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Machado de Assis

JOAQUIM MARIA MACHADO DE ASSIS
(69 anos)
Escritor, Poeta, Romancista, Cronista, Dramaturgo, Contista, Folhetinista, Jornalista e Crítico Literário

* Rio de Janeiro, RJ (21/06/1839)
+ Rio de Janeiro, RJ (29/09/1908)

Foi um escritor brasileiro, amplamente considerado como o maior nome da literatura nacional. Escreveu em praticamente todos os gêneros literários, sendo poeta, romancista, cronista, dramaturgo, contista, folhetinista, jornalista e crítico literário. Testemunhou a mudança política no país quando a República substituiu o Império e foi um grande comentador e relator dos eventos político-sociais de sua época.

Nascido no Morro do Livramento, Rio de Janeiro, de uma família pobre, mal estudou em escolas públicas e nunca frequentou universidade. Os biógrafos notam que, interessado pela boémia e pela corte, lutou para subir socialmente abastecendo-se de superioridade intelectual. Para isso, assumiu diversos cargos públicos, passando pelo Ministério da Agricultura, Ministério do Comércio e Ministério das Obras Públicas, e conseguindo precoce notoriedade em jornais onde publicava suas primeiras poesias e crônicas. Em sua maturidade, reunido a colegas próximos, fundou e foi o primeiro presidente unânime da Academia Brasileira de Letras.

Sua extensa obra constitui-se de 9 romances e peças teatrais, 200 contos, 5 coletâneas de poemas e sonetos, e mais de 600 crônicas. Machado de Assis é considerado o introdutor do Realismo no Brasil, com a publicação de Memórias Póstumas de Brás Cubas (1881). Este romance é posto ao lado de todas suas produções posteriores, Quincas Borba, Dom Casmurro, Esaú e Jacó e Memorial de Ayres, ortodoxamente conhecidas como pertencentes a sua segunda fase, em que se notam traços de pessimismo e ironia, embora não haja rompimento de resíduos românticos. Dessa fase, os críticos destacam que suas melhores obras são as da Trilogia Realista. Sua primeira fase literária é constituída de obras como Ressurreição, A Mão e a Luva, Helena e Iaiá Garcia, onde notam-se características herdadas do Romantismo, ou "convencionalismo", como prefere a crítica moderna.

Sua obra foi de fundamental importância para as escolas literárias brasileiras do século XIX e do século XX e surge nos dias de hoje como de grande interesse acadêmico e público. Influenciou grandes nomes das letras, como Olavo Bilac, Lima Barreto, Carlos Drummond de Andrade, John Barth, Donald Barthelme e outros.

Em seu tempo de vida, alcançou relativa fama e prestígio pelo Brasil, contudo não desfrutou de popularidade exterior na época. Hoje em dia, por sua inovação e audácia em temas precoces, é frequentemente visto como o escritor brasileiro de produção sem precedentes, de modo que, recentemente, seu nome e sua obra têm alcançado diversos críticos, estudiosos e admiradores do mundo inteiro. Machado de Assis é considerado um dos grandes gênios da história da literatura, ao lado de autores como Dante Alighieri, William Shakespeare e Luís de Camões.[24]

Primeiros Anos

Machado de Assis nasceu no dia 21 de junho de 1839 no Morro do Livramento, Rio de Janeiro do Período Regencial, então capital do Império do Brasil. Seus pais foram Francisco José de Assis, um mulato que pintava paredes, e Maria Leopoldina da Câmara Machado, lavadeira açoriana. Ambos eram agregados da Dona Maria José de Mendonça Barrozo Pereira, esposa do falecido senador Bento Barroso Pereira, que abrigou seus pais e os permitiu morar junto com ela.

As terras do Livramento eram ocupadas pela chácara da família de Maria José e já em 1818 o terreno começou a ser loteado de tão imenso que era, dando origem à Rua Nova do Livramento. Maria José tornou-se madrinha do bebê e Joaquim Alberto de Sousa da Silveira, seu cunhado, tornou-se o padrinho, de modo que os pais de Machado de Assis resolveram homenagear os dois nomeando-o com seus nomes.

Nascera junto a ele uma irmã, que morreu jovem, aos 4 anos, em 1845. Iniciou seus estudos numa escola pública da região, mas não se mostrou interessado por ela. Ocupava-se também em celebrar missas, o que lhe fez conhecer o padre Silveira Sarmento, que, segundo certos biógrafos, se tornou seu mentor de latim e amigo.

Em seu folhetim Casa Velha, publicado de janeiro de 1885 a fevereiro de 1886 na revista carioca A Estação, e publicado pela primeira vez em livro em 1943 graças à Lúcia Miguel Pereira, Machado de Assis fornece descrição do que seria a casa principal e a capela da chácara do Livramento:

"A casa, cujo lugar e direção não é preciso dizer, tinha entre o povo o nome de Casa Velha, e era-o realmente: datava dos fins do outro século. Era uma edificação sólida e vasta, gosto severo, nua de adornos. Eu, desde criança, conhecia-lhe a parte exterior, a grande varanda da frente, os dois portões enormes, um especial às pessoas da família e às visitas, e outro destinado ao serviço, às cargas que iam e vinham, às seges, ao gado que saía a pastar. Além dessas duas entradas, havia, do lado oposto, onde ficava a capela, um caminho que dava acesso às pessoas da vizinhança, que ali iam ouvir missa aos domingos, ou rezar a ladainha aos sábados."

Como já citado, a região sofria forte influência da igreja católica, de modo que a vizinhança frequentava suas missas. A casa era "uma espécie de vila ou fazenda", onde Machado de Assis passou sua infância. Nesta época, José de Alencar tinha apenas 10 anos de idade. Três anos antes do nascimento de Machado de Assis, Domingos José Gonçalves de Magalhães publicava Suspiros Poéticos e Saudades, obra que trazia os ideais do Romantismo para a literatura brasileira.

Quando Machado de Assis tinha apenas um ano de idade, em 1840, decretava-se a maioridade de Dom Pedro II, tema que viria a tratar anos mais tarde em Dom Casmurro.

Ao completar 10 anos, Machado de Assis tornou-se órfão de mãe, e o pai viúvo tão logo perdera a esposa casou-se com Maria Inês da Silva em 18 de junho de 1854, que cuidaria do garoto quando Francisco viesse a morrer um tempo depois. Segundo escrevem alguns biógrafos, a madrasta confeccionava doces numa escola reservada para meninas e Machado de Assis teve aulas no mesmo prédio, enquanto à noite estudava língua francesa com um padeiro imigrante. Certos biógrafos notam seu imenso e precoce interesse e abstração por livros.

Jornais, Poemas e Óperas

Tudo indica que Machado de Assis evitou o subúrbio carioca e procurou a subsistência no centro da cidade. Com muitos planos e espírito aventureiro, fez algumas amizades e relacionamentos. Em 1854, publicou seu primeiro soneto, dedicado à "Ilustríssima Senhora D.P.J.A", assinando como "J. M. M. Assis", no Periódico dos Pobres. No ano seguinte, passou a frequentar a livraria do jornalista e tipógrafo Francisco de Paula Brito. Paula Brito era um humanista e sua livraria, além de vender remédios, chás, fumo de rolo, porcas e parafusos, também servia como ponto de encontro da sua Sociedade Petalógica (peta=(ê), s. f. 1. Mentira, patranha). Um tempo mais tarde, Machado de Assis se referiria à Sociedade da seguinte forma:

"Lá se discutia de tudo, desde a retirada de um ministro até a pirueta da dançarina da moda, desde o dó do peito de Tamberlick até os discursos do Marquês do Paraná."

No dia 12 de janeiro de 1855, Francisco de Paula Brito publicou os poemas Ela e A Palmeira na Marmota Fluminense, revista bimensal do livreiro. Estes dois versos, reunidos junto àquele soneto para a Dona Patronilha, fazem parte da primeira produção literária de Machado de Assis.

Aos dezessete anos, foi contratado como aprendiz de tipógrafo e revisor de imprensa na Imprensa Nacional, onde foi protegido e ajudado por Manuel Antônio de Almeida (que anos antes havia publicado sua magnum opus Memórias de um Sargento de Milícias), que o incentivou a seguir a carreira literária. Machado de Assis trabalhou na Imprensa Oficial de 1856 a 1858. No fim deste período, a convite do poeta Francisco Otaviano, passou a colaborar para o Correio Mercantil, importante jornal da época, escrevendo crônicas e revisando textos.

Durante esta época o jovem já frequentava teatros e outros meios artísticos. Em novembro de 1859, estreava Pipelet, ópera com libreto de sua autoria baseada em The Mysteries of Paris de Eugène Sue e com música de Ermanno Wolf-Ferrari. Escreveu ele sobre a apresentação:

"Abre-se segunda-feira, a Ópera Nacional com o Pipelet, ópera em actos, música de Ferrari, e poesia do Sr. Machado de Assis, meu íntimo amigo, meu alter ego, a quem tenho muito affecto, mas sobre quem não posso dar opinião nenhuma."

Pipelet não agrada consideravalmente o público e os folhetinistas ignoram-na. Gioacchino Giannini, que dirigiu a orquestra da ópera, sentiu-se contrariado com a orquestra e escreveu num artigo:

"Não falaremos do desempenho de Pipelet. Isso seria enfadonho, horrível e espantoso para quem o viu tão regularmente no Teatro de São Pedro."

O final da ópera era melancólico, com o enterro agonizante do personagem Pipelet. Machado de Assis, em 1859, escreveu que "o desempenho da mesma maneira que o primeiro, fez nutrir esperança de uma boa companhia de canto."

De fato, o jovem nutria interesse na campanha de construção da Ópera Nacional. No ano seguinte a de Pipelet, produziu um libreto chamado As Bodas de Joaninha, entretanto sua repercussão foi nula. Anos mais tarde, registraria a nostalgia do folhetinismo de sua juventude.

Crisálidas, Teatros e Política

Aos 21 anos de idade Machado de Assis já era uma personalidade considerada entre as rodas intelectuais cariocas. A esta altura já era conhecido por Quintino Bocaiúva, que o convidou para o Diário do Rio de Janeiro, onde Machado de Assis trabalhou intensamente como repórter e jornalista de 1860 a 1867, com Saldanha Marinho supervisionando-o. Colaborou para o Jornal das Famílias sob pseudônimos: Job, Vitor de Paula, Lara, Max, e para a Semana Ilustrada, assinando seu nome ou pseudos, até 1857.

Quintino Bocaiúva admirava o gosto de Machado de Assis pelo teatro, mas considerava suas obras destinadas à leitura e não à encenação. Com a morte do pai, Machado de Assis lhe dedica a coletânea de poesias Crisálidas:

"À Memória de Francisco José de Assis e Maria Leopoldina Machado de Assis, meus Pais."

Em 1865, Machado de Assis havia fundado uma sociedade artístico-literária chamada Arcádia Fluminense, onde tivera a oportunidade de promover saraus com leitura de suas poesias e estreitar contato com poetas e intelectuais da região. Com José Zapata y Amat, produziu o hino Cantada da Arcádia especialmente para a sociedade.

Em 1866, escreveu no Diário do Rio de Janeiro: "A fundação da Arcádia Fluminense foi excelente num sentido: não cremos que ela se propusesse a dirigir o gosto, mas o seu fim decerto que foi estabelecer a convivência literária, como trabalho preliminar para obra de maior extensão."

Neste ano, Machado de Assis escrevia crítica teatral e, segundo Almir Guilhermino, aprendeu a língua grega para se familiarizar cedo com Platão, Sócrates e o Teatro Grego. De acordo com Valdemar de Oliveira, Machado de Assis era "rato de coxia" e frequentador de rodas teatrais junto com José de Alencar, Joaquim Manuel de Macedo, e outros.

No ano seguinte, 1867, subiu a escala funcional como burocrata, e no mesmo ano foi nomeado diretor-assistente do Diário Oficial pelo Dom Pedro II. Com a ascensão do Partido Liberal pelo país, Machado de Assis acreditava que seria lembrado por seus amigos e que receberia um cargo público que melhoraria sua qualidade de vida, contudo foi em vão. À época de seu serviço no Diário do Rio de Janeiro, teve seus ideais combativos com idéias progressivas. Por conta disso seu nome foi anunciado como candidato a deputado pelo Partido Liberal do Império - candidatura que logo retirou por querer comprometer sua vida somente às letras. Para sua surpresa, a ajuda veio novamente de um ato de Dom Pedro II, com a nomeação para o cargo de assistente do diretor, e que, mais tarde, em 1888, lhe condecoraria como oficial da Imperial Ordem da Rosa.

A esta altura já era amigo de José de Alencar, que lhe ensinou um pouco de língua inglesa. Ambos os autores, no mesmo ano, recepcionaram o ambicioso e famoso poeta Castro Alves, vindo da Bahia, na imprensa da Corte do Rio de Janeiro. Machado de Assis diria sobre o poeta baiano:

"Achei uma vocação literária cheia de vida e robustez, deixando antever nas magnificências do presente as promessas do futuro."

Os direitos autorais por suas publicações e crônicas em jornais e revistas, acrescido da promoção que recebera da Princesa Isabel em 7 de dezembro de 1876 como chefe de seção, rendeu-lhe 5.400$000 anuais. O menino nascido no morro havia subido de vida. Graças à sua nova posição, mudou do centro da cidade para o Bairro do Catete, na Rua do Catete nº 206, onde morou durante 6 anos, dos 37 até seus 43.

Carolina Augusta Xavier de Novais
Noivado, Cartas e Relacionamento

No mesmo ano ao da reunião com o poeta, Machado de Assis teria um outro encontro que mudou de vez a sua vida. Um de seus amigos, Faustino Xavier de Novaes (1820-1869), poeta residente em Petrópolis, e jornalista da revista O Futuro, estava mantendo sua irmã, a portuguesa Carolina Augusta Xavier de Novais, desde 1866 em sua casa, quando ela chegou ao Rio de Janeiro do Porto. Segundo os biógrafos, veio a fim de cuidar de seu irmão que estava enfermo, enquanto outros dizem que foi para esquecer uma frustração amorosa.

Carolina despertara a atenção de muitos cariocas. Muitos homens que a conheciam achavam-na atraente e extremamente simpática. Com o poeta, jornalista e dramaturgo Machado de Assis não fora diferente. Tão logo conhecera a irmã do amigo, logo apaixonou-se. Até essa data, o único livro publicado de Machado de Assis era o poético Crisálidas (1864) e também havia escrito a peça Hoje Avental, Amanhã Luva (1860), ambos sem muita repercussão.

Carolina era cinco anos mais velha que ele, deveria ter uns trinta e dois anos na época do noivado. Os irmãos de Carolina, Miguel e Adelaíde (Faustino já havia morrido devido a uma doença que o levou à insanidade), não concordaram que ela se envolvesse com um mulato. Contudo, Machado de Assis e Carolina Augusta se casaram no dia 12 de Novembro de 1869.

Diz-se que Machado de Assis não era um homem bonito, mas era culto e elegante. Estava apaixonado por sua Carola, apelido dado pelo marido. Entusiasmava a esposa com cartas românticas e que previam o destino dos dois. Durante o noivado, em 2 de março de 1869, Machado de Assis havia escrito uma carta íntima que dizia:

"...depois, querida, ganharemos o mundo, porque só é verdadeiramente senhor do mundo quem está acima das suas glórias fofas e das suas ambições estéreis."

Suas cartas endereçadas a Carolina são todas assinadas como Machadinho. Outra carta justifica uma certa complexidade no começo de seu relacionamento: "Sofreste tanto que até perdeste a consciência do teu império; estás pronta a obedecer; admiras-te de seres obedecida", o que é um mistério para os recentes estudiosos das correspondências do autor. A carta do primeiro trecho aqui transposto traz uma alusão às flores que a esposa lhe teria mandado e ele, agradecido, teria as beijado duas vezes como se beijasse a própria Carolina.

Noutro parágrafo, diz: "Tu pertences ao pequeno número de mulheres que ainda sabem amar, sentir e pensar". De fato, Carolina era extremamente culta. Apresentou a Machado de Assis os grandes clássicos portugueses e diversos autores da língua inglesa. A sobrinha-bisneta de Carolina, Ruth Leitão de Carvalho Lima, sua única herdeira, revelou recentemente que, frequentemente, a esposa retificava os textos do marido durante sua ausência. Conta-se que muito provavelmente tenha influenciado no modo do marido escrever e, consecutivamente, tenha contribuído para a transição de sua narrativa convencional à realista (ver Trilogia Realista).

Não tiveram filhos. No entanto, acredita-se que tinham uma cadela Tenerife (também conhecidos como Bichon Frisé) chamada Graziela e que certa vez se perdeu entre as ruas do bairro e, atônitos, foram achá-la dias depois na rua Bento Lisboa, no Catete.

Carolina Augusta Xavier de Novais (44  anos)
Casamento, Histórias e Lendas

Depois do Catete, foram morar na casa nº 18 da Rua Cosme Velho (a residência mais famosa do casal), onde ficariam até a morte. Do nome da rua surgira o apelido Bruxo do Cosme Velho, dado por conta de um episódio onde Machado de Assis queimava suas cartas em um caldeirão, no sobrado da casa, quando a vizinhança certa vez o viu e gritou: "Olha o Bruxo do Cosme Velho!". Essa história acrescida à da cachorra, para alguns biógrafos, não passa de lenda.

Machado de Assis e Carolina Augusta teriam vivido uma "vida conjugal perfeita" por longos 35 anos. Quando os amigos certa vez desconfiaram de uma traição por parte de Machado de Assis, seguiram-no e acabaram por descobrir que ele ia todas as tardes avistar a moça do quadro de A Dama do Livro (1882), de Roberto Fontana. Ao saberem que Machado de Assis não podia comprá-lo, deram-lhe de presente, o que o deixou particularmente feliz e grato.

No entanto, talvez a "única nuvem negra a toldar a sua paz doméstica" tenha sido um possível caso extraconjugal que tivera durante a circulação de Memórias Póstumas de Brás Cubas.

Em 18 de novembro de 1902, reverte a atividade na Secretaria da Indústria do Ministério da Viação, Indústria e Obras Públicas, como diretor-geral de Contabilidade, por decisão do ministro da Viação, Lauro Severiano Müller.

Em 20 de outubro de 1904, Carolina morre aos 70 anos de idade. Foi um baque na vida de Machado de Assis, que passou uma temporada em Nova Friburgo. Segundo o biógrafo Daniel Piza, Carolina comentava com amigas que Machado de Assis deveria morrer antes para não sofrer caso ela partisse cedo. Seu casamento com Carolina fez com que ela estimulasse seu lado intelectual deficiente pelos poucos estudos a que tinha realizado na juventude e trouxe-lhe a serenidade emocional que ele tanto precisava por ter saúde frágil.

As três heroínas de Memorial de Ayres chamam-se Carmo, Rita e Fidélia, o que estudiosos crêem representar três aspectos da Carolina, a mãe, irmã e esposa. Machado de Assis também lhe dedicou seu último soneto, A Carolina, em que Manuel Bandeira afirmaria, anos mais tarde, que é uma das peças mais comoventes da literatura brasileira. De acordo com alguns biógrafos o túmulo de A Carolina era visitado todos os domingos por Machado de Assis.

Academia Brasileira de Letras


Inspirados na Academia Francesa, Medeiros e Albuquerque, Lúcio de Mendonça, e o grupo de intelectuais da Revista Brasileira idearam e fundaram, em 1897, junto ao entusiasmado e apoiador Machado de Assis, a Academia Brasileira de Letras, com o objetivo de cultuar a cultura brasileira e, principalmente, a literatura nacional.

Unanimente, Machado de Assis foi eleito primeiro presidente da Academia logo que ela havia sido instalada, no dia 28 de janeiro do mesmo ano. Como escreve Gustavo Bernardo:

"Quando se fala Machado fundou a Academia, no fundo o que se quer dizer é que Machado pensava na Academia. Os escritores a fundaram e precisaram de um presidente em torno do qual não houvesse discussão."

No discurso inaugural, Machado de Assis aconselhou aos presentes:

"Passai aos vossos sucessores o pensamento e a vontade iniciais, para que eles os transmitam também aos seus, e a vossa obra seja contada entre as sólidas e brilhantes páginas da nossa vida brasileira."

A Academia surgiu mais como um vínculo de ordem cordial entre amigos do que de ordem intelectual. No entanto, a ideia do instituto não foi bem aceita por alguns. Antônio Sales testemunhou numa página de reminiscência:

"Lembro-me bem que José Veríssimo, pelo menos, não lhe fez bom acolhimento. Machado, creio, fez a princípio algumas objeções."

Como presidente, Machado de Assis fazia sugestões, concordava com idéias, insinuava, mas nada impunha nem impedia aos companheiros. Era um acadêmico assíduo. Das 96 sessões que a Academia realizou durante a sua presidência, faltou somente a duas.

Em 1901, criou a Panelinha para a realização de festivos ágapes e encontros de escritores e artistas. De fato, a expressão Panelinha foi inventada destes encontros, onde os convidados eram servidos em uma panela de prata, motivo pelo qual o grupo passou a ser conhecido como Panelinha de Prata.

Machado de Assis devotou-se ao cargo de presidente da Academia durante 10 anos, até a sua morte. Como homenagem informal, ela passou a chamar-se "Casa de Machado de Assis". Hoje em dia a Academia abriga coleções de Olavo Bilac e Manuel Bandeira, e uma sala chamada de Espaço Machado de Assis, em homenagem ao autor, que se dedica a estudar sua vida e obra e que guarda objetos pessoais seus. Além disso, a Academia possui uma rara edição de 1572 de Os Lusíadas.

Estátua  na Academia Brasileira de Letras
Últimos Anos

Com a morte da esposa, entrou em profunda depressão, notada pelos amigos que lhe visitavam, e, cada vez mais recluso, encaminhou-se também para sua morte. Numa carta endereçada ao amigo Joaquim Nabuco, Machado de Assis lamenta que "foi-se a melhor parte da minha vida, e aqui estou só no mundo [...]"

Antes de sua morte, em 1908, e depois da morte da esposa, em 1904, Machado de Assis viu publicar suas últimas obras: Esaú e Jacó (1904), Memorial de Ayres (1908), e Relíquias da Casa Velha (1906). No mesmo ano desta última obra, escreveu sua última peça teatral, Lição de Botânica.

Em 1905, participou de uma sessão solene da Academia para a entrega de um ramo de carvalho de Tasso, remetido por Joaquim Nabuco. Com Relíquias, reuniu em livro mais algumas de suas produções, como também o soneto A Carolina, "preito de saudade à esposa morta."

Em 1907, dá início ao seu último romance, Memorial de Ayres, que é um livro norteado por uma poesia leve e tranquila e tendente à saudade.

Mesmo abalado, continuava lendo, trabalhando, estudando, frequentando algumas rodas de amigos. Em seus últimos anos, teria iniciado estudos da língua grega, embora outros autores apontam que tentava se familiarizar com ela desde cedo.

No primeiro dia de julho de 1908, Machado de Assis entra em licença para tratamento de saúde, e nunca mais retorna ao Ministério da Viação. Personalidades ilustres, como o Barão do Rio Branco, e intelectuais ou colegas, vão visitá-lo. Em um documento manuscrito do mesmo ano, Mário de Alencar escreve, amargamente:

"Venho da casa de Machado de Assis, por onde estive todo o sábado, ontem e hoje, e agora estou sem ânimo de continuar a ver-lhe o sofrimento. Tenho receio de assistir ao fim que eu desejo não tarde. Eu, seu amigo e seu admirador grande, desejo que ele morra, mas não tenho coragem de o ver morrer."

Em 1906, escreve seu último testamento. O primeiro, escrito em 30 de junho de 1898, deixava todos seus bens à esposa Carolina Augusta. Com a morte desta, pensou numa partilha amigável com a irmã de Carolina, Adelaide Xavier de Novais, e sobrinhos, efetuando este segundo e último testamento em 31 de maio de 1906, instituindo sua herdeira única "a menina Laura", filha de sua sobrinha Sara Gomes da Costa e de seu esposo major Bonifácio Gomes da Costa, nomeado primeiro testamenteiro. Em suas últimas semanas, Machado de Assis escreveu cartas a Salvador de Mendonça (7 de setembro de 1908), a José Veríssimo (1 de setembro de 1908), a Mário de Alencar (6 de agosto de 1908), a Joaquim Nabuco (1 de agosto de 1908), a Oliveira Lima (1 de agosto de 1908), entre outros, demonstrando ainda estar lúcido.

Morte

Estudantes e amigos, entre eles Euclides da Cunha, saem da Academia Brasileira de Letras conduzindo o caixão até o Cemitério São João Batista, 1908.

Às 3h20m de 29 de setembro de 1908 na casa de Cosme Velho, Machado de Assis morre aos sessenta e nove anos de idade com uma Úlcera Canceriosa na Boca. Sua certidão de óbito relata que morrera de Arteriosclerose Generalizada, incluindo Esclerose Cerebral, o que, para alguns, figura questionável pelo motivo de mostrar-se lúcido nas últimas cartas já relatadas.

Ao geral, teve uma morte tranquila, cercado pelos companheiros mais íntimos que havia feito no Rio de Janeiro: Mário de Alencar, José Veríssimo, Coelho Neto, Raimundo Correia, Rodrigo Otávio e Euclides da Cunha. Este último relatou, no Jornal do Comércio, no mesmo ano do falecimento:

"Na noite em que faleceu Machado de Assis, quem penetrasse na vivenda do poeta, em Laranjeiras, não acreditaria que estivesse tão próximo o desenlace de sua enfermidade". Euclides da Cunha ainda escreveu: "Na sala de jantar, para onde dizia o quarto do querido mestre, um grupo de senhoras – ontem meninas que ele carregara no colo, hoje nobilíssimas mães de família – comentavam-lhe os lances encantadores da vida e reliam-lhe antigos versos, ainda inéditos, avaramente guardados em álbuns caprichosos."

Em nome da Academia Brasileira de Letras, Ruy Barbosa encarregou-se de fazer-lhe o elogio fúnebre. Em nome do governo, o então ministro do interior Tavares de Lyra discursou em pesar da morte do escritor.

O velório ocorreu no Syllogeu Brasileiro da Academia. Seu corpo no caixão, como relatara Nélida Piñon, "cercava-se de flores, círios de prata e lágrimas discretas". O rosto estava coberto por um lenço de cambraia e eram muitas pessoas presentes. Diversas pessoas, entre elas vizinhos, e companheiros de rodas intelectuais, ou amigos, ou colegas com que trabalhou, encheram o saguão. No mesmo discurso, Nélida Piñon comparou a despedida do autor como Paris que seguia o cortejo de Victor Hugo. De fato, uma multidão saía da Academia e sustentava o caixão do autor até o Cemitério São João Batista, enquanto outros acompanhavam de carro. Segundo sua vontade, foi enterrado na sepultura da esposa Carolina Augusta Xavier de Novais, jazigo perpétuo 1359.

A Gazeta de Notícias e o Jornal do Brasil deram uma grande cobertura à morte, ao funeral e ao enterro de Machado de Assis. Em Lisboa, todos os jornais da cidade publicaram uma biografia de Machado de Assis, anunciando sua morte.

Em 21 de abril de 1999, os restos mortais do casal foram transladados para o Mausoléu da Academia, no mesmo cemitério, onde também estão os restos de personalidades como João Cabral de Melo Neto, Darcy Ribeiro e Aurélio Buarque de Holanda.

Fonte: Wikipédia

Barão de Capanema

GUILHERME SCHÜCH
(84 anos)
Naturalista, Engenheiro e Físico

☼ Ouro Preto, MG (17/01/1824)
┼ Rio de Janeiro, RJ (26/08/1908)

Guilherme Schüch, posteriormente Guilherme Capanema, primeiro e único Barão de Capanema, foi um naturalista, engenheiro e físico brasileiro, nascido em Ouro Preto, MG, no dia 17/01/1824. Foi o responsável pela instalação da primeira linha telegráfica do Brasil. Era bisavô do político Gustavo Capanema.

Filho do austríaco Rochus Schüch, natural da Morávia, que veio para o Brasil em 1817 como integrante da comitiva da Princesa Leopoldina, e da suiça Josefina Roth, que seu pai conhecera na colônia de Nova Friburgo, RJ.

Guilherme Schüch casou-se com Eugênia Amélia Delamare, nascida em Havre de Grace, França, no dia 12/07/1824, filha de Charles Robert Delamare e Reine Germaine Virginie, falecida no Rio de Janeiro no dia 12/04/1907. O casal teve três filhos: Paulina, Guilherme e Gustavo S. Capanema, médico e político.

Em 1841 foi enviado para a Europa, aos cuidados do Visconde de Barbacena, para estudar engenharia. Depois de 60 dias, pois a navegação se fazia à vela, chegou à Inglaterra, onde o ministro brasileiro Marquês Lisboa o fez seguir para Antuérpia e dali diretamente para Munique. Ali o ilustre botânico Carl Friedrich Philipp von Martius e o zoólogo Johann Baptiste von Spix lhe prestaram bons serviços, encaminhando-o nos seus estudos.

A viagem de Antuérpia a Munique foi feita de carruagem, pois ainda não existiam na época estradas de ferro. Concluiu o curso na Escola Politécnica de Viena. Formou-se doutor em matemática e ciência pela antiga Escola Militar do Rio de Janeiro.

De volta ao Brasil foi responsável pela fundação, em 11/05/1852, do Telégrafo Nacional, sendo seu primeiro diretor.

Guilherme Schüch frequentemente visitava o Imperador, que insistia por essas visitas para aperfeiçoar-se, dizia ele, na conversação da língua alemã.

Em uma das visitas, Manuel de Araújo Porto Alegre (Barão de Santo Angelo), informou ao Imperador que o Drº Azeredo Coutinho era de opinião que o Drº Guilherme Schüch devia ser nomeado para uma das cadeiras vagas da Escola Central, indicando a de mineralogia. O coronel Pedro de Alcântara Bellegarde, comandante da Escola Central, opinou para que sua nomeação fosse feita, devendo ela ser confirmada no fim do ano, se assim decidisse a congregação.

Dom Pedro II mandou que o Drº Guilherme Schüch se apresentasse ao Ministro da Guerra. Havia, porém, um impedimento: é que a lei dispunha que o magistério só poderia ser exercido por engenheiros formados pela Escola Central. O Ministro da Guerra resolveu o caso lembrando que o Drº Guilherme Schüch deveria ser sujeito a um exame do conjunto de matérias, inclusive arte militar. O Drº Guilherme Schüch deliberou, então, estudar a arte militar e para isto adquiriu os livros necessários e foi passar uma temporada na fazenda da família Paes Leme.

De volta, sujeitou-se aos exames exigidos pelo Ministro da Guerra, nos quais foi aprovado e em seguida nomeado lente substituto da Escola Central.

Engenheiro militar, na década de 1850 conseguiu fabricar munição para os fuzis Dreyse utilizados na Guerra Contra Oribe e Rosas, segredo militar prussiano. Também realizou diversas experiências com foguetes, tendo fabricado alguns foguetes de Halle por volta de 1852.

Em 1855 fez várias experiências com os foguetes de Halle junto com José Mariano de Mattos. No mesmo ano foi enviado à Bélgica com ordens de "comprar 1200 fuzis, 1000 clavinas com baionetas, sabres, e 500 clavinas sem baionetas".

Membro da Sociedade Velosiana de Ciências Naturais, onde participava da comissão de botânica, sugeriu sua fusão ao Instituto Histórico e Geográfico do Brasil, o que não aconteceu. Tendo a sociedade se desmembrado, parte dos sócios, incluindo Guilherme Schüch, então fundou a Sociedade Palestra Científica do Rio de Janeiro, que teve sua primeira sessão em 25/06/1856.

Participou da comissão científica do Instituto Histórico e Geográfico do Brasil, criada em 1856, onde foi diretor da Seção Geológica e Mineralógica.

Em 1863 foi enviada à Real Fábrica de Ferro São João do Ipanema, em Iperó, perto de Sorocaba, tendo revitalizado-a. Inventor, desenvolveu também um formicida contra a saúva.

Notando o Drº Guilherme Schüch a dificuldade que havia em Minas Gerais de pronunciarem seu nome alemão, resolveu adotar o sobrenome de "Capanema", pertencente a uma serra e povoado daquela província, e nas vizinhanças de Ouro Preto.

Em 1877, o botânico João Barbosa Rodrigues homenageou Guilherme Schüch de Capanema, seu amigo, dando o nome de Capanemia a um novo gênero de orquídeas descrito em seu livro Genera Et Species Orchidearum Novarum.

Recebeu o título de Barão em 26/02/1881 por decreto de Dom Pedro II. O engenheiro Guilherme Schüch comandou a instalação das primeiras redes telegráficas do norte do Brasil.

Posteriormente, em homenagem à sua mediação no conflito entre Brasil e Argentina pela posse região do Rio Iguaçu, uma localidade do Paraná recebeu o nome de Capanema. Assim, configurou-se um caso em que um topônimo originou um antropônimo que, por sua vez, foi posteriormente motivo para a denominação de um outro nome de lugar.

Em 1889 com a Proclamação da República se aposentou da direção do Telégrafo Nacional.

Em 1903 foi nomeado diretor do Jardim Botânico do Rio de Janeiro.

Foi também professor de física e de mineralogia na Escola Militar.

Recipiente da comenda da Imperial Ordem da Rosa e da Imperial Ordem de Cristo, além de ter sido membro do Instituto Histórico e Geográfico do Brasil.

Fonte: Wikipédia

Plácido de Castro

JOSÉ PLÁCIDO DE CASTRO
(34 anos)
Político e Militar

* São Gabriel, RS (09/09/1873)
+ Seringal Benfica - Vila Rio Branco, AC (11/08/1908)

Plácido de Castro foi um político e militar, líder da Revolução Acreana e que governou o Estado Independente do Acre.

Era filho do capitão Prudente da Fonseca Castro, veterano das campanhas do Uruguai e Paraguai, e de Zeferina de Oliveira Castro.

Descendente de família cristã, recebeu no seu batismo o nome do avô José Plácido de Castro, o major paulista que, após combater na Guerra da Cisplatina, trocou o chão paulista pelo do Rio Grande do Sul.

Um de seus bisavós, Joaquim José Domingues, foi companheiro de Borges do Canto, na conquista das Missões em 1801, quando este território foi incorporado ao território brasileiro.


Carreira Militar e Revolução Federalista

Plácido de Castro começou a trabalhar aos 12 anos, quando perdeu o pai, para sustentar a mãe e seus seis irmãos. Aos 16 anos, ingressou na vida militar chegando a 2º sargento do 1° Regimento de Artilharia de Campanha, mais conhecido como "Boi de Botas", em São Gabriel, hoje quartel do 6° Batalhão de Engenharia de Combate.

Quando foi deflagrada a Revolução FederalistaPlácido de Castro encontrava-se na Escola Militar do Rio Grande do Sul, o velho Casarão da Várzea. Um grupo de oficiais e cadetes pediu o fechamento da escola ao presidente Floriano Peixoto, para que pudessem participar, com as forças legais, no combate à Revolução FederalistaPlácido de Castro discordava da maioria: acreditava que Deodoro da Fonseca, o presidente anterior, não deveria ter sido substituído por Floriano Peixoto. Deveria ter havido eleições diretas e não a posse - como ocorreu - do então vice-presidente.

Plácido de Castro lutou na Revolução ao lado dos "Maragatos", chegando ao posto de major. Com a derrota para os "Pica-Paus", que defendiam o governo Floriano PeixotoPlácido de Castro  decide abandonar a carreira militar e recusou a anistia oferecida aos envolvidos na revolução.

Mudou-se para o Rio de Janeiro, onde foi inspetor de alunos do Colégio Militar do Rio de Janeiro. Algum tempo depois, foi fiscal nas docas do Porto de Santos, em São Paulo e, voltando ao Rio de Janeiro, obteve o título de agrimensor. Inquieto e à procura de desafios, viajou para o Acre, em 1899, para tentar a sorte como agrimensor.


Acre e Revolução Acreana

Existia no Acre, desde os tratados de 1750 e 1777 uma questão territorial de limites com a Bolívia. Por esses tratados, o Acre até então pertencia à Bolívia. Porém, com o ciclo da borracha, muitos brasileiros se fixaram na região. Por causa disso, houve impasses entre o Brasil e a Bolívia a respeito do território.

A Bolívia alegava que os brasileiros invadiram uma região que era dela, e o governo brasileiro não reconhecia a região. Os brasileiros que ali habitavam (vindos de todos os cantos do país, principalmente do Nordeste) não aceitavam a situação e proclamaram o Estado Independente do Acre (República do Acre), em 1899, comandados pelo espanhol Luis Gálvez Rodríguez de Arias. Sabendo disso, o governo brasileiro enviou tropas que dissolveram a República do Acre, e Luis Gálvez foi deposto.

Nessa época, a Bolívia organizou uma pequena missão militar para ocupar a região. Ao chegar em Porto Acre, ela foi impedida pelos seringueiros brasileiros de continuar o seu deslocamento. Os brasileiros receberam apoio do governador do Amazonas, Silvério Néri, que enviou uma nova expedição, a Expedição dos Poetas, sob o comando do jornalista Orlando Correa Lópes.

Embora apoiasse a causa revolucionária, Plácido de Castro não participou da expedição, antevendo seu fracasso. E foi o que realmente aconteceu: Logo após os "Poetas" proclamarem novamente o Estado Independente, foram derrotados pelas tropas bolivianas.

Em meio disso tudo, Luis Gálvez - que estava refugiado no Recife - divulgou nos jornais de Manaus sobre um suposto contrato entre a Bolívia e os Estados Unidos, para o arrendamento do Acre.


O contrato arrendava, por 30 anos, a região acreana, destinando 60% dos lucros para a Bolívia e os 40% restantes para o Bolivian Syndicate, um conglomerado anglo-americano sediado em Nova York e presidido pelo filho do então presidente dos Estados Unidos na época, William McKinley.

O acordo também autorizava o emprego de força militar como garantia de seus direitos na região, onde os Estados Unidos se comprometiam a fornecer todo o armamento que necessitava e a opção preferencial de compra do território arrendado, caso viesse a ser colocado à venda. A Bolívia também se comprometia em, no caso de uma guerra, entregar a região aos Estados Unidos.

Plácido de Castro estava demarcando o Seringal Victoria, quando ficou sabendo do acordo pelos jornais, e viu nisso uma ameaça à integridade do Brasil. Enquanto arregimentava combatentes, o governo do Brasil reconheceu os direitos bolivianos sobre o Acre. Iniciou então um movimento armado contra a Bolívia, pela posse da região.

O governo boliviano enviou um contigente de 400 homens, comandados por Rosendo RojasPlácido de Castro, com 60 seringueiros, enfrentou a tropa, mas foi fortificado no Seringal Empreza, hoje Rio Branco, desta vez saindo vencedor.

Depois, venceu guarnições bolivianas em Seringal Empreza e Puerto Alonso, atual Porto Acre, onde se renderam o general Ibañes e seus soldados. O presidente da Bolívia, general José Manuel Pando Solares, decide então acabar com a revolta e, no comando das tropas, vai ao ataque de Plácido de Castro, sem sucesso.

Plácido de Castro, que na época tinha 27 anos de idade, liderou uma forte revolução com mais de 30 mil homens, vencendo as tropas bolivianas, com quase 100 mil soldados oficiais, e proclamando, pela terceira e última vez, o Estado Independente do Acre, tornando-se presidente do novo país.

Em 1903, através do Tratado de Petrópolis, o Acre foi anexado ao Brasil e o Estado Independente do Acre foi dissolvido.

Em 1906, Plácido de Castro foi nomeado governador do Território do Acre. Depois, viajou para o Rio de Janeiro, para visitar a família. Na então capital federal, ofereceram-lhe os galões de coronel da Guarda Nacional, mas Plácido de Castro rejeitou. Quando de seu retorno ao Acre, foi nomeado prefeito da Região do Alto Acre.


Morte

Em 0908/1908, Plácido de Castro se dirigia à sua propriedade, ao lado de seu irmão Genesco de Castro, quando foi ferido numa emboscada que lhe prepararam mais de uma dezena de jagunços, próximo à propriedade e sob a liderança de Alexandrino José da Silva, o sub-delegado das tropas acreanas na Revolução Acreana.

Rumores da época diziam que coronel Alexandrino José da Silva estava insatisfeito com a sua posição no poder do Acre, um posto bem menor que o de Plácido de Castro, e por isso armou a emboscada.

No dia 11/08/1908, ardendo em febre, implorou ao irmão, Genesco, de olhos fechados, na presença de vários companheiros:

"Logo que puderes, retira daqui os meus ossos. Direi como aquele general africano: 'Esta terra que tão mal pagou a liberdade que lhe dei, é indigna de possuí-los.' Ah, meus amigos, estão manchadas de lodo e de sangue as páginas da história do Acre... tanta ocasião gloriosa para eu morrer..."

O herói rio-grandense foi covardemente trucidado, aos 34 anos de idade, ficando esse crime para sempre impune. Próximo à propriedade do seu assassino, erguido pelos fiéis amigos de Plácido de Castro, há um pedaço de mármore assinalando o local da emboscada. Seus ossos, porém, foram sepultados logo à entrada do Cemitério da Santa Casa de Misericórdia, em Porto Alegre. Na fronte do pedestal, a família fez questão de deixar gravados, um a um, nome e sobrenome dos seus catorze carrascos.


Homenagens

Demorou mais de um século para o Brasil fazer, finalmente, justiça a um dos seus mais bravos heróis.

Em 17/11/2004, Plácido de Castro - O Libertador do Acre, foi entronizado no Panteão da Pátria e da Liberdade Tancredo Neves e, teve seu nome escrito no Livro dos Heróis da Pátria como o mais novo herói brasileiro.

O Panteão da Pátria, construído entre 1985 e 1986, idealizado como um espaço para homenagear os heróis nacionais, está localizado na Praça dos Três Poderes, em Brasília.

Por ter sido um dos grandes responsáveis pela anexação do hoje estado do Acre ao Brasil, após a ação diplomática do Barão do Rio Branco no Tratado de Petrópolis, assinado em 17/11/1903, o intrépido gaúcho, reverenciado como um de seus maiores heróis, é o patrono do 4º Batalhão de Infantaria de Selva do Exército Brasileiro - Batalhão Plácido de Castro, sediado na capital do estado e integrante do Comando de Fronteira do Acre - e também, da Polícia Militar do Acre.

Em 1976, foi criado um novo município a cem quilômetros de Rio Branco que recebeu o nome de Plácido de Castro, em sua homenagem. Este município, por lei, foi considerado "Cidade-Irmã" de São Gabriel, cidade natal do heróico revolucionário.

A novela "Amazônia" (1991), de Luis Gálvez a Chico Mendes aborda a vida de Plácido de Castro, interpretado pelo ator Alexandre Borges.

Em 1973, quando do centenário de nascimento, foi inaugurado um busto em sua homenagem na Praça Nações Unidas, em Porto Alegre.

Fonte: Wikipédia