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Francesco Matarazzo

FRANCESCO ANTONIO MARIA MATARAZZO
(83 anos)
Agricultor, Mascate e Empresário

☼ Castellabate, Itália (09/03/1854)
┼ São Paulo, SP (10/12/1937)

Francesco Antonio Maria Matarazzo foi um agricultor italiano que, em 1881, emigrou para o Império do Brasil (1822-1889), tornando-se, neste país, mascate e, posteriormente, empresário. Tornou-se conhecido no Brasil como Francisco Matarazzo, Conde Francisco Matarazzo, Conde Matarazzo ou ainda Conde Francesco. Em italiano, sua titulação completa era Don Francesco Antonio Maria, Il Molto Onorevole Conte Matarazzo.

A importância de Francesco Matarazzo para o cenário econômico do Brasil só é comparável à que teve o Visconde de Mauá no Segundo Reinado do Império brasileiro (1822-1889), tendo sido um dos marcos da modernização do país.

Nasceu em Castellabate, uma pequena vila do sul da Itália, filho de Costabile Matarazzo e Mariangela Jovane, agricultores na região da Campânia. Francesco aos 27 anos emigra para o Império do Brasil (1822-1889), em 1881, em busca de melhores condições de vida. No desembarque, na Baía de Guanabara, perdeu a carga de banha de porco que trazia. Com o pouco dinheiro que lhe sobrou se estabeleceu na cidade de Sorocaba, província de São Paulo, no comércio de secos e molhados. Alguns anos depois estabeleceu uma empresa de produção e comércio de banha de porco.

Em 1890, mudou-se para São Paulo e fundou, com os irmãos Giuseppe e Luigi, a empresa Matarazzo & Irmãos. Diversificou seus negócios e começou a importar farinha de trigo dos Estados Unidos. Giuseppe participava da empresa com uma fábrica de banha estabelecida em Porto Alegre e Luigi com um depósito-armazém estabelecido na cidade de São Paulo.

No ano seguinte, a empresa foi dissolvida e constituiu-se em seu lugar a Companhia Matarazzo S.A. que já contava com 43 acionistas minoritários. Essa sociedade anônima passou a controlar também as fábricas de Sorocaba e Porto Alegre.

Em 1900, a guerra entre a Espanha e os países centro-americanos dificulto a compra do produto e ele conseguiu crédito do London And Brazilian Bank para construir um moinho na cidade de São Paulo. A partir daí, seu império empresarial se expandiu rapidamente, chegando a reunir várias fábricas por todo o Brasil. A renda bruta do conglomerado chegou a ser a quarta maior do país, e 6% da população paulistana dependia de suas fábricas, que, em 1911, passaram a se chamar Indústrias Reunidas Fábricas Matarazzo (IRFM), uma sociedade anônima.

Sua estratégia de crescimento seguia o lema "uma coisa puxa a outra". Para embalar o trigo, montou uma tecelagem. Para aproveitar o algodão usado na produção do tecido, instalou uma refinaria de óleo, e assim por diante.

Em 1928, participou da fundação do Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (CIESP).

Francesco Matarazzo morreu na condição de homem mais rico do país, com uma fortuna de 10 bilhões de dólares americanos, sendo o criador do maior complexo industrial da América Latina do início do século XX. A riqueza produzida por suas indústrias ultrapassava o PIB de qualquer Estado brasileiro, exceto São Paulo.

Títulos Nobiliárquicos

Francesco Matarazzo não pertencia à nobreza italiana nem à nobreza de outros países da Europa, no entanto, no Brasil, já bilionário, alguns de seus filhos vieram a se casar com membros da alta nobreza italiana. Entre os quais, suas filhas Claudia e Olga Matarazzo, que casaram-se com Dom Francesco Ruspoli, 8º príncipe de Cerveteri, e o príncipe Dom Giovanni Alliata Di Montereale, respectivamente. Seus filhos Giuseppe e Attilio Matarazzo, casados com Dona Anna de Notaristefani dei Duchi di Vastogirardi e Dona Adele dall'Aste Brandolini, respectivamente.

Para que não ficasse mal perante a nobreza, em função de entes da alta nobreza italiana estarem casados com plebeus, as referidas famílias nobres com que os filhos de Francesco Matarazzo estavam casados fizeram um lobby em torno do rei Vítor Emanuel III da Itália. Da mesma forma, Francesco Matarazzo fazia várias homenagens aos reis da Itália, como um hospital construído na cidade de São Paulo, o Hospital Umberto I, fundado em 1904 e nomeado em homenagem ao rei Humberto I de Itália.

Os referidos membros da alta nobreza italiana receberam, então, várias respostas negativas por parte do então rei italiano em relação ao conferimento de um título nobiliárquico a Francesco Matarazzo. Essas famílias da alta nobreza italiana buscavam, com o conferimento de um título nobiliárquico ao pai dos consortes de seus filhos, amainar o preconceito da nobreza europeia em relação aos consortes desses nobres.

No entanto, alguns anos depois a Itália entrou na Primeira Guerra Mundial (1914-1918). Nesse cenário, o monarca italiano disse que, por se tratar do pai de consortes de membros da alta nobreza italiana, se Francesco Matarazzo doasse milhões de dólares estadunidenses ao Reino da Itália, o monarca italiano conferiria um título nobiliárquico ao mesmo. Após o envio de milhões de dólares estadunidenses e demais mercadorias, Francesco Matarazzo recebeu do rei Vítor Emanuel III o título nobiliárquico de O Muito Honorável Conde Matarazzo, em 1917.

No entanto, o agora conde Matarazzo jamais seria considerado como membro da nobreza por toda a nobreza europeia, somente os descendentes dos casamentos de seus filhos e filhas com os referidos membros da alta nobreza italiana que, é claro, são considerados membros. Por outro lado, com o título de nobreza, Francesco Matarazzo viria a ser aceito pelos quatrocentões.

Para além disso, suas filhas, Olga e Claudia Matarazzo, casadas com os referidos membros da alta nobreza italiana, passaram a ser tituladas, em italiano, como Donna Claudia dei Conti Matarazzo e Donna Olga dei Conti Matarazzo, sendo-lhes adicionado o Donna e o dei Conti Matarazzo, que, literalmente, em português, significa "dos Condes Matarazzo", como dita a tradição nobiliárquica italiana. Havendo a possibilidade das últimas alternarem para a titulação de Contessina Donna Olga Matarazzo e Contessina Donna Claudia Matarazzo, como também dita a tradição nobiliárquica italiana em relação as filhas de um conde, que podem usar o título de Contessina (literalmente, em português: Condessinha), bem como, há, também, a possibilidade de que, quando uma Contessina esteja mais crescida, venha a utilizar o título de Condessa.

Também, seus filhos Giuseppe e Attilio Matarazzo, casados com as referidas nobres da alta aristocracia italiana, passaram a ser titulados, em italiano, como Don Giuseppe, Conte Matarazzo (Dom Giuseppe, Conde Matarazzo) e Don Attilio, Conte Matarazzo (Dom Attilio, Conde Matarazzo), como dita a tradição nobiliárquica italiana. O mesmo procedimento aconteceria com todos os filhos do agora Conde Matarazzo.

O Conde Francesco Matarazzo em fotografia, publicada na revista "A Cigarra", em 1917
Títulos e Comendas

  • O Muito Honorável Conde Matarazzo - Feito pelo rei Vítor Emanuel III da Itália, no Decreto Real de 25/06/1917, e, posteriormente, foi feita uma extensão do título aos filhos varões, no Decreto Real de 02/12/1926 (Itália).
  • Presidente Honorário do Palestra Italia (Que, atualmente, atende pelo nome de Palmeiras)
  • Cavaliere Magistrale del Sovrano Militare Ordine di Malta (Malta)
  • Cavaliere di Gran Croce del Gran Crodone dell’Ordine della Corona d'Italia (Itália)
  • Cavaliere del Lavoro (Itália)
  • Croce al Mertio Ungherese (Itália)
  • Cavaleiro Oficial (Primeira Classe) da Ordem do Cruzeiro do Sul (Brasil).

Descendência

Francesco Matarazzo e Filomena Sansivieri (1850-1940) tiveram 13 filhos:

  • Giuseppe Matarazzo (1877-1972), casado com Dona Anna de Notaristefani dei Duchi di Vastogirardi (1888-1959)
  • Andrea Matarazzo (1881-1958), casado com Dona Amália Cintra Ferreira (1885-1958)
  • Ermelino Matarazzo (1883-1920)
  • Teresa Matarazzo (1885-1960), casada com Gaetano Comenale
  • Mariangela Matarazzo (1887-1958), casada com Mário Comide
  • Attilio Matarazzo (1889-1985), casado com Dona Adele dall'Aste Brandolini
  • Carmela Matarazzo (1891-?), casada com Antonio Campostano
  • Lydia Matarazzo (1892-1946), casada com Giulio Pignatari (?-1937)
  • Olga Matarazzo (1894-1994), casada com o príncipe Dom Giovanni Alliata Di Montereale (1877-1938)
  • Ida Matarazzo (1895-?)
  • Claudia Matarazzo (1899-1935), casada com Dom Francesco Ruspoli, 8º principe di Cerveteri (1899-1989)
  • (Luigi) Luís Eduardo Matarazzo (1902-1958), casado com Bianca Troise.

Fonte: Wikipédia

Alberto de Oliveira

ANTÔNIO MARIANO ALBERTO DE OLIVEIRA
(79 anos)
Poeta, Professor e Farmacêutico

☼ Saquarema, RJ (28/04/1857)
┼ Niterói, RJ (19/01/1937)

Mais conhecido pelo pseudônimo Alberto de Oliveira, foi um poeta, professor e farmacêutico. Figura como líder do Parnasianismo brasileiro, na famosa tríade Alberto de Oliveira, Raimundo Correia e Olavo Bilac.

Foi Secretário Estadual de Educação, membro honorário da Academia de Ciências de Lisboa e imortal fundador da Academia Brasileira de Letras. Adotou o nome literário Alberto de Oliveira no livro de estréia, após várias modificações dispersas nos jornais.

Seu pai, mestre-de-obras, transferiu residência para o município de Itaboraí, onde construiu o teatro. De origem humilde, Antônio foi, seguindo o irmão mais velho, à capital da província, trabalhar como modesto vendedor. Ambos moravam num barracão aos fundos da casa comercial do Srº Pinto Moreira, em Niterói, vizinhos do pintor Antônio Parreiras, ainda anônimo, com 17 anos.

Diplomou-se em Magistério e Farmácia, cursando Medicina, vindo a conhecer Olavo Bilac, até o terceiro ano, mediante grande esforço pessoal, o que lhe rendeu emprego na Drogaria do "Velho Granado". Também abriu um colégio em Niterói.

Após a glória literária, destacou-se na política como Oficial de Gabinete do primeiro presidente de Estado do Rio de Janeiro eleito, José Tomás da Porciúncula, do Partido Republicano Fluminense (PRF), marcadamente prudentista (Democrático) e anti-florianista (Antitotalitário), com a pasta de Diretor Geral da Instrução Pública do Rio de Janeiro, equivalente ao atual Secretário de Estado de Educação.

Durante a transferência da capital do estado de Niterói para Petrópolis, em 1894, devido às insurreições e revoltas pró e contra a Proclamação da República, permaneceu na Cidade Imperial Serrana, já que a excelência de seu trabalho o manteve no cargo durante o mandato de Joaquim Maurício de Abreu.

Foi professor de português e literatura no Colégio Pio-Americano, em 1905, e na Escola Dramática e Escola Normal, em 1914, dirigida por Coelho Neto.

Participou da famosa Batalha do Parnaso, ocorrida no Diário do Rio de Janeiro entre 1878 e 1881 contra o ultra-romantismo piegas e já desgastado, junto com Teófilo Dias, Artur Azevedo e Valentim Magalhães, resgatando as origens do Romantismo dialogadas com aqueles novos tempos.

Reunidos em torno de Artur de Oliveira num café da Rua do Ouvidor, eram integrantes da vanguarda Idéia Nova, ao lado de Fontoura Xavier, Carvalho Jr. e Affonso Celso Jr., que lhe prefaciou o "Livro de Ema", deslocado da 1ª para a 2ª série das poesias.

Inspirados na Arte Moderna da França, feita por Théophile Gautier, Théodore de Banville, Charles Baudelaire e Leconte de Lisle, os "Tetrarcas" do Parnasianismo, e, secundariamente, em Sully Prudhome e José-Maria de Heredia, fizeram todos a maior revolução na poesia brasileira até então, importantíssima para a consolidação da Modernidade do Brasil, no tocante à literatura, a partir da eleição do novo como valor e da ruptura como sistema, tradição.

Envolveu-se com os fundadores da inovadora Gazeta de Notícias, Manuel Carneiro e Ferreira de Araújo, publicando poemas posteriormente reunidos no livro "Canções Românticas", prefácio de Teófilo Dias, em 1878, e conhecendo neste jornal o amigo Machado de Assis, que o citou no famoso artigo "A Nova Geração", na Revista Brasileira, em 1879, bem como lhe prefaciou "Meridionais", em 1884, ainda financiadas pelo jornal, livro-chave para a Idéia Nova da Nova Geração, só mais tarde referida conceitualmente, rotulada ou esquematizada como Estilo Parnasiano.

Decorrido apenas um ano, publicou, sob encomenda dos leitores, "Sonetos e Poemas" (1885), consagrando-se junto ao público, o que lhe rendeu um prefácio de T. A. Araripe Jr. ao livro seguinte, "Versos e Rimas" (1895), títulos talvez alusivos a "Sonetos e Rimas" (1880), de Luís Guimarães Jr., também Jovem Poeta, como eram conhecidos esses revolucionários em prol da poesia autêntica sem os clichês românticos.

Depois de quatro livros publicados, foi convidado por Machado de Assis para a fundação da Academia Brasileira de Letras em 1897, ocasião em que se vê a longevidade do convívio entre o romancista e o poeta.

Com Raimundo CorreiaOlavo Bilac, formou a tríade mais representativa da Idéia Nova da Nova Geração, hoje chamado Parnasianismo, reunida em sua casa no bairro Barreto em Niterói, e depois no seu famoso Solar da Engenhoca, situado na mesma cidade, ou no bairro Neves, São Gonçalo, residência anterior.

Impecável na métrica e correto na forma, sofre uma vaia que parece ainda ecoar desde a Semana de Arte Moderna de 1922, na voz de críticos literários fiéis à idéia Modernista.

Mário de Andrade, rancoroso pela rejeição dos parnasianos ao seu livro parnasiano "Há Uma Gota de Sangue em Cada Poema" (1917), se empenha em retaliar o velho estilo, cuja principal vítima era o poeta de Saquarema, como se vê nos ensaios "Mestres do Passado", publicados no Jornal do Commercio em 1921 e na "Carta Aberta a Alberto de Oliveira", publicada na Revista Estética nº 3, em 1925.

Nos últimos anos de sua vida, proferiu conferência "O Culto da Forma na Poesia Brasileira" (1913, Biblioteca Nacional; 1915, São Paulo) e ainda foi homenageado pelo Jornal do Commercio (1917). No mesmo ano, recebeu Goulart de Andrade na Academia Brasileira de Letras.

Foi eleito Príncipe dos Poetas Brasileiros, pelo concurso da revista Fon-Fon, em 1924, título desocupado desde a morte de seu discípulo e amigo Olavo Bilac, falecido em 28/12/1918.

Em 1935, prestigiou o Cenáculo Fluminense de História e Letras, com sua gloriosa presença. Sem dúvida, o poeta-professor foi Andarilho Fluminense, semeando lirismo e educação em todos os lugares por que passou: Saquarema, Rio Bonito, Itaboraí, Niterói, São Gonçalo, Petrópolis, Campos e Rio de Janeiro, no seu Estado natal, além de Araxá, São Paulo e Curitiba.

Seus incontáveis versos falam da pujança da natureza fluminense e dos encantos da mulher brasileira, ambas freqüentemente evocadas pela memória. Os temas da Grécia Antiga, que caracterizam o Parnasianismo de moldes franceses, formam uma pequena minoria da obra, em torno de 10%.

Vê-se sua herma no Jardim do Russel, no Rio de Janeiro, obra do escultor Petrus Verdier, ou na sede histórica da Prefeitura Municipal de Niterói, no jardim de entrada, obra do escultor H. Peçanha.

Fonte: Wikipédia

Noel Rosa

NOEL DE MEDEIROS ROSA
(26 anos)
Cantor, Compositor, Violonista e Bandolinista

* Rio de Janeiro, RJ (11/12/1910)
+ Rio de Janeiro, RJ (04/05/1937)

Noel Rosa nasceu de um parto muito difícil para sua mãe, em que o uso do fórceps pelo médico causou-lhe um afundamento da mandíbula que o marcou pela vida toda. Criado no bairro carioca de Vila Isabel, primeiro filho do comerciante Manuel Garcia de Medeiros Rosa e da professora Martha de Medeiros RosaNoel Rosa era de família de classe média, tendo estudado no tradicional Colégio São Bento.

Adolescente, aprendeu a tocar bandolim de ouvido e tomou gosto pela música - e pela atenção que ela lhe proporcionava. Logo, passou ao violão e cedo tornou-se figura conhecida da boemia carioca. Entrou para a Faculdade de Medicina, mas logo o projeto de estudar mostrou-se pouco atraente diante da vida de artista, em meio ao samba e noitadas regadas à cerveja.

Noel Rosa foi integrante de vários grupos musicais, entre eles o Bando de Tangarás, ao lado de Braguinha (João de Barro), Almirante, Alvinho e Henrique Brito.


Em 1929, Noel Rosa arriscou as suas primeiras composições, "Minha Viola" e "Toada do Céu", ambas gravadas por ele mesmo. Mas foi em 1930 que o sucesso chegou, com o lançamento de "Com Que Roupa?", um samba bem-humorado que sobreviveu décadas e hoje é um clássico do cancioneiro brasileiro. Essa música ele se inspirou quando ia sair com os amigos, a mãe não deixou e escondeu suas roupas, ele, com pressa perguntou: "Com que roupa eu vou?".

Noel Rosa revelou-se um talentoso cronista do cotidiano, com uma sequência de canções que primam pelo humor e pela veia crítica. Orestes Barbosa, exímio poeta da canção, seu parceiro em Positivismo, o considerava o "Rei das Letras".

Entre os intérpretes que passaram a cantar seus sambas, destacam-se Mário Reis, Francisco Alves e Aracy de Almeida.

Noel Rosa não era bonito. O corpo franzino e o queixo afundado durante o parto à base de fórceps não ofereciam nenhum atrativo para os olhares femininos. O jeito, então, era compensar a falta de dotes físicos com a sedução das palavras. E assim, o "Poeta da Vila" se transformou em um grande sedutor. Lançava a sua lábia nos cabarés da Lapa ou nos botequins de Vila Isabel para colecionar namoradas em meio à boemia.

Ele conquistou, por exemplo, a extrovertida Fina e a tímida Clara praticamente ao mesmo tempo e não abriu mão de nenhuma delas. Fina trabalhava como operária numa fábrica de tecidos de Vila Isabel e foi presenteada com um dos clássicos de Noel Rosa: "Três Apitos"

"Quando o apito da fábrica de tecidos
Vem ferir os meus ouvidos
Eu me lembro de você...
Mas você não sabe
Que enquanto você faz pano
Faço junto ao piano
Estes versos pra você..."

A atriz e diretora de teatro Cybele Giannini é autora de um musical em homenagem a Noel Rosa. Ao mergulhar na pesquisa sobre a vida e a obra do poeta, Cybele Giannini também não resistiu aos seus encantos. Ela tenta explicar esse fascínio que Noel Rosa despertava nas mulheres:

"Ele era inteligente, uma pessoa simpática, carismático. Ele fazia samba como quem toma água, então, ele fazia música para uma, fazia música para outra, cantava. Quando elas reclamavam porque ele demorava para chegar, porque isso e aquilo, ele acabava dizendo que elas tinham razão e elas acabavam sem reação. E elas não podiam falar mais nada porque ele vinha com toda aquela lábia: 'você está certa, desculpas, eu não vou fazer mais'. Ele conquistava mesmo. Eu sou apaixonada pelo Noel desde mocinha. Eu digo sempre que, se ele fosse vivo, eu seria mais uma na rede dele."
Lindaura e Noel Rosa

Mas de tanto se engraçar com as beldades de Vila Isabel, Noel Rosa acabou arrumando encrenca. O namoro com Lindaura, funcionária de uma lavanderia do bairro, foi parar na delegacia. A moça tinha 17 anos. A mãe dela não gostou de saber das escapulidas da filha com o compositor boêmio e acusou Noel Rosa de sedução de menor. Debaixo de muita pressão, não houve outra escolha para ele senão se casar com Lindaura à força no ano de 1934.

Porém, a grande musa inspiradora da curta vida do poeta era Juracy, uma dançarina de cabaré da Lapa. Mais conhecida como Ceci, ela arrebatou o coração de Noel Rosa e ganhou várias músicas de presente, como, por exemplo, "Vejo Amanhecer", "Pra Que Mentir", "Último Desejo" e "Dama do Cabaré".

Ceci teve outros namorados durante o romance com Noel Rosa. Inclusive, manteve um caso com o também cantor e compositor Mário Lago. O jornalista João Máximo chegou a entrevistá-la para escrever a biografia de Noel Rosa e sustenta que o "Poeta da Vila" foi, de fato, o grande amor da "Dama do Cabaré".

Juracy 'Ceci', aos 16 anos

"Ceci era uma pessoa adorável. É preciso que a gente entenda o que era ser, em 1934, uma dançarina de cabaré. Ela não era uma prostituta que estava ali para vender amor. A dançarina de cabaré estava ali para agradar o cliente dançando e o fazendo consumir. O cabaré tinha regras fixas, não havia nenhuma semelhança com pensão de mulheres, com zona, com rendez-vous ou coisa parecida. Lá dentro, nenhum tipo de contato mais íntimo era possível nem permitido. Mas, se depois dali você quisesse sair com a moça para algum lugar, isso, evidentemente, o chefão do cabaré não proibia. A Ceci era esse tipo de moça, que namorava eventualmente um cliente ou outro."

Noel Rosa também foi protagonista de uma curiosa polêmica travada através de canções com seu rival Wilson Batista. Os dois compositores atacaram-se mutuamente em sambas agressivos e bem-humorados, que renderam bons frutos para a música brasileira, incluindo clássicos de Noel Rosa como "Feitiço da Vila" e "Palpite Infeliz".

Esta rivalidade é um fato marcante presente em todos os livros, filmes e peças teatrais sobre Noel Rosa. Essa briga, em forma de música, que ele teve com o sambista Wilson Batista, outro boêmio e assíduo frequentador dos cabarés da Lapa, onde fazia uma espécie de apologia à malandragem.


Apesar de alguns de seus melhores amigos serem malandros e desocupados, Noel Rosa ficou incomodado especialmente com uma música de Wilson Batista: "Lenço no Pescoço".

Meu chapéu do lado, tamanco arrastando
Lenço no pescoço, navalha no bolso
Eu passo gingando, provoco e desafio
Eu tenho orgulho em ser tão vadio...

Era 1934 e Noel Rosa iniciou a polêmica ao responder Wilson Batista com a música "Rapaz Folgado".

Deixa de arrastar o teu tamanco
Pois tamanco nunca foi sandália
E tira do pescoço o lenço branco
Compra sapato e gravata
Joga fora esta navalha que te atrapalha...

Wilson Batista decidiu comprar a briga e, no mesmo ano, fez "Conversa Fiada" e "Mocinho da Vila". Nessas músicas, Wilson Batista chama Noel Rosa de "otário" e o aconselha a deixar os malandros em paz. Ele também questiona os versos de "Feitiço da Vila" ao afirmar que o bairro de Vila Isabel não tinha tradição no samba.

Foi aí que, em 1935, o "Poeta da Vila" tentou encerrar a polêmica com uma obra-prima: "Palpite Infeliz".

Quem é você que não sabe o que diz?
Meu Deus do céu, que palpite infeliz!
Salve Estácio, Salgueiro, Mangueira,
Oswaldo Cruz e Matriz
Que sempre souberam muito bem
Que a Vila Não quer abafar ninguém,
Só quer mostrar que faz samba também...

No entanto, Wilson Batista resolveu pegar pesado, mexendo com o defeito físico no rosto que tanto incomodava Noel Rosa. A música intitulada "Frankenstein da Vila".

Boa impressão nunca se tem
quando se encontra um certo alguém
que até parece um Frankenstein
Mas, como diz o rifão:
por uma cara feia perde-se um bom coração
Entre os feios, és o primeiro da fila
todos o reconhecem lá na Vila
Essa indireta é contigo
e depois não diga que eu não sei o que digo
Sou teu amigo


Noel Rosa ficou envergonhado de ser chamado publicamente de feio e ser comparado a Frankenstein. Ele se retraiu por alguns dias, mas logo se recuperou do golpe. Para encerrar a briga definitivamente, ele aproveitou a melodia de um samba recente de Wilson Batista, chamado "Terra de Cego", e compôs a música "Deixa de Ser Convencida", única parceria assinada pelos dois brigões, que, no entanto, não chegou a fazer muito sucesso.

Esquecido o rico duelo musical com Wilson Batista, Noel Rosa apontou a sua veia criativa para os outros temas que o circundavam na década de 1930.

Noel Rosa passou os anos seguintes travando uma batalha contra a tuberculose. A vida boêmia, porém, nunca deixou de ser um atrativo irresistível para o artista, que entre viagens para cidades mais altas em função do clima mais puro, sempre voltava para o samba, a bebida e o cigarro, nas noites cariocas, cercado de muitas mulheres, a maioria, suas amantes.

Mudou-se com a esposa para Belo Horizonte, lá, Lindaura engravidou, mas sofreu um aborto, e não pôde mais ter filhos, por isso Noel Rosa não foi pai.

Da capital mineira, escreveu ao seu médico, Drº Graça Melo:

Já apresento melhoras pois levanto muito cedo,
e deitar às nove horas para mim é um brinquedo.
A injeção me tortura e muito medo me mete,
mas minha temperatura não passa de trinta e sete!
Creio que fiz muito mal em desprezar o cigarro,
pois não há material para o exame de escarro!

Trabalhou na Rádio Mineira e entrou em contato com compositores amigos da noite, como Rômulo Pais, recaindo sempre na boêmia.

De volta ao Rio de Janeiro, jurou estar curado.

Noel Rosa morreu subitamente em consequência de um Colapso Cardíaco, quando na rua Theodoro da Silva nº 382, o compositor encontrava-se em companhia de sua progenitora, esposa e alguns amigos palestrando recostado no leito, já tuberculoso. Deixou Lindaura viúva e não foi pai de nenhum filho. Lindaura e dona Martha cuidaram dele até o fim.

Fonte: WikipédiaCâmara dos Deputados (Notícias - Rádio)