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Zé da Zilda

JOSÉ GONÇALVES
(46 anos)
Cantor e Compositor

* Rio de Janeiro, RJ (06/01/1908)
+ Rio de Janeiro, RJ (10/10/1954)

José Gonçalves, mais conhecido como Zé da Zilda, foi um cantor e compositor brasileiro. Nasceu no subúrbio de Campo Grande, no Rio de Janeiro.

Filho de músico, aos cinco anos começou a aprender cavaquinho com o pai, passando mais tarde a acompanhar-se no violão. Antes de tornar-se cantor e compositor profissional, trabalhou como bombeiro-hidráulico.

Morou no morro da Mangueira desde a infância onde conviveu com o futuro compositor Cartola. Integrou a ala de compositores da Mangueira, compondo vários sambas de terreiro em parceria com Cartola e Carlos Cachaça.

No início da carreira, integrou a Companhia Teatral Casa de Caboclo, do bailarino Duque, tocando violão e cavaquinho, cantando emboladas e sambas. Ficou durante muito tempo conhecido pelo nome artístico de Zé Com Fome, por conta do personagem que interpretava para aquela Companhia. Foi convidado por Duque a ingressar na Rádio Educadora, na qual trabalhou formando dupla com Claudionor Cruz, que assinava Pente Fino. Mais tarde, como chefe de um regional e com programa próprio, passou para a Rádio Transmissora, na qual conheceu a cantora Zilda Gonçalves, que por essa época fazia sua estréia e com quem formou a Dupla da Harmonia.

Em 1936, o samba "Não Quero Mais" (José Gonçalves e Carlos Cachaça), foi cantado com grande sucesso pela Estação Primeira de Mangueira e gravado na RCA Victor por Aracy de Almeida, sendo sua primeira composição gravada.

Em 1937, seu choro "Devo E Não Nego" (José Gonçalves Dirigan Gonçalves), foi gravado pela dupla sertaneja Alvarenga & Ranchinho na RCA Victor, e o maracatu "Eu Sou Do Forte" foi registrado por Laís Marival na gravadora Columbia.

Zé da Zilda e Zilda do Zé
Em 1938, casou-se com Zilda Gonçalves. O casal manteve a Dupla da Harmonia e passou a atuar na Rádio Clube do Brasil. Nesse mesmo ano, Orlando Silva gravou "Meu Pranto Ninguém Vê" (José Gonçalves e Ataulfo Alves), e Ranchinho o samba-choro "Barracão De Zinco", as duas na RCA VictorMoreira da Silva na gravadora Columbia lançou o samba "Nega Zura". Ainda em 1938, gravou como crooner do Conjunto Regional do Donga a toada-brasileira "Corta Jaca" (Chiquinha Gonzaga), e o samba "Pelo Telefone" (Donga e Mauro de Almeida).

Em 1939, a Dupla da Harmonia passou a atuar no programa de Paulo Roberto na Rádio Cruzeiro do Sul, passando a ser chamada de Zé da Zilda e Zilda do Zé, nome dado pelo próprio apresentador e adotado inicialmente pela dupla, que o usou em apresentações nos shows e em circos.

Em 1939, gravou sozinho os sambas "Antonieta" (Alzira Medeiros e Zilda Fernandes), e "Virgulina" (Antenor Borges), além do maxixe "Escravo Do Samba" (Antenor Borges e René Bittencourt). 

Em 1940, a convite do maestro Villa-Lobos, participou juntamente com outras personalidades da música brasileira como Cartola, Pixinguinha, João da Baiana, Jararaca, Zé EspinguelaDonga e Luiz Americano, da gravação dos discos de Leopold Stokowski, registrados no navio Uruguai. Esses discos foram editados pela gravadora Columbia nos Estados Unidos. Na ocasião foram registrados seu samba-de-breque "Festa Encrencada" e seu maxixe "Bole-Bole", ambos compostos em parceria com Zilda Gonçalves.

Em 1941, seus sambas "Machucando A Gente" (José Gonçalves, Antenor Borges e M. Amorim) e "Projeto De Samba" (José Gonçalves e José Tadeu), foram gravados por Marilu, e a batucada "Uma, Duas E Três" (José Gonçalves Germano Augusto), foi gravada por Silvino Neto, na RCA Victor, além dos sambas "Tristeza" (José Gonçalves André Gargalhada) e "Zé Boa Vida" (José Gonçalves Claudionor Cruz), que foram lançados respectivamente por Gilberto Alves e Dircinha Batista na Odeon.


Em 1942 Nelson Gonçalves gravou o samba "Quem Mente Perde A Razão" (José GonçalvesEdgard Nunes e Cyro Monteiro), na RCA Victor. Lançou o samba "Senta Lá Na Mesa" (José Gonçalves e Claudionor Cruz). Ainda em 1942, sua primeira parceria com a esposa Zilda Gonçalves foi gravada, o samba "São Miguel", pela cantora Marilu. Teve também o samba "No Mundo Da Lua" (José Gonçalves Wilson Batista), gravado por Déo na gravadora Columbia. Também no mesmo ano, teve gravado seu maior sucesso, o samba "Aos Pés Da Cruz" (José Gonçalves Marino Pinto), por Orlando Silva na RCA Victor.

Em 1943, Déo gravou na Columbia os sambas "Cinzas Do Coração" (José Gonçalves Osvaldo Lobo), e "No Mundo Da Lua" (José Gonçalves Wilson Batista). Na RCA Victor, Marilu gravou o samba "Júlia Sapeca" e o choro "Fiz Um Chorinho", e Nelson Gonçalves o samba "Cruz Da Desilusão". Nesse ano, em plena Segunda Guerra Mundial, sua marcha "Galinha Verde" (José Gonçalves André Gargalhada), apelido que era dado popularmente aos simpatizantes do integralismo, foi gravada por Marilu na RCA Victor. Também em 1943, gravou o primeiro disco com a esposa Zilda Gonçalves com quem formou a dupla Zé e Zilda interpretando de sua autoria os sambas "Levanta José" e "Fim Do Eixo", sendo que este segundo samba fazia referência à derrota do eixo formado por Alemanha, Itália e Japão na Segunda Guerra Mundial.

Em 1944, seu samba "Meu Poema" (José Gonçalves Jorge de Castro), foi gravado por Orlando Silva, e o samba "Tapete De Flor" (José Gonçalves René Bittencourt), foi lançado por Gilberto Alves, ambos na gravadora Odeon. Ainda em 1944, Ataulfo Alves e Suas Pastoras gravaram o samba "Diz O Teu Nome" (José Gonçalves Ataulfo Alves). Com Zilda Gonçalves gravou os choros "Um Calo De Estimação" (José Gonçalves José Tadeu), e "O Malhador" (José Gonçalves Germano Augusto).

Em 1945, teve o samba "Não Posso Te Aceitar" (José Gonçalves Germano Augusto), gravado por Carmen Costa, e o samba "Rei Do Astral" lançado por Gilberto Alves, os dois na RCA Victor. Nesse ano, gravou com Zilda Gonçalves o samba-choro "Dona Joaninha" (José Gonçalves Ari Monteiro), o choro "Compadre Chegadinho" (José Gonçalves Germano Augusto), e os sambas "Gostozinho" (José Gonçalves Ari Monteiro) e "Izabel Não Voltou" (José GonçalvesGermano Augusto e Ari Monteiro).

Em 1946, gravou com Zilda Gonçalves os sambas "Vou-me Embora" (José Gonçalves e Marcelino Ramos) e "Se Eu Pudesse..." (José Gonçalves Germano Augusto), a batucada "Não Me Rasgue A Roupa" (Braga Filho e Germano Augusto), e o choro "Não Tenho Inveja" (Del Loro e Ari Monteiro). Também no mesmo ano, seu samba-choro "Caboclo Africano" (José Gonçalves Zilda Gonçalves), foi gravado por Jorge Veiga na gravadora Continental.


Em 1948 foi com Zilda Gonçalves para a gravadora Star e lançou os sambas "A Cabrocha Rasgou Minha Roupa" (José Gonçalves Oldemar Magalhães), e "Tribunal Da Terra" (José Gonçalves Paulo Gesta).

Em 1949 gravou com Zilda Gonçalves os sambas "Cidade Alta" (José Gonçalves Oldemar Magalhães), e "Enquanto Eu Viver""Luz Da Madrugada" (José Gonçalves e O. Silva). As marchas "Sanfoneiro Joaquim" (José Gonçalves Temístocles de Araújo), e "Tudo Azul" (José Gonçalves Paquito), além da batucada "Hoje, Não" (José Gonçalves Antônio Maria). Teve gravado por Roberto Silva o samba "Ela Não Tem Razão" (José Gonçalves Abelardo Barbosa), também em 1949.

Fez em 1950 com o radialista Abelardo Barbosa, o Chacrinha, o choro "Disco Voador" lançado por Zé Gonzaga na Odeon.

Em 1951 gravou a batucada "Para Dar Conforto A Ela" (José Gonçalves Benedito Lacerda) e teve o samba "Au Revoir" (José Gonçalves José Gama de Souza), gravado pelos Demônios da Garoa.

Em 1952, gravou com Zilda Gonçalves a marcha "Parafuso" (José GonçalvesAdelino MoreiraZilda Gonçalves), e o samba "Não Fiz Nada" (José Gonçalves Antônio Maria). Teve ainda o samba "Nosso Amor" e o mambo "Filho De Mineiro", parcerias com Zilda Gonçalves lançados por Emilinha Borba na gravadora Continental.

Em 1953 lançou com  Zilda Gonçalves os sambas "Meu Contrabaixo" (José Gonçalves Antônio Maria), "Dona Fortuna" (José GonçalvesJ. Reis e Airton Amorim), "Bom Filho Não Esquece" (José Gonçalves Felisberto Martins), e "Levou O Diabo" (José GonçalvesZilda Gonçalves e O. Silva). Ainda nesse ano, a marcha "Vendedor De Pirulito" (José Gonçalves Zilda Gonçalves), e o samba "Jura" (José GonçalvesAdolfo MacedoMarcelino Ramos) foram gravados por ele e Zilda Gonçalves em conjunto com a cantora Diamantina Gomes. O samba "Jura" obteve grande repercussão popular. Ainda em 1953, gravou com a mulher Zilda Gonçalves o baião "Eh! Baião" (José Gonçalves Jota Reis), e o bambo "Mentira" (José GonçalvesZilda Gonçalves e O. Silva). Teve ainda gravados o samba "Devagar" (José Gonçalves Jarbas Reis), por Aracy de Almeida, e a marcha "Quebra Mar" (José GonçalvesAdelino Moreira e Zilda Gonçalves) por Marlene.


Para o carnaval de 1954, lançou com Zilda Gonçalves a marcha "Saca-Rolha" (José GonçalvesZilda Gonçalves e Valdir Machado), que se tornou um clássico do repertório carnavalesco. Nesse ano, seu samba "Não Sabe O Que Diz" (José Gonçalves Valdir Machado), foi gravado por Diamantina Gomes, e a marcha "Funga-Funga" (José Gonçalves Adelino Moreira), foi lançada na gravadora Continental por Marlene. Gravou com a esposa, Zilda Gonçalves, o samba "Destruiram O Morro" (José GonçalvesZilda Gonçalves e Claudionor Santana), e a valsa "Pede A Deus". Também no mesmo ano, a dupla trabalhou na Rádio Mayrink Veiga.

Em setembro de 1954, gravou seu último disco, falecendo menos de um mês depois, cantando com Zilda Gonçalves as marchas "Ressaca" (José Gonçalves Zilda Gonçalves), que seria sucesso no carnaval do ano seguinte, e "Guarda Essa Arma" (José GonçalvesJorge GonçalvesZilda Gonçalves).

Um mês após sua morte, foi homenageado por Ataulfo Alves com o samba "Zé da Zilda" gravado na Todamérica por Ataulfo Alves e Suas Pastoras. Em dezembro de 1954, foi homenageado pela gravadora Odeon com a gravação dos sambas "Império Do Samba" (José Gonçalves Zilda Gonçalves) e "Samba Do Assovio" (José GonçalvesZilda GonçalvesA. Silva E. Silva) interpretados pelo Coro de Artistas da Odeon.

Em 1955, a marcha "Ressaca" foi regravada em ritmo de tango pela Osquestra Típica de Osvaldo Borba. Ainda nessse ano, recebeu homenagem da esposa Zilda Gonçalves com a gravação do samba-canção "Meu Zé" (Ricardo GalenoZilda Gonçalves). Seu samba "Império Do Samba" foi escolhido por uma comissão julgadora reunida no Teatro João Caetano como um dos dez mais populares daquele carnaval.

Em 1956, duas composições de sua autoria, ainda inéditas, foram lançadas por sua esposa Zilda Gonçalves, a marcha "As Águas Continuam" (José GonçalvesZilda Gonçalves e Rubens Campos), e o samba "Vai Que Depois Eu Vou" (José GonçalvesZilda Gonçalves, Adolfo Macedo e Airton Borges). Esse último por sinal foi grande sucesso. Mais tarde, com os mesmos parceiros, Zilda Gonçalves compôs "Vem Me Buscar", homenagem ao esposo falecido.

Em 1973, Paulinho da Viola incluiu "Não Quero Mais Amar A Ninguém" no LP "Nervos De Aço", lançado pela gravadora Odeon.

No ano de 1975, várias músicas de sua autoria, como "Garota Copacabana", "Nega Zura" e "Mulher Malandra" foram regravadas por Jorge Veiga no LP "O Melhor De Jorge Veiga", lançado pela Copacabana Discos.

Leny Andrade regravou em 1994 "Não Quero Mais Amar A Ninguém", no disco em homenagem a Cartola que fez pela gravadora Velas.

Em 1998, foi lançado o CD "Chico Buarque De Mangueira", lançado pela BMG, no qual Chico Buarque prestou homenagem aos compositores da Mangueira. Nesse disco, foi gravado um samba seu em parceria com Germano Augusto, "Se Eu Pudesse", interpretado por Alcione e Nelson Sargento.

No ano 2000, o Arquivo Geral da Cidade do Rio de Janeiro lançou o CD duplo "Mangueira - Sambas De Terreiro E Outros Sambas". Nesse disco foram gravadas duas músicas de sua autoria, "Meu Amor Já Foi Embora" (José Gonçalves Cartola) e "Quem Se Muda Pra Mangueira".

Em 2004, quando se celebraram os cinquenta anos de sua morte, a Universidade Moacir Bastos, com sede em Campo Grande, promoveu uma homenagem em sua memória, de que foi conferencista-convidado o crítico Ricardo Cravo Albin, que discorreu para uma numerosa platéia sobre a vida e obra do cantor e compositor, nascido em Campo Grande.

Morte

Zé da Zilda faleceu precocemente aos 48 anos de idade vítima de um derrame cerebral. Por ocasião de seu falecimento, assim reportou-se o jornal O Globo no dia seguinte:

"Da manhã de sexta à manhã de sábado perduraram as esperanças de que o derrame cerebral se tornasse frustado e os médicos devolvessem aos ouvidos do povo a voz do seu cantor. Mas às 11:20 hs de anteontem entrou em luto o samba nacional ao confirmar-se a notícia triste: faleceu Zé da Zilda, que na linguagem musical proclamava que 'o mundo inteiro não valia o seu lar', e que tornara amarguras da vida carioca em reclamação melodiosa no sucesso 'Saca-Rolha', do último carnaval. Contava ele com 46 anos de idade".

Discografia

  • 1954 - São João do Rancho Fundo / No Terreiro Da Tia Sinhá (Odeon, 78)
  • 1954 - Pede A Deus / Destruíram O Morro (Odeon, 78)
  • 1954 - Ressaca / Guarda Essa Arma (Odeon, 78)
  • 1953 - Meu Contrabaixo / Dona Fortuna (Odeon, 78)
  • 1953 - Bom Filho Não Esquece / Levou O Diabo (Odeon, 78)
  • 1953 - Saca-Rolha / Olha O Coco Sinhá (Odeon, 78)
  • 1953 - Eh! Baião / Mentira (Odeon, 78)
  • 1952 - Nego Da Calça Amarela / Vai Levando (Odeon, 78)
  • 1952 - Parafuso / Não Fiz Nada (Odeon, 78)
  • 1952 - Cansado / Sapateiro (Odeon, 78)
  • 1951 - Assobia Pra Esquecer / Em Caxias É Assim (Star, 78)
  • 1951 - Para Dar Conforto A Ela (Star, 78)
  • 1950 - Tempo Quente / Samba De Branco (Star, 78)
  • 1949 - Cidade Alta / Sanfoneiro Joaquim (Star, 78)
  • 1949 - Paulo Da Portela / Jequitibá (Star, 78)
  • 1949 - Tudo Azul / Enquanto Eu Viver (Star, 78)
  • 1949 - Luz Da Madrugada / Hoje, Não (Star, 78)
  • 1949 - Zé Camilo / Jangadeiro (Star, 78)
  • 1948 - Vem Me Consolar / Falam De Mim (Continental, 78)
  • 1948 - A Cabrocha Rasgou Minha Roupa / Tribunal Da Terra (Star, 78)
  • 1947 - Procura-se Uma Mulher / Promete (Continental, 78)
  • 1947 - A Dona Do Lar / Aula De Francês (Continental, 78)
  • 1946 - Vou-me Embora / Não Me Rasgue A Roupa (Continental, 78)
  • 1946 - No Alto Da Serra / O Dinheiro É Que Manda (Continental, 78)
  • 1946 - Se Eu Pudesse... / Não Tenha Inveja (Continental, 78)
  • 1946 - A Hora Da Onça / Sonhei (Continental, 78)
  • 1946 - Trabalhar Eu Sim / Morena Do Brasil (Continental, 78)
  • 1945 - Mais Um Louco / Ai, Adélia! (Continental, 78)
  • 1945 - Dona Joaninha / Compadre Chegadinho (Continental, 78)
  • 1945 - Gostozinho / Izabel Não Voltou (Continental, 78)
  • 1945 - Pega No Pandeiro / Conversa, Laurindo! (Continental, 78)
  • 1945 - Até Qualquer Dia / Quem Tem Culpa Tem Medo (Continental, 78)
  • 1944 - Um Calo De Estimação / O Malhador (Continental, 78)
  • 1944 - Segura Chico / Tire O Meu Nome Do Meio (Continental, 78)
  • 1943 - Levanta José / Fim Do Eixo (RCA Victor, 78)
  • 1939 - Antonieta / Virgulina (RCA Victor, 78)
  • 1939 - Escravo Do Samba (RCA Victor, 78)
  • 1938 - O Ccorta-Jaca / Pelo Telefone (Odeon, 78)

Celso Vieira

CELSO VIEIRA DE MATOS MELO PEREIRA
(76 anos)
Escritor, Historiador, Biógrafo e Ensaísta

☼ Recife, PE (12/01/1878)
┼ (19/12/1954)

Celso Vieira de Matos Melo Pereira, mais conhecido como Celso Vieira, foi um historiador, escritor, biógrafo e ensaísta brasileiro. Nasceu na cidade do Recife, PE, em 12/01/1878 e era filho de Rafael Francisco Pereira e de Marcionila Vieira de Melo Pereira.

Mudou-se para Belém, PA, onde ali estudou no Colégio Paes Leme, iniciando o curso de direito, que concluiu no Rio de Janeiro, em 1899. Já formado, voltou ao Recife, participando no ano de 1901 da fundação da Academia Pernambucana de Letras, ali assentando na Cadeira 20. Foi, ainda, presidente desta entidade.

Retornou, mais tarde, para o Rio de Janeiro, onde ocupou alguns cargos públicos, como o de auxiliar do Chefe de Polícia do Rio de Janeiro, a secretaria do Tribunal de Justiça deste estado e ainda a direção do Gabinete do Ministro da Justiça, dentre outros.

Academia Brasileira de Letras

Terceiro ocupante da cadeira que tem por patrono Tobias Barreto, sucedendo a Santos Dumont que, havendo cometido suicídio, não chegou a tomar posse. Foi eleito a 20/07/1933, sendo empossado em 05/05/1934, recebido por Aloysio de Castro. No Silogeu ocupou a secretaria e a presidência, esta última em 1940. Foi o imortal encarregado de recepcionar o acadêmico  Vítor Viana, em 30/08/1935.

Celso Vieira foi sucedido na Academia Brasileira de Letras, pelo médico e professor Maurício de Medeiros.

Celso Vieira faleceu em 19/12/1954.

Excertos

"No oratório-berço donde veio Rui - berço e altar de Vera Cruz - era ainda criança e colegial, quando a voz de um poeta anunciou que ele seria um tribuno-gigante. Com efeito, à velha tribuna religiosa de Antônio Vieira, prodígio do século XVII e enlevo do templo católico, erigida no solo baiano, sucedeu a tribuna jurídica, freqüentada pela nova eloqüência e pelo novo sacerdócio, em que se multiplicaram as suas orações, flamejantes cóleras ou esplendentes milagres do Verbo nas alturas."
(Homenagem a Ruy Barbosa)

"Senhores Acadêmicos. Quando fui recebido nesta casa, em 1935, por Aloysio de Castro, sentenciou esse amável confrade, resumindo-me o longo tirocínio administrativo, que o secretariado era a minha vocação e o meu fadário. Houve sorrisos discretos no auditório ilustre. Daí por diante, confirmando o vaticínio ao colega, que exultava à hora das eleições, infalivelmente, a Academia elegeu-me 2o secretário, 1o secretário e secretário geral, posto já ofuscante, no qual supunha eu ter vencido o ápice do meu destino (...)"
(Do Discurso Inaugural da Sessão de 28/12/1939)

Publicações

Autor pouco conhecido, tanto da crítica quanto do público, Celso Vieira publicou os seguintes trabalhos, a maioria no campo biográfico:

  • 1919 - Endymião
  • 1919 - O Semeador
  • 1920 - Defesa Social
  • 1923 - Varnhagen
  • 1929 - Anchieta
  • 1932 - Para as Lindas Mãos
  • 1936 - Aspectos do Brasil
  • 1939 - Tobias Barreto
  • 1941 - Estudos e Orações (Ensaios)
  • 1945 - Manuel Bernardes, Clássico e Místico
  • 1946 - Scepticisme et Beauté
  • 1949 - Joaquim Nabuco
  • 1951 - O Gênio e a Graça

Rubens Vaz

RUBENS FLORENTINO VAZ
(32 anos)
Militar

☼ Rio de Janeiro, RJ (17/03/1922)
┼ Rio de Janeiro, RJ (05/08/1954)

Rubens Florentino Vaz foi um militar brasileiro, major da Força Aérea Brasileira (FAB), nascido no Rio de Janeiro, RJ, no dia 17/03/1922.

Filho de Joaquim Florentino Vaz Júnior, advogado e fiscal de rendas, e de Zilda de Oliveira Vaz, em 01/04/1940 iniciou seu curso na Escola Militar do Exército.

Em 1941, com a criação do Ministério da Aeronáutica, solicitou transferência para essa arma. Foi aluno da Escola de Cadetes da Aeronáutica, no Campo dos Afonsos, no Rio de Janeiro.

Em agosto de 1943 foi declarado aspirante-aviador pela Escola de Cadetes da Aeronáutica, no Campo dos Afonsos, Rio de Janeiro, sendo promovido a segundo-tenente-aviador em abril do ano seguinte e a primeiro-tenente-aviador em agosto de 1945.

Em agosto de 1947 atingiu a patente de capitão-aviador e, em julho de 1953, tornou-se major-aviador.

Em 1954, servia na Diretoria de Rotas Aéreas, no Rio de Janeiro, sob o comando do brigadeiro Eduardo Gomes, quando se intensificou a oposição ao governo de Getúlio Vargas (1951-1954). Carlos Lacerda destacou-se entre os elementos mais extremados no combate ao presidente da República, tendo liderado, nesse sentido, sucessivas campanhas. Alcançou grande repercussão sua denúncia contra a concessão, em 1953, de financiamentos irregulares ao jornal getulista Última Hora, dirigido por Samuel Wainer.

Corpo do major Rubens Florentino Vaz
O Atentado

No temor de que a vida de Carlos Lacerda estivesse correndo sério risco, foi montado um esquema de segurança constituído por um grupo voluntário de oficiais da Aeronáutica, que se revezavam dia e noite em sua guarda. Integrando esse grupo, na madrugada do dia 05/08/1954, quando acompanhava Carlos Lacerda e seu filho Sérgio até a residência de ambos, na Rua Toneleros, 180, o major Rubens Vaz foi assassinado por tiros que visavam atingir Carlos Lacerda.

A Aeronáutica instalou, na base aérea do Galeão, inquérito policial-militar destinado a apurar as responsabilidades pelo crime. Pela independência de atuação que teve, com amplos poderes para convocar quaisquer autoridades suspeitas de envolvimento, essa investigação ficou conhecida como República do Galeão.

Os tiros contra Carlos Lacerda foram disparados quando ele voltava ao carro após chamar o garagista do Edifício Albervania e se despedir do major Rubens Vaz. A munição usada foi calibre 45. Carlos Lacerda disparou seu revolver calibre 38 contra os agressores. Não acertou ninguém. Depois desse rápido tiroteio, Carlos Lacerda foi ferido no pé e o major  Rubens Vaz ficou caído no chão com dois tiros no coração. 

A investigação subsequente indicou como mandante do crime o chefe da segurança pessoal do então Presidente da República, Getúlio VargasGregório Fortunato, apelidado de O Anjo Negro.

Após investigações, foi preso em Tinguá Climério Eurides de Almeida, policial do Departamento Federal de Segurança Pública, onde nunca trabalhou. Ele prestava serviço na Guarda Pessoal do Presidente da Republica. Presos também foram o motorista, que levou os autores do atentado, Nelson Raimundo e Alcino João do Nascimento, que posteriormente confessou ser o autor da morte do major  Rubens Vaz.

Local do crime Rua Tonelero, 180
No dia do crime, 05/08/1954, a proteção a Carlos Lacerda deveria ser feita pelo major Gustavo Borges, mas em virtude da necessidade de realizar um voo para completar as horas determinadas aos aviadores, o major Rubens Vaz o substituiu naquela noite, fazendo um favor ao colega.

Após a descoberta de que os assassinos eram pessoas ligadas à guarda pessoal do presidente, intensificou-se ainda mais a campanha contra Getúlio Vargas, gerando-se uma crise que culminaria com o suicídio do presidente, 19 dias depois do atentado, em 24/08/1954.

No dia 28/08/1954, já no governo de João Café FilhoRubens Vaz foi promovido post mortem a tenente-coronel-aviador.

Após o movimento político-militar de março de 1964, foi-lhe conferida nova promoção póstuma em junho de 1965, a coronel-aviador.

Rubens Vaz foi casado com Lígia Figueiredo Vaz, com quem teve quatro filhos. Sua viúva casou-se posteriormente com o médico João Luís Alves de Brito e Cunha.

Em sua homenagem, Carlos Lacerda, já governador do Estado da Guanabara, deu ao túnel que liga as ruas Tonelero e Pompeu Loureiro o nome do major.

Tribuna da Imprensa, 05/08/1954
Agosto de 1954 - No Banco dos Réus

No processo investigatório, que envolveu a morte do major Rubens Florentino Vaz e o ferimento do jornalista Carlos Lacerda, houve várias nuanças dignas de Sherlock Holmes, ou mesmo de Agatha Christie.

A caçada aos criminosos e, em conseqüência, as prisões efetuadas empolgaram o Brasil. Os noticiários de rádios e jornais deixavam em suspense aqueles que acompanhavam o desenrolar dos fatos.

A partir da prisão de Gregório Fortunato, ex-chefe da guarda pessoal do presidente Getúlio Vargas, e da apreensão do seu arquivo, a situação agravou-se. Na realidade, encontrou-se um punhado de documentos sem importância, na sua grande maioria correspondências que continham saudações ou respostas a algum pedido para beneficiar ou mesmo ajudar algum apaniguado.

Instruídos pelos advogados, os envolvidos no crime da Tonelero, principalmente Gregório Fortunato, começaram a apresentar vários nomes em seus depoimentos de possíveis mandantes, e estes sempre tinham imunidades ou alta patente. A intenção era complicar, o máximo possível, o trabalho da Comissão do Inquérito Policial Militar. E, assim, o inquérito acabou tomando um novo rumo.

Gregório Fortunato depõe no Galeão
No dia 21/08/1954, Gregório Fortunato afirmou que "recebera do deputado federal Euvaldo Lodi, por intermédio de Roberto Alves, a proposta de bombardear Carlos Lacerda, mas que teria repelido tal plano. Não satisfeito, voltou posteriormente a propô-la, em termos violentos, no quarto do próprio Gregório Fortunato, no Palácio do Catete".

Euvaldo Lodi era deputado federal pelo Partido Social Democrático (PSD, MG) e presidente da Confederação Nacional das Indústrias (CNI) e da Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (FIRJ). Sua acareação com Gregório Fortunato e Roberto Alves contou com a presença do presidente em exercício da Câmara Federal, deputado José Augusto, que ouviu tudo. Euvaldo Lodi acabou acuado no depoimento, deixando transparecer que pudesse estar envolvido no incitamento ao crime.

Outro nome que acabou sendo implicado foi o do irmão de Getúlio Vargas, Benjamim Vargas. No Inquérito Policial Militar (IPM), foi incriminado por ter mentido para a comissão ao depor no Galeão e acusado de ter instigado os criminosos a "tomar providências para dar sumiço ao jornalista Carlos Lacerda".

Benjamin Vargas
Benjamin Vargas
 afirmou em seu depoimento que Gregório Fortunato, ao voltar de Petrópolis, no dia 08/08/1954, a chamado do presidente Getúlio Vargas, "havia confessado a ele que tinha arquitetado um plano para acabar com o sujeito (Carlos Lacerda)". Mas a comissão ficou sem entender o porquê do silêncio do irmão do então presidente, que guardou essa informação por quase duas semanas.

Foram aparecendo mais nomes no decorrer das averiguações, como o do deputado federal Danton Coelho, acusado de incitar o atentado. Mas como parlamentar, Danton Coelho, valendo-se das imunidades, recusou-se a prestar qualquer esclarecimento.

Finalmente, apareceram indícios envolvendo o general Ângelo Mendes de Morais, ex-prefeito do Distrito Federal e inimigo de Carlos Lacerda, que o tratava pelo seu jornal de "coxo de voz fina". Com o surgimento de uma patente superior, a Comissão que cuidava do Inquérito Policial Militar (IPM) foi obrigada, pela legislação militar brasileira, a encaminhar para o ministro da Aeronáutica todo o inquérito.

Alcino João do Nascimento, assassino do major Rubens Florentino Vaz
O Julgamento

A promotoria instruiu o processo composto de 11 volumes e, finalmente, em 04/10/1956, teve início o julgamento de todos os envolvidos. O primeiro a ir a júri foi Alcino João do Nascimento, no 1º Tribunal do Júri, presidido pelo Dr° Joaquim de Souza Netto, tendo como promotor Araújo Jorge e na defesa, o advogado Humberto Teles. A viúva do major Rubens Florentino Vaz contratou o advogado Hugo Baldassarini, e Carlos Lacerda, o deputado Aduacto Lucio Cardoso, que auxiliaram na promotoria.

O corpo de jurados foi composto só de homens, pertencentes a vários segmentos: Advogados, médicos, comerciantes e funcionários públicos.

Após 17 horas de debates, Alcino João do Nascimento foi condenado a 33 anos de prisão, sendo 19 pela morte do major Rubens Florentino Vaz, 12 pela tentativa de homicídio de Carlos Lacerda e 2 por lesões corporais contra o guarda municipal Sálvio Romeiro. Em 1976, Alcino foi libertado, depois de cumprir 21 anos e 8 meses de prisão.

Climério Euribes de Almeida
No dia 08/10/1956, foi a vez de Climério Euribes de Almeida enfrentar o júri. O julgamento começou às 9h00 e terminou às 23h30. O criminalista José Valadão foi o seu advogado. O réu foi também apenado, em conformidade com o que se deu com Alcino João do Nascimento. Na prisão, em uma briga de presos, Climério recebeu uma estocada. Ferido, permaneceu durante anos internado no hospital Souza Aguiar, onde veio a falecer em 1975.

Gregório Fortunato
Gregório Fortunato foi o terceiro a ir a julgamento, em 11/10/1956. Dois advogados foram contratados para defendê-lo, os criminalistas Araújo Lima e Romeiro. Milhares de pessoas compareceram em frente ao Tribunal, no centro do Rio de Janeiro, para ver o Anjo Negro descer da viatura e entrar no prédio da Justiça.

A curiosidade foi enorme, o procurador da justiça Victor Nunes Leal (futuro ministro-chefe da Casa Civil do presidente Juscelino Kubitschek e ministro do Superior Tribunal Federal), desembargadores, juízes, promotores, advogados, funcionários da Justiça se acotovelavam na sala do Júri para assistir ao histórico julgamento.

Após quase 20 horas de debates, Gregório Fortunato foi condenado a 25 anos de prisão, sendo 11 anos pela morte do major Rubens Florentino Vaz, 12 pelo atentado a Carlos Lacerda e 2 pelos ferimentos no guarda municipal Sálvio Romeiro. Após ouvir a sentença do juiz Souza NettoGregório Fortunato sorriu. Cumpria sua pena na Penitenciária Lemos Brito, no Rio de Janeiro, quando em 1962 foi assassinado por uma estocada de outro preso.

Quando ainda preso na Base Aérea do Galeão, Gregório Fortunato foi visitado pelo major Hernani Fittipaldi. Ao ver o oficial, o Anjo Negro teria dito:
"Major, o senhor não acha que eu ia fazer essa burrada, né?"
Falou ainda que estava seguindo os passos de Carlos Lacerda há algum tempo e havia descoberto que o jornalista era amante da mulher de um deputado. O plano era montar um crime passional no local do encontro do casal na Gávea Pequena.

Nelson Raimundo
Nelson Raimundo
sentou no banco dos réus em 15/10/1956 como o motorista que conduziu o assassino até Copacabana. O advogado que defendeu Nelson Raimundo foi o renomado jurista Evaristo de Morais. O motorista foi condenado a 11 anos de reclusão, 6 anos pela morte do major Rubens Florentino Vaz, 4 anos por tentativa de assassinato de Carlos Lacerda e 1 pelos ferimentos ao guarda municipal Sálvio Romeiro. Depois de cumprir quase 7 anos de cadeia, saiu em condicional. Nelson Raimundo faleceu vítima de câncer no pulmão em 1979, sem entender como se meteu na história da Tonelero.

José Antônio Soares
No dia 18/10/1956, foi a vez de José Antônio Soares. Depois de horas de julgamento e apesar de estar em São Paulo quando ocorreu crime, o corpo do júri decidiu condená-lo a 26 anos de prisão, sendo 12 pela morte do major Rubens Florentino Vaz, 12 pela tentativa contra Carlos Lacerda e 2 anos pelas lesões ao guarda municipal Sálvio RomeiroJosé Antônio Soares saiu da prisão em 1975, gordo e careca. Posteriormente, mudou-se para o interior de Minas Gerais.

João Valente de Souza, secretário da guarda pessoal
No dia 22/10/1956, foi a júri o último implicado no caso do chamado Crime da Rua Tonelero, o ex-secretário da Guarda do Palácio do Catete, João Valente de Souza. No seu indiciamento não ficou comprovada sua participação efetiva no crime e, assim, foi acusado apenas de favorecimento pessoal.

Ele havia sido processado duas vezes, uma por jogar no bicho e a outra por tomar dinheiro dos bicheiros. Ao final do julgamento, foi condenado a 2 meses de detenção e a pagar 200 cruzeiros de multa, a sua pena ficou suspensa durante 2 anos por livramento condicional. Assim pôde sair do tribunal em liberdade.

Em 2004, 50 anos depois do Crime da Rua Tonelero, Alcino João do Nascimento, com 82 anos, morava na baixada fluminense e gozava de boa saúde e excelente memória. Em entrevista para a TV Globo, a propósito dos 50 anos da morte do presidente Getúlio Vargas, reafirmou o que havia escrito em seu livro de memórias, editado em 1978. Alcino João do Nascimento faleceu no dia 18/01/2014, aos 91 anos de idade.

Ele contou que havia sido contratado para vigiar Carlos Lacerda e assim o fez. Começou a segui-lo de longe desde o momento em que se dirigia para a palestra no Externato São José, na Tijuca. Quando chegaram em Copacabana, Climério Euribes de Almeida pediu que fosse confirmar se a pessoa que estava com o diretor da Tribuna de Imprensa era a mesma que o acompanhava no colégio. Como não enxergou, por estar longe, foi para trás de um automóvel Simca. Enquanto verificava a placa traseira do carro, foi surpreendido por uma forte chave de braço, tentou desvencilhar-se, mas não conseguiu. Nesse momento foram disparados vários tiros em sua direção. Com sorte, conseguiu afastar o homem que o segurava e deu-lhe um empurrão. Nesse momento, sacou seu revólver, disparou dois tiros e fugiu após tiroteio com o guarda municipal Sálvio Romeiro.

Carlos Lacerda aparece em público sendo levado por oficiais da Aeronáutica devido ferimento no pé após atentado
Apesar de tantos anos passados, Alcino João do Nascimento não tem dúvida: Quem acertou o primeiro tiro no major Rubens Florentino Vaz foi Carlos Lacerda. E para completar a cena do crime, o jornalista deu um tiro no próprio pé, para feri-lo e assim se tornar vítima.

A confissão não é fantasiosa. Desde 1954, muitas dúvidas ainda perduram. Se Carlos Lacerda foi ferido por um tiro, como puderam engessar seu pé, em vez de terem somente feito os curativos costumeiros para um ferimento à bala?

Por que Carlos Lacerda se negou a entregar seu revólver ao delegado Jorge Pastor, para que a Polícia Técnica fizesse o exame balístico?

Se Alcino João do Nascimento, que portava uma pistola calibre 45, tivesse de fato acertado o tiro no pé de Carlos Lacerda, este não teria perdido o membro em virtude do violento impacto?

As dúvidas perduram, mas o certo é que o tiro da Tonelero acertou o coração do povo brasileiro.

Oswald de Andrade

JOSÉ OSWALD DE SOUSA DE ANDRADE NOGUEIRA
(64 anos)
Escritor, Ensaísta e Dramaturgo

* São Paulo, SP (11/01/1890)
+ São Paulo, SP (22/10/1954)

Era filho único de José Oswald Nogueira de Andrade e de Inês Henriqueta Inglês de Sousa Andrade. Seu nome pronuncia-se com acento na letra a (Oswáld).

Foi um dos promotores da Semana de Arte Moderna que ocorreu 1922 em São Paulo, tornando-se um dos grandes nomes do modernismo literário brasileiro. Foi considerado pela crítica como o elemento mais rebelde do grupo, sendo o mais inovador entre estes.

O Papel de Oswald no Modernismo Brasileiro

Um dos mais importantes introdutores do modernismo no Brasil, foi o autor dos dois mais importantes manifestos modernistas, o "Manifesto da Poesia Pau-Brasil" e o "Manifesto Antropófago", bem como do primeiro livro de poemas do modernismo brasileiro afastado de toda a eloquência romântica, Pau-Brasil.

Muito próximo, no princípio de sua carreira literária, da pessoa de Mário de Andrade, ambos os autores funcionaram como um dínamo na introdução e experimentação do movimento, unidos por uma profunda amizade que durou muito tempo.

Porém, possuindo profundas distinções estéticas em seu trabalho, Oswald de Andrade foi também mais provocador que o seu colega modernista, podendo hoje ser classificado como um polemista. Nesse aspecto não só os seus escritos como as suas aparições públicas serviram para moldar o ambiente modernista da década de 1920 e de 1930.

Foi um dos interventores na Semana de Arte Moderna de 1922. Esse evento teve uma função simbólica importante na identidade cultural brasileira. Por um lado celebrava-se um século da independência política do país colonizador, Portugal, e por outro consequentemente, havia uma necessidade de se definir o que era a cultura brasileira, o que era o sentir brasileiro, quais os seus modos de expressão próprios. No fundo procurava-se aquilo que Johann Gottfried von Herder definiu como alma nacional (Volksgeist). Esta necessidade de definição do espírito de um povo era contrabalançada, e nisso o modernismo brasileiro como um todo vai a par com as vanguardas europeias do princípio do século, por uma abertura cosmopolita ao mundo.

Na sua busca por um caráter nacional, ou falta dele, que Mário de Andrade mostra em "Macunaíma", Oswald de Andrade, porém, foi muito além do pensamento romântico, diferentemente de outros modernistas. Nos anos vinte Oswald de Andrade voltou-se contra as formas cultas e convencionais da arte. Fossem elas o romance de idéias, o teatro de tese, o naturalismo, o realismo, o racionalismo e o parnasianismo, por exemplo Olavo Bilac. Interessaram-lhe, sobretudo, as formas de expressão ditas ingênuas, primitivas, ou um certo abstracionismo geométrico latente nestas, a recuperação de elementos locais, aliados ao progresso da técnica.

Foi com surpresa e satisfação que Oswald de Andrade descobriu, na sua estada em Paris na época do futurismo e do cubismo, que os elementos de culturas até aí consideradas como menores, como a africana ou a polinésia, estavam a ser integrados na arte mais avançada. Assim, a arte da Europa industrial era renovada com uma revisitação a outras culturas e expressões de outros povos.

Oswald de Andrade percebeu-se que o Brasil e toda a sua multiplicidade cultural, desde as variadas culturas autóctones dos índios até a cultura negra representavam uma vantagem e que com elas se poderia construir uma identidade e renovar as letras e as artes. A partir daí, volta sua poesia para um certo primitivismo e tenta fundir, pôr ao mesmo nível, os elementos da cultura popular e erudita.

Representações na Cultura

Oswald de Andrade já foi retratado como personagem no cinema e na televisão, interpretado por Colé Santana no filme "Tabu" (1982), Flávio Galvão e Ítala Nandi no filme "O Homem do Pau-Brasil" (1982), Antônio Fagundes no filme "Eternamente Pagu" (1987) e José Rubens Chachá, nas minisséries "Um Só Coração" (2004) e "JK" (2006).

As ideias de Oswald de Andrade influenciaram também diversas áreas da criação artística: na música o Tropicalismo, na poesia o movimento dos concretistas, e no teatro grupos como Teatro Oficina e Cia. Antropofágica têm sua trajetória ligada ao poeta.

Principais Obras

Além do "Manifesto da Poesia Pau-Brasil" (1924) e "Manifesto Antropófago" (1928), Oswald de Andrade escreveu:

Poesia

Sendo o mais inovador da linguagem entre os modernistas, abriu caminhos que influenciaram muito a poesia brasileira posterior como a de Carlos Drummond de Andrade, João Cabral de Mello Neto, o Concretismo e Manoel de Barros, bem como à obra do poeta francês Blaise Cendrars, considerado um dos 10 maiores poetas franceses do século XX pelo poeta Paul Eluard.

  • 1925 - Pau-Brasil
  • 1927 - Primeiro Caderno do Aluno de Poesia Oswald de Andrade
  • 1945 - Cântico dos Cânticos Para Flauta e Violão
  • 1945 - O Escaravelho de Ouro
  • 1947 - O Cavalo Azul
  • 1947 - Manhã

Romance

Seus romances ainda não são devidamente conhecidos, porém "Memórias Sentimentais de João Miramar", por exemplo, foi escrito antes de 1922, antecipando toda a linguagem do modernismo brasileiro.

  • 1922-1934 - Os Condenados (Trilogia)
  • 1924 - Memórias Sentimentais de João Miramar
  • 1933 - Serafim Ponte Grande
  • 1943 - Marco Zero à Revolução Melancólica

Teatro

Escreveu um dos mais importantes textos teatrais do Brasil, "O Rei da Vela", que só foi montado em 1967 pelo diretor José Celso Martinez. As peças de 1916 foram escritas em francês em parceria com Guilherme de Almeida. Os textos da década de 30 trazem conteúdo político e a constante discussão das idéias socialistas e foram os primeiros textos modernos do teatro brasileiro, antecedendo, inclusive, a Nelson Rodrigues.

  • 1916 - Mon Couer Balance e Leur Ame (Parceria Guilherme de Almeida)
  • 1934 - O Homem e o Cavalo
  • 1937 - A Morta
  • 1937 - O Rei da Vela

Fonte: Wikipédia