Ernesto Paulelli

ERNESTO PAULELLI
(99 anos)
Violonista e Advogado

* (1914)
+ São Paulo, SP (26/02/2014)

O cantor e compositor brasileiro Adoniran Barbosa passou anos espalhando por ai que o "Arnesto o convidou para um samba no Brás, mas quando ele chegou lá, não encontrou ninguém e ficou com uma baita de uma réiva". Essa é a história narrada no clássico "Samba do Arnesto" de 1953.

Pois é, acontece que o caso não foi bem assim, e o pobre do Arnesto ainda levou a fama por dar um bolo no compositor. Pedimos licença para recontar essa história, mesmo que a versão de Adoniran seja, de longe, muito mais emocionante.

O Arnesto Nos Convidou

Pra começo de conversa, o Arnesto na verdade se chama Ernesto Paulelli. Mas não adiantou repetir "meu nome é Ernesto!", já que Adoniran Barbosa preferia chamá-lo por um nome que "desse samba".

Aliás, Ernesto Paulelli não convidou ninguém para samba nenhum: ele e Adoniran Barbosa se conheceram em 1938, quando se encontraram na Rádio Record, onde Ernesto Paulelli ia se apresentar ao lado da cantora Nhá Zefa. Trocaram cartões e ele disse: "Arnesto Paulelli". Eu o corrigi e disse que o nome certo era Ernesto. Mas ele insistiu: "Pois, a partir de hoje, você será Arnesto. E tem mais: vou lhe fazer um samba! Aduvida?".

Arnesto, ou melhor, Ernesto Paulelli, não duvidou, mas só foi ouvir o samba em sua homenagem em 1955, 17 anos após o encontro entre ele e o maior nome do samba paulistano.

Adoniran Barbosa e Arnesto, ele não liga mais que troquem seu nome, foram amigos até a morte do sambista em 1982. Como lembrança, o advogado aposentado da Moóca guarda a amizade e uma partitura do "Samba do Arnesto" com a dedicatória do compositor.

Ele Mora no Brás

Na verdade, ele morava na Mooca, bairro da zona leste paulistana, há mais de cinquenta anos. Mas até os anos 1940, época em que conheceu Adoniran BarbosaErnesto Paulelli morava mesmo no Brás. O fato é: Se não tinha samba no Brás, nem na Mooca, já que o Arnesto não tinha convidado ninguém.

Ernesto Paulelli disse que certa ocasião foi conversar com o Adoniran Barbosa e perguntar que história era aquela de dar um bolo nele. Com aquela voz rouca ele me respondeu: "Arnesto, se não tem bolo não tem samba!".

Da Outra Vez, Nóis Não Vai Mais

Esse fardo Ernesto Paulelli teve que carregar a vida toda. Até o fim de sua vida ele ainda levava a fama de "furão". O compositor se justificou, uma vez, quando encontrou Arnesto, depois que a música já fazia sucesso "É que sem mancada não tem samba!"Ernesto Paulelli ganhou de presente as partituras originais de quando seu amigo compôs o samba que o "rebatizou".

Para a nossa sorte - e do Arnesto também - o nome realmente deu um samba. Em todo caso, da próxima vez, pra evitar a "réiva" é melhor "ponhar" um recado na porta "assinado em cruz, porque não sei escrever".

Arnesto Fala do Saudoso Adoniran Barbosa

O telefone toca na casa da Rua Tagi, no bairro paulistano da Mooca, e quem atende passa a ligação, depois de saber do que se trata, para Ernesto Paulelli. Aos 95 anos, ele começa a conversar em tom festivo: "Você quer fazer uma entrevistinha? É um grande júbilo falar, atender à imprensa". Quase ninguém sabe que Ernesto Paulelli é, na realidade, "Arnesto", nome pelo qual ficou conhecido depois que Adoniran Barbosa lhe dedicou uma de suas principais criações, o "Samba do Arnesto".

O Mais Cruzeiro soube da história a partir de uma sugestão de pauta postada no site do jornal por Claudinei Paulelli, sobrinho de Ernesto Paulelli. Ele que mora em Campinas, SP, procurava na internet informações para um trabalho que desenvolve e leu na versão on line do jornal, reportagem sobre o show "Seu Rosa e Seu Barbosa", que o produtor Carlos Madia realizou no Campolim no mês de abril, para homenagear o centenário de nascimento de Adoniran Barbosa e de Noel Rosa.

Foi o que bastou para Claudinei avisar o jornal de que o tio poderia ser entrevistado. "Ele está muito bem e pode contar histórias interessantes", mencionou depois. O internauta tinha mais do que razão. Seu Ernesto Paulelli é uma figura. Carismático e dono de uma memória prodigiosa, relatou detalhes do encontro que resultou numa das mais importantes composições da música popular brasileira da década de 50.

Ernesto Paulelli e Adoniran Barbosa, porém, se conheceram no final dos anos 30. Para ser preciso, ele lembra, em 1938. Então vendedor de uma fábrica de cera, a Recorde (com "e" no final mesmo), Ernesto Paulelli era, também, músico. Frequentava rodas de samba, acompanhava artistas em apresentações nas rádios. Numa dessas ocasiões, na Rádio Record, foi apresentado ao compositor. Adoniran Barbosa, conforme Ernesto Paulelli, era, àquela altura, "relativamente famoso", mas sempre se mostrou despachado, brincalhão e irreverente.

Assim que o avistou, pediu um cigarro. Ernesto Paulelli não fumava. "Então, me dá seu cartão"Adoniran Barbosa recebeu o cartão do recém-conhecido, e disse que não lhe daria o seu porque simplesmente não tinha. Nunca teve, na verdade. Ao ler o nome impresso, comentou: "Então você é o Arnesto?". Ernesto Paulelli o corrigiu: " Não, sou Ernesto. Com E"Adoniran Barbosa emendou: "Pois, a partir de hoje, você será Arnesto. E tem mais: vou lhe fazer um samba! Aduvida?". "Fiquei lisonjeado com o gesto. Ganhei, ali, naquele dia, um irmão", contou Ernesto Paulelli.

O tempo passou, os dois não se encontraram mais, até que, em 1955, 17 anos depois, Ernesto Paulelli e a mulher ouviram, na Rádio Bandeirantes, o locutor anunciar:

" - Vamos ouvir, agora, com Os Demônios da Garoa, o Samba do Arnesto."

Ernesto Paulelli gritou para a esposa:

"- Alice! Essa peteca é minha! Esse samba é meu!"

Dona Alice não entendeu a princípio, mas ouviu com o marido a canção que tocava. Ao final, os dois, abraçados, choraram de emoção pela homenagem. Ernesto Paulelli disse que nunca "aduvidou" de que Adoniran Barbosa cumpriria a promessa.

O "Samba do Arnesto" foi um dos grandes sucessos daquela fase, mas também deu a seu Ernesto Paulelli a fama de "furão". Para quem não se lembra, a música fala de um sujeito que convida os amigos para uma festa e não aparece. São muitas as versões que tentam explicar como surgiu a composição. Adoniran Barbosa, em depoimento a um programa da TV Cultura, explicou que Arnesto teria sido, na verdade, irmão de Nicola Caporrino, seu parceiro que assinava "Alocin". Conhecido por inventar histórias, Adoniran Barbosa não foi exatamente fiel aos fatos nesse caso. Foi o próprio Nicola Caporrino quem esclareceu o mal entendido, segundo o pesquisador Celso de Campos Júnior, autor da biografia do autor de "Trem das Onze".

Consta que, em meados dos anos 50, Adoniran Barbosa costumava passar os feriados ou fins de semana com amigos no Guarujá. Nicola Caporrino o acompanhava nestas viagens, até o momento em que, por apertos financeiros, deixou de ir. Numa tarde de sexta-feira, Adoniran Barbosa foi até a casa do amigo, acompanhado de seu cachorro PetelecoNicola Caporrino pediu à mulher que dissesse que não estava, e escondeu-se no quarto. O cachorrinho, porém, localizou o fujão que acabou viajando. Já na praia, depois de umas e outras, Adoniran Barbosa sugeriu ao amigo que não mentisse, apenas "deixasse um recado na porta"Nicola Caporrino devolveu: "Isso dá samba!". E deu mesmo. Adoniran Barbosa lembrou-se da promessa feita há muito tempo ao amigo que conheceu na Rádio Record e compôs a canção.

Em 1957, novamente nos corredores da Rádio Record, Ernesto Paulelli se preparava para acompanhar um artista quando viu Adoniran Barbosa. "Te fiz o samba. Você gostou?", perguntou Adoniran BarbosaErnesto Paulelli, claro, falou da alegria de ter sido homenageado, mas disse que ficou "numa situação embaraçosa" por conta da mancada de que a música falava. Adoniran Barbosa soltou, então, outra de suas pérolas: "Arnesto, se não tivesse mancada, não saía samba!".

Os dois se tornaram, então, compadres, no dizer de Adoniran Barbosa. Para selar de vez a amizade, Adoniran Barbosa entregou a seu Ernesto Paulelli a partitura com a música, que autografou. Ele guardou a relíquia até fim da vida.

Ernesto Paulelli só voltaria a saber do amigo, quando ele passava por problemas de saúde. "Estava muito doente e internado no Hospital São Luís, na região da Brigadeiro Luiz Antonio. Fiquei sabendo, depois, que ele morreu. Uma grande e irreparável perda".

No centenário de nascimento de Adoniran Barbosa, Ernesto Paulelli, que estava muito perto de completar 100 anos, foi o centro das atenções. Procurado por jornais, contou inúmeras vezes como foi o seu encontro com o compositor. Na "Virada Cultural", embarcou no "Trem das Onze" junto com outros artistas, entre os quais o grupo Trovadores Urbanos, que cantaram temas de Adoniran Barbosa.

Morte

Ernesto Paulelli sofreu uma fratura de fêmur na sexta-feira, 21/02/2014, foi internado e operado. Na quarta-feira, 26/02/2014, após ter recebido alta da UTI, teve uma parada cardiorrespiratória e não resistiu. O velório foi realizado após às 19:30 hs. do dia 26/02/2014, no Cemitério do Araçá, em São Paulo.

No Facebook, familiares de Ernesto Paulelli lamentaram a morte: "É com grande pesar que comunico a perda do nosso querido Arnesto do Samba. Nosso grande mestre, pai, avô e bisavô. Descanse em paz, vô.", publicou Neto Paulelli.

Indicação: Miguel Sampaio

Rosana Toledo

MARIA DA CONCEIÇÃO TOLEDO
(79 anos)
Cantora

* Belo Horizonte, MG (29/09/1934)
+ Rio de Janeiro, RJ (09/02/2014)

Começou a cantar no ano de 1938, aos quatro anos de idade, no orfanato de São João Batista em Belo Horizonte, MG. No ano seguinte, transferiu-se para o Colégio Nossa Senhora do Monte Calvário, participando de todas as apresentações musicais realizadas nas festas da escola.

Seu começo na carreira artística aconteceu em 1947, ao lado da irmã e também cantora Maria Helena Toledo. Fizeram o primeiro teste artístico na Rádio Guarani. Apresentaram-se no programa "Gurilândia" com o nome de Irmãs Toledo, defendendo a música "Beijinho Doce" (Nhô Pai), conhecida criação das Irmãs Castro, de São Paulo. Consagraram-se depois na audição da "Hora da Corneta", animada por Valdomiro Lobo. A dupla atuou no cenário artístico até 1951, voltando a se reunir oito anos depois, apresentando-se na TV Itacolomi.

Em 1955, deu início à sua carreira solo, apresentando-se na Rádio Mineira. Foi escolhida como melhor cantora por um júri de diretores artísticos mineiros. No ano seguinte, recebeu o título de "Rainha do Rádio de Belo Horizonte". Participou da programação musical da TV Itacolomi e da TV Tupi, no Rio de Janeiro.


Em 1957, foi contratada pela gravadora Polydor, onde gravou seu primeiro 78 rpm com a valsa "Chove Lá Fora" (Tito Madi) e o bolero "Faça De Conta" (Fernando César) com acompanhamento da orquestra de Enrico Simoneti. Voltou a Belo Horizonte, onde recebeu o prêmio de "Melhor Estrela da Televisão Mineira". Assinando contrato com a gravadora Odeon, gravou o LP "A Voz Acariciante De Rosana", com destaque para "Sonata Sem Luar" (Fred Chateaubriand e Vinícius Carvalho), apresentando-se nas principais cidades brasileiras.

Em 1960, gravou "Samba Triste" (Baden Powell e Billy Blanco) e "Canção Que Morre No Ar" (Carlos Lyra e Ronaldo Bôscoli). No ano seguinte, foi para a RCA Victor e gravou o samba "Maldade", o samba-canção "Eu e Tu" (Jair Amorim e Evaldo Gouveia), o samba-canção "Saudadezinha" (Hianto de Almeida e Macedo Neto) e o samba "Saudade Vem Correndo" (Maria Helena Toledo e Luiz Bonfá).

Embora atuando como cantora do samba-canção, foi muito solicitada nessa época a participar de espetáculos ligados a bossa-nova, em clubes e boates do eixo Rio-São Paulo.


Em 1962, ingressou na gravadora RGE e gravou o bolero "E A Vida Continua" (Evaldo Gouveia e Jair Amorim) e o samba-canção "Dá-me Tuas Mãos" (Erasmo Silva e Jorge de Castro). Em seguida, lançou o LP "Rosana... A Voz Do Amor", incluindo "Tudo De Mim" (Evaldo Gouveia e Jair Amorim), "Samba Em Prelúdio" (Vinícius de Moraes e Baden Powell) e "Segredo" (Herivelto Martins e Marinho Pinto).

Em 1963 gravou o LP "... E A Vida Continua", destacando-se a faixa título de Jair Amorim e Evaldo Gouveia e "Não Me Diga Adeus" (Paquito, Luís Soberano e João Correia da Silva). Ainda em 1963, lançou o LP "Sorriso E Lágrima", com "Eu E Tu" (Evaldo Gouveia e Jair Amorim), "Se Houver Você" (Fred Chateaubriand e Vinícius Carvalho) e "Tristeza De Nós Dois" (Durval Ferreira, Bebeto e Maurício Einhorn), entre outras. Gravou ainda em 78 rpm o samba-canção "Segredo" (Herivelto Martins e Marino Pinto).

Em 1965, gravou o LP "Momento Novo", com "Inútil Paisagem" (Tom Jobim e Aloysio de Oliveira), "Momento Novo" (Luiz Bonfá e Maria Helena Toledo) e "Só Tinha De Ser Com Você" (Tom Jobim e Aloysio de Oliveira).

Em 1975, participou da série de programas de rádio "MPB 100 Ao vivo", transmitida para todo o Brasil pelo Projeto Minerva, pela Rede Nacional de Emissoras, produzida e apresentada por Ricardo Cravo Albin. Dessa série resultaram oito LPs de igual título.

Rosana Toledo e Rodrigo Santoro no calendário do Retiro dos Artistas
Em 1976, estrelou, juntamente com o compositor Cartola, o espetáculo "O Sol Nascerá", apresentado no IBAM no Rio de Janeiro, com direção e apresentação de Ricardo Cravo Albin, show que narrava a história da Música Popular Brasileira nos anos 60 e 70. Para o lançamento da série de oito LPs, participou de dois shows em 1976, o primeiro no Museu de Arte Moderna (MAM) do Rio de Janeiro e o segundo no Teatro Guaíra de Curitiba, ambos apresentados pelo produtor Ricardo Cravo Albin quando um grande elenco se revezava para apresentar em duas horas a história da MPB em suas diversas décadas.

Em 2011, foi lançado pelo selo Discobertas em convênio com o Instituto Cultural Cravo Albin (ICCA), a caixa "100 Anos De Música Popular Brasileira" com a reedição em 4 CDs duplos dos oito LPs lançados com as gravações dos programas realizados pelo radialista e produtor Ricardo Cravo Albin na Rádio MEC em 1974 e 1975. No volume 6 estão incluídas suas interpretações para o samba "Canto De Ossanha" (Baden Powell e Vinícius de Moraes), "Travessia" (Milton Nascimento e Fernando Brant), "Esse Cara" (Caetano Veloso), "Roda" (Gilberto Gil e João Augusto), "Preciso Aprender A Ser Só" (Gilberto Gil), e os duetos com Pery Ribeiro nas músicas "Mais Que Nada", "País Tropical" e "Fio Maravilha", as três de Jorge Benjor, então ainda chamado de Jorge Ben. No mesmo ano, foi tema de ampla reportagem da revista Carioquice, uma publicação trimestral do Instituto Cultural Cravo Albin, na qual foram registrados fatos de sua vida e carreira desde o começo em Belo Horizonte, passando por sua participação na bossa nova até seu recente recolhimento no Retiro dos Artistas.

A partir de 2001, Rosana Toledo passou a morar no Retiro dos Artistas, de onde saia eventualmente para shows e eventos promovidos pela entidade.

Rosana Toledo morreu no domingo, dia 09/02/2014, no Retiro dos Artistas, no Rio de Janeiro, vitima de um câncer pulmonar.

Discografia

  • 1965 - Momento Novo (Philips, LP)
  • 1963 - ... E A Vida Continua (RGE, LP)
  • 1963 - Sorriso E Lágrima (RCA Victor, LP)
  • 1963 - Tudo De Mim / Segredo (RGE, 78)
  • 1962 - E A Vida Continua / Dá-me Tuas Mãos (RGE, 78)
  • 1962 - Porque Fui Te Encontrar / Palmatória Do Mundo (RGE, 78)
  • 1962 - Rosana... A Voz Do Amor (RGE, LP)
  • 1961 - Maldade / Saudadezinha (RCA Victor, 78)
  • 1961 - Eu E Tu / Saudade Vem Correndo (RCA Victor, 78)
  • 1961 - Quando Existe Adeus / Tristeza De Nós Dois (RCA Victor, 78)
  • 1960 - Samba Triste / Canção Que Morre No Ar (Odeon, 78)
  • 1960 - Sonata Sem Luar / A Canção É Você (Odeon, 78)
  • 1960 - Foi Sem Querer / Chuva No Telhado (Odeon, 78)
  • 1960 - Rosana É O Seu Nome (Odeon, LP)
  • 1959 - A Voz Acariciante De Rosana (Odeon, LP)
  • 1957 - Chove Lá Fora / Faz De Conta (Polydor, 78)

Jorge Cury

JORGE CURY
(65 anos)
Radialista e Locutor Esportivo

* Caxambu, MG (25/02/1920)
+ Caxambu, MG (23/12/1985)

Jorge Cury foi radialista e locutor esportivo brasileiro. Filho do comerciante José Kalil Cury e de Maria Cury, teve oito irmãos, entre os quais, o cantor, compositor e humorista Ivon Curi e o também radialista Alberto Cury.

Iniciou sua carreira numa emissora local de sua cidade natal, Caxambu, MG, em 1942. No ano seguinte, teve a chance de fazer um teste para a Rádio Nacional, onde, aprovado, permaneceu até 1972, quando se transferiu para a Rádio Globo.

Jorge Cury foi um dos maiores locutores de seu tempo, ao lado de Oduvaldo Cozzi, Waldir Amaral e Doalcey Bueno de Camargo. Além de locutor esportivo, também conduziu o programa dominical de calouros "A Hora do Pato".

Jorge Cury narrou nove copas do mundo e as primeiras corridas de Emerson Fittipaldi.

Em 1984 foi demitido da Rádio Globo e no final da última partida, entre Vasco X Botafogo, que narrou na rádio, fez uma despedida e um desabafo contra os dois diretores que o demitiram, Paulo Cesar Ferreira e Jorge Guilherme, sendo substituído por Washington Rodrigues e José Carlos Araújo. Em seu desabafo ele disse abertamente ter sido "tocaiado" por esses diretores citando o título de uma obra de Jorge Amado.

Jorge Curi e Waldir Amaral
Seus bordões principais foram:
  • "Passa de passagem", é golaço!!!"
  • "É a última volta do ponteiro!"
  • "Ultrapassa a linha divisória do gramado!"
  • "Fim de papo!" (Ao final do jogo)

Seus longos gritos de "Gooooooollll" ecoavam por toda a cidade. No Maracanã, nas portarias dos prédios e nos radio de pilha, como marca registrada de uma época.

Jorge Cury morreu vítima de um acidente automobilístico próximo a Caxambu, MG, para onde se dirigia para os festejos de Natal e de Ano Novo do ano de 1985. Pouco antes, ele havia se transferido para a Rádio Tupi.

Fonte: Wikipédia
Indicação: Miguel Sampaio

Arduino Colasanti

ARDUINO COLASANTI
(78 anos)
Ator, Surfista e Mergulhador

* Livorno, Itália (15/02/1936)
+ Rio de Janeiro, RJ (22/02/2014)

Arduino Colasanti foi um ator nascido na itália e radicado no Brasil. Surfista pioneiro, mergulhador experiente e galã de cinema, Arduíno Colasanti foi uma lenda viva do Rio de Janeiro dos anos 60.

A chegada da família ao Brasil ocorreu após a II Guerra Mundial, na qual o patriarca, Manfredo Colasanti, também ator, lutara. Com Arduino que tinha 11 anos à época, veio a irmã, a escritora Marina Colasanti.

No Arpoador, pegou suas primeiras ondas e criou um pranchão confeccionado, de modo inovador, com fibra de vidro e resina. Mas foi a enseada de Jurujuba, colônia de pescadores em Niterói, o seu reduto preferido. De lá, saía de barco para os mergulhos na costa fluminense, que tanto amava.

No currículo de Arduino Colasanti, além do pioneirismo no surf e a experiência com o mergulho, estão a participação em 40 longas-metragens, sendo protagonista em títulos de Nelson Pereira dos Santos, como "El Justicero" (1967), "Fome De Amor" (1968) e, sobretudo, "Como Era Gostoso O Meu Francês" (1971) - neste, ele protagonizou o primeiro nu frontal masculino do cinema brasileiro, vivendo um aventureiro europeu feito refém pelos índios tubinambás na costa brasileira, em 1594.

Arduino Colasanti namorou com as mulheres mais desejadas do Rio de Janeiro da década de 60, entre elas Sônia Braga e Leila Diniz.

Amigo de Brigitte Bardot, Arduino Colasanti também foi com a estrela para Búzios. Um dos símbolos do Cinema Novo, Arduino Colassanti emprestou seu talento e sua beleza para filmes memoráveis, mas foi com Nelson Pereira dos Santos que se eternizou no imaginário da cinefilia.

A partir do final da década de 1970, suas aparições na tela passaram a ser eventuais. Foi quando passou a dedicar-se integralmente aos mergulhos. Chegou a trabalhar para a Petrobras e outras empresas petroleiras, como observador das instalações submarinas de plataformas e equipamentos do setor.


Morte

Arduino Colassanti morreu aos 78 anos vítima de insuficiência respiratória, na tarde de sábado, 22/02/2014, em Niterói, RJ. Segundo informações do Hospital Universitário Antônio Pedro, onde foi internado, ele sofria de insuficiência respiratória. Ele estava internado desde 13/02/2014. O enterro ocorreu no Cemitério Parque da Colina, na mesma cidade.

Arduino Colasanti deixou quatro filhos, Ricardo, Roberto, Rodrigo e Daniela, de cinco casamentos.


Cinema (Ator)

  • 2010 - Naquela Noite Ele Sonhou Com Um Mar Azul ... O Pai
  • 2009 - Insolação ... Homem do Café
  • 2007 - Esconde-Esconde ... Amaro
  • 2004 - Xuxa E O Tesouro Da Cidade Perdida ... Chefe dos Selvagens
  • 2002 - Lara ... Pescador
  • 2002 - Histórias Do Olhar ... Pai
  • 1998 - Bela Donna ... Comandante
  • 1997 - A Ostra E O Vento ... Magari
  • 1993 - Oceano Atlantis
  • 1991 - Nautnews ... Host
  • 1987 - Leila Diniz
  • 1987 - Sonho De Valsa ... Pai de Teresa
  • 1985 - Tropclip
  • 1984 - Quilombo
  • 1984 - Memórias Do Cárcere
  • 1982 - O Homem Do Pau-Brasil ... Líder Religioso
  • 1979 - O Caçador De Esmeraldas ... Borba Gato
  • 1979 - Os Gigantes ... Conde
  • 1978 - Daniel, Capanga De Deus ... Daniel
  • 1974 - Memória De Helena
  • 1973 - Mestiça, A Escrava Indomável ... Feitor
  • 1973 - Os homens Que Eu Tive ... Peter
  • 1973 - Amor, Carnaval E Sonhos ... Tristan / Oxossi
  • 1972 - Quem É Beta?
  • 1971 - Mãos Vazias
  • 1971 - Procura-se Uma Virgem
  • 1971 - Como Era Gostoso O Meu Francês ... O Francês
  • 1970 - Uma Garota Em Maus Lençóis
  • 1970 - Minha Namorada
  • 1970 - Azyllo Muito Louco ... Porfírio
  • 1969 - Brasil Ano 2000 ... Motorista
  • 1968 - A Virgem Prometida
  • 1968 - A Doce Mulher Amada ... Egberto
  • 1968 - Fome De Amor ... Felipe
  • 1967 - El Justicero - Jorge Dias das Neves, El Justicero
  • 1967 - Garota De Ipanema ... Pedro Paulo


Cinema (Outras Participações)

  • 1998 - Bela Donna (Operador de Câmera Submarina)
  • 1970 - Azyllo Muito Louco (Operador de Som)
  • 1967 - Cinema Novo (Filme Para TV Documentário)
  • 1978 - Mulheres De Cinema (Documentário Curto)
  • 1969 - Yndio do Brasil (Documentário)


Indicação: Miguel Sampaio

Mário Travaglini

MÁRIO TRAVAGLINI
(81 anos)
Jogador e Técnico de Futebol

* São Paulo, SP (30/04/1932)
+ São Paulo, SP (20/02/2014)

Mário Travaglini foi um futebolista e treinador de futebol. Foi considerado um dos introdutores da filosofia do futebol moderno no futebol brasileiro, combinando a versatilidade dos esquemas táticos europeus, sobretudo o da Seleção Holandesa de 1974, com o talento dos craques nacionais.

Depois de uma curta carreira como zagueiro, Mário Travaglini começou sua trajetória como técnico no Palmeiras, e não demorou a ter sucesso. Comandando craques como Ademir da Guia e Djalma Santos em uma das equipes que receberia o apelido de "Academia", o treinador conquistou o Campeonato Paulista em 1966, quebrando uma hegemonia do Santos de Pelé, a Taça Brasil de 1967, campeonato oficial do Brasil, que dava o direito de disputar a Copa Libertadores da América, e no mesmo ano, o Torneio Roberto Gomes Pedrosa. Os dois últimos torneios seriam oficializados mais tarde como edições do Campeonato Brasileiro.

Em 1978, foi supervisor técnico de Cláudio Coutinho no comando da Seleção Brasileira que disputou a Copa do Mundo daquele ano, na Argentina.


O técnico treinou o Corinthians entre 1982 e 1983 e foi campeão paulista em seu primeiro ano no clube. Além disso, também acompanhou a gênese do movimento político que ficaria conhecido como "Democracia Corintiana", abraçando a ideia de maior liberdade aos jogadores idealizada por Sócrates. No Parque São Jorge, Mário Travaglini ajudou a revelar Casagrande, dando as primeiras chances ao jovem atacante vindo da base do clube.

De 1983 até 1984, foi treinador do São Paulo, onde foi vice-campeão paulista em 1983, e o time foi muito mal no campeonato brasileiro de 1984. Saiu depois de uma derrota para o Internacional por 2 X 0, na 2ª rodada do Torneio Heleno Nunes. Fez no São Paulo, 64 jogos, com 29 vitórias, 24 empates, e 11 derrotas, para depois voltar a comandar o Palmeiras no campeonato paulista de 1984, obtendo o 4º lugar.

Em 1987, foi treinador do Esporte Clube Vitória. Aposentou-se no início dos anos 90, treinando clubes do interior paulista.

Foi presidente do Sindicato dos Treinadores Profissionais de Futebol de São Paulo e, em 2008, teve lançada sua biografia: "Mário Travaglini - da Academia à Democracia", de Márcio Trevisan e Helvio Borelli.

Mário Travaglini (Foto: Antonio Milena/Estadão)
Rio de Janeiro

O treinador também brilhou no futebol carioca, onde colecionou dois títulos na década de 70. No comando do Vasco da Gama, do atacante Roberto Dinamite, conquistou o Campeonato Brasileiro de 1974. Dois anos mais tarde, venceu o estadual de 1976 pelo Fluminense, uma equipe altamente ofensiva que contava com Rivellino como referência e ganhou o apelido de "Máquina Tricolor".

Mário Travaglini (Foto: JF Diorio/Estadão)
Morte

Mário Travaglini morreu às 21:30 hs de quinta-feira, 20/02/2014. Aos 81 anos, ele estava internado no Hospital São Camilo, no bairro da Pompéia, em São Paulo, desde o dia 06/01/2014.

A informação foi confirmada pela assessoria de imprensa do hospital. Segundo boletim médico, Mário Travaglini morreu devido a complicações respiratórias provenientes de um tumor cerebral.

Títulos

Palmeiras
  • 1966 - Campeonato Paulista
  • 1967 - Campeonato Brasileiro


Vasco da Gama
  • 1974 - Campeonato Brasileiro


Fluminense
  • 1976 - Campeonato Carioca


Corinthians
  • 1982 - Campeonato Paulista


Fonte: Wikipédia e Veja
Indicação: Miguel Sampaio

Heleninha Costa

HELENA COSTA
(81 anos)
Cantora

☼ Rio de Janeiro, RJ (18/01/1924)
┼ Rio de Janeiro, RJ (12/04/2005)

Heleninha Costa foi uma cantora brasileira nascida em 18/01/1924, no Rio de Janeiro, considerada uma das integrantes do primeiro time de cantoras da Rádio Nacional, ídolo do rádio e da época do vinil. Mudou-se em 1924 com a família, quando ainda era pequena, para Santos, litoral de São Paulo.

Formada como contadora, iniciou sua carreira artística aos 14 anos, na Rádio Clube de Santos, em 1938. Pouco depois, transferiu-se para São Paulo, onde atuou na Rádio São Paulo, Rádio Record e Rádio Bandeirantes.

Em 1953, no Rio de Janeiro, casou-se com Ismael Neto, líder do conjunto Os Cariocas.

Em 1940, gravou seu primeiro disco na Columbia registrando a marcha "Sortes de São João" (Osvaldo Santiago e Alcyr Pires Vermelho), e o samba "Apesar da Goteira do Quarto" (Pedro Caetano e Alcyr Pires Vermelho).

Em 1941 gravou a marcha "Tocaram a Campainha" (Pedro Caetano e Alcyr Pires Vermelho) e o samba "Está Com Sono Vai Dormir".


Em 1943, mudou-se para o Rio de Janeiro, onde atuou na Rádio Clube do Brasil e trabalhou como lady crooner e bailarina do Cassino da Urca, cantando também no Cassino Quitandinha. Neste ano, gravou na Columbia o samba "Exaltação à Bahia", de Chianca de Garcia (revistógrafo espanhol) e Vicente Paiva que, na época, era diretor musical do cassino e compunha sambas de exaltação para os finais "apoteóticos" dos shows da casa. "Exaltação à Bahia" transformou-se no grande sucesso da carreira da cantora.

Em 1944 gravou na Continental com o conjunto Milionários do Ritmo o samba "O Samba Que Eu Fiz" (Oscar Bellandi e Dilo Guardia).

Em 1945, convidada por César Ladeira, passou a atuar na Rádio Mayrink Veiga. Dois anos mais tarde, também a convite de César Ladeira transferiu-se para a Rádio Nacional, participando do programa "Música do Coração" e dos melhores musicais noturnos da emissora. No mesmo ano, gravou na Continental o samba "Você é Tudo Que Eu Sonhei" (Laurindo de Almeida e Del Loro) e o choro "Amor" (Laurindo de Almeida e Valdomiro de Abreu).

Em 1947, lançou o samba "Recordações de um Romance" (Bartolomeu Silva e Constantino Silva) e o maxixe "Ginga" (Sá Róris).

Em 1951 gravou dois de seus grandes sucessos, o bolero "Afinal" (Ismael Neto e Luis Bittencourt) e o fox "Cartas de Amor" (Young e Heyman), com versão de Alberto Ribeiro. No mesmo ano, gravou com César de Alencar o baião "Não Interessa Não" (José Menezes e Luiz Bittencourt) e o maxixe "Que é Isto" (Nestor de Holanda e Abelardo Barbosa).

Heleninha Costa prepara-se para cantar e César de Alencar deixa o palco.
Esteve presente no primeiro LP brasileiro lançado pela Sinter, com repertório para o carnaval, juntamente com Marion, Neusa Maria, Oscarito, Geraldo Pereira, Os CariocasCésar de Alencar e as Irmãs Meireles

Em 1952, gravou na RCA Victor "Baião Serenata" (Klécius Caldas e Armando Cavalcanti) e o bolero "Por Quanto Tempo?" (Marino Pinto e Don Al Bibi). No mesmo ano, gravou um de seus grandes sucessos, o samba "Barracão" (Luiz Antônio e Teixeira). No mesmo período, gravou com o radialista César de Alencar o samba-canção "Está Fazendo Um Ano" (Ismael Neto e Manezinho Araújo) e o choro "Me Dá, Me Dá" (Ismael Neto e Claudionor Cruz).

Em 1953, gravou os baiões "Santo Antônio Disse Não" (Haroldo Lobo e Milton de Oliveira), e com acompanhamento de Os Cariocas, "Que É Que Tu Qué" (Luiz Gonzaga e Zé Dantas).

Em 1954 gravou os sambas "Arranha Céu" (Luiz Antônio e Oldemar Magalhães) e "Morro" (Luiz Antônio).

Em 1956, registrou o samba canção "Eu Já Disse" (Lúcio Alves).

Em 1958 gravou os sambas "Estrela De Ouro" (Luiz Bandeira e José Batista) e "Por Que Choras?" (Alberto Rego e Alberto Jesus).

A partir do final dos anos 70, retirou-se definitivamente da carreira artística, não mais aceitando convites para quaisquer aparições públicas.

No começo da década de 80 foi homenageada com um LP da série "Era do Rádio", do selo Collector's quando mereceu texto escrito pelo crítico Ricardo Cravo Albin, que a considerou uma das mais belas vozes de todos os tempos da radiofonia carioca.

Heleninha Costa, uma das cantoras da Era do Rádio, morreu no esquecimento, no dia 12/04/2005, no Rio de Janeiro, aos 81 anos, vítima de falência múltipla dos órgãos. Ela foi enterrada no Cemitério São João Batista, em Botafogo, Zona Sul do Rio de Janeiro.

Discografia

  • 1963 - Atchim (Deus Te Ajude) / Já Vou Embora (Chantecler, 78)
  • 1960 - Canta Heleninha Costa (Todamérica, LP)
  • 1959 - Exaltação à Brasilia / Turista (Todamérica, 78)
  • 1959 - Falaram / Poema Azul (Todamérica, 78)
  • 1958 - A Respeito da Lua / Não Tive Tempo (Copacabana, 78)
  • 1958 - Heleninha Costa (Copacabana, LP)
  • 1958 - L'Edera / Nós Nos Veremos Depois (Todamérica, 78)
  • 1958 - Estrela De Ouro / Por Que Choras? (Todamérica, 78)
  • 1957 - Pecadora / Revelarei (Copacabana, 78)
  • 1957 - Cinzas Do Amor  / O Chico Namorou (Copacabana, 78)
  • 1957 - Depois Da Rusga / O Lago Da Esperança (Copacabana, 78)
  • 1957 - Santa Maria / Desde Ontem (Copacabana, 78)
  • 1957 - É Luxo Só / Exaltação à Bahia (Copacabana, 78)
  • 1957 - A Grande Verdade / Madeira De Lei (Copacabana, 78)
  • 1956 - Sinfonia Do Samba / Quero Dizer-te (Copacabana, 78)
  • 1956 - Obrigado Reverendo / Eu Já Disse (Copacabana, 78)
  • 1956 - Rádio-Patrulha / Marcha Do Faquir (Copacabana, 78)
  • 1956 - Desespero / Manequins do Rio (Copacabana, 78)
  • 1955 - Malandro É O Gato / Você Está Chorando (Copacabana, 78)
  • 1955 - Juca  /Amor Brejeiro (Copacabana, 78)
  • 1954 - Arranha Céu / Você É Feio Ou Tá Doente (RCA Victor, 78)
  • 1954 - A Todos Consola / Aconteceu (RCA Victor, 78)
  • 1954 - Morro / Santo Amaro (RCA Victor, 78)
  • 1953 - Mais Do Que Eu / Vem Para Os Braços Meus (RCA Victor, 78)
  • 1953 - Que É Que Tu Qué / Santo Antonio Disse Não (RCA Victor, 78)
  • 1953 - Ninguém / Meu Amor Foi Embora (RCA Victor, 78)
  • 1953 - Por Quê / Agora É Tarde Demais (RCA Victor, 78)
  • 1952 - Já É Demais / A noite É Grande (Sinter, 78)
  • 1952 - Minha Cartilha / Voltarás (Sinter, 78)
  • 1952 - Fale Na Orelhinha De Cá / Jica-Jica (Sinter, 78)
  • 1952 - Está Fazendo Um Ano / Me Dá, Me Dá, Choro (RCA Victor, 78)
  • 1952 - Baião Serenata / Por Quanto Tempo? (RCA Victor, 78)
  • 1952 - Não Consigo Esquecer / Barracão (RCA Victor, 78)
  • 1952 - Cachorro Vai / Lar Vazio (RCA Victor, 78)
  • 1952 - Já Chorei / Dança Do Coça Roça (RCA Victor, 78)
  • 1951 - Afinal / Felicidade (Sinter, 78)
  • 1951 - Não Interessa Não / Que É Isto? (Sinter, 78)
  • 1951 - Vai Ter Casamento / Que Saudade (Sinter, 78)
  • 1951 - Noites Do Rio / Cartas De Amor (Sinter, 78)
  • 1950 - Jurei / Um Pouquinho De Carinho (Continental, 78)
  • 1950 - Única Saída / Junto De Ti (Sinter, 78)
  • 1950 - A Princesa Do Sião / Bonequinha Da Holanda (Sinter, 78)
  • 1950 - Macaco Me Lamba / Vida Vazia (Sinter, 78)
  • 1949 - Coitado Do Frederico / Fracassei (Continental, 78)
  • 1948 - A Serpente Do Faquir / Amanhece E Anoitece (Continental, 78)
  • 1947 - Recordações De Um Romance / Ginga (Continental, 78)
  • 1946 - Carinho Proibido / Perfume Da Terra (Continental, 78)
  • 1945 - Você É Tudo Que Eu Sonhei / Amor (Continental, 78)
  • 1945 - Remexe, Remexe / Não Posso Perdoar (Continental, 78)
  • 1944 - O Samba Que Eu Fiz (Continental, 78)
  • 1944 - Seja Breve / É, Seu Orlando! (Continental, 78)
  • 1943 - Ninguém Sabe O Que Quer / Exaltação À Bahia (Columbia, 78)
  • 1943 - Balança O Bebê / O Galo Do Vizinho (Continental, 78)
  • 1942 - Rebola Bola / Coração Ferido (Columbia, 78)
  • 1941 - Tocaram A Campainha / Está Com Sono Vai Dormir (Continental, 78)
  • 1940 - Sortes De São João / Apesar De Goteira No Quarto (Continental, 78)

Indicação: Miguel Sampaio

Newton Mendonça

NEWTON FERREIRA DE MENDONÇA
(33 anos)
Compositor e Instrumentista

* Rio de Janeiro, RJ (14/02/1927)
+ Rio de Janeiro, RJ (22/11/1960)

Um dos mais importantes compositores da Bossa Nova, Newton Mendonça é figura obscura da música brasileira. Omissões, erros históricos e a personalidade arredia do pianista fizeram com que ele se mantivesse desconhecido até hoje. Injustiçado historicamente, Newton Mendonça foi um dos grandes responsáveis pelo início da Bossa Nova.

Newton Ferreira de Mendonça foi um pianista, compositor, violinista e gaitista brasileiro. Seu modo de escrever, usando substantivos até então raramente usados em letras de músicas brasileiras, e o modo carinhoso com que se referia à mulher, ao contrário do machismo frequentemente encontrado nas letras, foi fundamental para chamar a atenção das pessoas para a Bossa Nova, especialmente os jovens.

Viveu entre 1933 a 1939 em Porto Alegre, onde estudou violino, e em Aquidauana, MS. Aos 13 anos, iniciou seus estudos de piano clássico.

Em 1942 se juntou ao seu amigo de infância, Antônio Carlos Jobim, com quem compôs várias canções que viriam a se tornar clássicos da Bossa Nova.

Boêmio, passou a maior parte das noites dos anos 50 tocando piano em boates de Copacabana. O primeiro sucesso surgiu com "Foi a Noite", considerado por muitos especialistas como o início da Bossa Nova.

O grande sucesso aconteceu dois anos depois, quando João Gilberto gravou "Desafinado" e "Samba de Uma Nota Só". Seguiram-se "Meditação", "Caminhos Cruzados", "Discussão" e "Só Saudade".

Anos se passaram e "Desafinado" e "Samba de Uma Nota Só" tornaram-se clássicos, que resistiram ao tempo e até à morte da Bossa Nova. Para muitos, são canções apenas de Tom Jobim. Ninguém jamais se empenhou muito para que o nome de Newton Mendonça saísse das sombras. Até agora...

Com o renascimento nos últimos anos do interesse pela Bossa Nova, as pessoas quiseram saber quem foi Newton Mendonça - quem ele era, por que produziu tão pouco, por que morreu tão jovem. Como poucos de seus contemporâneos podem responder a essas perguntas - e nem todos têm paciência para prestar informações -, fantasiou-se até sobre a possível existência de uma cortina de silêncio ao seu redor. "Por que as pessoas desconversam quando se fala de Newton Mendonça?" - eis uma pergunta que é frequentemente respondida com outra: "É mesmo. Por quê?". Nesse terreno fértil para miragens, até as circunstâncias de sua morte passaram a parecer suspeitas.

Para piorar as coisas, teóricos consagrados, mas preguiçosos como investigadores, radiografaram as ousadias formais de "Desafinado""Samba de Uma Nota Só", e pensaram estar fazendo um grande favor a Newton Mendonça ao reabilitá-lo como o "Primeiro grande letrista da Bossa Nova". Deram de barato que, se Tom Jobim fazia as músicas, Newton Mendonça fazia as letras e, com isso, pincelaram com um verniz acadêmico a curiosa campanha que, não é de hoje, tenta isolar  Newton Mendonça como letrista. Nunca ocorreu a esses teóricos que, por mais improvável, poderia até ter sido o contrário - ou seja, que Newton Mendonça tivesse feito as músicas e Tom Jobim as letras. Ou que poderia ter sido de outro jeito: música e letra, em partes iguais, de Tom Jobim e Newton Mendonça. E que, ao canonizar Newton Mendonça como letrista, poderiam estar sendo injustos para com ele e para com o próprio Tom Jobim.

No fim dos anos 1950, Newton Mendonça não estava fazendo nenhum progresso como pianista da madrugada. Segundo sua carteira profissional, a boate Mocambo lhe pagava seis mil cruzeiros por mês em 1953. Nenhuma fortuna. Pelo último registro na carteira, o da boate Carrousel, em 1958, Newton Mendonça punha no bolso duzentos cruzeiros por noite - que, teoricamente, resultariam nos mesmos seis mil por mês, se eles valessem tanto quanto os de cinco anos antes. E, claro, se nem uma vez ele faltasse ao serviço.

A outra diferença é que, em 1953, Newton Mendonça era um compositor inédito e, em 1958, pelo menos, sua obra começava a respirar fora da boate. Já tinha sido gravado por vários cantores. Sua parceria com Tom Jobim em "Foi a Noite" foi um sucesso com Sylvinha Telles, e, antes de morrer em 1960, ele presenciaria o furor provocado por João Gilberto com "Desafinado" e "Samba de Uma Nota Só".

Mas Newton Mendonça não participou desse furor, nem perifericamente. Por diversos motivos, entre os quais o seu jeito arredio e um piramidal orgulho, não soube capitalizar a sensação da Bossa Nova para melhorar a sua cotação na bolsa da noite e fazer com que lhe pagassem decentemente nas boates - já que insistia em trabalhar nelas. E os direitos autorais, ainda mais naquele tempo, não passavam de um boato. A verdade é que, para Newton Mendonça, nenhuma das suas grandes criações rendeu-lhe dinheiro vivo enquanto ele esteve vivo.

Newton Mendonça era um homem travado e introvertido, que guardava seus diplomas debaixo do colchão e cuja única diversão durante o dia era jogar peteca na praia, um curioso esporte daquele tempo. Era, principalmente, de um atroz ciúme dos amigos e não gostava de estranhos em sua roda.

A Bossa Nova, em 1959, agrediu-o em todas essas frentes. Seu melhor e mais velho amigo, Tom Jobim, sobre quem até então ele exercia uma considerável ascendência, tornara-se uma mini-celebridade. A partir daí, ficou difícil para Newton Mendonça, ao terminar o serviço na boate às 04:00 hs, conseguir que Tom Jobim desafiasse sua mulher Teresa e saísse da cama para encontrá-lo num botequim na Rua Teixeira de Melo, em Ipanema, como acontecera outras vezes. Newton Mendonça já se conformara em dividi-lo com Vinícius de Moraes, de quem também ficou amigo, mas, depois de "Desafinado"Tom Jobim passou a ser propriedade de todo mundo no competitivo mundinho da Bossa Nova. Além do mais, tinha sido Tom Jobim, e não ele, que se tornou o querido da imprensa - como se pudesse ser de outra forma. Mas Newton Mendonça se ressentia, acusando os jornalistas. "Eles só querem saber do Tom", queixava-se para sua mulher Cyrene. Esta depois teria outra explicação: "Newton assustava os repórteres".


Se chegasse a ser entrevistado por um deles, Newton Mendonça provavelmente teria coisas a dizer. Como as que dizia para Cyrene, quando era cobrado por ela a respeito do aperto financeiro em que viviam:

"Não faço música para faxineira cantar varrendo a sala."

Só podia ser uma alusão maldosa à história da empregada que teria levado Tom Jobim a compor a deslumbrante "Chega de Saudade". Mas diria também que isso não diminuía a sua ambição de se ver reconhecido, e que o fazia irritar-se com as brincadeiras de Tom Jobim - como uma que este aprontou, em 1956, na boate Posto 5, onde Newton Mendonça trabalhava. Tom chegou com o jovem repórter José Carlos de Oliveira, tomou o lugar de Newton Mendonça ao piano e disse, com grande seriedade:

"Carlinhos, escute este samba-canção que eu acabei de fazer."

E tocou "Foi a Noite" (Tom Jobim e Newton Mendonça). Ronaldo Bôscoli, que estava presente e conhecia a música, fez força para não rir, mas Newton Mendonça não achou graça. Isso pode ter-se tornado uma prática perversa entre os dois parceiros. Poucos anos depois, em 1959, Newton Mendonça cruzou com Tito Madi no Beco das Garrafas e o fez entrar no Ma Griffe, onde estava agora trabalhando.

"Tito, olha só o que eu acabei de compor", disse Newton Mendonça.

Sentou-se ao piano e tocou-lhe um samba revolucionário. Tito Madi ficou quase estatelado. Não podia adivinhar, mas acabar de ouvir, em primeira mão, "Samba de Uma Nota Só" - melodia, harmonia e ritmo. Ainda sem letra.

Tom Jobim e Newton Mendonça fizeram "Samba de Uma Nota Só" em fins de 1959 e também no apartamento de Newton Mendonça. Só que, dessa vez, a sério, sem o espírito de fuzarca que presidiu a confecção de "Desafinado". Mesmo assim, não resistiram a uma pequena provocação a Ary Barroso, ao começar a letra com o verso "Eis aqui este sambinha / Feito numa nota só".

Ary Barroso, que acreditava nos ufanismos nacionalistas que escrevia, foi talvez o único grande compositor brasileiro da velha guarda que nunca flertou com ritmos estrangeiros. Em seus programas de calouros, defendia com unhas e alguns dentes a sacralidade do samba e ficava um tigre quando algum desavisado anunciava que iria cantar "um sambinha" - às vezes dele próprio, Ary Barroso. Tanto Tom Jobim quanto Newton Mendonça o admiravam, mas ressentiam-se das espetadas que o homem de "Risque" e "Aquarela do Brasil" distribuía contra a Bossa Nova nas mesas da Fiorentina. Não que quisessem desafiá-lo. Ao contrário: ao minimizar o que tinham feito, classificando o seu próprio samba de "um sambinha", pensavam até em cativá-lo - e neutralizá-lo.

Quando "Samba de Uma Nota Só" foi gravado por João Gilberto em abril de 1960, a Bossa Nova já tinha se tornado a mania nacional, mas isso não alterou o estilo de vida de Newton Mendonça. Seu nome ficou relativamente conhecido no selo dos discos - apesar de ter virado Milton em "Desafinado" -, mas sua figura continuava tão na sombra quanto nos tempos de "Foi a Noite".

"Desafinado" tocava agora em todas as rádios, mas Newton Mendonça não estava vivendo à altura dessa glória. O Ma Griffe era um puteiro e ainda lhe pagava mal. Tudo poderia ter sido diferente se ele não tivesse sofrido o seu primeiro infarto, em maio de 1959. Na véspera daquele dia, ao voltar de manhã para casa, queixou-se de dores no braço e de dormência nas mãos.

"Ontem toquei por honra da firma", disse para Cyrene.

Não foi o primeiro aviso e ele sabia que vinha de uma família de cardíacos, como seu pai e sua irmã. Mas esses pequenos sustos não impediram que Newton Mendonça continuasse disputando bárbaras maratonas alcoólicas com sua turma em Ipanema. Certa tarde, depois de drenar o estoque de conhaque Georges Aubert que tinha em casa, mandou sua empregada comprar mais uma garrafa no mercadinho. A moça voltou com a informação:

"Eles disseram que não têm nenhum João Gilberto para vender."

Era natural que ela se atrapalhasse: João Gilberto era no nome que mais se ouvia naquela casa. Depois do serviço na boate, Newton Mendonça ia para a casa de alguém, bebia o resto, fumava o penúltimo cigarro dos seus quatro maços diários de Lincoln e desabava num sofá. Estava tratando seu coração como se este fosse uma punching-ball.

Newton Mendonça não desapontou os evidentes sintomas e teve um infarto, à saída do trabalho no Ma Griffe. Foi atendido no pronto-socorro que existia na Praça do Lido e, no dia seguinte, internado no próprio Hospital dos Servidores. Ficou 21 dias no hospital. Ao sair, os médicos passaram-lhe uma receita que ele achou excessiva: tinha de cortar de vez o cigarro, a bebida, a peteca na praia, moderar o sexo e ficar seis meses sem trabalhar.

Newton Mendonça cumpriu aproximadamente a primeira exigência - e transgrediu com fervor religioso as demais. Menos de dois meses pós-infarto, voltou a tocar na noite, novamente na boate Carrousel, elegeu o Veloso, na Rua Montenegro, como seu bar de parada obrigatória a caminho do serviço ou de qualquer lugar, e continuou a jogar peteca, agora clandestinamente, no Posto 6. A ideia de ver o maduro compositor de "Meditação" sendo obrigado a jogar peteca às escondidas é tristíssima, mas foi o que aconteceu.

Quanto ao sexo, Newton Mendonça foi tudo menos salomônico. Aceitou o conselho médico de que ele e Cyrene dormissem em quartos separados, para poupar o coração de sobressaltos. Mas não o poupou de palpitações intensas nos casos avulsos - reais ou imaginários - que passou a ter fora de casa. Suas colegas de trabalho eram as profissionais da noite, o que lhe abria o chamado leque de opções para quando queria se distrair. Mas o que provavelmente o sobrecarregou de emoções foi sua capacidade de fantasiar paixões, como a que alimentou pela sambista Francineth e principalmente pela cantorinha de rock Sônia Delfino, que comandava o programa "Alô, Brotos!" na TV Tupi. Aos 17 anos, rival de Celly Campello e, segundo ela própria, virgem, Sônia Delfino era a boneca mais cobiçada do meio musical - e sabia disso. Cyrene suspeitava de que os dois tivesse um caso, o que Newton Mendonça nem confirmava nem desmentia. Sônia Delfino diria depois que admirava muito Newton Mendonça, "à distância", mas sempre negou que os dois tivessem um caso.

Por via das dúvidas, Cyrene achou melhor levar Newton Mendonça para longe de Ipanema. Foram morar num sobrado na Rua Torres Homem, em Vila Isabel, onde ela pensava mantê-lo relativamente a salvo das tentações. O que aconteceu é que eles se isolaram e isso não fez bem a Newton Mendonça. Os únicos amigos que se animavam a ir vê-lo na distante Zona Norte eram Tom Jobim e um jovem chamado Cariê, Carlos Alberto Lindenbergh, depois homem de televisão no Espírito Santo. Mas, como continuava trabalhando no Beco do Joga-a-Chave-Meu-AmorNewton Mendonça fazia regularmente a sua vida social em Copacabana e voltava cada vez mais tarde para casa - tomando antes o cuidado de comprar alguns bombons, para adoçar Cyrene.

Numa terça-feira, 22/11/1960, Newton Mendonça saiu numa tarde chuvosa para encontrar amigos no Ponto dos Músicos, no centro da cidade. Não iria trabalhar aquela noite. Quando voltou, de madrugada, Cyrene já tinha se deitado. Ela o ouviu acertar a custo a chave na fechadura e imaginou que estivesse bêbado. Levantou-se e foi encontrá-lo na sala. Os vapores em Newton Mendonça podiam realmente ser sentidos à distância, mas ele estava também branco como gesso e com a mão no peito. Tinha conseguido colocar os bombons sobre o piano e tentava pendurar nele o guarda-chuva, que caiu. Havia uma poltrona por perto e ele se jogou nela, com um gemido profundo. Cyrene viu ali um novo infarto e saiu correndo para chamar um médico que morava no andar de cima. Quando este chegou, Newton Mendonça já estava morto.

Newton Mendonça foi o vencedor do I Festival da TV Record, no dia 03/12/1960, com a música "Canção do Pescador". O prêmio foi entregue, dias depois, à sua esposa, Dona CyreneNewton Mendonça, compositor e letrista de grande talento, faleceu sem ter podido colher os frutos de sua parceria com Tom Jobim.

Indicação: Miguel Sampaio