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Cara de Cavalo

MANOEL MOREIRA
(23 anos)
Traficante, Cafetão e Ladrão

☼ Rio de Janeiro, RJ (22/04/1941)
┼ Cabo Frio, RJ (03/10/1964)

Manoel Moreira, mais conhecido pela alcunha Cara de Cavalo, foi um criminoso brasileiro. Acusado do assassinato de Milton Le Cocq, foi a primeira vítima da Scuderie Le Cocq, organização policial clandestina criada para vingar a morte do detetive.

Cara de Cavalo nasceu no Rio de Janeiro em 22/04/1941. Morador da Favela do Esqueleto, Cara de Cavalo iniciou-se na criminalidade ainda garoto, vendendo maconha na Central do Brasil. Tornou-se pouco depois cafetão, e ligou-se ao jogo do bicho. Diariamente, cumpria a rotina de percorrer de táxi os pontos de jogo da Vila Isabel, acompanhado de uma amante, a quem designara a tarefa de recolher o pagamento compulsório do dia. Ocasionalmente, tornou-se amigo do artista plástico Hélio Oiticica que, passista da Mangueira e frequentador de favelas, era fascinado pela marginalidade.

Ele foi de vital importância para o surgimento de um dos mais sanguinários grupos que se tem notícia, o "Esquadrão da Morte".

Insatisfeito com os pagamentos, um bicheiro procurou o detetive Milton de Oliveira Le Cocq, que organizara um grupo clandestino de policiais para caçar criminosos.

Em 27/08/1964, o detetive, acompanhado dos colegas Jacaré, Cartola e Hélio Vígio, armou o cerco a Cara de Cavalo em um dos pontos de jogo. Percebendo a armadilha, o bandido tentou fugir, mas teve seu táxi cercado pelo Fusca de Le Cocq. Após um breve tiroteio, o detetive caiu morto com um tiro da Colt 45 de Cara de Cavalo.


Apesar de não ter um currículo violento, Cara de Cavalo inaugurou em seu prontuário criminal o homicídio de Milton de Oliveira Le Cocq, um dos "Dez Homens de Ouro" da polícia carioca.

O incidente decretou a sentença de morte de Cara de Cavalo. De reles marginal, passou a ser um dos criminosos mais procurados de Rio de Janeiro. Armou-se então uma grande operação à sua cata, mobilizando 2 mil policiais, em quatro Estados.

Um mês e sete dias depois, Cara de Cavalo foi finalmente encontrado em Cabo Frio, RJ.

Em 03/10/1964, o criminoso foi cercado em seu esconderijo pela denominada "Turma da Pesada", formada pelos policiais Sivuca, Euclides Nascimento, Guaíba, Cartola, JacaréHélio Vígio, entre outros, e sumariamente executado com mais de cem disparos, 52 dos quais o atingiram, 25 apenas na região do estômago.

Os policiais cariocas da época ironizavam ao declarar que Manoel Moreira, o Cara de Cavalo era o sócio-fundador do "Esquadrão da Morte" de Hélio Oiticica, famoso artista plástico do Rio de Janeiro, que ganhou as colunas dos jornais ao defender publicamente seu amigo marginal e exibir em sua obra, um estandarte que homenageava o bandido.

Ao lado da foto de Cara de Cavalo com os braços abertos formando uma cruz em meio a uma poça de sangue, Hélio Oiticica fez a inscrição: "Seja marginal, seja herói".

Hélio Oiticica Homenageia Cara de Cavalo
Consequências

A caçada a Cara de Cavalo deixou a polícia desorientada. Motivados pelo bordão de Milton de Oliveira Le Cocq de que "Bandido que atira num policial não deve viver!", as autoridades se desentenderam na corrida por deter o criminoso, enquanto pessoas parecidas com ele eram mortas por engano. Após a execução, a "Turma da Pesada" consolidou-se como Scuderie Le Cocq, tendo Luiz Mariano como presidente da organização clandestina de repressão ao crime e Sivuca eleito deputado estadual com a plataforma "Bandido bom é bandido morto".

Um ano depois da morte, Hélio Oiticica criou a obra "Homenagem a Cara de Cavalo", uma caixa envolta por telas, cujas paredes internas foram cobertas por fotografias do criminoso assassinado. Em 1968, prestaria outro tributo ao amigo, com o poema-bandeira "Seja Marginal, Seja Herói".

Scuderie Le Cocq inspirou o surgimento do Esquadrão da Morte, cuja perseguição e execução de bandidos espalhou-se por todo o Brasil.

Fonte: Wikipédia

Álvaro Moreyra

ÁLVARO MARIA DA SOLEDADE PINTO DA FONSECA VELHINHO RODRIGUES MOREIRA DA SILVA
(75 anos)
Escritor, Poeta, Cronista e Jornalista

* Porto Alegre, RS (23/11/1888)
+ Rio de Janeiro, RJ (12/09/1964)

Álvaro Moreyra foi um poeta, cronista e jornalista brasileiro. Modificou voluntariamente o longo nome de família para Álvaro Moreyra, com "y", para que esta letra "representasse as supressões" destes nomes.

Nascido Álvaro Maria da Soledade Pinto da Fonseca Velhinho Rodrigues Moreira da Silva, filho de João Moreira da Silva, autor teatral, cronista e poeta, e de Maria Rita Pinto da Fonseca, estudou no colégio jesuíta de São Leopoldo. Ao terminá-lo foi trabalhar como jornalista em Porto Alegre, no Petit Journal e depois no Jornal da Manhã, de Alcides Maya.

Mudou-se para o Rio de Janeiro, onde formou-se em Direito em 1910. Entre 1912 e 1914 esteve em Paris e viajou também à Itália, Bélgica e Inglaterra. De volta ao Brasil, iniciou a carreira jornalística no Rio de Janeiro, tendo sido redator da Fon-Fon, Bahia Ilustrada, A Hora, Boa Nova, Ilustração Brasileira, Diretrizes e Para Todos. Com Brício de Abreu, criou o periódico Dom Casmurro.

Admirador das artes cênicas, fundou no Rio de Janeiro, em 1927, o "Teatro de Brinquedo", junto com sua esposa, o primeiro movimento racionalmente estruturado no país para a renovação do teatro.

Em 1937, apresentou à Comissão de Teatro do Ministério da Educação e Cultura, um plano de organização de uma "Companhia Dramática Brasileira", que foi aceito. Com ela, Álvaro Moreyra excursionou aos estados de São Paulo e Rio Grande do Sul, e fez temporada de três meses no Teatro Regina, do Rio de Janeiro.

A partir de 1942, teve destacada atuação no rádio brasileiro, onde além de escrever crônicas, também as interpretava ao microfone. Esteve na Rádio Cruzeiro do Sul, entre 1942 e 1945, passando, a seguir, a trabalhar na Rádio Globo, onde celebrizou-se por sua participação no programa "Conversa em Família". Depois passou a apresentar o "Bom-dia Amigos", uma crônica diária de cinco minutos, que ele transformou num recado de bom-humor, alegria, conselho, poesia e, sobretudo, de humanismo.

Em 1958, recebeu o prêmio do melhor disco de poesia com os "Pregões do Rio de Janeiro". Era membro da Fundação Graça Aranha, da Sociedade Felipe d’Oliveira, da Academia Carioca de Letras e do Pen Clube do Brasil.

Era casado com Eugênia Álvaro Moreyra, sua companheira de teatro e jornalismo, uma líder feminista, e sua residência em Copacabana era ponto de encontro de escritores e intelectuais. Enviuvando, casou com Cyla Rosenberg.


Academia Brasileira de Letras

Álvaro Moreyra foi membro da Academia Brasileira de Letras, sendo o quarto ocupante da cadeira 21. Foi eleito em 13 de agosto de 1959, na sucessão de Olegário Mariano, tendo sido recebido por Múcio Leão em 23 de novembro de 1959.

Poesia

  • 1909 - Degenerada
  • 1909 - Casa Desmoronada
  • 1910 - Elegia da Bruma
  • 1911 - Legenda da Luz e da Vida
  • 1916 - Lenda das Rosas
  • 1929 - Circo
  • 1933 - Caixinha dos Três Segredos

Prosa

  • 1915 - Um Sorriso Para Tudo
  • 1921 - O Outro Lado da Vida
  • 1923 - A Cidade Mulher
  • 1924 - Cocaína
  • 1927 - A Boneca Vestida de Arlequim
  • 1933 - O Brasil Continua
  • 1936 - Tempo Perdido
  • 1946 - Teatro Espanhol na Renascença
  • 1954 - As Amargas, Não...
  • 1955 - O Dia Nos Olhos
  • 1958 - Havia Uma Oliveira no Jardim

Teatro

  • 1929 - Adão e Eva e Outros Membros da Família

Discursos

O mais conhecido é o dedicado a Olavo Bilac, na sessão solene do Conselho Municipal de Porto Alegre, em 1916.

Fonte: Wikipédia

Antônio Maria

ANTÔNIO MARIA DE ARAÚJO MORAIS
(43 anos)
Compositor, Cronista, Radialista, Comentarista Esportivo e Poeta

* Recife, PE (17/03/1921)
+ Rio de Janeiro, RJ (15/10/1964)

Pernambucano do Recife, onde nasceu a 17 de março de 1921, Antônio Maria de Araújo Morais, ou simplesmente Antônio Maria, foi um dos maiores cronistas brasileiros do seu tempo. Compositor de sucessos inesquecíveis como "Ninguém Me Ama" ou "Se Eu Morresse Amanhã", ele foi locutor esportivo, poeta e radialista. Mas, para companheiros de farras como Vinícius de MoraesFernando Lobo e outros, sua marca maior foi, sem dúvida, a boemia.

Neto e filho de usineiros, antes da glória de ver suas músicas nas paradas de sucesso interpretadas por Dolores Duran, Nora Ney e Maysa, Antônio Maria viveu dias um tanto difíceis. Primeiro, no Recife, em meados da década de 30, quando os negócios da família decaíram e ele, ainda adolescente, teve que arranjar um emprego na Rádio Clube de Pernambuco, para bancar as já freqüentes noitadas no Bar Gambrínus e no Cabaré Imperial.

Depois, a dureza continuou no Rio de Janeiro, para onde viajou em 1939, com Fernando Lobo, para tentar a vida. Seu trabalho, como locutor esportivo na Rádio Ipanema, não agradou e ele chegou a passar fome. Frustrada a primeira tentativa de morar no Rio de Janeiro, Antônio Maria retornou ao Recife.

Em seguida, convidado por Assis Chateaubriand, chefe dos Diários e Emissoras Associados, aceitou o cargo de diretor da Rádio Clube do Ceará e, já casado com sua primeira mulher, seguiu para Fortaleza. Depois, mudou-se para Salvador, também convidado para a direção das Emissoras Associadas da Bahia. Antônio Maria permaneceu no Nordeste até 1948 quando, mais uma vez, embarcou para o Rio de Janeiro.

Foi a viagem definitiva para a cidade maravilhosa, onde iria conhecer o sucesso e viver mil aventuras. Antônio Maria passou a dividir um apartamento com Fernando Lobo na Rua do Passeio, no Centro, onde seguidamente o também pernambucano Abelardo Barbosa, futuro Chacrinha, ia se convidar para o jantar. O "Velho Guerreiro" sempre ganhava comida, mas antes passava por alguma sacanagem da dupla, como ter que tomar banho gelado.

Em 1949, Antônio Maria já era diretor da Tupi, cargo em que se manteve até sair da emissora. Continuava à frente do microfone, onde narrava e produzia "O Tempo e a Música", às quintas, às 21:00 hs.

Ainda em 1949, ele foi convidado por Ary Barroso para inaugurar um novo tipo de narração de futebol: dois locutores, cada um narrando a posse de bola de uma das equipes. Por exemplo: num Flamengo x VascoAry Barroso narraria a bola com o Flamengo e Antônio Maria, a bola com o Vasco. A ideia funcionou bem e foi aplicada na Copa do Mundo de 1950, disputada no Brasil.

A decepção de Antônio MariaAry Barroso com a derrota do Brasil na Copa de 50 foi total. Ary Barroso largou a narração esportiva, só retornou após quase 10 anos, enquanto Antônio Maria continuou, para cumprir seu contrato, embora não sentisse mais nenhum prazer na atividade.

Sendo amigo de Fernando Lobo, Antônio Maria começou logo de cara a frequentar os grandes pontos da boemia carioca, como o Vilariño e o Clube da Chave, onde sempre estavam Ary BarrosoVinícius de Moraes, Sérgio Porto, mais conhecido como Stanislaw Ponte Preta e com quem disputou o amor de várias vedetes, Millôr Fernandes, Rubem Braga, Paulo Mendes Campos, Aracy de AlmeidaDolores Duran

Já assinando uma coluna no O Jornal, Antônio Maria tornou-se, a 20 de janeiro de 1951, o primeiro diretor da primeira emissora de televisão instalada no Brasil, a TV Tupi do Rio de Janeiro. Mas graças ao dinheiro que o governo Getúlio Vargas despejou em troca de apoio político, no final de 1952 a Rádio Mayrink Veiga partiu para o ataque contra a TV Tupi e passou a contratar seus grandes nomes.

Antônio Maria foi um dos primeiros contratados, por 50 mil cruzeiros, o mais alto salário do rádio no Brasil. Logo comprou seu primeiro Cadillac, símbolo de status entre os reis do rádio naquela época.

Vida financeira organizada, foi também a partir de 1951 que ele deu partida à carreira de compositor, compondo "Frevo n° 1 do Recife", gravado pelo Trio de Ouro. E, apesar de ter como atividade principal o jornalismo, foi justamente com a música que ele ganhou fama. Durante 15 anos de trabalho, só ou em parceria com Fernando Lobo, Luíz BonfáVinícius de MoraesIsmael Neto e outros, compôs um total de 63 músicas.

Como cronista, Antônio Maria atuou em vários jornais e revistas, entre os quais Diário Carioca, O Globo, Manchete. Mas foi no Última Hora, segundo Paulo Francis, um dos seus companheiros de noitadas, que ele teve a sua melhor fase. Poético, gozador, Antônio Maria escreveu sobre tudo: mulheres, política, boemia, solidão.

Homem de muitas atividades, Antônio Maria foi também produtor e diretor de shows e programas de televisão. Por conta da boemia, sempre trocava o dia pela noite, mas dava conta de tudo. Teve época em que fazia, simultaneamente, três programas semanais na Rádio Mayrink Veiga, um programa na Rádio Nacional, uma crônica para a revista Manchete, uma para O Globo e seis para o Diário Carioca e, de quebra, ainda arrumava tempo para compor, encher a cara de birita e correr atrás dos rabos de saias.


Na televisão era famoso o programa "Preto no Branco", de Oswaldo Sargentelli, onde sempre aparecia uma "pergunta de Antônio Maria, da produção do programa", geralmente muito embaraçosa. A câmera focalizava em plano fechado o rosto tenso do entrevistado e em seguida ecoava a voz do apresentador, em off:

"Pergunta de Antônio Maria para Alziro Zarur, da Legião da Boa Vontade: Senhor Alziro Zarur,  se Jesus está chamando, porque o senhor não vai logo?".

Um dia perguntou a Sandra Cavalcanti, candidata a deputada:

"Quer dizer, dona Sandra, que a senhora é mal-amada?"

A resposta de Sandra Cavalcanti, dizem os espectadores da cena, assegurou-lhe a eleição.

"Posso até ser, senhor Maria, mas não fui eu que fiz aquela música 'Ninguém Me Ama'"

Nos últimos meses de vida, já doente do coração e um pouco afastado das madrugadas, montou com Ivan Lessa, no Rio de Janeiro, um escritório de produções para TV. Do seu primeiro casamento com a pernambucana Maria Gonçalves Ferreira, teve dois filhos: Maria Rita e Antônio Maria Filho. E, como todo boêmio, amou muitas mulheres, milhares delas.

Segundo José Aparecido, a última grande paixão de Antônio Maria foi Danusa Leão, que ele roubou do proprietário do jornal Última Hora, Samuel Wainer, e por isso foi demitido, passando cinco meses desempregado.

Quando conseguiu um novo emprego, a primeira crônica que Antônio Maria escreveu tinha o título "O Bom Caráter" e começava assim: "Aqueles que dizem que mulher de amigo meu pra mim é homem estão enganados; porque mulher de amigo meu é mulher mesmo."

Quando sofreu o enfarte, Antônio Maria já estava separado de Danusa Leão, que se reconciliaria, em Paris, com Samuel Wainer. E José Aparecido, que seis meses antes havia dividido um apartamento com o cronista, depois contaria:

"Estávamos numa situação muito difícil. Eu, cassado e o Antônio Maria vivendo a sua mais profunda crise sentimental. Foi o único homem que vi morrer de amor."

Mesmo sendo uma pessoa extrovertida e de muitos amigos, e inimigos, Maria, como era chamado por eles, sempre teve a solidão dentro de si. Um exemplo está em sua crônica "Oração", escrita em março de 1954.

Aracy de Almeida foi uma de suas grandes amigas. Sabia tudo sobre Antônio Maria e, mesmo assim, como dizia brincando, continuava a gostar dele. Era desprovido de qualquer cerimônia: uma vez pediu a ela ajuda para colocar um supositório ("Já tentei todas as posições e não consegui nada").

Em outra oportunidade, ele e Vinícius de Moraes tentavam cumprir um compromisso assumido: fazer um jingle para o lançamento de um... regulador feminino. Estavam com inúmeros outros trabalhos e foram pedir ajuda a Aracy de Almeida. Ela, sem pensar muito, tomando emprestada a melodia de "O Orvalho Vem Caindo", de Noel Rosa, atacou de pronto: "O ovário vem caindo...".


Carlos Heitor Cony dizia que se Antônio Maria fosse mandado para cobrir a posse do papa, voltaria cardeal. Certa ocasião, estava em cima da hora de um programa entrar no ar e, enquanto Chico Anysio e todo o elenco aguardavam ansiosos, Antônio Maria datilografava feito louco para terminar o texto a tempo. Nesse instante, entra uma senhora na redação e diz:

"Olhe, eu sou da Campanha Contra o Câncer..."

Preocupado em cumprir sua tarefa, sem levantar os olhos da máquina, Antônio Maria, responde: "Eu sou a favor!"

Antônio Maria costumava ir do Rio de Janeiro a São Paulo, em companhia de Vinícius de Moraes,  para encontrar companheiros de farras. Numa dessas viagens, combinaram o encontro no apartamento de um deles e, quando chegaram ao edifício, notaram um princípio de incêndio. Da portaria, Antônio Maria telefonou: "Olha, desçam logo, mas não avisem a ninguém, porque senão vocês vão ter de dar preferência aos velhos e às crianças."

Por causa de Elis Regina, Ronaldo Bôscoli apelidou Antônio Maria de "Eminência Parda" e "Galak", numa gozação com a pele mulata do rival. Mas talvez não soubesse das suas dimensões: Antônio Maria media 1,85m e pesava 130 kg.

Certa noite, Antônio Maria procurou Ronaldo Bôscoli no Beco das Garrafas, em Copacabana, para brigar. O diretor da gravadora Elenco, Aloysio de Oliveira, amigo dos dois, divertia-se com a cena, mas, quando o conflito parecia inevitável, Aloysio de Oliveira urinou no sapato de Antônio Maria. Este parou de discutir, os três caíram na gargalhada e foram beber juntos.

Conta Sérgio Porto que, certa vez, Antônio Maria recebeu o pedido do diretor da TV Rio, Péricles do Amaral para reescrever um texto humorístico. O programa era horrível, e a emissora mantinha outro redator só para piorar os textos. Ao saber do pedido, Antônio Maria entrou na sala do diretor com cara de mau, jogou seu texto em cima da mesa e disse: "Está aqui minha parte do programa. Eu sinto muito, mas pior do que isso eu não sei fazer."

Em 1990, Paulo Francis escreveu que, na véspera do infarto fulminante, Antônio Maria "detonara muito" com cocaína, porque Vinícius de Moraes lhe dissera que Danuza Leão estava muito feliz na França, podendo ser vista na garupa da moto de um príncipe dinamarquês.

Em 1994, Ronaldo Bôscoli, pouco antes de morrer, também afirmou que Antônio Maria usava cocaína e mostrou que continuava ressentido com o antigo rival, tratando-o por canalhão e babaca em suas memórias, o livro "Eles e Eu". Já o cineasta Paulo César Saraceni, que em 1961 convivera com Antônio Maria porque namorava Nara Leão, irmã de Danuza Leão, escreveu em 1993, no livro "Por Dentro do Cinema Novo":

"Antônio Maria tinha fama de cheirar pó, mas nunca vi, se fazia era um profissional, discretíssimo."


No dia 15 novembro de 1964, Vinícius de Moraes publicou a crônica "Morrer Num Bar", escrita no dia da morte do amigo:

"Aí está, meu Maria... Acabou. Acabou o seu eterno sofrimento e acabou o meu sofrimento por sua causa. Na madrugada de 15 de outubro em que, em frente aos pinheirais destas montanhas queridas, eu me sento à máquina para lhe dar este até-sempre, seu imenso coração, que a vida e a incontinência já haviam uma vez rompido de dentro, como uma flor de sangue, não resistiu mais à sua grande e suicida vocação para morrer. 

Acabou, meu Maria. Você pode descansar em sua terra, sem mais amores e sem mais saudades, despojado do fardo de sua carne e bem aconchegado no seu sono. Acabou o desespero com que você tomava conta de tudo o que amava demais: o crescimento harmonioso de seus filhos, o bem-estar de suas mulheres e a terrível sobrevivência de um poeta que foi o seu melhor personagem e o seu maior amigo. Acabou a sua sede, a sua fome, a sua cólera. Acabou a sua dieta. Aqui, parado em frente a estas montanhas onde, há trinta anos atrás, descobri maravilhado que eu tinha uma voz para o canto mais alto da poesia, e para onde, neste mesmo hoje, você deveria chamar porque (dizia o recado) não aguentava mais de saudades – aprendo, sem galicismo e sem espanto, a sua morte. 

Quando a caseira subiu a alegre ladeirinha que traz ao meu chalé para me chamar ao telefone – eram nove da manhã - eu me vesti rápido dizendo comigo mesmo: 'É o Maria!' E ao descer correndo para a pensão fazia planos: 'Porei o Maria no quarto de solteiro ao lado, de modo a podermos bater grandes papos e rir muito, como gostamos…' E ainda a caminho fiquei pensando: 'Será que Itatiaia não é muito alto para o coração dele?...' Mas você, há uma semana – quando pela primeira e última vez estivemos juntos depois de minha chegada da Europa, numa noitada de alma aberta - me tinha tranquilizado tanto que eu achei melhor não me preocupar. Eu sabia que seu peito ia explodir um dia, meu Maria, pois por mais forte e largo que fosse, a morte era o seu guia.

Outra noite, pelo telefone, ao perguntar eu se você estava cuidando de sua saúde, você me interpelou: 'Você tem medo de morrer, Poesia?' - 'Medo normal, meu Maria', respondi. 'Pois olhe: eu não tenho nenhum' retorquiu você sem qualquer bravata na voz. 'Só queria que não doesse demais, como na primeira crise. Aquela dor, Poesia, desmoraliza.'

Mas como eu descesse - dizia - para atender à sua chamada, e atravessasse o salão da casa-grande, e entrando na cabine ouvisse (como há 14 anos atrás ouvi a voz materna) a voz paternal de meu sogro que me falava, preparando-me: 'Você sabe, Antônio Maria está muito mal...' e eu instantaneamente soubesse... - justo como naquela época soube também, quando a voz materna, em sinistras espirais metálicas, me disse do Rio para Los Angeles: 'Sabe, meu filho, seu pai está muito mal…', o nosso encontro marcado deu-se numa dimensão nova, entre o mundo e a eternidade: eu aqui; você... onde, meu Maria? - onde?

Ah, que dor! Agora correm-me as lágrimas, e eu choro embaçando a vista do teclado onde escrevo estas palavras que nem sei o que querem dizer…

Há uma semana apenas conversamos tanto, não é, meu Maria? Você ainda não conhecia minha mulher, foi tão carinhoso com ela... Tomamos uma garrafa de Five Stars no Château, depois fomos até o Jirau e terminamos no Bossa Nova. Eu ainda disse: 'Você pode estar bebendo e comendo desse jeito?' - 'Por que, Poesia? Não há de ser nada... Qualquer dia eu vou morrer é assim mesmo, num bar...'

Eu só espero que não tenha doído muito, meu Maria. Que tenha sido como eu sempre desejei que fosse: rápido e sem som. Mas é uma pena enorme. Você tinha prometido à minha mulher, a pedido dela, que recomeçaria hoje, nesta quinta-feira do seu recesso, no seu 'Jornal de Antônio Maria' o seu 'Romance dos Pequenos Anúncios', que foi uma de suas melhores invenções jornalísticas e onde eu era personagem cotidiano: você sempre a querer fazer de mim, meu pobre Maria, o herói que eu não sou...

Mas por outro lado, sei lá... Você disse nessa noite, à minha mulher e a mim, que nem podia pensar na ideia de sobreviver às pessoas que mais amava no mundo: sua mãe, seus dois filhos, suas irmãs e este seu poeta. 'E Rubem Braga…', acrescentou você depois, brincando com ternura, 'Eu não queria estar aí para ler quanta besteira se ia escrever sobre o Braguinha...'

Não irei ao seu enterro, meu Maria. Daria tudo para ter estado ao seu lado na hora, para lhe dar a mão e recolher seu último olhar de desespero, de maldição para esta vida a que você nunca negou nada e o fez sofrer tanto. Daqui a pouco o sino da casa-grande tocará para o almoço. Verei minha mulher descer, triste de eu lhe ter dito (porque ela dorme ainda, meu Maria...) e de me deixar assim sozinho, sentado à máquina de escrever, com a sua morte enorme dentro de mim."

Estátua de Antônio Maria, Rua do Bom Jesus, Recife Antigo (Foto: Hugo Acioly)
Morte

Antônio Maria teve problemas cardíacos desde quando era criança. "Cardisplicente", como ele mesmo se descrevia. Foi como boêmio que Antônio Maria morreu, na noite de 15 de outubro de 1964, no Rio de Janeiro, ao entrar no bar Rond Point, perto de sua casa, para trocar um cheque. Ele se sentou a uma mesa e, enquanto esperava o dinheiro, passou mal. Emborcou sobre a mesa e ali mesmo o coração parou. Um Infarto do Miocárdio fulminante.

Fonte: Blog do Simão Pessoa
Indicação: Reginaldo Monte

Anita Malfatti

ANITA CATARINA MALFATTI
(74 anos)
Pintora, Desenhista, Gravurista e Professora

* São Paulo, SP (02/12/1889)
+ São Paulo, SP (06/11/1964) 

Filha do engenheiro italiano Samuel Malfatti e de mãe norte-americana Betty Krug, Anita Malfatti nasceu no ano de 1889, em São Paulo. Segunda filha do casal, nasceu com atrofia no braço e na mão direita. Aos três anos de idade foi levada pelos pais a Lucca, na Itália, na esperança de corrigir o defeito congênito. Os resultados do tratamento médico não foram animadores e Anita Malfatti teve que carregar essa deficiência pelo resto da sua vida. Voltando ao Brasil, teve a sua disposição Miss Browne, uma governanta inglesa, que a ajudou no desenvolvimento do uso da mão esquerda e no aprendizado da arte e da escrita.

Iniciou seus estudos em 1897 no Colégio São José de freiras católicas, situado à Rua da Glória. Aí foi alfabetizada. Posteriormente passou a estudar em escolas protestantes: na Escola Americana e em seguida no Mackenzie College onde, em 1906, recebeu o diploma de normalista.


Surge a Pintora

Nesse meio tempo faleceu Samuel Malfatti, esteio moral e financeiro da família. Sem recursos para o sustento dos filhos, Dona Betty Krug passa a dar aulas particulares de idiomas e também de desenho e pintura. Chegou a submeter-se à orientação do pintor Carlo de Servi para com mais segurança ensinar suas discípulas. Anita Malfatti acompanhava as aulas e nelas tomava parte. Foi portanto sua própria mãe quem lhe ensinou os rudimentos das artes plásticas.

"Eu tinha 13 anos, e sofria porque não sabia que rumo tomar na vida. Nada ainda me revelara o fundo da minha sensibilidade (...) Resolvi, então, me submeter a uma estranha experiência: sofrer a sensação absorvente da morte. Achava que uma forte emoção, que me aproximasse violentamente do perigo, me daria a decifração definitiva da minha personalidade. E veja o que fiz. Nossa casa ficava próxima da estação da Barra Funda. Um dia saí de casa, amarrei fortemente as minhas tranças de menina, deitei-me debaixo dos dormentes e esperei o trem passar por cima de mim. Foi uma coisa horrível, indescritível. O barulho ensurdecedor, a deslocação de ar, a temperatura asfixiante deram-me uma impressão de delírio e de loucura. E eu via cores, cores e cores riscando o espaço, cores que eu desejaria fixar para sempre na retina assombrada. Foi a revelação: voltei decidida a me dedicar à pintura."
(Anita Malfatti)

Anita Malfatti  -  "A Estudante"
Alemanha

Anita Malfatti pretendia estudar em Paris, mas sem a ajuda do pai, parecia impossível, tendo em vista que sua avó vivia entrevada numa cama e sua mãe passava o dia dando aulas de pintura e de idiomas.

Anita Malfatti tinha umas amigas, as irmãs Shalders, que iam viajar à Europa para estudar música. Assim surgiu a ideia de acompanhá-las à Alemanha e seu tio e padrinho, o engenheiro Jorge Krug, aceitou financiar a viagem.

Anita Malfatti e as Shalders chegaram em Berlim em 1910, ano marcante na história da Arte Moderna Alemã.

"Os acontecimentos precipitavam-se tão depressa, que eu me lembro de ter vivido como dentro de um sonho. Nada do que acontecia se assemelhava com o que havia acontecido no Brasil."

"Comprei incontinente uma porção de tintas, e a festa começou."
(Anita Malfatti)

Berlim era então o grande centro musical da Europa. O grupo Die Brucke fazia diversas exposições expressionistas e foi na Alemanha que Anita Malfatti travou contato com a vanguarda europeia. Acompanhando suas amigas às aulas no centro musical, acabou recebendo a sugestão para estudar no ateliê do artista Fritz Burger.

Fritz Burger era um retratista que dominava a técnica impressionista. Foi o primeiro mestre de Anita Malfatti. Ao mesmo tempo, ela prestou os exames para ingressar na Real Academia de Belas Artes o que efetivamente aconteceu no início do ano letivo.

Durante as férias de verão, Anita Malfatti e as amigas foram às montanhas de Harz, em Treseburg, região frequentada por pintores. Continuando sua viagem, visitou a 4° Sonderbund, uma exposição que aconteceu em Colônia na Alemanha, na qual conheceu trabalhos de pintores modernos, incluindo-se o até hoje tão admirado Van Gogh.

Teve aulas também com Lovis Corinth nome bem mais conhecido do que seu primeiro mestre. Lovis Corinth, um tipo bem germânico, não tinha a menor paciência com seus alunos. Mas com Anita Malfatti era diferente. Talvez porque se identificasse com ela. Alguns anos antes sofrera um AVC que, como sequela, tal como a aluna, lhe deixara alguma dificuldade motora na mão direita.

Anita Malfatti estava cada vez mais interessada pela pintura expressionista, desejava aprender sua técnica. Em 1913, iniciou aulas com o professor Ernest Bischoff Culm da mesma escola de Lovis Corinth.

Com a instabilidade causada pela aproximação da guerra, Anita Malfatti resolveu deixar Berlim, antes passando por Paris.

Anita Malfatti  -  "A Boba"
1914 - Primeira Exposição Individual

"Voltando ao Brasil, só me perguntavam pela Mona Lisa, pela glória da Renascença, e eu… nada."

"Minha família e meus amigos, eram de opinião de que eu deveria continuar meus estudos de pintura. Achavam meus quadros muito crus, mas, felizmente, muito fortes, o que prometia para o futuro uma pintura suave, quando a técnica melhorasse."
(Anita Malfatti)

São Paulo, 1914, Anita Malfatti tinha 24 anos e, com mais de quatro anos de estudo na Europa, finalmente voltava para o seio familiar. A cidade crescia, mas o ambiente artístico ainda era incipiente, o gosto predominante ainda era pela arte acadêmica. Ao mostrar suas obras - nada acadêmicas - Anita Malfatti tentava explicar os avanços da arte na Europa, onde os jovens haviam levado às últimas consequências as conquistas vindas do impressionismo.

Anita Malfatti ainda continuava firme no desejo de partir mais uma vez em viagem de estudos. Sem condições financeiras, tentou pleitear uma bolsa junto ao Pensionato Artístico do Estado de São Paulo. Por essa razão, montou no dia 23 de maio de 1914, uma exposição com obras de sua autoria, exposição essa que ficou aberta até meados de junho.

O senador José de Freitas Valle foi visitar essa exposição. Dependia dele a concessão da bolsa. Mas o influente político não gostou das obras de Anita Malfatti, chegando a criticá-las publicamente. Entretanto, independentemente da opinião do senador, a bolsa não seria concedida. Notícias do iminente início da guerra na Europa, fizeram com que o Pensionato as cancelasse. Foi aí que, mais uma vez, financiada pelo tio, o engenheiro e arquiteto Jorge Krug, Anita Malfatti embarcou para os Estados Unidos.

Anita Malfatti  -  "O Farol"
Estados Unidos

"Aí começa o período maravilhoso de minha vida. Entrei na Independent School of Art de Homer Boss, quase mais filósofo que professor. (…) O maior progresso que fiz na minha vida foi nesta ilha e nesta época de ambientes muito especiais. Eu vivia encantada com a vida e com a pintura."

" Era a poesia plástica da vida, era festa da forma e era a festa da cor."
(Anita Malfatti)

No início de 1915, Anita Malfatti já se encontrava em Nova York e matriculada na tradicional Art Student's League. Nessa escola, Anita Malfatti ia de um professor a outro na tentativa de encontrar o caminho que sonhava para seus trabalhos. Após três meses de estudos, desistiu de qualquer curso de pintura ou desenho nessa instituição por demais conservadora, reservando-a apenas para os estudos de gravura. Trazendo em sua pintura a marcas do expressionismo, dificilmente Anita Malfatti conseguiria adaptar-se a uma academia de ensino tradicional. Sobre sua experiência na instituição, escreveria de forma lacônica, mas muito claramente:

"Fui aos Estados Unidos, entrei numa academia para continuar meus estudos, e que desilusão! O professor foi ficando com raiva de mim, e eu dele, até que um dia, a luz brilhou de novo. Uma colega me contou na surdina que havia um professor moderno, um grande filósofo, incompreendido e que deixava os alunos pintar à vontade. Na mesma tarde procuramos e professor, claro."

O tal professor da Independent School Of Art, era Homer Boss, artista hoje quase esquecido pelos estudiosos da arte norte-americana.

Nas férias de verão, Homer Boss levou os alunos para pintar na costa do Maine, na ilha de Monhegan. Esse estado litorâneo mais ao nordeste, fronteira com o Canadá, tornara-se há muito o refúgio dos artistas. Foi nessa pitoresca ilha que a ainda não famosa aluna de Homer Boss pintou, entre outras, a belíssima paisagem intitulada "O Farol", uma de suas obras primas. Passado o verão, Anita voltou à Independent School of Art. Em meados de 1916, preparava-se para voltar ao Brasil.

Anita Malfatti  -  "A Ventania"
De Volta ao Brasil

Em 1916, Anita Malfatti se encontrava de novo em casa, no aconchego familiar.

"Eram caixões de obras de arte, desenhos, gravuras e quadros de todos os tamanhos. Minha família e meus amigos estavam curiosos para ver meus trabalhos. Mas que efeito!"
(Anita Malfatti)

Nada daquilo que Anita Malfatti trazia dos Estados Unidos, se assemelhava à "pintura suave", nada daquilo esperado e imaginado por seus amigos e parentes. Sua força masculina, que causara estranheza na sua primeira individual em 1914, atingira o ponto máximo de exagero. Anita Malfatti inconscientemente, "rompera" com as regras da pintura acadêmica tão apreciada por seus parentes. A surpresa e a incompreensão foram inevitáveis. As obras que a pintora trouxe dos Estados Unidos, deixaram em sua família uma sensação tão grotesca, que o mal estar durou por anos. É fato que o assunto tornou-se "tabu" entre os membros da família e Anita Malfatti diria depois laconicamente:

"Quando viram minhas telas, todos acharam-nas feias, dantescas, e todos ficaram tristes, não eram os santinhos dos colégios. Guardei as telas."

Depois, seria mais específica, dizendo:

"Ficaram desapontados e tristes. Meu tio, Dr. Jorge Krug, que tanto interesse teve na minha educação, ficou muito aborrecido. Disse ele: 'Isto não é pintura, são coisas dantescas'"

A expressão "coisas dantescas", ficaria para sempre gravada na mente e no coração de Anita Malfatti. A incompreensão foi geral. Ela logo se deu conta do quanto suas telas, que traduziam sua alma, estavam distantes das do ambiente acadêmico que a rodeava. No mesmo depoimento de 1951, a pintora lembraria:

"Então, pela primeira vez em minha vida, comecei a entristecer-me pois estava certa de que meu trabalho era bom; tanto os modernos franceses como os americanos haviam dito espontaneamente, desinteressadamente. Só desejei esconder meus quadros, já que, para me consolar, ou outros acharam que eu podia pintar como quisesse. Eles estavam desconsolados, porque me queriam bem. Entretanto eu sabia que aquela crítica não tinha fundamento, especialmente porque estava dentro de um regime completamente emocional. Eu nunca havia imitado a ninguém; só esperava com alegria que surgisse, dentro da forma e da cor aparente a mudança; eu pintava num diapasão diferente e era essa música da cor que me confortava e enriquecia minha vida."
(Anita Malfatti)

Anita Malfatti  -  "A Onda"
1917 - Segunda Exposição Individual

Em 1917 Anita Malfatti resolveu promover sua segunda exposição individual.

"A exposição da senhorita Malfatti, toda ela de pintura moderna, apresenta um aspecto original e bizarro, desde a disposição dos quadros aos motivos tratados em cada um deles. De uma rápida visita ao catálogo, o visitante há de inteirar-se logo do artista que vai observar. Tropical e Sinfonia colorida, são nomes que qualquer pintor daria até a uma paisagem, menos a uma figura, como tão bem fez a visão impressionista de sua autora. Essencialmente moderna, a arte da senhorita Malfatti, se distancia consideravelmente dos métodos clássicos. A figura ressalta, do fundo do quadro, como se nos apresentasse, em cada traço, quase violento, uma aresta do caráter do retratado. A paisagem é larga, iluminada, quase sempre tocada de uma luz crua, meridiana, que põe em relevo as paredes alvas, num embaralhamento de vilas sertanejas, onde a minudência se afasta para a mais forte impressão do conjunto."

Os acontecimentos a partir da primeira semana se deram de forma tão rápida e surpreendente, que Anita Malfatti só se atreveria a narrá-los 34 anos depois:

"A princípio foram os meus quadros muito bem aceitos, e vendi, nos primeiros dias, oito quadros. Em geral depois da primeira surpresa, acharam minha pintura perfeitamente normal. Qual não foi a minha surpresa quando apareceu o artigo crítico de Monteiro Lobato."
(Anita Malfatti)

"Há duas espécies de artistas. Uma composta dos que veem normalmente as coisas e em consequência disso fazem arte pura… Se Anita retrata uma senhora com cabelos geometricamente verdes e amarelos, ela se deixou influenciar pela extravagância de Picasso e companhia - a tal chamada arte moderna."
(Monteiro Lobato)

Após a crítica de Monteiro Lobato, publicada em O Estado de São Paulo, edição da tarde, em 20 de dezembro de 1917, com o título de "A Propósito da Exposição Malfatti", as telas vendidas foram devolvidas, algumas quase foram destruídas a bengaladas; o artigo gerou uma verdadeira catilinária em artigos de jornais, contra Anita Malfatti. A primeira voz que se levantou em defesa da pintora, ainda que timidamente, foi a de Oswald de Andrade.

Num artigo de jornal, ele elogiou o talento de Anita Malfatti e parabenizou pelo simples fato dela não ter feito cópias. Pouco depois, jovens artistas e escritores, começando a entender aquele jeito de pintar e possuídos pelo desejo de mudança que as obras de Anita Malfatti suscitaram, uniram-se a ela, como: Mário de Andrade, Oswald de Andrade, Menotti Del Picchia e Guilherme de Almeida.

Anita Malfatti iniciou estudos com o pintor acadêmico Pedro Alexandrino no ano de 1919, e também com o alemão George Fischer Elpons um pouco mais avançado do que o velho mestre das naturezas mortas. Foi nessa ocasião que conheceu Tarsila do Amaral que tinha aulas com os mesmos professores.

Depois do pai, o tio Jorge Krug, que a havia ajudado tanto, também faleceu e Anita Malfatti precisou buscar caminhos para vender suas obras. Pedro Alexandrino já era um pintor de renome e vendia com muita facilidade seus trabalhos. Anita Malfatti buscou essa aproximação sendo sua aluna, embora muitas interpretações apontem para a versão de que ela o procurou para reestruturar sua pintura.

Seus biógrafos acreditam que o artigo de   Monteiro Lobato foi agressivo e até maldoso e que deixou marcas profundas na vida e na obra da artista. Mas, essa versão é contestada por alguns poucos, pois ao ler na íntegra a crítica de Monteiro Lobato, verificamos que o título original nunca foi "Paranoia ou Mistificação" e sim, "A Propósito da Exposição Malfatti", e em muitos trechos Anita Malfatti é elogiada pelo crítico. Mas o certo é que ela ficou arrasada com a crítica de Monteiro Lobato. Ficou magoada pelo resto da vida, mas não o suficiente para destruir sua força de mulher destemida e ousada.

Apesar da mágoa, Anita Malfatti ilustrou livros de Monteiro Lobato e na década de 40 participou de um programa na Rádio Cultura chamado "Desafiando os Catedráticos", juntamente com Menotti Del Picchia e Monteiro Lobato. Os ouvintes telefonavam fazendo perguntas para que o trio respondesse.


A Semana de Arte Moderna de 1922

Após a enorme confusão causada por Monteiro Lobato, a vida de Anita Malfatti começou a ter certa normalidade. O tempo que se seguiu após a exposição, foi de assimilação do novo, da percepção daquilo que até então não fora nem sonhado.

"Parece absurdo, mas aqueles quadros foram a revelação. E ilhados na enchente que tomara conta da cidade, nós, três ou quatro, delirávamos de êxtase diante de obras que se chamavam O homem amarelo, A mulher de cabelos verdes."

"Assisti bem de perto essa luta sagrada e palavra que considero a vida artística de Anita Malfatti um desses dramas pesados que o isolamento dos indivíduos apaga para sempre feito segredo mortal. O povo passa, povo olha o quadro e tudo neste mostra vontade e calma bem definidas. O povo segue seu caminho depois de ter aplaudido a obra boa sem saber que poder de miserinhas cotidianas maiores que o Pão de Açúcar aquela artista bebeu diariamente com o café da manhã."
(Mário de Andrade)

Após o período de recesso, a Semana de Arte Moderna, mais uma vez, movimentou a vida artística insípida de São Paulo. Anita Malfatti participou dela com 22 trabalhos.

"Recordo-me que no dia da inauguração, o velho conselheiro Antônio Prado, com grande espanto da comitiva, quis comprar meu quadro 'O Homem Amarelo', porém, Mário de Andrade acabava de adquiri-lo. A plantinha havia vingado."

"Foi a noitada das surpresas. O povo estava muito inquieto, mas não houve vaias. O teatro completamente cheio. Os ânimos estavam fermentando; o ambiente eletrizante, pois que não sabiam como nos enfrentar. Era o prenúncio da tempestade que arrebentaria na segunda noitada"

Anita Malfatti estava feliz entre o círculo modernista, uma vez que ele vinha ao encontro de suas aspirações artísticas, entraria também para o comentado grupo dos cinco.

Anita Malfatti  -  "A Estudante Russa"
A Europa nos Loucos Anos 20

"Mário de Andrade lia uma conferência. Ao terminar a leitura, o Drº Freitas Valle num grande gesto levantou-se de seu trono e encaminhou-se para mim, o que me assustou de tal maneira que perdi o controle… Ele realmente chegou-se para junto de mim e disse mesmo de verdade que eu poderia embarcar para a Europa em viagem de estudos… - qualquer coisa me aconteceu, não sei se voei pelo telhado ou se afundei no chão… então surgiu uma dama, eu não a conhecia, que me reconfortou e rindo-se muito da minha confusão, afirmava ser aquilo verdade… Era Dona Olívia…"

Dessa forma, Anita Malfatti embarcava mais uma vez, em viagem de estudos para a Europa, ou melhor dizendo, para Paris. Seriam cinco anos de estudos pela bolsa do Pensionato. Este seria o último e o mais longo período de Anita Malfatti fora do Brasil.

Em agosto de 1923, embarcando pelo vapor Mosella rumo à França, aquela jovem baixa, com o lenço displicentemente esquecido sobre a mão direita, tinha então 33 anos. Mário de Andrade que não conseguiu chegar a tempo da partida de Anita Malfatti, enviara-lhe o seguinte telegrama:

"Querida amiga choro de raiva automóvel maldito escrevo hoje contando minha saudade e desespero perdoa mil beijos nas tuas mãos divinas boa viagem felicidades. Mário. São Paulo-21-8-1923."

A guerra que perdurara por anos, pôs um ponto final aos hábitos e costumes da belle époque. Foi fatal também para o academismo. Agora seus antigos espaços eram ocupados pela arte moderna, que com grande vitória e sucesso se espalhara por todos os cantos e continuava em expansão acelerada nos salões, galerias e coleções. Há muito tempo, Paris atraia os artistas brasileiros - que eram e continuavam acadêmicos - mas agora, nesse 1923, o modernismo brasileiro estava em Paris, atualizando-se.

E Anita Malfatti estava lá, na tentativa incansável de encontrar-se. Apesar das muitas dúvidas que ainda tinha em relação a que caminho seguir na sua arte, Anita Malfatti não deixou de trabalhar, de produzir. Logo no início do estágio francês, ela parece ter se "aconselhado" com o pintor Maurice Denis, possivelmente atraída pelos aspectos da pintura religiosa.

Nesse último estágio, uma das características mais fortes de Anita Malfatti, era a busca por uma postura menos polêmica, em comparação com a época norte-americana. A impressão que se tem, é de que ela procurava por uma espécie de classicismo moderno. Na Escola de Paris, no pós-guerra, muitos pintores das mais diversas origens, passavam pela experiência da releitura da arte de séculos passados, como Picasso, por exemplo. Nessa fase, que pode-se dizer, "um aprender de novo", Anita Malfatti testou várias possibilidades, e frequentemente produzia obras interessantes. Estudou muito, aprendeu muito, mas perdeu um pouco da sua audácia, com aquela urgência constante de "se contar" à tela, agora se continha, obedecendo as ordens formais da pintura.

Nesses cinco anos, a crítica francesa notaria o trabalho da pioneira, algumas telas como "Interior de Mônaco", "A Dama de Azul", "Interior de Igreja" e "A mulher do Pará", seriam as obras mais destacadas pela crítica internacional nesses anos de estudo e apresentação. A crítica francesa seria unânime também nos elogios feitos aos desenhos:

"Sua personalidade única torna impossível toda tentativa de apadrinhamento, mesmo suntuoso. Quanto aos desenhos de nus, de uma fatura tão pessoal, tão nítida, poucos artistas de escola moderna podem apresentá-los tão notáveis. A crítica foi unânime a este respeito."

As telas interiores-exteriores, ocupados por uma figura feminina, e as exteriores-interiores, também com figuras femininas, seriam a produção mais válida e permanente de Anita Malfatti do estágio francês, com suas "mulheres" solitárias, reclinadas ao balcão. Assim, Anita Malfatti entremostrava sua solidão.


Brasil 1928

No final de setembro de 1928, Anita Malfatti já se encontrava no Brasil.

"A ilustre artista mudou muito a arte dela (...) Também (...) vem encontrar os companheiros antigos bastante modificados e reforçados. Terá agora mais facilidade em ser compreendida e estimada no seu valor."
(Mário de Andrade)

O ambiente artístico, encontrado por Anita Malfatti na volta, era bem diferente do que deixara em 1923. O grupo inicial evoluíra muito, surgiam novos adeptos e novos movimentos. O número de artistas plásticos também crescera. Na chegada, Mário de Andrade - o maior e melhor amigo de Anita Malfatti - noticiou imediatamente sua chegada, relembrando quem ela era:

"O nome de Anita Malfatti já está definitivamente ligado à história das artes brasileiras pelo papel que a pintora representou no início do movimento renovador contemporâneo. Dotada duma inteligência cultivada e duma sensibilidade vasta, ela foi a primeira entre nós a sentir a precisão de buscar os caminhos mais contemporâneos de expressão artística, de que vivíamos totalmente divorciados, banzando num tradicionalismo acadêmico que já não correspondia mais a nenhuma realidade brasileira nem internacional."

Em 1929 abria em São Paulo, sua quarta individual. Depois de fechar sua exposição, até 1932, Anita Malfatti dedicou-se ao ensino escolar. Retomou suas aulas na Escola Normal Americana e foi trabalhar também na Escola Normal do Mackenzie College.

Podemos dividir as fases artísticas de Anita Malfatti em três:

  • A primeira seria quando define sua forma expressionista de pintar;
  • A segunda seria a das dúvidas de que caminho seguir na arte
  • Dos 20, 30 e início dos anos 40, quando depois da morte de Mário de Andrade e de sua mãe, Dona Betty, seria transformada numa terceira Anita Malfatti, e recolhida na sua chácara em Diadema. Iria finalmente, em paz consigo mesma "pintar à vontade", "à seu modo". A individual de 1945, prova essa unidade na pintura de Anita Malfatti. A artista estava decidida em seu caminho de paz, na sua reclusão.

"É verdade que eu já não pinto o que pintava há 30 anos. Hoje, faço pura e simplesmente arte popular brasileira. É preciso não confundir:arte popular com folclore… eu pinto aspectos da vida brasileira, aspectos da vida do povo. Procuro retratar os seus costumes, os seus usos, o seu ambiente. Procuro transportá-los vivos para as minhas telas. Interpretar a alma popular (...) eu não pinto nem folclore, nem faço primitivismo. Faço arte popular brasileira."

Em 1964, na cidade de São Paulo, Anita Malfatti morreu, mas deixou um precioso legado para a arte brasileira introduzindo um novo estilo de pintar que, rejeitado a princípio, foi aos poucos adotado por toda uma geração de artistas. Marco divisório entre o antigo e o novo, a obra de Anita Malfatti constitui uma inestimável contribuição para a cultura brasileira.

Anita Malfatti  -  "A Mulher de Cabelos Verdes"
Representações da Artista em Outras Mídias

  • Na minissérie "Um Só Coração" (2004), de Maria Adelaide Amaral na Rede Globo, Anita Malfatti, foi representada pela atriz Betty Gofman.
  • "Anita Malfatti" - documentário - Premio Estímulo de Curta-metragem da Secretaria de Cultura do Estado de São Paulo em 2001 - de Luzia Portinari Greggio.
  • Ilustrou o livro "Cafundó da Infância", de Carlos Lébeis em 1936

Fonte: Wikipédia

Cecília Meireles

CECÍLIA BENEVIDES DE CARVALHO MEIRELES
(63 anos)
Poetisa, Pintora, Professora e Jornalista

* Rio de Janeiro, RJ (07/11/1901)
+ Rio de Janeiro, RJ (09/11/1964)

Cecília Meireles é considerada uma das vozes líricas mais importantes das literaturas de língua portuguesa.

Filha de Carlos Alberto de Carvalho Meireles, funcionário do Banco do Brasil S.A., e de Dona Matilde Benevides Meireles, professora municipal, Cecília Benevides de Carvalho Meireles nasceu em 7 de novembro de 1901, na Tijuca, Rio de Janeiro. Foi a única sobrevivente dos quatros filhos do casal. O pai faleceu três meses antes do seu nascimento, e sua mãe quando ainda não tinha três anos. Criou-a, a partir de então, sua avó Dona Jacinta Garcia Benevides. Escreveria mais tarde:

"Nasci aqui mesmo no Rio de Janeiro, três meses depois da morte de meu pai, e perdi minha mãe antes dos três anos. Essas e outras mortes ocorridas na família acarretaram muitos contratempos materiais, mas, ao mesmo tempo, me deram, desde pequenina, uma tal intimidade com a Morte que docemente aprendi essas relações entre o Efêmero e o Eterno.

(...) Em toda a vida, nunca me esforcei por ganhar nem me espantei por perder. A noção ou o sentimento da transitoriedade de tudo é o fundamento mesmo da minha personalidade.

(...) Minha infância de menina sozinha deu-me duas coisas que parecem negativas, e foram sempre positivas para mim: silêncio e solidão. Essa foi sempre a área de minha vida. Área mágica, onde os caleidoscópios inventaram fabulosos mundos geométricos, onde os relógios revelaram o segredo do seu mecanismo, e as bonecas o jogo do seu olhar. Mais tarde foi nessa área que os livros se abriram, e deixaram sair suas realidades e seus sonhos, em combinação tão harmoniosa que até hoje não compreendo como se possa estabelecer uma separação entre esses dois tempos de vida, unidos como os fios de um pano."

Concluiu seus primeiros estudos - curso primário - em 1910, na Escola Estácio de Sá, ocasião em que recebeu de Olavo Bilac, Inspetor Escolar do Rio de Janeiro, medalha de ouro por ter feito todo o curso com "distinção e louvor". Diplomando-se no Curso Normal do Instituto de Educação do Rio de Janeiro, em 1917, passa a exercer o magistério primário em escolas oficiais do antigo Distrito Federal.

Dois anos depois, em 1919, publicou seu primeiro livro de poesias,
Espectros. Seguiram-se "Nunca Mais..." e "Poema dos Poemas" (1923) e "Baladas Para El-Rei" (1925).

Casou-se, em 1922, com o pintor português Fernando Correia Dias, com quem teve três filhas:  Maria Elvira, Maria Mathilde e
Maria Fernanda, esta última artista teatral consagrada. Suas filhas lhe dão cinco netos. Publicou, em Lisboa, Portugal, o ensaio O Espírito Vitorioso, uma apologia do Simbolismo. Seu marido, Fernando Correia Dias comete suicídio em 1935. Cecília Meireles casa-se, em 1940,  com o professor e engenheiro agrônomo Heitor Vinícius da Silveira Grilo.

De 1930 a 1931, mantém no Diário de Notícias uma página diária sobre problemas de educação.

Em 1934, organizou a primeira biblioteca infantil do Rio de Janeiro, ao dirigir o Centro Infantil, que funcionou durante quatro anos no antigo Pavilhão Mourisco, no bairro de Botafogo. Proferiu, em Lisboa e Coimbra, Portugal, conferências sobre Literatura Brasileira.

De 1935 a 1938, lecionou Literatura Luso-Brasileira e de Técnica e Crítica Literária, na
Universidade do Distrito Federal, hoje UFRJ. Publicou, em Lisboa, Portugal, o ensaio "Batuque, Samba e Macumba", com ilustrações de sua autoria.

Colaborou ainda ativamente, de 1936 a 1938, no jornal A Manhã e na revista Observador Econômico.

A concessão do Prêmio de Poesia Olavo Bilac, pela
Academia Brasileira de Letras, ao seu livro "Viagem", em 1939, resultou de animados debates, que tornaram manifesta a alta qualidade de sua poesia.

Publicou, em 1939 e 1940, em Lisboa, Portugal, em capítulos, "Olhinhos de Gato" na revista Ocidente. Em 1940, lecionou Literatura e Cultura Brasileira na Universidade do Texas (USA).

Em 1942, tornou-se sócia honorária do
Real Gabinete Português de Leitura, no Rio de Janeiro.

Aposentou-se em 1951 como diretora de escola, porém continuou a trabalhar, como produtora e redatora de programas culturais, na
Rádio Ministério da Educação, no Rio de Janeiro.

Em 1952, tornou-se Oficial da Ordem de Mérito do Chile, honraria concedida pelo país vizinho. Realizou numerosas viagens aos Estados Unidos, à Europa, à Ásia e à África, fazendo conferências, em diferentes países, sobre Literatura, Educação e Folclore, em cujos estudos se especializou.

Tornou-se sócia honorária do
Instituto Vasco da Gama, em Goa, Índia, em 1953. Em Délhi, Índia, no ano de 1953, foi agraciada com  o título de Doutora Honoris Causa da Universidade de Délhi.

Recebeu o Prêmio de Tradução / Teatro, concedido pela
Associação Paulista de Críticos de Arte, em 1962. No ano seguinte, ganhou o Prêmio Jabuti de Tradução de Obra Literária, pelo livro "Poemas de Israel", concedido pela Câmara Brasileira do Livro.

Seu nome foi dado à Escola Municipal de Primeiro Grau, no bairro de Cangaíba, São Paulo, em 1963.

Faleceu no Rio de Janeiro a 9 de novembro de 1964, sendo-lhe prestadas grandes homenagens públicas. Seu corpo foi velado no Ministério da Educação e Cultura. Recebeu, ainda em 1964, o Prêmio Jabuti de Poesia, pelo livro "Solombra", concedido pela Câmara Brasileira do Livro. Ainda em 1964, foi inaugurada a Biblioteca Cecília Meireles em Valparaiso, Chile.

Em 1965,  foi agraciada com o
Prêmio Machado de Assis, pelo conjunto de sua obra, concedido pela Academia Brasileira de Letras. O Governo do então Estado da Guanabara denominou Sala Cecília Meireles o grande salão de concertos e conferências do Largo da Lapa, na cidade do Rio de Janeiro. Em São Paulo, tornou-se nome de rua no Jardim Japão.

Em 1974, seu nome foi dado a uma Escola Municipal de Educação Infantil, no Jardim Nove de Julho, bairro de São Mateus, em São Paulo. Uma cédula de cem cruzados novos, com a efígie de Cecília Meireles, foi lançada pelo
Banco Central do Brasil, no Rio de Janeiro, em 1989. Em 1991, o nome da escritora foi dado à Biblioteca Infanto-Juvenil no bairro Alto da Lapa, em São Paulo.

O governo federal, por decreto, instituiu o ano de 2001 como "O Ano da Literatura Brasileira", em comemoração ao sesquicentenário de nascimento do escritor
Sílvio Romero e ao centenário de nascimento de Cecília Meireles, Murilo Mendes e José Lins do Rego.

Há uma rua com o seu nome em São Domingos de Benfica, uma freguesia da cidade de Lisboa. Na cidade de Ponta Delgada, capital do arquipélago dos Açores, há uma avenida com o nome da escritora, que era neta de açorianos.

Traduziu peças teatrais de
Federico Garcia Lorca, Rabindranath Tagore, Rainer Rilke e Virginia Wolf.

Sua poesia, traduzida para o espanhol, francês, italiano, inglês, alemão, húngaro, hindu e urdu, e musicada por Alceu Bocchino,
Luiz Cosme, Letícia Figueiredo, Ênio Freitas, Camargo Guarnieri, Francisco Mingnone, Lamartine Babo, Bacharat, Norman Frazer, Ernest Widma e Fagner, foi assim julgada pelo crítico Paulo Rónai:

"Considero o lirismo de Cecília Meireles o mais elevado da moderna poesia de língua portuguesa.  Nenhum outro poeta iguala o seu desprendimento, a sua fluidez, o seu poder transfigurador, a sua simplicidade e seu preciosismo, porque Cecília, só ela, se acerca da nossa poesia primitiva e do nosso lirismo espontâneo... A poesia de Cecília Meireles é uma das mais puras, belas e válidas manifestações da literatura contemporânea."
 

Fonte:  Releituras