Tia Ciata

HILÁRIA BATISTA DE ALMEIDA
(70 anos)
Cozinheira e Mãe de Santo

* Santo Amaro da Purificação, BA (11/01/1854)
+ Rio de Janeiro, RJ (11/04/1924)

Hilária Batista de Almeida, conhecida como Tia Ciata, foi uma cozinheira e mãe de santo brasileira. Foi a mais famosa de todos as baianas, a mais influente, relembrada em todos os relatos do surgimento do samba carioca e dos ranchos, onde seu nome aparece gravado SiataCiata ou Assiata. Foi iniciada no candomblé em Salvador por Bangboshê Obitikô, era filha de Oxum. No Rio de Janeiro era Iyakekerê na casa de João Alabá

Seu nome, afirmado por seus descendentes e que figura nos livros que se referem à baiana, quando escrito por extenso, é Hilária Batista de Almeida. Entretanto, no seu atestado de óbito, está como Hilária Pereira de Almeida, e numa petição para sócio do Clube Municipal encaminhada por seu filho João Paulo em 1949, este escreve o nome da mãe como Hilária Pereira Ernesto da Silva. Dúvidas documentais sem maior importância.

Também ficou marcada como uma das principais animadoras da cultura negra nas nascentes favelas cariocas. Ela era a dona de uma casa onde se reuniam sambistas e onde foi criado "Pelo Telefone", o primeiro samba gravado em disco, assinado por Donga e Mauro de Almeida, na voz do cantor Bahiano, nascido também em Santo Amaro da Purificação.

Tia Ciata nasceu em Santo Amaro da Purificação em 13/01/1854. Foi a mais famosa das tias baianas, que eram na maioria Iyalorixás do candomblé que deixaram Salvador por causa das perseguições policiais, do início do século. Eram negras baianas que foram para o Rio de Janeiro especialmente na última década do século XIX e na primeira do século XX para morar na região da Cidade Nova, do Catumbi, Gamboa, Santo Cristo e arredores.

Em 1876, com 22 anos, chegou ao Rio de Janeiro, indo morar inicialmente na Rua General Câmara. Tempos depois, se mudou por conveniência para as vizinhanças de um dos líderes da colônia baiana no Rio de Janeiro, Miguel Pequeno, marido de Dona Amélia do Kitundi, na Rua da Alfândega, 304. Com 22 anos, Tia Ciata trouxe o Samba de Roda para o Rio de Janeiro.

Tia Ciata e Tia Josefa
Logo na chegada ao Rio de Janeiro, conheceu Noberto da Rocha Guimarães com o qual se envolveu e acabou ficando grávida de sua primeira filha, lhe dando o nome de Isabel. O caso dos dois não foi adiante. Ela acabou se separando de Noberto e, para sustentar a filha, começou a trabalhar como quituteira na Rua Sete de Setembro, sempre paramentada com suas vestes de baiana. Era na comida que ela expressava suas convicções religiosas, ou seja, a sua fé no candomblé, religião proibida e perseguida naqueles tempos. Ia para o ponto de venda com sua roupa de baiana uma saia rodada e bem engomada, turbante e diversos colares (guias ou fio-de-contas) e pulseiras sempre na cor do orixá que iria homenagear. O tabuleiro era famoso e farto, repleto de bolos e manjares que faziam a alegria dos transeuntes de todas as classes sociais.

Mais tarde, Tia Ciata casou-se com João Batista da Silva, que para aquela época era um negro bem-sucedido na vida. Deste casamento resultaram 14 filhos, uma relação fundamental para a sua afirmação na Pequena África, como era conhecida a área da Praça Onze nesta época.

Recebia todos os finais de semana em sua casa, nos pagodes, que eram festas dançantes, regadas a música da melhor qualidade e claro seus quitutes. Partideira reconhecida, cantava com autoridade respondendo aos refrões das festas, que se arrastavam por dias. Tia Ciata cuidava para que a comida estivesse sempre quente e saborosa e o samba nunca parasse.

Foi em sua casa que se reuniram os maiores compositores e malandros, como Donga, Sinhô e João da Baiana, para saraus. A hospitalidade dessas baianas fornecia a base para que os compositores pudessem desenvolver no Rio de Janeiro. A casa da Tia Ciata na Praça Onze era tradicional ponto de encontro de personagens do samba carioca, tanto que nos primeiros anos de desfile das escolas de samba, era "obrigatório" passar diante de sua casa.

Normalmente, a polícia perseguia estes encontros, mas Tia Ciata era famosa por seu lado curandeiro e foi justamente um investigador e chofer de polícia, conhecido como Bispo que proporcionou a ela uma interessante história envolvendo o presidente da República, Wenceslau Brás. O presidente estava adoentado em virtude de uma ferida na perna que os médicos não conseguiam curar e este investigador então disse ao presidente que Tia Ciata poderia curá-lo. Feito isto, foi falar com ela, dizendo:


- Ele é um homem, um senhor do bem. Ele é o criador desse negócio da Lei de um dia não trabalha...

E ela respondeu:

- Quem precisa de caridade que venha cá!

Ela então incorporou um Orixá que disse aos presentes haver cura para a tal ferida e recomendou a Wenceslau Brás que fizesse uma pasta feita de ervas que deveria ser colocada por três dias seguidos. O presidente ficou bom e em troca ofereceu a realização de qualquer pedido. Tia Ciata respondeu que não precisava de nada, mas que seu marido sim, pedindo para o presidente um trabalho no serviço público, "pois minha família é numerosa", explicou ela.

Além dos doces, Tia Ciata alugava as roupas de baiana para os teatros, para que fossem usados como figurinos de peça e para o Carnaval dos clubes. Nesta época, mesmo os homens, se vestiam com as suas fantasias, se divertindo nos blocos de rua. Com este comércio, muita gente da Zona Sul da cidade, da alta sociedade, ia à casa da baiana e passando assim a frequentar as suas festas. Era nessas festas que Tia Ciata passou a dar consultas com seus Orixás. Sua casa é uma referência na história do samba, do candomblé e da cidade.

Em 1910, morreu seu marido João Batista da Silva, mas ela já havia conquistado o seu lugar de estrela no universo do samba carioca. Era respeitada na cidade, coisa de cidadão, muito longe da realidade comum dos negros de sua época.

Todo o ano, durante o Carnaval, armava uma barraca na Praça Onze, reunindo desde trabalhadores até a fina flor da malandragem. Na barraca eram lançadas as músicas, as conhecidas marchinhas, que ficariam famosas no Carnaval do Rio de Janeiro.

Tia Ciata morreu no Rio de Janeiro, em 1924, aos 70 anos, mas até hoje é parte fundamental da memória do samba. Curiosamente, existem pouquíssimas imagens de dela.

Michel Laurence

MICHEL LAURENCE
(76 anos)
Jornalista

* Marselha, França (05/09/1938)
+ São Paulo, SP (25/10/2014)

Michel Laurence foi um jornalista franco-brasileiro e uma das mais conhecidas personalidades do jornalismo esportivo do país, filho de Samuel Laurence, ex-editor de esportes do jornal Última Hora. Apesar de ter nascido em Marselha, na França, tornou-se conhecido no Brasil pelo seu trabalho com o jornalismo.

Em 1969, trabalhando na Edição de Esportes, suplemento semanal esportivo de O Estado, conquistou um Prêmio Esso de Jornalismo, concedido a ele e a José Maria de Aquino, com o artigo "O Jogador é Um Escravo".

Um dos fundadores da revista Placar, foi o criador, ao lado do fotógrafo Manoel Motta, do Troféu Bola de Prata, dado anualmente pela revista aos melhores jogadores do Campeonato Nacional desde 1970. Ainda naquele ano, assinou junto com Narciso James uma série de reportagens chamada "A Falência Dos Cartolas", em que eram propostas diversas mudanças no futebol brasileiro, inclusive a criação de um campeonato verdadeiramente nacional, o que ocorreria em 1971.


Deixou a revista Placar após a Copa do Mundo de 1974, voltando ao jornal O Estado de S. Paulo, onde já tinha trabalhado antes de ir para a Editora Abril. Trabalhou ainda nos jornais Última Hora, onde começou a carreira, e Jornal do Brasil.

Na televisão, teve passagens pela TV Globo, TV Record, TV Bandeirantes, Rede Manchete e TV Cultura. Nesta última foi um dos idealizadores dos programas "Cartão Verde" e "Grandes Momentos do Esporte".

Michel Laurence teve textos publicados em 2010 em dois livros, "Pelé 70" e "11 Gols de Placa", este último com a reprodução de "O Jogador é Um Escravo".

Michel Laurence era casado e pai de seis filhos. Dentre eles estão Bruno Laurence, da TV Globo, e Gerard Laurence, do Canal Combate. Era irmão da atriz Jacqueline Laurence 

Atualmente Michel Laurence estava trabalhando na TV Cultura.

Morte

Michael Laurence morreu aos 76 anos, na noite de sábado, 25/10/2014. Ele estava internado no Hospital São Camilo, em São Paulo, e faleceu devido a uma septicemia - infecção generalizada - após passar por uma cirurgia no braço.

Michael Laurence estava internado no hospital desde o dia 15/10/2014 para realizar a cirurgia, causada por uma queda.