Mostrando postagens com marcador 1997. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador 1997. Mostrar todas as postagens

Castor de Andrade

CASTOR GONÇALVES DE ANDRADE E SILVA
(71 anos)
Banqueiro do Jogo do Bicho e Empresário

☼ Rio de Janeiro, RJ (12/02/1926)
┼ Rio de Janeiro, RJ (11/04/1997)

Castor Gonçalves de Andrade e Silva, mais conhecido por Castor de Andrade, foi o mais famoso e poderoso bicheiro do Brasil.

Seu pai, Eusébio de Andrade, fez fortuna explorando o jogo do bicho, e Castor teve uma infância despreocupada. Estudou no tradicional Colégio Pedro II, mas era um aluno relapso, que matava aulas para nadar na praia do Flamengo. Isso não o impediu de se formar em Direito.

Castor herdou a banca de bicho de seu pai e a transformou num império. Era considerado um bicheiro romântico, que não permitia que outros negócios escusos, como o tráfico de drogas, fossem explorados juntamente ao jogo.

Membro da terceira geração de uma família ligada ao jogo do bicho, Castor de Andrade tornou-se o chefão da contravenção no Rio de Janeiro e, no auge do poder, expandiu seu império, muitas vezes a bala, chegando a bancar o jogo em outros Estados, inclusive no Nordeste. Na Bahia, a entrada dos bicheiros provocou uma guerra com os chefões locais, resultando em dezenas de mortes em Salvador.

A origem da dinastia é matriarcal: Sua avó, Dona Eurides, era bicheira no início do século XX. Seu pai, Eusébio de Andrade, o Zizinho, bancava o jogo em Bangu, bairro proletário da Zona Oeste do Rio de Janeiro, onde a família se instalou num tempo em que esse tipo de aposta era quase uma brincadeira inocente, antes de se transformar numa organização criminosa sob suspeita de manipular resultados para roubar apostadores e de ter ligação com tráfico, sequestros e assassinatos, incluindo uma macabra aliança com a linha-dura nos porões da Ditadura Militar.


Nos anos 70, formada a cúpula da contravenção, com o fim das guerras entre os banqueiros do bicho do Rio de Janeiro, reinava uma aparente calma no submundo da jogatina. Em 1976, porém, um velho banqueiro da Tijuca, Euclides Ponar, o China Cabeça Branca, deu uma entrevista-bomba à imprensa, denunciando que os chefes haviam decidido fraudar os resultados, para aumentar seus lucros, evitando assim pagar apostas altas que fossem premiadas. O esquema, que mais tarde teria passado a ser feito com o auxílio de computadores, era relativamente simples: Os números mais apostados nunca seriam sorteados. A denúncia de China custou-lhe a vida, ele apareceu morto com um tiro de pistola.

Sob o comando de Castor de Andrade, a cúpula do jogo enfrentou outras crises, como a intromissão do ex-policial Mariel Mariscot, que queria entrar no negócio. Sua pretensão foi eliminada com uma rajada de balas, em 08/10/1981, no Centro do Rio de Janeiro, sendo Mariel Mariscot morto em frente a uma das fortalezas do banqueiro Raul Capitão, pai de Marcos Aurélio Corrêa de Mello, o Marquinhos, que era sócio do ex-policial. Sete anos depois, em maio de 1988, Marquinhos foi metralhado, apesar de seu pai ser membro da chefia.

Após a promulgação o AI-5 no regime militar, Castor de Andrade cumpriu pena na Ilha Grande, em 1969, por enriquecimento ilícito. Do pai, Castor de Andrade herdou ainda uma frase, com a qual pavimentou seu caminho, na relação com policiais, políticos, jornalistas e membros do Poder Judiciário: "Onde existe o homem sempre pode haver corrupção!".

A prova maior de que ele seguiu a frase à risca veio em abril de 1994, quando o Ministério Público estourou uma fortaleza de Castor de Andrade em Bangu, apreendendo disquetes de computador e livros-caixa com a contabilidade da contravenção. Estavam lá, na folha de pagamentos do bicho, policiais, juízes, jornalistas, advogados, deputados e até artistas. A maioria desmentiu o recebimento de propinas e ninguém foi condenado.

Castor de Andrade em seu dia-a-dia acompanhado de seu guarda-costas "Anjo Negro", ex-pugilista.
Anos depois, acusado de assassinatos, contrabando, formação de quadrilha e tráfico de drogas, o bicheiro foi condenado por formação de quadrilha, juntamente com os demais membros da cúpula, numa sentença da juíza Denise Frossard. Os bicheiros foram para a cadeia, mas Castor de Andrade tornou-se foragido. Castor de Andrade foi reconhecido e capturado em 26/10/1994, quando visitava o Salão do Automóvel, em São Paulo, disfarçado com um bigode postiço e uma peruca preta. Ao ser preso em outubro de 1994, após 203 dias, Castor de Andrade comentou: "Estava escrito".

Recolhido à carceragem da Polinter, fez ali uma verdadeira revolução. As celas se tornaram suítes de luxo, com ar-condicionado, lavadora de roupa, frigobar, televisão e videocassete. As festas na prisão eram constantes e movidas à champanhe e caviar. Além de comprar mordomias, o contraventor financiou a reforma das instalações e o conserto de carros de polícia. Por problemas cardíacos, obteve da Justiça o direito de cumprir sua pena em prisão domiciliar, em seu luxuoso apartamento na Avenida Atlântica. Mas saía às ruas com freqüência, sem ser incomodado.

Ídolo do subúrbio para alguns, tinha sua fachada de respeitabilidade: Castor de Andrade era bacharel em Direito, dono de uma metalúrgica, de postos de gasolina e casas comerciais. Herdou a liderança no Bangu de seu pai, Zizinho, e sempre lamentou não ter sido bom jogador. Usava no futebol os mesmos recursos que fizeram-no capo di tutti capi: Comprava.

O Rei de Bangu era um benfeitor da comunidade: Ajudava com distribuição de leite, serviços médicos, auxílio-funeral e aos paraplégicos.

Futebol e Carnaval

Castor de Andrade foi presidente de honra e grande financiador do Bangu Atlético Clube, sendo o grande responsável pela conquista do título de campeão carioca de futebol de 1966, quando seu pai, Euzébio Gonçalves de Andrade e Silva presidia o clube, e pelo vice-campeonato brasileiro de 1985, quando perdeu o campeonato para o Coritiba, que foi o campeão brasileiro após histórica decisão por pênaltis no Maracanã.

Castor de Andrade foi também patrono da Mocidade Independente de Padre Miguel, escola de samba à qual ajudou a conquistar os títulos dos carnavais de 1979, 1985, 1990, 1991 e 1996. Mas sua participação no Carnaval não se limitava a esta escola de samba. Durante décadas colocou dinheiro na organização dos desfiles, numa época em que os demais contraventores não ousavam aparecer.

Deve-se ainda a Castor de Andrade a fundação da Liga Independente das Escolas de Samba do Rio de Janeiro, que surgiu de uma dissidência da Associação das Escolas de Samba da Cidade do Rio de Janeiro.

Sob a liderança de Castor de Andrade e de Capitão Guimarães, dez escolas de samba, financiadas por bicheiros, que eram minoria e sempre derrotadas nas deliberações da Associação, criaram a Liga Independente das Escolas de Samba do Rio de Janeiro (LIESA), que passou a dominar o Carnaval carioca.

Morte

Castor de Andrade faleceu no dia 11/04/1997, aos 71 anos, vítima de um ataque cardíaco. Ele cumpria prisão domiciliar, mas quando passou mal estava na casa de uma amiga, no Leblon, jogando cartas. Castor de Andrade foi levado para o Prontocor, na Lagoa, mas chegou morto. Ele sofria de miocardiopatia dilatada, conhecida como coração de boi, e já havia tido cinco edemas pulmonares.

Presidente de honra da Mocidade Independente de Padre Miguel e patrono do Bangu Atlético Clube, Castor de Andrade foi velado na quadra da Escola de Samba e enterrado no Cemitério Jardim da Saudade, em Sulacap. No sepultamento, o vereador Agnaldo Timóteo (PPB) cantou a "Ave Maria" diante do corpo e houve toques de surdo, fogos de artifício e pétalas de rosa.

No carnaval de 1998, público e foliões presentes ao sambódromo fizeram um minuto de silêncio em sua homenagem.

O contraventor deixou quatro filhos: Paulo Roberto, então com 46 anos, e Carmem Lúcia, de 31, do casamento com Wilma Andrade, além de Ricardo, de 12 anos, e Camila, de 5, de sua união com Ana Cristina Bastos Moreira, com quem estava vivendo desde que obtivera na Justiça a prisão domiciliar, meses antes.


A morte de Castor de Andrade deflagrou uma guerra na família, que acabaria tendo consequências na estrutura do jogo do bicho como um todo. Nesse novo cenário, as disputas na família Andrade ganharam corpo. Ainda em vida, Castor de Andrade teria escolhido o sobrinho Rogério para comandar o jogo do bicho na Zona Oeste do Rio de Janeiro e em outras áreas do Estado. Inconformado com a decisão, seu filho Paulo Roberto, o Paulinho, começou uma guerra contra Rogério pelo controle da contravenção na região.

Em 1998, Paulinho e um segurança foram assassinados na Barra da Tijuca. Com a morte de Paulo Roberto, seu cunhado, Fernando Iggnácio Miranda, assumiu o lugar na disputa.

De acordo com investigações da polícia, a partir da metade dos anos 1990, Fernando Iggnácio controlaria a Adult Fifty, empresa que explorava caça-níqueis em toda a Zona Oeste do Rio de Janeiro.

Em 1998, Rogério teria fundado a Oeste Rio. Com a queda nos lucros do jogo do bicho, a cobiça pelo mercado de caça-níqueis aumentou e os dois entraram em guerra em 2001. No mesmo ano, a polícia deu início a uma operação para apreender caça-níqueis no Estado. Os inimigos passaram a atacar as máquinas um do outro. Dos ataques passaram a assassinatos.

Segundo a polícia, o conflito provocou pelo menos 50 mortes. O próprio Rogério foi vítima de uma tentativa de assassinato em 2001. Em abril de 2010, outro golpe: O filho de Rogério, de 17 anos, morreu num atentado na Barra. Em vez do pai, era o rapaz que dirigia o carro quando uma bomba explodiu.

Fonte: WikipédiaAcervo O Globo
#FamososQuePartiram #CastordeAndrade

Volta Seca

ANTÔNIO DOS SANTOS
(78 anos)
Cangaceiro, Cantor e Compositor

☼ Saco Torto, SE (13/03/1918)
┼ Pirapetinga, MG (02/02/1997)

Antônio dos Santos, conhecido como Volta Seca, foi um cangaceiro sergipano nascido em Saco Torto, no então município de Itabaiana Grande e atual município de Malhador, SE, no dia 13/03/1918. Filho de Manuel Antônio dos Santos e Arminda Maria dos Santos, era o sexto dos treze filhos do casal.

Volta Seca saiu pelo mundo devido aos maus tratos da madrasta, pessoa violenta que espancava constantemente os enteados. Percorreu sozinho, os sertões de Sergipe e Bahia, até encontrar Lampião em Goroso, no município de Bom Conselho. Era o mais jovem dos cangaceiros do bando, tendo-se juntado a ele ainda aos 11 anos de idade. E não era a primeira criança a ser aceita no bando: Beija-FlorDeus-te-GuieJosé Roque e Rouxinho. Essas crianças eram utilizadas na lavagem dos cavalos, no carregamento de água, na arrumação e assepsia de pousos e acampamentos, e foram muitas vezes usadas nos serviços de espionagem. Portanto, a sua passagem pelo cangaço foi rápida, não mais de 4 anos.

Misterioso, complexo e desconcertante, Antônio dos Santos, o Volta Seca, é uma das personalidades mais ricas do ciclo do Cangaço. Considerado o tenente de "mais destacada fama" de Lampião, mais importante ainda do que Corisco na opinião de historiadores como Ranulfo Prata. Matou pela primeira vez aos 10 anos, entrou para o cangaço aos 11 anos recrutado pelo Diabo Louro, compôs pérolas do cancioneiro popular como "Mulher Rendeira" e teve a compaixão de  Irmã Dulce.

Embora haja discordância entre alguns historiadores e relatos, Volta Seca deve ter entrado para o bando de Lampião por volta de 1928 e lá permaneceu por quatro anos, destacando-se pela coragem, valentia, e implacável postura de sentinela. Em entrevista ao jornalista Joel Silveira ele disse que logo que chegou ao bando apanhava quase que diariamente mas "depois endureci o cangote e o primeiro que me apareceu com ares de pai, recebi com a mão no rifle!".

Coragem Para Desafiar o Capitão

Volta Seca foi o único a desafiar o próprio chefe para uma briga. O episódio marcou o fim de sua vida no cangaço e foi relatado por ele ao, na época, já famoso jornalista Joel Silveira, em entrevista concedida em março de 1944 no presídio da Coreia em Salvador.

A contenda se deu em 1931 por causa de um socorro dado ao cangaceiro Bananeira, ferido em combate. Lampião era de opinião que o atraso colocaria o bando em risco junto a volante, mas Volta Seca insistiu em acudir o companheiro atingido por tiros. A insubordinação do rapazote enfureceu o capitão, que não viu outro jeito de assegurar sua autoridade no bando senão dar cabo do insolente. Mas Volta Seca não era apenas o preferido de Lampião, era querido também por Maria Bonita, a quem Virgulino lhe confiou a guarda por diversas vezes. Ao tomar conhecimento dos planos de LampiãoMaria Bonita tratou de avisar a seu segurança que o marido pretendia matá-lo no dia seguinte durante o almoço. Volta Seca fugiu na madrugada.

Em sua fuga acabou preso aos 14 anos, no final de fevereiro de 1932. Foi a julgamento dois anos depois sendo condenado a 145 anos de cadeia. A chegada de Volta Seca a Salvador causou comoção. Uma junta de cientistas, médicos e acadêmicos logo se adiantou para traçar o perfil antropológico e psicológico do bandido, segundo os cânones evolucionistas que ainda perduravam no país por via da influência da chamada Escola de Nina Rodrigues.

O grande médico e etnólogo alagoano, Arthur Ramos foi um dos que estudaram cuidadosamente o perfil de Volta Seca na prisão e emitiram diagnóstico. Segundo Arthur Ramos, a primeira impressão que se tem ao encontrar o bandido é de desapontamento. Não são encontradas nele nenhuma das características do criminoso nato, "nenhuma anomalia, nenhum estigma antropológico de degenerescência", a saber, "a cabeça disforme, os malares salientes, o olhar duro e mau, orelhas malformadas...".

"Antes cafuzo do que caboclo propriamente dito, Volta-Seca é o tipo do adolescente mal saído da época puberal. Dezesseis anos. De estatura um pouco abaixo do normal: 1,58 e 5. Franzino.
Atitude de humanidade. Fala arrastado, responde com precisão a questões que lhe propõem. A este exame preliminar, parece haver um certo grau de mitomania. Aumenta um pouco os relatos de crimes dos seus companheiros. Admiração incondicional pelo compadre Lampião, o que denota um certo grau de erostratismo criminal. Olhar móvel, desconfiado, intimidado com a presença de várias pessoas - oficiais da Força Pública - que o inquirem.
Esta vaidade criminal leva-o até a descrer no fracasso de Lampião, que julga invulnerável." 
(Relata Arthur Ramos) 


A mesma falta de sinais aparentes de psicopatia é encontrada no perfil psicológico. Arthur Ramos, no entanto, conclui que a criminalidade em Volta Seca é fruto de seu ambiente e não uma disposição intrínseca.

"Outro desapontamento. É o menino aparentemente ingênuo dos sertões. Crivado de perguntas, responde com humildade, fala arrastada, com precisão. Esta impressão de ingenuidade vai desaparecendo progressivamente, à medida que vamos mergulhando nos abismos desconhecidos da sua psique criminal... Isoladamente, é o caboclo humilde, o adolescente inofensivo que temos diante de nós. Socialmente, porém, é o membro temível de uma coletividade anormal. Em Volta Seca, o fator intrínseco da criminalidade cede de muito o passo aos fatores extrínsecos, mesológicos, que o caracterizam como um dos elementos mais perversos, mais criminosos, mais ferozes, do grupo de Lampião."
(Trechos retirados do capítulo "Os cabras de Lampião", do livro "Lampião" de Ranulfo Prata)

Tudo leva a crer que Volta Seca possuía um nível intelectual acima da média. Além do senso moral próprio e do talento como compositor, possuía também, apesar da pouca idade, um discernimento agudo da situação social e política do Nordeste que pode ser ilustrada por uma de suas declarações na prisão:

"O medo da prisão transforma o homem numa fera, é isto mesmo: os crimes dos 'macacos' foram iguais aos nossos. Mas nada aconteceu com eles, nem com os homens importantes e ricos do sertão, que nos ajudaram, nos davam armas, dinheiro e comida, continuam ricos e importantes."
(Volta Seca)

Segundo Zé Sereno, depois da prisão de Volta Seca, ninguém nunca mais acampou no Raso da Catarina, ou na Serra do Chico. Quando o cangaceiro foi preso, Lampião ordenou a divisão dos grupos, entregando o comando aos seus mais experimentados homens: Luís Pedro, Zé Baiano, Velho Cirilo, Jararaca Manuel Moreno. Cada um com seu grupo formado saiu do Raso da Catarina, para penetrar nas caatingas.


Ao tomar conhecimento da prisão de Volta SecaLampião soube que os irmãos Roxo, o haviam entregue à polícia e decidiu se vingar. Passou na casa dos irmãos e assassinou todos eles, exceto a mãe e um irmão que encontrava-se viajando. Incendiou a fazenda e destruiu plantações.

Volta Seca, por duas vezes fugiu da cadeia. A primeira foi concedida um "passeio experimental". Volta Seca saiu e não retornou, ficou perambulando pelas ruas de Salvador. A segunda vez fugiu em companhia de outro sentenciado e saiu pela porta principal sem ser percebido. Apesar de não ter sido capturado em combate, a polícia baiana ganharia notável publicidade com a prisão de Volta Seca, que ocorreu em virtude do cansaço (longa caminhada a pé pela mata durante vários dias), do companheiro de cárcere que ficou muito doente, ao ponto de querer desistir da jornada. Volta Seca não o abandonou, levou-o nos ombros até o primeiro povoado mais próximo, onde foi reconhecido pela população e denunciado a força pública, em seguida preso e recambiado a Salvador.

A notícia de sua fuga, do famigerado bandoleiro, deixou a população sergipana preocupada, porque ainda não havia desaparecido do espírito nordestino, a época de terrorismo em que o banditismo de Lampião criou nos sertões de Pernambuco, Sergipe, Bahia e Alagoas, e de tão graves consequências para o homem do campo. Segundo o Departamento de Segurança:

"Volta Seca fugiu da Bahia pelo litoral, penetrando neste Estado pelo município de Estância, e sendo preso em companhia de outro bandoleiro, entre os municípios de Indiaroba e Cristinápolis."
(Diário Oficial, 05/03/1944)

Após tomar conhecimento da fuga, as autoridades sergipanas, determinaram rápidas e enérgicas providências, estabelecendo imediatamente contato, com os destacamentos policiais de todo o interior e foi determinada severa vigilância.

A Força Policial do Estado, que relevantes serviços prestou no combate ao banditismo, quando este esteve em plena campanha, traz de público, uma vez mais, a sua disposição de combatê-lo, sempre com mais energia, defendendo, com a sua coragem e a sua técnica militar:

"Transportado de Indiaroba para esta capital, desde a sexta-feira última, que aqueles foragidos estão recolhidos à Penitenciária do Estado, à disposição das autoridades policiais do vizinho Estado da Bahia, de onde se evadiram."
(Diário Oficial, 08/03/1944)

Volta Seca, Esposa e Filhos
Liberdade e Música

Volta Seca ganhou a liberdade em 1954, graças a um indulto do presidente Getúlio Vargas. No presídio da Coreia, em Salvador, conheceu Irmã Dulce e lhe prometeu nunca mais pegar em armas, e virou personagem de Jorge Amado no romance "Capitães de Areia".

A amizade com a jovem freira, que costumava visitar o presídio para levar o consolo do evangelho e da música aos presos, para escândalo da sociedade da época, se deu por causa da música. Sanfoneira e amante da música, Irmã Dulce encontrou em Volta Seca um talento musical incomum: tocava realejo, era entoado ao cantar e já havia composto a maioria de suas músicas.

Estigmatizado ao sair da prisão, Volta Seca recebeu o apoio do cineasta Lima Barreto por ocasião do lançamento do filme "O Cangaceiro" (1953) em São Paulo. Lima Barreto o convidou para avaliar criticamente o filme.

Volta Seca não gostou de uma cena em que Lampião aparece chicoteando um homem no rosto. Segundo ele, isso não se fazia no Nordeste: "A cara de um homem é sagrada".

Realizado em 1953, "O Cangaceiro" foi o primeiro filme brasileiro a alcançar sucesso internacional. Ganhou o prêmio de melhor filme de aventura e de melhor trilha sonora com a música "Mulher Rendeira", em Cannes.

Com a mudança para o Sudeste, Volta Seca conseguiu emprego na Estrada de Ferro Leopoldina. Cantor e compositor em 1957, Volta Seca gravou pela Continental um LP, com apenas 8 faixas compostas no período do Cangaço, "As Cantigas de Lampião", interpretadas pelo próprio, com instrumentação do maestro Guio de Moraes e narrações do radialista Paulo Roberto da Rádio Nacional: "Acorda Maria Bonita", "Escuta Donzela", "Eu Não Pensei Tão Criança", "Lá Prá Mina", "A Laranjeira", "Mulher Rendeira", "Lampião e Sabino" e "Se Eu Soubesse".

A famosa "Mulher Rendeira", conta-se, foi cantada pelo bando de Lampião durante a famosa invasão a cidade de Mossoró, RN.

Em 1959, teve o baião "A Laranjeira" gravado por Zé do Baião, e no ano seguinte, por José Tobias, a toada "Se Eu Soubesse".

Antônio dos Santos, o Volta Seca, faleceu aos 78 anos em Pirapetinga, MG, no dia 02/02/1997, de causas naturais.

Roberto Audi

ROBERTO AUDI
(63 anos)
Cantor e Compositor

☼ Rio de Janeiro, RJ (10/02/1934)
┼ Rio de Janeiro, RJ (12/02/1997)

Roberto Audi iniciou sua carreira artística como corista nos shows de Carlos Machado na boate Night And Day.

Cunhado do letrista David Nasser, passou a atuar com freqüência na antiga TV Tupi, bem como na Rádio Tupi.

Estreou em disco em 1958 cantando a toada "Geada" (Armando CavalcantiDavid Nasser), e o fox "No Azul Pintado de Azul" (Modugno e Puzzaglia), com versão de David Nasser, em dueto com Leny Eversong, cantora que o descobriu. No mesmo ano, fez suas primeiras gravações solo, os sambas-canção "E Me Deixe Entrar" (Jossicar e Verinha Falcão), e "Não Tens Reconhecimento" (Fausto Guimarães e Verinha Falcão), realizadas na gravadora Copacabana, onde fez um total de 22 discos entre os anos de 1958 e 1963. Ainda em 1958, recebeu da revista Radiolândia o troféu Antena de Prata depois de eleito por um júri composto de críticos especialistas e representantes de agências de propaganda como o cantor revelação do ano na TV.

Em 1959 apresentou-se no "Super Show" da TV Tupi do Rio de Janeiro, passando posteriormente a atuar em programas da Rádio Nacional, TV Tupi, TV Rio e, em São Paulo, na TV Record e na Bandeirantes. No mesmo ano, gravou a toada "A Canção é Você" e o samba canção "Noite Triste Sem Ninguém", ambas de Fred Chateubriand e Vinícius de Carvalho. Nessa época, gravou o LP "E As Operetas Voltaram", onde conhecidos trechos de operetas europeias entrelaçadas com operetas americanas foram vertidos e adaptados para o português pelo compositor Lamartine Babo, que foi também o produtor do disco. Participou do LP "A Música de Dolores" uma homenagem da gravadora Copacabana à cantora e compositora Dolores Duran falecida prematuramente naquele ano. Nesse disco interpretou o samba-canção "Noite de Paz".


Em 1960 gravou o fox "Ninguém é de Ninguém" (Umberto Silva, Toso Gomes e Luiz Mergulhão), e o samba canção "Um Novo Céu" (Ted Moreno e Fernando César).

Em 1961 foi premiado pela Revista do Rádio e Radiolândia  como Cantor Revelação. No mesmo ano, gravou a guarânia "Duas Rosas" (Lourival Faissal e Arsênio de Carvalho), e o bolero "Noite Após Noite" (Nelson GonçalvesDavid Nasser).

Entre os anos de 1961 e 1964 fez shows pelo Brasil e excursionou a Portugal, Estados Unidos, Uruguai e Argentina.

Em 1963 gravou "Meu Bem" (Getúlio Macedo), e, da dupla João Roberto KellyDavid Nasser, os sambas-canção "Poeira no Meu Caminho" e "O Céu do Teu Olhar".

Em 1964 gravou "Tédio" (Nazareno de Brito e Fernando César).

Sua primeira composição gravada foi "Encontrei Afinal, Meu Amor" (Roberto Audi e Ribamar).

Lançou ainda os LPs "Música Para Nós Dois" e "Com Vocês, Roberto Audi", ambos pela gravadora Copacabana. Ao abandonar a gravação de discos passou a se apresentar em shows pelo interior do país.

Discografia

78 RPM
  • 1958 - Geada / No Azul Pintado de Azul (Copacabana)
  • 1958 - E Me Deixe Entrar / Não Tens Reconhecimento (Copacabana)
  • 1958 - Telefonei / Vida de Artista (Copacabana)
  • 1959 - Noite de Paz / Outros Caminhos (Copacabana)
  • 1959 - Matei a Saudade / Cravo Branco - Carnaval de 1960 (Copacabana)
  • 1960 - Romântica / Férias de Amor (Copacabana)
  • 1960 - A Canção é Você / Noite Triste Sem Ninguém (Copacabana)
  • 1960 - Ninguém é de Ninguém / Um Novo Céu (Copacabana)
  • 1960 - Eu Amei / O Maior Amor (Copacabana)
  • 1961 - Duas Rosas / Música Para Nós Dois (Copacabana)
  • 1961 - Sino de Belém / Boas Festas (Copacabana)
  • 1961 - Valsa da Despedida / Feliz Natal, Meu Amor (Copacabana)
  • 1961 - Dinheiro Não Há / Adeus Mangueira (Copacabana)
  • 1961 - Renunciei / Ponto Final (Copacabana)
  • 1961 - São João Diferente / Noite Após Noite (Copacabana)
  • 1961 - Vou Beber Até Cair / É Incrível (Copacabana)
  • 1962 - Loucura, Loucura / Palhaço de Botequim (Copacabana)
  • 1962 - Sofrimento / O Lelê da Lalá (Copacabana)
  • 1962 - Adeus, Amor, Adeus / Quero e Não Quero (Copacabana)
  • 1963 - Poeira no Caminho / O Céu do Teu Olhar (Copacabana)
  • 1963 - Ao Nascer do Sol / Meu Bem (Copacabana)
  • 1963 - Meu Castigo / Eu e Elas (Copacabana)
  • 1963 - Fim de Ano / Noite Silenciosa (Copacabana)
  • 1964 - Estranho na Praia / Tédio (Copacabana)
  • 1964 - Meu Patuá / Festa Brava (Copacabana)
  • 1964 - Que Fez Você / O Carrinho (Copacabana)


LPs
  • 1959 - Concerto Para Senhoras (Copacabana)
  • 1960 - E as Operetas Voltaram (Copacabana)
  • 1960 - Música Para Nós Dois (Copacabana)
  • S/DT - Presença de Roberto Audi (Copacabana)
  • S/DT - Com Vocês, Roberto Audi (Copacabana)

Fonte: Dicionário Cravo Albin da MPB e Discomentando
Indicação: Miguel Sampaio

Portinho

ANTÔNIO PORTO FILHO
(71 anos)
Maestro, Arranjador, Clarinetista, Saxofonista e Compositor

☼ Rio Grande, RS (27/09/1925)
┼ São Paulo, SP (01/01/1997)

Antônio Porto Filho nasceu na cidade do Rio Grande, RS,  no dia 27/09/1925, numa família de músicos, onde o pai era trombonista, o avô sanfoneiro e o tio violonista.

Mudou-se ainda jovem para Porto Alegre, onde conheceu o conceituado violonista paulista Antonio Rago. A convite deste se radicou em São Paulo. Portinho tocou em várias orquestras e com grandes artistas, chegando inclusive a reger, como convidado, a Orquestra Jazz Sinfônica de São Paulo.

Participou nos anos 40 do regional de Claudionor Cruz, nos 50 do regional do Rago, e foi uma figura da história do rádio do Rio de Janeiro e de São Paulo.  Portinho assinou arranjos de alguns  discos  de renomados artistas, como Ângela MariaPaulo VanzoliniNelson GonçalvesWaldick Soriano, Noite IlustradaCláudia Barroso (descoberta por Portinho), entre tantos outros, incluindo ídolos da Jovem Guarda, como Ed CarlosDemétriusMartinhaMário FaisalWilson Miranda, e outros.   

O maestro também entrou também na "onda" da Jovem Guarda, tendo inclusive gravado o álbum "Portinho - O Maestro Iê-Iê-Iê", lançado em 1967 pela gravadora Continental. O destaque está na contracapa: um texto de Ronnie Von, redigido do próprio punho na madrugada de 06/07/1967, destacando as qualidades do músico e informando que "A Praça", grande sucesso do cantor na época, teve os arranjos assinados pelo maestro.


"Portinho veio confirmar um pensamento nosso sobre a inexistência da idade cronológica. Sua jovialidade suplantou a nossa, e, vindo de outra geração, enquadrou-se perfeitamente na era da harmonia musical eletrônica, aderindo à nossa causa e, conosco, levanta agora, ainda mais alto, a bandeira da música jovem."
(Ronnie Von)

De fato, o repertório é formado por sucessos da juventude, e o álbum foi produzido com o talento impar do maestro.

O maestro foi tão respeitado no meio artístico que o cantor Teixeirinha o homenageou na gravação da música "O Centro-Oeste Brasileiro".  O violonista de 7 cordas Ed Gagliardi disse que o mestre Portinho foi como as músicas que compôs: calmo, tranquilo e alegre.


Muitos discos produzidos, principalmente, nos anos 60 e 70, vinham com o nome do maestro Portinho como o responsável pelos arranjos. Além de figurar como um dos músicos mais requisitados em discos, que iam de Teixeirinha a Caetano Veloso, o maestro também gravou vários discos. Uma reportagem sobre o artista informa que foram 35 LPs orquestrais e 5 como solista, mas esses dados requerem melhor apuração.

A sua discografia é imensa, e só para citar dois excelentes álbuns, recordamos um, só com composições de Noel Rosa, intitulado "Noel Rosa e Portinho Dá Samba", e outro que gravou em 1973, com muitas músicas de Ary Barroso intitulado "Samba, o Melhor do Brasil".

Os seus últimos anos de atividade foram ensinando música na Universidade Livre de Música (ULM), em São Paulo.

Portinho faleceu no dia 01/01/1997, em São Paulo, SP, deixando um importante legado para a cultura musical brasileira.

Indicação: Miguel Sampaio

Antônio Venâncio

ANTÔNIO VENÂNCIO DA SILVA
(86 anos)
Empresário

☼ Assaré, CE (1911)
┼ Rio de Janeiro, RJ (15/10/1997)

O nome do cearense Antônio Venâncio da Silva é uma das marcas de Brasília. Sertanejo semi-analfabeto, construiu um império de R$ 200 milhões em imóveis. Tentava imortalizar o próprio sucesso a cada prédio erguido. Assim, foram se sucedendo os edifícios Venâncio 1, 2, 3, 4, 5, 6... A fortuna cresceu junto com a numeração. Os dois últimos prédios, grandes shoppings populares no coração da cidade, foram batizados de Venâncio 2000 e Venâncio 3000. Em péssimo estado de conservação, são o retrato da decadência dos empreendimentos.

Antônio Venâncio constituiu uma família incomum. Aos 17 anos, casou-se com Antônia Odontina de Souza, em Santana do Cariri, no interior do Ceará. Não tiveram filhos. Odontina sentia-se culpada pela infertilidade e aceitava os filhos que o marido tinha fora do casamento. Cinco, segundo a conta oficial. Ou sete, se forem considerados todos os que buscam na Justiça o reconhecimento de paternidade. Frequentavam a casa do pai. As velhas fotos de família mostram os filhos reunidos nos aniversários. A tolerância era aparente. Devia-se ao patriarca e à mão de ferro com que governava empresas e herdeiros.

Depois do enterro de Antônio Venâncio, os filhos só se reuniram uma vez. Foi na Vara de Família, com dez seguranças dentro da sala e detector de metais na porta. As velhas fotos fazem parte agora dos processos em que os irmãos Antônio Venilson e Maria Verenice da Silva tentam provar que são filhos de Antônio Venâncio e têm direito a parte do espólio. "Até a semelhança dos nomes prova a ligação", diz Venilson.

Venâncio 2000 em Brasília (Foto Diurna)
Antônio Venâncio era um conquistador assumido. Na última casa em que morou, uma mansão de 2 mil metros quadrados, o quarto era decorado com espelhos no teto e cama redonda. Viveu com várias mulheres, mas nunca pediu a separação formal de Antônia Odontina. Os dois chegaram a comemorar com missa as bodas de ouro, em 1979. Ela aparece como sócia em quase todas as empresas abertas pelo marido e figura nos testamentos como dona de metade dos bens do casal.

Antônio Venâncio nasceu pobre, filho de pequenos agricultores. Aos 16 anos, intermediou a venda de um terreno no sertão. O comprador foi o Padre Cícero Romão Batista, já com alguma fama de santo no Nordeste. Sob as bênçãos do Padre Cícero, iniciou os negócios e fez de tudo. Durante a Segunda Guerra Mundial, explorava cera de carnaúba e revendia pneus usados.

Mudou-se para o Rio de Janeiro e investiu em construção. Lançou em Copacabana sua primeira série de edifícios. Antônio Venâncio chegou a Brasília rico, mas foi na Capital Federal que entrou para o clube dos arquimilionários. Quando morreu, tinha R$ 10 milhões numa conta corrente do Banco do Brasil. O restante da fortuna estava investido na empresa que administra os shoppings.

A briga dos herdeiros é pelo controle da holding familiar. De um lado está José Nicodemos, o filho mais velho, de 62 anos, que dividia com o pai a administração das empresas. Seu trunfo é ser o único herdeiro de Antônia Odontina. Isso lhe garantiria a metade dos bens. A outra metade, correspondente a Antônio Venâncio, seria dividida entre ele e os outros quatro filhos oficialmente reconhecidos - André, Rafael, Priscila e Venâncio Júnior.

Venâncio 2000 em Brasília (Foto Noturna)
Os quatro contestam o testamento. Alegam que o pai era menor de idade quando se casou com Odontina, portanto os dois não poderiam ter adotado o regime de comunhão de bens. Além disso, acusam José Nicodemos de ter gerenciado mal as empresas. As denúncias fazem parte do processo na Justiça. José Nicodemos teria pago despesas pessoais com vales da empresa. Apenas no mês de maio de 1998 os vales somariam R$ 265 mil. Fez isso sem abrir mão do salário mensal de R$ 19.500. José Nicodemos diz que todos os irmãos retiravam dinheiro das empresas.

No dia 15/10/1997, enquanto o pai era velado no Rio de Janeiro, José Nicodemos registrava em ata uma reunião dos condomínios dos dois shoppings, supostamente realizada em Brasília. A ata confirma a presença do morto na reunião, que aprovou despesas de R$ 1,7 milhão nos prédios. André e Venâncio Júnior ganharam lugar na diretoria da empresa e alijaram José Nicodemos. A disputa entre os diretores paralisa a companhia. Os herdeiros calculam que o valor dos dois shoppings caiu pela metade.

José Nicodemos ganhou na Justiça o direito de sacar cerca de R$ 5 milhões da conta que o pai mantinha no Banco do Brasil. O juiz Silvânio Santos autorizou o saque no último dia de expediente do Poder Judiciário, enquanto os outros herdeiros ainda tentavam um recurso. O advogado de José Nicodemos, Jonas Cruz, é padrinho da filha de Silvânio Santos. Mesmo assim ele não se considera suspeito para julgar o caso: "A lei diz que só há suspeição se o juiz for amigo íntimo de uma das partes do processo, não do advogado", argumentou.

Desde a morte do patriarca, em outubro de 1997, aos 86 anos, a família briga pela herança. A cada sentença judicial o comando das empresas muda de dono.

Venâncio 3000, atualmente Shopping ID em Brasília
O Império dos Venâncios em Brasília

Poucos brasilienses e visitantes que trafegam pela Via S1 tem conhecimento que seis prédios que formam o complexo comercial conhecido por Conic, foram construídos pelo empresário cearense Antônio Venâncio da Silva, natural do Assaré. Além dos Edifícios Venâncios II, III, IV, V e VI o ex-agricultou que residiu na Taboquinha altaneirense, construiu um verdadeiro império na Capital Federal no ramo imobiliário, inclusive com dois centros comerciais que marcaram época.

Na Taboquinha existe uma lenda que o jovem Antônio Venâncio enganou uma velha senhora e desenterrou um butija (pote com ouro e prata) e fugiu para o Rio de Janeiro onde fez sua fortuna. 

O primeiro imóvel construído por Antônio Venâncio foi o Edifício Venâncio I, localizado na Avenina Nossa Senhora de Copacabana em área nobre do Rio de Janeiro, antes da transferência da Capital Federal para Brasília.

Já os brasilienses são mais familiarizados com outros, os dois centros de compras da família, o Venâncio 2000 e o Venâncio 3000 (atual Shopping ID), ambos os empreendimentos foram construídos na década de 70 do século passado.

Os dois shoppings, sobretudo o Venâncio 2000, representaram uma mudança no varejo na Capital Federal e no comportamento dos consumidores. Até então, era na Avenida W3 Sul onde se encontravam o bom comércio e as boas lojas, além do grande divertimento dos brasilienses da época: "flanar" por suas calçadas, olhar as vitrines, além de ver e ser visto pela sociedade local.

Com a construção do primeiro shopping da capital, o Venâncio 2000, naturalmente os consumidores migraram da Avenida W3 Sul para o centro de compras, pois encontravam tudo o que precisavam em um só lugar, não precisavam mais percorrer as longas distâncias entre as lojas e estavam protegidos do sol inclemente do cerrado, além das intermitentes chuvas que assolavam Brasília na época do verão.

Conic (Complexo de Edifícios Venâncio em Brasília)
Ambos os centros comerciais possuem endereços privilegiados: Venâncio 2000 no Setor Comercial Sul (SCS) quadra 8 e o Venâncio 3000 no Setor Comercial Norte (SCN) quadra 6. Por terem sido construídos num período onde o preço do m² no centro da cidade era mais barato, ambos os empreendimentos possuem corredores bastante largos e todas as suas lojas possuem dimensões maiores, inclusive, das encontradas nas lojas âncora dos shoppings atuais.

O falecimento de Antônio Venâncio em outubro de 1997 expõe a verdadeira guerra que seu herdeiros (cinco legalmente reconhecidos mais dois que não eram reconhecidos, quando da sua morte) travavam dentro da família e que espólio do rico empresário cearense só tornou mais acirrada. Os bens deixados pelo Antônio Venâncio já foram avaliados em mais R$ 400 milhões, constituído de 10.000 salas e lojas comerciais, 2 shoppings centers, quatro casas em Brasília, um apartamento no Rio de Janeiro, as cotas da empresa que administra os bens e R$ 10 milhões depositados numa conta bancária no Banco Brasil.

Em meio a várias disputas judiciais dignas de enredo de novela, ambos os shoppings foram entrando em decadência. Suas instalações ficaram obsoletas e a chegada de empreendimentos concorrentes, só agravou o problema.

Tentativas para reerguer ambos os shoppings são frequentemente anunciadas como a da livraria FNAC, que antes de optar pelo Park Shopping cogitou em ser condômina dos Venâncios e o departamento cultural do Unibanco, mas ante ao embrolho judicial desistiram. Outra solução encontrada foi a de alugar os espaços para a sede de empresas estatais como a EBC e a Eletronorte que depositam mensalmente o aluguel numa conta bancária sob administração judicial. Além dessas medidas, ocorreu, também, o retrofit do Venâncio 3000 e sua transformação em shopping de móveis e decoração, o Shopping ID, buscando a loja paulista Etna para âncora do empreendimento.

Guilherme Figueiredo

GUILHERME DE OLIVEIRA FIGUEIREDO
(82 anos)
Autor e Dramaturgo

☼ Campinas, SP (13/02/1915)
┼ Rio de Janeiro, RJ (24/05/1997)

Guilherme de Oliveira Figueiredo, ou somente Guilherme Figueiredo foi um autor e dramaturgo brasileiro, irmão do último presidente militar João Baptista de Oliveira Figueiredo. Nasceu em Campinas, interior do Estado de São Paulo, em 13/02/1915.

Forma-se em Direito, pela Universidade do Brasil, no Rio de Janeiro, cidade em que iniciou sua carreira profissional como crítico de teatro e de literatura em O Jornal e no Diário de Notícias.

Em 1948, fez sua estreia como dramaturgo, com a montagem de dois textos pela Companhia do ator Procópio Ferreira: a comédia "Lady Godiva" e o drama "Greve Geral".

Suas peças são voltadas para temas mitológicos, em sua maioria, escritas com uma abordagem cômica.

Em 1949 montou a peça "Um Deus Dormiu Lá Em Casa", inspirada em temática grega, iniciando uma série que o aproximou do universo dos mitos. Dirigida por Silveira Sampaio, com Paulo Autran e Tônia Carrero à frente do elenco, a montagem alcançou repercussão e prêmios. Ainda em 1949, foi professor de história do teatro na Escola do Serviço Nacional de Teatro (SNT), bem como tradutor de inúmeros autores, como Molière, William Shakespeare e Bernard Shaw.

Com o Teatro de Revista em alta, na década de 50, escreveu as revistas "A Imprensa é Livre" e "Miss França", em co-autoria com Geysa Bôscoli. Em seguida, apresentou os textos "Don Juan" (1951).

Em 1952, "A Raposa e as Uvas" dirigida por Bibi Ferreira, tornou-se sua criação mais conhecida no Brasil e no exterior, onde conheceu diversas encenações e traduções, recebendo o Prêmio Municipal do Rio de Janeiro e da Associação Brasileira de Críticos Teatrais (ABCT).


Em 1957, fez "Menina Sem Nome", infantil. No volume "Xântias - Oito Diálogos Sobre a Arte Dramática", Guilherme Figueiredo resume seus ensinamentos sobre dramaturgia.

Em 1958, fez "A Muito Curiosa História da Virtuosa Matrona de Éfeso", montagem de sucesso empreendida pelo Teatro Brasileiro de Comédia (TBC). Novos textos são lançados, mas nenhum alcança grande repercussão: "Tragédia Para Rir", "Retrato de Amélia" e "Os Fantasmas".

Nos anos subsequentes criou as peças inéditas: "Napoleão", "Balada Para Satã", "O Herói", "Comédia Para Não Rir" e "Maria da Ponte", além de uma série de comédias curtas em um ato.

Em 1963, escreveu "Os Gigantes, Os Rios..." e "A Cidade de Cada Um", conto premiado no concurso "As Melhores Histórias Sobre a Cidade", instituído pelo Correio da Manhã, publicado pela Editora Civilização Brasileira, Rio de Janeiro.

Com o livro "A Raposa e as Uvas" alcançou o Prêmio Artur Azevedo, da Academia Brasileira de Letras (ABL), e com o livro "Um Deus Dormiu Lá Em Casa", obteve a medalha de ouro da Associação Brasileira de Críticos Teatrais (ABCT).

Guilherme Figueiredo morreu no dia 24/05/1997, aos 82 anos, no Rio de Janeiro.

Fonte: Wikipédia

Waldir Amaral

WALDIR AMARAL
(70 anos)
Radialista e Locutor Esportivo

* Andinópolis, GO (17/10/1926)
+ Rio de Janeiro, RJ (07/10/1997)

Waldir Amaral foi um radialista e locutor esportivo brasileiro. Talentoso profissional de comunicação, foi um dos pioneiros na transformação das jornadas esportivas radiofônicas num verdadeiro show. Criou bordões que atravessaram todo o Brasil e tornaram-se referência nacional como "Indivíduo Competente", "O Relógio Marca", e "Tem Peixe Na Rede". Criou também o apelido "Galinho de Quintino" que acompanha Zico até os dias de hoje.

Waldir Amaral iniciou sua carreira na Rádio Clube de Goiânia. No Rio de Janeiro, passou pela Rádio Tupi, Rádio Mauá, Rádio Continental, Rádio Mayrink Veiga, Rádio Nacional e Rádio Globo. Nesta última, por sinal, permaneceu de 1961 a 1983.


Foi Waldir Amaral, ao lado de um dos diretores da Rádio Globo, Mário Luiz, o "criador intelectual" da vinheta "Brasil-sil-sil!", gravada pelo radialista Edmo Zarife durante as eliminatórias da Copa do Mundo de 1970, para levar a Seleção Brasileira à frente, e que está no ar até hoje.

Waldir Amaral faleceu 10 dias antes de completar 71 anos, vitimado por uma insuficiência coronariana.

Em sua homenagem, a Rua Turf Club, no bairro do Maracanã, passou a se chamar Rua Radialista Waldir Amaral. Rua, aliás, onde se encontra a sede da Federação de Futebol do Estado do Rio de Janeiro (FERJ).

Waldir Amaral foi um locutor original e que soube comunicar como poucos. Narrava pausadamente, com elegância e muito estilo. Foi um dos maiores radialistas esportivos de todos os tempos.

Bordões

Profissional extremamente criativo, Waldir Amaral costumava dizer vários bordões enquanto narrava a partida. Alguns bordões criados por ele:

  • "Tem peixe na rede do..." - Dizia se referindo ao time que levava gol do adversário.
  • "Choveu na horta do..." - Dizia se referindo ao time que fazia gol no adversário.
  • "É fumaça de gol" - Dizia quando surgia uma oportunidade de gol: "Aproxima-se da área, é fumaça de gol..."
  • "Caldeirão do Diabo" - A grande área: "Vai cruzar no caldeirão do Diabo!"
  • "Indivíduo competente" - Quem fazia o gol: "Indivíduo competente o Zico!"
  • "Deeeeez, é a camisa dele!"
  • "O visual é bom, Roberto tem bala na agulha!" - Quando o jogador ia bater uma falta.
  • "Estão desfraldadas as bandeiras do Botafogo" - Dizia logo após o gol.
  • "Deixa comigo" - Dizia logo após a vinheta do seu nome.
  • "O relógio marca" - Dizia quando dava o tempo de jogo.

Fonte: Wikipédia
Indicação: Miguel Sampaio

Ester de Abreu

ESTER DE ABREU PEREIRA
(75 anos)
Cantora

* Lisboa, Portugal (25/10/1921)
+ Rio de Janeiro, RJ (24/02/1997)

Irmã da também cantora Gilda Valença, fixou residência no Brasil a partir do final da década de 40. Entre 1952 e 1953, manteve relacionamento amoroso com o então prefeito do Distrito Federal coronel Dulcídio do Espírito Santo Cardoso, romance que mereceu fortes reportagens na imprensa e em revistas especializadas da época.

Iniciou a carreira cantando em programas radiofônicos dedicados ao público infantil. Em 1940 começou a cantar profissionalmente na Rádio Nacional de Lisboa. Em 1946 venceu um concurso na mesma rádio, da qual passou a fazer parte do cast de artistas. Excursionou diversas vezes por Portugal.

Em 1948 recebeu convite para vir ao Brasil fazer uma temporada de dois meses no Copacabana Palace Hotel, no espetáculo "Sonho Nas Berlengas". Acabou ficando no Rio de Janeiro, definitivamente, sendo contratada pela Rádio Nacional.

Em 1950 estreou em discos no Brasil gravando na Continental o fado canção "Já Não Sei" (Antônio Mestre) e o fado "Pomar Da Vida" (Renê Bittencourt e Antônio Mestre). No ano seguinte gravou o fado baião "Ai, Ai Portugal" (Humberto Teixeira e Luiz Gonzaga) e o baião "Carro De Boi" (Humberto Teixeira e Caribé da Rocha).


Em 1952, gravou pela Sinter seu maior sucesso, o fado-canção "Coimbra (É Uma Lição De Amor)" (José Galhardo e Raul Ferrão). No ano seguinte gravou para o carnaval a marcha "Cabral No Carnaval" (Blecaute).

Em 1954 gravou de Paulo Tapajós e Jorge Henrique a canção "Quero-te Outra Vez". No mesmo ano lançou seu primeiro LP, pela RCA Victor.

Tanto por sua beleza pessoal, quanto por sua ligação sentimental com o então prefeito do Distrito Federal, coronel Dulcídio do Espírito Santo Cardoso, obteve grande popularidade, na década de 1950, tendo por inúmeras vezes merecido a capa das revistas Radiolândia e Revista do Rádio.

Em 1955 gravou o fox "Gosto Milhões" (Cole Porter), com versão de Haroldo Barbosa e o "Samba No Havaí" (Bruno Marnet e Irani de Oliveira)

Em 1956 gravou com Ivon Curi o samba "Pequena Do Contra" (Renê Bittencourt).

Em 1957 gravou de Fernando César e Dolores Duran a toada "Só Ficou A Saudade", e de Irani de Oliveira e Lourival Faissal o fado "Canção Do Imigrante".

Em 1962 lançou pela Continental o bolero "Que Deus Me Dê", da dupla Jair Amorim e Evaldo Gouveia.

Até a década de 1970, quando encerrou a carreira artística, a cantora não gravou apenas fados e canções, mas também vários gêneros populares brasileiros como sambas-canções, baiões e marchinhas de carnaval.

Discografia

  • 1962 - Que Deus Me Dê / Saudade, Não Vás (Continental, 78)
  • 1961 - Les Enfant Du Pirés / Lisboa (Continental, 78)
  • 1960 - Saudade Vai-te Embora / Lisboa À Noite (RCA Victor, 78)
  • 1959 - Amor Sou Tua / Canção Da Madrugada (RCA Victor, 78)
  • 1959 - Orgulho / Rua Sem Luz! (RCA Victor, 78)
  • 1958 - Tu Me Acostumbraste / Figueira Da Foz (RCA Victor, 78)
  • 1958 - Mas Sou Fadista / Sinal Da Cruz (RCA Victor, 78)
  • 1958 - Gigi / Soidão (RCA Victor, 78)
  • 1957 - Casinha Branca / Anda Amigo (RCA Victor, 78)
  • 1957 - Só Ficou A Saudade / Canção Do Imigrante (RCA Victor, 78)
  • 1957 - Volta Ao Mundo / Marcelino, Bom Menino (RCA Victor, 78)
  • 1956 - Se Um Dia / Lavadeiras De Portugal (RCA Victor, 78)
  • 1956 - Lisboa, Não Sejas Francesa / Pequena Do Contra (RCA Victor, 78)
  • 1956 - Ninguém Como Tu (RCA Victor, 78)
  • 1956 - Festa Das Flores / Foi Deus (RCA Victor, 78)
  • 1956 - Que Será, Será / Sempre Que Lisboa Canta (RCA Victor, 78)
  • 1955 - Fado Das Caldas / Mais Um Pouco De Amor (RCA Victor, 78)
  • 1955 - Ester de Abreu Com Orquestra de Lírio Panicali (Sinter, SLP - LP)
  • 1955 - Malagueña / Vira Das Palmas (RCA Victor, 78)
  • 1955 - Gosto Milhões / Samba No Havaí (RCA Victor, 78)
  • 1954 - Marcha Do Cau-Cau / Marcha Do Carneirinho (Sinter, 78)
  • 1954 - Novo Fado Da Severa / Rosinha Dos Limões (RCA Victor, 78)
  • 1954 - Mãe Preta / Quero-te Outra Vez (RCA Victor, 78)
  • 1954 - Pode Ser Mentira / Vivo A Sofrer (RCA Victor, 78)
  • 1954 - Anna / Mariana (Sinter, 78)
  • 1954 - Ester de Abreu (RCA Victor, LP)
  • 1953 - Cabral No Carnaval / Ou Vai Ou Racha (Sinter, 78)
  • 1953 - Segredo / Confesso (Sinter, 78)
  • 1952 - Coimbra (É Uma Lição De Amor) / Outras Mulheres (Sinter, 78)
  • 1952 - Perseguição / Reflete, Amor (Sinter, 78)
  • 1951 - Ai, Ai Portugal / Carro De Boi (Continental, 78)
  • 1950 - Já Não Sei / Pomar Da Vida (Continental, 78)

Indicação: Miguel Sampaio