Antônio Conselheiro

ANTÔNIO VICENTE MENDES MACIEL
(67 anos)
Líder Social e Líder Religioso

* Quixeramobim, CE (13/03/1830)
+ Canudos, BA (22/09/1897)

Mais conhecido na História do Brasil como Antônio Conselheiro. Figura carismática, adquiriu uma dimensão messiânica ao liderar o arraial de Canudos, um pequeno vilarejo no sertão da Bahia, que atraiu milhares de sertanejos, entre camponeses, índios e escravos recém-libertos, e que foi destruído pelo Exército da República na chamada Guerra de Canudos em 1896.

A imprensa dos primeiros anos da República e muitos historiadores, para justificar o genocídio, retrataram-no como um louco, fanático religioso e contra-revolucionário monarquista perigoso.

Filho do comerciante Vicente Mendes Maciel e de Maria Joaquina de Jesus, Antônio Vicente Mendes Maciel ficou órfão da mãe aos seis anos. Estudou aritmética, português, geografia, francês e latim. Entre suas leituras preferidas estavam As Aventuras do Imperador Carlos Magno e Os Doze Pares de França, adaptações de lendas populares da idade média arraigadas no folclore nordestino.

Aos 27 anos, perdeu o pai e começou a cuidar da loja da família, com a qual sustentava as quatro irmãs. Ficou dois anos à frente do negócio e, depois, passou a dar aulas numa escola de fazenda. Graças aos seus estudos e esforço pessoal, tornou-se escrivão de cartório, solicitador (encarregado de encaminhar petições ao poder Judiciário) e rábula (advogado sem diploma).

Em 1857, Antônio Maciel casa-se com Brasilina Laurentina de Lima, jovem filha de um tio seu. No ano seguinte, o jovem casal muda-se para Sobral, onde Antônio Maciel passa a viver como professor do primário, dando aulas para os filhos dos comerciantes e fazendeiros da região, e mais tarde como advogado prático, defendendo os pobres e desvalidos em troca de pequena remuneração. Passa a mudar-se constantemente, em busca de melhores mercados para seus ofícios. Primeiro vai para Campo Grande (atual Guaraciaba do Norte), depois Santa Quitéria e finalmente Ipu, então um pequeno povoado localizado bem na divisa entre os sertões pecuaristas e a fértil Serra da Ibiapaba.

Em 1861 flagra a sua mulher em traição conjugal com um sargento de polícia em sua residência na Vila do Ipu Grande. Envergonhado, humilhado e abatido, abandona o Ipu e vai procurar abrigo nos sertões do Cariri, já naquela época um pólo de atração para penitentes e flagelados, iniciando aí uma vida de peregrinações pelos sertões do nordeste. Para sobreviver, trabalhou como pedreiro e construtor, ofício aprendido com o pai. Restaurava e construía capelas, igrejas e cemitérios.

Esse trabalho e as pregações do Padre Ibiapina - que peregrinava pelo sertão fazendo obra de caridade - influenciaram Antônio Maciel. Ele passou a ler os Evangelhos e a divulgá-los entre o povo humilde, ouvindo também os problemas das pessoas e procurando consolá-las com mensagens religiosas. Devido aos conselhos, tornou-se conhecido como Antônio Conselheiro e arrebanhou um número crescente de seguidores fiéis que o acompanhavam pelas suas andanças.

À medida que a simpatia dos pobres por ele aumentava, surgiam também os inimigos, que se sentiam prejudicados. Por um lado, os padres, que viam seu prestígio diminuir diante das pregações de um leigo. Por outro, os latifundiários, que viam muitos empregados de suas fazendas abandonarem tudo para seguir o beato.

Em 1874, Antonio Conselheiro e seus seguidores se fixaram perto da vila de Itapicuru de Cima, no sertão da Bahia, onde fundaram o arraial do Bom Jesus.

No Sergipe, o jornal O Rabudo traz a primeira menção pública de Antônio Conselheiro como penitente conhecido nos sertões:

"Há seis meses que por todo o centro desta Província e da Província da Bahia, chegado do Ceará, infesta um aventureiro santarrão que se apelida por Antonio dos Mares. O que, a vista dos aparentes e mentirosos milagres que dizem ter ele feito, tem dado lugar a que o povo o trate por S. Antônio dos Mares. Esse misterioso personagem, trajando uma enorme camisa azul que lhe serve de hábito a forma do de sacerdote, pessimamente suja, cabelos mui espessos e sebosos entre os quais se vê claramente uma espantosa multidão de bichos (piolhos). Distingue-se pelo ar misterioso, olhos baços, tez desbotada e de pés nus, o que tudo concorre para o tornar a figura mais degradante do mundo".
(O Rabudo, 22 de Novembro de 1874)

Em 1876, já famoso como homem santo e peregrino, Antônio Conselheiro é preso nos sertões da Bahia, pois corre o boato de que ele teria matado mãe e esposa. É levado para o Ceará, onde se conclui que não há nenhum indício contra a sua pessoa: sua mãe havia morrido quando ele tinha seis anos. Antônio Conselheiro é posto em liberdade e retorna à Bahia. Entretanto, seu fervor religioso aumentou durante a temporada na prisão. Da mesma maneira, aumentou seu prestígio entre os pobres, que passaram a vê-lo como um mártir.

Em 1877, o Nordeste do Brasil passa por uma das mais calamitosas secas de sua história. Levas de flagelados perambulam famintos pelas estradas em busca de socorro governamental ou de ajuda divina. Bandos armados de criminosos e flagelados promovem justiça social com as próprias mãos assaltando fazendas e pequenos lugarejos, pois pela ética dos desesperados roubar para matar a fome não é crime. Cresce a notoriedade da figura de Antônio Conselheiro entre os sertanejos pobres. Para eles, Antônio Conselheiro, ou o Bom Jesus, como também passa a ser chamado, seria uma figura santa, um profeta enviado por Deus para socorrê-los.

Em 1888 acontece o fim da escravidão e muitos ex-escravos, libertos e expulsos das fazendas onde trabalhavam sem ter então nenhum meio de subsistência, partem em busca de Conselheiro.

Arraial de Canudos

Em 1893, cansado de tanto peregrinar pelos sertões e então sendo um fora da lei, Antônio Conselheiro decide se fixar à margem norte do Rio Vaza-Barris, num pequeno arraial chamado Canudos. Nasce ali uma experiência extraordinária: em Bello Monte (como a rebatizou Antônio Conselheiro, apesar de encontrar-se num vale cercado de colinas), os desabrigados do sertão e as vítimas da seca eram recebidos de braços abertos pelo peregrino. Era uma comunidade onde todos tinham acesso à terra e ao trabalho sem sofrer as agruras dos capatazes das fazendas tradicionais. Um lugar santo, segundo os seus adeptos. Os grandes fazendeiros e o clero sentem que seu poder está sendo ameaçado, e começam a se articular em busca de uma solução ao problema.

Canudos prosperou e se tornou incômoda para as autoridades políticas e religiosas locais, que procuravam um pretexto para acabar com ela.

A Guerra de Canudos

Em 1896 um problema comercial acerca de uma compra de madeira na cidade de Juazeiro deu motivo para que uma tropa de soldados da polícia baiana investisse contra os seguidores de Antônio Conselheiro dando início a Guerra de Canudos. Em 24 de novembro deste ano, é enviada a primeira expedição militar contra Canudos, sob comando do tenente Pires Ferreira. Mas a tropa é surpreendida pelos fanáticos de Antônio Conselheiro, durante a madrugada, em Uauá. Após uma luta corpo-a-corpo são contados mais de cento e cinquenta cadáveres de conselheiristas. Do lado do exército morreram oito militares e dois guias. Estas perdas, embora consideradas insignificantes quanto ao número nas palavras do comandante, ocasionaram o retiro das tropas.

Em 29 de dezembro de 1896 tem início uma segunda expedição militar contra Canudos. Assim como a primeira, esta expedição foi violentamente debelada pelos conselheiristas.

Em 1897 tem início a terceira expedição contra Canudos, comandada pelo capitão Antônio Moreira César, conhecido como O Corta-Cabeças, por suas façanhas heróicas na Revolução Federalista, no Rio Grande do Sul. Mas, acostumado aos combates tradicionais, Moreira César não estava preparado para eliminar Canudos, e foi abatido por tiros certeiros de homens leais a Antônio Conselheiro. A tropa foge em debandada, deixando para trás armamentos e munição. Para os conselheiristas, trata-se de uma prova cabal da santidade do beato de Belo Monte.

Em 5 de abril de 1897 tem início a quarta e última expedição contra Canudo. Desta vez o cerco foi implacável e até muitos dos que se rendiam foram mortos. Eliminar Canudos e seus fanáticos habitantes tornou-se uma questão de honra para o exército. O confronto estendeu-se até 5 de outubro de 1897, quando o exército tomou definitivamente o arraial.

Morte

Em 22 de setembro de 1897 morre Antônio Conselheiro. Não se sabe ao certo qual foi a causa de sua morte. As razões mais citadas são ferimentos causados por uma granada, e uma forte Caminheira (Disenteria).

No dia 5 de outubro de 1897 são mortos os últimos defensores de Canudos, e o exército inicia a contagem das casas do arraial.

A única foto conhecida de Antônio Conselheiro, místico rebelde e líder espiritual do arraial de Canudos 1893-1897, Bahia. Foto tirada duas semanas após sua morte, pelo fotógrafo Flávio de Barros, a serviço do Exército.

Em 6 de outubro de 1897, o cadáver de Antônio Conselheiro é encontrado enterrado no Santuário de Canudos. Sua cabeça é cortada e levada até a Faculdade de Medicina de Salvador para ser examinada pelo Drº Nina Rodrigues, pois para a ciência da época, "a loucura, a demência e o fanatismo" deveriam estar estampados nos traços de seu rosto e crânio. O arraial de Canudos é completamente destruído.

No dia 3 de março de 1905, um incêndio na antiga Faculdade de Medicina do Terreiro de Jesus, em Salvador (BA), destrói a cabeça de Antônio Conselheiro, que lá se encontrava desde o final da Guerra de Canudos, em outubro de 1897.

Antônio Conselheiro, Louco?

Recostituição da cabeça de Antônio Conselheiro
O diagnóstico de louco o mais específicamente de portador de uma Psicose Sistemática Progressiva (termo equivalente ao delírio crônico proposto por Valentin Magnan) e a paranóia dos italianos, (referindo-se à Eugênio Tanzi e Gaetano Riva) por uma célebre autoridade sanitária da época, o Drº Nina Rodrigues, no qual se fundamentram os escritos da época (inclusive de Euclides da Cunha), ainda hoje se constitui como um entrave para o reconhecimento de seu mérito como líder comunitário empreendedor, responsável pela organização de mais de 24 mil pessoas em um ambiente extremamente adverso e até mesmo como um homem religioso com verdadeiros ideais cristãos como se propunha a ser.

A pecha de loucura e fanatismo com os conceitos da época, de psicologia das multidões inspiradas na obra de Gustave Le Bon também são reponsáveis por toda uma lógica de interpretação das revoltas sociais como ocasionadas por influência de uma personalidade psicopática, a insanidade moral proposta por Henry Maudsley, num ambiente de ignorância, pobreza ou degenerescência tal como se designava na época, incluindo entre esses fatores psicossociais características biológico raciais.

Memorial Antônio Conselheiro

Há dois centros culturais relacionados à Antônio Conselheiro e a Guerra de Canudos. Um localizado em Quixeramobim no interior do Ceará, conta a história de seu conterrâneo, está situado no centro da cidade, próximo ao Banco do Brasil. O outro situado em Canudos, Bahia, criado pelo Decreto 33.333, de 30 de junho de 1986, (publicado no Diário Oficial de 1º de julho) mantido e administrado em parceria com a Universidade do Estado da Bahia (UNEB).

Fonte: Wikipédia e UOL Educação

Lindolfo Collor

LINDOLFO LEOPOLDO BOECKEL COLLOR
(52 anos)
Jornalista e Político

* São Leopoldo, RS (04/02/1890)
+ Rio de Janeiro, RJ (21/09/1942)

Foi um jornalista e político brasileiro. O neto, Fernando Collor de Mello, foi presidente do Brasil de 1990 a 1992.

Filho de João Boeckel e Leopoldina Schreiner, luteranos, descendentes dos primeiros imigrantes alemães que aportaram ao Brasil no começo do século passado.

Infância e Juventude

Tinha poucos anos quando perdeu o pai. Sua mãe mudou-se então com os três filhos Alcides, Elvira e Lindolfo, para São Gabriel da Estrela, onde tornou a casar-se, pouco depois, com um alemão nato, que havia sido dono da linha de navegação do Rio Caí, João Antônio Collor. Dessa união não nasceram filhos, mas o padrasto criou grande afeição pelo menino, a quem se empenhou em dar a melhor educação que pode. Como penhor de gratidão e de afeto, desde jovem Lindolfo acrescentou o sobrenome do padrasto ao do pai.

Frequentou a escola pública primária da Barra do Ribeiro, alguns anos mais tarde, já casada sua irmã Elvira e residindo em Porto Alegre, teve ele possibilidades de transferir-se para a capital, onde tirou os preparatórios provavelmente como aluno do professor Emílio Meyer.

Em 1906, aos 15 anos, é confirmado pelo bispo da Igreja Episcopal do Brasil em Porto Alegre. Em março desse ano havia ingressado no seminário dessa mesma igreja na cidade do Rio Grande, onde permaneceu até o ano seguinte, 1907. Nessa época publica seus primeiros livros de versos e paralelamente colabora com artigos e poesias de inspiração apostólica no semanário O Estandarte Cristão. Torna-se membro militante da Legião da Cruz, o que o faz iniciar a pregação do evangelho na cadeia pública da cidade do Rio Grande e acompanhar o reverendo Américo Vespúcio Cabral, pároco da Igreja da Trindade em Porto Alegre, em viagens missionárias.

Em 1907 trabalha numa escola dominical da Igreja da Trindade, na Cidade Baixa, em Porto Alegre, e ensina português na Associação Cristã de Moços. Dirige uma classe de ensinos bíblicos na Igreja da Trindade e se torna membro da direção de um boletim mensal da mesma Igreja.

Deixando o Seminário Episcopal, Lindolfo Collor forma-se em Farmácia, profissão muito procurada àquela época por rapazes de poucos recursos. Sendo essa, entretanto, uma atividade muito diversa da sua vocação. nunca a exerceu, mas transferiu-se, pouco depois, para Bagé, onde trabalhou durante um ano no jornal O Dever, de Adolfo Dupont.

Em 1907 e 1909 publicou seus primeiros livros, todos de versos: Bosque Heleno, Orquestração de Luz, Caminho de Flores e Poema dos Matizes, dedicado este último ao poeta gaúcho Zeferino Brasil, com as seguintes palavras: "A Zeferino Brasil, Mestre e Amigo, esta pedra fundamental do meu edifício literário".

Carreira na Capital da República

Em 1911, aos 21 anos, seguiu para a capital da República levando apenas uma carta de recomendação para João Lage, proprietário de jornal O Paiz. O início de sua carreira jornalística no Rio de Janeiro está relatado no artigo que em 1942, na semana seguinte ao seu falecimento, escreveu João Luso:

"Não havendo vaga na redação de O Paiz trabalhou como colaborador do jornal, onde publicou entrevistas sobre teatro nacional com autores, críticos, jornalistas e homens de letras. Abria a série uma entrevista com Coelho Neto de quem se fez grande amigo e cuja casa passou a frequentar nos saraus semanais em que o poeta reunia as estrelas literárias do tempo".

Pouco depois entrava Lindolfo Collor, pela mão de João Luso, para a edição da tarde do Jornal do Comércio, ao tempo uma das folhas de mais difícil acesso no Rio de Janeiro. Começou então a escrever sobre o assunto de sua predileção, a política, em folhetim semanal por ele lançado, O Meu Sábado. A esse propósito escreveu João Luso:

"Logo na primeira crônica se definiu o seu feitio de combatente. Precisava de batalhar, por isto ou contra aquilo, mas, coisa rara naquela idade, não se inflamava, não se excedia nos conceitos, não se desmandava no estilo. Esta foi sempre, de fato, uma das suas características mais constantes como escritor, como político, como homem privado: o equilíbrio, o espírito de justiça, a sinceridade de atitudes, o cuidadoso manejo das palavras".

Em 1913, paralelamente a estas atividades jornalísticas, entrou Lindolfo Collor para o quadro de funcionários do Jardim Botânico e exerceu funções no gabinete do Ministro da Agricultura. Logo que se transferiu para o Rio de Janeiro, Lindolfo Collor morou algum tempo em Niterói, mas em seguida fixou-se no então Distrito Federal em casa de um casal espanhol, Tomasa e Gregório Landeira, pertencente este ao corpo de funcionários da companhia de seguros Sul América, com sede em Madri. O casal Landeira privava da amizade de uma compatriota, Maria Eugênia Sanchez Dias, casada com o jornalista Luiz Bartolomeu de Souza e Silva e mãe de uma moça que aos Landeira parecia ser a esposa ideal para Lindolfo, pela beleza e fina educação que possuía. Insistia Dona Tomasa em convidar seu hóspede para juntos visitarem a família Bartolomeu de Souza e Silva, quando, um belo dia, ouviu dele uma resposta inesperada: "Eu hoje vi a moça com que desejaria casar-me".

Lindolfo Collor não soube responder de quem se tratava. Havia visto na rua uma linda jovem, que acompanhou de longe para saber onde morava. Com espanto e alegria constatou Dona Tomasa Landeira ser exatamente aquela a pessoa que desejavam aproximar do seu jovem amigo. Dentro de alguns meses, a 19 de fevereiro de 1914, realizava-se o enlace de Lindolfo Collor com Hermínia de Souza e Silva. A formalidade do pedido em casamento foi cumprida por um amigo chegado, o escritor gaúcho Alcides Maia, que pouco depois viria a ser deputado federal pelo Rio Grande do Sul e membro da Academia Brasileira de Letras.

Desde janeiro de 1914 começara Lindolfo Collor a trabalhar na redação de A Tribuna, jornal de que eram proprietários seu sogro e o Senador mato-grossense Antônio Azeredo, que se tornaria mais tarde presidente do Senado. Seus primeiros artigos em A Tribuna ocupavam o espaço de uma coluna a que ele dava o título de Pela Ordem.

Nessa época escreveu Lindolfo Collor seu terceiro e último livro de versos, Elogios e Símbolos, causa de uma séria desavença entre o autor e o crítico literário Gilberto Amado. Encontrando-se os dois na Rua do Ouvidor, Lindolfo Collor interpelou-o por suas criticas, que considerou deselegantes. A discussão acalorou-se e houve troca de empurrões que jogaram ao chão Gilberto Amado. Este, sacando do revólver, alvejou seu contendor, que já se afastava, indo os tiros encravar-se na fachada da Livraria Garnier, ponto de reunião de escritores e intelectuais da época. Possivelmente porque lhe houvesse pesado o excesso que, fora dos seus hábitos, cometera, ou porque concordasse que não era a poesia o caminho para o seu belo talento, resolveu Lindolfo Collor retirar das livrarias todos os exemplares dos seus livros de versos e não tornou a escrever outros.

Já depois de casado, em 1917, formou-se no Rio de Janeiro pela Academia de Altos Estudos Sociais, Políticos e Econômicos, que teve vida breve.

Nesse mesmo ano, há 15 de maio de 1917, a propósito de uma tentativa de legislação social recomendada em mensagem à Câmara dos Deputados pelo presidente Delfim Moreira, Lindolfo Collor publica na Tribuna um artigo com o título Questão Social, onde já demonstra sua clara compreensão desse problema. São de Lindolfo Collor, então com 27 anos de idade, estas palavras:

"Engana-se profundamente quem supuser que, dentro da nova ordem de coisas que nasce com o fim da luta das potências, (a 1ª Guerra Mundial) seja possível ainda ir eludindo a verdadeira situação do proletariado e adiando sua definitiva incorporação moral e econômica na civilização ocidental... A consciência do mundo está amadurecendo para a reforma social... O que é preciso é dar aos operários leis civis adequadas às suas necessidades nos diversos meios".

Lindolfo Collor (de óculos) sendo nomeado ministro, junto com outras personalidades, por Getúlio Vargas, em 03 de novembro de 1930.

Retorno ao Rio Grande do Sul e Início da Carreira Política

Em 1919 foi convidado por Borges de Medeiros, governador do Rio Grande do Sul e chefe do Partido Republicano Rio-Grandense, para tomar parte na direção de A Federação, órgão oficial do Partido e o maior jornal do estado. Mudou-se de volta a Porto Alegre com a esposa e as duas filhas pequenas. Apesar da dúvida inicial acerca do recém-chegado, volvido um ano, contando Lindolfo Collor apenas 30 anos, já era diretor do jornal.

Sua estreia na política se daria em 1921, quando foi eleito deputado estadual, ao lado de João Neves da Fontoura e Getúlio Dorneles Vargas integrou a Assembleia Legislativa gaúcha, onde foi relator da Comissão de Orçamento.

Era diretor de A Federação quando houve no Rio Grande, em 1922-23, renhida campanha eleitoral entre os dois partidos que desde a Revolução de 1893 vinham se defrontando: O Libertador, que apoiava a candidatura de Assis Brasil à sucessão estadual, contra a do presidente do Estado, Borges de Medeiros, que pleiteava sua 5ª reeleição embora já estivesse no cargo há 4 sucessivas reeleições. Essa luta eleitoral transformou-se em protesto armado depois da nova reeleição de Borges de Medeiros.

O estado do Rio Grande do Sul era a única unidade da Federação cuja Constituição, baseada nas ideias de Augusto Comte, permitia a reeleição dos seus governadores. As notícias a respeito dos combates que se sucediam no interior do estado eram afixadas nos "placards" dos dois principais jornais de Porto Alegre, instalados na mesma rua em prédios fronteiros no centro da cidade. O Correio do Povo, defendendo o Partido Libertador, dos assisistas ou maragatos e A Federação, órgão oficial do Partido Republicano, apoiando os borgistas ou pica-paus.

Formavam-se ali agitadas aglomerações que comentavam cada notícia com entusiasmo ou com animosidade, a ponto de provocar constantemente a intervenção dos cavalarianos da Brigada Militar. Nessas ocasiões o diretor de A Federação vinha à sacada do prédio e dirigia a palavra aos manifestantes exaltados, testemunhando assim sua decisão e coragem pessoal nunca desmentidos, nesse como em outros momentos de sua vida pública. Como acontecera na revolução de 1893, também esta, de 1923, só terminou com a mediação do governo federal: o Ministro da Guerra, general Setembrino de Carvalho, natural do Rio Grande do Sul, foi enviado a Porto Alegre para negociar a assinatura do Tratado de Paz de Pedras Altas, que pacificou os espíritos tornando inelegível, daí por diante, o governador do Estado.

Em 1924, quando da vitória eleitoral de Artur Bernardes para a Presidência da República, o governo estadual se posicionara em favor da candidatura de Nilo Peçanha em oposição à de Artur Bernardes, também combatida pelo grupo de tenentes revolucionários que se deslocava pelo sul do Brasil em suas marchas de protesto contra o governo federal. Mas, depois de eleito Artur Bernardes, o governador Borges de Medeiros resolveu sensatamente aceitar a decisão das urnas e nesse sentido orientou o diretor de A Federação, que escreveu um artigo assegurando ao novo presidente da República o apoio político do Rio Grande do Sul. Esse artigo, intitulado Pela Ordem, a mesma rubrica sob a qual publicara Lindolfo Collor seus primeiros artigos na A Tribuna do Rio, atraiu para seu autor o desagrado dos tenentes revoltosos. Isto valeria mais tarde sérias dificuldades a Lindolfo Collor no seu desempenho como Ministro do Trabalho, quando os mesmos tenentes passaram a exercer influente presença política no cenário federal, depois de haver apoiado a Revolução de 1930.

Eleito deputado federal em 1924, voltou ao Rio de Janeiro onde assumiu o posto de redator-chefe de O Paiz. Membro da Comissão de Finanças da Câmara, escreveu numerosos artigos sobre a estabilização da moeda, sobre o problema do padrão ouro e, já então, sobre a transformação da moeda nacional em cruzeiro.

No princípio do ano de 1925 integrou Lindolfo Collor a Embaixada Especial que, chefiada pelo então senador Lauro Müller, representou o Brasil nas solenidades comemorativas do 1º Centenário da Independência do Uruguai. Voltando ao Brasil, apresentou à Câmara dos Deputados pareceres sobre o convênio assinado em Montevidéu a 30 de março, e sobre o protocolo adicional que o acompanhou a seguir. O convênio estatuía "regras práticas de vigilante amizade e de recíproca cooperação das Altas Partes Contratantes em caso de alteração da ordem nos seus respectivos territórios".

Em 1926 foi Lindolfo Collor reeleito para a Câmara Federal, tendo sido então o deputado proporcionalmente mais votado no Brasil.

Em seguida, visitou a Bacia do Prata e o Chile, convidado para pronunciar conferências no auditório de La Prensa, de Buenos Aires, e na Universidade do Chile.

Em 1928 fez parte da delegação brasileira, chefiada pelo senador Raul Fernandes, à VI Conferência Pan-americana reunida em Havana, onde, em nome dos colegas congressistas, pronunciou um discurso sobre José Martí, o herói nacional cubano. Em julho do mesmo ano participou também da Conferência Inter-Parlamentar de Comércio, em Paris.

Em 1929 foi um dos fundadores da Aliança Liberal, movimento político iniciado pelo presidente de Minas, Antônio Carlos Ribeiro de Andrade, para, em oposição à candidatura oficial de Júlio Prestes, pleitear a sucessão presidencial para o Rio Grande do Sul na pessoa de seu presidente, Getúlio Vargas. Coube a Lindolfo Collor redigir o Manifesto da Aliança Liberal, e em seguida foi-lhe confiada a direção do jornal A Pátria, no Rio de Janeiro, onde seus editoriais, assinados com o pseudônimo de Gil Pereira, eram a voz da campanha aliancista.

Na Câmara Federal teve como companheiros novamente Getúlio Vargas e João Neves da Fontoura, e os três se revezavam na liderança da bancada gaúcha. Nessa posição não faltaram a Lindolfo Collor ocasiões de reafirmar o seu talento oratório. Entre seus brilhantes discursos marcou época uma oração pronunciada no dia seguinte ao assassinato de João Pessoa Cavalcanti de Albuquerque, em Recife, que começava com estas palavras: "Presidente da República, que fizeste do Presidente da Paraíba?"

Aquele acontecimento lamentável, sublinhado pelo comentário oportuno e inteligente de Lindolfo Collor, foi o estopim da rebeldia contra a eleição de Júlio Prestes e, desfazendo a indecisão do Rio Grande do Sul quanto à oportunidade de uma atitude de intransigência, precipitou o início da rebelião armada de 1930.

No encerramento da campanha da Aliança Liberal o candidato oposicionista, Getúlio Vargas, leu sua plataforma de governo. Esse documento, redigido por Lindolfo ColIor, continha, entre outros pontos do programa a ser cumprido, a promessa da elaboração de uma legislação trabalhista. Com isso sairiam da alçada policial as questões surgidas entre o capital e o trabalho e o operariado brasileiro teria seus direitos assegurados.

Quando estourou a revolução, a 3 de outubro de 1930, estava Lindolfo Collor em Porto Alegre. Junto a Osvaldo Aranha participou da tomada do Quartel General, onde foi aprisionado o comandante da Região Militar, general Gil de Almeida. Dias depois deslocava-se para Buenos Aires, incumbido de adquirir armas para as forças rebeladas e de obter o reconhecimento do governo revolucionário a ser instalado no Brasil.

A 24 de outubro, vitoriosa a revolução com a sublevação da guarnição do Rio de Janeiro e deposto o presidente Washington Luís, ocupou o Governo da República uma Junta Provisória da qual fazia parte o general Tasso Fragoso, a chamado de quem regressou Lindolfo Collor ao Brasil em 27 de outubro.

Lindolfo Collor, 1.º Ministro do Trabalho visitando uma indústria
Ministro do Trabalho

Na organização do Governo Provisório recusou o convite de Getúlio Vargas, para ocupar outra pasta ministerial, e afirmou que só aceitaria a do Trabalho, a ser fundada em cumprimento ao que fora anunciado pela Aliança Liberal. Em vista da tendência de Getúlio Vargas de retardar o cumprimento daquela promessa de campanha, Lindolfo Collor afirmou que, nesse caso, ficaria fora do governo. Um mês depois, instado por José Antônio Flores da Cunha e João Batista Luzardo, já nomeado chefe de polícia do Distrito Federal, Getúlio Vargas concordou com as ponderações que lhe faziam aqueles dois companheiros a respeito da inconveniência de permanecer Lindolfo Collor fora do governo, e afirmou: "Está bem. Vou fundar esse ministério para aquietar o alemão".

A elaboração da legislação social brasileira, a primeira na América do Sul, pode ser considerada, de acordo com o ex-reitor da PUC, Fernando Bastos Ávila, o maior avanço social no Brasil depois da abolição da escravatura. Para estruturá-la foi grande a luta de Lindolfo Collor. Teve que enfrentar os comunistas, que contavam com as injustiças sociais para levar o povo à revolta e seu partido ao poder, e teve que vencer a animosidade de alguns de seus companheiros revolucionários, sobretudo os "tenentes", membros do Clube 3 de Outubro, que não davam apoio ao seu trabalho. Já com as classes patronais, de onde mais naturalmente se poderia esperar uma oposição à legislação trabalhista, parece que o primeiro Ministro do Trabalho não enfrentou grandes dificuldades. O professor Joaquim Pimenta, ativista, líder operário em Pernambuco e um dos melhores colaboradores de Lindolfo Collor no Ministério do Trabalho, acentua esse aspecto realmente inesperado. Outro grande colaborador de Lindolfo foi Evaristo de Morais, primeiro consultor jurídico do Ministério do Trabalho, que deixaria esse cargo no mesmo dia da renúncia de Lindolfo, em 1932. Também foram seus fiéis e eficientes companheiros de jornada Agripino Nazaré, Carlos Cavaco, Heitor Moniz e Horácio Cartier, além do diplomata Heitor do Nascimento Silva que, já havendo prestado valiosos serviços junto à Organização Internacional do Trabalho em Genebra, foi cedido pelo Ministério de Relações Exteriores para auxiliar na formação do novo ministério.

A passagem de Lindolfo Collor pelo Ministério do Trabalho durou apenas 15 meses, de dezembro de 1930 a março de 1932, durante os quais redigiu toda a estrutura da nossa legislação social. Norteado por algumas das legislações trabalhistas europeias e, dentro de um esclarecido ecumenismo, pela Encíclica Rerum Novarum, de Leão XIII. Lindolfo Collor elaborou 12 decretos-leis acompanhados de Exposições de Motivos que apontam a sua oportunidade em face da evolução do pensamento de proteção ao operariado em todos os países mais adiantados do mundo.

Oposição a Getúlio Vargas

Lindolfo Collor permaneceu no Ministério apenas 15 meses. Alinhado entre os que reivindicavam a volta do país a um regime legal, idéia que não contava com as simpatias do ditador nem dos "tenentes", deixou o Governo Provisório a 3 de março de 1932, dia imediato ao "empastelamento" do Diário Carioca em revide à publicação de um artigo de J. E. de Macedo Soares apontando a necessidade da convocação de uma Constituinte. Diretamente envolvidos nesse ato de violência contra a liberdade de opinião, deixaram o governo no mesmo dia Joaquim Maurício Cardoso, ministro da Justiça, e o chefe de Polícia do Distrito Federal, João Batista Luzardo, acompanhados também por João Neves da Fontoura, consultor jurídico do Banco do Brasil. Viajaram para Porto Alegre na madrugada de 4 de março de 1932, no mesmo momento em que era levada ao Palácio Rio Negro, em Petrópolis, pelo professor Joaquim Pimenta, a carta de demissão do ministro do Trabalho.

Daí em diante, e contando com o apoio de José Antônio Flores da Cunha, governador do Rio Grande, puseram-se todos a preparar ativamente um movimento de reação à tendência ditatorial do Governo Provisório e passaram a articular-se com os dirigentes paulistas, desgostosos com o tratamento desairoso que a ditadura dispensava ao seu estado.

A 9 de julho de 1932 irrompeu em Mato Grosso, sob a chefia do general Bertoldo Klinger, o movimento revolucionário que se alastrou rapidamente até São Paulo. A Frente Única do Rio Grande do Sul, constituída pela aliança de seus dois tradicionais partidos políticos, o Republicano e o Libertador, e representada pelo interventor José Antônio Flores da Cunha, estava comprometida com a Frente Única Paulista a acompanhar São Paulo nessa rebelião.

Inesperadamente, porém, pouco depois de iniciada a revolução, o interventor José Antônio Flores da Cunha colocou o Rio Grande ao lado do governo ditatorial, o que decidiu a sorte do movimento armado em favor do governo central. A explicação para esse gesto imprevisto, soube-se mais tarde, teria sido um diálogo entre Getúlio Dorneles Vargas e José Antônio Flores da Cunha, a esse tempo ainda apoiando a causa de São Paulo, que achou por bem alertá-lo para as fortes probabilidades de vitória do Movimento Constitucionalista. De acordo com o próprio José Antônio Flores da Cunha e com Daniel Krieger, Getúlio Dorneles Vargas, teria respondido com ar severo e olhar distante: "As tropas vitoriosas não me encontrarão aqui. Já decidi o que fazer....". Diante dessa perspectiva sombria o temperamento impetuoso e passional de José Antônio Flores da Cunha ditou-lhe, certamente, a brusca decisão de colocar as forças da brigada gaúcha ao lado do governo federal.

Burlando a vigilância policial, que logo foi estabelecida em torno dos conspiradores, deixou Lindolfo Collor seu apartamento na Praça da Alfândega, em Porto Alegre, e foi reunir-se a um dos grupos sublevados, a coluna de "provisórios" comandada por Marcial Terra em Tupaciretã. Durante cerca de 40 dias com ela percorreu vários municípios rio-grandenses, dormindo muitas vezes ao relento, com a sela do cavalo por travesseiro. Finalmente, em setembro, cercada a Coluna Marcial Terra por tropas legalistas, foi este obrigado a capitular. Um dos oficiais da força vencedora acompanhou Lindolfo Collor até à fronteira, que atravessou em Paso de Los Libres, levando consigo apenas a roupa do corpo.

Primeiro Exílio

Reunido a vários companheiros em Rivera, e depois em Buenos Aires, escreveu em 15 de outubro de 1932, o manifesto ao Rio Grande do Sul, a São Paulo e à Nação, assinado também por Raul Pilla, João Batista Luzardo e João Neves da Fontoura. Relata o processo da conspiração anterior à Revolução Constitucionalista de São Paulo e atribui a responsabilidade da derrota ao interventor do Rio Grande do Sul. A essa altura Lindolfo Collor já havia enviado uma carta ao amigo José Antônio Flores da Cunha retirando o convite que lhe fizera para ser padrinho de seu terceiro e último filho, Lindolfo Leopoldo Collor.

No verão de 1933 esteve Lindolfo Collor na frente de operações da Guerra do Chaco, no Paraguai, e escreveu a respeito uma série de artigos publicados no Rio de Janeiro e em La Prensa, de Buenos Aires.

Em 1934, representando a companhia Sul América Seguros, da qual, havia anos, era um dos diretores ao lado de Antônio Carlos Ribeiro de Andrada, passou seis meses em Lima, no Peru, a fim de tratar da venda da carteira daquela companhia a uma seguradora de Quito, Equador.

Retorno ao Brasil

Em 1934, depois de decretada a anistia pelo governo Vargas, Lindolfo Collor regressou ao Brasil e foi candidato gaúcho à Assembleia Constituinte, sem sucesso. Voltou depois a residir no Rio de Janeiro onde, durante todo o ano de 1935, tornou a ocupar seu cargo na direção no Grupo Sul América.

Afastado do Partido Republicano Rio-Grandense desde a Revolução Constitucionalista de 1932, José Antônio Flores da Cunha fundou no seu estado o Partido Republicano Liberal (PRL), enquanto a Frente Única (PRR e PL) faziam oposição ao governo estadual e ao governo central, já que a Assembleia Constituinte, um dia antes de promulgar a Nova Constituição, de forma indireta e irregular elegera Getúlio Vargas como presidente da República.

Dentro desse quadro político difícil, Lindolfo Collor fez oposição ao governo Vargas, apesar de haver tentativas de aproximação. Entre elas uma conversa realizada numa noite chuvosa no Palácio Rio Negro em Petrópolis.

Mais tarde José Antônio Flores da Cunha buscou aproximar-se da Frente Única Rio-Grandense, para unir as forças políticas em seu Estado, diminuindo as manobras personalistas de Getúlio Vargas. Buscando que o Rio Grande do Sul tivesse mais influência no âmbito nacional, Lindolfo Collor concordou com uma fórmula alta de pacificação da política estadual, que foi sugerida pelo jurista José Maria dos Santos.

Em janeiro de 1936, foi assinado um acordo entre o Partido Libertador, chefiado por Raul Pilla, o Partido Republicano Rio-Grandense, ainda sob a orientação de Borges de Medeiros, e o situacionismo estadual, representado pelo Partido Republicano Liberal. Essa composição política, chamada Modus Vivendi, teve curta duração, mas permitiu que fizessem parte do governo do Rio Grande, representando seus partidos, Lindolfo Collor, na Secretaria de Finanças, e Raul Pilla, na Secretaria da Agricultura.

Porém dentro do PRR um clima de tensão motivou o rompimento do Modus Vivendi em 14 de novembro. O PRR voltou a apoiar o governo central, o PL, o PRC e o PRL, permaneceram fiéis na oposição e na aliança com os paulistas, a quem se sentia Lindolfo Collor grande devedor, depois da frustração de 1932.

Com aproximação da sucessão presidencial de 1938, o Partido Libertador e o Partido Castilhista integraram a União Democrática Brasileira, apoiando a candidatura do governador de São Paulo, Armando de Sales Oliveira, à presidência da República. O PRR, por outro lado, se filiou à corrente situacionista federal, apoiando o nome do ministro da Agricultura, José Américo de Almeida. Porém foram todos surpreendidos pelo Golpe de Estado em 10 de novembro de 1937, que instalou o Estado Novo no Brasil, suprimindo novamente o Congresso Nacional, a Constituição, e as eleições já próximas.

Segundo Exílio

Ao mesmo tempo em que saíam para o exílio, por Santos e Salvador, os líderes udenistas Armando de Sales Oliveira e Otávio Mangabeira, embarcou Lindolfo Collor no Rio de Janeiro, em novembro de 1938, com destino à Alemanha, onde alguns amigos tentaram interessá-lo em transações comerciais. Não era seu destino, porém, realizar-se no terreno dos negócios. Bom conhecedor da língua alemã, usada na zona colonial em que nasceu, Lindolfo Collor aproveitou sua estada em Berlim para acompanhar os preparativos de guerra do Führer, então em plena efervescência, e procurar penetrar as razões do fenômeno hitlerista. Enviou suas observações em uma série de artigos para o Diário de Notícias do Rio de Janeiro, cujo diretor, Orlando Dantas, era seu grande amigo, como bom amigo seu também era Assis Chateaubriand, sócio majoritário da sociedade anônima O Jornal, de cuja diretoria Lindolfo Collor fazia parte ao lado do mesmo Chateaubriand, de Gabriel de Andrade e de Rodrigo de Mello Franco.

Mas o famoso D.I.P. estava atento para impedir qualquer pronunciamento contrário às ditaduras europeias, com quem Getúlio Vargas estava em boas relações. Assim, alguns dos artigos mais condenatórios do totalitarismo nazista não puderam sair a público, dada a crescente aproximação entre o governo brasileiro e o eixo Roma-Berlim, o que permitiu à Embaixada Alemã no Rio de Janeiro fazer sentir ao Ministério das Relações Exteriores seu desagrado diante das publicações de Lindolfo Collor contrárias ao regime nazista.

Em janeiro de 1939 transferiu-se Lindolfo Collor da Alemanha para Paris, onde o foi encontrar sua família. Até à deflagração da Segunda Guerra Mundial, em agosto de 1939, enviou de Paris para o Diário de Notícias suas observações sobre o desenrolar dos acontecimentos europeus de pré-guerra. Mais tarde esses artigos foram reunidos em dois livros sob os títulos Europa (Emiel Editora, Rio, 1939) e Sinais dos Tempos (Epasa, Rio, 1942). Este último foi para as livrarias no dia do seu falecimento.

Quando a Alemanha invadiu a Polônia e se tornou provável a invasão da França, Lindolfo Collor transferiu-se com a família para o sul da França e depois para Portugal, onde estaria menos exposto, desde que o fato de haver escrito contra o regime hitlerista o colocara na lista negra da ditadura alemã, e informações a respeito das opiniões anti-nazistas de Lindolfo Collor, fornecidas pelo embaixador alemão no Rio de Janeiro, constavam de uma nota distribuída às repartições competentes pelo governo do Reich.

Depois de uma etapa de algumas semanas em Lisboa, para efetuar o casamento de sua filha mais velha, Leda, com o jornalista alagoano Arnon de Mello, Lindolfo Collor passou a residir em Baltar, pequena aldeia perto da cidade do Porto, na quinta onde lhe fora oferecida hospedagem por seu amigo, o comendador português Pereira Inácio, residente no Brasil.

A ele, aos Diários Associados, ao Diário de Notícias, à Sul América, durante os últimos dez anos de sua vida, em que esteve sempre no ostracismo, Lindolfo Collor deveu sua subsistência, pois sempre foi homem de poucos recursos, que vivia do seu trabalho. Nada tinha de seu, além de uma casa em São Leopoldo, que oferecera à sua mãe por volta de 1935, e um apartamento adquirido em 1937 para sua residência no Rio de Janeiro. Pouco antes do seu falecimento desfez-se desse imóvel a fim de comprar a "Chácara Nossa Senhora das Graças" de Ildefonso Simões Lopes, na Rua Indiana, no Cosme Velho, para onde pretendia mudar-se logo que nela pudesse fazer algumas adaptações.

Retorno ao Brasil e Falecimento

Por fim, meses depois do nascimento do seu primeiro neto no Rio de Janeiro, por interferência pessoal de João Batista Luzardo e de João Daudt de Oliveira, presidente da Associação Comercial e grande amigo tanto de Getúlio Dorneles Vargas como de Lindolfo Collor, teve este autorização para voltar ao Brasil.

Em julho de 1942 concedeu uma entrevista a Francisco de Assis Barbosa, repórter de Diretrizes, semanário pertencente a Samuel Wainer, em que Lindolfo Collor definia seu repúdio a qualquer tipo de ditadura.

Publicada a entrevista, Lindolfo Collor é preso, libertado mas com a saúde debilitada, é atacado de Pneumonia. Apesar de atendido pelo renomado clinico Pedro da Cunha, veio a falecer no Palace Hotel, na Avenida Rio Branco, onde estava hospedado desde que vendera seu apartamento para comprar a casa na rua Indiana. O velório se fez no salão nobre da Associação Brasileira de Imprensa, então sob a presidência de Herbert Moses.

Foi sepultado no Cemitério de São João Batista.

Fonte: Wikipédia