Filho de
Vítor Augusto Nepomuceno e
Maria Virgínia de Oliveira Paiva, foi iniciado nos estudos musicais por seu pai, que era violinista, professor, mestre da banda e organista da Catedral de Fortaleza. Em 1872 transferiu-se com a família para Recife, onde começou a estudar piano e violino.
Responsável pelo sustento da mãe e irmã após a morte de seu pai, em 1880,
Alberto Nepomuceno empregou-se como tipógrafo e passou a ministrar aulas particulares de música, ficando impossibilitado de prosseguir seus estudos no curso de humanidades. Apesar do pouco tempo que lhe sobrava, conseguiu dar continuidade aos seus estudos musicais com o maestro
Euclides Fonseca.
Durante sua juventude, manteve amizade com alunos e mestres da
Faculdade de Direito do Recife, como
Alfredo Pinto,
Clóvis Bevilaqua e
Farias Brito. A Faculdade, nessa época, era um grande centro intelectual do país e por lá fervilhavam idéias e análises sociais de vanguarda, como os estudos sociológicos de
Manuel Bonfim e
Tobias Barreto, além das teorias darwinistas e spenceristas de
Sílvio Romero. Foi
Tobias Barreto quem despertou em
Alberto Nepomuceno o interesse pelos estudos da língua alemã e da filosofia, dando-lhe aulas de ambas as disciplinas.
Tornou-se um defensor atuante das causas republicana e abolicionista no Nordeste, participando de diversas campanhas. Entretanto, não descuidou de suas atividades como músico, assumindo, aos dezoito anos, a direção dos concertos do
Clube Carlos Gomes de Recife. Atuou também como violinista na estréia da ópera
"Leonor", de
Euclides Fonseca, no
Teatro Santa Isabel.
De volta ao Ceará com a família, ligou-se a
João Brígido e
João Cordeiro, defensores do
Movimento Abolicionista, passando a colaborar em diversos jornais ligados à causa. Devido às suas atividades políticas, seu pedido de custeio ao governo imperial para estudar na Europa foi indeferido.
Sociedade da Corte
Em 1885,
Alberto Nepomuceno mudou-se para o Rio de Janeiro, indo morar na residência da família dos artistas plásticos
Rodolfo Bernardelli e
Henrique Bernardelli. Deu continuidade aos seus estudos de piano no
Clube Beethoven, onde se apresentou ao lado de
Arthur Napoleão. Pouco tempo depois, foi nomeado professor de piano do clube, que tinha em seu quadro funcional, como bibliotecário,
Machado de Assis.
A capital do império, neste período, vivia um momento de grande efervescência social, política e cultural. No âmbito social, ocorria um vertiginoso crescimento populacional com o aumento do fluxo migratório em busca de trabalho. No plano político, sucediam-se os ataques das campanhas abolicionista e republicana à monarquia. No campo literário, os movimentos romântico, simbolista e naturalista, em voga na Europa, influenciavam diversos escritores brasileiros, como
Olavo Bilac,
Machado de Assis,
Aluísio de Azevedo e
Coelho Neto.
O grande interesse de
Alberto Nepomuceno pela literatura brasileira e pela valorização da língua portuguesa, aproximou-o de alguns dos mais importantes autores da época, surgindo, da parceria com poetas e escritores, várias composições como:
"Ártemis" (1898), com texto de
Coelho Neto,
"Coração Triste" (1899), com
Machado de Assis, "Numa Concha" (1913), com
Olavo Bilac.
No ano anterior à abolição da escravatura, compôs
"Dança de Negros" (1887), uma das primeiras composições que utilizou motivos étnicos brasileiros. A primeira audição dessa obra, que mais tarde se tornou
"Batuque", da
Série Brasileira, foi apresentada pelo autor no Ceará. Outras peças foram compostas na mesma época, como
"Mazurca",
"Une Fleur",
"Ave Maria" e
"Marcha Fúnebre".
Apesar de ser visto com desconfiança pela família imperial, devido às suas posições políticas,
Alberto Nepomuceno, pela sua importância no cenário musical brasileiro, chegou a ser convidado pela
Princesa Isabel para tomar chá no Paço Imperial.
Europa
Alberto Nepomuceno viajou para a Europa na companhia de seus grandes amigos, os irmãos
Henrique Bernardelli e
Rodolfo Bernardelli, em agosto de 1888, com o objetivo de ampliar sua formação musical.
Em Roma, matriculou-se no
Liceo Musicale Santa Cecilia, na classe de Harmonia, de
Eugenio Terziani, e na de piano, de
Giovanni Sgambati. Depois, com a morte de
Eugenio Terziani, prosseguiu os estudos com
Cesare De Sanctis.
Em 1890 partiu para Berlim, onde aperfeiçoou seu domínio da língua alemã e ingressou na
Academia Meister Schulle, tornando-se aluno de composição de
Heinrich von Herzogenberg, grande amigo de
Brahms. Durante suas férias, chegou a assistir em Viena a concertos de
Brahms e de
Hans von Bülow. Transferiu-se depois para o
Conservatório Stern de Berlim, onde, durante dois anos, cursou as aulas de composição e órgão com o professor
Arnó Kleffel, e de piano, com
H. Ehrlich.
Alberto Nepomuceno e sua futura esposa tiveram aulas também com o famoso
Theodor Lechetitzky, em cuja sala de aula conheceu a pianista norueguesa
Walborg Bang, com quem se casou em 1893. Ela era aluna de
Edvard Grieg, o mais importante compositor norueguês da época, representante máximo do nacionalismo romântico.
Após seu casamento, foi morar na casa de
Edvard Grieg em Bergen. Esta amizade foi fundamental para que
Alberto Nepomuceno elaborasse um ideal nacionalista e, sobretudo, se definisse por uma obra atenta à riqueza cultural brasileira.
Após realizar as provas finais do
Conservatório Stern (1894), regendo a Filarmônica de Berlim com duas obras suas,
Scherzo Für Grosses Orcherter e
Suíte Antiga, inscreveu-se na
Schola Cantorum, em Paris, a fim de aprimorar-se nos estudos de órgão com o professor
Alexandre Guilmant. Nessa época, conheceu
Camille Saint-Saëns,
Charles Bordes,
Vincent D'Indy e outros.
Assistiu à estréia mundial de
"Prélude à L'après-midi D'un Faune", de
Claude Debussy, obra que
Alberto Nepomuceno foi o primeiro a apresentar no Brasil, em 1908, nas festas do Centenário da Abertura dos Portos. A convite de
Charles Chabault, catedrático de grego na
Sorbonne, escreveu a música incidental para a tragédia
Electra.
Em 1900 marcou uma entrevista com o diretor da
Ópera de Viena,
Gustav Mahler, para negociar a apresentação de sua ópera
"Ártemis", porém, adoeceu gravemente, indo se recuperar em Bergen, na casa de seu amigo
Edvard Grieg.
Em 1910, financiado pelo governo brasileiro, realizou diversos concertos com músicas de compositores nacionais em Bruxelas, Genebra e Paris. Durante a excursão, visitou
Debussy em sua residência em Neuilly-sur-Seine, sendo presenteado com uma partitura autografada de
"Pelléas et Mélisande".
Nacionalismo
No dia 04/08/1895,
Alberto Nepomuceno realizou um concerto histórico, marcando o início de uma campanha que lhe rendeu muitas críticas e censuras. Apresentou pela primeira vez, no
Instituto Nacional de Música, uma série de canções em português, de sua autoria. Estava deflagrada a guerra pela nacionalização da música erudita brasileira. O concerto atingia diretamente aqueles que afirmavam que a língua portuguesa era inadequada para o bel canto. A polêmica tomou conta da imprensa e
Alberto Nepomuceno travou uma verdadeira batalha contra o crítico
Oscar Guanabarino, defensor ardoroso do canto em italiano, afirmando:
"Não tem pátria um povo que não canta em sua língua".
A luta pela nacionalização da música erudita foi ampliada com o início de suas atividades na
Associação de Concertos Populares, que dirigiu por dez anos, de 1896 a 1906, promovendo o reconhecimento de compositores brasileiros.
A pedido de
Visconde de Taunay, restaurou diversas obras do compositor
Padre José Maurício Nunes Garcia e apoiou compositores populares como
Catulo da Paixão Cearense.
A sua coletânea de doze canções em português foi lançada em 1904 e editada pela
Vieira Machado & Moreira de Sá.
"O Garatuja", comédia lírica em três atos, baseada na obra homônima de
José de Alencar, é considerada a primeira ópera verdadeiramente brasileira no tocante à música, ambientação e utilização da língua portuguesa. Os ritmos populares também estão presentes nesta obra, como a habanera, o tango, a marcação sincopada do maxixe, o lundu e ritmos característicos dos compositores populares do século XIX, como
Xisto Bahia, além das polcas de
Callado e
Chiquinha Gonzaga.
Em 1907 iniciou a reforma do
"Hino Nacional Brasileiro", tanto na forma de execução quanto na letra de
Osório Duque Estrada. No ano seguinte, a realização do concerto de violão do compositor popular
Catulo da Paixão Cearense, no
Instituto Nacional de Música, promovido por
Alberto Nepomuceno, causou grande revolta nos críticos mais ortodoxos, que consideraram o acontecimento
"um acinte àquele templo da arte".
Ainda como incentivador dos talentos nacionais, atuou junto a
Sampaio Araújo para editar as obras de um controvertido compositor que surgia na época:
Heitor Villa-Lobos.
Alberto Nepomuceno chegou a exigir que as edições de suas obras, distribuídas pela
Casa Arthur Napoleão, contivessem, na contra-capa, alguma partitura do jovem
Villa-Lobos. Executou várias obras do jovem compositor em concertos com orquestras que regeu, e deixou-lhe como herança uma coleção de cerca de 80 canções populares, catalogadas e analisadas.
O Instituto Nacional de Música
Alberto Nepomuceno iniciou suas atividades no
Instituto Nacional de Música como professor de órgão em 1894. Após a morte de
Leopoldo Miguez, em 1902, foi nomeado diretor. Devido a inúmeras pressões e divergências de ordem política e administrativa, pediu exoneração no ano seguinte. No entanto, como importante referência da música erudita local, foi designado pelo próprio Instituto para recepcionar
Saint-Saëns em sua vinda ao país.
Em 1906 reassumiu o cargo de diretor após o pedido de demissão de
Henrique Oswald. Em sua segunda gestão, elaborou uma série de projetos visando à institucionalização da música erudita brasileira.
Um dos primeiros projetos iniciados por
Alberto Nepomuceno foi a reforma do
"Hino Nacional Brasileiro" e a regulamentação de sua execução pública. Mandou colocar no Instituto uma lápide em homenagem a
Francisco Manuel da Silva, com a seguinte inscrição:
"Ao fundador do Conservatório e autor do Hino de sua pátria"
Foi nomeado também diretor musical e regente principal dos Concertos Sinfônicos da
Exposição Nacional da Praia Vermelha, em comemoração ao Centenário da Abertura dos Portos. Nestes concertos, apresentou pela primeira vez ao público brasileiro os autores europeus contemporâneos
Debussy,
Roussel,
Glazunow e
Rimsky-Korsakov, além dos brasileiros
Carlos Gomes,
Barroso Neto,
Leopoldo Miguez e
Henrique Oswald.
Em 1909, enviou um projeto de lei ao Congresso Nacional com o intuito de criar uma Orquestra Sinfônica subvencionada pelo governo. Como diretor do Instituto, recepcionou, junto com
Ruy Barbosa e
Roberto Gomes, o pianista
Paderewsky em sua visita ao Brasil.
Em 1913 regeu, no
Teatro Municipal do Rio de Janeiro, o grande
Festival Wagner, tendo como solista o tenor
Karl Jorn, de Bayreuth.
Responsável pela tradução do
"Tratado de Harmonia" de
Schoenberg,
Alberto Nepomuceno tentou, em 1916, implantá-lo no Instituto, mas encontrou forte oposição do corpo docente. Sentindo crescer as pressões contrárias da academia a seus projetos, pediu demissão no mesmo ano.
Separado de
Walborg Bang e com sérias dificuldades financeiras, foi morar com
Frederico Nascimento em Santa Teresa. Seu último concerto no Teatro Municipal aconteceu em 1917.
Muito doente e enfraquecido, faleceu em 16/10/1920, aos 56 anos de idade. Segundo depoimento de seu grande amigo
Otávio Bevilacqua, o compositor começou a cantar ao perceber a proximidade da morte:
"... cantou noite adentro até o último suspiro em pleno dia" (Trevisan, João Silvério. Ana em Veneza. Rio de Janeiro: Record, 1998).
Obras
Música Dramática