VICTOR LIMA BARRETO
(76 anos)
Ator, Diretor, Produtor e Roteirista
* Casa Branca, SP (23/06/1906)
+ Campinas, SP (24/11/1982)
Autodidata, Lima Barreto iniciou no cinema nacional na década de 1940 filmando curta-metragens como "O Caçador de Bromélias" e "Fazenda Velha".
"Comecei no cinema carregando tripé para o velho Del Picchia. Depois tomei emprestada uma câmera Kinamo, cavei 25 metros de negativo... e descobri meu mundo - sempre cheio de beleza"
A primeira tentativa de filme sério de Victor Lima Barreto foi "Como Se Faz Um Jornal", para O Estado de S.Paulo. Nos anos 40, fez fotografias de reportagem, foi redator da Rádio Tupi e trabalhou para o Departamento Estadual de Imprensa e Propaganda (DEIP) de São Paulo, realizando cinejornais e documentários. É dessa época "Fazenda Velha" (1944).
"Seu Bilhete, Por Favor" e "A Carta de 46" - ambos de 1946 - passaram inteiramente despercebidos pela crítica; que no entanto ressalta, além de "Fazenda Velha", as qualidades de "Caçador de Bromélias" (1946), feito para o Serviço Nacional da Malária.
Lima Barreto ingressou na Companhia Cinematográfica Vera Cruz em 1950, a convite de Alberto Cavalcanti. Seu primeiro filme para a produtora foi o documentário de curta-metragem "Painel" (1950), tendo como tema o painel sobre "Tiradentes" de Cândido Portinari, lançado junto com o primeiro longa-metragem da Vera Cruz, "Caiçara".
No ano seguinte, dirigiu "Santuário" (1951), sobre os profetas do Aleijadinho em Congonhas do Campo, MG. A premiação do filme no II Festival de Veneza de Filmes Científicos e Documentários, em agosto de 1951, abria-lhe a possibilidade de realização de um primeiro longa-metragem. A Vera Cruz, porém, relutava em aprovar o projeto de "O Canganceiro" (1953), no qual se empenhava o realizador desde a sua entrada na companhia.
Anunciada em setembro de 1951, a produção só iniciou no ano seguinte. Lima Barreto visitou a Bahia, pesquisando o cangaço, mas as locações foram realizadas em Vargem Grande do Sul, no interior de São Paulo. A filmagem, turbulenta e demorada, se arrastou por nove meses, e era de longe a mais cara que o cinema brasileiro conhecia até então. Finalmente concluído no final do ano, o filme foi lançado em janeiro de 1953, encabeçando um circuito de 24 salas em São Paulo, e pouco mais tarde em circuito nacional. Em cartaz durante seis semanas consecutivas, em dezenas de cinemas com casas lotadas, "O Cangaceiro", com Alberto Ruschel, Marisa Prado, Milton Ribeiro e Vanja Orico, alcançou o maior número de espectadores que já obteve o cinema brasileiro em toda a sua história, e logo em seguida bateu o recorde absoluto de rendimento de quaisquer filmes, nacionais ou estrangeiros, até então exibidos no mercado brasileiro.
Apresentado em abril no Festival de Cannes, o filme chamou a atenção da crítica internacional e conquistou dois prêmios: o melhor filme de aventura e menção especial para a música. Meses depois, foi ainda o melhor filme do Festival de Edimburgo. Era a consagração - para Lima Barreto e para a Vera Cruz -, que, no entanto, chegava tarde para a produtora afogada em dívidas. Meses depois a Vera Cruz vendeu os direitos do filme à Columbia Pictures, que o distribuiu durante anos por todo o mercado internacional, com enormes rendimentos. Com essa obra, surgiu um novo gênero cinematográfico muito utilizado depois, o "cangaço".
Em setembro de 1953, Lima Barreto viajou pelo Nordeste, da Bahia ao Ceará, em busca de locações para o seu novo projeto: "O Sertanejo". Abordando temas ligados à figura de Antônio Conselheiro, ao contrário de "O Cangaceiro", o filme desta vez seria rodado no interior baiano. Previstas para o final do ano de 1953, as filmagens foram sendo sucessivamente proteladas e sequer iniciaram. Mais complexo, mais ambicioso e muito mais caro que o anterior, a Vera Cruz não tinha condições de produzir o filme. Em guerra aberta contra o que considerava um boicote da companhia, o diretor buscou outros produtores, fez campanhas pelos jornais, anunciou novos projetos - mas não desistiu de "O Sertanejo". Uma leitura pública do roteiro, feita por ele próprio, causou enorme e duradoura impressão.
Em junho de 1954, já nos estertores, a Vera Cruz produziu "São Paulo em Festa", documentário de longa-metragem sobre os festejos do IV Centenário de São Paulo, dirigido por Lima Barreto. Foi o último filme da companhia - e seria o único longa-metragem do diretor nos próximos seis anos.
Falida a Vera Cruz, Lima Barreto realizou três documentários: "Arte Cabocla" (1955), premiado com um Saci, "O Livro" (1957) e "O Café" (1959); o último - e eventuais outros que não deixaram rastros - são filmes institucionais de encomenda.
Iniciou uma coluna para o jornal O Dia. Escrevia contos, novelas, argumentos e roteiros, ensaiou uma história do cinema em São Paulo - e continuou procurando produção para "O Sertanejo".
Em dezembro 1957, anunciou a realização de "A Primeira Missa" - que iniciou em março de 1960. Fartamente divulgado pela imprensa, e ansiosamente aguardado, o novo filme de Lima Barreto decepcionou. "A Primeira Missa", baseado num conto de Nair Lacerda, "Nhá Colaquinha Cheia de Graça", com locações em Jambeiro, no estado de São Paulo, é uma crônica interiorana, centrada na história de um menino que se torna padre. Apresentado no Festival de Cannes de 1961, o filme foi praticamente ignorado - quando não tratado com frieza ou ironia. No Brasil, não fez boa carreira: exaltado pelas associações católica de cultura cinematográfica e recebido com simpatia por parte da crítica, ainda assim não foi o que se esperava do "laureado diretor" de "O Cangaceiro".
Nos anos 60, Lima Barreto filmou um documentário de média-metragem, "Psicodiagnóstico Miocinético" (1962). Publicou dois livros, "Lima Barreto Conta Histórias" (1961) e "Quelé do Pajeú" (1965). Continuou a anunciar novos projetos - cada vez mais caros e mais ambiciosos - e periodicamente retomou os antigos, acalentados desde os tempos da Vera Cruz. São na maior parte adaptações de romances brasileiros famosos, ou grandes temas épicos ligados à história do Brasil: "A Retirada da Laguna", "Plácido de Castro", "O Alienista", "Nos Idos de Sorocaba", "Cântico da Terra", "Pau Brasil", entre muitos outros. Os preferidos - aos quais voltava sempre - são "Quelé do Pajeú" e "O Sertanejo", que deveriam compor, junto com "O Cangaceiro", a sua "Trilogia do Nordeste".
No final dos anos 60, dois de seus roteiros - "Inocência" e "Um Certo Capitão Rodrigo" - recebem o prêmio do Instituto Nacional do Livro de melhor adaptação cinematográfica de obra literária, respectivamente em 1968 e 1969.
Oito anos depois, pobre e doente, morando numa casa de cômodos semidestruída na Bela Vista, Lima Barreto ainda tinha forças para mais uma vez anunciar a filmagem de "Inocência". Embora não por ele, "Quelé do Pajeú" e "Inocência" foram afinal filmados, o primeiro por Anselmo Duarte e o segundo por Walter Lima Jr.
Lima Barreto foi casado com a atriz Araçary de Oliveira e depois do divórcio passou a viver só e amigo da boemia. Morreu pobre e esquecido, vítima de um infarto, em um asilo para velhos na cidade de Campinas, aos 76 anos de idade.
"Seu Bilhete, Por Favor" e "A Carta de 46" - ambos de 1946 - passaram inteiramente despercebidos pela crítica; que no entanto ressalta, além de "Fazenda Velha", as qualidades de "Caçador de Bromélias" (1946), feito para o Serviço Nacional da Malária.
Lima Barreto ingressou na Companhia Cinematográfica Vera Cruz em 1950, a convite de Alberto Cavalcanti. Seu primeiro filme para a produtora foi o documentário de curta-metragem "Painel" (1950), tendo como tema o painel sobre "Tiradentes" de Cândido Portinari, lançado junto com o primeiro longa-metragem da Vera Cruz, "Caiçara".
No ano seguinte, dirigiu "Santuário" (1951), sobre os profetas do Aleijadinho em Congonhas do Campo, MG. A premiação do filme no II Festival de Veneza de Filmes Científicos e Documentários, em agosto de 1951, abria-lhe a possibilidade de realização de um primeiro longa-metragem. A Vera Cruz, porém, relutava em aprovar o projeto de "O Canganceiro" (1953), no qual se empenhava o realizador desde a sua entrada na companhia.
Anunciada em setembro de 1951, a produção só iniciou no ano seguinte. Lima Barreto visitou a Bahia, pesquisando o cangaço, mas as locações foram realizadas em Vargem Grande do Sul, no interior de São Paulo. A filmagem, turbulenta e demorada, se arrastou por nove meses, e era de longe a mais cara que o cinema brasileiro conhecia até então. Finalmente concluído no final do ano, o filme foi lançado em janeiro de 1953, encabeçando um circuito de 24 salas em São Paulo, e pouco mais tarde em circuito nacional. Em cartaz durante seis semanas consecutivas, em dezenas de cinemas com casas lotadas, "O Cangaceiro", com Alberto Ruschel, Marisa Prado, Milton Ribeiro e Vanja Orico, alcançou o maior número de espectadores que já obteve o cinema brasileiro em toda a sua história, e logo em seguida bateu o recorde absoluto de rendimento de quaisquer filmes, nacionais ou estrangeiros, até então exibidos no mercado brasileiro.
Apresentado em abril no Festival de Cannes, o filme chamou a atenção da crítica internacional e conquistou dois prêmios: o melhor filme de aventura e menção especial para a música. Meses depois, foi ainda o melhor filme do Festival de Edimburgo. Era a consagração - para Lima Barreto e para a Vera Cruz -, que, no entanto, chegava tarde para a produtora afogada em dívidas. Meses depois a Vera Cruz vendeu os direitos do filme à Columbia Pictures, que o distribuiu durante anos por todo o mercado internacional, com enormes rendimentos. Com essa obra, surgiu um novo gênero cinematográfico muito utilizado depois, o "cangaço".
Em setembro de 1953, Lima Barreto viajou pelo Nordeste, da Bahia ao Ceará, em busca de locações para o seu novo projeto: "O Sertanejo". Abordando temas ligados à figura de Antônio Conselheiro, ao contrário de "O Cangaceiro", o filme desta vez seria rodado no interior baiano. Previstas para o final do ano de 1953, as filmagens foram sendo sucessivamente proteladas e sequer iniciaram. Mais complexo, mais ambicioso e muito mais caro que o anterior, a Vera Cruz não tinha condições de produzir o filme. Em guerra aberta contra o que considerava um boicote da companhia, o diretor buscou outros produtores, fez campanhas pelos jornais, anunciou novos projetos - mas não desistiu de "O Sertanejo". Uma leitura pública do roteiro, feita por ele próprio, causou enorme e duradoura impressão.
Em junho de 1954, já nos estertores, a Vera Cruz produziu "São Paulo em Festa", documentário de longa-metragem sobre os festejos do IV Centenário de São Paulo, dirigido por Lima Barreto. Foi o último filme da companhia - e seria o único longa-metragem do diretor nos próximos seis anos.
Falida a Vera Cruz, Lima Barreto realizou três documentários: "Arte Cabocla" (1955), premiado com um Saci, "O Livro" (1957) e "O Café" (1959); o último - e eventuais outros que não deixaram rastros - são filmes institucionais de encomenda.
Iniciou uma coluna para o jornal O Dia. Escrevia contos, novelas, argumentos e roteiros, ensaiou uma história do cinema em São Paulo - e continuou procurando produção para "O Sertanejo".
Durante as Filmagens de "O Cangaceiro" |
Nos anos 60, Lima Barreto filmou um documentário de média-metragem, "Psicodiagnóstico Miocinético" (1962). Publicou dois livros, "Lima Barreto Conta Histórias" (1961) e "Quelé do Pajeú" (1965). Continuou a anunciar novos projetos - cada vez mais caros e mais ambiciosos - e periodicamente retomou os antigos, acalentados desde os tempos da Vera Cruz. São na maior parte adaptações de romances brasileiros famosos, ou grandes temas épicos ligados à história do Brasil: "A Retirada da Laguna", "Plácido de Castro", "O Alienista", "Nos Idos de Sorocaba", "Cântico da Terra", "Pau Brasil", entre muitos outros. Os preferidos - aos quais voltava sempre - são "Quelé do Pajeú" e "O Sertanejo", que deveriam compor, junto com "O Cangaceiro", a sua "Trilogia do Nordeste".
No final dos anos 60, dois de seus roteiros - "Inocência" e "Um Certo Capitão Rodrigo" - recebem o prêmio do Instituto Nacional do Livro de melhor adaptação cinematográfica de obra literária, respectivamente em 1968 e 1969.
Oito anos depois, pobre e doente, morando numa casa de cômodos semidestruída na Bela Vista, Lima Barreto ainda tinha forças para mais uma vez anunciar a filmagem de "Inocência". Embora não por ele, "Quelé do Pajeú" e "Inocência" foram afinal filmados, o primeiro por Anselmo Duarte e o segundo por Walter Lima Jr.
Lima Barreto foi casado com a atriz Araçary de Oliveira e depois do divórcio passou a viver só e amigo da boemia. Morreu pobre e esquecido, vítima de um infarto, em um asilo para velhos na cidade de Campinas, aos 76 anos de idade.
Filmografia
- 1935 - O Carnaval Paulista de 1936 (Documentário - Co-diretor)
- 1944 - Na Piscina (Documentário - Diretor)
- 1944 - Fazenda Velha (Documentário - Diretor e Diretor de Fotografia)
- 1945 - Comício da UDN no estádio do Pacaembú (Documentário - Diretor)
- 1946 - O Quartzo (Documentário - Diretor)
- 1946 - O Cofre (Documentário - Diretor)
- 1946 - O Disco (Documentário - Diretor)
- 1946 - Seu Bilhete, Por Favor (Documentário - Diretor)
- 1946 - Caçador de Bromélias (Documentário - Diretor e Diretor de Fotografia)
- 1946 - A Carta de 46 (Documentário - Diretor)
- 1950 - Como Se Faz Um Jornal (Documentário - Diretor)
- 1950 - Painel (Documentário - Diretor)
- 1951 - Santuário (Documentário - Diretor e Produtor)
- 1951 - Terra é Sempre Terra (Ator)
- 1952 - Tico-Tico No Fubá (Ator)
- 1952 - O Cangaceiro (Diretor, Roteirista e Ator)
- 1953 - Sinhá Moça (Ator)
- 1954 - A Industrialização do Leite em São Paulo (Documentário - Diretor)
- 1954 - São Paulo em Festa (Documentário - Diretor e Roteirista)
- 1955 - Guarujá (Documentário - Diretor)
- 1955 - Arte Cabocla (Documentário - Diretor)
- 1957 - O Livro (Documentário - Diretor)
- 1959 - O Café (Documentário - Diretor e Produtor)
- 1960 - A Primeira Missa (Diretor, Roteirista e Ator)
- 1962 - Psicodiagnóstico Miocinético (Documentário - Diretor)
- 1969 - Quelé do Pajeú (Roteirista)
- 1983 - Inocência (Roteirista)
Fonte: Wikipédia e Filmescópio