Gildo Macedo Lacerda

GILDO MACEDO LACERDA
(24 anos)
Guerrilheiro e Militante da Ação Popular Marxista-Leninista (APML)

* Ituiutaba, MG (08/07/1949)
+ Recife, PE (28/10/1973)

Nasceu na cidade de Ituiutaba, município de Veríssimo, no Triângulo Mineiro, em 8 de julho de 1949, numa família de pequenos sitiantes.

Filho de Célia e Agostinho Nunes Lacerda mudou-se muito cedo, com sua família, para Uberaba.

Estudou no Colégio Triângulo, Escola Normal e Colégio Drº José Ferreira, onde foi presidente do Grêmio Central Machado de Assis. Foi membro ativo e diretor do Círculo de Estudos da União da Mocidade Espírita, do Departamento de Evangelização da Criança, do programa radiofônico Hora Espírita Cristã e orador da Mocidade Espírita Batuíra.

Fazia o programa radiofônico Ondas de Luz da Comunidade Espírita de Uberaba, em que refletia sobre a obra de Allan Kardec e Francisco Cândido Xavier.

Nos anos de 1965/1966 fez teatro amador em Uberaba, participando como sócio ativo do Núcleo Artístico de Teatro Amador (NATA).

Nesse mesmo período, ainda secundarista, foi orador oficial da União Estudantil Uberabense (UEU) e do Partido Unificador Estudantil (PUE).

Em 1967, já como ativista da Ação Popular (AP) no movimento estudantil, Gildo transferiu-se do Colégio Drº José Ferreira para Belo Horizonte, onde fez o 3° Científico integrado ao pré-vestibular.

Gostava de se corresponder com estrangeiros, sempre em francês. Em suas cartas descrevia a situação política do país e a luta dos estudantes contra a dominação econômica e cultural dos Estados Unidos.

Suas preferências eram: no teatro, Tchecov; na música, Antônio Carlos Jobim, Gilbert Bécaud e Frank Sinatra; na poesia, Vinicius de Moraes, Moacyr Felix, Carlos Drummond de Andrade, Thiago de Mello, Pablo Neruda, Evtuchenko e Paul Claudel.

Em 1968, prestou o concurso vestibular, ingressando na Faculdade de Ciências Econômicas da Universidade Federal de Minas Gerais (FACE). Pouco tempo depois, devido à intensa militância, foi excluído da Universidade com base no Decreto-Lei 477, editado em fevereiro de 1969, pelo general Artur da Costa e Silva.

Transferiu-se para São Paulo e, em seguida, para o Rio de Janeiro, já atuando na clandestinidade e buscando fugir às perseguições impostas pela Ditadura Militar.

Foi eleito vice-presidente da União Nacional dos Estudantes durante a gestão 69/70, na última diretoria, antes da desarticulação total da entidade pelas forças da repressão.

Deslocou-se, em 1972, para Salvador, Bahia, e fazia parte da Direção Nacional da Ação Popular Marxista-Leninista (APML).

Pouco antes de ser preso, Gildo esteve em Uberaba, no auge da ditadura Médici, em companhia de Mariluce, sua mulher, descansando no sítio da família, próximo a Veríssimo.

A sua última carta para os familiares foi datada de 17 de setembro de 1973. Nesta missiva, ele manifestou sua preocupação por não receber cartas da família, acreditando em extravio de correspondência. Falou, ainda, de seu trabalho, do salário melhor, da saudade de todos e de uma próxima ida a Uberaba, no final do mês, despedindo-se com um até breve.

Gildo e Mariluce Moura, sua mulher, foram presos no dia 22 de outubro de 1973, em Salvador, no Quartel do Barbalho, pelo Exército e, imediatamente, conduzidos às câmaras de tortura. Malu, grávida, foi libertada alguns dias depois, e não mais o viu. Gildo foi transferido para o DOI/CODI de Recife onde foi torturado até a morte, no dia 28 de outubro de 1973, quando tinha 24 anos de idade.

Os órgãos de segurança noticiaram, no dia 19 de novembro de 1973, que Gildo, ao ser interrogado, teria fornecido a informação do local onde se encontraria com José Carlos Novaes da Mata Machado e com um terceiro elemento de nome Antônio. Chegando ao local do encontro, teria havido um tiroteio onde Antônio teria matado Gildo e José Carlos teria sido morto em conseqüência de tal incidente.

A versão oficial, além de encobrir os assassinatos sob tortura de Gildo e José Carlos, tentou encobrir a prisão e posterior desaparecimento de Paulo Stuart Wright, quando se referiu ao Antônio, que teria conseguido fugir.

Sua família luta, incessantemente, até hoje, pela localização de seus restos mortais, por um sepultamento digno e para que a União assuma a responsabilidade por sua morte.

Ainda segundo a nota oficial, Gildo e José Carlos teriam sido baleados na Avenida Caxangá com a Rua General Polidoro, no Recife.

Passados 21 anos, soube-se por Gilberto Prata Soares, antigo militante da década de 70 que se transformou em informante dos órgãos de repressão, mais detalhes sobre os presos.

Tessa, filha de Gildo, que não chegou a conhecer o pai, mora hoje em São Paulo, com sua mãe Mariluce.

No Relatório do Ministério da Marinha consta como "morto em tiroteio por agentes de segurança em Recife/PE em 1 de novembro de 1973".

Depoimento da Mãe de Gildo, Célia Garcia Macedo Lacerda

"Meu saudoso filho, Gildo Macedo Lacerda, foi um moço notável, simpático e justo, empreendedor e dinâmico.

Vivia sempre rodeado de bons amigos e por onde passava ia sempre conquistando novas amizades, isto graças à sua afabilidade, ao seu coração magnânimo, à sua grandeza de alma.

Era amigo da Paz e da Justiça. Seu maior desgosto era ver alguém ser pisoteado sofrendo calamidades injustamente.

Era possuidor de um coração generoso e nobre, vivia sempre dando o melhor de si em prol da comunidade.

Ficamos arrasados com tudo o que acontecou com o nosso querido Gildo. Ficamos também decepcionados com o cinismo por parte dos seus algozes e pelo consentimento daquele governo déspota.

Gildo morreu como morrem todos os heróis, de cabeça erguida e consciência tranquila. Seu desaparecimento foi uma perda irreparável, não só para nós os seus familiares, como para toda a nação.

Sentimos até hoje uma incomensurável falta da sua presença amiga, bondosa, com toda aquela gentileza que lhe era muito peculiar. Como também sentimos a falta de seu apoio, ele era o nosso arrimo, o nosso braço direito.

Era ele quem nos orientava, nos aconselhava, resolvendo os problemas com acerto, com a orientação dele, tudo dava certo.

Estou escrevendo com as lágrimas a escorrer-me pelas faces, pois, até hoje eu sinto uma dor intensa, arraigante, a corroer-me as mais profundas entranhas da alma.

E esta dor eu sei que me acompanhará até ao túmulo, por ter perdido o meu querido e amado filho que foi vítima fatal da sanha daqueles bárbaros desumanos, como tantos outros, brutalmente assassinado.

Mas, não desejo mal a eles, entrego para Deus; somente a Deus compete dar a punição que esses pobres infelizes merecem."