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Elisa Silveira

ELISA MARTINS DA SILVEIRA
(89 anos)
Pintora

☼ Teresina, PI (1912)
┼ Rio de Janeiro, RJ (28/04/2001)

Elisa Martins da Silveira foi uma pintora brasileira da Escola Primitiva ou Arte Naïf, nascida em Teresina, PI, no ano de 1912.

Em 1945, transferiu-se para o Rio de Janeiro. Em 1952, passou a frequentar o Curso Livre de Pintura do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM-Rio), sendo aluna de Ivan SerpaIvan Serpa que, segundo Ferreira Gullar, buscava experimentar a arte pura, deu à Elisa Silveira total liberdade de expressão para que pudesse desenvolver sua Pintura Naïf.

Ivan Serpa ainda a integrou ao Grupo Frente, em 1954, onde expunha em conjunto com artistas concretos. Essa postura mostra uma liberdade formal do grupo, mesmo possuindo influências construtivistas internacionais. Em uma época em que o abstracionismo era sinônimo de arte moderna, como aconteceu nos anos cinqüenta no Brasil, o grupo dava um passo à frente ao relacionar a modernidade não à forma abstrata, mas sim à atitude do artista. Elisa Silveira foi premiada nas II e III Bienais de São Paulo, mesmo que nestas mostras o abstracionismo predominasse.

Se a arte concreta estava relacionada a uma utopia universalizante do homem, tendo como base a sua racionalidade, acabava também atropelando culturas regionais tradicionais. Nesse sentido, Elisa Silveira resgatou em sua pintura esses elementos populares. Há quem chame sua pintura de inocente, mas estudar o regionalismo em uma época de predominância de uma arte de concepção tecnocrática, não é nada inocente.

Elisa Silveira está representada na coleção do Museu de Arte do Rio (MAR), com uma tela de grande porte, sem título, que participou da II Bienal de São Paulo e de exposições sobre o Grupo Frente. Trata-se de uma doação do Fundo Z.

Elisa Martins da Silveira - "Festa de São João" - Óleo Sobre Tela

Participou, entre outras, das seguintes exposições individuais:
  • 1963 - Retrospectiva "Os Dez Anos de Pintura de Elisa", Museu de Arte Moderna, Rio de Janeiro.
  • 1968 - Galeria do Consulado Brasileiro, Munique, Alemanha.
  • 1973 - Retrospectiva "Os Vinte Anos de Pintura de Elisa", Quadrante Galeria de Arte, Rio de Janeiro.
  • 1995 - "Elisa Martins da Silveira: Retrospectiva", Galeria do Instituto Brasil-Estados Unidos, Copacabana e Madureira, Rio de Janeiro.

Participou, entre outras, das seguintes exposições coletivas:
  • 1953 - Feira Internacional de Lausanne, Suíça.
  • 1953 - 2ª Bienal Internacional de São Paulo - Prêmio Carmem Dolores Barbosa.
  • 1955 - 4º Prêmio Lissone, Milão, Itália.
  • 1955 - 3ª Bienal Internacional de São Paulo, São Paulo - Prêmio Lãs Santista.
  • 1958 - 1ª Bienal Interamericana do México, Cidade do México, México.
  • 1959 - Prêmio Leirner de Arte Contemporânea, Galeria de Arte das Folhas, São Paulo - Prêmio Aquisição em Pintura.
  • 1960 - Prêmio Leirner de Arte Contemporânea, Galeria de Arte das Folhas, São Paulo - Prêmio Aquisição em Pintura.
  • 1962 - National Federation Of Arts, New York, Estados Unidos.
  • 1963 - Academia Brasileira de Belas Artes, Rio de Janeiro - Prêmio de Mérito Portinari.
  • 1970 - Naifs Brasileños, Club Pueblo, Madri, Espanha.


Ricardo Câmara

RICARDO CÂMARA DA SILVA
(37 anos)
Ator, Escritor e Modelo

☼ Rio de Janeiro, RJ (12/10/1963)
┼ Rio de Janeiro, RJ (28/04/2001)

Ricardo Câmara da Silva, conhecido como Ricardo Câmara, foi um ator, escritor e modelo brasileiro nascido no Rio de Janeiro, RJ, no dias 12/10/1963.

Ricardo Câmara começou a carreira em 1984 quando ganhou o 1º Concurso Garoto de Ipanema. Bonito e com porte atlético, Ricardo Câmara desfilou durante 3 anos nas passarelas de New York, onde trabalhou com Pierre Cardin e Paco Rabanne.

No final da década de 80, dedicou-se a carreira de ator e estudou na Escola de Teatro Dirceu de Matos, lugar de onde também saiu seu grande amigo, o ator Nelson Freitas.

A grande chance de Ricardo Câmara surgiu em 1990, quando interpretou o Dom Juan Serginho na novela "Barriga de Aluguel", de Glória Perez.

Sem ter novas boas chances na televisão, Ricardo Câmara se tornou escritor e dentre seus livros mais conhecidos estão "Janela da Vida", "Amor Espanhol" e "Passo X Realidade". Este último foi uma autobiografia.

Em depressão profunda por não conseguir voltar à televisão, Ricardo Câmara suicidou-se no dia 28/04/2001, com um tiro na boca em seu apartamento no Rio de Janeiro.

Fonte: Wikipédia

Zanine Caldas

JOSÉ ZANINE CALDAS
(82 anos)
Paisagista, Maquetista, Escultor, Moveleiro, Arquiteto, Designer de Produtos e Professor

☼ Belmonte, BA (25/04/1919)
┼ Vitória, ES (20/12/2001)

José Zanine Caldas foi um paisagista, maquetista, escultor, moveleiro, escultor e designer de produtos e professor, além de também atuar como professor no Brasil e no exterior, nascido em Belmonte, sul da Bahia, no dia 25/04/1919.

Por seu talento incomum foi reconhecido como Mestre da Madeira. Seu trabalho promoveu a integração do artesanato tradicional brasileiro e do modernismo de forma singular.

Zanine desde criança era apaixonado por obras e serrarias. Filho de um médico, com 13 anos ele começou a fazer presépios de Natal para os vizinhos usando caixas de seringa do pai, feitas de papelão. Mais tarde, tomou aulas de desenho com um professor particular e, aos 18 anos, foi para São Paulo, trabalhar como desenhista numa construtora.

Dois anos depois abriu sua própria empresa no Rio de Janeiro para construção de maquetes onde trabalhou entre 1941 e 1948. Por sugestão de Oswaldo Bratke, transfere-o depois para São Paulo, em atividade de 1949 a 1955. O ateliê atendia os principais arquitetos modernos das duas cidades, e era responsável pela maioria das maquetes apresentadas no livro "Modern Architecture In Brazil" (1956), de Henrique E. Mindlin. Do ateliê de Zanine saíam os protótipos de projetos assinados por nomes como Lúcio Costa, Oswaldo Arthur Bratke e Oscar Niemeyer.

Em 1949, em São José dos Campos, SP, uma sociedade entre Zanine, Sebastião Henrique da Cunha Pontes Paulo Mello, gerou a Zanine, Pontes e Cia. Ltda., mais conhecida como Móveis Artísticos Z, que produziu móveis por 12 anos para a classe média. O desenho dos móveis com forte influência modernista foi assinado por Zanine até sair da sociedade em 1953.


Zanine Caldas trabalhou como assistente do arquiteto Alcides da Rocha Miranda na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (FAU/USP), entre 1950 e 1952.

Em São Paulo, desenvolveu projetos paisagísticos até 1958, quando se transferiu para Brasília, onde construiu sua primeira casa, em 1958, e coordenou a construção de outras até 1964.

Indicado por Rocha Miranda a Darcy Ribeiro, ingressou na Universidade de Brasília (UNB) em 1962, e deu aulas de maquetes até 1964, quando perdeu o cargo em virtude do golpe militar. Nesse ano, 1964, viajou pela América Latina e África, e, retornando ao Rio de Janeiro, construiu sua segunda casa, a primeira de uma série construída na Joatinga até 1968.

Em 1968, mudou-se para Nova Viçosa, Bahia, abriu um ateliê-oficina, que funcionou até 1980, e participou do projeto de uma reserva ambiental com o artista plástico Frans Krajcberg, para quem projetou um ateliê em 1971.

Simultaneamente, entre 1970 e 1978, manteve o escritório no Rio de Janeiro, para onde retornou em 1982. Um ano depois fundou o Centro de Desenvolvimento das Aplicações das Madeiras do Brasil (DAM), e o transferiu em 1985 para a Universidade de Brasília (UNB). Nesse período propôs a criação da Escola do Fazer, um centro de ensino sobre o uso da madeira da região para a construção de casas, mobiliário e objetos utilitários para a população de baixa renda.


Em 1975 o cineasta Antonio Carlos da Fontoura fez o filme "Arquitetura de Morar", sobre as casas da Joatinga, com trilha sonora de Tom Jobim, para quem Zanine Caldas projetou uma casa. Dois anos depois, a obra do arquiteto é exposta no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM/RJ), no Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand (MASP), em Belo Horizonte, e no ano seguinte no Solar do Unhão, em Salvador.

Em 1986, a publicação de sua obra na revista "Projeto" nº 90 inicia uma polêmica no Conselho Regional de Engenharia e Arquitetura (CREA) sobre o fato de Zanine Caldas ser auto-ditada. Vários arquitetos saem em sua defesa, entre eles Lúcio Costa, que lhe entrega cinco anos depois, no 13º Congresso Brasileiro de Arquitetura em São Paulo, o título de Arquiteto Honorário dado pelo Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB).

Em 1989 é reintegrado no seu posto na Universidade de Brasília (UNB), mas não chega a dar aulas. Nesse ano vai para Europa, onde projeta residências em Portugal e dá aulas na École d´Architecture de Grenoble, França. O Musée des Arts Decoratifs de Paris mostra suas peças de design em 1989, ano em que recebe a medalha de prata do Colégio de Arquitetos da França.

Perseguido, Zanine chegou a se asilar na embaixada da Iugoslávia, mas no último momento decidiu não viajar para aquele país. Reapareceu ao final dos anos 60. Estabeleceu-se no Rio de Janeiro onde construiu dezenas de casas no bairro de Joatinga, um local de geografia privilegiada, situado entre São Conrado e a Barra da Tijuca. Realizou ali uma arquitetura ao mesmo tempo colonial e moderna, cuja escolha de material privilegiava a preservação do meio ambiente e enfatizava o conceito de autoconstrução.


Nos anos 80, ao estabelecer uma oficina para antigos canoeiros em Nova Viçosa, BA, em sua comunidade "proto-ecológica", reassumiu sua ligação com as técnicas caboclas e reinterpretou as tradições artesanais regionais. À época, Zanine sonhava em transformar Nova Viçosa em uma capital cultural e a sua utopia chegou a reunir nomes como os de Chico BuarqueOscar Niemeyer e Dorival Caymmi. Lá ajudou a construir a residência do artista Franz Krajcberg.

Durante muitos anos, Zanine foi o centro de uma polêmica que tentou impedi-lo de construir por não ser um profissional diplomado. Chegou a ser impedido pelo Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia (CREA) de levar adiante a construção de alguns projetos. No entanto, pelo domínio da técnica e materiais Zanine acabou sendo reconhecido como Arquiteto Honoris Causa. Lúcio Costa foi um dos defensores do título, causando polêmica no meio.

Em 1991 Lúcio Costa teve a honra de entregar-lhe o título de arquiteto honorário, atribuído pelo Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB).

No final da década de 80, seu trabalho foi exposto no Museu do Louvre, em Paris, trazendo-lhe o reconhecimento internacional.

Zanine Caldas morreu em Vitória, ES, no dia 20/12/2001, aos 82 anos, vítima de um infarto. Ele já vinha sofrendo de hidrocefalia e apresentava diversas dificuldades de comunicação e raciocínio.

Casado por seis vezes, deixou seis filhos, entre eles o arquiteto José Zanine Caldas Filho, o designer Zanini de Zanine Caldas, que em seus desenhos tem como inspiração os projetos do pai, também ganhando notoriedade por móveis

Indicação: Paulo Roberto Santos

Tião Neto

SEBASTIÃO COSTA CARVALHO NETO
(69 anos)
Baixista e Produtor Musical

☼ Rio de Janeiro, RJ (11/1931)
┼ Niterói, RJ (13/06/2001)

Sebastião Costa Carvalho Neto, conhecido como Tião Neto foi um baixista e produtor musical brasileiro nascido no Rio de janeiro, RJ, em novembro de 1931. Tião Neto já tocou com cantores consagrados da música popular brasileira, entre eles, Tom Jobim, João Gilberto e Sergio Mendes, acompanhando-os como músico de apoio.

Desde menino, ouvia muita música em casa, interessando-se por vários instrumentos. Aos sete anos de idade, recebeu seu primeiro prêmio como músico, tocando pandeiro numa rádio da Bahia, onde residia na época. Trabalhou em aviação, abandonando a profissão em 1957 para dedicar-se exclusivamente à música, como contrabaixista. Nessa época, estudou com o professor Vidal, baixista do quinteto de Radamés Gnattali.

Iniciou sua carreira artística na década de 1950, em sessões de jazz no Clube Central de Niterói, RJ, onde também se apresentava o pianista Sergio Mendes. Após participar de um festival de jazz no Uruguai, fez longas temporadas no Beco das Garrafas, em Copacabana, Rio de Janeiro, durante três anos, acompanhando todas as estrelas que aí se apresentavam.

Tião Neto foi cliente fundador do Petit Paris, em Niterói, RJ.

Tião Neto, Tom Jobim, Stan Getz, João Gilberto e Milton Banana
Em 1963, viajou para os Estados Unidos como um dos integrantes do grupo Bossa Três, com o qual gravou três LPs e apresentou-se, em Nova York, no "Ed Sullivan Show", programa de maior audiência da TV americana, na época. Ainda em Nova York, tomou parte na gravação do disco que viria a se tornar o carro-chefe da bossa nova no exterior, "Getz-Gilberto", ao lado de João Gilberto, Stan Getz, Astrud GilbertoTom Jobim, com uma vendagem de quatro milhões de discos em lançamento mundial.

Voltou ao Brasil em 1964, passando a integrar, com Sergio Mendes (piano) e Edison Machado (bateria), o Sergio Mendes Trio, com o qual se apresentou em espetáculos na América do Sul, América do Norte e no Japão. Com o trio, gravou o LP "The Swinger From Rio".

A partir de 1965, fixou residência em Los Angeles, Estados Unidos. Atuou em shows e gravações com grandes músicos americanos e com Sergio Mendes na série Brasil 65, 66, 77 e 88. 

Em 1984, voltou para o Brasil, montou um estúdio para gravação de jingles para campanhas comerciais. Continuou viajando eventualmente ao exterior para apresentações com Sergio Mendes. A partir desse ano, passou a integrar a Banda Nova, de Tom Jobim, atuando em gravações e shows no Brasil e no exterior.

Em 1986, paralelamente ao trabalho com a Banda Nova, criou o TNT (Tião Neto Trio) e a Banda São Jorge (de curta duração), apresentando-se em teatros e clubes de jazz por todo o Brasil.

Acompanhou a cantora Nana Caymmi durante três anos.

Tião Neto, Luiz Carlos Vinhas, Herbie Man, Kenny Dorhan e Sérgio Mendes Assistindo
Em 1998, foi contratado pela Sociedade dos Amigos da Biblioteca Nacional (Sabin), nas funções de curador, orientador e responsável pelo acervo discográfico da Biblioteca Nacional, no Rio de Janeiro, selecionando e catalogando toda a história da música brasileira gravada desde 1907. Ainda em 1998, reativou o Bossa Três, apresentando-se em shows em várias cidades brasileiras.

Realizou palestras sobre jazz em espaços culturais como o Teatro Municipal de Niterói, Sala Carlos Couto, Museu do Ingá, Centro Cultural Banco do Brasil, Universidade Gama Filho, entre outros.

Ao longo de sua carreira, foi agraciado com o Prêmio Folha de S. Paulo (1961), a inclusão na lista dos 20 melhores baixistas do mundo indicados pela revista Playboy (1968), o Troféu Vitor Assis Brasil (1988), o Troféu Projeto Brahma Extra (1989) e o Troféu 1º Prêmio Cantareira das Artes (1997).

Tião Neto morreu na noite do dia 13/06/2001, aos 69 anos, em Niterói, RJ, vítima de falência múltiplas dos órgãos.

Nico Assumpção

ANTONIO ÁLVARO ASSUMPÇÃO NETO
(46 anos)
Baixista

☼ São Paulo, SP (13/08/1954)
┼ Rio de Janeiro, RJ (20/01/2001)

Nico Assumpção, nome artístico de Antônio Álvaro Assumpção Neto, foi um contrabaixista brasileiro. Nasceu em São Paulo, no dia 13/08/1954. Seu pai, um industrial de classe média e amante do jazz, tocou baixo acústico, quando jovem, de forma amadora.

Na casa da família Assumpção, a música sempre esteve presente, sendo o jazz uma das principais paixões do pai de Nico, que comprava discos importados através de catálogo. Na década de 50 e 60 era muito comum o empresário de um um músico internacional em turnê no Brasil, levá-lo para jantar na casa de uma família bem sucedida, cujo anfitrião fosse conhecedor sua música e pudesse acolhê-lo com mais hospitalidade. A família de Nico era uma dessas, e seu pai, que tinha influência junto a esses empresários como Roberto Corte Real, sempre oferecia sua casa, fazendo com que Nico estivesse em contato com diversos músicos, como Frank Sinatra Jr., que visitou a casa da família durante sua passagem pelo Brasil em 1966.

Desde pequeno observava-se em Nico uma tendência musical ou um bom ouvido. Mas a realidade é que na casa onde moravam havia um móvel onde os discos eram guardados. Já aos 2 anos Nico alcançava a parte de baixo desse móvel e pedia para ouvir os discos do Michel Legrand, pianista, compositor e arranjador francês, que tornou-se um de seus grandes amigos anos mais tarde.

Aos 9 anos, Nico já aprendia a tocar violão através das aulas que tinha com o músico Paulinho Nogueira. Aos 13 anos já tocava em uma banda de garagem, covers dos Beatles, grupo que gostava muito. Mas como baixista da banda costumava faltar aos ensaios com frequência. Demonstrando um interesse maior pelos arranjos das músicas instrumentais, Nico trocou o violão pelo  baixo elétrico. A partir daí, dedicou-se somente ao baixo, passando, algum tempo depois, a estudar na escola de música Centro Livre de Aprendizagem Musical (CLAM), com o renomado professor Luiz Chaves do Zimbo Trio, com quem também teve aulas de baixo acústico.

Algum tempo depois, Nico foi convidado para dar aulas de baixo elétrico e baixo acústico na mesma escola onde estudava. Na mesma época, em 1974 e 1975, participou de um trio de jazz que tocava em alguns restaurantes de classe média-alta em São Paulo, como o Padoque Jardins e o Clube Harmonia.

Nessa época, os restaurantes obrigavam os músicos a entrarem pela porta dos fundos. Nico foi um dos primeiros a pleitear que os músicos entrassem pela porta da frente. Com isso, algumas pessoas, e até mesmo amigos de profissão, achavam-no arrogante, mas para ele isso era um direito: entrar pela porta da frente impunha um pouco mais de respeito ao músico, independente do seu nível social.

Paralelamente às suas atividades nos restaurantes de São Paulo, suas aulas com Luis Chaves e as aulas que ministrava no CLAM, Nico iniciou um curso por correspondência na Berklee College Of Music, no qual o aluno estudava a distância e enviava um teste com as respostas para uma futura eliminação de matérias.

Em 1974, quinze dias após o falecimento de seu pai, prestou vestibular na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) para o curso de economia, onde estudou por aproximadamente 3 anos. Continuou desenvolvendo suas atividades como músico tocando com Arrigo Barnabé, que ensaiava, no estúdio que Nico tinha em sua casa, as músicas que no ano de 1980 seriam gravadas no disco "Clara Crocodilo". A formação desta banda contava, além de Arrigo Barnabé, piano e voz, Nico no baixo, José Pires de Almeida Neto (Netão) na guitarra, Lea Freire na flauta e Duda Neves na bateria. A banda tocou em algumas faculdades como a Faculdade de Arquitetura e Urbanismo e Universidade de São Paulo (USP), mas Nico não chegou a gravar o disco.

Em 1975, Nico tocou baixo acústico com um trio de jazz cuja formação era composta por mais dois jovens estudantes e professores do CLAM: Paulo Cardoso (bateria), que hoje atua na área da medicina, e Eliane Elias (piano), que anos mais tarde se consagrou gravando, ao lado de Nico, o disco "Double Rainbow" de Joe Henderson, somente com músicas de Tom Jobim. Nesta apresentação, com uma duração total de 2 horas e meia e feita com seção dupla, o trio tocou apenas standards de jazz. A entrada era franca e a divulgação, feita pelo trio com a ajuda do irmão de Nico, que colaram diversos cartazes pelas faculdades de São Paulo. Essa apresentação registrou a maior lotação do Museu de Arte de São Paulo (MASP) até aquela data.

New York

Em 1976, aos 22 anos, mudou-se para New York a fim de aprofundar seus estudos. Chegando em New York, coincidentemente foi morar no prédio em que Ricardo Silveira (guitarra) morava, na Rua 22 entre 1rst e 2nd avenida, onde se conheceram e se tornaram amigos. Neste mesmo prédio morava Cláudio Celso (guitarra) e Guilherme Vergueiro (piano). Segundo Ricardo Silveira, "a gente sempre tocava na casa de um ou de outro e tocamos junto com o trompetista Cláudio Roditi". Nico começou como a maioria dos músicos brasileiros que buscam fazer carreira em New York: tocou com músicos brasileiros.

Alguns meses depois foi convidado para participar do Festival de Newport com o músico Dom Um Romão. Isto abriu-lhe as portas para tocar com Charlie Rouse (sax) e Don Salvador (piano), que, por sua vez, o colocou em contato para trabalhos com renomados músicos de jazz, como Wayne Shorter (sax), Kenny Barron (piano) e Billy Cobham (bateria). Nico também estudou arranjo e orquestração na Berklee College Of Music. O curso por correspondência feito anos antes  permitiu a eliminação de matérias, reduzindo o tempo total dos estudos.

Anos 80

Em 1981, de volta ao Brasil, Nico gravou seu primeiro disco instrumental solo de forma independente com 10 músicas, sendo 9 de sua autoria. Teve diversos empecilhos em para lançá-lo, pois dependia de uma grande gravadora para prensá-lo e distribuí-lo, além disso, era encontrado em poucas lojas, uma delas a Hi-Fi, em São Paulo. Atualmente este disco é conhecido como "Nico Assumpção" e teve uma prensagem de 3 mil cópias feitas pela Fermata.

Com uma carreira solo, sempre com músicas instrumentais, conquistou um grande espaço no Brasil, principalmente São Paulo e Rio de Janeiro. Foi um dos primeiros baixistas brasileiros a lançar um disco de música instrumental, onde o baixo fosse o destaque.

Na década de 80, a música instrumental era um modismo entre os músicos e pessoas de classe média que frequentavam bares em São Paulo, lotados de segunda a domingo com uma atração diferente a cada noite. Um desses bares era conhecido como Penicilina, localizado na Alameda Lorena em São Paulo e quase foi comprado pelos irmãos Assumpção. A programação musical do bar ficava por conta de Nico, que também tocava em uma das noites. Para tocar no Penicilina era necessário entrar em contato com Nico para reservar uma data. Este bar teve um papel muito importante nos anos 80 para a música instrumental que conhecemos hoje.  Alguns músicos que se apresentaram lá se profissionalizaram, como Teco Cardoso, um dos maiores saxofonistas do Brasil, que tocou acompanhado por Silvio Mazzuca (baixo) e Michel Fridayson (piano), e que também tocou com Nico algum tempo depois.

Em 1982, indicado por Ricardo Silveira, Nico foi para o Rio de Janeiro para tocar no Prudente, um bar em Ipanema, acompanhando Marcos Rezende (piano), que também gostava muito de seu trabalho. Desde então, semanalmente ia para o Rio de Janeiro e ficava hospedado na casa de uma tia, em Laranjeiras no Parque Guile.

Marcos Rezende tinha casa cheia toda quarta-feira, e com isso, Nico mudou-se definitivamente para o Rio de Janeiro, morando, por 2 anos, em um um apartamento alugado em Botafogo, junto com Zeca Assumpção e Bob White. O que mais motivou sua mudança para o Rio de Janeiro foi a visibilidade que teria para a carreira, afinal era lá que estava a mídia de maior alcance nacional da época - Organizações Globo, vários outros semanários importantes, além de um grande número de artistas.

Firmado seu nome nas noites cariocas, todos queriam tocar com Nico Assumpção. Nesta época gravou muitos trabalhos em estúdio, principalmente com o Luiz Avellar (piano), dono de uma produtora e compositor de arranjos. Luiz Avellar sempre convidava Nico e Ricardo Silveira para gravar trabalhos que iam de jingles e trilhas, a discos de artistas da MPB. Além disso, o trio tocava algumas noites da semana em casas como Jazzmania, Parque da Catacumba e Mistura Fina. Esse bar é hoje o internacionalmente renomado Restaurante Mistura Fina, que tem apresentações de jazz e música instrumental também com atrações internacionais.

Em 1984 Nico gravou o que seria seu segundo disco solo no extinto estúdio Rádio Patrulha. Esse disco, gravado e mixado, nunca foi prensado e lançado. No mesmo ano, por ter boa experiência com gravações, ia uma vez por semana a São Paulo para fazer os arranjos e gravar o disco solo do amigo Cândido Penteado Serra, que integrou o grupo D’Alma, pela gravadora Eldorado. No término das gravações, Cândido decidiu lançar o disco com o nome "Banda Paulistana", dividindo os créditos com o amigo baixista.

Em 1985 Ricardo Silveira, convidado para tocar no Free Jazz Festival, reuniu Nico, Luiz Avellar, Carlos Bala (bateiria) e Steve Slagle (sax), que era seu amigo de New York, para tocar como sua banda no festival. Por mais duas semanas, de quarta a sábado, continuaram a tocar no bar Jazzmania. Surgia aí o Projeto High Life.

Logo após o festival, a banda decidiu acrescentar algumas músicas para aumentar o repertório, uma delas era "High Life" de Steve Slagle. A banda fazia duas entradas, e, no final da segunda semana, Luiz Avellar sugeriu que continuassem como banda, que seria de todos, e que gravassem um disco. O nome High Life surgiu, segundo Ricardo Silveira, por ser o nome de uma das músicas do repertório e porque não conseguiram pensar em um nome melhor naquela época.

O disco foi gravado em dois dias no estúdio Nas Nuvens, do músico Liminha, pelos produtores Chico Neves e Vitor Faria. A banda fez diversos shows no Rio de Janeiro e São Paulo, um deles registrado nos arquivos do Centro Cultural São Paulo. O disco "High Life" é o único disco do "Grupo High Life", sendo conhecido por grande parte dos músicos, principalmente baixistas, como um disco solo de Nico Assumpção, talvez pelo fato de ter duas músicas de autoria do baixista - uma delas, "Cor de Rosa", muito importante em sua carreia, além dos solos de baixos, temas e acompanhamentos que destacam o baixo de uma maneira incomum para a época.

Em 1988, após ter participado nas edições anteriores do Free Jazz In Concert como side man, Nico faz um show com Luiz Avellar, Paul Liberman (sax), Ricardo Silveira (guitarra) e Jurim Moreira (bateria). Antes do evento, tocando a escala cromática como aquecimento, Nico percebe que a partir do 17º traste a nota fá se repetia nos trastes seguintes. Nico teve um acesso de pânico. A primera reação foi pedir um martelo, imaginando que os trastes estivessem empenados. Enquanto o roadie busca o martelo, Nico passou a mão debaixo da corda e descobre que ela estava amassada naquele ponto. Trocou a corda e  tudo bem, subiu para o palco e, segundo testemunhas do evento, foi um dos melhores shows do Nico.

Nico Assumpção reuniu uma legião de fãs, em primeiro lugar, músicos. Sempre fazia questão de tocar ao vivo, porque gostava muito. Tocou em casas como Blue Note e Village em New York, e em diversos bares, como os que temos hoje na Vila Madalena, em São Paulo. Tocou em diversos teatros e também em casas noturnas no Leblon, frequentadas por diversos músicos que se reuniam no fim de noite para tomar uma cerveja e fazer algumas jam sessions.

Nico Assumpção e João Bosco
João Bosco

A princípio, João Bosco fazia shows sozinho, voz e violão, em dado momento chamou o Nico para fazer um duo. Desde então, Nico consolidou seu trabalho com João Bosco, não apenas como baixista, mas, também, como parceiro musical.

Desta parceria sugirão os discos "Gagabirô" (1984), "Cabeça de Nego" (1986), "Ai Ai Ai de Mim" (1987), "Bosco" (1989), "Zona de Fronteira" (1991), "As Mil e Uma Aldeias" (1997) e "Benguelê Ballet Para um Corpo" (1998).

A afinidade entre os dois pode ser comprovada no especial transmitido pela TV Cultura. Neste show, sentimos uma concepção musical com poucos arranjos e muita liberdade para o baixista solar, João Bosco mantém sua maneira de tocar violão - é comum criar acompanhamentos de violão mais complexos, preenchendo os espaços quando se toca sozinho, e tocar de maneira mais enxuta, quando se está acompanhado por um baixista, omitindo as notas mais graves dos acordes para não embolar, porém neste show esse pensamento não foi percebido. João Bosco toca como se estivesse sozinho, preenchendo quase todo o espaço com seu violão, isso permite que Nico explore melhor a região aguda do baixo, fazendo vários solos durante as músicas.

Algum tempo depois, Nico sugeriu que João Bosco convidasse outros músicos, aí se forma um novo grupo: Nico (baixo), Marçal (percussão), Robertinho Silva (bateria) e Ricardo Silveira (guitarra). Posteriormente, Nelson Faria (guitarra) e Kiko Freitas (bateria), além dos baixistas Andre Neiva e Ney Conceição, ambos indicados pelo próprio Nico para substituí-lo.

Paralelo ao trabalho com João Bosco, que durou 15 anos, Nico fez uma série de shows e gravações com nomes como Milton Nascimento, Márcio Montarroyos (trompete), Victor Biglione (guitarra), Ricardo Silveira (guitarra), Wagner Tiso (teclado), Helio Delmiro (guitarra), Cesar Camargo Mariano (piano), Nelson Faria (guitarra), Robertinho Silva (bateria), Chico Buarque (compositor e intérprete), Marcos Rezende (piano), Edu Lobo (compositor) e Larry Coryell (guitarra), entre outros.

Em grande parte desses trabalhos, teve muita liberdade para criar suas melodiosas e precisas linhas de baixo e fraseados.

Nico ministrou vários workshops sobre técnicas de contrabaixo, harmonia, improvisação, levadas e etc. Utilizava como material de apoio uma apostila com diversos exercícios e exemplos de digitação, onde mostrava a sua forma de tocar. Esse material, posteriormente foi ampliado e sistematizado, tornado-se o seu método de improvisação Bass Solo, os segredos da improvisação, lançado no final de 2000 pela editora Lumiar.

Segredos

Qual o segredo que havia por trás do Nico? Por que ele tocava tanto? A resposta foi dada por Rossana, sua esposa:

"Ele sempre buscou o estudo. Não me lembro de um dia em que o Nico estivesse em casa que não tivesse entrado no estúdio para estudar, seja sábado, domingo ou feriado. Ele tocava, ele estudava e ele ouvia. A capacidade que ele tinha para buscar o aprimoramento é nítido no trabalho que ele deixou. Nico como músico era um ser perfeito. Nunca se contentava com 99%, tinha que ser 100%. O Nico e o contrabaixo eram como se fossem uma coisa só, como se fizessem parte um do outro; o dedo que toca a corda e a corda que penetra o dedo."

O Mestre

Nico Assumpção participou de centenas de gravações durante sua carreira entre discos completos e participações, além de um número incontável de shows. Não sobrava tempo para ministrar aulas particulares de música, apenas alguns poucos os baixistas que tinham o privilégio de ter Nico como professor.

Segundo André Neiva e Patrick Laplan, Nico não adotava um método específico em suas aulas particulares, que muitas vezes se estendia por horas em sua casa como um bate-papo, sem um tempo pré-determinado, tocando e mostrando suas gravações e trabalhos de outros baixistas que considerava de grande importância para o desenvolvimento musical de qualquer músico. O enfoque principal de suas aulas era a harmonia. Falava sobre o ciclo de quintas ascendentes e descendentes, modos gregorianos e progressões, e a improvisação. A improvisação, segundo ele, deveria ser vista como uma história com começo, meio e fim, para que tenha contexto musical e não um amontoado de notas sem sentido.

Sempre dizia, principalmente aos alunos mais jovens, que um bom músico deve ser livre de preconceitos musicais, que o segredo para conseguir fazer música com estilo próprio está em saber misturar diversos estilos musicais. Demostrando ser um músico virtuoso, sem ser exibicionista, era admirado por seus alunos por sua simplicidade e respeito ao nível de conhecimento de cada um. Com imensa boa vontade de ajudar no desenvolvimento musical e profissional do aluno, orientava sobre como portar-se diante de um arranjador, maestro ou artista, em como deveriam ser firmes diante de algumas decisões, e, o mais importante na opinião de André Neiva, os ensinava a dizer não, mostrando que suas idéias, de que o músico deve ser sempre respeitado, continuavam fortes em seu modo de encarar a profissão.

Além das poucas aulas particulares ministradas em seu apartamento no Rio de Janeiro, Nico participou das edições de 92, 94 e 95 do Festival de Verão de Brasília na Escola de Música. Segundo o professor Oswaldo, que participou dos três cursos ministrados por Nico, "essa experiência (...) mudou minha visão no estudo do contrabaixo".

Nico demonstrou nesses festivais o domínio que tinha tanto sobre o baixo elétrico como o acústico, impressionando os músicos presentes pela sua técnica, conhecimento harmônico e fluência em improvisação, provando estar realmente à frente de seu tempo.

Com uma diferença de 16 anos entre o lançamento do segundo e o terceiro disco, em abril e junho de 2000, Nico voltou aos estúdios ao lado de Nelson Faria (guitarra) e Lincoln Cheib (bateria) para gravar o disco "Três/Three".

Foram regravadas músicas como "Cor de Rosa", uma das mais importantes de sua carreira, "Eu Sei Que Vou Te Amar" (Tom Jobim e Vinicius de Moraes), "Vera Cruz" (Milton Nascimento e Márcio Borges), músicas inéditas de autoria própria em parceria com Nelson Faria, além de composições de Lincoln Cheib e Mauro Rodrigues.

O último registro ao vivo de Nico Assumpção é no disco "Tocando Victor Assis Brasil", gravado no Mistura Fina nos dias 30 e 31 de março e 1 de abril de 2000, ao lado de Luiz Avellar (piano) e Kiko Freitas (bateria), tendo a participação especial de Nivaldo Ornelas (sax) e Ricardo Silveira (guitarra), tocando apenas composições de Victor Assis.

Nico e Mariana
Família

Nico dava grande valor ao relacionamento familiar. Tinha um profundo carinho pela mãe Conceição, sempre se lembrando de sua dedicação ao cuidar de seu pai adoentado. Também tinha uma profunda admiração pelo seu irmão mais novo, Neco, o arquiteto.

Casou-se duas vezes. Do primeiro casamento com Paula teve uma filha, Mariana, nascida em 1985. Do segundo casamento com Rossana Lorentz, não teve filhos. Viveram juntos por 6 anos até o seu falecimento em 20/01/2001.

Nico Assumpção e Marco Pereira
Morte

Nico sempre foi muito preocupado com a questão de preparo físico. Dava voltas de bicicleta em torno na Lagoa Rodrigo de Freitas e estava sempre bem disposto, tanto nos workshops, tanto nos shows.

Em 1999 ele iniciou um trabalho com o músico mineiro José Namen (teclado) em parceria com Nelson Faria (guitarra), cuja proposta era tocar Beatles em ritmo brasileiro, o trabalho chama-se "Beatles - Um Tributo Brasileiro". Fizeram alguns shows, inclusive em Ouro Preto. Durante esse período, Nico apresentou problemas de saúde, sendo necessária uma intervenção cirúrgica para correção de hérnia de disco.

Durante uma turnê na Europa para promover o CD da Maria João e do Mário Laginha, sentiu-se mal e comentou que chegando no Brasil faria exames. Foi então ao médico que o diagnóstico com câncer no pulmão em estágio avançado.

Nico encarou a doença de maneira serena e consciente do trabalho realizado. Na verdade, quem conversou com o Nico durante esse período, jamais imaginaria a gravidade do problema pelo qual ele estava passando. Em uma dessas ocasiões Rossana lhe perguntou como ficaria a memória da sua obra, não tinha um acervo de participações em shows, eventos, não havia produzido nenhum filme, tipo video-aula e etc. Nico respondeu que ela não precisava se preocupar com isso, iria aparecer muita coisa depois.

A doença se alastrou para o fígado e depois para a coluna vertebral. O tratamento foi difícil e doloroso, e o lançamento do disco "Três" ocorreu nesse período, inclusive com Nico autografando o CD no hospital em dezembro. Ele  falava inglês e francês fluentemente e, neste momento, já misturava as línguas sem nenhum motivo aparente durante a conversa. Era um evidente sinal que a doença já havia atingido um estágio muito avançado e fatal: o cérebro.

Amigos e parceiros o visitam nessa hora e ele fala pra um deles:

"Gostaria de poder voltar no tempo e começar de novo algumas coisas, para ser possível demonstrar e expressar para as pessoas que eu amo o quanto elas são importantes."

Na sexta feira, dia 19 de janeiro o amigo Luiz Avellar o visita. No sábado ele partiria para um trabalho em Boston. Aquele momento se transformou em uma despedida do parceiro de longas datas e de trabalhos que hoje fazem parte da história da música brasileira.

"Era um sábado de manhã, e eu não havia ligado para saber notícias durante aquela semana, estava em Belo Horizonte. Liguei para a sua casa e o telefone tocou até cair a ligação. Achei estranho e liguei para o celular da Rossana. Dona Conceição atende e eu pergunto pelo Nico. A resposta, curta, foi de uma dimensão tal que me deixou completamente sem reação: ele faleceu durante a madrugada."

Era o dia 20/01/2001. Nico faleceu e suas cinzas, no dia seguinte, foram depositadas na lagoa Rodrigo de Freitas. Nesse local, há uma placa em sua homenagem, colocada sob uma árvore, com o nome "Recanto Nico Assumpção".

Em agosto de 2002, com a presença de sua mãe, Dona Conceição e de sua filha Mariana, por iniciativa da Rossana, com a participação de Cláudio Infante (bateria), de Afonso Cláudio (sax), de Nelson Faria (guitarra) e de André Neiva (baixo), foi realizado um show em tributo a Nico Assumpção na loja Show Point, no centro do Rio de Janeiro.

Foi a comemoração do relançamento em CD do seu primeiro LP da carreira solo, tocando apenas músicas de sua autoria, como "Cor de Rosa", "Maxixe", "Paca Tatu, Cotia Não" e "The Quartet". Além disso, o show inaugurava o Espaço Nico Assumpção, um auditório localizado dentro da loja Show Point, feito em sua homenagem.

No final do evento, Dona Conceição confidenciou: "Esse baixista me fez lembrar o Nico algumas vezes."

Alguns anos depois, muitas homenagens foram feitas. Mas como resumir Nico Assumpção? Talvez a resposta esteja no diálogo de João Bosco com um trombonista sueco, encantado com o solo da música "Holofotes", do CD "Zona de Fronteira" de 1991.

"Quem fez esse solo?" - perguntou o sueco surpreso. João Bosco imediatamente respondeu: "Foi o Nico, um baixista brasileiro!"

Toninho do PT

ANTÔNIO DA COSTA SANTOS
(49 anos)
Arquiteto, Professor e Político

☼ São Paulo, SP (14/06/1952)
┼ Campinas, SP (10/09/2001)

Antônio da Costa Santos, mais conhecido como Toninho do PT, foi um arquiteto, professor universitário e político brasileiro. Filiado ao Partido dos Trabalhadores (PT), exercia o cargo de prefeito de Campinas, SP, quando foi assassinado a tiros, às 22:15 hs do dia 10/09/2001.

Toninho estava há apenas oito meses no cargo de prefeito de Campinas. Sua atuação contra o crime organizado e as reduções em até 40% nos valores pagos em contratos a empresas de serviços como merenda escolar e limpeza urbana, somadas à insistência do prefeito em desalojar casas para a ampliação do aeroporto de Viracopos lhe renderam várias ameaças, o que reforçou a hipótese de crime político.

Um inquérito policial concluiu que o prefeito, durante uma viagem que fazia de automóvel, foi morto sem nenhum motivo além do fato de cruzar por acaso com um bando de criminosos que na ocasião passava pelo local. O carro do prefeito teria inadvertidamente fechado o veículo dos bandidos e por causa disso eles atiraram na direção do prefeito. A última das três balas atingiu Toninho na artéria aorta, matando-o instantaneamente. Minutos antes, ele passara em uma loja do Shopping Iguatemi para retirar ternos que havia comprado.

A família de Toninho não se conformou com o resultado do inquérito policial e pediu novas investigações. Os familiares do prefeito morto acreditam que o crime teve motivação política, bem como colegas de partido como José Genoíno, que declarou na ocasião que o assassinato de Toninho fora motivado por suas enérgicas ações contra o narcotráfico campineiro.

Curiosamente, Toninho teve um mau pressentimento pouco antes de sua morte. Num discurso no Palácio dos Jequitibás, a sede da Prefeitura de Campinas, ele reafirmou que, caso algo lhe acontecesse, a primeira pessoa a assumir o cargo seria sua vice-prefeita, Izalene Tiene. Outro detalhe é que a cobertura de sua morte foi quase completamente ofuscada pelos ataques de 11/09/2001 aos Estados Unidos, ocorridos na manhã seguinte ao dia da sua morte.

Em 2011, nas celebrações que marcaram 10 anos de seu assassinato, a antiga Estação Ferroviária de Campinas recebeu o nome de Estação Cultura Prefeito Antônio da Costa Santos.

Casa Grande e Tulha

Em 1978, Antônio da Costa Santos adquiriu o lote que continha o conjunto arquitetônico e histórico conhecido como Casa Grande e Tulha, vindo a restaurá-lo e a residir nela, utilizando-a como fonte de pesquisa para estudar a evolução urbana da cidade. A propriedade veio a ser tombada em nível nacional pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) em 2011.

Fonte: Wikipédia

Luiz Carlos Vinhas

LUIZ CARLOS PARGA RODRIGUES VINHAS
(61 anos)
Compositor e Pianista

☼ Rio de Janeiro, RJ (19/05/1940)
┼ Rio de Janeiro, RJ (22/08/2001)

Luiz Carlos Vinhas começou a tocar piano aos quatro anos de idade. Estudou piano clássico até os oito. Em 1957, participava como pianista de reuniões que marcaram o surgimento da bossa nova.

Iniciou sua carreira artística em 1958, apresentando-se em pocket shows de bossa nova, realizados no Beco das Garrafas, no Rio de Janeiro. Participou, nessa época, da gravação de "O Barquinho", de Roberto Menescal e Ronaldo Bôscoli

Formou, juntamente com Tião Neto (baixo) e Edison Machado (bateria), um dos primeiros conjuntos instrumentais da bossa nova, o Bossa Três. Com o grupo, viajou para os Estados Unidos em 1962, apresentando-se no programa de Ed Sullivan e gravando três LPs, lançados pela Audio Fidelity em New York. Voltou ao Brasil dois anos depois.

Em 1966, com a nova formação do Bossa Três, constituída por Otávio Baily (baixo) e Ronie Mesquita (bateria), e a participação dos cantores Pery Ribeiro e Leny Andrade, montou o Gemini V. Atuou, com o grupo, em gravações e shows no Brasil e no exterior, destacando-se a bem sucedida temporada de três anos no México.

Em 1968, gravou seu primeiro LP solo, "O Som Psicodélico de Luiz Carlos Vinhas", lançado pela gravadora CBS.

Atuou como pianista em discos de Elis Regina, Maria Bethânia, Wilson Simonal, Jorge BenjorQuarteto em Cy, entre outros.


Gravou, ainda, "Luiz Carlos Vinhas no Flag", "Luiz Carlos Vinhas", "Baila Com Vinhas", "O Piano Mágico de Luiz Carlos Vinhas", "Piano Maravilhoso" e "Vinhas e Bossa Nova".

Entre 1969 e 1971, atuou como pianista do Flag, no Rio de Janeiro, onde teve a oportunidade de acompanhar artistas internacionais, como Sarah Vaughan, Ella FitzgeraldGeorge Benson, entre outros.

A partir de 1971, apresentou-se em outras casas noturnas cariocas e paulistas, como Macksoud Plaza, Vogue, Privê, Chico's Bar, entre outras. Realizou, no Rio Palace, shows de abertura em espetáculos de artistas internacionais como Frank Sinatra, Julio Iglesias e Barry White.

Em 1994, apresentou-se em temporada de seis meses no Vinicius Bar, no Rio de Janeiro, tocando e contando as histórias da bossa nova, no show "Noites Cariocas". O espetáculo, recomendado pelo jornal New York Times aos turistas norte-americanos como um dos melhores programas do verão carioca daquele ano, gerou o CD "Vinhas e Bossa Nova".

No ano seguinte, foi convidado para uma temporada de apresentações na Itália, onde morou durante um ano.

Em 1996, participou da coletânea "Tempo de Bossa Nova", lançada pela revista Caras.

No ano seguinte, em homenagem à sua escola de samba, lançou o CD "Piano na Mangueira", interpretando obras dos compositores da Mangueira.

Em 2000, apresentou-se com a cantora Wanda Sá no Vinicius Bar, no Rio de Janeiro. Ao lado de Tião Neto (baixo) e João Cortez (bateria), gravou, com Wanda Sá o CD "Wanda Sá & Bossa Três", registrando canções como "Errinho à Toa" (Roberto Menescal e Ronaldo Bôscoli), "Brisa do Mar" (João Donato e Abel Silva), "Canção Que Morre no Ar" (Carlos LyraRonaldo Bôscoli), "Zanga Zangada" (Edu Lobo e Ronaldo Bastos), entre outras, além de "In The Moonlight" (John Williams e A&M Bergman). O disco teve show de lançamento no Bar do Tom, no Rio de Janeiro.

Morte

Luiz Carlos Vinhas morreu às 10:00 hs de quarta-feira, 22/08/2001, aos 61 anos, no Hospital Samaritano, no Rio de Janeiro. Ele estava internado desde o sábado, 18/08/2001, na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do hospital.

Luiz Carlos Vinhas foi internado depois de ter sofrido uma parada cardiorrespiratória em consequência de uma cirurgia reparadora feita no abdome, na região dos olhos e do pescoço, realizada no sábado, na Clínica Interplástica, também em Botafogo, Rio de Janeiro.

Os médicos disseram acreditar que o fígado não metabolizou os anestésicos aplicados para realizar as operações, que voltaram ao organismo. Na segunda-feira, dia 20/08/201, os exames comprovaram a morte cerebral do músico.

Luiz Carlos Vinhas tinha um filho e foi casado duas vezes.


Discografia

  • 2000 - Wanda Sá & Bossa Três (Abril Music, CD)
  • 1998 - Bossa Nova: O Amor, o Sorriso e a Flor (Castle Brasil, CD)
  • 1997 - Piano na Mangueira (CID, CD)
  • 1997 - Nouvelle Vibe (Japão, CD)
  • 1996 - Tempo de Bossa Nova (Edição da Revista Caras, CD)
  • 1995 - Bossa Nova: História, Som e Imagem (Ventura Music, CD)
  • 1994 - Vinhas e Bossa Nova (CID, CD)
  • 1994 - Forma: A Grande Música Brasileira (CD)
  • 1989 - Piano Maravilhoso (Som Livre, LP)
  • 1986 - O Piano Mágico de Luiz Carlos Vinhas (Som Livre, LP)
  • 1982 - Baila Com Vinhas (Polygram, LP)
  • 1979 - Wilson Simonal (RCA, LP)
  • 1977 - Luiz Carlos Vinhas (Odeon, LP)
  • 1970 - Luiz Carlos Vinhas no Flag (Odeon, LP)
  • 1970 - Chovendo na Roseira (Tapecar)
  • 1969 - Maria Bethânia (Odeon, LP)
  • 1968 - O Som Psicodélico de Luiz Carlos Vinhas (CBS, LP)
  • 1968 - Elis Regina (Philips, LP)
  • 1967 - Gemini 5 no México (Odeon, LP)
  • 1966 - Bossa Três (Odeon, LP)
  • 1966 - Gemini 5 (Odeon)
  • 1965 - Bossa Três em Forma (Forma, LP)
  • 1964 - Wilson Simonal (Odeon, LP)
  • 1964 - Jorge Ben (Philips, LP)
  • 1964 - Quarteto em Cy (Forma, LP)
  • 1964 - Meirelles e o Copa 5 (Philips, LP)
  • 1964 - Novas Estruturas (Forma, LP)
  • 1962 - Bossa Três e Lennie Dale (Elenco, LP)
  • 1962 - Bossa Três (Audio Fidelity, LP)
  • 1962 - Bossa Três & Jo Basile (Audio Fidelity, LP)
  • 1962 - Bossa Três e Seus Amigos (Audio Fidelity, LP)
  • 1958 - O Barquinho

Indicação: Miguel Sampaio

Silvinho da Portela

SÍLVIO PEREIRA DA SILVA
(66 anos)
Cantor e Compositor

* Rio de Janeiro, RJ (1935)
+ Rio de Janeiro, RJ (08/02/2001)

Sílvio Pereira da Silva foi um cantor e compositor brasileiro. Desde os 16 anos, desfilava pelo Grêmio Recreativo Escola de Samba Portela, que viria a lhe emprestar o nome, tornando-o mais conhecido como Silvinho da Portela. No mundo do samba também era conhecido como Silvinho do Pandeiro. Fez parte do bloco carnavalesco Boêmios de Irajá, no qual atuava como ritmista e compositor.

Apesar de as escolas de samba sempre terem contado com pessoas responsáveis por puxar o canto, foi só muito mais tarde que surgiu a figura do intérprete oficial. Silvinho foi o primeiro a ocupar tal posto na Portela, entre 1969 e 1986. Em seguida foi cantor oficial da Viradouro, quando ainda desfilava em Niterói, e também do Império Serrano, além de ser Cidadão Samba em 1970.

Ao lado dos ritmistas Elizeu e Jorginho Pessanha, fez parte da delegação brasileira que se apresentou no "I Festival de Arte Negra", em Dakar, no Senegal, em 1966. Na ocasião, integrou o grupo de músicos que acompanhava Clementina de Jesus, Elton Medeiros, Ataulfo Alves, Heitor dos Prazeres, Paulinho da Viola, entre outros.

Silvinho da Portela estreou como puxador oficial da Portela em 1969, com "Treze Naus" (Ary do Cavaco). Vivenciou uma época áurea de sambas antológicos não só na história da Portela como na da própria MPB. Entre os sambas, cantou "Lendas e Mistérios da Amazônia" (Catoni, Jabolô e Waltenir), "Lapa Em Três Tempos" (Ary do Cavaco e Rubens), "Ilu-Ayê" (Cabana Norival Reis), "O Mundo Melhor de Pixinguinha" (Evaldo GouvêaJair Amorim e Velha), "Macunaíma" (David Corrêa e Norival Reis), "A Ressurreição das Coroas" e "Contos de Areia" (Dedé da PortelaNorival Reis).

Entre os sambas-enredos que interpretou, marcando época não só na Portela, mas na MPB como um todo, destacam-se "Lapa Em Três Tempos" (Ary do Cavaco e Rubens Alves de Sousa), com o qual a escola se classificou em 2º lugar do Grupo 1, em 1971. No ano seguinte, a Portela classificou-se em 3º lugar do Grupo 1 com o samba-enredo "Ilu Ayê" (Norival Reis e Cabana).

Em 1973, ao lado de Martinho da Vila, Darcy da Mangueira, Noel Rosa de Oliveira e Walter Rosa, participou do disco "A Voz do Samba", no qual interpretou de sua autoria "Amor de Raiz" (Silvinho e Jorge Barbosa) e "Escrevi" (Silvinho e Jorge José), além de "Caso de Amor" (Luiz Carlos e Miro).

Silvinho da Portela participou de um momento único, em 1975, ao interpretar "Macunaíma, Herói da Nossa Gente", de Norival Reis e Davi Corrêa, ao lado deste, Candeia e Clara Nunes, dois portelenses históricos. Com sua interpretação deu à escola o 5º lugar do Grupo 1.

No ano de 1978, lançou o seu único disco solo, "Silvinho e Suas Cabrochas".

No ano de 1999, participou de um show coletivo na casa noturna Rio Sampa, em Nova Iguaçu.

Na década de 80, Silvinho do Pandeiro também integrou a ala de compositores da Unidos da Viradouro. Venceu vários carnavais puxando o samba no tempo em que a escola vermelha e branco desfilava em Niterói. Na Portela, conquistou três vezes o Estandarte de Ouro, prêmio concedido pelo jornal O Globo, de Melhor Intérprete.

Em 1982, Neguinho da Beija-Flor, no disco "É Melhor Sorrir", pela gravadora Top Tape, interpretou "Um Grande Amor Se Acaba" (Silvinho da Portela, Xavier e Onofre do Catete).

Em 1983 conquistou o Estandarte de Ouro com o samba-enredo "A Ressurreição da Coroa, Reisado, Reino e Reinado" e que conseguiu o 3º lugar do Grupo 1 para a escola de samba.

Pouco antes de falecer, Silvinho da Portela participou do concurso de samba-enredo da Viradouro para o carnaval de 2001.

Silvinho da Portela faleceu vítima de um câncer na próstata, aos 66 anos, às vésperas do carnaval, em 08/02/2001, e foi sepultado no Cemitério de Inhaúma, no subúrbio do Rio de Janeiro. Ele deixou cinco filhos, 16 netos e quatro bisnetos.

Discografia

  • 1978 - Silvinho e Suas Cabrochas (LP)
  • 1973 - A Voz do Samba (LP)

Indicação: Miguel Sampaio

Antenógenes Silva

ANTENÓGENES HONÓRIO DA SILVA
(94 anos)
Acordeonista e Compositor

* Uberaba, MG (30/10/1906)
+ Minas Gerais (09/03/2001)

Filho de Olímpio Jacinto da Silva, serralheiro, ferrador de cavalos e grande sanfoneiro. Sua mãe, Maria Brasilina de São José, descendia do já empobrecido Barão da Ponte Alta.

Frequentou a escola por apenas dois anos, passando a trabalhar desde muito jovem. Já nessa época, dedilhava o acordeom e compunha. Sua valsa "Saudoso Passado", feita aos 14 anos de idade, foi plagiada e apresentada com a assinatura de outro compositor, com nome de "Saudades de Matão", que se tornaria grande sucesso. Uma história polêmica, que se concluiu com a comprovação de autoria do acordeonista.

Servente de pedreiro, transferiu-se aos 21 anos para Ribeirão Preto, buscando, ali, iniciar sua carreira artística. Em 1931, casou-se com Marcília Marinari, violinista e locutora com o nome artístico de Léa Silva, excelente profissional, que depois de atuar na Rádio Nacional do Rio de Janerio, foi para os Estados Unidos trabalhar na C.B.S, e na N.B.C.

Concluiu seu curso primário em São Paulo. Em 1949, fez o ginasial em Niterói, tendo se formado posteriormente em químico industrial. Manteve sempre uma atividade paralela à vida artística, como comerciante de queijos. Diplomado em Química, fundou o Laboratório Creme Marcília, no Rio de Janeiro, do qual foi diretor-presidente.

Em 1928, apresentou-se no Cassino de Lindóia, transferindo-se para São Paulo, onde trabalhou no Bar Excelsior. Atuou na Rádio Educadora Paulista. Em 1929 gravou na RCA Victor seus primeiros discos, interpretando de sua autoria, o choro "Gostei da Tua Caída", o maxixe "Saudade de Uberaba" e as valsas "Norma" e "Feliz de Quem Ama", todas de sua autoria. Gravou também na Orion e na Arte Fone.


Em 1933, transferiu-se para o Rio de Janeiro, tornando-se, desde então, nacionalmente conhecido. Acompanhou os melhores intérpretes nacionais e internacionais, dentre os quais Lucienne Boyer e Marta Eggerth. Gravou na Argentina com Carlos Gardel e Libertad Lamarque. Na Itália gravou com Gigli.

Em 1934, atuou em Buenos Aires e no mesmo ano gravou de Zequinha de Abreu as valsas "Súplica de Amor" e "Elza". Em 1935 gravou com as Irmãs Pasgãs as marchas "Não Foi Assim", de sua autoria e Osvaldo Santiago, e "O Carnaval é Rei", de sua autoria e Ernâni Campos. Em 1936 gravou com sucesso, com voz de Augusto Calheiros a valsa "Pisando Corações", de sua autoria e Ernâni Campos.

Mestre do acordeom, jamais deixou de se aperfeiçoar, tendo sido um dos poucos a acompanhar música do repertório lírico, o que fez em apresentação no Teatro Municipal do Rio de Janeiro.

Conheceu música, dominando harmonia e orquestração, tendo sido aluno do maestro Guerra Peixe. Foi professor de Luiz Gonzaga, tendo lhe ensinado um repertório de tangos, quando este ainda músico no Mangue, necessitava atender aos pedidos dos frequentadores e das mulheres.

Em 1937 gravou com a dupla Alvarenga & Ranchinho a mazurca "Candinha Doida", com arranjos de Loreto Conti e a tarantela "Pepinela", de sua autoria e Alvarenga. Em 1938 gravou com Nestor Amaral e a Orquestra Odeon a rumba "Amor Só De Perto", de sua autoria e a valsa "Se Amas És Feliz", de sua autoria e Osvaldo Santiago. No mesmo ano, a dupla Raul Torres & Mariano gravou a valsa "Saudades de Matão", abrindo uma longa polêmica sobra a verdadeira autoria da obra, registrada como sendo dele e Jorge Galati, com letra de Raul Torres. No ano seguinte, gravou com Augusto Calheiros a valsa "Ave Maria", de Erotides de Campos.

Em 1941 gravou na Odeon as valsas "Cada Vez Te Quero Mais", de sua autoria e "Pic-nic Trágico", de Germano Benecase e Gomez Almeida, com Gilberto Alves na voz. No mesmo ano gravou com a dupla mineira De Morais & Nair Rodrigues a mazurca "Adeus Porteira Velha" e a marcha "Dança Mineira". Por essa época, acompanhou diversos artistas na Odeon tocando acordeom com seu conjunto, entre os quais, Gilberto Alves, De Morais, Manezinho Araújo e a dupla Joel & Gaúcho


Em 1942 compôs com De Morais o samba "Uma Mulher Para Mim", gravada pelos dois no mesmo ano na Odeon. Compôs também com Miguel Lima, parceiro de Luiz Gonzaga, a valsa "Chamas do Amor".

Em 1943 gravou na Odeon com canto de Morais Neto a canção "Luar do Sertão", de Catulo da Paixão Cearense. Em 1944 gravou com De Morais, e Olguinha no canto, as valsas "Nunca Mais Te Verei" (De Morais e João Bastos Filho), e "Triste Caminho" (De Morais e Geraldo Costa). No mesmo ano compôs com o lendário compositor sertanejo João Pacífico o xote "Formosa Morena", gravado no mesmo ano com o canto de "As Três Garotas". No mesmo período gravou de sua autoria e Miguel Lima o choro "Pica Pau", com voz de Ademilde Fonseca.

Em 1945 gravou com Gilberto Alves na voz, as marchas "Palhaço", parceria com Miguel Lima e H. Souza, e "Cantor de Rádio", parceria com Miguel Lima. Em 1947 gravou com Alcides Gerardi no canto, as valsas "Isa", de sua autoria e Miguel Lima, e "Deusa da Beleza" (De Morais e Arquimedes Rodrigues).

Em 1949 gravou com Seus Portenhos os tangos "Amar" e "Amargura", de sua autoria. No mesmo ano acompanhou o cantor Jamelão na gravação do samba "Pensando Nela", de sua autoria e Irani de Oliveira.

Em 1952 gravou a valsa "Branca", de Zequinha de Abreu, clássico do cancioneiro popular. Em 1954 gravou a valsa "Quarto Centenário de São Paulo", de sua autoria em homenagem ao aniversário da cidade. Em 1956, sua valsa "Saudade de Ouro Preto" foi regravada pela Copacabana em interpretação de cítara por Avena de Castro. Em 1957, ganhou o primeiro lugar no concurso patrocinado pela fábrica de gaitas Honner, realizado em Trossingen, Alemanha, tendo sido considerado um dos maiores acordeonistas do mundo. Nessa ocasião, recebeu convite para apresentações no Conservatório de Paris. No mesmo ano gravou com seu conjunto, de sua autoria a quadrilha "Caminho Da Roça" e a marcha "Vamos Pro Sertão".


Em 1959, fundou a Rádio Federal de Niterói, que ajudou, literalmente, a construir com as próprias mãos. Conhecido como "O Mago do Acordem", tem uma extensa discografia. Durante muitos anos, manteve no Rio de Janeiro uma escola de acordeom, com cursos de teoria, solfejo e harmonia. Compôs valsas, tangos, xotes, mazurcas, sambas, rancheiras e outros ritmos. Gravou mais de 130 composições de sua autoria sozinho ou com diversos parceiros.

Entre seus maiores parceiros está Miguel Lima, com quem compôs entre outras, a valsa "Isa", as marchas "Cantor De Rádio" e "Alegria", e o samba "Mulher Bonita". Em 1961 gravou na Odeon as marchas "Pisando Na Brasa" e "Marcha Dos Candangos". No mesmo ano lançou pela Orion a mazurca "Adeus Porteira Velha" e a valsa "Porque Choras", ambas de sua autoria. Em 1963 gravou "Quando Chora O Bombardino" e "Baile Da Saudade", ambas de sua autoria.

Antenógenes Silva impulsionou a carreira no rádio de inúmeros artistas entre os quais Jamelão, Dilu Melo, Gilberto Alves e as Irmãs Pagãs. Foi o grande incentivador do chamado choro mineiro, mais chegado para a valsa. Entre seus sucessos estão "Pisando Corações", "Santa Terezinha", "Suely", "Uma Grande Dor Não Se Esquece" e "Saudades De Matão", esta última em parceria com Raul Torres e Jorge Gallati.

Indicação: Miguel Sampaio