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Fabriciano Felisberto Carvalho de Brito

FABRICIANO FELISBERTO CARVALHO DE BRITO
(80 anos)
Comerciante, Farmacêutico, Militar e Político

☼ Antônio Dias, MG (22/08/1840)
┼ Antônio Dias, MG (28/06/1921)

Fabriciano Felisberto Carvalho de Brito foi um comerciante, farmacêutico, militar e político brasileiro. Nasceu no dia 22/08/1840 na então freguesia de Nossa Senhora de Nazaré de Antônio Dias Abaixo, hoje município de Antônio Dias, pertencente a Itabira, no interior do estado de Minas Gerais, sendo filho do professor primário Antônio de Britto e de Theresa Umbelina.

Casou-se com Anna Angélica de Carvalho Britto, nascida em 1849, filha de José Antonio Carvalho e Maria Carvalho, e juntos tiveram três filhos: Drº José Tomás de Carvalho, casado com Josefa de Miranda Britto; Drº Manoel Tomás de Carvalho, casado com Elisa Robertina de Albuquerque, e Drº Eusébio Tomás de Carvalho Britto, casado com Ernestina Lage de Britto, dos quais se originaram 21 netos e 38 bisnetos até a data do centenário de Fabriciano, em 22/08/1940.

Trajetória

Felisberto cursou o primário na Escola de Meninos de sua cidade natal, tendo ainda pequeno aprendido o ofício de sapateiro, profissão que exerceu durante sua juventude. Posteriormente atuou como comerciante e farmacêutico, herdando do sogro, José Tomás Pereira, uma casa comercial de gêneros, armarinhos e tecidos. Esse empreendimento modernizou-se a partir das viagens que fez ao Rio de Janeiro, de onde trazia mercadorias variadas e encomendas para a população da localidade.

Anos mais tarde, tornou-se um líder local, passando a exercer, por nomeação, diversos cargos públicos: Escrivão do Cartório de Paz e da Subdelegacia de Polícia em 1862, subdelegado de polícia em 1876, agente dos Correios em 1877 e primeiro suplente de Juiz Municipal para o Distrito de Antônio Dias em 1888.

Fabriciano e Anna Angélica

Fabriciano, depois de ter tido uma pequena fábrica de sapatos (ele também tinha o ofício de sapateiro e trabalhava junto com os seus empregados), estabeleceu-se como negociante. Enquanto ele ficava na loja e fazia sapatos, Anna Angélica dirigia a casa, cuidava dos filhos, fazia biscoitos para vender na loja, costurava calças e camisas para os fregueses e cuidava da cozinha. Era uma abelhinha para trabalhar. Quantas vezes a gente a ouvia dizer, mostrando as mãos: "O que estas mãos sagradas não fazem, quem há de fazer?".

Neste tempo, Antônio Dias era um pequeno arraial, que não deixava de ter os seus atrativos no seu aspecto bucólico. A igreja fora construída pelo bandeirante Antônio Dias, que morreu e foi sepultado na terra a que deu o nome. Existe uma lápide com o nome do fundador e o ano do seu falecimento na porta da igreja, o que representa uma contribuição histórica para a cidade. Em frente, na outra margem, no alto do morro, o Cruzeiro. Embaixo, o rio Piracicaba, em cujas margens se alinhava o casario, formado de casas de estilo aproximado ao colonial simples, com portas e janelas geralmente azuis e com paredes brancas.

Na praça da matriz se encontrava a loja de Fabriciano e do lado esquerdo o rancho que servia para receber as cargas e os arreios da tropa, no tempo em que funcionava a loja. Do lado direito, a casa de moradia, com graciosas janelas e a porta de entrada com a indefectível cancela.

Neste tempo, a população devia ser de 1.500 a 2.000 habitantes. As ruas eram assim denominadas: Rua de Baixo, Rua de Cima, Bonfim, Sítio, Beco da Ponte. Tudo simples, respirando paz. Distrações não havia ou a custo encontradas nas banalidades do dia-a-dia. Por exemplo, se os que chegavam a cavalo, despertavam os que estavam tranquilos em casa, com o tropel nas pedras da rua, de todas as janelas surgia gente curiosa para saber quem era e logo a notícia corria. Sabe quem está na terra? Se era gente de fora, hospedada na casa de Fabriciano, logo logo, aparecia gente para conversar, para saber novidades ou para contá-las. Uma delas era Andrelina de Castro, filha de Joaquim Tito, o sapateiro auxiliar de Coronel Fabriciano, afilhada da casa da qual participava da intimidade, passando lá diariamente, várias horas. Ao chegar ia logo dizendo: "Louvado seja Cristo, meu padrinho ou... minha madrinha".

Era uma mulher de inteligência rara. Estudou as primeiras letras e através da leitura de jornais e de um outro livro que lhe caía nas mãos, chegou a adquirir uma cultura invulgar. Sabia opinar a propósito de tudo, dos fatos corriqueiros da terra à política, que ela conhecia como ninguém. Era muito alta, dentes bons lhe enfeitavam o riso franco. Não era bonita. Quando se empolgava e defendia seus pontos de vista, levantava-se da cadeira e andava de um lado para outro, gesticulando e falando em tom de oratória. Conhecia História Geral e Religião.

Os Filhos de Fabriciano

Além do filho doutor, Manoel Tomás, que ia casar com a filha do Juiz de Direito em Itabira, e de Eusébio, Fabriciano e Anna Angélica tinham também José Tomás, o filho mais velho, que ia ser padre, tendo estudado durante seis anos no Seminário de Mariana, chegando a iniciar-se na Teologia, já no seminário maior. Era muito estudioso e conhecia latim como qualquer bom latinista. Tinha sempre um caso de seminário para contar e repetidamente citava frases latinas. As férias, passava-as em Antônio Dias, vestido de batina e dando sua mão a beijar a todos que dele se aproximassem, sobretudo as mocinhas. Mas não era por saliência, tinha mesmo gosto na vocação. Ajudava o vigário nas funções religiosas, contava o Tantum Ergo nas bençãos do Santíssimo, rezava o terço com Fabriciano e Anna Angélica.

Mas foi uma pena. Vocação se não é bem cultivada, se arrefece e se perde. José Tomás foi influenciado pelo irmão que estudava Direito e que o levou para São Paulo para entrar na Faculdade do Largo São Francisco. José Tomás hospedou-se na república dos estudantes, onde morava seu irmão. Foi o desastre: a estudantada, influenciada pelo positivismo quis atrair também José Tomás para as idéias contistas, desviando-o da vocação. Ele desistiu de ser padre, mas também não se sentiu bem no meio da mocidade sem religião. Voltou à casa dos pais, na pacata Antônio Dias.

Os Estudos dos Filhos e as "Chorosas" Partidas

Chegou o tempo de seguirem para os estudos os filhos de Fabriciano e Anna Angélica. Enquanto se preparavam para partir, Anna Angélica, muito chorosa, dizia: "Eu preferia que Inhô (Fabriciano) fosse pobre para eu não ter de separar-me de meus filhos...".

Coitadinha, de fato naquele tempo a separação dos filhos era muito penosa, pois não havia meios de comunicação que diminuíssem as distâncias, facilitando um encontro mais frequente com eles.

José Tomás (Juca), o mais velho, seguiu para Mariana, MG, para o famoso seminário onde pontificavam padres lazaritas de muito saber, sob a jurisdição de bispos como Dom Benevides, Dom Viçoso, Dom Silvério.

Manoel Tomás e Eusébio, o mais novo, continuaram os estudos iniciados em Itabira, com Mestre Emílio, na capital de Minas, ou seja, Ouro Preto, antiga Vila Rica.

Eusébio optou pela carreira de farmacêutico e tão logo se formou iniciou-se na vida prática, casando-se em seguida com uma linda moça de olhos azuis, cabelos louros e tez muita alva. Chamava-se Ernestina, pertencia à família Lage e era conhecida pelo apelido de Netinha. Eusébio era apaixonado pela noiva e muito romântico. Prova-se uma fotografia em que ele com um retrato de Netinha sobre uma mesa se deixou fotografar numa atitude embevecida de enamorado.

O casal formou uma bela família de oito filhos, três homens e cinco mulheres. Todos estudaram e se formaram, casaram e constituíram família. As bonitas filhas Ceci e Zuleika permaneceram solteiras, apesar de muito assediadas por bons partidos. Acompanharam os pais com muita dedicação e exerceram com proficiência funções na Secretaria da Educação do Estado de Minas Gerais.

Assim que formou, Eusébio Tomás estabeleceu-se em Antônio Dias, com uma farmácia e fazia as vezes de médico, pois naquele tempo não os havia no lugar.

Construiu sua casa num terreno pegado ao de seu pai e todo seus filhos nasceram lá. A casa era de um estilo aproximado ao normando, grande e confortável.

Mudando-se para Belo Horizonte, fez mais tarde, depois dos 40 anos, o curso de Direito, ingressando na política e, atuando como deputado, prestou muitos serviços a zona que o elegeu. Em suma, tinha um grande prestígio em todo o Vale do Rio Doce, notadamente em Itabira, Antônio Dias, Sant’Ana de Ferros, São José da Lagoa, hoje Nova Era, São Domingos do Prata e outros.

Além de político, era pessoa de fino trato, sabendo relacionar-se com todos, com os compadres e com os humildes, adquirindo assim, além do prestígio, uma amizade singular em toda zona. Quando voltava a Antônio Dias, em visita aos pais e possivelmente para politicar, as visitas que recebia eram ininterruptas. Vinha gente de todo o município, a casa ficava repleta e Sá Donana (apelido da mãe de Eusébio, Anna Angélica) era inexcedível, atendendo a todos com cafezinho e com palavras amáveis, servindo mesmo refeição para aqueles que moravam longe ou eram pessoas ligadas por uma maior amizade ou pelo compadresco.

Assim é que Antônio Dias foi adquirindo foros de uma cidade tradicional, berço de pessoas ilustres, conservando, entretanto, o cunho de vida simples, de comunidade familiar, em que todos se conheciam e se tratavam sem etiquetas: ao contrário, não se dava senhoria para quase ninguém e havia um entrelaçamento de relações entre os mais afortunados e os de condições humildes ou mesmo pobres. Era a igualdade absoluta o que tornava a vila e mais tarde, a cidade, uma comunidade "suigeneris", onde todos se sentiam bem, inclusive os forasteiros, aqueles que por uma razão particular, ali se estabeleciam. "Muitos deles criavam raiz na terra e não mais se desligavam dela e do convívio de seu povo acolhedor", relatou Maria Cecília Maurício da Rocha, sobrinha de Eusébio e filha de José Tomás

O Título de Coronel

No dia 25/08/1888, aos 48 anos, através do apoio de amigos e do Partido Conservador, recebeu de sua majestade Dom Pedro II, o título de tenente-coronel da Guarda Nacional para a região da comarca de Piracicaba. O título de coronel, dado a civis no Brasil surgiu com a criação da Guarda Nacional, em 1832, por Diogo Antônio Feijó, também conhecido como Regente Feijó ou Padre Feijó.

O agraciado com o título teria a função de reunir milícias em casos de situação premente da ordem e da defesa nacional. O coronel era geralmente um grande proprietário de terras, poderoso chefe político que se impunha sobre a população na sua área de atuação. No entanto, coronel Fabriciano que era na verdade, tenente-coronel, nem teve tempo para exercer o cargo em sua plenitude, uma vez que recebeu o título um ano antes do fim do Império.

Coronel Fabriciano Felisberto de Britto impunha-se pela sua capacidade de liderança e trabalho. Preocupado com as questões sociais de seu tempo, buscou com o seu prestígio realizar obras que promovessem o bem-estar da população da cidade de Antônio Dias.

Além da luta pela emancipação, destacam-se como seus feitos a construção do primeiro grupo escolar do Baixo Piracicaba, o segundo de Minas Gerais, em 1909; Instalação de linha do telégrafo em 1920; Fundação da Santa Casa de Misericórdia da qual foi provedor até sua morte em 1920.

Por intermédio de seu filho, Eusébio Tomás de Carvalho Britto, deputado e membro da comissão responsável pela divisão administrativa de Minas Gerais, foi um dos responsáveis pela criação da Vila de Antônio Dias, em 1911, e do Distrito de Melo Viana em 1923, sendo este mais tarde batizado de coronel Fabriciano em sua referência e emancipado em 1948.

Além da criação de um Grupo Escolar, necessária para que fosse Antônio Dias fosse instalada, Fabriciano coordenou a construção do primeiro hospital e deu início às obras da Igreja Matriz.

Homenagens

No dia 17/04/1909, foi instalada em Antônio Dias a escola que leva desde então o nome do tenente-coronel. Pelo decreto-lei estadual nº 88, de 30/03/1938, o então distrito antoniodiense Melo Viana foi batizado com o nome de Coronel Fabriciano, emancipando-se em 27/12/1948. A carta-patente da nomeação de Fabriciano Felisberto de Britto a tenente-coronel da Guarda Nacional, assinada pelo imperador Dom Pedro II em 1888, foi tombada como patrimônio cultural fabricianense através do decreto municipal nº 1.033, de 31/03/1997.

Falecimentos

Fabriciano Felisberto veio a falecer no dia 28/06/1921 e a esposa Anna Angélica de Carvalho Britto, dia 21/05/1936. O casal encontra-se sepultado na Capela São Geraldo, em Antônio Dias, MG, construída pelo coronel para mausoléu da família.

Após a reforma da capela, em meados da década de 1970, seus restos mortais, juntamente com os de sua esposa, foram transladados para o interior do templo.

Curiosidades Sobre Coronel Fabriciano Felisberto


  • Fabriciano antes de tornar-se um próspero e influente comerciante, teve uma modesta fábrica de sapatos, onde executava o ofício de sapateiro e trabalhava junto com seus empregados na cidade de Antônio Dias, ou melhor, Antônio Dias Abaixo.
  • Fabriciano era um homem muito religioso era um dever sagrado seu rezar o terço com a família todas as noites às 21:00 hs e de hábitos simples e rígido.
  • Depois da ladainha em latim servia leite quente com biscoitos, servido pela esposa e se recolhia. Era um apaixonado leitor de jornais que chegavam à antiga vila de Antônio Dias Abaixo duas vezes por semana.
  • Almoçava sempre às 09:00 hs da manhã; fazia a siesta deitado num banco da varanda; continuava a ler; atendia todos os pedidos; tratava dos assuntos políticos; e dava suas voltas conversando com conhecidos.
  • Filho de um professor, José Antônio de Britto, quando jovem Fabriciano fez promessa de nunca mais pegar em baralho, depois de perder no carteado 14 mil réis, uma vultosa quantia para a época. Sua esposa, Anna Angélica, dirigia a casa, cuidava dos filhos, fazia biscoitos para vender na loja, e costurava calças e camisas para os fregueses.
  • A Loja Grande era o nome do comércio de Fabriciano e, segundo anúncio publicado em 1903 no Correio de Itabira, possuía "um completo e variado sortimento de fazendas, ferragens, armarinho, roupas feitas, calçados, chapeos (sic) de sol e de cabeça, molhados, louças, kerozene (sic) e muito outros artigos".
  • Nesse tempo, o homem mais rico e poderoso da antiga vila de Antônio Dias Abaixo, o coronel Manoel de Barros de Araújo Silveira, viria a ter grande influência na vida de Fabriciano.
  • Sua segunda esposa, após a morte de Clara de Ataíde Barros (que morreu bem nova), foi Maria Tomásia de Carvalho, irmã de Anna Angélica. Assim, ao tornar-se concunhado de Fabriciano, cresceu um forte laço de amizade entre os dois.
  • Foi o coronel Manoel de Barros, que tinha sido deputado da província mineira durante o Império, que emprestou dinheiro para Fabriciano comprar sua primeira escrava, Luisa. Sabe-se, também, que a casa de Fabriciano, que ficava à direita da igreja de Nossa Senhora de Nazaré, era um ponto de venda de leite. Segundo a autora, as vacas do avô "não primavam pela robustez".
  • A medição de cada garrafa, vendida ao preço de cem réis, era feita pelo próprio Fabriciano, que não suportava retardatários, já após tal obrigação, era absorvido pela leitura dos jornais.
  • A propósito da promessa de Fabriciano (que comprou o título de coronel da Guarda Nacional, hábito comum na época) de nunca mais pegar em baralho e que tal fato marcou a personalidade do futuro chefe político, tornando-o mais rígido na educação dos filhos. Certa noite, notando as ausências de José Tomás e Eusébio (já casados) saiu à procura deles e os encontrou na mesa de baralho. Irritado, esbravejou: "Isto são horas de pais de família estar na rua jogando?". Sem dizer nada, os dois saíram acompanhando o pai. Detalhe: eram dez horas da noite.

Brandão, o Popularíssimo

JOÃO AUGUSTO SOARES BRANDÃO
(77 anos)
Ator, Teatrólogo e Poeta

* Lomba da Maia, Açores (19/06/1844)
+ Rio de Janeiro, RJ (16/11/1921)

João Augusto Soares Brandão, conhecido pelo nome artístico de Brandão, o Popularíssimo, foi um poeta, teatrólogo e ator. Celebrizou-se na comédia de costumes, sendo um dos mais conhecidos e populares atores do panorama teatral brasileiro do final do século XIX e início do século XX.

Emigrou dos Açores para o Brasil em 1855, quando tinha 11 anos. Por algum tempo trabalhou no comércio do Rio de Janeiro. Iniciou a sua carreira de ator aos 16 anos, quando resolveu entrar para um grêmio teatral amador por estar empolgado com as atuações do ator brasileiro João Caetano.

Sua estreia, ainda como amador, aconteceu em um pequeno teatro particular no bairro carioca de Botafogo. Posteriormente, se apresentou em diversos teatros na cidade, incluindo o Teatro São Januário, localizado próximo ao Paço Imperial, onde participou, por volta de 1862 da montagem da peça "Caravaggio". Por esta época, foi contratado pela atriz e empresária Maria da Glória para fazer parte de sua companhia teatral itinerante.

Por cerca de 30 anos, passou a percorrer os teatros das cidades e vilas do interior brasileiro, especialmente de Minas Gerais, São Paulo e Estado do Rio de Janeiro, apresentando-se em peças de caráter burlesco e em comédia de costumes. Durante este tempo, viveu diversas aventuras, conforme foi retratado, por exemplo, na peça "O Mambembe", de Arthur Azevedo, cujo personagem Frazão, foi claramente inspirado nele, conforme garantiu o próprio autor.

Brandão estava com sua companhia teatral sediada na cidade de Sabará, em Minas Gerais, quando, em 1891, recebeu um convite para ir ao Rio de Janeiro, para atuar na peça "Viagem Ao Parnaso", de Arthur Azevedo, a ser apresentada no Teatro Apolo. Com o estrondoso sucesso que fez, mandou buscar a família que tinha ficado em Sabará e radicou-se na então capital brasileira. A partir dali, fez tanto sucesso que o jornalista Feliciano Prazeres, do Jornal do Brasil, o chamou de "Popularíssimo", apelido que acabou adotando e com ele foi conhecido em muitos lugares do Brasil e até fora dele.

Brandão contracenando com a atriz Julia Lopes.
Entre suas peças de maior sucesso, se destacam "A Pera de Satanás", de Eduardo Garrido, "Abacaxi", de Moreira Sampaio, "Tribofe", de Arthur Azevedo, onde atuou com Francisco Vasques, outro notável ator comediante, "Rio Nu", de Moreira Sampaio, "A Capital Federal", de Arthur Azevedo, "Tim Tim Por Tim Tim", de Souza Bastos, "O Esfolado", de Raul Pederneiras e Vicente Reis, "O Mambembe", de Arthur Azevedo, e "A Última do Dudu", de Raul Pederneiras.

No fim de sua carreira, foi convidado por Leopoldo Fróes para ser o ensaiador da Companhia do Teatro Trianon, que apresentava um repertório de comédias leves.

Brandão pretendia publicar um livro de suas memórias teatrais, intitulado "Último Ato", mas após sua morte, a viúva vendeu os originais e o livro acabou sendo irremediavelmente perdido.

Em 16/11/1921, quando estava na plateia do Democrata Circo, foi acometido de um forte acesso de tosse, vindo a falecer vítima de Síncope Cardíaca. Brandão deixou a viúva, Beatriz, e nove filhos, sendo dois de seu segundo casamento, um do terceiro e seis do quarto matrimônio.

O único de seus filhos que seguiria carreira de ator foi Brandão Filho, que conquistou enorme popularidade no circo, no rádio, no teatro, no cinema e na televisão, especialmente com o personagem "Primo Pobre", do programa "Balança Mas Não Cai".

A freguesia de Lomba da Maia, na ilha de São Miguel, nos Açores, sua terra natal, prestou-lhe homenagem em 1983, com um monumento feito por um artista local.

Brandão, o Popularíssimo
Obras Publicadas

  • 1894 - Cenas Realistas (Teatro)
  • 1895 - Lamentações De Um Porteiro: Cena Cômica
  • 1895 - O Boiadeiro (Poesia)
  • 1895 - Capenga Não Forma (Teatro)
  • 1895 - O Tio Geriva (Comédia de Costumes)
  • 1919 - O Barão Das Crioulas (Burleta-Revista)

Fonte: Wikipédia

Princesa Isabel

ISABEL CRISTINA LEOPOLDINA AUGUSTA MICAELA GABRIELA RAFAELA GONZAGA DE BRAGANÇA E BOURBON
(75 anos)
Última Princesa Imperial do Brasil

* Rio de Janeiro, RJ (29/07/1846)
+ Eu, França (14/09/1921)

Foi a última princesa imperial do Brasil e regente do Império por três ocasiões, na qualidade de herdeira de seu pai, o imperador Dom Pedro II, e da imperatriz Dona Teresa Cristina de Bourbon-Duas Sicílias. Foi a terceira Chefe de Estado brasileira após sua avó Maria Leopoldina e sua trisavó Dona Maria I. Foi cognominada a Redentora por ter, através da Lei Áurea, abolido a escravidão no Brasil.

Após seu casamento com o príncipe Gastão de Orléans, Conde d'Eu, em 1864, ocorreu uma junção matrimonial entre a Casa de Bragança e a de Casa de Orléans, originando o nome Orléans e Bragança, que foi passado, exclusivamente, aos descendentes de Gastão de Orléans e Dona Isabel. Também, por a mesma ter sido a herdeira do trono imperial brasileiro, os seus descendentes - os Orléans e Bragança - são os atuais herdeiros da extinta Coroa Imperial do Brasil.

A princesa Isabel foi também a primeira senadora do Brasil, cargo a que tinha direito como herdeira do trono a partir dos 25 anos de idade, segundo a constituição imperial brasileira de 1824.

Com a morte de seu pai, em 1891, tornou-se Chefe da Casa Imperial do Brasil e a primeira na linha sucessória ao extinto trono imperial brasileiro, sendo considerada, de jure, Sua Majestade Imperial, Dona Isabel I, Por Graça de Deus, e Unânime Aclamação dos Povos, Imperadora Constitucional e Defensora Perpétua do Brasil.

Nascimento e Infância

Isabel nasceu no Palácio de São Cristóvão, e foi a primeira filha do Imperador Dom Pedro II.

Batizada na Capela Imperial no dia 15 de novembro de 1846 pelo bispo capelão-mor conde de Irajá, seu nome foi dado em homenagem à avó materna, a rainha de Nápoles. Seus padrinhos de batismo foram o rei consorte Fernando II de Portugal e sua avó materna a rainha Isabel de Nápoles. Com a morte precoce de seu irmão Dom Afonso Pedro de Alcântara de Bragança, Isabel tornou-se a herdeira de seu pai. Neste mesmo ano de 1847 nasceria em 13 de julho a sua irmã e companheira de toda a mocidade, a princesa Leopoldina de Bragança e Bourbon.

Em 1848 nasceu o seu segundo irmão varão, o príncipe Dom Pedro Afonso, que morreu dois anos depois. Para herdar o trono imperial restava a princesa de quatro anos de idade, designada a partir de então como Princesa Imperial. O reconhecimento oficial como sucessora e herdeira do pai teve lugar a 10 de agosto de 1850, quando a Assembleia-Geral, reunida no Paço do Senado às 11 horas da manhã, proclamou-a herdeira do trono, de acordo com os artigos 116 e 117 da Constituição do Império.

A 29 de julho de 1860 completava Dona Isabel 14 anos e, de acordo com o artigo 106 da Constituição Imperial, deveria prestar o juramento de "manter a religião católica apostólica romana, observar a Constituição política da nação brasileira e ser obediente às leis e ao imperador."

Educação

A fim de prepará-la para seu papel, começou Dom Pedro II a preocupar-se com a formação da futura imperadora. Desde cedo, porém, o Imperador iniciou entendimentos para dar às filhas uma preceptora. Por indicação da tia das princesas, Francisca de Bragança, a escolhida foi a Condessa de Barral, filha do embaixador Domingos Borges de Barros, Visconde de Pedra Branca e esposa do nobre francês, o Conde de Barral, considerada pela maior parte dos autores - inclusive José Murilo de Carvalho, em seu livro "D. Pedro II" (Companhia das Letras, 2007) - como o grande amor do imperador Dom Pedro II. A condessa iniciou suas funções em setembro de 1855.

Para a educação de Dona Isabel e da sua irmã, numerosos mestres foram designados, que elaboraram um severo programa de estudos. Afirma D. Pedro II sobre a educação de suas filhas:

"O caráter de qualquer das princesas deve ser formado tal como convém a senhoras que poderão ter que dirigir o governo constitucional de um Império como o Brasil. A instrução não deve diferir da que se dá aos homens, combinada com a do outro sexo: mas de modo que não sofra a primeira. Convirá conformar-se, quando for de proveito, aos regulamentos da instrução pública primária e secundária. Poderá impor castigos, e quando forem leves, sem meu conhecimento prévio, devendo minhas filhas não saber ilegível que o tenho, quando isto não for conveniente, sendo o maior deles a reclusão em um dos quartos dos respectivos aposentos, assim como representar-nos, mesmo perante nossas filhas, sobre a justiça da concessão de algum prêmio."

Mas, apesar de todo este rigor, sua infância teve muitos momentos de descontração, ao lado da irmã Leopoldina. Em seu diário ela diz:

"Petrópolis, residência de verão, residência deliciosa: jardins floridos, canais cortando a cidade..."

Ou mais adiante:

"Eu fui de Petrópolis a pé até a cascata de Tamarati. A mana andou tão pouco a cavalo."

Em São Cristóvão, para amenizar o ambiente carregado de estudos e deveres, pequenas peças teatrais eram levadas à cena, em que as princesas desempenhavam os principais papéis na companhia dos amigos de infância, inclusive pequenos escravos.

A proximidade da princesa com os negros, desde a mais tenra infância, e o diálogo franco e cordial com eles estabelecido, inclusive nas brincadeiras infantis, pode vir a explicar sua futura inserção no movimento abolicionista. A questão ainda não foi convenientemente estudada pela historiografia brasileira.

Sob a influência de seu pai, o estudo das ciências, em particular da Química, ocupou um papel primordial na educação de Dona Isabel. O ensino das princesas dirigido pelo imperador refletia sua visão de uma educação universal com forte teor científico como essencial para um governante. O conteúdo do currículo seguido por Dona Isabel contrasta fortemente com a educação dada à maioria das mulheres brasileiras da época, inclusive aquelas de origem abastada. Dona Isabel nutria profundo interesse pelas questões ligadas ao desenvolvimento da educação no país, especialmente a educação pública, como fica patente na sua Fala do Trono, enquanto Regente do Império, em 1º de fevereiro de 1877:

"A instrução pública continua a merecer do governo a maior solicitude. Foram criadas no município da corte escolas de segundo grau, e as normais, destinadas a preparar professores para o ensino primário de ambos os sexos, terão de ser brevemente inauguradas. Nas províncias este ramo de serviço apresenta sensível progresso, limitado, porém pela falta de meios de que podem dispor. Se os melhoramentos materiais por elas empreendidas têm recebido vosso auxílio, justificada será qualquer despesa que autorizeis para coadjuvar esse grande elemento de civilização."

Casamento

Os preparativos para seu casamento foram iniciados na década de 1860. Por indicação de sua tia, Dona Francisca de Bragança (filha de Dom Pedro I), princesa de Joinville na França, vieram ao Brasil dois primos, os príncipes Gastão de Orléans, Conde d'Eu e Luís Augusto de Saxe-Coburgo-Gota, sobrinhos-netos do Rei Leopoldo I dos Belgas, sobrinhos de Dom Fernando II de Portugal, além de primos de segundo grau da Rainha Vitória do Reino Unido.

O imperador havia tratado, através de seus ministros, o casamento da princesa Isabel, herdeira do trono, com o duque Luís Augusto de Saxe-Coburgo-Gota, o segundo filho de Augusto de Saxe-Coburgo-Gota e da Princesa Clementina de Orléans. Ao mesmo tempo, o primo deste, Luís Filipe Maria Fernando Gastão de Orléans e Saxe-Coburgo-Gota, Conde d'Eu, foi prometido à Princesa Leopoldina.

Quando da chegada dos dois jovens, as princesas perceberam que deveria ocorrer uma troca, pois cada uma delas havia se encantado pelo pretendente da outra, e imediatamente solicitaram aos pais que a troca fosse realizada. Tanto Dom Pedro quanto Dona Teresa Cristina, favoráveis a que os casamentos fossem motivados não apenas pelas questões dinásticas, mas também pelos afetos - até porque, no seu próprio caso, havia ocorrido um choque inicial - consentiram imediatamente. Em 18 de setembro de 1864 o Príncipe Gastão de Orléans pediu a mão da Princesa Imperial do Brasil.

O casamento teve lugar na Capela Imperial, no Rio de Janeiro, a 15 de outubro de 1864. No mesmo dia os noivos partiram para a lua de mel em Petrópolis, e em 10 de janeiro de 1865 seguiram para a Europa, onde a princesa conheceu os sogros.

Gastão, batizado Louis Philippe Marie Ferdinand Gaston, nascera em 1842 e morreu em 1922 em águas brasileiras, a bordo do navio Massilia. Era não só Conde d'Eu como príncipe de Bourbon-Orléans, sendo feito depois marechal do exército brasileiro. Era filho de Luís Carlos Filipe Rafael d'Orléans, Duque de Nemours, logo, neto do Rei francês Luís Filipe I.

Gastão assumiria o comando das tropas brasileiras na fase final da Guerra do Paraguai, razão de preocupação para Dona Isabel, e fato que provocou muita oposição em diversos círculos, pois nem sempre foram sábias as decisões militares tomadas.

Finda a guerra o casal fez nova viagem à Europa, para visitar Leopoldina, doente. Leopoldina morreu de tifo em 7 de fevereiro de 1871. No mesmo ano Dom Pedro II fez sua primeira viagem à Europa e Dona Isabel assumiu a regência, aos 24 anos. Neste período foi assinada a 28 de setembro a Lei do Ventre Livre.

A ausência de filhos preocupava a todos. A princesa concebeu durante sua viagem à Europa, mas somente no sexto mês de gravidez começou a pensar na dificuldade de retornar ao Brasil para que aqui nascesse o herdeiro. Embarcou de volta dois meses depois e, já no Brasil, nasceu morta uma menina, em 28 de julho de 1874, no Palácio Isabel (atual Palácio Guanabara), batizada in articulo mortis com o nome de Luiza.

Finalmente, em 15 de outubro de 1875, quando comemoravam onze anos de casados, nasceu em Petrópolis o príncipe Dom Pedro de Alcântara.

Segundo Victor Villon: "A gravidez foi cheia de cuidados, o parto muito difícil e, no meio da aflição de todos, o Dr. Depaul, médico francês que viera especialmente para a ocasião, distorceu o braço da criança. Esse acidente deixaria seqüelas: Dom Pedro de Alcântara ficaria com braço atrofiado para o resto da vida."

Em 26 de janeiro de 1878 nasceu o segundo filho Dom Luís Maria Filipe de Orléans e Bragança. No mesmo ano o casal foi residir na França. Em 9 de agosto de 1881 lá nasceu o terceiro e último filho, Dom Antônio Gastão. No mesmo ano a família voltaria a viver no Brasil.

Postura Política

Liberal, a princesa uniu-se aos partidários da abolição da escravidão. Apoiou jovens políticos e artistas, embora muitos dos chamados abolicionistas estivessem aliados ao incipiente movimento republicano. Financiava a alforria de ex-escravos com seu próprio dinheiro e apoiava a comunidade do Quilombo do Leblon, que cultivava camélias brancas, símbolo do abolicionismo. Chegava mesmo a receber fugitivos em sua residência em Petrópolis:

"A Princesa Isabel também protegia fugitivos em Petrópolis. Temos sobre isso o testemunho insuspeito do grande abolicionista André Rebouças, que tudo registrava em sua caderneta implacável. Só assim podemos saber hoje, com dados precisos, que no dia 4 de maio de 1888, "almoçaram no Palácio Imperial 14 africanos fugidos das Fazendas circunvizinhas de Petrópolis". E mais: todo o esquema de promoção de fugas e alojamento de escravos foi montado pela própria Princesa Isabel. André RebouçasAndré Rebouças se hospedava, também estava comprometido até o pescoço, chegando a esconder 30 fugitivos em sua fazenda, nos arredores da cidade. O advogado Marcos Fioravanti era outro envolvido, sendo uma espécie de coordenador geral das fugas. Não faltava ao esquema nem mesmo o apoio de importantes damas da corte, como Madame Avelar e Cecília, condessa da Estrela, companheiras fiéis de Isabel e também abolicionistas. Às vésperas da Abolição final, conforme anotou Rebouças, já subiam a mais de mil os fugitivos "acolhidos" e "hospedados" sob os auspícios de Dona Isabel."

Conforme o artigo 46, capítulo 3, título IV, da constituição brasileira de 1824, os Principes da Casa Imperial são Senadores por Direito, e terão assento no Senado, logo que chegarem a idade de vinte e cinco anos. Dessa forma, em 1871, Dona Isabel Leopoldina tornou-se a primeira senadora do Brasil (a primeira senadora brasileira eleita foi Eunice Mafalda Berger Michiles). Há que se notar que foi a única a desfrutar desse dispositivo constitucional, haja vista que todos os príncipes do Brasil que a antecederam ou morreram antes dos vinte e cinco anos, ou se casaram com estrangeiros e partiram do país, à exceção de seu pai, que assumiu o Trono aos quatorze anos de idade. Depois dela, a ordem constitucional do Império caiu antes que os príncipes porvir pudessem tornar-se senadores.

"Isabel Cristina comemorou seu aniversário de 39 anos, em 1885, com uma solenidade no Paço Municipal da capital, o Rio de Janeiro. Sentada, tendo a seu lado o marido, foi a estrela da cerimônia em que diversos escravos foram alforriados. Conforme os nomes dos beneficiados eram anunciados pelo vice-presidente da Câmara, João Florentino Meira de Vasconcellos, eles seguiam para receber seus certificados de libertação das mãos de Isabel. Cada ex-escravo curvava-se e, em sinal de respeito e gratidão, dava um beijo na mão da aniversariante. A relação de afeto entre a mulher e os negros começava a ser demonstrada publicamente."

Em 30 de junho de 1887 assumiu a regência do império pela terceira vez, pois seu pai fora obrigado a afastar-se para tratamento de saúde na Europa. A abolição provocava grande oposição entre os fazendeiros escravocratas. Poderosos, esses escravocratas infundiram na opinião pública, através do Parlamento e da imprensa, a idéia de que a abolição da escravidão seria a bancarrota econômica do império, pois as prósperas fazendas de café e açúcar do Brasil de então eram todas elas, regadas com o suor do escravo. O negro era contado, medido e pesado e os juristas dos escravocratas criaram a tese jurídica de que o escravo era "propriedade" do senhor de engenho e, portanto, estavam sob amparo da Constituição, que garantia o "direito de propriedade". Eram tensas as relações entre a Regente e o Gabinete Ministerial conservador. A Princesa aliava-se ao movimento popular, enquanto o Barão de Cotegipe defendia a manutenção da escravidão.

Aproveitando-se da oportunidade oferecida por um incidente de rua, Isabel demitiu o ministério e nomeou o conselheiro João Alfredo, demonstrando determinação política e convicção do que considerava o melhor para o país, pois o Brasil foi a última nação do ocidente a abolir a escravidão. Na Fala do Trono, de 1888, Isabel dissera com o coração jubiloso: "Confio em que não hesitarei de apagar do direito pátrio a única exceção que nele figura..." O Conde d'Eu, marido de Isabel, ainda lhe advertiu: "Não assine, Isabel, pode ser o fim da Monarquia". Mas a Princesa estava determinada e respondeu prontamente ao marido: "É agora, ou nunca!". Afinal, a escravidão, que tanto envergonhara a raça humana no Brasil, já durava, em 1888, três séculos, vitimando 12 milhões de negros africanos. Estava aberto o caminho para a liberdade dos escravos no império.

Em 13 de maio de 1888, num domingo, aconteceram as últimas votações de um projeto de abolição total. Certa da vitória, a regente desceu de Petrópolis, cidade serrana, para aguardar no Paço Imperial o momento de assinar a Lei Áurea. Usou uma pena de ouro especialmente confeccionada para a ocasião, recebendo a aclamação do povo do Rio de Janeiro. O Jornal da Tarde, de 15 de maio de 1888, noticiou que "o povo que se aglomerava em frente do Paço, ao saber que já estava sancionada a grande Lei, chamou Sua Alteza, que aparecendo à janela, foi saudada por estrepitosos vivas." As galerias do Paço estavam repletas, e sob vivas e aplausos de uma multidão estimada em 10 mil pessoas, Isabel sancionou a Lei aprovada pelo Parlamento do Império.

O jornalista mulato José do Patrocínio, aliado da Coroa, invadiu o recinto sem que ninguém conseguisse detê-lo e atirou-se aos pés da Princesa Regente em prantos de gratidão. Isabel dava provas, de que seu reino era, sim, deste mundo, contrariando a ironia do conselheiro Saraiva que afirmara justamente o contrário, zombando do sentimento profundamente cristão de Isabel. A história há de fazer sempre justiça à "Princesa Redentora", título que lhe atribuiu José do Patrocínio, pois ela demonstrou no processo abolicionista firmeza, coragem e, sobretudo, nobre desapego ao cargo, o qual - lhe preveniram - haveria de ser dela tomado pela reação inevitável dos altos e egoísticos interesses escravocratas contrariados, tudo conforme relata o livro "Dom Pedro II e a Princesa Isabel", da Editora Lorenz, onde consta memorável testemunho do nobre abolicionista Joaquim Nabuco:

"No dia em que a Princesa Imperial se decidiu ao seu grande golpe de humanidade, sabia tudo o que arriscava. A raça que ia libertar não tinha para lhe dar senão o seu sangue, e ela não o queria nunca para cimentar o trono de seu filho. A classe proprietária ameaçava passar-se toda para a República, seu pai parecia estar moribundo em Milão, era provável a mudança de reino durante a crise, e ela não hesitou: uma voz interior disse-lhe que um grande dever tem que ser cumprido, ou um grande sacrifício que ser aceito. Se a Monarquia pudesse sobreviver à abolição, esta seria o apanágio. Se sucumbisse, seria o seu testamento..."

Em 28 de setembro o Papa Leão XIII lhe remeteu a "Comenda da Rosa de Ouro", como reconhecimento pela Abolição da Escravatura. Essa comenda pontifícia simboliza o reconhecimento do Papa a algum feito notável e que mereça regozijo de toda a Igreja.

A Princesa Isabel foi a única personalidade brasileira a receber a Rosa de Ouro. Ou outros dois exemplares foram dedicados à Basílica de Nossa Senhora Aparecida pelos PapasPaulo VI (1965) e Bento XVI (2007).

Mas a elite cafeeira não aceitava a abolição. Cotegipe, ao cumprimentar a princesa, vaticinou: "Vossa Alteza libertou uma raça, mas perdeu o trono". Mas a Princesa não hesitou em responder: "Mil tronos eu tivesse, mil tronos eu daria para libertar os escravos do Brasil"

De pensamento arrojado para sua época, Dona Isabel era partidária de ideias modernas, como o sufrágio feminino e a reforma agrária. Documentos recentemente descobertos revelam que a princesa estudou indenizar os ex-escravos com recursos do Banco Mauá.

A Professora Doutora Sueli Carneiro (Doutora em Educação pela USP e diretora do Geledés - Instituto da Mulher Negra), ao analisar carta da princesa Isabel, datada de 11 de agosto de 1889 - veiculada recentemente na Imprensa, coloca de maneira bastante ponderada:

"Mas há coisas que só podem ocorrer no Brasil. A revelação de um documento histórico cujo conteúdo é de grande importância para milhões de brasileiros descendentes de escravos reduziu-se, na matéria produzida pela TV, a mera reatualização dos nossos antigos manuais didáticos que eram prenhes na reiteração do caráter benevolente da princesa por decretar a Abolição.(...) No entanto, o melhor reconhecimento a se fazer à princesa seria pautar a discussão sobre o seu sonho malogrado de provimento aos ex-escravos de condições para sobreviverem e prosperar dignamente na sociedade brasileira — carência de que padecem ainda hoje os seus descendentes —, dando inclusive absoluta atualidade à carta. Porém, são precisamente editoriais raivosos de jornais contra as políticas para a redução das desigualdades raciais que conspiram contra os ideais defendidos pela princesa e enaltecidos na matéria. Compreende-se,então, o foco dado ao documento."

A República e o Exílio

Em 9 de novembro de 1889, poucos dias antes do golpe militar que instaurou a República no Brasil, a família imperial compareceu ao Baile da Ilha Fiscal, o último da monarquia:

"Dançou-se muito no Baile da Ilha Fiscal, mas o que os convidados não imaginavam, nem o imperador Dom Pedro II, é que se dançava sobre um vulcão. À mesma hora em que se acendiam as luzes do palacete para receber os milhares de convidados engalanados, os republicanos reuniam-se no Clube Militar, presididos pelo tenente-coronel Benjamin Constant, para maquinar a queda do Império. "Mais do que nunca, preciso sejam-me dados plenos poderes para tirar a classe militar de um estado de coisas incompatível com sua honra e sua dignidade", discursou Constant na ocasião, tendo como alvo justamente o Visconde de Ouro Preto.

Longe dali, ao lado da família imperial, o Visconde desmanchava-se em sorrisos ao comandar seu suntuoso festim. A família imperial chegou ao cais pouco antes das 10 horas. Dom Pedro II, fardado de almirante, a Imperatriz Teresa Cristina e o príncipe Dom Pedro Augusto embarcaram primeiro. Quinze minutos depois foi a vez da princesa Isabel e do Conde d'Eu. Uma vez no palácio, foram conduzidos a um salão em separado, onde já se achavam reunidos membros do corpo diplomático estrangeiro, oficiais e alguns eleitos da sociedade carioca. O guarda-roupa da imperatriz não chegou a causar impressão especial entre os convidados - um vestido de renda de chantilly preta, guarnecido de vidrilhos. A toalete da princesa Isabel, no entanto, causou exclamações de admiração pelo luxo e pela beleza. Ela portava uma roupa de moiré preta listada, tendo na frente um corpinho alto bordado a ouro. Nos cabelos, carregava um diadema de brilhantes."

Na sequência, pouco mais de um ano depois de testemunhar o júbilo popular com a abolição da escravatura, Dona Isabel veria a monarquia no Brasil ser extinta. Insuflados pelos radicais positivistas e apoiados pelos fazendeiros, os militares depuseram o gabinete do Visconde de Ouro Preto e instauraram uma ditadura republicana. O livro "Barão de Santo Angelo, O Espírita da Corte" (Editora Lorenz) analisa as motivações do golpe republicano e traz informações importantes sobre as revoltas e ressentimentos pessoais do líder Benjamin Constant contra o Monarca, fator considerado decisivo para a realização da quartelada que ensejou a proclamação a República.

Os chamados "ideais republicanos", na verdade, constituiriam um simples pano de fundo para justificar a insurreição que mudou a forma de Governo em 1889. Dona Isabel, com 43 anos de idade, seguiu com sua família para o exílio, na madrugada de 17 de novembro de 1889, depois de ter sido expedida, na véspera, uma intimação pelo Major Frederico Solón, o mesmo que houvera espalhado a calúnia, na Rua do Ouvidor, de que Dom Pedro II decretara a prisão de Deodoro e Benjamin Constant, notícia falsa que precipitou o golpe, com a cavalaria na rua.

A madrugada do embarque para o exílio era chuvosa e o mar estava revolto com graves riscos para as embarcações. Dom Pedro II sofria uma crise aguda do diabetes e embarcou, com dificuldade, amparado por seu médico particular, o Dr. Mota Maia, que com ele seguiu viagem. Foi nesse contexto dramático que a família real rumou para o exílio sem volta, depois de quase meio século de um Governo de paz e prosperidade, reconhecido pelos historiadores.

Segundo suas próprias palavras, Isabel deixou a pátria aos soluços, sob as ordens e intimações do tenente-coronel João Nepomuceno Mallet, que mais tarde iria insurgir-se contra o proprio Governo republicano que ele ajudou a instalar. Não faltou quem quisesse reagir, como foi o caso do Almirante Tamandaré, mas Dom Pedro II recusou qualquer reação e pacificamente deixou o território nacional, para entrar na História.

E o Brasil inaugurou a República sob forte crise, com fechamento do Congresso, banimentos, censura à imprensa, perseguição de jornalistas, autoritarismos. A inflação disparou e a economia entrou em crise. E assim foi praticamente durante toda a primeira década de República.

Os temores expressos na carta de três meses antes se confirmaram antes de que fosse possível legar aos negros libertos sua cota de justiça.

Dom Pedro II morreu em Paris, em 5 de dezembro de 1891, e ela passou a ser considerada pelos monarquistas imperatriz de jure do Brasil - Dona Isabel I.

Apesar da dor do exílio Dona Isabel teve uma velhice tranquila, instalada no castelo da família em Eu, na Normandia, propriedade de Gastão de Orléans (Castelo d'Eu). Rodeada pelos filhos e netos fez de sua casa uma embaixada informal do Brasil. Recebia brasileiros de passagem, ajudou o jovem Alberto Santos Dumont quando desenvolvia suas invenções. Passou os últimos anos da vida com dificuldades de locomoção. Em 1920 teve a felicidade de saber que a lei que bania a Família Imperial do Brasil havia sido revogada pelo Presidente Epitácio Pessoa.

Neste sentido, convém notar, como em todos os processos históricos, houve uma disputa judicial, iniciada logo após o exílio forçado, e durante a qual aconteceram avanços e retrocessos, pareceres favoráveis e desfavoráveis e uma série de constrangimentos pelos quais a família imperial teve de passar. Em 1903, por exemplo, foi julgado em 14 de janeiro um pedido de habeas corpus impetrado pelos republicanos Urbano Sampaio Neves, Olympio Lima e Alberto Veiga:

"Olympio Lima e outros impetram ordem de habeas corpus em favor de Gastão de Orléans, Conde d'Eu, sua mulher Isabel de Orleans e demais membros da ex-dinastia brasileira de Bragança, para que cesse o constrangimento ilegal de que são vítimas, por força do decreto que os baniu do território nacional, e pedem a anulação do citado decreto, alegando que ele foi revogado pela Constituição Federal."

Sobre o habeas corpus, sua elaboração e princípios, o site Histórias e Lendas de Santos afirma:

"A idéia de um habeas-corpus em favor da banida Família Imperial Brasileira nasceu do doutor Urbano de Sampaio Neves, ilustre advogado. Sua ação, como republicano, traduzira-se bem em seus trabalhos de jornalista no ultra-republicano Diário de Notícias. As conclusões a que chegara Urbano Neves são simples e objetivas: "Somente por ilegalidade, timidez ou indiferença é que a Família Imperial continua no exílio sob a pressão do decreto que a baniu do território nacional. Só por estranho capricho, ou revoltante ingratidão, é que se recusa sepultura em terra brasileira ao venerando Monarca que durante meio século dirigiu os destinos deste País". Urbano Neves levou sua idéia ao doutor Martim Francisco Ribeiro de Andrada - duplamente ilustre, pela ascendência e pelo talento - sugerindo-lhe que requeresse uma ordem de habeas-corpus, já que suas opiniões políticas o aproximavam da Monarquia, já porque a sua comprovada competência jurídica e o prestígio de seu nome dariam àquele recurso as proporções de verdadeiro acontecimento. O doutor Martim Francisco, porém, recusou a idéia. Escrúpulos de ordem moral e política, que a situação justificava, e porque a seus amigos e correligionários parecia inoportuna qualquer atitude que provocasse, por parte das autoridades republicanas, maiores desabrimentos e intolerâncias, deixava de intentar o recurso sugerido, aguardando melhores tempos e melhores circunstâncias. Suas idéias eram, porém, francamente favoráveis ao habeas-corpus e, por várias vezes, manifestou-se publicamente a seu favor. Uma vez que a iniciativa do recurso de habeas-corpus não partia do elemento dinástico, partisse, então, dos republicanos, como afirmação categórica do sentimento de justiça que deve presidir os regimes democráticos. E dessa vez não houve medo, receio, escrúpulo, precaução. Os dois mais brilhantes redatores de A Tribuna, Olympio Lima, seu fundador, e Alberto Veiga, talvez o mais perfeito estilista da imprensa santista, colocaram-se ao lado de Urbano Neves. E juntos, diante do País e da História, assumiram a inteira responsabilidade desse ato superior e necessário. Isso estabelecido, caberia, naturalmente, a Urbano Neves redigir a petição, já que teve a iniciativa da idéia e era dono do conhecimento profissional necessário, mas o advogado preferiu confiar a Alberto Veiga, sob sua assistência quanto à parte jurídica, aquela tarefa. Sem dúvida alguma, ninguém melhor do que Alberto Veiga, o mais completo redator, o mais perfeito articulista, para redigir o documento. E, igualmente, ninguém mais autorizado a ser um aliado naquele trabalho, pelo seu caráter, honra e sentimento de justiça, cerrando fileiras junto aos demais, pela causa."

Sobre a revogação do Decreto de Banimento propriamente dito, a notícia foi veiculada inicialmente pelo jornal "O Imparcial", do Rio de Janeiro, no dia 4 de setembro de 1920. O decreto 4.120, assinado em 3 de setembro de 1920, procurava corrigir uma distorção jurídica, onde uma família brasileira, que não cometera crime algum, fora expulsa do país de maneira arbitrária.

É a historiadora Luciana Pessanha Fagundes, em seu memorável artigo "Memórias da Monarquia: Dom Pedro II no Cenário Político da Década de 20" quem nos descreve as circunstâncias em que se deu esta revogação:

"Enfim, no dia 3 de setembro realizava-se no Salão de Despachos do Palácio do Catete a assinatura do decreto que revogava o banimento da Família Real. Para assinatura do decreto foi oferecida ao presidente uma caneta de ouro obtida especialmente para a ocasião com dinheiro arrecadado mediante subscrição pública promovida pelo jornal "A Rua". A cerimônia foi realizada com a presença de comissões de várias instituições importantes como o Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, a Associação Brasileira de Letras e a Associação Brasileira de Imprensa. O decreto é caracterizado como uma "nova Lei Áurea" por Affonso Celso em artigo para o Jornal do Brasil. O presidente do IHGBLei Áurea para a lei assinada naquele dia se devia pelo fato de que, assim como a de 13 de maio, "essa lei repara uma grave injustiça" e também "redime do exílio a excelsa senhora que mereceu o cognome de Redentora". A república teria, então, inscrito nos anais da história uma "data luminosa semelhante aquela do Império". Revogado o banimento, são formadas rapidamente duas comissões, capitaneadas pelo IHGB, encarregadas de organizar a recepção dos despojos do imperador e da imperatriz."

Além do banimento - por si só um ato autoritário e injustificável - ocorreu um verdadeiro confisco dos bens (particulares) da Família Imperial. Pouco comentado pela historiografia brasileira é o fato de que praticamente todos os bens e pertences dos Orléans e Bragança foram leiloados:

"No Brasil de 1890 deram-se 13 leilões dos bens da Casa Imperial - objetos, móveis e semoventes. Procederam à avaliação dos móveis, carros, animais e objetos existentes na Quinta da Boa Vista e os vindos do Paço da Cidade. O tenente-coronel Costa Ferreira, da parte do Juízo da 2ª Vara de Órfãos e João Teixeira, por parte do dr. José da Silva Costa, procurador de Dom Pedro de Alcântara. O Juiz da 2ª vara, dr. Honório Coimbra nomeou para proceder ao leilão o leiloeiro Joaquim Dias dos Santos. Francisco Marques dos Santos, em seu artigo intitulado "O leilão do Paço de São Cristóvão", publicado no Anuário do Museu Imperial, vol. 1, 1940, fala dos absurdos, da desordem, da avaliação arbitrária e venda forçada dos bens da família."

Exilada, espoliada, com a saúde frágil, extremamente abalada pela morte de dois de seus filhos (Antônio, em 1918, e Luís, em 1920), a princesa Isabel faleceu em 14 de novembro de 1921. Foi sepultada no cemitério local, de onde seria trasladada em 6 de julho de 1953 para um jazigo no Mausoléu Imperial da Catedral de Petrópolis. Como afirma Nelly Martins Ferreira Candeias: "A Princesa Isabel conviveu com o predomínio agrário do tempo e declínio dos escravagistas marginalizados pelo golpe fatal da Abolição. Enfrentou a ideologia republicana dos adversários, a extinção da monarquia e as tristezas do exílio."

Interesse Pela Doutrina Espírita

Apesar de ser a Princesa Isabel católica praticante, consta de uma carta que Manuel de Araújo Porto-alegre, o Barão de Santo Ângelo, escreveu a seu amigo e professor dos filhos da princesa, Joaquim Manuel de Macedo, que Sua Alteza, um dia, perguntou-lhe: "Quem é meu Espírito protetor?". Manuel de Araújo Porto-alegre era espírita declarado e se regozijava disso, dedicando-se entusiasticamente à psicografia. A carta do Barão de Santo Ângelo, datada de 25 de dezembro de 1865, com doze páginas manuscritas, foi escrita da cidade de Dresda, na Alemanha, e se encontra arquivada no Arquivo Nacional, no Rio de Janeiro, tendo sido também transcrita, na íntegra, com análise de seu conteúdo, no livro "Barão de Santo Ângelo, O Espírita da Corte", de autoria de Paulo Roberto Viola, publicado pela Editora Lorenz. O documento porém nada elucida além de uma curiosidade por parte da princesa. Extremamente religiosa e ligada ao Papa e ao Ultramontanismo, colocava-se sempre ao lado da Igreja em diversas ocasiões. A religiosidade da Princesa e o desejo de seu Pai, o Grande Imperador Dom Pedro II, em ver o Brasil transformado em um Estado Laico constam do livro "Dom Pedro II e a Princesa Isabel, Uma Visão Espírita-Cristã do Segundo Reinado", publicação da Editora Lorenz, primeiro livro do gênero lançado no dia 13 de maio de 2008 na Academia Brasileira de Letras.

Fonte: Wikipédia