Mostrando postagens com marcador 1982. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador 1982. Mostrar todas as postagens

Waldir Calmon

WALDIR CALMON GOMES
(63 anos)
Compositor e Pianista

* Rio Novo, MG (30/01/1919)
+ Rio de Janeiro, RJ (11/04/1982)

Waldir Calmon Gomes foi um pianista e compositor brasileiro de grande sucesso nos anos 50. Gravou dezenas de discos, entre eles, a famosa série "Feito Para Dançar" e a música tema do extinto Canal 100, "Na Cadência do Samba (Que Bonito É)". Também gravou com Ângela Maria o disco "Quando Os Astros Se Encontram", em 1958. Neste LP, encontra-se o maior sucesso da sapoti: "Babalu".

Waldir Calmon criou um estilo imitado por muitos pianistas que o sucederam.

No ano de 1941 já como Waldir Calmon fez sua primeira gravação acompanhando Ataulfo Alves em "Leva Meu Samba".

Depois formou o grupo Gentleman da Melodia e circulou por teatros e cassinos do Rio e São Paulo. Foi nessa época que começou a tocar o primeiro solovox, um pequeno teclado incorporado ao piano, precursor dos sintetizadores, trazido para o Brasil, popularizando o instrumento.

Na década de 50 gravou vários discos "Ritmos Melódicos", no selo Discos Rádio, "Para Ouvir Amando", "Chá Dançante" e "Feito para Dançar", na gravadora Copacabana. Waldir Calmon foi o pioneiro a gravar sucessos dançantes em faixas únicas, ininterruptas, adequados a animar festas, eternizando nos acetatos o som que produzia nas boates de então.


Em 1955 abriu sua própria casa noturna, a popular Arpège, no Leme, Rio de Janeiro, que funcionou até 1967 e onde atuaram João Gilberto, Tom Jobim, Vinicius de Moraes, além de Chico Buarque, que fez um de seus primeiros shows, em 1966, ao lado de Odete Lara e MPB-4.

Seu conjunto era formado nessa época por Paulo Nunes (guitarra), Milton Banana (bateria), Eddie Mandarino e Rubens Bassini (percussão), Gagliardi (contrabaixo) e o próprio Waldir Calmon, ao piano e solovox.

Entre 1970 e o começo de 1977, atuou com sua orquestra de baile no Canecão, no Rio de Janeiro, antes e depois do show principal.

Nos últimos anos de carreira, passou a tocar também sintetizadores.

Casou-se com a também artista Marta Kelly, que adotou o nome Marta Calmon após o casamento. Com o nascimento da primeira filha, em 1963, esta abandonou a carreira para dedicar-se apenas ao casamento.

Waldir Calmon morreu em 11/04/1982 vítima de um infarto do miocárdio. Dois anos após, sua viúva voltou à cena artística, cantando e administrando a Orquestra Waldir Calmon.

Discografia
  • Série Feito Para Dançar (Volumes 1 ao 12)
  • Série Novo Feito Para Dançar (Letras A a E)
  • Série Chá Dançante (Volumes 1 ao 3)
  • Série Mambos (Volumes 1 e 2)
  • Série Para Ouvir Amando (Volumes 1 e 2)
  • Série Ritmos Melódicos (Volumes 1 e 3)
  • Série Uma Noite no Arpége (Volumes 1 ao 3)
  • Sonhos e Melodias
  • Boleros
  • Samba, Alegria do Brasil
  • Rosita Gonzales Com Waldir Calmon
  • Hit Parade
  • O Sucesso, Hoje
  • Lembranças de Paris
  • Ritmos do Caribe
  • Quando os Astros Se Encontram - Waldir Calmon e Ângela Maria
  • Ritmos S. Simon
  • Romance Sin Palabras
  • E o Espetáculo Continua
  • Clássicos Para Dançar
  • Nos Requebros do Samba
  • Músicas de Herivelto Martins
  • Waldir Calmon e Seus Multisons
  • Discoteque - Feito Para Dançar
  • Waldir Calmon - Feito Para Dançar, de 1980

Fonte: Wikipédia
Indicação: Miguel Sampaio

Dinah Silveira de Queiroz

DINAH SILVEIRA DE QUEIROZ
(71 anos)
Romancista, Contista e Cronista

* São Paulo, SP (09/11/1911)
+ Rio de Janeiro, RJ (27/11/1982)

Filha de Alarico Silveira, advogado, homem público e autor de uma Enciclopédia Brasileira, e de Dinorah Ribeiro Silveira, de quem ficou órfã muito pequena. Quem lê "Floradas Na Serra", seu livro de estréia de 1939, tem sua atenção despertada por aquela cena em que, ao morrer, um personagem, não querendo contaminar a filha pequena, despede-se dela, à distância, e pede que retirem a fita que prendia o cabelo da menina para beijá-la. A cena se passou na realidade com a escritora. Dona Dinorah veio a falecer aos vinte e poucos anos, deixando duas filhas: Helena e Dinah.

Com a morte da mãe, cada uma das irmãs foi para casa de um parente. Dinah foi morar com sua tia-avó Zelinda, que tanto influiria em sua formação. Datam desses tempos as temporadas na fazenda em São José do Rio Pardo, na Mogiana. Nas freqüentes visitas que o pai fazia à filha, havia sempre tempo para os livros, quando ele lia, em voz alta, as narrativas de Herbert George Wells. As passagens da "Guerra dos Mundos" causariam grande impressão no espírito da menina, assim com os escritos de Camille Flamarion a respeito de astronomia.

Dinah Silveira de Queiroz estudou no Colégio Les Oiseaux, em São Paulo, onde com a irmã Helena colaborou assiduamente no Livro de Ouro, vindo "por motivo de doença de Helena", como sempre assegurou, a ficar, afinal, com seu troféu literário de menina.


Casou-se aos 19 anos com Narcélio de Queiróz, advogado e estudioso de Montaigne, que teria grande influência nas leituras da mulher e a levaria a descobrir a vocação de escritora. Teve duas filhas: Zelinda e Léa.

Em 1961, a romancista enviuvou e, no ano seguinte, casou-se com o diplomata Dário Moreira de Castro Alves.

Seu primeiro trabalho literário recebeu o título de "Pecado", seguido da novela "A Sereia Verde", publicado pela Revista do Brasil, dirigida por Otávio Tarquínio de Sousa. Seu grande sucesso viria em 1939, com o romance "Floradas Na Serra", contemplado com o Prêmio Antônio de Alcântara Machado (1940), da Academia Paulista de Letras, e transposto para o cinema em 1955.

Em 1941, publicou o volume de contos "A Sereia Verde", voltando ao romance em 1949, quando publicou "Margarida la Rocque", e em 1954, com o romance "A Muralha", em homenagem às festas do IV Centenário da fundação de São Paulo. Ainda em 54, a Academia Brasileira de Letras lhe conferiu o Prêmio Machado de Assis, pelo conjunto de sua obra.

Em 1956, fez uma incursão no teatro com a peça bíblica "O Oitavo Dia". No ano seguinte, publicou o volume de contos "As Noites do Morro do Encanto", que fora laureado com o Prêmio Afonso Arinos da Academia Brasileira de Letras (1950).


Em 1960, publicou outro volume de contos, "Eles Herdarão a Terra", no qual já manifestava seu interesse pela ficção científica, que irá expressar-se melhor em "Comba Malina" (1969). Em ambos, prevalece a narrativa vazada dentro do chamado realismo fantástico.

Em 1962 foi nomeada Adido Cultural da Embaixada do Brasil em Madri. Após o casamento com o diplomata Dário Moreira de Castro Alves, seguiu com o marido para Moscou. Permaneceu na União Soviética quase dois anos, escrevendo artigos e crônicas, que eram veiculados na Rádio Nacional, na Rádio Ministério da Educação e no Jornal do Commercio. A ausência do Brasil criou em Dinah Silveira de Queiroz a necessidade de uma contribuição à vida brasileira, à qual concorria com suas crônicas diárias, mais tarde recolhidas no livro de crônicas "Café da Manha" (1969), e ainda em "Quadrante I" e "Quadrante II".

De volta ao Brasil, em 1964, escreveu "Os Invasores", romance histórico em comemoração do IV Centenário da fundação da Cidade do Rio de Janeiro.

Em 1966, partiu novamente para a Europa, fixando-se em Roma. Na capital italiana continuou a escrever crônicas e manteve um programa semanal na Rádio do Vaticano. Publicou a biografia da Princesa Isabel, "A Princesa dos Escravos", e "Verão dos Infiéis", romance inspirado nas palavras do Papa Paulo VI ao falar perante a Assembléia da Organização das Nações Unidas, em 1965. Essa obra recebeu o prêmio de ficção Prefeitura do Distrito Federal em 1969, quando comemorava a escritora trinta anos de literatura.


Em novembro de 1974, iniciou a publicação do "Memorial do Cristo", cujo primeiro volume se intitula "Eu Venho", seguido, em 1977, do segundo volume, "Eu, Jesus".

A eleição de Dinah Silveira de Queiroz, a segunda mulher a entrar para a Academia Brasileira de Letras, em 1980, foi a consagração de uma escritora vinda de uma das famílias brasileiras mais voltadas às letras. Além do pai, Alarico Silveira, nela figuram os nomes de Valdomiro Silveira, um dos fundadores da nossa literatura regional; Agenor Silveira, poeta e filólogo; Helena Silveira, contista, cronista e romancista; Miroel Silveira, contista e teatrólogo; Isa Silveira Leal, novelista; Breno Silveira, tradutor; Cid Silveira, poeta; e Ênio Silveira, editor.

A escritora viveu os últimos anos em Lisboa, Portugal, onde o embaixador Dário de Castro Alves chefiava a representação diplomática do Brasil. Lá escreveu seu último romance, "Guida, Caríssima Guida", publicado em 1981.

Dinah Silveira de Queiroz sempre dizia que só pararia de escrever quando morresse. E, já muito grave seu estado de saúde, continuava, mesmo assim, a ditar, em São Paulo, suas crônicas diárias. E ditou-as até três dias antes de passar para a eternidade.


Academia Brasileira de Letras

Dinah Silveira de Queiroz tornou-se a segunda mulher a ocupar uma cadeira, a sétima ocupante da cadeira sete, na Academia Brasileira de Letras, em sucessão a Pontes de Miranda, tendo sido recebida em 07/04/1981, mesmo ano da publicação de seu último trabalho, o romance "Guida, Caríssima Guida".

Adaptações

Tanto "Floradas na Serra" como "A Muralha" ganharam adaptações para o cinema e para a televisão, com muito sucesso. "Floradas na Serra" foi filmado em 1953 pelo estúdio Vera Cruz, com direção do italiano Luciano Salce e estrelado por Cacilda Becker e Jardel Filho.

Na televisão, houve duas adaptações. Uma na TV Cultura, de São Paulo, em 1981, na série "Teleromance", com Bete Mendes e Amaury Alvarez, e a outra no início da década de 1990, na TV Manchete, com as atuações de Carolina Ferraz, Marcos Winter, Myrian Rios e Tarcísio Filho. Já "A Muralha" foi adaptada para a televisão em três oportunidades: a primeira, em 1961, em uma adaptação simples e sem muitos recursos de Benjamin Cattan para a TV Tupi; a segunda adaptação foi de Ivani Ribeiro, em 1968, para uma superprodução da TV Excelsior que reuniu todo o elenco de estrelas da casa, na época, e em 2000, quando Maria Adelaide Amaral fez uma das minisséries mais caras da TV Globo.

Prêmios

Dinah Silveira de Queiroz foi laureada com vários prêmios literários. Recebeu em 1940 da Academia Paulista de Letras o Prêmio Antônio de Alcântara Machado pela obra "Floradas na Serra". Seu romance "Verão dos Infiéis" recebeu o Prêmio Prefeitura do Distrito Federal, em 1969. Da Academia Brasileira de LetrasDinah foi agraciada com duas importantes premiações: o Prêmio Afonso Arinos em 1950, pelo volume de contos "As Noites do Morro do Encanto" e o Prêmio Machado de Assis, pelo conjunto de sua obra, em 1954.


Obras


  • 1939 - Floradas na Serra (Romance)
  • 1941 - A Sereia Verde (Contos)
  • 1949 - Margarida La Rocque (Romance)
  • 1951 - As Aventuras do Homem Vegetal (Infantil)
  • 1954 - A Muralha (Romance)
  • 1956 - O Oitavo Dia (Teatro)
  • 1957 - As Noite do Morro do Encanto (Conto)
  • 1960 - Era Uma Vez Uma Princesa (Biografia)
  • 1960 - Eles Herdarão a Terra (Conto)
  • 1965 - Os Invasores (Romance)
  • 1966 - A Princesa dos Escravos (Biografia)
  • 1968 - Verão dos Infiéis (Romance)
  • 1969 - Comba Malina (Conto)
  • 1969 - Café da Manhã (Crônicas)
  • 1974 - Eu Venho, Memorial do Cristo I
  • 1977 - Eu, Jesus, Memorial do Cristo II
  • 1979 - Baía de Espuma (Infantil)
  • 1981 - Guida, Caríssima Guida (Contos)


Em Colaboração


  • 1960 - Antologia Brasileira de Ficção-Científica (Conto)
  • 1961 - Histórias do Acontecerá (Conto)
  • 1962 - O Mistério dos MMM (Contos)
  • 1962 - Quadrante 1 (Crônicas)
  • 1963 - Quadrante 2 (Crônicas)


Durval de Souza

DURVAL DE SOUZA
(54 anos)
Ator e Humorista

* (1928)
+ São Paulo, SP (05/03/1982)

Durval de Souza começou sua carreira artística em teatro. Ele estudou na Escola de Arte Dramática de São Paulo, tendo como professores Décio de Almeida Prado e Rugero Jacobi. A primeira peça de que participou foi "Casamento Forçado".

Logo a televisão solicitou sua colaboração, e Durval de Souza se deu bem nesse novo veículo de comunicação. Ampliou seus horizontes, passou a atuar em vários setores. Além de ator dramático foi coordenador de programas, produtor, tradutor de textos, pois era culto e dominava completamente o inglês, e foi também comediante.

Traduzia o que fosse necessário para a TV Record. No programa "Cinema em Vesperal", Durval de Souza fazia críticas de cinema para a TV. Como ator, em televisão e cinema, atuou  em "Carnaval Em Lá Maior" (1955); "My Darling", "Ceará Contra 007" (1965), "Mãos Ao Ar", "A Arte de Amar Bem" (1970), "Trote de Sádicos", "Guerra é Guerra", "Pintando o Sexo", "Nem As Enfermeiras Escapam" (1977).

Além disso, Durval de Souza fez também apresentação de programas, como "Pullman Jr.", ao lado de Cidinha Campos. Participou do programa "Papai Sabe Nada", mas o programa que mais gostou de fazer foi "A Grande Gincana Kibon".

Durval de Souza entrou na faculdade de Direito mas não completou o curso. Entretanto gostava muito de ler e admirava sobretudo Charles Chaplin.

Segundo as palavras de Januário Groppa, Durval de Souza foi um comediante e um desportista nato, sempre figurando nas competições da cidade de Matão, SP. Em 1945 participou do campeonato amador de futebol, juntamente com outras ilustres figuras do cenário matonense.

Durval de Souza cursou o primário em Matão e desde os bancos escolares prometia ser um grande artista, feito que conseguiu concretizar. Na revista "A Comarca" do ano de 1976, foi publicada uma reportagem completa com o ator Durval de Souza:

Matonense, produtor e artista de rádio, TV e cinema, emprestava ainda sua voz para comerciais e jingles. Trabalhou com Ronald Golias na TV Record, Canal 7, no programa "Bacará-76", na TV Tupie com a equipe de Renato Aragão em "Os Trapalhões". Trabalhou ainda no Canal 13, Rede Bandeirantes, produzindo a "Hora do Bolinha", e o programa "Edson Cury".

Comediante, também tinha um programa diário na Rádio Record de São Paulo. Sempre que podia, dizia que era de Matão, dando tanto destaque à cidade que foi apelidado de bairrista, alcunha que tinha orgulho de possuir. Nesta edição especial da revista "A Comarca", Durval de Souza foi entrevistado, dizendo que não visitava a cidade havia oito anos, surpreendendo-se, na época, com o progresso verificado.

Há oito anos, tinha vindo à Matão para fazer um Show, a pedido do padre Amador, cuja renda seria destinada à construção da Igreja Matriz. O show, com o pessoal do Canal 7, foi realizado no Cine Yara e dele participaram, entre outros artistas, o Pimentinha, Chocolate e Carlos Zara. Depois, voltou com o Blota Júnior, na época em que ele era Secretário de Turismo, para assistirem a Procissão de Corpus Christi.

No dia da entrevista, disse que já havia visitado os parentes, o seu tio Angelim, a tia Elisa, a Salete e o Drº Waldemar Kfouri.  Ao percorrer as ruas de Matão, confidenciou que se lhe trouxessem à Matão vendado, não saberia em que cidade estava, dizendo-se deslumbrado com o que viu.

Visitou os bairros da Pereira, da Santa Cruz, que ele chamava de Raposa e viu tanta gente trabalhando, pintando, tanto campinho de futebol fazendo futuros craques, falando da loteria esportiva, e reconhecendo-o como artista de televisão, dizendo que tinha orgulho de estar em sua terra, apesar de que por apenas um dia, mas que esse dia valia por oito anos.

Durval de Souza dedicou toda sua vida ao teatro, lembrando-se dos cirquinhos que fazia com a molecada, com palito de fósforos de ingresso. Depois fez Escola de Artes Dramáticas, trabalhando em 30 lugares diferentes em 29 anos de carreira.


Durval de Souza citou uma de suas lembranças:

"... uma delas é do meu avô, o velho Afonso Macagnam. Eu subia na mangueira e ele ficava embaixo. Havia umas mangas borbon e eu joguei na cabeça dele, e ele falava assim - 'desgrachiato desses pacharinho', eu pegava outra manga e pumba; e ele: 'pacharinho desgrachiato', até que ele me avistou. Foi buscar a espingarda dentro de casa, e até hoje não sei quanto tempo fiquei lá em cima e como de lá desci. Tem tanta coisa que a gente fez aqui, rapaz..."

Durval de Souza comentou ainda que havia constituído família, com esposa e duas filhas, estando velho na carreira, mas que tinha ainda muita coisa para fazer do que ficar vivendo do pecúlio do presidente Ernesto Geisel.

Havia terminado dois filmes, num deles fazia o papel de Hitler. O outro filme era  de pornochanchada, chamado "Sexo Furado", película que ele não recomendou aos menores de 14 anos. Neste filme, trabalhou com Ankito, sendo o patrão dele. Na entrevista, confessou que nunca havia assistido aos filmes que havia feito.

Durval de Souza fez dupla de sucesso com vários artistas, como Consuelo Leandro, Manuel de Nóbrega, tendo recebido o Troféu Roquete Pinto por cinco vezes consecutivas, além de haver recebido, das mãos do apresentador Sílvio Santos, o prêmio Campeões de Simpatia. Trabalhou ainda com Chico Anysio, um dos mais notáveis humoristas do teatro de da televisão brasileira.

Ao término da entrevista, fez uma declaração de amor à sua querida cidade Matão:

Durval de Souza morreu em 05/03/1982, aos 54 anos, na cidade de São Paulo.

Pessoas como Durval de Souza merecem o nosso mais caro agradecimento, pelas suas conquistas pessoais, sem esquecer sua origem e suas tradições, traços que levamos para a vida inteira. Onde quer que estejamos somos aquilo que recebemos de nossa geração anterior, e muito de nossa personalidade amolda-se pelo lugar em que nascemos, pelos lugares por quais passamos, pelas pessoas com as quais convivemos, isto é, nossa formação é sinal característico de tudo o que sentimos, de tudo o que vivemos. Não dá para esquecermos nossas mais caras lembranças. Isto é trajetória e história de vida. Como foi a de Durval de Souza, transformado em nome de via pública da cidade que ele tanto amou e tanto divulgou. Também tem seu nome em uma rua do bairro de Vila Mariana, em São Paulo.

Indicação: Paulo Américo Garcia

Gildo de Freitas

LEOVEGILDO JOSÉ DE FREITAS
(63 anos)
Cantor, Compositor, Repentista e Trovador

* Porto Alegre, RS (19/06/1919)
+ Porto Alegre, RS (04/12/1982)

Gildo de Freitas é nome artístico do cantor e compositor brasileiro Leovegildo José de Freitas. Ele possuía um estilo muito próximo ao do também tradicionalista Teixeirinha, com quem, apesar de algumas divergências, por vezes fez parcerias e rivalizava em popularidade. Trabalhou em diversas profissões, mas era a rigor um trovador e cantador popular.

Nasceu em 19/06/1919 ás margens de estrada de chão batido, que em 1919 era principal ligação entre Porto Alegre e o Litoral Norte, no bairro Passo D'Areia então zona rural de Porto Alegre. Entretanto muitos confundem o local de nascimento achando que foi em Alegrete quando na verdade ele possui o titulo de Cidadão Alegretense mas não nasceu em Alegrete.

Seu pai Vergílio José de Freitas era Castelhano, e um sujeito muito difícil, o nome e sua mãe era Georgina Santos de Freitas.

Gildo de Freitas começou trabalhar muito cedo, aos 8 anos já puxava uma carreta carregada com frutas pela vizinhança. Se nada vendia levava uma surra do velho Vergílio. Gildo de Freitas tinha quatro irmãos, Juvenal, Alfredo, João José e Manoel José, e quatro irmãs, Maria Ledorina, Maria Geraldina, Maria José e Maria Esmeraldina, e de longe era o mais esperto dos irmãos.

Esteve na escola apenas por seis meses. A escola era onde é hoje o estádio do São José de Porto Alegre e o nome de sua professora era Dona Paulina. Desde os 12 anos volta e meia fugia de casa. Certa vez descobriu uma cancha de carreiramento em Canoas e se ofereceu para cuidar dos cavalos, e depois para cantar e tocar gaita, instrumento que aprendeu a manusear em casa, de maneira autodidata com a gaita do seu irmão Alfredo. Gildo de Freitas comprou sua gaita 8 baixos apenas quando tinha vinte anos.

Por volta dos 16 anos já era praticamente imbatível nos versos, aprendeu com outros trovadores da época tais como Inácio Cardoso, Genésio Barreto, Zezinho Fagundes, Bena Brabo. Mas seus companheiros de trovas eram Felindro Pinto de Oliveira e Otávio Martim.

Aos 18 anos Gildo de Freitas animava bailes em diversos locais da região metropolitana e um desses bailes foi interrompido no meio da noite pela policia. Otávio, 17 anos, amigo de Gildo de Freitas, responsável pela música juntamente com o Gildo, era esquentado. Reagiu a ordem dos militares dizendo que não iriam parar com o som coisa nenhuma. Os PMs não admitiram ter suas ordens desobedecidas. O clima esquentou e, garrafas e cadeiras voaram para todos os lados, e Otávio acabou sendo baleado. Ao ver a queda do amigo, Gildo de Freitas resolveu se entregar. Terminando com as brigas imaginou que o parceiro receberia atendimento logo. Acabou sendo pior pois, dominado, apanhou ainda mais. E ao ser informado da morte do companheiro, revoltou-se tanto que jamais conseguiria encarar um homem fardado sem reagir de forma virulenta.

Por essas e por outras se diz que Gildo de Freitas, gaiteiro, trovador, poeta popular e um grande brigão, jamais entrou em pé em uma delegacia. Em todas às vezes, e foram varias, que foi preso precisou ser arrastado para a cadeia e por muitos policias.

Gildo de Freitas ao longo de sua vida nunca aguentou injustiças sem intervir, daquele seu jeito jeito chucro de ser. Um cafetão explorando prostituta, um marmanjo impondo sua força contra uma mulher ou uma criança, um sujeito humilhando um bêbado, nada disso era suportável aos olhos do justiceiro Gildo de Freitas.

Politizado, assim que se tornou conhecido no meio regionalista ele se integrou aos comícios de campanha de Getúlio Vargas, Leonel Brizola, João Goulart, Alberto Pasqualini entre outros ilustres trabalhistas.


Passou a usar sua música e seu talento nos desafios de trova em prol no que ele acreditava. A trova era a arma para defender seu ponto de vista e do ponto de vista dos fracos e oprimidos. Em seus últimos anos de vida uma das atividades que ela mais praticava era a distribuição de comida aos pobres.

Essa faceta social é bem visível nas músicas que compôs e nos improvisos do repente gaudério tal qual nas músicas "Vida Brava", no clássico "Eu Reconheço Que Sou Um Grosso", "Infância Pobre" entre outras.

Gildo de Freitas era hábil tanto ao falar sobre o que conhecia, como filosofia campeira, boêmia e casos de amor, quanto ao abordar assuntos aparentemente estranhos a ele, como misticismo, fantasmas, o mundo dos sonhos e até o movimento hippie. Exemplo disso é a música "Prova de Repentista" do LP "De Estância e Estância". A música começa com um locutor anunciando Gildo de Freitas e pedindo que a platéia desse o tema para os versos do cantor, e saltou logo um gaiato pedindo versos para a vovozinha, debochando da capacidade de Gildo de Freitas em fazer versos para a vovozinha. O locutor partiu na defesa de Gildo mas como não seria diferente, ele disse que faria os versos e cantou para a vovozinha em improviso, e deu uma lição no rapaz. Assim era Gildo de Freitas, fazia versos sobre qualquer assunto, pessoa, tema, situação. Era o improviso a marca de Gildo de Freitas e a partir dessa lógica ele falava e fazia versos sobre o que lhe desse na telha.

Em 1941 Gildo de Freitas casa-se com Carminha e passa a ter morada fixa em Canoas, RS, mas continuam os contratempos com a policia. Gildo e Carminha tiveram 5 filhos: Jorge Tadeu, Neuza de Freitas, Paulo Hermenegildo, José Cláudio e Leovegildo José.

A década de 40 reservava muito sucesso a Gildo de Freitas. As trovas no Rio Grande do Sul viraram moda a partir de 1930 e dominavam festas, bailes, bares e programas regionalistas de rádio, desde os precursores, lançados pelo poeta Lauro Rodrigues, até os grandes hits da Gaúcha e Farroupilha como o Grande Rodeio Coringa. Haviam artistas metidos a repentistas por todos os lados e um público cada vez maior e mais dispostos a avaliá-los, mas Gildo de Freitas já se destacava entre eles.

Passou a frequentar os espaços mais nobres dedicados as trovas e a ganhar a vida com isso. Apesar de estabelecido em Canoas com Carminha, Gildo de Freitas não costumava passar longas temporadas em casa. Ganhar a vida com trovas significava viajar por todo estado, apresentando-se para o publico do interior, grande consumidor dos desafios de repente gaudério.

Era freqüente Gildo de Freitas encontrar novos parceiros nas rodas de trova no mercado público da capital, que situava-se próximo aos estúdios da Rádio Farroupilha e servia de ponto de encontro dos músicos regionalistas, e com eles partir em viagens pelo Rio Grande do Sul.

Por volta de 1948/1949 desapareceu de casa e chegou a ser dado como morto na capital gaúcha, mas reapareceu na fronteira gaúcha.

Em longa temporada passada no Alegrete, mal conseguiu caminhar, com problema de paralisia nas pernas. Em uma comemoração de eleição em Alegrete, foi carregado em uma cadeira para se apresentar, já que não conseguia caminhar. Mas não impediu o contato com pessoas ilustres do Rio Grande do Sul e fronteira Oeste, como Salgado Filho, Rui Ramos e o Drº Salvador Pinheiro Machado. Salgado Filho gostou tanto de Gildo de Freitas e de seus versos que lhe prometeu passagens áreas para qualquer lugar do Brasil. E por causa desse desaparecimento compôs "Carta Pra Mamãe" e "Casinha do Pé de Umbú".

Em São Borja, no ano de 1950, conheceu Getúlio Vargas e entrou em sua campanha política. Por conta dessa aproximação, a policia parou de persegui-lo, depois de ser detido umas 40 vezes ao longo da sua vida, até então mas orgulhoso por jamais ter entrado em pé em uma cadeia.

Entre 1953/1954, Gildo de Freitas conheceu Teixeirinha, com quem estabeleceu entre 1955/1959, o que o artista mais popular do estado chamaria bem ao seu jeito de "uma parceria completa, dessas em que se mergulha de pé, barriga e cabeça".


Sobre essa parceria, Nico Fagundes, apresentador do "Galpão Crioulo", em depoimento ao jornal Zero Hora, escreveu que um duelo de versos entre Gildo de FreitasTeixeirinha, podia durar horas e muitas vezes ficava sem vencedor. Um depoimento mostra que Teixeirinha também era um exímio repentista. Mas Teixeirinha ficou famoso como cantor e compositor e Gildo de Freitas ganhou fama como trovador. Lamentavelmente não existe nenhuma gravação com estes duelos, imagine o valor histórico que uma gravação dessa teria hoje.

Por volta de 1955 muda-se para o bairro Passo do Feijó e abre seu primeiro bolicho.

Com o declínio dos programas de radio ao vivo em 1961/1962, Gildo de Freitas resolveu largar a profissão de trovador e resolveu criar porcos. Mas como seu talento era para a música e repentismo e não para criação de suínos, largou a vida de criador de porco e voltou a lidar com trova e músicas. A música "Cobra Sucuri" de sua autoria e que Teixeirinha gravou em um LP de 1963 "Teixeirinha Interpreta Músicas de Amigos", chamou a atenção do produtor da gravadora de nome Pereira, e Gildo de Freitas é convidado a gravar um disco.

Em 1964 viajou a São Paulo para gravar o primeiro LP, "Gildo de Freitas o Trovador dos Pampas", com clássicos como "Acordeona", "Baile do Chico Torto", "Historia dos Passarinhos" e "Que Jeito Têm a Mariana". Alias, antes de provocar o Teixeirinha, Gildo de Freitas com a música "Que Jeito Têm a Mariana", provocou Pedro Raimundo.

Já em 1965 foi lançado o segundo LP "O Trovador dos Pampas - Vida de Camponês". Entre outras músicas estava "Baile de Respeito" que é a primeira música gravada por Gildo de Freitas em provocação a Teixeirinha.

Mantendo o ritmo, foi lançado o terceiro LP "Desafio do Padre e o Trovador", onde Gildo de Freitas trovou com o então padre Rubens Pillar (Que no fim dos anos 60, largou a batina, casou, e foi prefeito de Alegrete por 3 mandatos e ex deputado estadual, falecido recentemente), ainda tinha outros sucessos como "Definição do Grito" e também a presença de uma resposta ao Teixeirinha.

Gildo de Freitas estava então atingindo o sucesso, muitas viagens, mas as vezes precisava ficar hospitalizado devido aos problemas nas pernas e no pulmão.

Em 1968 chegou ao quarto LP intitulado "Gildo de Freitas e Sua Caravana", e seguiu as provocações e respostas ao Teixeirinha.

Em 1969 foi lançado o quinto LP "De Estância em Estância" com mais uma provocação ao Teixeirinha chamada "Resposta da Milonga". Uma provocação ao sucesso de Teixeirinha que era "Milonga da Fronteira", e a briga estava chegando ao auge. O sucesso dessa tática era evidente, pois até hoje essas trocas de versos geram repercussões.

A década de 70 marcou o auge de Gildo de Freitas e as brigas com Teixeirinha começaram a esquentar, não mais sendo tática para vender discos e sim provocações de verdade. Entre 1970 e 1980 ele gravou mais oitos LPs entre eles sucessos como o "Ídolo" e "Rei do Improviso". Mas seguiam as complicações de saúde e até capa de disco ele fotografou no hospital. Diz a lenda que até baile ele fez para os doentes, animando o hospital.

Em 1977 é inaugurada a Churrascaria Gildo de Freitas em Viamão, e nesse tempo ainda existia o Rodeio Gildo de Freitas onde os peões tinham que provar que eram bons para ficar em cima dos cavalos "velhacos" como o próprio Gildo de Freitas dizia.

Em 1981 ele gravou o LP "Rei dos Trovadores" e seguiram-se os contratempos com a saúde. As brigas com Teixeirinha foram amenizadas mas não impediu a "Resposta da Adaga de S".

Em 1982 foram realizadas suas últimas gravações. Trata-se do LP "Figueira Amiga" pela Continental, com a ultima provocação a Teixeirinha com a música "Que Negrinha Boa" e claro, com a música "Figueira Amiga".

Em novembro de 1982 foi levado aos estúdios da RBS TV por Antônio Augusto Fagundes e Ivan Trilha para sua última aparição pública em um "Galpão Crioulo". Além do apresentador Nico Fagundes estavam as Gauchinhas Missioneiras e Os Serranos. Foi a última oportunidade de ver Gildo de Freitas, sua última apresentação e talvez a única onde se viu ele debilitado e conformado.

Mas sua trova final foi em São Borja em data desconhecida. Essa trova ficou conhecida como "Mensagem Final" que está em um CD de nome "Rodeio Gildo de Freitas - Mensagem Final" da USA Discos lançado em 2001. Nesta apresentação fez versos de mais de oito minutos, praticamente se despedindo.

Gildo de Freitas morreu em 04/12/1982 e foi sepultado dia 06/121982 em Viamão, RS, no Cemitério Velho.

O dia 04/12, data de sua morte e de Teixeirinha, foi instituído como Dia Estadual do Poeta Repentista Gaúcho no Rio Grande do Sul, pela Lei Estadual RS 8.819/89.

Indicação: Miguel Sampaio

Meira

JAIME TOMÁS FLORENCE
(73 anos)
Compositor e Instrumentista

* Paudalho, PE (01/10/1909)
+ Rio de Janeiro, RJ (08/11/1982)

Jaime Tomás Florence, o Meira, foi um compositor e instrumentista. Aprendeu a tocar violão com o irmão Robson, com quem seguiu para o Rio de Janeiro em 1928 no conjunto Voz do Sertão, organizado por Luperce Miranda ainda em Recife, em 1927, e integrado também por Minona Carneiro (cantor) e José Ferreira (cavaquinho).

Foi vizinho de Noel Rosa, que compunha os primeiros sambas. No início da década de 1930 teve editada uma musica sua, "Falando Ao Teu Retrato" (Meira De Chocolat), gravada em 1935 por Augusto Calheiros.

Sua estréia em disco ocorreu em 1934, quando Benedito Lacerda e seu Regional lançaram o choro "Primavera".

Em 1937 substituiu o violonista Carlos Lentine no Regional de Benedito Lacerda, o qual, com Dino 7 Cordas (violão de sete cordas), formou uma das mais duradouras duplas violonistas da música popular brasileira. Com o regional, acompanharam os grandes cantores populares da época, em apresentações e gravações.

Regional de Canhoto: Gilson, Canhoto e Altamiro Carrilho (de pé) - Meira, Orlando Silveira e Dino (sentados)
Na década de 1940, apareceu com algumas composições que alcançaram êxito, como "Aperto De Mão" (MeiraDino 7 Cordas e Augusto Mesquita), gravada por Isaurinha Garcia na RCA Victor, em 1943; "Deixa Pra Lá" (Meira e Augusto Mesquita), choro gravado por Isaurinha Garcia em 1945; e "Amar Foi Minha Ruína" (Meira e Augusto Mesquita), lançado por Gilberto Alves em 1947.

Em 1950, quando Benedito Lacerda abandonou as atividades artísticas, permaneceu no grupo, que passou a se chamar Regional do Canhoto, realizando durante a década de 1950 muitas gravações com choros dos seus integrantes, além de acompanhar outros artistas.

Augusto Mesquita, relançou o samba-canção "Molambo", grande sucesso nas gravações de Roberto Luna e Cauby Peixoto.

Em 1965 tomou parte no show "Samba Pede Passagem", organizado por Sidney Miller, e participou da gravação do LP "Rosa de Ouro", pela Odeon. Atuou em gravações de novos sambistas e, a partir de 1970, também de discos de choro, além de lecionar violão no Rio de Janeiro.

Assis Brasil

ARGEMIRO DE ASSIS BRASIL
(75 anos)
Militar e Professor

* São Gabriel, RS (11/05/1907)
+ Canoas, RS (23/06/1982)

Argemiro de Assis Brasil foi um militar brasileiro. Era filho de Leônidas de Assis Brasil, fazendeiro gaúcho, e de Márcia de Assis Brasil, que possuíam uma propriedade rural em Cacequi, no Rio Grande do Sul, onde Argemiro passou boa parte da infância.

O início de sua vida escolar foi em seu município natal. Em 1921, foi estudar no Colégio Militar de Porto Alegre, indo em seguida para a Escola Militar do Realengo, no Rio de Janeiro. Em 1929, graduou-se Oficial da Arma de Infantaria do Exército, formando-se em primeiro lugar na sua turma.

O general Assis Brasil casou em Santa Maria, RS, no dia 14/01/1939, com a professora Alba Arruda Gomes nascida em Santa Maria em 04/07/1918, falecida em Porto Alegre, RS, em 27/04/1967. Da união, nasceram Antônio Carlos de Assis Brasil, militar e engenheiro, e Paulo Renato de Assis Brasil, médico. Viúvo, casou-se com Iná Marques, adotando seu filho Juarez Marques como enteado.


Vida Militar

Em 1930, já segundo tenente, se negou a combater o governo de Washington Luís, em razão do qual foi preso e anistiado três meses depois por Getúlio Vargas.

Em 1932, como primeiro tenente, participou do Movimento Revolucionário Paulista, razão pela qual foi exilado por dois anos na Europa. Viveu por algum tempo clandestinamente na Argentina, sendo anistiado novamente em 1934 por Getúlio Vargas.

Concluiu em primeiro lugar em 1945, no posto de capitão, o curso da Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais. Major em 1949, formou-se na Escola de Comando e Estado-Maior do Exército, também em primeiro lugar. Recebeu a Medalha Marechal Hermes, devido aos três primeiros lugares que conquistou.

Foi professor de história universal e militar na Escola de Estado-Maior do Exército.

Em 1950, foi ao Paraguai como membro da Missão Militar Brasileira de Instrução. Lecionou História Militar e Geopolítica no curso de formação de oficiais do exército do Paraguai.

Regressando ao Brasil em 1953 como tenente-coronel, serviu no Comando da 3ª Região Militar, em Porto Alegre. Como coronel comandou o 2º Regimento de Infantaria em Santa Maria, o 19º Regimento de Infantaria em São Leopoldo e foi Chefe de Estado-Maior da 3ª Região Militar.

Em 1962, foi nomeado adido militar na embaixada brasileira em Buenos Aires.

Promoção a General

Em 1963, foi promovido a General-de-Brigada e convidado pelo presidente João Goulart para o cargo de Ministro Chefe da Casa Militar da Presidência, permanecendo até 1964. Ao acontecer o Golpe Militar de 1964, acompanhou João Goulart em seu exílio até Montevidéu, no Uruguai, retornando ao Brasil, onde se apresentou aos seus superiores e foi imediatamente preso no Forte de Jurujuba.

A Visão do General Assis Brasil

No ano de 1980, Cranger Cavalheiro de Oliveira solicitou ao general Assis Brasil que relatasse fatos históricos da vida política do Brasil, ocorridos a partir do início do século XX. Era a época em que iniciava a abertura política comandada pelo último general presidente, João Baptista de Oliveira Figueiredo.

O Assassinato do Senador Pinheiro Machado

Em 1915, o senador José Gomes Pinheiro Machado foi morto por uma punhalada pelas costas por Manso de Paiva Coimbra. Segundo Assis Brasil, o presidente da República, marechal Hermes da Fonseca, seguia as orientações e sugestões do senador gaúcho. E teria sido Pinheiro Machado, juntamente com Júlio de Castilhos, que consolidou a República nos pampas meridionais.

Com a morte do senador, a República se desestabilizou, pois foi assumida por um lobby político comandado por oligopólio, fazendeiros do café de São Paulo e latifundiários de Minas Gerais.

Ainda segundo seu depoimento, a campanha civilista na época bombardeava o marechal Hermes da Fonseca, e nada mais era do que uma digressão ideológica, sem nenhum fundamento histórico que a pudesse perpetuar dentro do panorama geopolítico e dialético. Consta que Ruy Barbosa lançou os fundamentos da República, que era governada por suas classes dominantes e pelas oligarquias, mas sem interferência de poderes espúrios e alienígenas.

Primeira Guerra Mundial

Cessada a Primeira Guerra Mundial, chamada por Assis Brasil:

"(sic) … de época de grande luta interimperialista que empolgou céus, mares e terras, desde aquele 1914 até a grande rajada de 1917, ríspida, em que os irmãos de todos os povos disseram ao mundo, montados geopoliticamente no coração de nosso universo presente."

Ainda em suas palavras:

"(sic) … Surgiu o sistema que matou o feudalismo, isto é, o capitalismo predatório e desumano, mais predatório e inumano do que o pior sistema que existiu sobre a Terra, que foi o sistema romano. Este não pôde ser derrubado pela força das armas, tendo que ser aniquilado, reduzido a pó, pela incomparável figura do Nazareno que, da Galileia, apenas com um nome, Jesus Cristo, conseguiu, com o seu espírito e com as bênçãos das mulheres do seu tempo, dizer por dois mil anos: paz na Terra aos homens de boa vontade."

Assis Brasil e Tarncredo Neves
As Lutas Internas no Rio Grande do Sul

Em 1921 seguia dentro do Rio Grande do Sul uma luta pelo poder entre Joaquim Francisco de Assis Brasil e Antônio Augusto Borges de Medeiros.

Ainda segundo o general, Júlio de Castilhos consolidou a República no extremo sul dentro da doutrina positivista de Augusto Comte. E Floriano Peixoto, ao abafar a Revolução de 1893, conseguiu fazer com que o Brasil não se desunisse em vários estados republicanos independentes.

A tentativa de golpe de 1893 foi feita pela Marinha no Rio de Janeiro, comandada pelo almirante Saldanha da Gama, e no Rio Grande do Sul, pelos aliados civis do almirante, chefiados pelo então senador Gaspar da Silveira Martins. No Colégio Militar de Porto Alegre, em 1921, havia partidários das facções em lutas internas no Estado, o que gerava conflitos na própria escola, que nada mais eram do que reflexos da sociedade em rápida mutação. Ali se iniciava o sentimento bipolarizado das sementes da esquerda e da direita.

Conforme palavras do general Assis Brasil:

"(sic) Conhecíamos, por ensinamentos de nossos mestres, naquele areópago de ciências humanísticas, conhecíamos, repito e, embora jovens sabíamos que a história é dinâmica, como a própria natureza. Devido a isso, ficávamos muito faceiros quando líamos no jornal Correio do Povo que os soldados, operários e marinheiros russos tinham destruído o bárbaro sistema feudal do czarismo, que oprimiu a França e a América do Norte, até os anos de 1789 e 1776, respectivamente. Até certo ponto, na nossa ingenuidade de meninos, fazíamo-nos líderes vanguardeiros daquelas evoluções, que ocorreram após a catástrofe bélica e de divisão do mundo de 1914 a 1918."

"O perfeito entendimento das consequências daquela catástrofe marcou profundamente o nosso espírito de jovens brasileiros, herdeiros de um continente pacífico e humano. Sem embargo, perscrutávamos que, se não fossem realizadas profundas reformulações sociais, políticas e econômicas, estaríamos, mais cedo ou mais tarde, submetidos àqueles desgastes que conduziram a velha Europa a uma segunda varredura política, social e econômica, a qual marcaria época no patamar inicial do século XX, como a augurar que, se os homens deste século não refletissem em base do que havia ocorrido, dialeticamente, com as gerações anteriores, estaríamos, forçosamente, submetidos a nova hecatombe, como veio a ocorrer em 1939, com a Segunda Guerra Mundial."

De 1922 a 1930

Ainda segundo o general:

"(sic) ... as causas que motivaram os movimentos de 1922 a 1930 tiveram, de um lado, seu background nos fatos já apontados sobre a Primeira Guerra Mundial, e, de outro lado, na Colônia, no Primeiro Império, na Regência, no Segundo Império e na República Velha, que nada fizeram para demolir as estruturas fazendárias, escravizantes e oligopolizantes que mantinham um status-quo altamente antiprogressista, de vez que continuavam a política econômica de um reino vassalo da "Rainha dos Mares", a tal ponto que, na pseudo-independência, foram os canhões de dois almirantes ingleses os baluartes de governos despóticos para, num arroubo de patriotismo, dizer que haviam salvado o Brasil."

"Não se pode negar que o movimento de 1930 tenha se caracterizado pelo grande apoio popular que recebeu. Não se pode negar, também, que os grandes propulsores desse movimento foram jovens oficiais das forças armadas brasileiras que já vinham marcados ideologicamente e, não poderia ser de outra maneira, pelos movimentos libertários de após 1918."

"Esse oficiais eram como uma alvorada dentro de uma força armada que, depois da cruenta guerra de 1864 a 1870, haviam se atirado na falsa filosofia positivista, pseudos-salvadora dos supremos conflitos sociais do século XIX e arrebóis do século XX."

"As forças armadas, que foram heróicas em Riachuelo, Lomas Valentinas, Curuzu, Curupaiti, Tuiuti e em tantos mais palcos de sanguinolentas batalhas, quando regressaram aos pagos, não encontrando que fazer, pensaram que seu destino patriótico apenas seria o de derrubar uma monarquia guardiã de uma estrutura feudal, monopolista e que somente servia aos interesses estrangeiros."

"Era normal, como se observa na história dos povos, que uma tal força armada descambasse para as intrigas da corte e, sem usar a espada, apenas acenando um quepe vermelho no Largo de Santana, derrubasse o Império que já não tinha mais nenhum respaldo popular."

Já no final da década de 20 e início da década de 30, o general Assis Brasil define que:

"(sic)  ... pertencia a um Exército renovado pelos ensinamentos da Missão Militar Francesa e de muitos chefes militares brasileiros que não admitiam que o Exército continuasse no seu aniquilamento profissional." "Nos bancos escolares, ao lado de jovens militares companheiros, aprendemos o que nos transmitiam os insignes mestres franceses e os não menos insignes mestres militares brasileiros. Aprendi que a força armada é, fundamentalmente, o povo em armas e não deve ser empregada a não ser com a sua atribuição constitucional. Destarte, fiquei convicto de que manipular um instrumento de defesa da nação como arma para servir de escada à política de interesses regionais, de classe ou particulares, seria cometer uma heresia em desacordo com o que me haviam ensinado. Por esse motivo, ao eclodir o movimento insurrecional de 1930 não o acompanhei, ficando ao lado dos poucos que defenderam o governo constituído. Eu pensava que, dentro de processos legais e democráticos, se pudesse reformular todas as questões que se apresentavam como desafio à Nação."

1932

"Na Revolução Constitucionalista de 1932, coloquei-me ao lado dos que se levantaram em armas para derrubar um governo que, segundo nosso juízo, não se assentava em nenhum princípio de legitimidade. Esse governo, desde o seu estabelecimento pela força, prometera legitimar-se através de uma Assembleia Constituinte que, paulatinamente, transferia e negava ao seu povo. Daí por que, nossa bandeira, foi a constitucionalização imediata do país. Como decorrência dessa atitude, coerente com meus princípios, tive minha carreira militar interrompida ao ser segregado do convívio com meus patrícios, exilado que fui para Portugal."

Assis Brasil e Alba na entrega de espadim a Antônio Carlos em 1960

O Exílio a Portugal

"O exílio serviu-me para refletir sobre a posição que havia tomado e, em particular, sobre as conotações que o movimento constitucionalista teria no contexto da política mundial."

"Desde logo, verifiquei que a nascente praga do fascismo poderia vir a influenciar nosso destino político. Por outro lado, fui alertado para o fato de que atrás da nossa sagrada revolução constitucionalista havia, também, interesses alienígenas, dado que o domínio de nossa economia pelo imperialismo britânico transferia-se a passos lentos e seguros para os novos senhores dos mercados conquistados dos antigos donos. Vi, então, ainda jovem, que os problemas decorrentes de nossa estrutura social, imobilizada pelos interesses das classes dominantes, se agravavam com a eficácia e a eficiência da exploração permanente daqueles novos senhores."

A Volta ao Brasil

"Quando eclodiu o movimento de 1935, servia eu na Amazônia, em Belém, como 1º Tenente. Não tomei parte no mesmo, ainda em coerência com os princípios de não me rebelar, como soldado, contra um governo revestido, já então, de legitimidade." "Sem embargo, considerei um grande absurdo a posição tomada, na oportunidade, pela liderança da intentona. Vi, desde logo, que através de uma quartelada, jamais seria possível transformar de "fond en comple" a estrutura social e econômica de uma nação."

"Os chefes e participantes do fracassado golpe não se deram conta dos reiterados ensinamentos do grande demiurgo da maior convulsão social do século XX, a saber: não se faz uma revolução no sentido sociológico sem que haja condições objetivas e subjetivas para tal empreendimento e, também, se não se contar com o apoio de grandes massas."

"O golpe o Estado Novo de 1937, trouxe no seu bojo aquele cheiro do nazi-fascismo que eu tanto temia, já nos idos de 1932, como me referi. Nem eu nem os militares e civis que possuíamos pontos de vista comuns e contrários ao famigerado golpe, tivemos condições de nos opor a ele."

"Essa falta de condições decorreu da habilidade do governo em preparar a passagem histórica, mascarando-a com larga série de invencionices e falsificações documentárias manipuladas nos escaninhos dos órgãos da alta cúpula militar que apoiava o governo e, de mesmo passo, baixava seus "ukases" para o conjunto aturdido de uma força armada tomada de surpresa e de pânico, tudo agravado pela recente recordação das estripulias cometidas pelos maus discípulos de Lênin, em 1935."

A Importância do General Assis Brasil no Golpe de 64

Quando era adido militar em Buenos Aires, o general Assis Brasil foi convidado para chefiar a Casa Militar do governo de Jango.

Uma vez em seu posto o militar estabeleceu algumas normas de conduta, entre as quais:

  • Os caminhos dos negócios não passariam pela Casa Militar;
  • A Casa Militar não seria uma agência de empregos;
  • Não deveriam ser tratados assuntos políticos na Casa Militar;
  • A Casa Militar não seria um superministério;
  • A todo o custo o interesse nacional e a soberania do país deveriam ser mantidos.


O general determinou que a Secretaria do Conselho de Segurança Nacional e o órgão de responsável pela inteligência e informações deveriam agir harmonicamente com os demais ministérios, além de não colocar na Secretaria do Conselho de Segurança Nacional e na do Gabinete Militar oficiais que não fossem da confiança dos ministros.

O Comício da Central do Brasil

No dia 13/03/1964 aconteceu o Comício da Central do Brasil. Segundo Assis Brasil, Leonel Brizola condenou veementemente a atuação dos congressistas. Em função disto João Goulart e o ex-governador do Rio Grande do Sul se desentenderam, fato este que perdurou por longo tempo.

A Revolta dos Marinheiros

Quando iniciou o episódio da Revolta dos Marinheiros, o general Assis Brasil estava no Rio de Janeiro e viajou para o Rio Grande do Sul para se encontrar com o presidente. Ainda segundo informou o militar em sua narrativa, João Goulart não sabia da gravidade da situação, além de desconhecer que o I Exército havia assumido o controle da situação.

Em suas narrativas, Assis Brasil comentou que a Marinha estava acéfala e que as informações que chegavam a si eram de que os marinheiros estavam com armas nas mãos e que havia mortes. Consta ainda que o Ministro da Guerra, general Jair Dantas Ribeiro, estava internado devido a uma cirurgia.

Em função do internamento do general, o Ministério da Guerra ficara acéfalo também. O chefe da Casa Militar não tinha conhecimento ainda das movimentações do I Exército.

Assis Brasil ainda informou que o Almirante Paulo Mário fora empossado como novo Ministro da Marinha, com plenos poderes para agir junto aos amotinados, anistiando-os.

A Reunião dos Sargentos no Automóvel Clube do Brasil

Em 30/03/1964, ocorreu a reunião dos sargentos no Automóvel Clube do Brasil. O general Assis Brasil reuniu-se com o general Jair Dantas Ribeiro e ambos não sabiam o que estava ocorrendo. Entrando em contato com o presidente do clube, descobriram que este também desconhecia da existência do encontro. Os deputados Tenório Cavalcanti e Tancredo Neves aconselharam ao presidente a não ir. João Goulart, apesar das muitas opiniões contrárias, compareceu e os discursos foram extremistas. Estava se armando o golpe, pois entre o Comício da Central do Brasil, em 13 de março de 1964 e a reunião no Automóvel Clube do Brasil, em 30 de março, decorreram 17 dias, tempo suficiente para a sua preparação.

Assis Brasil e João Goulart em 13/03/1964
A Tentativa de Alerta ao Presidente

Segundo Assis Brasil, o único general que alertou João Goulart de uma conspiração foi o general Amaury Kruel, Comandante do II Exército.


O Golpe em 31 de Março

Assis Brasil no dia 31/03/1964 estava no Palácio das Laranjeiras. Lá foi informado do levante de Minas Gerais. O general telefonou para o I Exército para tomar mais informações. A resposta era que tudo estava em ordem.

Assis BrasilJoão Goulart sabiam que o general Olympio Mourão Filho e o general Carlos Guedes estavam conspirando, porém não sabiam o quanto já estava adiantada a conspiração. João Goulart telefonou para o general Amaury Kruel, que afirmou que não concordava com o que estava acontecendo e que o governo deveria agir com firmeza. João Goulart, então, telefonou para o general Justino Alves Bastos, que se alinhou ao presidente. Neste momento, o levante de Minas Gerais já estava tomando corpo rapidamente. O general Armando de Moraes Âncora informou ao presidente. O presidente, então, reuniu o general Armando de Moraes Âncora e o Ministro da Aeronáutica, determinando que não houvesse choque de tropas e derramamento de sangue brasileiro.

O Dia Primeiro de Abril

No dia 01/04/1964, a fortaleza de Copacabana passou para o controle dos conspiradores. João Goulart mandou o general Assis Brasil ficar no Rio de Janeiro e voou para Brasília para conversar com os políticos do Congresso Nacional.

O general Armando de Moraes Âncora telefonou para o general Assis Brasil informando que o Norte aderira ao golpe e que Minas Gerais estava toda revoltada, que o batalhão mandado para Minas Gerais e o batalhão de Barra do Piraí aderiram também ao movimento e que as tropas de São Paulo estavam marchando, indo a Academia Militar das Agulhas Negras na vanguarda.

Segundo as palavras de Assis Brasil, a conversa teve o seguinte teor:

O General Âncora perguntou:

- "Vou meter fogo nesses cadetes?"

O general Assis Brasil respondeu:

- "Não tenho autoridade para falar em nome do presidente, mas posso adiantar que ele não concordaria com isso."

Âncora:

- "Fico contente, porque já decidi que não vou abrir fogo contra os cadetes, porque será um peso que não tirarei mais de cima de meus ombros - matar a mocidade militar da minha terra."

Isto ocorrido, Assis Brasil se reuniu com os ministros civis e militares. O ministro da Marinha queria resistir ao golpe, porém foi demovido da ideia. As tropas do palácio foram recolhidas para não haver confrontos, ficando somente as sentinelas palacianas. O general Assis Brasil foi encontrar o presidente em Brasília. Ao chegar no aeroporto, antes de falar com João GoulartAssis Brasil ordenou aos oficiais da Casa Militar que fossem para seus postos e passassem os cargos aos substitutos. Perguntado sobre o que iria fazer respondeu:

"Vou com o presidente, porque esta é a minha função. Não sei para onde ele vai, mas o meu destino, enquanto ele for vivo por aqui, está ligado ao dele."

Porto Alegre

Porto Alegre estava ainda com João Goulart. O general Ladário, que chefiava as tropas, estava esperando a chegada do presidente e do general Assis Brasil. Ladário e Leonel Brizola queriam resistir, mas João Goulart não aceitou, pois como havia frisado anteriormente, não queria derramamento de sangue brasileiro.

Para não ser preso, foi aconselhado por Assis Brasil para ir embora do Brasil. Foram chamados os oficiais e mandados ir para Brasília se apresentar. Foi organizada uma segurança sem armas, só com vigilância, em torno de seis quilômetros da fazenda, nas estradas e no campo, para avisar da aproximação de forças. Havia três aviões: um C-47, um Cessna bimotor e um monomotor, um deles com soldados, os outros abastecidos para qualquer emergência. O avião C-47 foi para um rancho em uma das fazendas de João Goulart, na costa do Rio Uruguai, onde existia um campo, no município de São Borja, RS. De lá João Goulart queria ir para o Brasil central, onde possuía terras, mas o general Assis Brasil o convenceu para ir ao Uruguai. Foi mandado um homem a Montevidéu, com uma mensagem escrita pelo presidente pedindo asilo político. Ele então escreveu para um amigo falar com o governo uruguaio. Foi mandado um piloto levar a mensagem e, no outro dia, ao amanhecer, foram para a estância Santa Lúcia. O piloto retornou e disse que o Uruguai receberia João Goulart. Saíram daquela estância e foram para outra chamada Cinamomo, de propriedade de João Goulart, perto do município de São Borja, a 628 km de Porto Alegre.

O Exílio de Jango e a Prisão de Assis Brasil

No dia 04/04/1964, na estância de Cinamomo, o presidente se convenceu de ir para o Uruguai. Mandou a mulher e os filhos para Montevidéu.

Ao chegar no Uruguai, Assis BrasilJoão Goulart foram recebidos por autoridades e populares. Uma vez o presidente instalado, Assis Brasil disse para João Goulart:

- "Presidente, a minha missão está cumprida!"

Ao retornar para o Brasil, antes de expirado o prazo de oito dias para que sua ausência do país configurasse crime de deserção, o general Assis Brasil se apresentou para as autoridades e foi preso.

A Perseguição

Demitido do Exército Brasileiro, e considerado morto legalmente para as Forças Armadas, foram retiradas perpetuamente de sua ficha todas as suas condecorações militares, exceto as estrangeiras, além de ter seus direitos políticos cassados por dez anos.

Respondeu em 1964 a um Inquérito Policial Militar para apurar o exercício de possíveis atividades subversivas. A promotoria militar que examinou os termos do Inquérito Policial Militar, não vendo nenhum crime em suas atitudes quando no governo, impronunciou-o na Justiça Militar, não tendo o general Assis Brasil sofrido qualquer condenação criminal ou punição disciplinar, a não ser a demissão.

Ele foi o único oficial-general a ser demitido nas Forças Armadas.

Ao procurar emprego como civil teve sua ficha trabalhista bloqueada pelo regime militar. Suas contas bancárias e créditos também foram bloqueados, sendo impedido de trabalhar para o seu sustento como punição por não concordar com a ditadura. Por ser considerado pelo Exército Brasileiro legalmente morto, em consequência de ter sido demitido, com o falecimento de sua esposa em 1967 foi impedido pelo governo militar de receber a pensão de sua mulher. Passou então a sobreviver, por quinze anos, de favores de amigos e de parentes, além de aulas particulares de matemática que ministrava a vários alunos.

Anistia

Até ser anistiado, não recebeu nenhuma aposentadoria militar. Sobrevivia, além da sua atividade como professor particular e da ajuda de terceiros, da pensão de meio salário mínimo que recebia do INPS, como idoso. Após a anistia, foi reformado como General-de-Exército, passando a receber a correspondente aposentadoria.

Fonte: Wikipédia