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Gregório Fortunato

GREGÓRIO FORTUNATO
(62 anos)
Segurança

☼ São Borja, RS (24/01/1900)
┼ Rio de Janeiro, RJ (23/10/1962)

Gregório Fortunato foi o chefe da guarda pessoal do presidente brasileiro Getúlio Vargas, também é conhecido como "Anjo Negro", devido ao seu porte físico e sua cor racial.

Gregório Fortunato nasceu na cidade de São Borja, no Rio Grande do Sul. Era filho dos escravos alforriados Damião Fortunato e Ana de Bairro Fortunato. Foi casado com Juraci Lencina Fortunato, com quem teve um casal de filhos.

Negro, de origem humilde e sem instrução, Gregório Fortunato trabalhou durante muito tempo como peão nas fazendas de gado da região de São Borja, RS. Aproximou-se da família Vargas em 1932, quando se destacou no combate à Revolução Constitucionalista de São Paulo, como soldado do 14º Corpo Auxiliar de São Borja, hoje Brigada Militar do Rio Grande do Sul, integrado uma unidade comandada por Benjamim Vargas, irmão do presidente Getúlio Vargas.

Em maio de 1938, após o fracassado golpe integralista contra Getúlio Vargas, Benjamim Vargas organizou uma guarda pessoal para proteger seu irmão. Preocupado em garantir a máxima fidelidade a Getúlio Vargas, recrutou em São Borja os 20 primeiros membros da guarda, inclusive Gregório Fortunato, que se tornou, na prática, o chefe da guarda que acompanhou o presidente até o final do Estado Novo.

Em 1945, Gregório Fortunato assumiu a chefia formal da equipe, sempre sob a supervisão de Benjamim Vargas. Nesse mesmo ano, com o golpe militar de 29 de outubro que depôs Getúlio Vargas, a guarda pessoal foi desativada. Nos anos seguintes, Gregório Fortunato trabalhou como funcionário da polícia gaúcha. Com a eleição de Getúlio Vargas para a presidência em outubro de 1950 e a posterior posse em janeiro de 1951, coube-lhe a tarefa de reorganizar e chefiar a nova guarda pessoal do presidente.

Desde o início do governo, Getúlio Vargas enfrentou uma das mais cerradas oposições da história da República, movida sobretudo pela União Democrática Nacional (UDN), por importantes setores das Forças Armadas, do empresariado e pela maioria dos grandes jornais do país. Gregório Fortunato era apresentado à opinião pública como símbolo da corrupção que, supostamente, crescia no interior do Governo Federal, sendo acusado de se aproveitar da sua proximidade com o poder para aplicar uma política clientelística e de favoritismo.

Atentado da Rua Tonelero

No dia 05/08/1954 ocorreu o evento considerado como o mais dramático da história política brasileira, que ficou conhecido como "Atentado da Rua Tonelero", que foi a tentativa de assassinato do jornalista Carlos Lacerda, ferrenho opositor de Getúlio Vargas.

Gregório Fortunato foi acusado de ser o mandante do crime, do qual Carlos Lacerda saiu levemente ferido, não tendo a mesma sorte o major da Aeronáutica do Brasil, Rubens Florentino Vaz, que foi baleado e morreu a caminho do hospital.

Na madrugada do dia 05/08/1954, o jornalista Carlos Lacerda, uma das mais destacadas figuras da oposição anti-getulista e então candidato a deputado federal pelo Distrito Federal na legenda udenista, foi levemente ferido em um atentado ocorrido na Rua Tonelero, no Rio de Janeiro. No atentado, morreu o major-aviador Rubens Florentino Vaz, que o acompanhava naquela ocasião. Logo no começo das investigações, Climério Euribes de Almeida, membro da guarda pessoal do presidente, foi envolvido no crime. No dia 09/08/1954, Getúlio Vargas determinou a dissolução da guarda, o que não impediu o aumento da tensão político-militar. Pouco depois, Gregório Fortunato acabou confessando ter encarregado Climério Euribes de Almeida de eliminar Carlos Lacerda.

A polícia fez busca e apreensão na casa de Gregório Fortunato e encontrou papéis que mostravam, que apesar de receber um salário de 15 mil cruzeiros, Gregório Fortunato era dono de um conjunto de bens estimado em torno de 65 milhões de cruzeiros. Os documentos apreendidos revelaram ainda que Gregório Fortunato comprou por 4 milhões de cruzeiros duas propriedades do filho mais moço de Getúlio VargasManuel Sarmanho Vargas, o Maneco, que se encontrava em situação financeira difícil. Quando os documentos vieram a público, Getúlio Vargas inicialmente não acreditou na veracidade. Depois ficou profundamente abalado.

No dia 15/08/1954, Gregório Fortunato foi preso e transferido para a Base do Galeão, onde passou 24 dias incomunicável, tendo sido interrogado várias vezes. Em seu depoimento, acusou Benjamim Vargas de mandante do crime, mas sempre sustentou a inocência de Getúlio Vargas, que se suicidou no dia 24/08/1954, em pleno desenvolvimento das investigações.

Julgado em outubro de 1956, Gregório Fortunato foi condenado a 25 anos de reclusão. Sua pena foi comutada para 20 anos pelo presidente Juscelino Kubitschek e, depois, para 15 anos pelo presidente João Goulart.

João Cabanas, Não Identificado e Gregório Fortunato
Morte

Em 23/10/1962, Gregório Fortunato foi assassinado na penitenciária Frei Caneca, no Rio de Janeiro, pelo também detento Feliciano Emiliano Damas, o que é apontado por muitos como queima de arquivo, já que o "Anjo Negro" escrevera um caderno de anotações, único objeto de sua propriedade que desapareceu na prisão após sua morte.

O JULGAMENTO DE GREGÓRIO
Publicado na Folha da Tarde, sexta-feira, 12 de outubro de 1956
Neste texto foi mantida a grafia original

RIO 11 (FOLHAS) - O julgamento de Gregorio Fortunato, indigitado mandante do crime da rua Toneleros, teve inicio às 9h10 de hoje. A despeito da grande multidão que se acotovelava diante dos portões do Foro Criminal, o número de pessoas que ocupava as dependências do Tribunal não era muito grande, graças às providências tomadas pelo presidente Sousa Neto para limitar a assistência através da expedição de convites numerados, correspondendo essa numeração à das cadeiras existentes no salão. Como nos julgamentos anteriores desta sessão, o policiamento era abundante e de grande eficiência, feito por elementos da Polícia Militar, Guarda Judiciária e Guarda Civil.

O CONSELHO DA SENTENÇA

Mediante o sorteio, foram escolhidos os seguintes jurados para compor o conselho de segurança: Francisco Gallotti, Joaquim Teixeira Mendes, Radagasio Tovar, Arlindo Ribeiro, Jorge Dutra de Sousa Gomes, Pedro Ening Cardoso e Otavio Augusto Lins Pereira. A defesa havia recusado a sra. Derly Schasfit Freitas e o sr. José Borges Macedo. A acusação não fez impugnações.

BEM DISPOSTO E CALMO

Gregorio Fortunato chegou ao Tribunal sob forte escolta da Polícia Militar. Mostrava-se bem disposto, parecia calmo e estava impecavelmente trajado com um costume de gabardine creme. Não assumiu a atitude humilde nem a postura cabisbaixa preferida pelos seus dois companheiros de empreitada que o antecederam no banco dos réus. Ao contrário, sentou-se com o busto erecto e a cabeça erguida. Portando-se com toda a naturalidade e desembaraço, como se estivesse num banco de bonde ou de jardim casualmente entre dois soldados.

A acusação tem a mesma composição dos dois julgamentos anteriores, isto é, o promotor Araújo Jorge auxiliado pelo deputado Adauto Lucio Cardoso e pelo criminalista Hugo Baldessarini. A defesa está a cargo dos advogados Romeiro Neto e Carlos de Araujo Lima.

Como se vê, o Tribunal que está julgando Gregorio é praticamente o mesmo que juizou Climerio e Alcino, condenando-os a 32 anos de reclusão. O juiz, o promotor e seus auxiliares são os mesmos, assim como pelo menos 4 dos 7 jurados funcionaram nos julgamentos anteriores.

MANDOU CLIMERIO "DAR UM JEITO"

Gregorio Fortunato ergueu-se com dignidade ao ser chamado para depor. Seu falar típico de gaúcho não era facilmente captado da bancada de Imprensa, mas num grande esforço íamos anotando as declarações do "anjo negro". Negou que houvesse mandado matar Carlos Lacerda para receber dinheiro.

Em suas declarações depois de ouvir a acusação de que havia colaborado para que outrem fizesse disparos contra o major Rubens Vaz, respondeu imediatamente: "Não é verdade! Não mandei isso! Não conhecia o major". E prosseguiu em suas declarações afirmando que fora instigado pelo general Mendes de Morais, o qual afirmara que a pregação de Carlos Lacerda vinha pondo em perigo o presidente Getulio Vargas e poderia levar o país a guerra civil e que, portanto, cabia a ele, Gregorio, conjurar esse perigo para salvar Getulio e a nação. Pensou durante três dias sobre as palavras do general Mendes de Morais. Lodi também falou no assunto, declara Gregorio, porém foi repelido porque falou em dinheiro. Disse que, não sendo assassino e tendo mulher e filhos, não mataria ninguém por dinheiro. Matou sim, porém "peleando". E acrescentou que não queria mentir, referindo então o episódio em que acusa coronel Adil de haver tentado matá-lo na Base Aérea porque se recusava a transferir a culpa do general Mendes de Morais para o presidente Vargas. Disse que o coronel sacou de um revolver para ameaçá-lo sendo obstado pelo coronel Scaffa, resultando daí a qualidade de "pai branco", que foi tão comentada.

Disse que o coronel João Adil de Oliveira, vendo que com ameaças não conseguia que Gregorio acusasse Getulio Vargas, tentou fazer com que ele acusasse qualquer pessoa da família Vargas ou que lhe fosse muito chegada, como o comandante Amaral Peixoto, o deputado Danton Coelho ou o sr. João Goulart, prometendo que modificaria tudo a seu favor se fizesse tal declaração. Ante suas negativas, afirma Gregorio, o coronel Adil espumava de raiva.

Declarou que não conhecia Alcino antes de ir ao Galeão. Mas conhecia Soares e supõe fosse homem de bem e trabalhador. Quando no entanto, viu sua ficha no Galeão ficou apavorado. Declarou também que nunca foi processado. Não reconheceu a arma do crime.

Voltando a falar do general, disse textualmente: "Fui procurado pelo general Mendes de Morais no Rio Negro para que desse um jeito no jornalista Carlos Lacerda para evitar que o país caísse numa guerra civil. Nunca me passou pela cabeça mandar matar ninguém, mas o general me falou de tal maneira que acabei me convencendo que era preciso matar Carlos Lacerda. Falei com Climerio, que fazia parte da guarda, e mandei que ele desse um jeito no jornalista. Climerio aceitou e depois eu soube que ele chamou para ajudar Soares, Alcino e João do Nascimento."

"LODI IA MATAR LACERDA"

O acusado prosseguiu dizendo que poucos dias antes do crime Mendes de Morais lhe dissera que já tinha outra pessoa para fazer o "serviço". Por isso, quando o delegado Brandão Filho lhe telefonou, informando-o do crime, pensou que tivesse sido praticado pelo homem mandado por Mendes de Morais. Nunca imaginou que a vítima de tudo viesse a ser o major Vaz. Disse que o deputado Euvaldo Lodi insistira dias antes do crime, dizendo que se ele, Gregorio, não tivesse quem praticasse o crime, o próprio Lodi faria o serviço.

Logo depois de reduzidas a termo as declarações do acusado, o juiz Sousa Neto iniciou a leitura do seu relatório, que se prolongou até às 17h40, em virtude do número de documentos cuja leitura foi pedida pela defesa.

BLOCO DE CONSTRANGIMENTO

Com a palavra o promotor Araujo Jorge, leu o libelo expresso em 15 itens, acusando Gregorio Fortunato de haver contribuído de algum modo para que outrem fizesse disparos de arma de fogo contra o jornalista Carlos Lacerda na noite de 4 para 5 de agosto de 1954, de que resultaram ferimentos na pessoa do jornalista e do guarda municipal Salvio Romeiro e a morte do major da Aeronáutica Rubens Florentino Vaz.

Em seguida, o promotor disse que era chegado o ponto culminante do processo, não pelo reflexo que podem ter na opinião pública mas pela maior culpabilidade do réu. Voltou a falar na "cadeia de constrangimento" já aludida nos julgamentos anteriores e disse que os acusados constituíam um verdadeiro bloco de constrangidos. Dizendo, a seguir: "...vimos Alcino transferir sua culpa para Climerio e este procurar transferir um pouco da sua pesada carga para Soares. Hoje vemos Gregorio transferir para os ombros agaloados do sr. general Mendes de Morais a sua culpa. Veremos que esse "preto de alma branca" procura passar a culpa para os "brancos de alma preta". Assim habilmente conduzida, a defesa coloca a acusação em posição difícil, pois transferindo sucessivamente a culpa de cada um é ela diminuída".

O GENERAL NÃO ESTÁ LIVRE

Prosseguindo, o sr. Araujo Jorge declarou que se disse e de certo é verdade que o general está livre do processo. Sim, está livre em virtude do pronunciamento do ex-senador Ivo de Aquino, que promoveu o arquivamento de denúncia na justiça militar. Mas todos se esquecem de que há o pronunciamento do Supremo Tribunal pelo qual os crimes contra o jornalista Carlos Lacerda e o guarda são crimes comuns e o cometido contra o major é crime militar. A defesa embargou a decisão do Supremo, porém, para honra do Brasil e do general acusado, a decisão será mantida porque se ele proclama sua inocência deve desejar um julgamento que ponha termo à acusação. O general, portanto, deverá ser julgado aqui mesmo neste tribunal.

Passou depois a criticar o fato haver sido feita uma longa leitura de documentos por artes da defesa. Leitura que considerou afrontosa ao júri, dizendo que tinha o fito de cacetear os jurados. Admitiu que o processo suscitou uma onda de agitação no país e que realmente houve muita exploração política em torno dele, porém, o que se explorava era um fato concreto.

O REPORTER E A LANTERNA

Durante o discurso do promotor, por duas vezes faltou luz no Tribunal, durante alguns minutos, mas os trabalhos não chegaram a ser suspensos. O repórter das FOLHAS, que casualmente tinha em seu poder uma lanterna elétrica, acendeu-a, continuando a anotar as palavras do orador, o que provocou ligeira hilaridade de que participou o próprio juiz Sousa Neto. Restabelecida a iluminação, o promotor, que não se perturbara com a falta de luz, prosseguiu sem se abalar, passando a criticar o sr. Tancredo Neves que à época do crime era ministro da Justiça, por haver pronunciado uma frase que o promotor disse ser umas das mais infelizes da nossa história. Referia-se ao fato de haver o então ministro declarado que o crime não era mais que um incidente de rua. Segundo o promotor, essa frase provocou viva revolta no seio das classes armadas, e que daí por diante os chefes militares tiveram dificuldades de conter os ânimos exaltados da juventude militar, que sentia a declaração do ministro como uma bofetada.

Depois passou a rememorar os fatos que precederam o crime e as providências tomadas pelo general Caiado de Castro para que Gregorio não conseguisse fugir. Aí o promotor, em hábil golpe, passou a fazer o elogio do general Caiado de Castro, dizendo-o um grande patriota e homem de bem, para depois criticá-lo sutilmente, afirmando que não tivera a coragem de dar pessoalmente ordem a Gregorio para que não deixasse o Catete.

CINDIDA A DEFESA?

O promotor se alongou em seu discurso, ocupando quase todo o tempo reservado à acusação, e que parecia confirmar rumores insistentes, que corriam desde cedo, de que a acusação se desentendera e se cindira gravemente. Quando o sr. Araujo Jorge deixou a tribuna, restavam para seus auxiliares apenas 50 minutos. O sr. Baldessarini pouco pôde falar. No seu estilo habitual saiu da tribuna, aproximou-se do corpo de jurados e falando baixo, passou a ler jurisprudência e trechos de filosofia do Direito Penal, que trazia condensados em pequenas fichas de cartão. Em seguida, por 30 minutos, o sr. Adauto Lucio Cardoso falou da colaboração de Gregorio e do incentivo por ele oferecido aos desfalecimentos de Climerio, para que o crime fosse executado.

VEEMENTE ATAQUE AO SR. LACERDA

A defesa iniciou seu trabalho com o discurso pronunciado pelo advogado Carlos de Araujo Lima, que principiou dizendo:

"Lacerda não é brasileiro senão por nascimento pois é um agente dos "trusts" e de interesses estrangeiros. Suas campanhas contra a honra alheia levam ao crime". Depois, prosseguiu demonstrando a opinião de personalidades ilustres sobre o jornalista Carlos Lacerda. Citou palavras do sr. Seabra Fagundes em defesa do jornalista Carlos Lacerda, em certa ocasião, quando aquele homem público, entre outras coisas reconhece que Lacerda "... é o inimigo da paz pública e da ordem constituída, genial na manipulação do ódio como fator de perturbação".

Em seguida, disse que a acusação considerou a leitura dos autos como uma afronta ao Júri, mas que ela é uma necessidade processual, mesmo porque era preciso que se conhecessem os documentos em que a defesa iria se basear. Depois, citou a carta escrita por d. Helder Câmara ao jornalista Carlos Lacerda, em que o prelado adverte, como amigo e conselheiro, contra o perigo de incidir no erro de colocar suas paixões acima dos interesses nacionais e lhe dizia que não se entristecesse quando recebesse notícia de atos acertados. Fazia-lhe ver o perigo do panfletismo, do jornalismo violento e perturbador... No discurso em que o sr. Carlos de Araujo Lima defendeu Gregorio Fortunato, foi duramente atacado o jornalista Carlos Lacerda. "Lacerda é o crime, é a calunia, é o ódio e a violência em pessoa", disse o advogado, a certa altura. Afirmou que no seu afã de atacar, vilipendiar, injuriar, não mede conseqüências o terrível panfletário. Afirmou que o arquivo de Gregorio fora divulgado de maneira unilateral e justificou a juntada de documentos que tornaram mais longa a leitura dos autos, pois visavam ao restabelecimento da verdade, apresentada de um só lado, como o que foi feito na apresentação de propostas indecorosas feitas a Gregorio, sem que se publicassem as respostas que dera, repelindo-as. Aludiu ao fato de que o coronel Adil de Oliveira privava da intimidade dos falsários internacionais Malfussi e Cordero, relembrando o episódio da carta Brandi.

À 23h30 a sessão foi suspensa para ligeiro repouso, prosseguindo após a defesa com a palavra, na pessoa do criminalista Romeiro Neto. Ele continuava na tribuna à hora em que encerrávamos o expediente.

GREGÓRIO CONDENADO A 25 ANOS DE RECLUSÃO
Publicado na Folha da Tarde, sexta-feira, 12 de outubro de 1956
Neste texto foi mantida a grafia original

A sentença foi proferida às 5 horas da madruga de hoje - A pena: 11 anos pelo homicídio do major Vaz; 12 anos, pela tentativa de morte contra o jornalista Carlos Lacerda e 2 anos pelas lesões corporais causadas ao guarda municipal Salvio Romeiro - Durante o julgamento, o réu confessou que mandou Climerio "dar um jeito" no jornalista e reiterou suas acusações ao general Mendes de Morais.

RIO, 12 (FOLHAS) - Às 5 horas da madrugada de hoje o juiz Sousa Neto, de pé, juntamente com todo o Tribunal e a assistencia, anunciou a decisão do Conselho de Sentença, que considerava o réu Gregório Fortunato culpado de haver colaborado para que outrem fizesse disparos de armas de fogo contra o jornalista Carlos Lacerda, ferindo-o, e ao seu acompanhante, major Rubens Florentino Vaz, que veio a falecer em conseqüência destes ferimentos. Foi também o réu Gregorio Fortunato considerado culpado pelas lesões físicas que o guarda municipal Salvio Romeiro recebeu de João Alcino do Nascimento.

A totalidade dessas penas, como nos julgamentos anteriores, de Alcino e Climerio, somava 33 anos de reclusão. Porém, o juiz, reconhecendo que a intenção do réu era a de colaborar para crime menos grave do que o afinal sucedido, reduziu de 8 anos o montante da condenação. Assim sendo, o juiz condenou Gregorio Fortunato a 19 anos de reclusão pelo homicídio, dos quais diminuiu 8, em virtude da dirimente; a 12 anos, pela tentativa de homicídio contra Carlos Lacerda e, finalmente, a 2 anos, pelas lesões corporais causadas ao guarda municipal.

TESE DA DEFESA

Ao ser reaberta a sessão, do último intervalo dos debates, a palavra estava com a defesa, fazendo uso dela o advogado Romeiro Neto, que iniciou sua oração repelindo energicamente a acusação que lhe fizera o promotor público, de haver procedido com indignidade na defesa do acusado. Alegou a sua qualidade de advogado militante do Tribunal do Júri há 30 anos e em todo esse longo percurso de tempo só recebera manifestações de apreço, não só de seus colegas de profissão como também dos mais brilhantes vultos da magistratura. Em seguida, passou a definir a sua tese, alegando o motivo relevante que levou Gregorio a encomendar a Climerio o assassínio do jornalista Carlos Lacerda. Disse que não podia deixar de ser, assim considerada a fidelidade de Gregorio a pessoa do presidente Getulio Vargas e, no seu entender, própria segurança e base interna da nação.

REPLICA E TREPLICA

Na replica, depois do discurso do promotor Araujo Jorge, que procurou refutar as alegações da defesa, com a afirmativa de que Gregorio praticara o crime mediante paga, falaram também os srs. Hugo Baldessarini e Adauto Lucio Cardoso.

Durante a treplica, o advogado Carlos de Araujo Lima foi por várias vezes aplaudido pela assistencia que também, anteriormente, se manifestara contrária a alguns de seus argumentos. O juiz Sousa Neto, por mais de uma vez, teve de recorrer a enérgicos toques de sineta e ameaçou evacuar as galerias para manter a ordem. Falou também o sr. Romeiro Neto, que deu lugar às mesmas manifestações da assistencia.

Após a treplica, o juiz-presidente procedeu à leitura das conclusões e passou à formulação dos quesitos, recolhendo-se com os jurados à sala secreta, para deliberar, somente regressando ao salão do Júri às 5 horas da madrugada, quando anunciou a sentença que condenava Gregorio Fortunato a um total de 25 anos de reclusão.

Geremia Lunardelli

GEREMIA LUNARDELLI
(76 anos)
Proprietário Rural

☼ Mansuè, Itália (20/08/1885)
┼ São Paulo, SP (09/05/1962)

Geremia Lunardelli foi um proprietário rural ítalo-brasileiro. Recebeu o epíteto de "Rei do Café" por ter chegado a possuir 18 milhões de pés de café espalhados por suas numerosas propriedades nos estados de São Paulo, Paraná e no sul de Mato Grosso, hoje Mato Grosso do Sul. Também tinha terras em Goiás e no Paraguai.

Pelo papel que teve na agricultura brasileira recebeu em 1933 a Ordem do Cruzeiro do Sul.

Com exceção da etnia italiana, do nome e da alcunha de "Rei do Café", a trajetória de Geremia Lunardelli não tem nenhuma relação com a da malévola personagem Geremia Berdinazzi, interpretada por Raul Cortez na telenovela "O Rei do Gado" (1996). O autor da telenovela simplesmente deu o nome de Geremia e a etnia italiana à personagem.

Geremia Lunardelli, o quinto e último dos assim chamados "Rei do Café" no Brasil, era natural da província de Treviso, nordeste da Itália. Tinha menos de dois anos de idade quando a sua família, em 1887, desembarcou no Porto de Santos, tendo sido nesta ocasião dirigida para trabalhar em uma fazenda de café no interior de São Paulo.

Na adolescência Geremia Lunardelli foi colono, carroceiro, e depois sitiante. Aprendeu a ler e a escrever por conta própria e, graças ao tino comercial e duro trabalho conseguiu, antes mesmo de completar os 30 anos, a emancipação econômica, quando então era um destacado agricultor e forte comerciante de café em Sertãozinho, na região de Ribeirão Preto, SP.


Em 1915, mudou-se para Olímpia, SP, adquiriu fazendas de café e aumentou sobremaneira o seu patrimônio, mas enfrentou também sérias dificuldades. A geada intensa em 1918 fê-lo liquidar as suas posições vendidas de café na praça de Santos e obter, com a ajuda de comissárias exportadoras, empréstimos para atravessar os anos de crise. Nessa cidade foi ainda prefeito e presidente da Câmara Municipal.

Em 1922 transferiu a sua residência para São Paulo, capital.

No final dos anos 20, cultivava cerca de 15 milhões de pés de café ocasião em que se tornou conhecido como "Rei do Café". Veio então o Crash de 1929 na Bolsa de New York, os preços do café, assim como o valor das suas propriedades, despencaram. O governo brasileiro proibiu o plantio de café e promoveu uma queima espetacular dos seus estoques - aproximadamente 80 milhões de sacas nos anos subsequentes.

Ao acreditar no café, e sobretudo em si mesmo, e com o apoio financeiro de tradicionais casas exportadoras de Santos e de bancos comerciais em São Paulo, Geremia Lunardelli atravessou incólume mais esta crise, a despeito do desaparecimento de inúmeras fortunas vinculadas ao setor. Nesta época, aproveitou as oportunidades de terras baratas e crédito pessoal para ampliar e consolidar os seus negócios.


Diversificou a produção, em especial na região Noroeste do Estado de São Paulo, onde chegou a manter 10 mil alqueires de invernadas com 30 mil cabeças de gado e 5 mil alqueires de algodão.

A partir dos anos 40 deu inicio a investimentos em outros Estados da Federação. Estendeu as suas atividades para no Norte do Paraná, sendo que em meados dos anos 50 possuía na região 55 mil alqueires de terras, a maior parte revendida depois na forma de colonização.

Abriu também fazendas de café e pecuária em Mato Grosso do Sul, Goiás e até no Paraguai. Em sociedade com o irmão, Ricardo, fundou em Porecatu, PR, a usina de açúcar Central do Paraná, que na gestão de seu sobrinho-neto Ricardo Lunardelli, ampliou sua capacidade construindo a Nova Usina Central Paraná, a maior usina de açúcar do Brasil na época.

Em retribuição aos serviços prestados à nação foi-lhe conferida, entre outras comendas, a Medalha da Ordem do Cruzeiro do Sul. E, face aos diligentes apelos de Assis Chateaubriand, tornou-se um importante doador de valiosas obras que fazem parte do acervo original do Museu de Arte de São Paulo (MASP).

Geremia Lunardelli morreu em 09/05/1962, em São Paulo, deixando viúva Albina Furlanetto, nove filhos e 36 netos.

Fonte: Wikipédia

Alberto da Veiga Guignard

ALBERTO DA VEIGA GUIGNARD
(66 anos)
Pintor, Professor e Gravador

* Nova Friburgo, RJ (25/02/1896)
+ Belo Horizonte, MG (25/06/1962)

Alberto da Veiga Guignard foi um pintor brasileiro nascido em Nova Friburgo, Estado do Rio de Janeiro, considerado um dos mestres da pintura moderna brasileira que ficou famoso por retratar paisagens mineiras. Nasceu com uma abertura total entre a boca, o nariz e o palato (lábio leporino), causando horror e compaixão aos seus pais.

Mergulhado em dívidas e sem perspectivas de melhora, o pai, aparentemente suicidou-se em 1906. Com o dinheiro do seguro, sua mãe conseguiu saldar as dividas deixadas pelo marido e, um ano depois, casou-se com o barão Friedrich von Schilgen, e a família foi morar na Europa, onde ele concluiu seus estudos elementares.

Viajou para a Alemanha em 1916 e matriculou-se na Real Academia de Belas-Artes da Baviera, em Munique no ano de 1917, onde ficou por cinco anos e passou pela influência de professores expressionistas como o pintor Hermann Groeber e o artista gráfico e ilustrador Adolf Hengeler

Sua formação foi alicerçada em bases européias pois lá viveu dos onze aos 33 anos.

Residiu em 1918 na casa de campo de sua mãe, em Grasse, França, seguindo para a Suíça e Itália, onde tomou conhecimento da moderna arte européia. Veio ao Brasil, quando participou do Salão Nacional de Belas Artes em 1924, e voltou para a Europa.

De volta ao Brasil em 1929, passou a residir no Rio de Janeiro, onde lecionou desenho e pintura na Fundação Osório e na antiga Universidade do Distrito Federal. Começou uma nova fase em 1934 onde se revelou um dos melhores retratistas da época, principalmente com retratos de crianças ou de mulheres, com paisagens sutis e de cores transparentes. 

Tornou-se um nome representativo juntamente com Cândido Portinari, Ismael Nery e Cícero Dias.

Dez anos depois, em 1944, a convite do prefeito de Belo Horizonte, Juscelino Kubitschek, mudou-se para a capital mineira e fundou a Escola Municipal de Belas Artes, onde exerceu grande influência sobre as gerações mais novas. Dedicou-se a um estudo sobre as cidades mineiras de tradição barroca colonial, como São João del Rei, Sabará e particularmente Ouro Preto, onde passou a residir anos depois, no ano de 1960. O contato com a arte colonial fizeram com que seu estilo sofresse uma leve influência das sinuosidades do barroco. Em Ouro Preto criou o museu Casa Guignard, em 1987, onde estão algumas de suas obras mais importantes. 

Até a sua morte, Alberto da Veiga Guignard expôs inúmeras vezes no Brasil. Em 1953, foi-lhe dedicada uma retrospectiva no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro e, em 1992, no Museu Lasar Segall.

O Museu Nacional de Belas Artes do Rio de Janeiro, sob a curadoria do marchand Jean Boghici, amigo pessoal de Guignard, realizou uma retrospectiva, com ares de megaexposição internacional, em abril de 2000.


Foi um artista completo, atuando todos os gêneros da pintura - de naturezas mortas, paisagens, retratos até pinturas com temática religiosa e política, além de temas alegóricos.

Guignard amava, mesmo, as montanhas de Minas Gerais, seu céu e suas cores, as manchas nos muros e o seu povo. Colaborou para a formação de artistas que romperam com a linguagem acadêmica e ajudou a consolidar o modernismo nas artes plásticas em Minas Gerais. O período vivido em Minas Gerais está representado também no Museu Casa Guignard.

Casou-se aos 30 anos, mas foi abandonado pela esposa, após a morte do único filho do casal, de apenas um ano. Sua ex-esposa morreu poucos anos depois, no ano de 1930, mas o pintor assumiu a solidão como única companheira e nunca mais voltou a se casar.

Alberto da Veiga Guignard morreu em Belo Horizonte, deixando obras como "Família do Fuzileiro Naval" (1931), "As Gêmeas" (1945) e "Via Sacra" (1961), entre outras.

Seu corpo repousa na Igreja de São Francisco de Assis, em Ouro Preto, onde viveu até 1962.


Vadico

OSVALDO DE ALMEIDA GOGLIANO
(51 anos)
Compositor e Pianista

* São Paulo, SP (24/06/1910)
+ Rio de Janeiro, RJ (11/06/1962)

Osvaldo de Almeida Gogliano, mais conhecido como Vadico, foi um compositor e pianista brasileiro. Filho de Erasmino Gogliano e Maria Adelaide de Almeida. Todos seus irmãos estudaram música, coisa que Vadico se interessou na adolescência. Seu irmão, Dirceu, afirmou: "Era daqueles músicos natos. Trazia notável sensibilidade artística e um extraordinário senso de estética musical".

Embora não tão reverenciado, Vadico foi um dos parceiros mais constantes do sambista carioca Noel Rosa. Morou por 15 anos nos Estados Unidos, onde conseguiu cidadania e estudou com o maestro Mario Castelnuovo-Tedesco.

Vadico nasceu em São Paulo, era filho de imigrantes italianos e viveu no Brás com os pais até aproximadamente os 20 anos, quando abandonou o ofício para cantar em festivais. Foi mais um autêntico sambista paulista e brasileiro.


Vadico e a cantora Dalva de Oliveira
Vadico começou a estudar música aos 16 anos e dois anos depois tocava piano profissionalmente, época em que venceu um concurso com "Isso Mesmo É Que Eu Quero". Em 1929, "Arranjei Outra" foi gravada por Francisco Alves e "Deixei de Ser Otário" foi incluída na trilha sonora do filme "Acabaram-se Os Otários".

Vadico conheceu Noel Rosa em 1932, nos estúdios da gravadora Odeon, que de imediato pôs letra em "Feitio de Oração", seguida de parcerias notáveis como "Feitiço Da Vila", "Pra Que Mentir", "Conversa De Botequim", "Cem Mil Réis", "Provei", "Tarzã, O Filho do Alfaiate", "Mais Um Samba Popular", "Quantos Beijos" e "Só Pode Ser Você". Com Marino Pinto, Vadico compôs sucessos como "Prece" e "Súplica". Também fez parceria com Vinicius de Moraes em "Sempre a Esperar".

Em 1939, Vadico foi para os Estados Unidos apresentar-se com a orquestra de Romeu Silva na Exposição Internacional de Mundial de Nova York. No ano seguinte, retornou e radicou-se no Estado norte-americano da Califórnia, onde viveu durante oito anos. Lá, gravou músicas do filme "Uma Noite No Rio", com Carmen Miranda, e a partir de então, tornou-se pianista da cantora luso-brasileira e do Bando da Lua.

A pedido da Universal Pictures, compôs "Ioiô", que acabou virando tema de outro filme. A convite de Walt Disney, musicou em 1943 o desenho animado "Saludos, Amigos", que apresentava o papagaio Zé Carioca como símbolo do Brasil.

Em 1949, Vadico rodou a Europa e as Américas dirigindo a orquestra da Companhia de Bailados de Katherine Dunham. Voltou ao Brasil em 1956, quando começou a trabalhar como diretor musical da TV Rio.

Ao longo de sua carreira compôs cerca de 10 obras eruditas e 80 populares, sendo 11 delas com Noel Rosa.

Em 11/06/1962, enquanto preparava-se para um ensaio com uma orquestra no estúdio da Columbia, Vadico sofreu uma ataque cardíaco e morreu.


Discografia

  • 1955 - Conversa De Botequim / Duvidoso
  • 1955 - Tarzan O Filho Do Alfaiate / Não Sobra Um Pedaço
  • 1956 - Dançando Com Vadico
  • 1980 - Vadico - Evocação III (Póstumo)

Fonte: Wikipédia

Zezé Fonseca

MARIA JOSÉ GONZÁLES
(47 anos)
Atriz e Cantora

* Rio de Janeiro, RJ (05/08/1915)
+ Rio de Janeiro, RJ (16/08/1962)

Maria José Gonzáles foi uma atriz e cantora brasileira, que tornou conhecida sob o nome de Zezé Fonseca. É notável, entretanto, por seu intenso caso romântico com Orlando Silva, cujas variações levaram o cantor ao desequilíbrio emocional que solapou sua carreira.

Zezé Fonseca estudou canto no Instituto de Música do Rio de Janeiro com Olinda Leite de Castro. Iniciou sua carreira se apresentando na "Hora Da Arte" no Tijuca Tênis Clube, no Rio de Janeiro.

Em 1932, entrou para a Rádio Philips com auxílio de Paulo Bevilácqua e passou a se apresentar no programa "Fox Tarde Demais". Produziu, por certo período, programas femininos na Rádio Cruzeiro do Sul.

Gravou seu primeiro disco na Columbia no ano de 1933, cantando a marcha "Põe A Chave Embaixo...", composição de Assis Valente, e o samba "Mulato Cheio De Bossa", composto por Milton Musco e Sílvio Pinto. No mesmo ano, gravou com Breno Ferreira a marcha "Eta Caboclo Mau", de Joubert de Carvalho e Luiz Martins. Depois de estrear como cantora, integrou a companhia teatral de Procópio Ferreira na peça "Deus Lhe Pague", de Joracy Camargo.

Em 1934, ingressou na Rádio Philips, e em 1935, gravou a marcha "Amor, Amor" e o samba "Quero A Liberdade", ambas de Sílvio Pinto.

Em 1936, contratada pela RCA Victor, gravou as marchas "Retalho De felicidade", de José Maria de Abreu e Oduvaldo Cozzi, e "São João Há De Sorrir", composta por J. M. de Abreu e Francisco Mattoso. Nesse mesmo ano, abandonou o rádio e somente retornou três anos depois, ingressando na Rádio Nacional.

Gravou seu último disco em 1940, na RCA Victor, ao lado de Barbosa Júnior, interpretando a marcha "Hino Da Alegria" e o samba "Foi Você",  ambas da dupla Juraci Araújo e Gomes Filho. Foi nessa época que iniciou seu romance com Orlando Silva, que durou até 1943.

Esteve na Argentina em 1945, apresentando-se na Rádio El Mundo. No ano seguinte, foi para a Rádio Globo.

Conhecida como intérprete de radionovelas brasileiras, foi uma das pioneiras e considerada a melhor radioatriz da Rádio Nacional, do Rio de Janeiro, até 1954, destacando-se sua atuação em "Os Amores De George Sand", na Rádio Mayrink Veiga, e "Romance Da Eternidade", na Rádio Nacional.

Gravou cinco discos pela Columbia e dois pela RCA Victor, no período de 1933 a 1940. Entrou para a história da Música Popular Brasileira por uma porta oblíqua: a partir de 1942, depois de se separar ruidosamente de um vereador carioca com quem era casada, manteve um tórrido romance com o cantor Orlando Silva, cujos altos e baixos provocaram sério desequilíbrio emocional no grande intérprete fazendo-o ingressar nas drogas. Disso resultou o afastamento de Orlando Silva da cena artística por alguns anos.

Zezé Fonseca morreu tragicamente em um incêndio em seu apartamento na cidade do Rio de Janeiro.

Pagu

PATRÍCIA REHDER GALVÃO
(52 anos)
Escritora e Jornalista

* São João da Boa Vista, SP (09/06/1910)
+ Santos, SP (12/12/1962)

Conhecida pelo pseudônimo de Pagu, foi uma escritora e jornalista. Teve grande destaque no Movimento Modernista iniciado em 1922, embora não tivesse participado da Semana de Arte Moderna porque, na época, contava apenas com onze anos de idade.

Militante comunista, foi a primeira mulher presa no Brasil por motivações políticas.

Bem antes de virar Pagu, apelido que lhe foi dado pelo poeta Raul Bopp, Zazá, como era conhecida em família, já era uma mulher avançada para os padrões da época, pois cometia algumas extravagâncias como fumar na rua, usar blusas transparentes, manter os cabelos bem cortados e eriçados e dizer palavrões. Ela não queria saber o que pensavam dela, tinha muitos namorados e causava polêmica na sociedade. Esse comportamento não era nada compatível com sua origem familiar, porque provinha de uma tradicional família e muito conservadora.

Embora tenha se tornado musa dos modernistas, Pagu não participou da Semana de Arte Moderna. Tinha apenas 12 anos em 1922, quando a Semana se realizou. Entretanto, com 18 anos, mal completara o curso na Escola Normal da capital (São Paulo, 1928) se integra ao Movimento Antropofágico, de cunho modernista, sob a influência de Oswald de Andrade e Tarsila do Amaral.


O apelido Pagu surgiu de um erro do poeta modernista Raul Bopp, autor de Cobra Norato. Raul Bopp inventou este apelido, ao dedicar-lhe um poema, porque imaginou que seu nome fosse Patrícia Goulart e por isso fez uma brincadeira com as primeiras sílabas do nome.

Em 1930, um escândalo para a sociedade conservadora de então: Oswald de Andrade separa-se de Tarsila do Amaral e casa-se com Pagu. Especula-se que eles eram amantes desde a época que Oswald era casado. No mesmo ano, nasce Rudá de Andrade, segundo filho de Oswald e primeiro de Pagu. Os dois se tornam militantes do Partido Comunista.

Ao participar da organização de uma greve de estivadores em Santos, Pagu é presa pela polícia política de Getúlio Vargas. Era a primeira de uma série de 23 prisões, ao longo da vida.

Logo depois de ser solta, em (1933), partiu para uma viagem pelo mundo, deixando no Brasil o marido e o filho. No mesmo ano, publica o romance Parque Industrial, sob o pseudônimo de Mara Lobo.

Pagu e seu filho Rudá (Santos, SP)
Em 1935 é presa em Paris como comunista estrangeira, com identidade falsa, e é repatriada para o Brasil. Separa-se definitivamente de Oswald de Andrade, por conta de muitas brigas e ciúmes. Ela retoma sua atividade jornalística, mas é novamente presa e torturada pelas forças da ditadura, ficando na cadeia por cinco anos. Nesses cinco anos, seu filho é criado por Oswald.

Ao sair da prisão, em 1940, rompe com o Partido Comunista, passando a defender um socialismo de linha trotskista. Integra a redação de A Vanguarda Socialista junto com seu marido Benedito Geraldo Ferraz Gonçalves, o crítico de arte Mário Pedrosa, Hilcar Leite e Edmundo Moniz.

Da união com Geraldo Ferraz nasce seu segundo filho, Geraldo Galvão Ferraz, em 18 de junho de 1941. Passa a morar com os dois filhos e o marido. Oswald de Andrade visita Rudá e eles passam a se relacionar como amigos. Nessa mesma época viaja à China e obtém as primeiras sementes de soja que foram introduzidas no Brasil.

Em 1952 frequenta a Escola de Arte Dramática de São Paulo, levando seus espetáculos a Santos. Ligada ao teatro de vanguarda apresenta a sua tradução de A Cantora Careca de Ionesco. Traduziu e dirigiu Fando e Liz de Arrabal, numa montagem amadora onde estreava um jovem artista Plínio Marcos.

É conhecida como grande animadora cultural em Santos, onde passa a residir com marido e os dois filhos. Dedica-se em especial ao teatro, particularmente no incentivo a grupos amadores. Em 1945 lança novo romance, A Famosa Revista, escrito em parceria com o marido Geraldo Ferraz. Tenta, sem sucesso, uma vaga de deputada estadual nas eleições de 1950.


Ainda trabalhava como crítica de arte, quando foi acometida de um Câncer. Viaja a Paris para se submeter a uma cirurgia, sem resultados positivos. Decepcionada e desesperada por estar doente, Patrícia tenta suicídio, o que não se concretizou. Sobre o episódio, ela escreveu no panfleto Verdade e Liberdade: Uma bala ficou para trás, entre gazes e lembranças estraçalhadas.

Volta ao Brasil e morre em 12 de dezembro de 1962, em decorrência da doença, para total tristeza de marido e filhos.

Em 2004 a catadora de papel Selma Morgana Sarti, em Santos, encontrou no lixo uma grande quantidade de fotos e documentos da escritora e do jornalista Geraldo Ferraz, seu último companheiro. Estes fazem parte hoje do arquivo da Unicamp.

Em 2005, a cidade de São Paulo comemorou os 95 anos de nascimento de Pagu com uma vasta programação, que incluiu lançamento de livros, exposição de fotos, desenhos e textos da homenageada, apresentação de um espetáculo teatral sobre sua vida e inauguração de uma página na internet. No dia exato de seu nascimento, convidados compareceram com trajes de época a uma Festa Pagu, realizada no Museu da Imagem e do Som.

Outra faceta de Pagu é como desenhista e ilustradora. Participou da Revista de Antropofagia, publicada entre 1928 e 1929, entre outras. Recentemente foi publicado o livro Caderno de Croquis de Pagu, com uma coletânea de trabalhos da artista, bem como foi realizada uma exposição de alguns de seus desenhos na Galeria Hermitage.

Literatura

Pagu publicou os romances Parque Industrial (edição da autora, 1933), sob o pseudônimo Mara Lobo, considerado o primeiro romance proletário brasileiro, e A Famosa Revista (Americ-Edit, 1945), em colaboração com Geraldo Ferraz. Parque Industrial foi publicado nos Estados Unidos em tradução de Kenneth David Jackson em 1994 pela Editora da University of Nebraska Press.

Escreveu também contos policiais, sob o pseudônimo King Shelter, publicados originalmente na revista Detective, dirigida pelo dramaturgo Nelson Rodrigues, e depois reunidos em Safra Macabra (Livraria José Olympio Editora, 1998).

Em seu trabalho junto a grupos teatrais, revelou e traduziu grandes autores até então inéditos no Brasil como James Joyce, Eugène Ionesco, Arrabal e Octavio Paz.

Representações na Cultura

Em 1988, a vida de Pagu foi contada no filme Eternamente Pagu (1987), no primeiro longa metragem dirigido por Norma Bengell, com Carla Camurati no papel-título, Antônio Fagundes como Oswald de Andrade e Esther Góes no papel de Tarsila do Amaral.

Foi tema de dois documentários, um produzido por seu filho Rudá de Andrade e outro pelo cineasta Ivo Branco, com o título Eh, Pagu!, Eh!. Aparece como personagem do filme O Homem do Pau-Brasil.

Foi retratada como personagem na minissérie Um Só Coração (2004), interpretada por Miriam Freeland.

Há uma canção homônima, Pagu, composição de Rita Lee e Zélia Duncan. Já interpretada por Maria Rita Camargo Mariano.

A história de Pagu também chegou aos palcos do teatro. No ano do centenário de seu nascimento entrou em cartaz o espetáculo Dos Escombros de Pagu, baseado no livro homônimo assinado por Tereza Freire.

Fonte: Wikipédia

Cândido Portinari

CÂNDIDO PORTINARI
(58 anos)
Pintor

* Brodowski, SP (29/12/1903)
+ Rio de Janeiro, RJ (06/02/1962)

Portinari pintou quase cinco mil obras, de pequenos esboços a gigantescos murais. Foi o pintor brasileiro a alcançar maior projeção internacional.

Filho de imigrantes italianos, Cândido Portinari nasceu numa fazenda nas proximidades de Brodowski, interior de São Paulo. Com a vocação artística florescendo logo na infância, Portinari teve uma educação deficiente, não completando sequer o ensino primário. Aos 14 anos de idade, uma trupe de pintores e escultores italianos que atuava na restauração de igrejas passa pela região de Brodowski e recruta Portinari como ajudante. Seria o primeiro grande indício do talento do pintor brasileiro.


Aos 15 anos, já decidido a aprimorar seus dons, Portinari deixou São Paulo e partiu para o Rio de Janeiro para estudar na Escola Nacional de Belas Artes. Durante seus estudos na Escola Nacional de Belas Artes, Portinari começou a se destacar e chamar a atenção tanto de professores quanto da própria imprensa. Tanto que aos 20 anos já participava de diversas exposições, ganhando elogios em artigos de vários jornais. Mesmo com toda essa badalação, começou a despertar no artista o interesse por um movimento artístico até então considerado marginal: o modernismo. Um dos principais prêmios almejados por Portinari foi a medalha de ouro do Salão da Escola Nacional de Belas Artes.

Nos anos de 1926 e 1927, o pintor conseguiu destaque, mas não venceu. Anos depois, Portinari chegou a afirmar que suas telas com elementos modernistas escandalizaram os juízes do concurso. Em 1928 Portinari deliberadamente preparou uma tela com elementos acadêmicos tradicionais e finalmente ganhou a medalha de ouro e uma viagem para a Europa.

Os dois anos que passou vivendo em Paris foram decisivos no estilo que consagraria Portinari. Lá ele teve contato com outros artistas como Van Dongen e Othon Friesz, além de conhecer Maria Martinelli, uma uruguaia de 19 anos com quem o artista passaria o resto de sua vida. A distância de Portinari de suas raízes acabou aproximando o artista do Brasil, e despertou nele um interesse social muito mais profundo.

Em 1946 Portinari voltou ao Brasil renovado. Mudou completamente a estética de sua obra, valorizando mais cores e a idéia das pinturas. Ele quebrou o compromisso volumétrico e abandonou a tridimensionalidade de suas obras. Aos poucos o artista deixou de lado as telas pintadas a óleo e começou a se dedicar a murais e afrescos. Ganhando nova notoriedade entre a imprensa, Portinari expôs três telas no Pavilhão Brasil da Feira Mundial em Nova Iorque de 1939. Os quadros chamaram a atenção de Alfred Barr, diretor geral do Museu de Arte Moderna de Nova York.

A década de quarenta começou muito bem para Portinari. Alfred Barr comprou a tela "Morro do Rio" e imediatamente a expôs no Museu de Arte Moderna de Nova York, ao lado de artistas consagrados mundialmente. O interesse geral pelo trabalho do artista brasileiro faz Alfred Barr preparar uma exposição individual para Portinari em plena Nova York. Nessa época Portinari fez dois murais para a Biblioteca do Congresso em Washington. Ao visitar o Museu de Arte Moderna de Nova York, Portinari se impressionou com uma obra que mudaria seu estilo novamente: "Guernica" de Pablo Picasso.

No final da década de 40 Portinari se filiou ao Partido Comunista Brasileiro e concorreu ao Senado em 1947, mas perdeu por uma pequena margem de votos. Desiludido com a derrota e também fugindo da caça aos comunistas que começava a crescer no Brasil, Portinari se mudou com a família para o Uruguai. Mesmo longe de seu país, o artista continuou com grande preocupação social em suas obras. Em 1951 uma anistia geral faz com que Portinari voltasse ao Brasil. No mesmo ano, a I Bienal de São Paulo expôs obras de Portinari com destaque em uma sala particular.

Mas a década de 50 seria marcada por diversos problemas de saúde. Em 1954 Portinari apresentou uma grave intoxicação pelo chumbo presente nas tintas que usava.

Em 1960 nasceu sua neta Denise, que passou a ocupar boa parte de seu tempo. Pintou muitos quadros com o retrato dela. Quando não estava com Denise, Portinari passava horas fitando o mar, sozinho. No ano seguinte escreveu um ensaio de oração para a neta.

A Morte

Desobedecendo a ordens médicas, Portinari continuou pintando e viajando com freqüência para exposições nos Estados Unidos, Europa e Israel. No começo de 1962 a prefeitura de Milão convidou Portinari para uma grande exposição com 200 telas. Trabalhando freneticamente, o envenenamento de Portinari começou a tomar proporções fatais. No dia 6 de fevereiro do mesmo ano, Cândido Portinari morreu envenenado pelas tintas que o consagraram.

João Cândido Portinari

Seu filho João Cândido Portinari há 33 anos fundou o Projeto Portinari  que dirige em tempo integral e dedicação exclusiva, e que já conta com inúmeras realizações motivadas pelo desejo e a necessidade de levar a obra e a mensagem desse artista brasileiro, cujo legado, em sua quase totalidade encontra-se escondido do público, fechado em coleções particulares e salas de bancos, a todos os brasileiros, e também no exterior.

Exemplos mais conhecidos são a publicação do Catálogo Raisonné da Obra Completa de Portinari, em cinco volumes com mais de 5 mil páginas - o primeiro catálogo desta natureza em toda a América Latina - , e o Projeto Guerra e Paz, que trouxe os painéis da ONU para exposição no Brasil e no exterior, além de inúmeras outras exposições e publicações, portal na internet e atividades incessantes junto às crianças e jovens em todo o Brasil.

João Candido Portinari  fundador há 33 anos do Projeto Portinari
O professor João Cândido é o fundador e Diretor-Geral do Projeto Portinari. Foi premiado com o Prêmio Jabuti de literatura em 2005 pelo Catálogo Raisonné da obra completa de seu pai e também com o prêmio Prêmio Sérgio Milliet, no mesmo ano.

João Cândido atuou na busca pelo quadro "O Lavrador de Café" roubado do MASP em 2008, que foi achado sem danificações pela polícia e agentes federais. Ele pediu para reforçaram a segurança do MASP, de onde também foi roubado um quadro de Pablo Picasso.

Também escreveu vários livros sobre a vida e a obra de Portinari, sendo destacado o livro "Menino de Brodowski".

João Cândido Portinari tem 3 filhos, Denise Berruezo Portinari, João Carlos Portinari e Maria Candida Portinari. E tambem é avô, ele tem uma neta chamada Luisa da Cunha Berruezo Portinari.

Fonte: Wikipédia e João Cândido Portinari