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Roniquito

RONALD RUSSEL WALLACE DE CHEVALIER
(46 anos)
Economista

☼ Manaus, AM (1937)
┼ Rio de Janeiro, RJ (Janeiro de 1983)

Ronald Russel Wallace de Chevalier, mais conhecido por Roniquito, foi um economista nascido em Manaus no ano de 1937.

Filho do escritor Ramayana de Chevalier e irmão da atriz, jornalista, escritora e compositora Scarlet Moon, falecida em 05/06/2013, Roniquito talvez tenha sido o sujeito mais sem censura da história de Ipanema.

Segundo conta Ruy Castro, no livro "Ela é Carioca", o economista Roniquito de Chevalier foi o verdadeiro inventor da palavra "Aspone" (Assessor de Porra Nenhuma).

Ele às vezes entrava num botequim e se anunciava:
"Senhoras e senhores, aqui Ronald de Chevalier. Dentro de alguns minutos... Roniquito!"
Mesas estremeciam. Todos sabiam que aquele rapaz bem-nascido, bem vestido, bem-falante e de profissão economista, que acabara de entrar recitando Shakespeare ou Baudelaire, iria cumprir a ameaça.

Dali a três ou quatro uísques (não havia uma progressão, era de repente), ele se aproximava de alguém (o queixo proeminente quase espetando a cara do outro) e dizia alguma coisa tão ofensiva que fazia o outro espumar e partir para assassiná-lo. Talvez porque o que ele dissesse fosse a verdade.

Certa vez o cartunista Jaguar tentou acompanhá-lo por uma noite: Foram expulsos de quatro bares.

Scarlet Moon não lembra o ano exato, apenas que o fato se deu no começo da década de 70. Ladrões invadiram o Antonio's, principal reduto da boemia carioca, dominaram os frequentadores e começaram a esvaziar os caixas. Assustados, todos ficaram em silêncio, exceto um homem franzino, que interrompeu a ação diversas vezes insistindo para que os ladrões levassem também uma lista de pessoas e valores ao lado da caixa registradora: Era a relação dos devedores do bar, o "pendura".

Esse homem era Ronald Russel Wallace de Chevalier, o Roniquito, e a história é uma das muitas que cercam um dos personagens ao mesmo tempo mais amados e odiados da Ipanema dos anos 60 e 70. 

Roniquito era tão corajoso quanto frágil fisicamente. Escapou centenas de vezes de ser desmembrado ou de ter os ossos da face transformados em paçoca por punhos poderosos. Muitas vezes foi salvo pelos amigos, que brigavam por ele. Em outras, apanhou de verdade e aguentou firme.

Conta-se que, numa dessas, o sujeito que o espancava perguntou-lhe: "Chega ou quer mais?". E Roniquito, no chão, com o sapato do brutamontes sobre seu pescoço, ainda conseguiu olhar para cima e articular: "Cansou, filho da puta?".

Roniquito dizia o que pensava para qualquer um, não importava o cargo, a idade, a cor, o sexo, ou o tamanho da pessoa.

Umas dessas foi o cronista Antônio Maria, que, sozinho, seria capaz de massacrar vinte Roniquitos. Numa discussão no Bottle’s Bar, no Beco das Garrafas, em 1962, Roniquito provocou Antônio Maria ao duvidar de sua competência como homem de televisão. Para ele, homem de televisão era seu amigo Walter Clark, então diretor comercial da TV Rio e que estava calado na mesa, temendo o pior.

Roniquito ofendia Antônio Maria e pedia o testemunho do boêmio dentista Jorge Arthur Graça, o "Sirica", também sentado com eles. Antônio Maria aguentou enquanto pôde, até que Roniquito soltou a frase final: "Antônio Maria, você foi parido por um ânus!".

Ao ouvir isso, Antônio Maria ficou vermelho e atirou-se enfurecido sobre RoniquitoWalter Clark e quem mais estivesse por ali. A muito custo, foi contido por Jorge Arthur Graça e mais uns dez.

Walter Clark e Roniquito eram amigos de adolescência em Ipanema. Conheceram-se no Colégio Rio de Janeiro, depois de uma prova de redação na qual Walter Clark, recém-chegado de São Paulo, teria tirado 10. A primeira frase de Roniquito para Walter Clark foi: "Você é o garoto que tirou 10? Você me parece bem medíocre...". Nunca mais se separaram.

Nos anos 60, Walter Clark contratou Roniquito para trabalhar na administração da TV Rio e toureou os insultos que Roniquito disparava contra o próprio chefe, Péricles do Amaral.

Quando Walter Clark saiu para fazer a TV Globo, em 1965, levou Roniquito com ele. Com o estrondoso sucesso da TV Globo a partir de 1970, a máquina começou a andar sozinha e Roniquito e o próprio Walter Clark pareceram ficar sem função. Dizia-se que a única utilidade de Roniquito era beber uísque com Walter Clark durante o expediente - em xícaras de chá, para dar menos na vista.

Foi quando, ao ser perguntado sobre o que fazia na TV Globo, Roniquito respondeu com a expressão depois popularizada por Carlinhos de Oliveira:
"Sou aspone. As-po-ne. Assessor de porra nenhuma!"
A palavra, consagrada nacionalmente, ainda não chegou ao Dicionário Aurélio.

Mas não era bem assim. Na própria TV Globo, sua atuação esteve longe de ser a de um "Aspone". Numa época de crise, por exemplo, ajudou a equacionar uma pesada dívida da TV Globo para com a Receita Federal.

Roniquito era um economista brilhante, ex-aluno de Octávio Gouveia de Bulhões, Roberto Campos e Mário Henrique Simonsen, e fora o orador da sua turma, da qual fazia parte Maria da Conceição Tavares.

Em fins dos anos 50, saiu da faculdade para um emprego na Comissão Econômica Para a América Latina (CEPAL). Mário Henrique Simonsen, por sinal, vivia consultando-o sobre questões econômicas, antes, durante e depois de ser Ministro do Planejamento do governo de Ernesto Geisel - e sendo derrotado por ele no xadrez.

Sóbrio, Roniquito trabalhava também no Ministério da Fazenda, escrevia uma coluna semanal no Correio Braziliense e dava palestras em universidades e cursos de pós-graduação. E, sóbrio ou ébrio, passava a impressão de ser íntimo de todos os livros do mundo: Falava inglês e francês, sabia poetas inteiros de cor e conhecia muita literatura, sendo apaixonado por William Faukner.

Suas estantes eram impecáveis, com os livros organizados por assunto, todos sempre à mão. Em música Roniquito era capaz de assobiar até os clássicos. Parte dessa erudição lhe vinha de família: Seu pai, o amazonense Walmik Ramayana de Chevalier, era poeta e médico. O Ramayana do nome era uma referência ao célebre poema hindú.

Walmik Ramayana de Chevalier carimbou seus filhos com nomes bonitos, mas, para brasileiros, estrambóticos: Roniquito era Ronald Russel Wallace de Chevalier. Dois de seus irmãos eram Stanley Emerson Carlyle de Chevalier e, claro, Scarlet Moon de Chevalier.

Por intermédio do pai, Roniquito ainda usava calças curtas quando se sentou para beber pela primeira vez com Vinícius de Moraes e Paulo Mendes Campos. Ou seja, já começou entre os profissionais. Na mesma época, para exibir Roniquito, o pai mandou-o imitar Ruy Barbosa para Lúcio Cardoso. Roniquito imitou Ruy Barbosa à perfeição, com todos os pronomes no lugar. Lúcio Cardoso ficou fascinado: "Nunca vi um menino de dez anos beber tão bem!".

Muitos anos depois, Lúcio Cardoso deu-lhe para ler os originais de seu romance "Crônica da Casa Assassinada" e pediu-lhe sua opinião.

Mas, quando Lúcio Cardoso o enxotou de uma festa em seu apartamento por ele estar zombando do namoro secreto de Paulinho Mendes Campos com Clarice Lispector, Roniquito foi para debaixo da janela de Lúcio Cardoso e começou a gritar o insulto que, na sua opinião mais o ofenderia: "Faukner do Méier! Faukner do Méier!".

A relação de Roniquito com os escritores era cruel. Ao cruzar com Fernando Sabino num restaurante, Roniquito perguntou-lhe: "Fernando Sabino, quem escreve melhor, você ou Nelson Rodrigues?".

Fernando Sabino gaguejou: "Bem... Nelson Rodrigues, é claro!".

Mas Roniquito fulminou: "E quem é você para julgar Nelson Rodrigues?".

Roniquito fez pior com o suave Antônio Callado, a quem perguntou se já tinha lido FaulknerAntônio Callado disse que, evidentemente, já tinha lido. Roniquito então disse: "Bem, se já leu Falkner, você sabe que você é um bosta!".

Para Roniquito, segundo a crônica escrita por Ferreira Gullar, a música do amigo Tom Jobim seria uma simples cópia da música do maestro Villa-Lobos. Clarice Lispector surgiria como uma "wannabe" Virginia Woolf.

Amicíssimo de seus amigos, certa vez Roniquito foi ao velório de um deles, entrou na sala errada e, diante da família compungida esbravejou: "Esse defunto é horroroso! O nosso é muito mais bonito!". Sob o mesmo tema escapou de várias surras no circuito Ipanema-Leblon, quando ao chegar nos bares e verificar a ausência dos seus amigos dizia: "O lugar está cheio de ninguém!".

Comemoração de vitória do Fluminense no Antônio's Bar
Na foto, da esquerda para direita, o garçom Marcos Vasconcellos, Roniquito Chevalier, Nelson Motta, Chico Buarque e Lúcio Rangel
Se Roniquito se limitasse a desfeitear os amigos, seria apenas um bebum inconveniente. Mas ele também não tinha a menor cerimônia com o poder, nem mesmo quando esse era o truculento poder militar. Certa vez, numa recepção na TV Globo, Roniquito foi apresentado a um general. Depois de certificar-se de que ele nunca lera Machado de Assis, perguntou-lhe se pelo menos entendia de música. O general hesitou e Roniquito exemplificou: "Nem essa?". E, com a voz e os dedos imitando uma corneta, solou o toque da alvorada.

Em outra visita de autoridades à TV Globo, Roniquito perguntou a Pratini de Moraes, Ministro dos Transportes do governo Emílio Garrastazu Médici, se ele sabia o tamanho de um vergalhão. O ministro vacilou e Roniquito emendou: "Pois devia saber, porque o governo está enfiando um vergalhão no rabo do povo!".

De outra feita, no governo de Ernesto Geisel, quando Roniquito conversava com o seu amigo, o Ministro da Previdência Luiz Gonzaga do Nascimento Silva, outro ministro, Severo Gomes, este da Indústria e Comércio e dono dos cobertores Parahyba, tentou se meter. Roniquito cortou-o: "Não estou falando com fabricante de lençóis!".

Em todas essas ocasiões, Roniquito foi salvo do opróbrio na Globo porque era adorado por Walter Clark e Boni. Chegou a ser posto de quarentena diversas vezes, mas a punição nunca era mais do que simbólica. De certa forma, Roniquito era o que Walter Clark, com todo o seu poder, gostaria de ser: Fino de berço e grosso por opção - Walter Clark era o contrário.

Mas a maior sem-cerimômia de Roniquito para com o poder foi em 1967 e envolveu o Marechal Costa e Silva, já presidente. Segundo a história muito bem contada por Ferdy Carneiro, Roniquito estava ciceroneando um figurão americano convidado do Governo, a pedido de Nascimento Silva. Naquela manhã ele levou o visitante para almoçar no restaurante do Museu de Arte Moderna (MAM). Antes de irem para a mesa, resolveram reforçar-se no bar com alguns uísques.

Por coincidência, na mesma hora, Costa e Silva também estava no Museu de Arte Moderna (MAM) para almoçar. A comitiva presidencial, sem as normas de segurança que depois se tornariam comuns, passou por Roniquito no momento em que este catava seu isqueiro no paletó para acender um cigarro.

Com o cigarro no canto da boca, Roniquito viu o presidente. Avançou, cravou o queixo nas medalhas de Costa e Silva e perguntou: "O senhor tem fogo?".

Os seguranças, como que subitamente acordados de um rigor mortis, pularam sobre ele. O americano, sem entender o que se passava e já incapaz de fazer um quatro, se a isso fosse solicitado, balbuciou qualquer coisa como "Whatthegoddamfuckdoyouthinkyouredoin'" e foi também abotoado.

Os dois foram levados para o 3º Distrito, na Rua Santa Luzia, por desacato à autoridade. Diante do delegado, o americano esbravejava com voz pastosa: "I’m an American shitizen! Call the embashy!".

O delegado perguntou: "Quê que o gringo tá falando?".

"Ele tá dizendo que a polícia no Brasil é uma merda!", traduziu Roniquito.

"Ah, é? Pois ele vai ver o que é merda!", bramiu o delegado.

O americano pediu para usar o telefone. Roniquito traduziu: "Ele está dizendo que no Brasil ninguém respeita os direitos humanos!".

"Direitos humanos é o cacete! Ele vai entrar no pau!", ganiu o delegado.

O americano perguntou a Roniquito por que o delegado estava tão brabo.

Roniquito sussurrou para o delegado: "Agora ele está dizendo que o Brasil é uma ditadura facista!".

Por sorte, quando estava prestes a ser apresentado ao pau-de-arara, o americano conseguiu mostrar um documento com o emblema do governo americano. Foi dado o telefonema e, em poucos minutos, chegaram as tropas da embaixada e do Itamaraty para libertar Roniquito e o gringo.

Mas, por causa de Roniquito, concluiu Ferdy Carneiro, por pouco não se declarou uma guerra entre o Brasil e os Estados Unidos, tendo como pivô um palito de fósforo.

Não admira que Roniquito não tenha sido levado a sério quando se ofereceu para ser trocado pelo embaixador Burke Elbrick, sequestrado em 1970.

Roniquito deixou sua marca como boêmio num Rio de Janeiro que não existe mais. Uma boa fonte de assunto para mesa de bar numa sexta-feira. E foi assim certa noite em 1964, quando bebia com Paulo César Saraceni e Armando Costa num bar de Copacabana. Os três esculhambavam o golpe e as Forças Armadas em altos brados. Numa das mesas próximas havia um grupo de militares que se sentiu ofendido. Os militares foram à 13ª Delegacia e convocaram a polícia para prender os difamantes.

Armando Costa estava no banheiro quando os policiais chegaram. Ao se aproximarem da mesa, foram desacatados por Roniquito. Levaram Paulo César Saraceni e ele presos. Armando Costa, saindo do lavabo, tentou ser preso também mas não conseguiu.

Na delegacia, embora Paulo César Saraceni e o delegado tentassem, não conseguiam aplacar a ira roniquitianaPaulo César Saraceni ligou para Tio Pandiá, que chegou prontamente, conversou com o delegado e convenceu-o a liberar os dois.

Conseguiu porque o delegado não aguentava mais o discurso irado de Roniquito. Num determinado momento, Paulo César Saraceni disse que ia embora e levaria o Tio Pandiá com ele, para ver se Roniquito se acalmava e ia junto. Mas Roniquito estava tomado de ódio dos militares e continuava sua peroração. Tio Pandiá e Paulo César Saraceni fizeram menção de partir. Desta vez foi o delegado que estrilou: "Pelo amor de Deus! Não deixa esse cara aqui não!"

Livre dos espíritos, Roniquito era um gentleman. Beijava as mãos das senhoras e encantava-as com sua inteligência e educação. Mas era bom não confiar. A poção que o fazia passar de Drº Jekyll a Mr. Hyde, ou de Drº Roni a Mr. Quito, segundo Marcos de Vasconcelos, vinha em toda espécie de garrafas. Com uma única palavra ele seria capaz de provocar um terremoto.

Uma elegante senhora do Flamengo, que só conhecia o seu lado fino, convidou-o para um jantar em sua casa. Roniquito comportou-se bem no jantar, mas bebeu vinho demais, desmaiou sobre o prato e foi levado roncando para um sofá.

Terminado o jantar, um dos convidados propôs uma brincadeira então na moda, "A palavra é...".

No meio do jogo, Roniquito deu sinais de que estava acordando. A dona da casa achando que ele queria participar da brincadeira, foi até o sofá, de mãos postas e com um sorriso de beatitude: "Roniquito, a palavra é...".

E Roniquito, meio zonzo de sono: "Ca-ra-lho".

Naturalmente, foi expulso pelo filho da anfitriã.

Quem o conhecesse mal, diria que Roniquito tinha um temperamento bélico. Mas era a sua falta de paciência para com os enganadores que o levava a ser radical. Poucos meses depois do golpe de 1964, intelectuais reunidos no Teatro Santa Rosa promoviam um debate emocionado e anódino sobre os "Caminhos da Democracia no Brasil". Propunham "Estratégias de Ação".

Foi quando se ouviu, do fundo da platéia, sua voz característica: "Muito bem. E quem vai fornecer as metralhadoras?". O debate acabou ali.

Roniquito ganhou sua biografia "Drº Roni & Mr. Quito - A Vida do Amado e Temido Boêmio de Ipanema", escrita por Scarlet Moon de Chevalier, sua irmã e lançada em setembro de 2006.

Drº Roni & Mr. Quito
A Vida do Amado e Temido Boêmio de Ipanema

Optando por um andamento cronológico, o livro de Scarlet Moon de Chevalier, que traz no nome uma referência a Drº Jekyll e Mr. Hyde, do livro "O Médico e o Monstro", de Robert Louis Stevenson, apresenta Roniquito, que era alcoólatra, no auge de sua lenda etílica mas também flagra a sua faceta mais sóbria, quando, por exemplo, na qualidade de economista respeitado, dava orientações de investimento a um garçom do Antonio's - que, por conta da ajuda e dos conselhos financeiros do amigo, conseguiu comprar um táxi após o fechamento do lugar.

Um dos fundadores da Banda de Ipanema, Roniquito teve em sua vida postos mais sérios. Trabalhou com Carlos Lessa na Comissão Econômica para a América Latina (CEPAL), como chefe do Serviço Econômico e Financeiro da Carteira de Cooperativas do Banco Nacional da Habitação (BNH), como assessor de Walter Clark na TV Globo e no Ministério da Fazenda. Nem por disso deixou de carnavalizar a pompa: A ele costuma ser atribuída a cunhagem da palavra "Aspone", diminutivo de "Assessor de Porra Nenhuma", vocábulo já acolhido pelo Dicionário Houaiss. 

Não rejeitando o mito, mas sem o edulcorar, o livro de Scarlet Moon ajuda a deixar ver as possíveis contradições e sofrimentos escondidos na figura pública de Roniquito de Chevalier.

No livro, Scarlet Moon conta, pela primeira vez em público, o episódio de sua prisão por porte de droga, em meados dos anos 70, segundo ela, involuntariamente por culpa do irmão. É o momento mais comovente do livro, pois passar três meses num presídio mudou sua vida e rompeu uma ligação que havia entre os dois.


Na época, ainda sob o impacto da raiva e da mágoa, ela escreveu uma carta ao irmão, que nunca respondeu ou falou do assunto. "Só quando eu fui escrever o livro, minha outra irmã, Bárbara, que havia arrumado as coisas de Roniquito após a morte dele, me entregou a carta. Ele a guardara por mais de cinco anos, sinal de que ficara tocado", disse. "Hoje, relendo aquela carta, me sinto moralista, como se quisesse ensinar a ele como viver".
"Andei sabendo que você anda triste, sem mulher, arrasado e sentindo-se culpado por toda essa situação que estou vivendo. [...] As penas que eu própria busquei, estou dando um jeito, e agindo, para deixá-las. Quanto a você? Tem só se lamentado e enchido a cara! Continua não confiando em seu potencial intelectual e criativo! [...] Inteligência a serviço da vacilação não leva a nada. E olha, cadeia é muito triste!"
Foram dez anos de entrevistas com amigos do irmão, 13 anos mais velho e ciumento da caçula da família, e muitas idas à Biblioteca Nacional para pesquisar os jornais da época, porque Scarlet Moon não se atém nas histórias de sua família, dá um painel da época, de como as coisas aconteciam num passado utópico em que havia uma ditadura, mas as pessoas insistiam em criar e em ser felizes, embora nem sempre fosse possível realizar os dois projetos.

Ela não doura a pílula, pois conta que o irmão, alcoólatra que chegou a um estado terminal, levou a cabo três casamentos por não suportar a rotina das pessoas comuns, e sabia ser perverso e destruidor. "No entanto, quando fui conversar com seus filhos, cada um contou uma história mais comovente da convivência com o pai", lembra Scarlet Moon. "Isso se repetiu várias vezes e, mesmo com toda a convivência, me surpreendi com o que descobri de sua vida".

Embora seja personagem dessa biografia, Scarlet Moon quase não aparece no livro e suas histórias só estão lá quando explicam o irmão. E olha que ela tinha casos para contar. Foi modelo aos 14 anos, quando nenhuma menina ainda sonhava com essa profissão, uma das fundadoras do Jornal Hoje, da TV Globo, e, durante quase três décadas, musa e mulher do roqueiro Lulu Santos, que sempre destacou a influência dela em sua música. "Eu não queria falar de mim e sim de Roniquito e de seu tempo".

Morte

Roniquito foi atropelado em dezembro de 1981, em frente ao Antonio’s. Um fusca o acertou, quebrou-lhe as duas pernas, jogou-o longe e fugiu sem socorrê-lo. Um ônibus que vinha atrás viu o acidente e parou. O motorista recolheu Roniquito, colocou-o no ônibus e levou-o para o Hospital Miguel Couto.

Histórias surgiram até em torno desse atropelamento. Segundo uma delas, ao passar voando defronte da varanda do Antonio’s e ao ver o ar assustado dos amigos, Roniquito teria perguntado: "O que foi, porra? Nunca viram o Super-Homem?".

Na verdade, o atropelamento lhe seria fatal. Roniquito quebrou as pernas em vários lugares, teve sequelas graves e foi submetido a seis operações durante o ano de 1982.

Como todo filho de médico, gostava de se automedicar e passou a tomar uma farmácia de remédios. Mas não parou de beber - mesmo de bengala e pé engessado, chegou a ir algumas vezes à Plataforma, fazendo piada com a própria desgraça.

Roniquito também foi visto em restaurantes tomando um líquido que parecia café. Ao ser perguntado, "Tomando café, Roniquito?", respondeu: "Estou. Irish cofee!" (café com uísque). Mas era também asmático e o uso da bombinha, misturado a bebida e remédios, provocou-lhe uma insuficiência cardíaca.

Quando teve um infarto fulminante, em janeiro de 1983, estava sozinho em seu apartamento no Posto 6. Só o encontraram horas depois.

Roniquito foi sepultado com o pé no gesso e de olhos abertos.

O anúncio da sua morte no Jornal do Brasil era uma enciclopédia da vida brasileira. Tinha de ministros de Estado a garçons de botequim. Carlinhos Oliveira disse a seu respeito:
"Ninguém podia ser patife perto dele. Ninguém ousava!"
Paulo Francis escreveu um comovente obituário na Folha de S. Paulo:
"Roniquito fazia o que não temos coragem de fazer - virar a mesa contra os horrores brasileiros. Mas, o leitor dirá, por que então não escrever jornalismo polêmico ou até ficção? É uma boa pergunta. Mas talvez a resposta esteja no Brasil. Nosso horror é de uma tal ordem de vulgaridade que uma resposta vulgar de baderneiro talvez seja mais adequada do que análises ou contra-modelos. Roniquito manteve uma juventude, uma infância de poeta: Protestava em pessoa, pondo a vida em risco tantas vezes, pela gente que desafiava"
Para seu amigo Jaguar, muito mais que um herói-bandido, Roniquito foi um mistério:
"Todos nós morremos de saudade de um sujeito que vivia nos desmoralizando!"
Roniquito viveu pouco e, apesar do muito que aprontou (ou talvez por isso), deixou muitos amigos, famosos como a cantora Nana Caymmi, o jornalista e escritor Sérgio Cabral e o ator Hugo Carvana, e muitos anônimos.

#FamososQuePartiram #Roniquito

Arnon de Mello

ARNON AFONSO DE FARIAS MELLO
(72 anos)
Jornalista, Advogado, Político e Empresário

☼ Rio Largo, AL (19/09/1911)
┼ Maceió, AL (29/09/1983)

Arnon Afonso de Farias Mello foi um jornalista, advogado, político e empresário brasileiro, nascido em Rio Largo, AL, no dia 19/09/1911, pai de Fernando Collor de Mello, ex-presidente do Brasil, e de Pedro Collor de Mello.

Era filho do senhor de engenho Manuel Afonso de Mello e de Lúcia de Farias Mello. Estudou em Maceió até mudar-se para o Rio de Janeiro em 1930 onde trabalhou como jornalista em A Vanguarda, jornal fechado pela Revolução de 1930.

Advogado formado pela Faculdade de Direito da Universidade Federal do Rio de Janeiro em 1933, trabalhou no Diário de Notícias, nos Diários Associados antes da graduação e, após esta, trabalhou na Associação Comercial do Rio de Janeiro, no Diário Carioca e em O Jornal.

Em 1936 assumiu a direção da Gazeta de Alagoas e foi membro do conselho diretor da Associação Brasileira de Imprensa.

Carreira Política

Após o fim do Estado Novo ingressou na União Democrática Nacional (UDN) e foi eleito suplente de deputado federal em 1945, e exerceu o mandato mediante convocação. Por esta mesma legenda foi eleito simultaneamente deputado federal e governador de Alagoas em 1950, optando por este último cargo onde cumpriu um mandato de 5 anos.

Retornou à vida política pelo Partido Democrata Cristão (PDC) sendo eleito senador em 1962, ingressando na Aliança Renovadora Nacional (ARENA) após a decretação do bipartidarismo pelo Regime Militar de 1964.

Reeleito pelo voto direto em 1970, foi reconduzido ao mandato como senador biônico em 1978.

Assassinato no Congresso

Em 04/12/1963, o senador Arnon de Mello (PDC-AL), atirou contra Silvestre Péricles (PTB-AL). O segundo disparo acertou o abdome do senador José Kairala (PSD-AC), um comerciante de Brasiléia, que morreria horas depois no Hospital Distrital de Brasília com os intestinos e a veia ilíaca trespassados.

Tudo foi causado por uma acirrada rixa regional. Silvestre Péricles, que andava armado, prometeu matar Arnon de Mello, que pôs um Smith Wesson 38 na cintura e marcou discurso para desafiá-lo.

Silvestre Péricles conversava com o senador Arthur Virgílio Filho (PTB-AM). Arnon de Mello provocou e Silvestre Péricles partiu para cima, gritando "Crápula!"Arnon de Mello não deixou o rival se aproximar: sacou o revólver, mas antes que atirasse, Silvestre Péricles, mais rápido, apesar dos 67 anos, jogou-se ao chão, enquanto sacava sua arma. O senador João Agripino (UDN-PB), atracou-se com Silvestre Péricles para tirar-lhe a arma. José Kairala tentou ajudar, mas foi atingido pelo segundo disparo de Arnon de Mello.

Os senadores Arnon de Melo (de costas) e Silvestre Péricles, ambos de Alagoas, trocam ofensas no Senado em 05/12/1963. Ao lado direito de pé (o mais baixo), o suplente José Kairala, poucos segundos antes de ser atingido.
Os dois contendores foram presos; em dias, o Senado Federal deu licença para que fossem processados. Ambos acabaram absolvidos.

José Kairala, de 39 anos, tinha três filhos, entre 2 e 6 anos, e deixou a mulher grávida. Era um suplente, assumira 6 meses antes e devolveria o mandato ao titular, José Guiomard, no dia seguinte. No Senado, teve tempo de fazer 13 discursos e apresentar dois projetos. Levava a mesma inicial carismática, JK, consagrada por seu colega de bancada Juscelino Kubitschek.

Apesar do assassinato, e ainda que tenha sido dentro do Senado Federal, na presença de inúmeras autoridades, Arnon de Mello não teve seu mandato cassado nem qualquer punição imposta pela Mesa.

Logo após o tiroteio ambos senadores foram presos em flagrante, porém, mesmo com o homicídio e as testemunhas, ficaram presos pouco tempo.


Silvestre Péricles foi enviado para o quartel da Aeronáutica em Brasília, onde ficou pouco mais de um mês. Em janeiro de 1964, ele foi para o Hospital do Exército no Rio de Janeiro, onde passou por algumas cirurgias. Em 16/04/1964 foi inocentando e solto. De licença médica voltou ao Senado em 07/06/1964.

A prisão de Arnon de Mello foi mais longa, quase 7 meses. Logo após o crime ele foi levado ao quartel do Exército e depois transferido para a Base Aérea de Brasília, onde ficou até ser inocentado pelo assassinato de José Kairala, em 30/07/1964. O Senado abriu processo para cassação dos senadores, mas ela foi rejeitada. Arnon de Mello retornou ao Senado no dia seguinte à sua absolvição.

Arnon de Mello foi casado com Leda Collor de Mello e tiveram cinco filhos: Fernando Collor de Mello, Pedro Collor de Mello, Leopoldo Collor, Leda Maria Collor de Mello e Ana Luiza Collor de Mello.

Arnon Afonso de Farias Mello faleceu em Maceió, AL, no dia 29/09/1983, aos 72 anos. Ao falecer estava filiado ao Partido Democrático Social (PDS), no qual ingressou em 1980. Após sua morte a cadeira foi ocupada por Carlos Lyra.

Obras
  • 1931 - Os Sem Trabalho da Política
  • 1933 - São Paulo Venceu
  • 1940 - África - Viagem às Colônias Portuguesas e à África Inglesa
  • 1958 - Uma Experiência de Governo

Margarida Maria Alves

MARGARIDA MARIA ALVES
(50 anos)
Sindicalista e Defensora dos Direitos Humanos

☼ Alagoa Grande, PB (05/08/1933)
┼ Alagoa Grande, PB (12/08/1983)

Margarida Maria Alves foi uma sindicalista e defensora dos direitos humanos brasileira, nascida em Alagoa Grande, PB, no dia 05/08/1933. Durante o período em que esteve à frente do sindicato local de sua cidade, foi responsável por várias ações trabalhistas na justiça do trabalho regional, tendo sido a primeira mulher a lutar pelos direitos trabalhistas no Estado da Paraíba durante a ditadura militar.

"É melhor morrer na luta que morrer de fome!"

Nascida e criada em Alagoa Grande, no Brejo Paraibano, foi a primeira mulher presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais da cidade.  Lá, fundou o Centro de Educação e Cultura do Trabalhador Rural, uma iniciativa que, até hoje, contribui para o desenvolvimento rural e urbano sustentável, fortalecendo a agricultura familiar.

Lutando pela defesa dos direitos dos trabalhadores sem terra, suas principais metas eram o registro em carteira de trabalho, a jornada diária de trabalho de 8 horas, 13° salário, férias e demais direitos, para que as condições de trabalho no campo pudessem ser equiparadas ao modelo urbano.

Em seus 12 anos de gestão, o Sindicato moveu mais de 600 ações trabalhistas e fez diversas denúncias, como a endereçada diretamente ao Presidente do Brasil, em 1982, João Baptista Figueiredo. Infelizmente, Margarida não viveu o suficiente para ver o resultado de seu pleito. Por causa do surgimento do Plano Nacional de Reforma Agrária, a violência no campo foi intensificada por parte dos latifundiários, que não queriam perder suas terras, mesmo as improdutivas.


A partir deste momento, o trabalho de Margarida na defesa dos direitos dos trabalhadores entrou em conflito com os interesses dos latifundiários, tornando-a uma ameaça para eles.  Em seu discurso na comemoração do  01/05/1983, na cidade de Sapé, na Paraíba, ela deixou isto bem claro:

"Eles não querem que vocês venham à sede porque eles estão com medo, estão com medo da nossa organização, estão com medo da nossa união, porque eles sabem que podem cair oito ou dez pessoas, mas jamais cairão todos diante da luta por aquilo que é de direito devido ao trabalhador rural, que vive marginalizado debaixo dos pés deles."

Margarida seria assassinada três meses e onze dias após essa declaração. O principal acusado é Agnaldo Veloso Borges, então proprietário da usina de açúcar local, a Usina Tanques, e seu genro, José Buarque de Gusmão Neto, mais conhecido como Zito Buarque. Seu sogro era o líder do Chamado Grupo da Várzea, composto  por 60 fazendeiros, três deputados e 50 prefeitos.

O crime ocorreu no dia 12/08/1983, quando um pistoleiro de aluguel, num Opala vermelho, disparou um tiro de escopeta calibre 12 em seu rosto, quando ela estava na frente de sua casa. Seu filho e seu marido viram tudo.


Foram acusados pelo crime o soldado da PM Betâneo Carneiro dos Santos, os irmãos pistoleiros Amauri José do Rego, Amaro José do Rego e Biu Genésio, o motorista do Opala. Mais tarde, ele foi assassinado, como "queima de arquivo".

O crime teve repercussão internacional, com denúncia encaminhada à Corte Internacional de Direitos Humanos e várias outras entidades semelhantes. Severino, o marido de Margarida, dizia que "ela era uma mulher sem medo, que denunciava as injustiças". Na época de sua morte, 72 ações trabalhistas estavam sendo movidas contra os fazendeiros locais.

Símbolo da luta pelos direitos dos trabalhadores rurais, Margarida recebeu, postumamente, o prêmio Pax Christi Internacional, em 1988. Em 1994, foi criada, pela Arquidiocese da Paraíba, a Fundação de Defesa dos Direitos Humanos Margarida Maria Alves e, em 2002, recebeu a Medalha Chico Mendes de Resistência, oferecida pelo Grupo Tortura Nunca Mais (GTNM) do Rio de Janeiro.

O dia de seu assassinato, 12 de agosto, é conhecido como o Dia Nacional de Luta contra a Violência no Campo e pela Reforma Agrária.

Dora Lopes

DORA FREITAS LOPES
(61 anos)
Cantora e Compositora

* Rio de Janeiro, RJ (06/11/1922)
+ Rio de Janeiro, RJ (24/12/1983)

Aos 14 anos de idade, fugiu de casa com a intenção de ser cantora de rádio.

Em 1947, já se apresentava em casas noturnas. Nesse ano, consquistou o primeiro lugar no famoso e rigoroso programa de calouros apresentado pelo compositor Ary Barroso na Rádio Nacional interpretando o samba "Plac-Plac", sucesso de Dircinha Batista alguns anos antes.

No ano seguinte, gravou pelo selo Star o seu primeiro disco com os sambas "Volta Pro Teu Barracão" e "Roubei o Guarani".

Em 1951, assinou um contrato com a gravadora Sinter e lançou o batuque "Cão Cambieci" (Luiz Soberano e Anísio Bichara), e o samba-canção "Inclemência" (Armando Cavalcanti).

Em 1952, gravou duas composições da dupla Luiz Soberano e Anísio Bichara, a marcha "Moço Direito" e o samba "Vou Beber".

Em 1953 gravou os sambas "Me Abandona" (Sávio Barcelos, Ailce Chaves e Paulo Marques), e "Lei da Razão" (Blecaute e Rubens Silva), além dos sambas-canção "Baralho da Vida" (Ulisses de Oliveira) e "Você Morreu Pra Mim" (Fernando Lobo e Newton Mendonça). Ainda em 1953, apresentou-se no México e na Venezuela como integrante da orquestra-espetáculo de Ary Barroso, na qual, além de cantar em coro, interpretou sozinha a música "Chamego", e com Vieirinha a música "Macumba".


Em 1954, lançou a batucada "Toma Cachaça" (Índio do Brasil e Darci Viana), e a marcha "Pegando Fogo" (J. Piedade, Humberto de Carvalho e Edu Rocha). Nesse ano, obteve sucesso com o samba "Minha Chave é Você" (Dora Lopes, Hamilton Costa e Waldemar Silveira) gravado na RCA Victor por Dircinha Batista.

Em 1955, ingressou na gravadora Continental e no primeiro disco lançou os sambas-canção "Toda Só" (Hianto de Almeida) e "Tenho Pena da Noite" (Catulo de Paula e Marino Pinto). Ainda nesse ano, gravou a marcha "Homem Leão" (Haroldo Lobo e Brasinha), e o samba "Faca de Ponta" (Peterpan, Ivan Campos e Celso Albuquerque).

Em 1956 gravou o samba "Samba Não é Brinquedo" (Tom Jobim e Luiz Bonfá), e o samba-canção "Tanto Faz" (Luiz Antônio e Ari Monteiro). Também em 1956, teve o samba "Quatro Histórias Diferentes" (Dora Lopes e Bidu Reis), gravado pelo grupo vocal Quatro Estrelas.

Em 1957, transferiu-se para a gravadora pernambucana Mocambo e gravou o samba "Maria Navalha" (Manoel Casanova, Jorge de Castro e Inácio Heleno) e a batucada "Ina...Ina..." (Dora Lopes e Ari Monteiro). No mesmo ano, gravou a marcha "Fila de Gargarejo" (Dora Lopes, José Batista e Nilo Viana), e o samba "Samba Borocochô" (Inácio Heleno, Manoel Casanova e Jorge de Castro). Ainda em 1957, lançou pela Mocambo o LP "Enciclopédia da Gíria", disco no qual interpretou as músicas "Dicionário da Gíria" (Dora Lopes e César Cruz), "Banca de Brabo", "Falso Cabrito" e "Galã Continental" (Dora Lopes e Franco Ferreira), "Nega Odete" (Dora Lopes e Aldacyr Louro), "Baiuca do Leleco" (Dora Lopes e Zeca do Pandeiro), "Diploma de Otário" (Dora Lopes e Ari Monteiro), "Tostão Não Tem Troco" (Dora Lopes), "Bom Mulato" e "Ninando Muriçoca" (Ari Monteiro e Zeca do Pandeiro), "Engolobada" (Zeca do Pandeiro e Geraldo Seraphim), e "Conversando na Gíria" (Zeca do Pandeiro e Arthur Montenegro).

Gravou em 1958, os sambas "Tuninho" (Antônio Bruno) e "O Gingador" (Erasmo Silva e Geraldo Serafim), o bolero "Tu Me Acostumaste" (Frank Dominguez), e a "Marcha da Pimenta" (Dora Lopes, Luiz Vanderley e Renato Araújo).


Atuou na Rádio Nacional e Rádio Mayrink Veiga. Na década de 50, fez um excursão pela Europa cantando na França, Itália, Suíça, divulgando ritmos brasileiros. Cantou também no México e nos Estados Unidos. Atuou com frequência, nas boates do Rio de Janeiro e de São Paulo.

Gravou em 1961, ainda na Mocambo os sambas "Tostão Não Tem Troco" (Dora Lopes) e "Falso Cabrito" (Dora Lopes e Franco Ferreira).

Em 1962, ingressou na gravadora Copacabana e lançou os sambas "Nós Dois Sabemos" (Mário Cavagnaro e Othon Russo), e "Samba da Madrugada" (Dora Lopes, Carminha Mascarenhas e Erotides), música que passou a ser um dos hinos da boemia carioca, a partir de então. Nesse ano, recebeu o Prêmio Chico Viola por "Samba da Madrugada" (Dora LopesCarminha Mascarenhas e Erotides).

Gravou em 1963 a batucada "Mulher de Bebo" (Dora Lopes, Renato Araújo e Arildo Souza), os sambas "Fica Comigo" (Emilinha Borba e Rubem Gerardi), e "Tortura de Amor" (Waldick Soriano), além da marcha-rancho "Estrela Boêmia" (Dora Lopes e Jorge Lopes). Ainda em 1963, seu samba "Velório de Sambistas" (Dora Lopes e Jorge Lopes) foi gravado por Edith Veiga na Chantecler. A mesma Edith Veiga gravaria o samba-canção "Canção de Mulher Sozinha", no LP "Noite Sem Ninguém" do mesmo ano.

Em 1964, lançou o samba "Vou Lhe Matando Devagar" (Dora Lopes e Renato Araújo) e a marcha "Marrai, Marrai" (Santos Garcia e M. Gomes).


Em 1965, gravou o disco "Minhas Músicas e Eu", pela Copacabana. Neste LP, incluiu as músicas "Dona Solidão" (Dora Lopes e José Di), "Ambiente Diferente" (Dora Lopes e N. Ramos), "Recalque Noturno (Eu Sou a Madrugada)", "Dúvida", "Pintura Manchada", "Meu Alguém", "Meu Samba Triste", "Se Arranca Que Vem Chuva", "Lavadeira Tem Filho Doutor", "Canção do Que Você é" (Dora Lopes e Zairo Marinoso), "Com Dolores no Céu" (Dora Lopes e Jorge Lopes), e "Madrugada Zero Hora" (Dora Lopes e Genival Melo).

Em 1972, teve as músicas "Briguei Com Você" (Dora Lopes e Edith Veiga) e "Ontem à Noite" (Dora Lopes,  D. Mendonça e Analigia) gravadas em compacto duplo lançado pela cantora Edith Veiga pela gravadora Sinter.

Em 1974, gravou um compacto pela RGE, no qual lançou duas composições, "Se Eu Morrer Amanhã, Está Tudo Certo" e "Tomando Mais Uma", ambas em parceria com Conde Fernete e Jony Santos. Neste mesmo ano, a gravadora lançou o LP "Testamento", no qual interpretou alguns sucessos de sua carreira, como "Samba da Madrugada", "Com Dolores no Céu", "Tomando Mais Uma" e novas canções como "Ponto de Encontro" (Dora Lopes e Clayton Werre), "Branco de Paz" (Dora Lopes, Franco Xavier e Jean Pierre), "Oração à Dalva" (Dora Lopes, Norberto Pereira e José Costa), "Visita Permanente" (Dora Lopes e Jean Pierre) e "Barraco Diferente" (Dora Lopes, Jorge Rangel e Conde Fernete), além do samba "Homenagem" (Dora Lopes).

Em 1980, teve os sambas "Amor de Mentira" (Dora Lopes e Odete Guimarães), "Amiga Íntima da Tristeza" (Dora Lopes, Edith Veiga e José Hélio) e "Até os Objetos" (Dora Lopes, Edith Veiga e Nilton Moreira), gravadas por Edith Veiga.

Ao longo de sua carreira, atuou na vida noturna de Copacabana, convivendo com toda a boêmia das décadas de 50, 60 e 70. Gravou um total de 19 discos em 78 RPM pelas gravadoras Sinter, Continental e Mocambo, além de 3 LPs.

Como compositora seu maior êxito foi o "Samba da Madrugada", que foi incluído em sua homenagem no show "Estão Voltando as Flores", escrito e dirigido por Ricardo Cravo Albin entre 2001 e 2003. A homenagem lhe foi prestada em cena pela co-autora do samba Carminha Mascarenhas.

Discografia

  • 1974 - Dora Lopes (RGE, Compacto Simples)
  • 1974 - Testamento (RGE, LP)
  • 1965 - Minha Música e Eu (Copacabana, LP)
  • 1964 - Vou Lhe Matando Devagar / Marrai, Marrai (Copacabana, 78)
  • 1964 - Mister Tico-Tico / A Cigana Errou (Rio, 78)
  • 1963 - Mulher de Bebo / Fica Comigo (Copacabana, 78)
  • 1963 - Tortura de Amor / Estrela Boêmia (Copacabana, 78)
  • 1962 - Nós Dois Sabemos / Samba da Madrugada (Copacabana, 78)
  • 1961 - Tostão Não Tem Troco / Falso Cabrito (Mocambo, 78)
  • 1958 - Tuninho / Tu Me Acostumaste (Mocambo, 78)
  • 1958 - Marcha da Pimenta / O Gingador (Mocambo, 78)
  • 1957 - Maria Navalha / Ina... Ina... (Mocambo, 78)
  • 1957 - Fila de Gargarejo / Samba Borocochô (Mocambo, 78)
  • 1957 - Enciclopédia da Díria (Mocambo, LP)
  • 1956 - Samba Não é Brinquedo / Tanto Faz (Continental, 78)
  • 1955 - Toda Só / Tenho Pena da Noite (Continental, 78)
  • 1955 - Homem Leão / Faca de Ponta (Continental, 78)
  • 1954 - Toma Cachaça / Pegando Fogo (Sinter, 78)
  • 1953 - Me Abandona / Lei da Razão (Sinter, 78)
  • 1953 - Baralho da Vida / Você Morreu Pra Mim (Sinter, 78)
  • 1952 - Moço Direito / Vou Beber (Sinter, 78)
  • 1951 - Cão Cambieci / Inclemência (Sinter, 78)
  • 1948 - Volta Pro Teu Barracão / Roubei o Guarani (Star, 78)

Teotônio Vilela

TEOTÔNIO BRANDÃO VILELA
(66 anos)
Empresário e Político

☼ Viçosa, AL (28/05/1917)
┼ Maceió, AL (27/11/1983)

Teotônio Brandão Vilela foi um empresário e político brasileiro. Dentro de duas décadas foi deputado estadual, vice-governador e senador, reeleito para este último no pleito seguinte. É pai do político e atual governador de Alagoas, Teotônio Brandão Vilela Filho.

Filho de Elias Brandão Vilela e Isabel Brandão Vilela, Teotônio Vilela nasceu na cidade de Viçosa, Alagoas, na data do dia 28/05/1917.

Cedo fez o curso primário na sua cidade natal e o secundário no Ginásio de Maceió e no Colégio Nóbrega em Recife. Apesar de ter frequentado duas faculdades, a de Engenharia e de Direito, no Recife e no Rio de Janeiro, à época no então Distrito Federal. Não chegou a concluir nenhum curso superior, tornando-se autodidata.

No ano de 1937, abandonou os estudos e voltou para Alagoas, onde passou a trabalhar com seu pai, que era proprietário rural. Como o pai, virou agropecuarista e, em seguida usineiro, em sociedade o engenheiro agrônomo pela Universidade Federal de Viçosa (UFV), Geraldo Gomes de Barros, em 12/04/1973 fundou uma usina de açúcar situada no município de Teotônio Vilela, antigo povoado de Feira Nova, localizado a cerca de 100 km da capital Maceió, chamada Usinas Reunidas Seresta.

Teotônio Vilela casou-se com Helena Quintela Brandão Vilela, com quem teve sete filhos, um dos quais, Teotônio Vilela Filho, eleito senador por três vezes consecutivas e governador de Alagoas, para o período de 2007 a 2010, e posteriormente reeleito para um novo mandato de 2010 e 2014.

Carreira Política

Filiou-se à União Democrática Nacional (UDN), em 1948, sendo um dos fundadores do partido em Alagoas, criado em 1952. Elegeu-se deputado estadual pela legenda nas eleições de 1954, exercendo mandato até 1958. Pertencente à "Bancada do Açúcar" neste mandato foi o relator da comissão que pedia o impeachment do populista Muniz Falcão, então governador, acusado pela oposição ferrenha de 22 deputados a Assembleia Legislativa de crime de responsabilidade e de ameça e violência contra deputados.

"O relator da comissão, deputado Teotônio Vilela, concluía o veredicto para informar o que todos já esperavam:
Em face do exposto, não há como fugir à evidência da responsabilidade do senhor governador do estado nos crimes compendiados na denúncia oferecida pelo senhor deputado Oséas Cardoso Paes.
Pelo que, somos de parecer seja a denúncia considerada pela Assembléia do estado objeto de deliberação, prosseguindo nos termos ulteriores, na forma da lei."
("Curral da Morte" - Livro do jornalista alagoano Jorge Oliveira)

Em 1960, foi eleito vice-governador, na chapa do general udenista Luiz de Souza Cavalcante, para o período de 1961-1966, quando ambos sucederam ao governador Muniz Falcão.

Em outubro de 1965, com a edição do AI-2 pelo governo militar, foi reaberto o processo de cassações e suspensões de direitos políticos, a extinção dos partidos políticos existentes, a manutenção das eleições indiretas para a Presidência da República e o estabelecimento das eleições indiretas para os governos estaduais, além de limitadas as imunidades parlamentar e individual dos cidadãos.

Em dezembro do mesmo ano, foram criados dois novos partidos - um de apoio ao governo, a Aliança Renovadora Nacional (ARENA) e outro de oposição, o Movimento Democrático Brasileiro (MDB). Veio a filiar-se na primeira agremiação, sendo eleito para o primeiro mandato de senador em 1966.

No Senado, atuou como membro titular das comissões de Economia, de Agricultura, de Redação, de Ajustes Internacionais, de Legislação sobre Energia Atômica e de Indústria e Comércio. Ao final do mandato foi quarto suplente da mesa e vice-presidente da Comissão de Assuntos Regionais.

Nas eleições parlamentares de 1974, foi reeleito para o Senado, sendo um dos poucos arenistas a ter sucesso eleitoral pelo partido do governo, em todo o país, para a legislatura de 1975 a 1982. Luís Viana Filho, Henrique de La Rocque Almeida, Antônio Mendes Canale, Jarbas Gonçalves Passarinho e Petrônio Portella Nunes foram os outros arenistas.

Com a posse de Ernesto Geisel, em março de 1974, e o início de um projeto de "abertura" política "lenta, gradual e segura", proposta por Petrônio Portella, o senador alagoano após uma conversa reservada com o presidente, desfraldou a bandeira da redemocratização, colocando-se como porta-voz do processo de distensão e assumindo a posição de "oposicionista da ARENA".

Fazia pronunciamentos no Senado pró-democratização e buscou contatos com personalidades e instituições para elaborar um projeto de institucionalização política para o Brasil. Em abril 1978, o apresentou no Senado o que ficou conhecido como o Projeto Brasil, que incluía diversas propostas liberalizantes.

No mês seguinte, aderiu à Frente Nacional Pela Redemocratização, um movimento cujo programa, segundo Teotônio Vilela, era semelhante ao seu Projeto Brasil, além de oferecer uma possibilidade de mobilização. A Frente queria a candidatura do general Euler Bentes Monteiro à presidência e do senador emedebista Paulo Brossard para a vice-presidência da República, buscando agrupar, além do Movimento Democrático Brasileiro (MDB), militares descontentes e políticos dissidentes da Aliança Renovadora Nacional (ARENA).

Filiou-se ao Movimento Democrático Brasileiro (MDB), no dia 25/04/1979, e em meados de junho, durante o seu primeiro discurso como oposicionista, fez duras críticas ao governo provocando a retirada geral dos parlamentares da Aliança Renovadora Nacional (ARENA) do plenário do Senado.

Batalhador incansável pela anistia geral exerceu a presidência da comissão mista que estudava o projeto sobre o tema, encaminhado ao Congresso pelo Governo.

Ao receber, em setembro de 1979, o título de Cidadão Paulistano reconhecido pela Câmara Municipal de São Paulo, explicou a sua devoção pela liberdade:

"Cidadão de Viçosa de Alagoas, dos arredores da Serra dos Dois Irmãos, um dos últimos redutos da Guerra dos Palmares, vivo contemplando a imagem do Zumbi, sinto-lhe o rumos dos sonhos e o calor do sangue libertário."

A Câmara Municipal do Rio de Janeiro, em homenagem ao grande menestrel, batizou seu Plenário com o nome de "Teotônio Vilela".

Partido do Movimento Democrático Brasileiro

Em 1980, com o fim do bipartidarismo e o surgimento de diversos partidos de oposição no Brasil, Teotônio Vilela preferiu filiar-se ao Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB), considerado o continuador do extinto Movimento Democrático Brasileiro (MDB), tornando-se um dos mais importantes nomes da legenda.

No seu discurso de despedida, em 30/11/1982, fez questão de deixar clara a sua disposição em continuar atuando politicamente:

"Estou saindo desta Casa esta semana, isto não é despedida, mesmo porque não é do meu hábito despedir de nada. A vida política continua comigo, continuarei lutando lá fora, só não terei o privilégio de usar esta ou aquela tribuna. Quanto ao mais, prosseguirei na minha vida de velho menestrel, cantando aqui, cantando ali, cantando acolá, as minhas pequeninas toadas políticas."
(Diário do Congresso Nacional, Brasília, DF, 02/12/1982)

Menestrel das Alagoas

Em setembro de 1983, os compositores Milton Nascimento e Fernando Brant lançaram em homenagem a Teotônio Vilela, "O Menestrel das Alagoas", cantada por Fafá de Belém, música que se transformaria, assim como "Coração de Estudante", em hinos da campanha das Diretas Já!, movimento que tomou conta do Brasil, nos primeiros meses de 1984, exigindo que o Congresso aprovasse a emenda constitucional que instituía a eleição direta para o sucessor do presidente João Figueiredo.

Partido da Social Democracia Brasileira

O Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB), em 19/09/1995, criou o Instituto Teotônio Vilela, órgão de estudos e formação política do partido e, em 25/04/2005, foi inaugurado, em Maceió, o Memorial Teotônio Vilela, uma obra de Oscar Niemeyer em homenagem ao Menestrel das Alagoas, como ficou conhecido nacionalmente, devido a sua luta pela liberdade política e a redemocratização do Brasil.

Obras Publicadas

Publicou alguns trabalhos entre os quais podem ser destacados:

  • Mobilização Contra o Subdesenvolvimento (Rio de Janeiro: Dasp, 1958)
  • Andanças Pela Crônica (Maceió: Departamento Estadual de Cultura, 1963)
  • A Civilização do Zebu e a Civilização do Basset (Brasília, DF: Senado Federal, 1974)
  • A Pregação da Liberdade: Andanças de um Liberal (Porto Alegre: L&PM, 1977)

Morte

Teotônio Vilela encerrou sua carreira parlamentar, em novembro de 1982, em decorrência de um câncer. Morreu no dia 27/11/1983, vítima de câncer generalizado.

Em 1983, a deputada pernambucana Cristina Tavares fundou o Centro de Estudos Políticos e Sociais Teotônio Vilela, um palco importante onde seriam discutidos vários problemas da população brasileira.



Em 1986, Teotônio Vilela recebeu o título de Grande Oficial da Ordem do Congresso Nacional (In Memoriam).

Fonte: Wikipédia