Joana Angélica

JOANA ANGÉLICA DE JESUS
(60 anos)
Abadessa, Escrivã e Vigária

* Salvador, BA (12/12/1761)
+ Salvador, BA (19/02/1822)

Joana Angélica foi uma religiosa concepcionista baiana, nascida no Brasil colônia, que morreu defendendo o Convento da Lapa em Salvador, BA, contra soldados portugueses.

Em meio aos conflitos ocorridos na Bahia durante as lutas pela Independência do Brasil, destacou-se a religiosa Joana Angélica de Jesus. Baiana, nascida em Salvador, em 12 de dezembro de 1761, Joana Angélica manifestou desde cedo inclinação pela vida religiosa. Seus pais José Tavares de Almeida e Catarina Maria da Silva acolheram de bom grado a vocação da filha.

Assim, aos 20 anos de idade, a jovem Joana Angélica entrava como franciscana para o Convento da Lapa com o nome de Sóror Joana Angélica, entrando na Ordem das Religiosas Reformadas de Nossa Senhora da Conceição. Após um ano de noviciado, aos 18 de maio de 1783, professava-se Irmã das Religiosas Reformadas de Nossa Senhora da Conceição.


Aceitou os votos de silêncio e, como monja enclausurada, jamais podiam vê-la. Atendia a todos através de um véu ou de uma cortina. Tendo atenção especial aos pobres e aos pestosos. Ajudou de modo a atender à Ordem e servir a Jesus. Assim, aceitou uma das mais difíceis tarefas: a de reeducar mulheres equivocadas, as chamadas "arrependidas"

A vida dedicada à oração e caridade fez de Joana Angélica, exemplo edificante entre as irmãs do mosteiro. No Convento atuou em diversas funções, dentre as quais se destacam: a de escrivã (1797), vigária (1812-1814), abadessa (1815) e prelada (1819). Na época das lutas pela independência, ocupava pela segunda vez a direção do Convento da Lapa, quando as tropas portuguesas invadiram o local e deu-se o notório acontecimento. 

Resultado dos desentendimentos entre brasileiros e portugueses quanto a liderança do Governo das Armas, para o qual foi indicado o general português Inácio Luiz Madeira de Melo, o conflito passou a ser resolvido pelas armas. Assim, no dia 19 de fevereiro iniciou-se com a ofensiva portuguesa. Os lusitanos atacaram o Forte de São Pedro e, quase ao mesmo tempo, os quartéis da Palma e da Mouraria, onde se encontravam oficiais e soldados brasileiros.

Nessa investida ao Quartel da Mouraria, um grupo de soldados tentou invadir o recolhimento, do qual Joana Angélica era Abadessa. Os portugueses acreditavam que no claustro, vizinho ao quartel, houvesse sediciosos e armas escondidas.

Joana Angélica de Jesus  mártir da  Independência do Brasil
Ataque à Casa de Deus

Sólida construção colonial, ainda hoje existente na capital baiana, o Convento da Lapa compõe-se de uma clausura, cuja principal entrada é guarnecida por um portão de ferro.

Os gritos da soldadesca são ouvidos no interior. Imediatamente a Abadessa, pressentindo certamente objetivos da profanação da castidade de suas internas, ordena que as monjas fujam pelo quintal.

O portão é derrubado e, num gesto heroico, Joana Angélica abre a segunda porta, postando-se como último empeço à inusitada invasão.

Conta a tradição, reproduzida por diversos historiadores, que então exclamou:

"Para trás, bandidos. Respeitem a Casa de Deus. Recuai, só penetrareis nesta Casa passando por sobre o meu cadáver!"
(Joana Angélica)

Abrindo os braços, num gesto comovente, tenta impedir que os invasores passem. É, então, assassinada a golpes de baioneta. Penetrando no sagrado recinto, onde encontram apenas o velho capelão, padre Daniel da Silva Lisboa, a quem espancam a golpes de coronhas, deixando-o como morto.

A abadessa Sóror Joana Angélica faleceu pouco tempo depois, no dia 20 de fevereiro de 1822. Por sua coragem e determinação, hoje é lembrada como mártir da  Independência do Brasil. Para homenageá-la, a avenida ao lado do Convento da Lapa foi batizada com o seu nome.


Ana Néri

ANA JUSTINA FERREIRA NÉRI
(65 anos)
Enfermeira, Heroina e Patrona da Enfermagem

* Cachoeira, BA (13/12/1814)
+ Rio de Janeiro, RJ (20/05/1880)

Ana Néri foi uma enfermeira brasileira e foi a pioneira brasileira da enfermagem.

Era filha de José Ferreira de Jesus e de Luísa Maria das Virgens. Casou-se com capitão-de-fragata Isidoro Antônio Néri. O marido morreu em 1843, deixando-a com três filhos: Justiniano, Antônio Pedro e Isidoro Antônio Néri Filho. Dois filhos eram oficiais do Exército.

Tempos de Guerra

Em 1865, o Brasil formava a Tríplice Aliança com a Argentina e o Uruguai. Quando estourou a Guerra do Paraguai, os filhos de Ana Néri foram convocados, assim como dois de seus irmãos. Um sobrinho ofereceu-se como voluntário e também seguiu como soldado. Ver seus parentes indo à luta armada mexeu muito com a matriarca de 51 anos de idade. Tocada, escreveu ao presidente da província, cargo equivalente ao de governador nos dias de hoje. Requeria um posto na guerra como voluntária, alegando querer ficar perto dos filhos e atenuar o sofrimento dos combatentes como enfermeira, trabalho que dominava com muita propriedade. Aprendeu em um hospital local o ofício da enfermagem, ajudando sempre que podia, com muita presteza, em uma época em que não existiam cursos de formação para enfermeiros no país.

Entretanto, Ana Néri não esperou a resposta do presidente baiano. Viajou para o Rio Grande do Sul, principal base brasileira para os militares que seguiam para o front e tornava-se a primeira mulher brasileira a exercer a profissão oficialmente. Ajudava-lhe muito seus amplos conhecimentos de fitoterapia, a arte de utilizar matérias-primas naturais para fins medicinais.

Na frente de batalha, Ana Néri demonstrou muita garra, coragem e amor ao próximo, ajudando muitos feridos. Vários puderam voltar para suas famílias por terem sido prontamente tratados pela enfermeira. Seus conhecimentos sobre cauterização pouparam muitos combatentes que poderiam sucumbir a ferimentos.

Sem Olhar a Quem

Ficou no front por quase 5 anos, tornando-se famosa por onde passava por causa de sua tenacidade, compaixão e competência. Ver tantas mortes de ambos os lados não a fez parar, embora ela tenha perdido um filho e um sobrinho nos combates. As mortes dos paraguaios aumentavam aos montes, massacrados pelo exército da Aliança em um dos episódios mais sangrentos e vergonhosos da história sul-americana. Seu dever se sobrepunha inclusive ao patriotismo: tratava com a mesma compaixão soldados paraguaios que encontrava feridos, inclusive os torturados, o que não era muito bem visto por alguns militares brasileiros (ajudava-a o fato de seus dois irmãos serem oficiais de alta patente). Mesmo assim, arriscava-se e exercia sua função sem olhar a quem beneficiava. Salvou muitas vidas de soldados e civis dos quatro países que participavam do embate, incluindo crianças do lado paraguaio "convocadas" para guerrear, e muitos foram os menores mutilados e mortos na carnificina.

Assunção, capital do Paraguai, foi sitiada pelo Brasil. Usando recursos financeiros próprios, oriundos de herança familiar, Ana Néri montou uma enfermaria-modelo no local. Em meio a muito trabalho, a brasileira adotou três crianças - filhos de pais desaparecidos em combate. No fim da guerra, levou-os com ela para o Brasil. Recebeu do imperador Dom Pedro II uma medalha e uma pensão vitalícia para cuidar dos novos filhos.

Mas a homenagem não foi dada somente pela corte. O povo da capital brasileira, então o Rio de Janeiro, a recebeu com uma calorosa festa nas ruas. Foi acolhida com uma chuva de pétalas de rosas. Uma numerosa caravana de baianos seguiu para a corte para a recepção. Na Bahia, em 1870, recebeu condecorações da província e ocupou lugar de honra na Câmara Municipal de Salvador.


O governo imperial conferiu-lhe a Medalha Geral de Campanha e a Medalha Humanitária de primeira classe.  Victor Meireles pinta sua imagem, que é colocada no edifício do Paço Municipal.

O médico Carlos Chagas, então diretor do Instituto Oswaldo Cruz, homenageou-a, colocando o nome da valorosa combatente na primeira escola de enfermagem do Brasil, que primava pela qualidade. A antes chamada Rua da Matriz, onde a enfermeira nasceu, foi renomeada Rua Ana Néri.

Em 20 de maio de 1880, Ana Néri morre aos 66 anos, no Rio de Janeiro. Foi sepultada com muitas honras por parte das autoridades e do povo.

Em 1938, Getúlio Vargas, assinou o Decreto n.º 2.956, que instituía o Dia do Enfermeiro, a ser celebrado a 12 de maio, devendo nesta data ser prestadas homenagens especiais à memória de Anna Nery, em todos os hospitais e escolas de enfermagem do país. 

Em 2009, por intermédio da Lei n.º 12.105, de 2 de dezembro de 2009, Anna Justina Ferreira Nery entrou para o Livro dos Heróis da Pátria, depositado no Panteão da Liberdade e da Democracia, em Brasília.