Catulo da Paixão Cearense

CATULO DA PAIXÃO CEARENSE
(82 anos)
Poeta, Compositor, Cantor e Teatrólogo

☼ São Luís, MA (08/10/1863)
┼ Rio de Janeiro, RJ (10/05/1946)

Apesar do nome, Catulo da Paixão Cearense, nasceu no Maranhão. Equivocadamente, a data de seu nascimento foi considerada por muito tempo como sendo 31/01/1866. A data original foi alterada para que ele pudesse ser nomeado para o serviço público.

Com 10 anos, em 1873, mudou-se com a família para o interior do Ceará.

Em 1880, quando contava 17 anos, sua família mudou-se para o Rio de Janeiro indo residir à Rua São Clemente, 37, onde passaria a funcionar a relojoaria e ourivesaria de seu pai. No Rio de Janeiro, começou a frequentar uma República de Estudantes na Rua do Barroso, em Copacabana, da qual faziam parte os flautistas Joaquim Callado e Viriato, o estudante de música Anacleto de Medeiros, o violonista Quincas Laranjeiras, o cantor Cadete e um estudante de medicina que o ensinou a tocar violão, fazendo com que abandonasse a antiga paixão pela flauta.

Catulo da Paixão Cearense era autodidata. Aprendeu português e matemática e, posteriormente, o francês, chegando a fazer traduções de poetas franceses famosos na época como Lamartine. Recebeu grande influência dos cantadores do Nordeste com quem conviveu durante parte de sua juventude, chegando, inclusive, a produzir literatura de cordel.

Os primeiros anos de Rio de Janeiro foram bastante difíceis para o poeta já que, muito pobre, morava num dos bairros mais distantes do Rio de Janeiro à época, o balneário de Copacabana, um lugar quase deserto e ermo. Em pouco tempo, morreu sua mãe, Maria Celestina Braga da Paixão. O pai morreu três anos depois.

Sua primeira composição foi "Ao Luar", apresentada numa seresta na República de Estudantes. Na mesma noite, seu pai, Amâncio José da Paixão Cearense quebrou-lhe um violão na cabeça, pois seguiu o filho e não o queria envolvido com boêmios. Após a morte do pai, passou a trabalhar como estivador no cais do porto.

Fred Figner e Catulo da Paixão Cearense, 1940
De dia usava tamancos nos pés e à noite colocava as calças listradas e o fraque forrado de seda e ia para as serestas. Certa feita, convidado para uma festa na casa do senador Gaspar da Silveira Martins, conselheiro do Império, acabou por tornar-se o centro da festa. A mulher do senador acabou por contratá-lo como professor para os filhos e dessa forma, mudou-se para a casa do senador. Pouco depois, viu-se envolvido numa trama que resultaria num casamento, sob a acusação de ter violentado sua futura mulher.

Considerado como grande mulherengo, envolveu-se ao longo de sua vida com diversas mulheres, tendo dedicado a algumas delas várias de suas obras. Para a atriz Apolônia Pinto dedicou a canção "Os Olhos Dela". Apaixonado pela filha do senador goiano Hermenegildo de Morais, de quem somente se conhece o apelido de "Coleira", devido a um adorno que usava no pescoço, não teve o amor correspondido. Por isso, abandonou o trabalho na casa do senador Gaspar da Silveira e foi refugiar-se em Piedade, subúrbio do Rio de Janeiro, onde fundou um colégio e passou a lecionar, criando novos métodos que tornassem o ensino mais agradável. Paralelamente, continuou a participar de serestas e recitais.

Em 1906, o cantor Mário Pinheiro gravou pela Casa Edson as canções "Talento e Formosura" e "Resposta ao Talento e Formosura".

Em 1907, o mesmo cantor gravou "O Que Tu És", "Até as Flores Mentem" e "Clélia". E, com grande sucesso, a canção "Rasga Coração", novo nome dado pelo poeta a partir da letra que colocou no xote "Iara", composto por Anacleto de Medeiros em 1896 e repertório obrigatório das bandas desde então.

Em 1908, conseguiu o que para muitos parecia impossível: levar o violão, instrumento até então considerado maldito, para um salão de elite. Por intermédio do maestro Alberto Nepomuceno, conseguiu realizar um recital no Instituto Nacional de Música, onde, nas suas próprias palavras, "Músicos, literatos, médicos, jornalistas, advogados, engenheiros, professores, diplomatas, misturaram-se a populares". O recital foi um enorme sucesso, fazendo crescer ainda mais a fama do cantor e poeta nordestino.


Em 1909, o cantor Mário Pinheiro gravou mais duas composições de sua autoria, "Choça ao Monte" e "Cabocla bonita".

Em 1910, o mesmo cantor gravou "Adeus da Manhã".

Em 1913, obteve grande sucesso no carnaval  com a composição "Cabocla di Caxangá". Sobre essa composição, informam os pesquisadores Jairo Severiano e Zuza Homem de Mello:

"... Entrou para a história apenas assinada pelo poeta. Inspirado numa toada que João Pernambuco lhe mostrara e que teria melodia do violonista, composta sobre versos populares, Catulo escreveu extensa letra, impregnada de nomes de árvores (taquara, oiticica, imbiruçu...), animais (urutau, coivara, jaçanã...), localidades (Jatobá, Cariri, Caxangá, Jaboatão...) e gírias do sertão nordestino, daí nascendo em 1913 a embolada 'Caboca de Caxangá', classificada no disco como batuque sertanejo. E nasceu para o sucesso, que se estenderia ao carnaval de 1914, para desgosto de Catulo, que achava depreciativo o uso da composição pelos foliões."

Em 1914, foi convidado pela mulher do então presidente da República Hermes da Fonseca, a senhora Nair de Teffé, a caricaturista Rian,  para um recital no Palácio do Catete, onde obteve um dos seus momentos de maior glória, sendo aplaudido de pé pela assistência, ao término de cada apresentação.

Alguns setores mais conservadores da imprensa, contudo, registraram críticas e comentários maldosos. Pouco depois, foi nomeado pelo presidente para um cargo na Imprensa Nacional. Ligou-se ao proprietário da Livraria do Povo, e por ela editou diversos folhetos de cordel com o repertório de modinhas, lundus e cançonetas que faziam sucesso. Para a mesma livraria editou as coletâneas "O Cantor Fluminense" e "O Cancioneiro Popular". Em seguida, publicou diversos trabalhos de sua autoria, "Lira dos Salões", "Novos Cantares",  "Lira Brasileira", "Canções da Madrugada", "Trovas e Canções" e "Choros ao Violão".

Ainda em 1914, o cantor Eduardo das Neves, acompanhado de coro, gravou na Odeon aquele que se tornaria o maior sucesso do poeta, e um dos maiores clássicos da Música Popular Brasileira, consagrada popularmente como um segundo Hino Nacional: a toada sertaneja "Luar do Sertão", regravado dezenas de vezes ao longo da história da Música Popular Brasileira, e que também lhe rendeu a célebre polêmica com João Pernambuco sobre a autoria da música, chegando à barra dos tribunais, que decidiu a favor de João Pernambuco, reconhecido assim como autor da melodia, que segundo alguns, seria provavelmente um tema folclórico, ficando a dúvida entre o coco "É do Maitá" e "Meu Engenho é de Humaitá".


Também em 1914, o cantor Bahiano gravou a modinha "Fascinação Por Teus Olhos" (Catulo da Paixão Cearense e Cupertino de Menezes), Eduardo das Neves gravou a modinha "Eulina" e a Banda da Casa Edison regravou "Cabocla de Caxangá", como tango, todos na Odeon. Ainda na mesma época, colocou versos na serenata "Lolita" e na valsa "Adoráveis Tormentos", ambas de Fernando de Azevedo.

Um de seus principais parceiros foi Anacleto de Medeiros, com quem compôs, entre outras, "Rasga o Coração", "Por um Beijo", "Palma de Martírio", "O Que Tu És", "Perdoa", "Nasci Para Te Amar", "O Boêmio" e "Coração Oculto".

Em 1918, editou "Meu Sertão" e o cantor Vicente Celestino gravou na Odeon uma série de canções suas com diferentes parceiros, entre as quais, "Porque Sorris" e "Porque Fui Poeta" (Catulo da Paixão Cearense e Juca Kalut) e "Aos Pés da Cruz" (Catulo da Paixão Cearense e Cremieux). No mesmo período, Mário Pinheiro gravou uma série de modinhas, entre as quais "Pastor Peregrino", "Não Partas", "Cabocla Bonita" e "Lágrimas Sonoras".

Em 1919, publicou "Sertão em Flor".

Em 1921, "Poemas em Bravios".

Em 1926, participou da "Tarde Brasileira", no Teatro Lírico no Rio de Janeiro, apresentando-se ao lado de João Pernambuco e Patrício Teixeira. Na ocasião, lançou o poema "Maria Cabocla", que recebeu calorosos aplausos fazendo-o retornar várias vezes ao palco. No mesmo ano, Patrício Teixeira gravou sua canção "Magnólia", a modinha "Canção do Cego" e a modinha cateretê "Bem-Te-Vi".

Em 1928, publicou "Mata Iluminada", "Meu Brasil", "Um Boêmio no Céu" e "Alma do Sertão".

Os Últimos Anos

Nos últimos anos de sua vida, viveu num barracão na Rua Francisco Méier, nº 21, depois transformada em Rua Catulo da Paixão Cearense. Lá recebia diversas figuras da vida pública e intelectual do Rio de Janeiro, do Brasil e de outros países, como o escritor Monteiro Lobato, o poeta espanhol Salvador Rueda e o médico e tenor mexicano Alfonso Ortiz Tirado, conhecido como a "Voz Romântica do México". Lá recebia as visitas de chinelo e pijama.

Em 1939, encontrando-se em situação financeira delicada, pediu ajuda ao cantor paulista Paraguaçu, que organizou para ele uma série de recitais, com apresentações na Rádio Cosmos, atual Rádio América e também no Palácio dos Campos Elíseos, sendo convidado do governador Ademar de Barros. O sucesso foi absoluto, com os recitais totalmente concorridos e com seus livros esgotados pelo público ávido por autógrafos do grande poeta. Mesmo assim, o poeta morreu pobre.

Catulo da Paixão Cearense faleceu na sexta-feira, 10/05/1946, aos 83 anos, na rua Francisca Meyer nº 78, Casa 2, no Rio de Janeiro, RJ. Seu corpo foi embalsamado e exposto a visitação pública até 13/05/1946, quando desceu a sepultura no cemitério São Francisco de Paula, no Largo do Catumbi.

Antes de seu sepultamento, o escultor Flory Gama fez sua máscara mortuária. Seu corpo foi levado para o saguão do edifício da Associação Brasileira de Imprensa, depois para a Capela de Santa Teresinha, na Praça da República e finalmente levado a pé até o Cemitério de São Francisco de Paula.

Conforme o enterro passava, acompanhado por uma multidão e pela Banda do Corpo de Bombeiros entoando a "Marcha Fúnebre", o comércio fechava as portas.

No cemitério, uma multidão aguardava a chegada do féretro. Sucederam-se diversos discursos que fizeram a cerimônia estender-se até à noite. Quando escureceu, uma imensa lua cheia apareceu no céu e o tenor mexicano Alfonso Ortiz começou a cantar "Luar do Sertão". Pouco a pouco um coro de milhares de vozes o acompanhou numa homenagem espontânea ao poeta morto.

As Homenagens

Nos anos 50, um dos primeiros cantores a homenageá-lo foi o modinheiro Paulo Tapajós, lançando pelo selo Sinter, LPs de 10 e 12 polegadas só com músicas do poeta, interpretando entre outras, as composições "Vai, ó Meu Amor, ao Campo Santo", "Talento e Formosura", "Palma de Mutirão""Luar do Sertão", "Por um Beijo" e "Flor Amorosa", esta última em parceria com Joaquim Callado.

Ainda nos anos 50, o tenor Vicente Celestino gravou pela RCA Victor um LP com obras do poeta, entre outras, as composições, "Rasga o Coração", "O Meu Ideal", "Por um Beijo", "Ontem ao Luar""Luar do Sertão".

Em 1962, as canções "Tu Passaste Por Este Jardim" (Catulo da Paixão Cearense e Alfredo Dutra) e "Por Que Sorris?" (Catulo da Paixão Cearense e Juca Kalut) foram relançadas por Gilberto Alves no LP "Gilberto Alves de Sempre" lançado pela gravadora Copacabana.

Em 1994, o selo Revivendo lançou o CD "Catulo da Paixão Cearense na Voz de Vicente Celestino e Paulo Tapajós".

Em 2000 o selo EMI/Copacabana lançou o CD duplo "Cantores do Rádio - Volume 1", no qual consta a canção "Ontem ao Luar" (Catulo da Paixão Cearense e Pedro de Alcântara) na interpretação de Vicente Celestino.

Em 2007, estreou no Teatro Villa-Lobos no Rio de Janeiro sua peça inédita "Um Boêmio no Céu", escrita em 1945, com direção de Amir Haddad, figurinos de Biza Vianna e direção musical de José Maria Braga, e com José Mayer no papel do poeta. Durante o espetáculo são interpretadas algumas de suas canções mais famosas como "Ontem ao Luar""Luar do Sertão". No mesmo ano, a toada "Luar do Sertão" (Catulo da Paixão Cearense e João Pernambuco), foi gravada por Tinoco e Mazinho Quevedo no CD "Coração Caipira - Ao Vivo" da Som Livre.

Em 2009, foi lançado no Museu da República pelo pesquisador Haroldo Costa o livro "Catulo da Paixão - Vida e Obra", no qual o autor fala da vida e da obra do grande seresteiro e poeta.

Em 2011, foi lançado pelo selo Discobertas em convênio com o Instituto Cultural Cravo Albin (ICCA) a caixa "100 Anos de Música Popular Brasileira" com a reedição em 4 CDs duplos dos oito LPs lançados com as gravações dos programas realizados pelo radialista e produtor Ricardo Cravo Albin na Rádio MEC em 1974 e 1975. No volume 1 desses CDs estão incluídas suas modinhas "Terna Saudade" (Catulo da Paixão Cearense e Anacleto de Medeiros), "Luar do Sertão" (Catulo da Paixão Cearense e João Pernambuco), e "Cabocla Bonita" na interpretação de Paulo Tapajós, e "Flor amorosa" (Catulo da Paixão Cearense e Joaquim da Silva Callado), na interpretação de Altamiro Carrilho e seu conjunto.

#FamososQuePartiram #CatulodaPaixaoCearense

Nair de Teffé

NAIR DE TEFFÉ VON HOONHOLTZ
(95 anos)
Caricaturista, Pintora, Cantora, Atriz, Pianista e Primeira Dama Brasileira

☼ Petrópolis, RJ (10/06/1886)
┼ Rio de Janeiro, RJ (10/06/1981)

Considerada, por Hermes Lima e por artistas e intelectuais, a primeira caricaturista mulher do mundo. Além disso, Nair de Teffé foi a primeira-dama do Brasil de 1913 a 1914.

Filha de Antônio Luís von Hoonholtz, o Barão de Teffé, neta de Frederico Guilherme von Hoonholtz, o Conde von Hoonholtz e sobrinha de Jorge João Dodsworth, o 2º Barão de JavariNair de Teffé estudou em Paris, Marselha e Nice, na França, para onde se mudou com um ano de idade, tendo regressado ao Brasil, iniciou sua carreira por volta de 1906.

Publicou seu primeiro trabalho, "A Artista Rejane", na Revista Fon-Fon, sob o pseudônimo de Rian (Nair de trás para frente e "ninguém", em francês). Também publicaram suas caricaturas da elite, dentre outros, os periódicos O Binóculo, A Careta, O Ken, bem como os jornais Gazeta de Notícias e da Gazeta de Petrópolis.

Seu traço era ágil e transmitia muito bem o caráter das pessoas.


Deixou de exercer sua carreira como caricaturista em 08/12/1913, ao casar-se com o futuro presidente do Brasil, o marechal Hermes da Fonseca. Eles estavam noivos desde 06/01/1913. Hermes da Fonseca era viúvo de Orsina da Fonseca, falecida em 1912.

Nair de Teffé foi uma mulher à frente de seu tempo. A primeira-dama promovia saraus no Palácio do Catete, que ficaram famosos por introduzir o violão nos salões da sociedade. Sua paixão por música popular reunia amigos para recitais de modinhas.

As interpretações de Catulo da Paixão Cearense fizeram sucesso e, em 1914, incentivaram Nair de Teffé a organizar um recital de lançamento do "Corta Jaca", um maxixe composto por Chiquinha Gonzaga, sua amiga.

Foram feitas críticas ao governo e retumbantes comentários sobre os "escândalos" no palácio, pela promoção e divulgação de músicas cujas origens estavam nas danças lascivas e vulgares, segundo a concepção da elite social. Levar para o Palácio do Governo a música popular foi considerado, na época, uma quebra de protocolo, causando polêmica nas altas esferas da sociedade e entre políticos. Ruy Barbosa chegou a tecer fortes críticas a Nair de Teffé.

Nair de Teffé no dia do casamento, em Petrópolis, com o presidente da República marechal Hermes da Fonseca, tendo ao seu lado direito o cardeal Arcoverde
Logo após o término do mandato presidencial, Nair de Teffé mudou-se novamente para a Europa. Voltou para o Brasil por volta de 1921 e participou da Semana de Arte Moderna. Resolveu voltar para Petrópolis, onde foi eleita em 1928, presidente da Academia de Ciências e Letras que extinguiu em 1929 e fundou em seu lugar a Academia Petropolitana de Letras, sendo presidente até 1932.

Em 09/04/1929, Nair de Teffé tomou posse na Academia Fluminense de Letras.

Em 1932, retornou ao Rio de Janeiro onde fundou em 28/11/1932 o Cinema Rian, na Avenida Atlântica, em Copacabana.

Dezessete anos depois, já viúva, Nair de Teffé, aos 73 anos, voltou a fazer caricaturas, inclusive de várias personalidades.

No fim dos anos 70, participou das comemorações do Dia Internacional da Mulher.

Nair de Teffé morreu no Rio de Janeiro, no dia 10/06/1981, no dia de seu aniversário de 95 anos.

Fonte: Wikipédia

Chiquinha Gonzaga

FRANCISCA EDWIGES NEVES GONZAGA
(87 anos)
Compositora, Pianista e Regente

* Rio de Janeiro, RJ (17/10/1847)
+ Rio de Janeiro, RJ (28/02/1935)

Foi a primeira chorona, primeira pianista de choro, autora da primeira marcha carnavalesca "Ô Abre Alas (1899) e também a primeira mulher a reger uma orquestra no Brasil. No Passeio Público do Rio de Janeiro, há uma Herma em sua homenagem, obra do escultor Hoonório Peçanha.

Era filha de José Basileu Gonzaga, general do Exército Imperial Brasileiro e de Rosa Maria Neves de Lima, uma mulata muito humilde, com quem, apesar de opiniões contrárias da família, casou-se após o nascimento da menina Francisca. Chiquinha Gonzaga foi educada numa família de pretensões aristocráticas (seu padrinho era Luís Alves de Lima e Silva, o Duque de Caxias). Ela conviveu bastante com a rígida família do seu pai. Fez seus estudos normais com o Cônego Trindade, um dos melhores professores da época, e musicais com o Maestro Lobo, um fenômeno da música. Desde cedo, frequentava rodas de Lundu, Umbigada e outros ritmos oriundos da África, pois nesses encontros buscava sua identificação musical com os ritmos populares que vinham das rodas dos escravos.

Inicia, aos 11 anos, sua carreira de compositora com uma música natalina, "Canção dos Pastores". Aos 16 anos, por imposição da família do pai, casou-se com Jacinto Ribeiro do Amaral, oficial da Marinha Imperial brasileira e logo engravidou. Não suportando a reclusão do navio onde o marido servia, (já que ele passava mais tempo trabalhando no navio do que com ela) e as ordens para que não se envolvesse com a música, além das humilhações que sofria e o descaso dele com seu sonho, Chiquinha, após anos de casada, separou-se, o que foi um escândalo na época.

Leva consigo somente o filho mais velho, João Gualberto. O marido, no entanto, não permitiu que Chiquinha cuidasse dos filhos mais novos: Sua outra filha, Maria do Patrocínio e do filho, o menino Hilário, ambos frutos daquele matrimônio. Ela lutou muito para ter os 3 filhos juntos, mas foi em vão. Sofreu muito com a separação obrigatória dos 2 filhos imposta pelo marido e pela sociedade preconceituosa daquela época, que impunha duras punições à mulher que se separava do marido.

Anos depois, em 1867, reencontrou seu grande amor do passado, um namorado de juventude, o engenheiro João Batista de Carvalho, com quem teve uma filha: Alice Maria. Viveu muitos anos com ele, mas Chiquinha não aceitava suas traições. Separa-se dele, e mais uma vez perde uma filha. João Batista não deixou que Chiquinha criasse Alice, ficando com a guarda da filha. Apesar disso tudo, Chiquinha foi muito presente na vida de todos os seus quatro filhos, mesmo só criando um deles. Ela sempre estava acompanhando a vida deles e tendo contato.

Ela, então, passa a viver como musicista independente, tocando piano em lojas de instrumentos musicais. Deu aulas de piano para sustentar o filho João Gualberto e mantê-lo junto de si, sofrendo preconceito por criar seu filho sozinha. Passando a dedicar-se inteiramente a música, onde obteve grande sucesso, sua carreira aumentou e ela ficou muito famosa, tornando-se também compositora de Polcas, Valsas, Tangos e cançonetas. Antes, porém, uniu-se a um grupo de músicos de choro, que incluía ainda o compositor Joaquim Antônio da Silva Callado, apresentando-se em festas.

Aos 52 anos, após muitas décadas sozinha, mas vivendo feliz com os filhos e a música, conheceu João Batista Fernandes Lage, um jovem cheio de vida e talentoso aprendiz de musicista, por quem se apaixonou. Ele também se apaixonou perdidamente por essa mulher madura que tinha muito a ensinar-lhe sobre música e sobre a vida. A diferença de idade era muito grande e causaria mais preconceito e sofrimento na vida de Chiquinha, caso alguém soubesse do namoro. Ela tinha 52 anos e João Batista, apenas 16. Temendo o preconceito, faz que ela fingisse que o adotou como filho, para viver esse grande amor. Esta decisão foi tomada para evitar escândalos em respeito aos seus filhos e à relação de amor pura que mantinha com João Batista, da qual pouquíssimas pessoas na época entenderiam, além de afetar sua brilhante carreira. Por essa razão também, Chiquinha e João Batista Lage, ou Joãozinho, como carinhosamente o chamava, mudaram-se para Lisboa, em Portugal, e foram viver felizes morando juntos por alguns anos longe do falatório da gente do Rio de Janeiro. Os filhos de Chiquinha, no começo, não aceitaram o romance da mãe, mas depois viram com naturalidade. Fernandes Lage aprendeu muito com Chiquinha sobre a música e a vida. Eles retornaram ao Brasil sem levantar suspeitas nenhuma de viverem como marido e mulher. Chiquinha nunca assumiu de fato seu romance, tendo sido descoberto após a sua morte, através de cartas e fotos do casal. Ela morreu ao lado de João Batista Lage, seu grande amigo, parceiro e fiel companheiro, seu grande amor, em 1935, quando começava o Carnaval.

Carreira

A necessidade de adaptar o som do piano ao gosto popular valeu a glória de tornar-se a primeira compositora popular do Brasil. O sucesso começou em 1877, com a polca "Atraente". A partir da repercussão de sua primeira composição impressa, resolveu lançar-se no teatro de variedades e revista. Estreou compondo a trilha da opereta de costumes "A Corte na Roça", de 1885. Em 1911, estreia seu maior sucesso no teatro, a opereta "Forrobodó", que chegou a 1500 apresentações seguidas após a estreia - até hoje o maior desempenho de uma peça deste gênero no Brasil.

Em 1934, aos 87 anos, escreveu sua última composição, a partitura da peça "Maria". Foi criadora da célebre partitura da opereta "A Jurity", de Viriato Correia.

Por volta de 1900 conhece a irreverente artista Nair de Tefé von Hoonholtz, a primeira caricaturista mulher do mundo, uma moça boêmia, embora de família nobre, da qual se torna grande amiga. Chiquinha viaja pela Europa entre 1902 e 1910, tornando-se especialmente conhecida em Portugal, onde escreve músicas para diversos autores. Logo após o seu retorno do continente europeu, sua amiga Nair de Tefé casa-se com o então presidente da República Hermes da Fonseca, tornando-se primeira-dama do Brasil.

Chiquinha é convidada pela amiga para alguns saraus no Palácio do Catete, a então morada presidencial, mesmo sob a contrariedade notavelmente imposta pela família de Nair.

Certa vez, em 1914, num recital de lançamento do "Corta Jaca", no palácio presidencial, a própria primeira-dama do país, Nair de Tefé von Hoonholtz, acompanhou Chiquinha no violão, e empunhou o instrumento, tocando um Maxixe composto pela maestrina. O que foi considerado um escândalo para a época. Foram feitas críticas ao governo e retumbantes comentários sobre os "escândalos" no palácio, pela promoção e divulgação de músicas cujas origens estavam nas danças vulgares, segundo a concepção da elite social aristocrática. Levar para o Palácio do Governo a música popular brasileira foi considerado, na época, uma quebra de protocolo, causando polêmica nas altas esferas da sociedade e entre políticos.

Após o término do mandato presidencial, Hermes da Fonseca e Nair de Tefé mudaram-se para a França, onde permaneceram por um bom tempo. Em decorrência desse afastamento, Chiquinha e Nair acabam por perder contato.

Chiquinha participou ativamente da campanha abolicionista, por conta da revolta que sentia por seus ancestrais maternos terem sido escravos e sofrido muito, e da proclamação da república do Brasil. Também foi a fundadora da Sociedade Brasileira de Autores Teatrais. Ao todo, compôs músicas para 77 peças teatrais, tendo sido autora de cerca de duas mil composições em gêneros variados: Valsas, Polcas, Tangos, Lundus, Maxixes, Fados, Quadrilhas, Muzurcas, Choros e Serenatas.

Representações na Cultura

Chiquinha Gonzaga já foi retratada como personagem no cinema e na televisão. Dirigida por Jayme Monjardim, na minissérie Chiquinha Gonzaga (1999), na TV Globo, foi interpretada por Regina Duarte e Gabriela Duarte. No cinema, foi interpretada por Bete Mendes, no filme "Brasília 18%" (2006), dirigido por Nelson Pereira dos Santos, e por Malu Galli, no filme "O Xangô de Baker Street", baseado no livro homônimo de Jô Soares.

A compositora também foi homenageada no carnaval carioca, no ano de 1985, com o enredo Abram alas que eu quero passar pela escola de samba Mamgueira, que obteve a sétima colocação. E em 1997, com enredo "Eu Sou Da Lira, Não Posso Negar..." pela Imperatriz Leopoldinense. A atriz Rosamaria Murtinho, que vivia a artista no teatro, representou-a no desfile, a escola obteve a sexta colocação.

Fonte: Wikipédia

Francisco Dantas

FRANCISKUS VLADISLOVAS CEPUKAITIS
(88 anos)
Ator

☼ Kaunas, Lituânia (18/09/1911)
┼ Rio de Janeiro, RJ (29/08/2000)

Franciskus Vladislovas Cepukaitis, conhecido como Francisco Dantas, foi um ator, nascido em Kaunas, Lituânia, no dia 18/09/191, e radicado no Brasil.

Francisco Dantas, veio para o Brasil em 1926 aos 15 anos de idade. Antes de seguir a carreira artística, trabalhou como agricultor e vaqueiro.

Francisco Dantas possui mais de 50 filmes e dezenas novelas em seu currículo. Iniciou sua carreira teatral na Companhia de Teatro Zaira Médice. Participou da montagem de inúmeras peças teatrais entre as quais citamos "My Fair Lady", "Um Violinista no Telhado", "Tango", dentre várias outras.

Trabalhou ao lado de grandes nomes do teatro brasileiro como Paulo Autran, Bibi Ferreira, Procópio Ferreira, Tereza Raquel e muitos outros nomes.

No final da década de 50, Francisco Dantas estreou no cinema e participou de dezenas de filmes da época áurea das produtoras Atlântida e Vera Cruz, como "Carnaval no Fogo" (1949), "Dona Xepa" (1956), com Odete Lara"Fuzileiro do Amor" (1956), ao lado de Mazzaropi, e "A Viúva Valentina" (1960), com Dercy Gonçalves.

Em 1976, interpretou o Drº Argemiro no filme "Dona Flor e Seus Dois Maridos" e, durante a década de 70, atuou na série de filmes dos Trapalhões.

Em 1975, entrou na TV Globo, em que atuou em "Gabriela" (1975), "Escrava Isaura" (1976), "Selva de Pedra" (1986), "Água Viva" (1980), "Top Model" (1989), "Memorial de Maria Moura" (1994), entre outras obras.

O último trabalho de Francisco Dantas foi na minissérie "Memorial de Maria Moura" (1994). O ator também trabalhou nos programas "Os Trapalhões" e "Chico Anysio Show".

Nos anos de 1992 e 1995 Francisco Dantas sofreu cirurgia de próstata e desde então estava afastado da televisão devido ao seu frágil estado de saúde.

Francisco Dantas faleceu aos 89 anos, no dia 29/08/2000, aos 88 anos, no Rio de Janeiro, RJ.

Francisco Dantas, Ivan de Albuquerque, Fernando Torres, Fernanda Montenegro, Francisco Dantas e Carmem Silva em "Assunto de Família", 1980 - Teatro.
Cinema

  • 1979 - O Cinderelo Trapalhão
  • 1977 - Ódio
  • 1976 - Dona Flor e Seus Dois Maridos
  • 1975 - As Loucuras de um Sedutor
  • 1974 - Robin Hood, o Trapalhão da Floresta
  • 1973 - Salve-se Quem Puder
  • 1973 - Aladim e a Lâmpada Maravilhosa
  • 1971 - Uma Pantera em Minha Cama
  • 1971 - Como Ganhar na Loteria Sem Perder a Esportiva
  • 1970 - Pais Quadrados... Filhos Avançados
  • 1970 - Em Família
  • 1970 - Marcelo Zona Sul
  • 1968 - Massacre no Supermercado
  • 1962 - Socia de Alcoba
  • 1962 - Assassinato em Copacabana
  • 1960 - A Viúva Valentina
  • 1960 - O Viúvo Alegre
  • 1960 - Sai Dessa, Recruta
  • 1960 - Esse Rio Que eu Amo
  • 1959 - Maria 38
  • 1959 - Mujeres de Fuego
  • 1959 - Dona Xepa
  • 1959 - Quem Roubou Meu Samba?
  • 1959 - Eu Sou o Tal
  • 1958 - O Noivo da Girafa
  • 1957 - Metido a Bacana
  • 1957 - A Baronesa Transviada
  • 1957 - Pega Ladrão
  • 1957 - Boca de Ouro
  • 1956 - Fuzileiro do Amor
  • 1956 - Quem Sabe, Sabe!
  • 1952 - Barnabé Tu És Meu
  • 1952 - Destino
  • 1951 - Aí Vem o Barão
  • 1949 - Carnaval no Fogo
  • 1944 - Romance de um Nordedor

Eloisa Mafalda Francisco Dantas
Televisão

  • 1994 - Memorial de Maria Moura
  • 1993 - Agosto
  • 1993 - Você Decide (Episódio "Máscara Negra")
  • 1991 - Felicidade
  • 1991 - O Fantasma da Ópera
  • 1990 - Fronteiras do Desconhecido
  • 1989 - República
  • 1988 - Olho Por Olho ... Xerém
  • 1986 - Selva de Pedra ... Perez
  • 1986 - Hipertensão ... Américo
  • 1983 - Caso Verdade, Vida Nova ... Pietro
  • 1980 - Coração Alado ... Tião Galinha
  • 1980 - Água Viva ... Marciano
  • 1979 - Cabocla ... Delegado André
  • 1979 - Feijão Maravilha ... Horácio
  • 1978 - A Sucessora ... Moretti
  • 1978 - Dancin' Days
  • 1978 - O Pulo do Gato ... Horácio
  • 1977 - Dona Xepa ... Alamiro
  • 1976 - Escrava Isaura ... Mattoso
  • 1976 - Saramandaia ... Padre Romeu
  • 1975 - Gabriela ... Coronel Jesuíno Guedes Mendonça
  • 1974 - Supermanoela ... Donato
  • 1972 - Selva de Pedra ... Neves
  • 1972 - História de Subúrbio
  • 1970 - Irmãos Coragem ... Dr. Paulo

Fonte: Wikipédia