sua orientação sexual. As referências bibliográficas revelam autores que fazem ilações para o benefício de suas próprias teses. Uma análise ponderada sobre o assunto é feita pelo historiador José Murillo de Carvalho em artigo na "Revista de História" editada pela Biblioteca Nacional, que conclui:

"Os bordados revelam ainda que, do fundo de sua dor, João Cândido retirava corações, flores, borboletas, beija-flores. Em sua forma ingênua e espontânea, em seu rico simbolismo, as toalhas de São João del Rei nos bordam um João Cândido maior do que o construído por seus detratores e mais autêntico e humano do que o mito em que o pretendem transformar seus admiradores."

Devido a ser figura controversa para a alta oficialidade militar, apesar do almirante negro ter se casado oficialmente duas vezes e gerado doze filhos de quatro mulheres, há quem buscasse detalhes de sua vida pessoal tentando ligá-lo à prática homossexual, como algo desabonador, num tempo em que a homossexualidade era tida como tal.


Morte

Discriminado e perseguido pela Marinha até ao fim de sua vida, se recolheu no município de São João de Meriti, RJ, onde veio a se aproximar da Igreja Metodista do Brasil. Ali em sua casa passou mal e foi levado ao Hospital Getúlio Vargas, na capital do estado do Rio de Janeiro, onde veio a falecer vítima de um câncer, pobre e esquecido, em 06/12/1969, aos 89 anos de idade.


Legado, Homenagens e Resgates

Em 1959 voltou ao Sul do País para ser homenageado, mas a cerimônia foi suspensa por interferência da Marinha do Brasil.

A sua memória foi resgatada jornalisticamente a partir de 1959, com o lançamento do célebre livro "A Revolta da Chibata" de Edmar Morel. Musicalmente, na década de 1970 pelos compositores João Bosco e Aldir Blanc, no samba "O Mestre-Sala Dos Mares". Historiograficamente a partir de 1985, com o livro "A Revolta Dos Marinheiros - 1910", do vice-almirante e historiador naval Hélio Leôncio Martins. Cinematograficamente a partir de 2003, ano em que o curta-metragem de resgate de época, "Memórias da Chibata", foi contemplado em edital do Ministério da Cultura com verba para produção.

Em outubro de 2005, o deputado Elimar Máximo Damasceno (PRONA/SP) apresentou o Projeto de Lei nº 5874/05, determinando inscrever o nome de João Cândido no "Livro dos Heróis da Pátria", que se encontra no Panteão da Pátria e da Liberdade Tancredo Neves, na Praça dos Três Poderes, em Brasília, DF.

Este projeto foi arquivado porque segundo a Lei Brasileira, somente depois de completar 50 anos da morte da pessoa, ela pode ser inscrita como "Herói da Pátria", ou seja, no caso de João Cândido, morto em 1969, somente em 2019.

Em setembro de 2006, faleceu, aos 82 anos de idade, Zeelândia Cândido de Andrade, filha mais nova de João Cândido, que dedicou a vida a obter a reintegração do nome de seu pai à Marinha, corporação de onde saiu sem quaisquer direitos.


Em 22/11/2007, aniversário de 97 anos da Revolta da Chibata, foi inaugurada uma estátua em homenagem ao "Almirante Negro", nos jardins do Museu da República, antigo Palácio do Catete, bombardeado durante a Revolta. A estátua, de corpo inteiro, de João Cândido com o leme em suas mãos, foi afixada de frente para o mar e de costas para o palácio do governo brasileiro, que em 1910 traiu sua própria palavra quebrando a anistia aos marinheiros rebeldes. Como parte da solenidade, que teve a presença de autoridades, familiares e representantes dos movimentos sociais, foi exibido o filme "Memórias da Chibata", de Marcos Manhães Marins, e feita uma exposição fotográfica da Revolta da Chibata, sob a curadoria do cientista político e juiz de direito João Batista Damasceno.

Em 24/07/2008, 39 anos depois da morte de João Cândido Felisberto, publicou-se, no Diário Oficial da União, a Lei nº 11.756 que concedeu anistia ao líder da Revolta da Chibata e a seus companheiros, ideia que partiu do Senado Federal e foi aprovada pela Câmara dos Deputados, em 13/05/2008, dia em que se comemora a Abolição da Escravatura no Brasil.

No entanto, a lei foi vetada na parte em que determinava a reintegração de João Cândido à Marinha do Brasil. O motivo do veto é que essa reabilitação "post mortem" importaria em impacto orçamentário para o qual a lei não apontou a referida fonte de custeio. Assim, uma vez que tal reconhecimento imporia à União o pagamento dos soldos atrasados e das promoções que lhe seriam devidas, bem como na concessão de aposentadoria e pensão aos seus dependentes, nesse particular a lei foi vetada por ser contrária ao interesse público, no julgamento da equipe do governo federal.

O governo temia uma corrida de mais de 2 mil famílias para a "Bolsa Chibata". Na realidade, somente duas famílias se apresentaram como descendentes de marinheiros que participaram da Revolta da Chibata: a do próprio líder máximo João Cândido Felisberto e a do marinheiro Adalberto Ribas, que fugiu de um dos barcos logo após a revolta, mantendo-se anônimo durante toda a sua vida, e cujos filhos procuraram a Marinha somente depois de saberem do projeto de lei. Entidades alegaram que indenizar estas duas famílias não quebrararia os cofres do governo brasileiro.


Em 20/11/2008, a estátua foi transferida dos jardins do Palácio do Catete para a Praça Quinze de Novembro, no centro da cidade do Rio de Janeiro, em grande evento que contou com a presença do então presidente da República, Luís Inácio Lula da Silva, a família de João Cândido e milhares de pessoas. A Marinha do Brasil, subordinada ao Ministério da Defesa, por sua vez subordinado ao presidente da República, o chefe hierárquico máximo das Forças Armadas, não compareceu, alegando não poder comemorar porque a Marinha preza a disciplina e a hierarquia.

A inscrição na placa de homenagem ao pé da estátua comete erros: não é verdade que João Cândido "nasceu na Vila São José, Encruzilhada do Sul, Distrito de Rio Pardo". Ele nasceu na Fazenda Coxilha Bonita, no vilarejo Dom Feliciano, que ficava no Município de Encruzilhada, que não era mais distrito de Rio Pardo desde 1849, décadas antes do nascimento dele. Em 1963, é a vez do já distrito, e não mais um vilarejo, Dom Feliciano se emancipar do Município de Encruzilhada, já com o novo nome de Encruzilhada do Sul. Portanto, João Cândido nasceu encruzilhadense e morreu domfelicianense.

No dia 07/05/2010, a Petrobras Transporte S.A. (Transpetro), a pedido do presidente da República, batizou com o nome de "João Cândido" o primeiro navio do Programa de Modernização e Expansão da Frota (PROMEF), primeiro petroleiro produzido em estaleiro nacional após um intervalo de mais de 13 anos. A cerimônia ocorreu no Estaleiro Atlântico Sul (EAS), em Ipojuca, PE. O navio foi comandado pelo Capitão de Longo Curso Carlos Augusto Müller, da Marinha Mercante, e utilizado na exportação.


A entidade Unidade de Mobilização Nacional Pela Anistia (UMNA), reivindicou junto à Petrobras Transportes S.A. que o nome do navio recebesse o justo complemento e, antes do lançamento ao mar, se torne: "Marinheiro João Cândido", a exemplo de outros navios como o "Marinheiro Marcílio Dias", ou receba o nome "João Cândido Felisberto", uma vez que com primeiros nomes "João Cândido" existem muitos e mais famosos do que o líder da revolta, como por exemplo, João Cândido Portinari, João Cândido Ferreira, João Cândido da Silva, e até mesmo o "Almirante Branco" João Cândido Brasil e engenheiro naval, que é nome de rua no Rio de Janeiro e em São Paulo, e faleceu em 1906. O marinheiro negro João Cândido Felisberto que a imprensa chamou em 1910 de "Almirante Negro" morreu em 1969, mas o oficial branco, almirante João Cândido Brasil, de mesmos prenomes, morreu em 1906, 4 anos antes da Revolta da Chibata.

O Petroleiro "João Cândido" tem 274 metros de comprimento e capacidade para transportar 1 milhão de barris de petróleo. O navio foi construído pelo Estaleiro Atlântico Sul, ao custo de R$ 300 milhões.

Em dezembro de 2010, a Empresa Brasil de Comunicação (EBC) conclui a produção "Cem Anos Sem Chibata", dirigida por Marcos Manhães Marins, um documentário especial de 52 minutos, na programação da TV Brasil a partir de janeiro de 2011. Foi exibido várias vezes em 2011 e 2012 na TV Brasil e TV Brasil Internacional.

Em 2012, o projeto do longa-metragem "Chibata", consolidou o patrocínio parcial da Petrobras Transporte S.A. (Transpetro) e distribuição Pandora filmes, recebendo carta de interesse de exibição também da TV Brasil.

Em 2013 a Revolta foi uma das várias citações da novela "Lado a Lado", analisada em artigo do Portal Geledés do Instituto da Mulher Negra. Um dos graves erros apontados foi a novela não ter mostrado o líder da Revolta, João Cândido, diminuindo a importância dele como herói.

Em 2014, o filme começou a ser rodado a partir da sequência de reconstituição de época e dramatização do depoimento para a posteridade no Museu da Imagem e do Som, que tem como ator confirmado para o personagem "João Cândido" em sua fase mais madura, Antonio Pitanga.

Fonte: Wikipédia

Henriqueta Martins Catharino

HENRIQUETA MARTINS CATHARINO
(82 anos)
Educadora e Feminista

* Feira de Santana, BA (12/12/1886)
+ Salvador, BA (21/06/1969)

Henriqueta Martins Catharino foi uma educadora, pioneira do feminismo e responsável direta pela formação de um dos mais ricos acervos memoriais de vestuário, cultura popular e histórico da Bahia, e um dos mais importantes do Brasil.

Era uma dos 14 filhos do rico comerciante e industrial Bernardo Catharino, português que emigrou ainda jovem, e de Úrsula Costa Martins Catharino, de família tradicional da cidade do interior baiano. Seu pai tornou-se, na primeira metade do século XX, o maior empresário do estado da Bahia. A mãe, por sua vez, possuía uma forte formação católica.


A grande riqueza permitiu que Henriqueta tivesse em casa a melhor educação disponível à época, quando poucas eram as mulheres que estudavam. Foi orientada pela professora Cândia Campos de Carvalho, que dirigia-lhe os estudos, que contavam ainda com aulas de alemão, inglês e francês - este último o idioma mais falado da época - com a preceptora alemã, Fräulein Louise von Schiller. Tinha, ainda, aulas de piano com Maria Eulina e Sílvio Fróes, e de artes, com Vieira de Campos.

Fez muitas viagens à Europa, sobretudo a Paris, então o principal centro cultural do mundo.

Junto à médica Francisca Praguer Fróes, uma das primeiras feministas do Brasil, seu nome figura dentre as que primeiro se preocuparam com o papel ativo da mulher na sociedade. Se Francisca Praguer Fróes, uma das primeiras médicas do país, lutava pela ampliação dos direitos civis, tais como o direito ao voto, Henriqueta Catharino cuidou de inseri-las de forma efetiva no mercado de trabalho.

Henriqueta Catharino recebe em doação da Família Real, vestido utilizado pela Princesa Isabel.
Ativismo

Seu espírito de iniciativa manifestou-se ainda antes de completar os 30 anos, com a fundação, na capital baiana de uma biblioteca, chamada Propaganda da Boa Leitura, na primeira década do século XX. Também organizava as chamadas "Tardes de Costura", atividade filantrópica onde senhoras cosiam para as pessoas pobres.

Em 1923 criou a Casa São Vicente, junto ao monsenhor Flaviano Osório Pimentel, e que viria a ser o núcleo do Fundação Instituto Feminino da Bahia.

Ali passou a abrigar, em diversas sedes, que adquiriu com sua parte na herança materna, morta em 1924, e depois com a antecipação da paterna. Diversas coleções foram sendo doadas, objetos eram adquiridos, de forma que além dos cursos, a entidade passou a abrigar dois museus, além de biblioteca e cursos.

Para além das atividades que se perpetuaram na preservação memorial, labutou no auxílio a pessoas do povo, mesmo aquelas vítimas do preconceito, como o fundador de uma das primeiras entidades de defesa racial, a Frente Negra, em Santos, SP, e na Bahia (1932), Marcos Rodrigues dos Santos.

Sobre seu trabalho, o escritor Érico Verissimo, registou, no Jornal da Bahia, em 1951:

"Não conheço coisa igual em todos os colégios do Brasil por onde andei e visitei. E não sei se vi pelo menos igual nos Estados Unidos"

Família Marthins Catharino
Homenagens

Henriqueta Catharino é nome de colégio e rua no bairro da Federação, na Capital baiana. Mas a maior e mais importante homenagem é a nomeação, na década de 1980, do museu que idealizou e ajudou a fundar, hoje um dos mais importantes espaços memoriais do estado brasileiro. Há também um edifício situado no centro da cidade, que leva o nome de Henriqueta Catharino. Essa atribuição deve-se ao fato de que nesse local funcionava o antigo Instituto Feminino da Bahia, cuja proprietária era Dona Henriqueta.

Esta mulher extraordinária faleceu em Salvador, BA, no dia 21/06/1969.

Fonte: Wikipédia

Estela Borges Morato

ESTELA BORGES MORATO
(22 anos)
Policial e Bancária

* Campo Limpo, SP (22/01/1947)
+ São Paulo, SP (07/11/1969)

Estela Borges Morato foi uma investigadora da Polícia Civil do Estado de São Paulo e a primeira mulher brasileira morta no cumprimento do dever, no exercício da profissão de policial. Nasceu na cidade de Campo Limpo, próximo a Jundiaí, Estado de São Paulo, em 22/01/1947. Fez o curso primário no Externato Santo Antonio, o ginásio e o curso científico no Colégio Paulistano.

Em 1964 tomou parte em um concurso bíblico instituído por uma estação de rádio da Capital Paulista, obtendo o primeiro lugar. Recebeu como prêmio mil discos e um aparelho de televisão. Em 18/12/1965 casou-se com Marcos Morato, união que se desfez com a sua morte em 1969.

Foi bancária, ingressando no Banco Comércio e Indústria de São Paulo, em 1966, através de concurso. Aperfeiçoando-se na profissão, fez o curso de Grafodactiloscopia bancária "Preventivo de Falsificação", na Academia de Polícia de São Paulo (Acadepol), onde, primeiramente, se familiarizou com a atividade policial.

Entrou para a carreira de investigadora de Polícia, mediante concurso público em 1969. Foi destacada para prestar serviço no Departamento de Ordem Política e Social (DOPS), onde de acordo com a opinião das autoridades com quem trabalhou foi exemplo de disciplina, abnegação e patriotismo.

Em 07/11/1969, deu com apenas 22 anos, sua vida cheia de crenças, sonhos e esperanças à glória e liberdade da terra que a viu nascer, quando no cumprimento do dever tomou parte com intrepidez o cerco destinado a prisão do perigoso Carlos Marighella, líder da Ação Libertadora Nacional (ALN), chefe da subversão do Estado de São Paulo.

Estela Borges Morato, foi a primeira mulher brasileira e paulista a ser vítima de uma nobre audácia, no trabalho árduo contra o terrorismo, em defesa da sociedade, em defesa dos postulados cristãos e da Pátria Brasileira.

Os Fatos

Sozinho e confiante, o subversivo Carlos Marighella caminhou para o carro onde morreu. Repetia o erro de Gaúcho e de todo o seu esquema de segurança. A armadilha funcionava, deixando claro que as 23 prisões (Frei Fernando, ex-Frei Ivo, doze seminaristas dominicanos, dois jornalistas, sete outras pessoas) feitas em São Paulo e no Rio de Janeiro não haviam chegado ao conhecimento do líder maior do terrorismo.

Terroristas menores, em São Paulo, aparentemente sabiam das prisões e estavam alertas. A notícia havia chegado até o Rio Grande do Sul. Sete horas antes da morte de Carlos Marighella e uma antes da invasão policial ao Seminário Cristo-Rei, na cidade de São Leopoldo, o seminarista dominicano Carlos Alberto Toledo Cristo, Frei Beto, havia fugido. Ele era o encarregado de providenciar fugas de terroristas para o exterior.

Carlos Marighella não sabia do que se passava e caminhava para o carro. Então, a encenação policial terminou. Do carro dos "namorados" saltou o delegado Fleury dando voz de prisão. Os "operários" deixaram os materiais de construção e mostraram suas armas. Carlos Marighella correu, o ex-Frei Ivo, sentado à direção, abriu-lhe a porta direita e o tiroteio começou.

Frei Ivo saiu pela porta esquerda, braços levantados; os homens da segurança de Carlos Marighella responderam ao fogo enquanto fugiam; Frei Fernando deitou-se no banco traseiro. Cinco minutos depois estava tudo acabado. Dois mortos: Carlos Marighella e o protético Friederich Rohmann, que nada tinha com o terrorismo. E dois feridos: o delegado Rubens Tucunduva, com um tiro na perna, e a investigadora Estela Borges Morato, com um tiro na testa, falecendo dias depois.

A Crônica

No mês anterior, Estela escreveu uma crônica para o jornal editado pelo Sindicato dos Bancários que sintetizou a sua visão do mundo:

"Que Tipo de Mundo Você Queria?

Para esta pergunta, a resposta é sempre a descrição de uma utopia. Porém, eu gosto deste século, cheio de vivacidade e colorido, planos e esforços que nos fazem participar de uma experiência excitante e maravilhosa, sendo exatamente isso que dá a vida sua única atração verdadeira. Vida é movimento. Quero este mundo assim como ele é, com sonhos para sonhar, problemas para resolver e lutas para lutar. Vivamos intensamente a vida que Deus nos deu, afinal ela nos oferece mais prazer que dor, mesmo que haja sempre algo para ser resolvido ou remediado. Este mundo merece voto de confiança, porque ele é bom, só é mau para gente dura e de cabeça mole. O homem, enfrentando suas dificuldades, pode mostrar que é homem, aceitando o desafio. As dificuldades serão superadas e a vida valerá a pena ser vivida. Afinal já conquistamos a Lua."

Por reconhecimento dos seus contemporâneos, Estela Borges Morato foi homenageada com a designação do seu nome para uma das ruas da cidade de São Paulo e para uma Escola Estadual.

Gordurinha

WALDECK ARTUR DE MACÊDO
(46 anos)
Cantor, Compositor e Humorista

☼ Salvador, BA (10/08/1922)
┼ Rio de Janeiro, RJ (16/01/1969)

Fossem os curiosos tentar adivinhar-lhe o físico pelo apelido e Gordurinha seria até hoje mais um enigma na história da música popular brasileira. Magro na juventude, Waldeck Artur de Macêdo, nascido no bairro da Saúde, em Salvador, no dia 10 de agosto de 1922, ganhou seu apelido em 1938, quando já trabalhava na Rádio Sociedade da Bahia.

Do seu repúdio à colonização americana, epitomada pela goma de mascar, nasceu o bebop-samba, "Chicletes Com Banana", em parceria com Almira Castilho, que acabou por pronunciar o tropicalismo ao sugerir antropofagicamente na letra:

"Eu só boto be-bop no meu samba
Quando o Tio Sam tocar um tamborim
Quando ele pegar no pandeiro e no zabumba
Quando ele aprender que o samba não é rumba"

Ele mesmo chegou a gravar, como que a tirar um sarro, um rock intitulado "Tô Doido Para Ficar Maluco".

Mas não foi só de glória e reconhecimento tardio a vida deste que, ao lado do Trio Nordestino, iria se transformar no baluarte do forró na Bahia. Sua estréia no mundo da música se deu em 1938, quando fez parte do conjunto vocal Caídos do Céu que se apresentava na Rádio Sociedade da Bahia, fazendo logo depois par cômico com o compositor Dulphe Cruz. Logo se destacou pelo seu dom de humorista e pelo sarcasmo que iria ser disseminado em suas letras anos mais tarde.


Em 1942, cansado de tentar conciliar estudo e sessões de rádio, tomou a decisão e se debateu com um dilema conhecido de muitos: medicina ou carreira artistica? Como seus discípulos Zé Ramalho e Fred Dantas, Gordurinha caiu fora desse estória de clinicar. Largou a Faculdade de Medicina e seguiu sua sina de cigarra.

Os passos iniciais seriam dados numa Companhia Teatral. Caiu na estrada, mambembeando e povoando de músicas e pantomimas outras plagas.

Seu próximo passo seria um contrato na Rádio Jornal de Comércio, em Recife, no ano de 1951. Depois, o jovem compositor, humorista e intérprete Gordurinha passaria pela Rádio Tamandaré onde conheceu o poeta Ascenso Ferreira, figura folclórica do Recife, Jackson do Pandeiro e Genival Lacerda. Estes dois últimos gravariam em primeira mão várias das suas composições.

Em 1952 partiu para o Rio de Janeiro onde penou sofrendo gozações preconceituosas. Sublimando estes pormenores, conseguiu trabalhar nos programas "Varandão da Casa Grande", na Rádio Nacional, e "Café Sem Concerto" das Rádios Tupi e Nacional, duas das maiores no país, sempre fazendo tipos humorísticos. Ficou neste circuito até que almejou um sonho que já alimentava desde os magros dias do Recife que era um contrato na mais importante mídia do Brasil na época: a Rádio Nacional.

"Meu Enxoval", um samba-coco em parceria com Jackson do Pandeiro seria um dos carros chefes do disco "Forró do Jackson" (1961). Outro que se daria bem com uma composição do baiano seria o forrozeiro paraense Ary Lobo (mais um dos artistas que o Brasil insiste em esquecer) que prenunciou o mangue beat ao cantar "Vendedor de Caranguejo" que também seria gravado por Clara Nunes em 1974, e por Gilberto Gil no seu "Quanta" de 1997.

Em 1964 desagradado com o golpe militar, fugiu de casa deixando com os familiares a determinação para que destruíssem tudo o que parecesse comprometedor, especialmente uma foto em que aparecia tocando violão para o presidente João Goulart e o governador Leonel Brizola. Maltrapilho e doente, só reapareceu meses depois.  

Homenagens

Gordurinha seria homenageado na década de 70 com Gilberto Gil, que regravou "Chicletes Com Banana" e "Vendedor de Caranguejo". O cantor carioca Jards Macalé, também o homenageou com a regravação de "Orora Analfabeta", no seu segundo LP, "Aprendendo a Nadar", de 1974. Elba Ramalho, que em entrevista à revista Showbizz, elogiou sua divisão de versos, se rendeu ao talento do mestre ao dar sua versão de "Pau-de-Arara é a Vovozinha", no seu CD "Flor da Paraíba", de 1998.

A última homenagem recebida foi o lançamento do CD "A Confraria do Gordurinha", em rememoração aos 30 anos sem o artista. Contando com participação de Gilberto Gil, Confraria da Basófia e Marta Millani, e texto do pesquisador Roberto Torres. O CD têm 14 faixas e foi lançado em 1999.

Gordurinha faleceu em Nova Iguaçú, Rio de Janeiro, em 16/01/1969, vítima de um infarto  provocado por uma overdose.

Injustiça

A impressão que a livre imprensa nos passa é de estar contra um dos grandes gênios da música popular brasileira. Gordurinha foi um gênio não reconhecido e desprezado da elite musical. O que mais choca é o fato de a imprensa atual cheia de recursos para consulta como a internet se manter calada diante de fatos relevantes.

Algumas musicas de Gordurinha continuam sendo creditadas a outros cantores, creditadas por profissionais da arte e por leigos que publicam em sites, blogs, e na vasta imensidão da internet, que parece ser incontrolável e sem punições por seus erros.

Citaremos abaixo algumas das musicas que Gordurinha fez e como ele mesmo dizia, algumas de suas músicas fizeram um pouco de sucesso, tais como:

"Chicletes com Banana" que insistem em chamar de "Chiclete com Banana", "Súplica Cearense" em que insistem creditar a Luiz Gonzaga. Entre outros sucessos estão "Mambo da Cantareira", "Vendedor de Caranguejo", "Vendedor de Biscoitos", "Baiano Burro Nasce Morto", "Carta a Maceió", "Orora Analfabeta", "Oito da Conceição", entre outros.

Carlos Marighella

CARLOS MARIGHELLA
(57 anos)
Político, Poeta e Guerrilheiro

* Salvador, BA (05/12/1911)
+ São Paulo, SP (04/11/1969)

Carlos Marighella foi um político, guerrilheiro e poeta brasileiro, um dos principais organizadores da luta armada contra o regime militar a partir de 1964.

Um dos sete filhos do operário Augusto Marighella, imigrante italiano da região da Emília, terra de destacados líderes italianos, e da baiana Maria Rita do Nascimento, negra e filha de escravos africanos trazidos do Sudão (negros hauçás), nasceu em Salvador, BA, residindo na Rua do Desterro 9, Baixa do Sapateiro, onde concluiu o seu curso primário e o secundário e, em 1934 abandonou o curso de Engenharia Civil da Escola Politécnica da Bahia para ingressar no Partido Comunista Brasileiro (PCB). Tornou-se então, militante profissional do partido e se mudou para o Rio de Janeiro, trabalhando na reorganização do PCB.

Conheceu a prisão pela primeira vez em 1932, após escrever um poema contendo críticas ao interventor Juracy Magalhães. Libertado, prosseguiu na militância política, interrompendo os estudos universitários no terceiro ano, em 1932, quando deslocou-se para o Rio de Janeiro.


Em 01/05/1936, durante a ditadura na "Era Vargas", foi preso por subversão e torturado pela polícia de Filinto Müller. Permaneceu encarcerado por um ano. Foi solto pela "Macedada" (nome da medida que libertou os presos políticos sem condenação). Ao sair da prisão entrou para a clandestinidade, até ser recapturado, em 1939. Novamente foi torturado e ficou na prisão até 1945, quando foi beneficiado com a anistia pelo processo de redemocratização do país.

Elegeu-se deputado federal constituinte pelo Partido Comunista Brasileiro baiano em 1946, mas perdeu o mandato em 1948, em virtude da nova proscrição do partido. Voltou para a clandestinidade e ocupou diversos cargos na direção partidária. Convidado pelo Comitê Central, passou os anos de 1953 e 1954 na China, a fim de conhecer de perto a recente revolução chinesa.

Em maio de 1964, após o golpe militar, foi baleado e preso por agentes do Departamento de Ordem Política e Social (DOPS) dentro de um cinema, no Rio de Janeiro. Libertado em 1965 por decisão judicial, no ano seguinte optou pela luta armada contra a ditadura, escrevendo "A Crise Brasileira".

Em dezembro de 1966, renunciou à Comissão Executiva Nacional do PCB.

Em agosto de 1967, participou da I Conferência da Organização Latino-Americana de Solidariedade (OLAS), realizada em Havana, Cuba, a despeito da orientação contrária do PCB. Aproveitando a estada em Havana, redigiu "Algumas Questões Sobre a Guerrilha no Brasil", dedicado à memória do comandante Che Guevara e tornado público pelo Jornal do Brasil em 05/09/1968.

Foi expulso do partido em 1967 e em fevereiro de 1968 fundou o grupo armado Ação Libertadora Nacional (ALN). Em setembro de 1969, a Ação Libertadora Nacional participou do sequestro do embaixador norte-americano Charles Elbrick, em uma ação conjunta com o Movimento Revolucionário 8 de Outubro (MR-8).


Com o recrudescimento do regime militar, os órgãos de repressão concentram esforços em sua captura. Na noite de 04/11/1969 Carlos Marighella foi surpreendido por uma emboscada na Alameda Casa Branca, na capital paulista. Ele foi morto a tiros por agentes do DOPS, em uma ação coordenada pelo delegado Sérgio Paranhos Fleury.

A Ação Libertadora Nacional continuou em atividade até o ano de 1974. O sucessor de Carlos Marighella no comando da Ação Libertadora Nacional foi Joaquim Câmara Ferreira, que também foi morto por Sérgio Paranhos Fleury no ano seguinte.

Os militantes mais atuantes em São Paulo eram Yuri Xavier Ferreira, Ana Maria Nacinovic, Marco Antônio Valmont e Gian Mercer que continuaram fazendo panfletagem contra a ditadura até meados de 1972, quando também foram mortos numa emboscada no bairro da Mooca, ao saírem do restaurante Varela.

Dezoito de seus militantes foram mortos e cinco foram considerados desaparecidos. O último líder da Ação Libertadora Nacional foi Carlos Eugênio Sarmento da Paz, que sobreviveu auto-exilando-se na França, e voltando ao Brasil após a anistia.

Em 1996, o Ministério da Justiça reconheceu a responsabilidade do Estado pela morte de Carlos Marighella. Em 07/03/2008 foi decidido que sua companheira Clara Charf deveria receber pensão vitalícia do governo brasileiro.

Morte

Em uma emboscada preparada contra Carlos Marighella, foram detidos Tito e seus amigos de convento, exceto Frei Oswaldo. Frei Fernando foi obrigado a combinar um encontro com Carlos Marighella. Eles tinham um código que auxiliou na emboscada: "Aqui é o Ernesto, vou à gráfica hoje". O encontro foi marcado na Alameda Casa Branca, uma rua próxima ao centro da cidade de São Paulo.

No dia do encontro, havia uma caminhonete com policiais e um automóvel, com supostos namorados, onde Sérgio Paranhos Fleury disfarçou-se, além do fusca com Fernando e Ivo.

Ao chegar na Alameda, às 20:00 hs, dirigiu-se ao fusca e entrou na parte traseira. Frei Ives e Fernando saíram rapidamente do carro e se jogaram no chão. Percebendo a emboscada, imediatamente reagiu à prisão e foi morto.

Carlos Marighella seguiu as normas de seu manual. Portava um revólver e levava duas cápsulas de cianureto. Além de Carlos Marighella, outras três pessoas foram atingidas durante o tiroteio: Estela Borges Morato, investigadora do DOPS que simulou namorar Sérgio Paranhos Fleury, morta no tiroteio. Friederich Adolf Rohmann, protético que passava pelo local, morto no tiroteio. Rubens Tucunduva, delegado envolvido na emboscada, que ficou ferido gravemente no tiroteio.

Escritos

Carlos Marighella escrevia poesias e, aos 21 anos, durante as aulas de engenharia divertia professores e colegas fazendo provas em verso. Da mesma forma, compôs em versos ataques ao interventor baiano Juracy Magalhães, fato que lhe valeu sua primeira prisão, seguida de tortura, em 1932. Ainda na prisão, desta feita em 1939, ele compôs o poema "Liberdade".

"(...) E que eu por ti, se torturado for, 
possa feliz, indiferente à dor,
morrer sorrindo a murmurar teu nome."

Sua obra poética está reunida no livro "Rondó da Liberdade".

A Lápide da Sepultura

A única obra de Oscar Niemeyer na Bahia: A lápide da sepultura de Carlos Marighella.

Em 10/12/2009, se passaram 30 anos do translado do corpo de Carlos Marighella para Salvador e 40 anos de sua morte em São Paulo, onde foi enterrado como indigente.

Os restos mortais de Carlos Marighella descansam no cemitério da Baixa de Quintas em Salvador. A frase de Carlos Marighella na lápide: "Não tive tempo para ter medo".

Estado Brasileiro Anistia Carlos Marighella No Seu Centenário

Depois de 42 anos o Estado Brasileiro finalmente pediu desculpas aos familiares de Carlos Marighella pela sua execução no dia 04/11/1969 em uma emboscada em São Paulo. A anistia ao líder guerrilheiro foi aprovada por unanimidade durante a primeira sessão da 53º Caravana da Anistia realizada na noite de segunda-feira, 05/12/2011, no Teatro Villa Velha, em Salvador, cidade onde nasceu e começou sua militância política. A data também marca o centenário de Carlos Marighella.

O teatro ficou lotado de lideranças sociais e políticas, familiares, amigos de luta e muitos admiradores da trajetória de Carlos Marighella, um baiano que morreu em defesa do direito à liberdade de todo o povo brasileiro. O governador da Bahia, Jaques Wagner, o ex-governador Waldir Pires, o presidente do Partido Comunista do Brasil (PCdoB) na Bahia, Daniel Almeida, senadores, deputados e vereadores estavam entre as autoridades presentes ao evento.

A relatoria do pedido de anistia coube a Ana Guedes, militante do PCdoB na Bahia, que após ler o relato sobre a trajetória de Carlos Marighella desde o início da sua militância política em Salvador, passando pelas prisões até a sua morte votou pela anistia de Marighella.

Segundo Ana, Carlos Marighella é um ícone, um herói do povo brasileiro. Foi um homem totalmente voltado para a defesa do povo brasileiro e por isso foi muito perseguido, preso, torturado e assassinado.

"O maior significado deste ato está em reafirmar o nosso desejo de que a anistia vingue. A anistia é uma conquista do povo brasileiro, pois no momento que o Estado pede desculpas à família, isso vai ficar gravado na memória do povo brasileiro, que isso que aconteceu com Marighella e com tantos outros brasileiros não pode mais acontecer."

Unanimidade

O momento mais aguardado veio no início da noite após muitos depoimentos emocionados sobre o homenageado e votação unânime da Comissão pela aceitação do parecer de Ana Guedes.

"Pelos poderes a nós conferidos pelo Ministério da Justiça, a Comissão da Anistia declara anistiado pós-mortem Carlos Marighella. Com isso, Clara Charf e Carlos Augusto Marighella, pedimos as mais sinceras desculpas por tudo que o Estado Brasileiro fez contra seu companheiro e seu pai."
(Vice-presidente da Comissão da Anistia, Egmar Oliveira)

"É muito importante que meus filhos estejam aqui para acompanhar este momento, que é o reconhecimento da trajetória de um grande homem. Há 42 anos, em um dia chuvoso, fui chamado a um jornal para reconhecer a foto de Marighella morto. Foi muito traumatizante, pois a foto era seguida de muitas mentiras sobre ele. Mentiras que foram sendo desmascaradas com o passar do tempo. Tudo porque Marighella sempre foi um herói e surge como inspiração para os jovens brasileiros. Eu estou muito feliz, porque são 40 anos lutando para que esta verdade seja reconhecida e este dia chegou."
(Carlos Augusto Marighella - Filho de Carlos Marighella)


A felicidade também estava estampada no rosto de Clara Charf, viúva de Carlos Marighella e uma das pessoas que mais lutaram para que o Estado reconhecesse seu erro e a verdade sobre o companheiro fosse restabelecida.

"Esta Comissão é resultado do processo de democratização, que permitiu que chegasse a este momento, em que o povo brasileiro pudesse saber a verdade sobre o que aconteceu. Porque durante muito tempo eles mentiram e tentaram desmoralizar a vida das pessoas. Porque eles queriam esconder a resistência do povo brasileiro, que é o povo mais resistente do mundo."
(Clara Charf)