Castor de Andrade

CASTOR GONÇALVES DE ANDRADE E SILVA
(71 anos)
Banqueiro do Jogo do Bicho e Empresário

☼ Rio de Janeiro, RJ (12/02/1926)
┼ Rio de Janeiro, RJ (11/04/1997)

Castor Gonçalves de Andrade e Silva, mais conhecido por Castor de Andrade, foi o mais famoso e poderoso bicheiro do Brasil.

Seu pai, Eusébio de Andrade, fez fortuna explorando o jogo do bicho, e Castor teve uma infância despreocupada. Estudou no tradicional Colégio Pedro II, mas era um aluno relapso, que matava aulas para nadar na praia do Flamengo. Isso não o impediu de se formar em Direito.

Castor herdou a banca de bicho de seu pai e a transformou num império. Era considerado um bicheiro romântico, que não permitia que outros negócios escusos, como o tráfico de drogas, fossem explorados juntamente ao jogo.

Membro da terceira geração de uma família ligada ao jogo do bicho, Castor de Andrade tornou-se o chefão da contravenção no Rio de Janeiro e, no auge do poder, expandiu seu império, muitas vezes a bala, chegando a bancar o jogo em outros Estados, inclusive no Nordeste. Na Bahia, a entrada dos bicheiros provocou uma guerra com os chefões locais, resultando em dezenas de mortes em Salvador.

A origem da dinastia é matriarcal: Sua avó, Dona Eurides, era bicheira no início do século XX. Seu pai, Eusébio de Andrade, o Zizinho, bancava o jogo em Bangu, bairro proletário da Zona Oeste do Rio de Janeiro, onde a família se instalou num tempo em que esse tipo de aposta era quase uma brincadeira inocente, antes de se transformar numa organização criminosa sob suspeita de manipular resultados para roubar apostadores e de ter ligação com tráfico, sequestros e assassinatos, incluindo uma macabra aliança com a linha-dura nos porões da Ditadura Militar.


Nos anos 70, formada a cúpula da contravenção, com o fim das guerras entre os banqueiros do bicho do Rio de Janeiro, reinava uma aparente calma no submundo da jogatina. Em 1976, porém, um velho banqueiro da Tijuca, Euclides Ponar, o China Cabeça Branca, deu uma entrevista-bomba à imprensa, denunciando que os chefes haviam decidido fraudar os resultados, para aumentar seus lucros, evitando assim pagar apostas altas que fossem premiadas. O esquema, que mais tarde teria passado a ser feito com o auxílio de computadores, era relativamente simples: Os números mais apostados nunca seriam sorteados. A denúncia de China custou-lhe a vida, ele apareceu morto com um tiro de pistola.

Sob o comando de Castor de Andrade, a cúpula do jogo enfrentou outras crises, como a intromissão do ex-policial Mariel Mariscot, que queria entrar no negócio. Sua pretensão foi eliminada com uma rajada de balas, em 08/10/1981, no Centro do Rio de Janeiro, sendo Mariel Mariscot morto em frente a uma das fortalezas do banqueiro Raul Capitão, pai de Marcos Aurélio Corrêa de Mello, o Marquinhos, que era sócio do ex-policial. Sete anos depois, em maio de 1988, Marquinhos foi metralhado, apesar de seu pai ser membro da chefia.

Após a promulgação o AI-5 no regime militar, Castor de Andrade cumpriu pena na Ilha Grande, em 1969, por enriquecimento ilícito. Do pai, Castor de Andrade herdou ainda uma frase, com a qual pavimentou seu caminho, na relação com policiais, políticos, jornalistas e membros do Poder Judiciário: "Onde existe o homem sempre pode haver corrupção!".

A prova maior de que ele seguiu a frase à risca veio em abril de 1994, quando o Ministério Público estourou uma fortaleza de Castor de Andrade em Bangu, apreendendo disquetes de computador e livros-caixa com a contabilidade da contravenção. Estavam lá, na folha de pagamentos do bicho, policiais, juízes, jornalistas, advogados, deputados e até artistas. A maioria desmentiu o recebimento de propinas e ninguém foi condenado.

Castor de Andrade em seu dia-a-dia acompanhado de seu guarda-costas "Anjo Negro", ex-pugilista.
Anos depois, acusado de assassinatos, contrabando, formação de quadrilha e tráfico de drogas, o bicheiro foi condenado por formação de quadrilha, juntamente com os demais membros da cúpula, numa sentença da juíza Denise Frossard. Os bicheiros foram para a cadeia, mas Castor de Andrade tornou-se foragido. Castor de Andrade foi reconhecido e capturado em 26/10/1994, quando visitava o Salão do Automóvel, em São Paulo, disfarçado com um bigode postiço e uma peruca preta. Ao ser preso em outubro de 1994, após 203 dias, Castor de Andrade comentou: "Estava escrito".

Recolhido à carceragem da Polinter, fez ali uma verdadeira revolução. As celas se tornaram suítes de luxo, com ar-condicionado, lavadora de roupa, frigobar, televisão e videocassete. As festas na prisão eram constantes e movidas à champanhe e caviar. Além de comprar mordomias, o contraventor financiou a reforma das instalações e o conserto de carros de polícia. Por problemas cardíacos, obteve da Justiça o direito de cumprir sua pena em prisão domiciliar, em seu luxuoso apartamento na Avenida Atlântica. Mas saía às ruas com freqüência, sem ser incomodado.

Ídolo do subúrbio para alguns, tinha sua fachada de respeitabilidade: Castor de Andrade era bacharel em Direito, dono de uma metalúrgica, de postos de gasolina e casas comerciais. Herdou a liderança no Bangu de seu pai, Zizinho, e sempre lamentou não ter sido bom jogador. Usava no futebol os mesmos recursos que fizeram-no capo di tutti capi: Comprava.

O Rei de Bangu era um benfeitor da comunidade: Ajudava com distribuição de leite, serviços médicos, auxílio-funeral e aos paraplégicos.

Futebol e Carnaval

Castor de Andrade foi presidente de honra e grande financiador do Bangu Atlético Clube, sendo o grande responsável pela conquista do título de campeão carioca de futebol de 1966, quando seu pai, Euzébio Gonçalves de Andrade e Silva presidia o clube, e pelo vice-campeonato brasileiro de 1985, quando perdeu o campeonato para o Coritiba, que foi o campeão brasileiro após histórica decisão por pênaltis no Maracanã.

Castor de Andrade foi também patrono da Mocidade Independente de Padre Miguel, escola de samba à qual ajudou a conquistar os títulos dos carnavais de 1979, 1985, 1990, 1991 e 1996. Mas sua participação no Carnaval não se limitava a esta escola de samba. Durante décadas colocou dinheiro na organização dos desfiles, numa época em que os demais contraventores não ousavam aparecer.

Deve-se ainda a Castor de Andrade a fundação da Liga Independente das Escolas de Samba do Rio de Janeiro, que surgiu de uma dissidência da Associação das Escolas de Samba da Cidade do Rio de Janeiro.

Sob a liderança de Castor de Andrade e de Capitão Guimarães, dez escolas de samba, financiadas por bicheiros, que eram minoria e sempre derrotadas nas deliberações da Associação, criaram a Liga Independente das Escolas de Samba do Rio de Janeiro (LIESA), que passou a dominar o Carnaval carioca.

Morte

Castor de Andrade faleceu no dia 11/04/1997, aos 71 anos, vítima de um ataque cardíaco. Ele cumpria prisão domiciliar, mas quando passou mal estava na casa de uma amiga, no Leblon, jogando cartas. Castor de Andrade foi levado para o Prontocor, na Lagoa, mas chegou morto. Ele sofria de miocardiopatia dilatada, conhecida como coração de boi, e já havia tido cinco edemas pulmonares.

Presidente de honra da Mocidade Independente de Padre Miguel e patrono do Bangu Atlético Clube, Castor de Andrade foi velado na quadra da Escola de Samba e enterrado no Cemitério Jardim da Saudade, em Sulacap. No sepultamento, o vereador Agnaldo Timóteo (PPB) cantou a "Ave Maria" diante do corpo e houve toques de surdo, fogos de artifício e pétalas de rosa.

No carnaval de 1998, público e foliões presentes ao sambódromo fizeram um minuto de silêncio em sua homenagem.

O contraventor deixou quatro filhos: Paulo Roberto, então com 46 anos, e Carmem Lúcia, de 31, do casamento com Wilma Andrade, além de Ricardo, de 12 anos, e Camila, de 5, de sua união com Ana Cristina Bastos Moreira, com quem estava vivendo desde que obtivera na Justiça a prisão domiciliar, meses antes.


A morte de Castor de Andrade deflagrou uma guerra na família, que acabaria tendo consequências na estrutura do jogo do bicho como um todo. Nesse novo cenário, as disputas na família Andrade ganharam corpo. Ainda em vida, Castor de Andrade teria escolhido o sobrinho Rogério para comandar o jogo do bicho na Zona Oeste do Rio de Janeiro e em outras áreas do Estado. Inconformado com a decisão, seu filho Paulo Roberto, o Paulinho, começou uma guerra contra Rogério pelo controle da contravenção na região.

Em 1998, Paulinho e um segurança foram assassinados na Barra da Tijuca. Com a morte de Paulo Roberto, seu cunhado, Fernando Iggnácio Miranda, assumiu o lugar na disputa.

De acordo com investigações da polícia, a partir da metade dos anos 1990, Fernando Iggnácio controlaria a Adult Fifty, empresa que explorava caça-níqueis em toda a Zona Oeste do Rio de Janeiro.

Em 1998, Rogério teria fundado a Oeste Rio. Com a queda nos lucros do jogo do bicho, a cobiça pelo mercado de caça-níqueis aumentou e os dois entraram em guerra em 2001. No mesmo ano, a polícia deu início a uma operação para apreender caça-níqueis no Estado. Os inimigos passaram a atacar as máquinas um do outro. Dos ataques passaram a assassinatos.

Segundo a polícia, o conflito provocou pelo menos 50 mortes. O próprio Rogério foi vítima de uma tentativa de assassinato em 2001. Em abril de 2010, outro golpe: O filho de Rogério, de 17 anos, morreu num atentado na Barra. Em vez do pai, era o rapaz que dirigia o carro quando uma bomba explodiu.

Fonte: WikipédiaAcervo O Globo
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