Edu da Gaita

EDUARDO NADRUZ
(65 anos)
Compositor e Gaitista

* Jaraguão, RS (13/10/1916)
+ Rio de Janeiro, RJ (23/08/1982)

Eduardo Nadruz, artisticamente conhecido por Edu da Gaita, nasceu na cidade gaúcha de Jaguarão em 13 de outubro de 1916, filho de imigrantes árabes.

Seu primeiro contato com a harmônica de boca cercou-se do mesmo sentido casual e despreocupado com que todo menino procurava as melodias conhecidas no despretensioso instrumento.

1940
No ano de 1926 chegava à cidade de Pelotas um certo professor Charles, representante da fábrica de gaitas Hohner, que promoveu um concurso do qual tomaram parte cerca de 300 alunos dos colégios Gonzaga e Pelotense. Charles fez uma eliminatória oferecendo um prêmio de 200 mil réis ao primeiro colocado. Foram selecionados 15 finalistas que participariam do espetáculo a ser realizado no Teatro GuaraniEdu era um deles.

No dia da decisão o teatro estava lotado. Pela ordem de apresentação Edu seria o último a tocar. Um garoto de Dom Pedrito, Simplício Garcia, arrancou aplausos frenéticos da platéia ao executar o tango argentino El Panuelito Blanco e era o franco favorito.

O público foi se tornando cada vez mais irreverente com os outros candidatos que eram freqüentemente interrompidos por apupos e gritos de "Simplício já ganhou!", e foi nesse clima que chegou a vez de Edu. A platéia continuava gritando mas, indiferente, Edu iniciou sua apresentação com uma seleção de trechos de óperas que começava com a Tosca emendando com Fausto, Rigoleto, Madame Butterfly, La Traviata, Cavalaria Rusticana e para finalizar, a protofonia de O Guarani, sendo que essa última surpresa levou o público ao delírio. Aclamado como vencedor, foi carregado em triunfo pelas ruas da cidade e arrematou o prêmio de 200 mil réis.

1953
Em janeiro de 1933, o pai de Edu atravessava uma fase bastante negativa em seus negócios e resolveu enviar o filho mais velho a São Paulo com o objetivo de conseguir um emprego e ajudar nas despesas da família:

"Tens aqui 300 mil réis. Foi o máximo que pude arranjar. Vai tentar a tua vida. Não quero saber como, mas tenho absoluta confiança em ti".

Compenetrado da empreitada que estava assumindo e ciente do clima de hostilidade para com os gaúchos em São Paulo no após Revolução de 1932, Edu foi primeiramente para Santos, seguindo logo após para a capital.

Munido de algumas cartas de apresentação dadas pelo amigo Nassif Miguel, dirigiu-se à famosa Rua 25 de Março, tradicional reduto da colônia árabe em São Paulo. Apesar disso, a resposta era sempre a mesma:

"Eu sei que você é filho de patrícios mas esse problema de ser gaúcho é que atrapalha tudo. Nós não podemos nos comprometer."

O ambiente de frieza era total. O dinheiro dado pelo pai havia acabado e a dona da pensão deu-lhe um prazo de quinze dias para pagar o aluguel ou ir embora. Em pânico, Edu arrumou sua mala e deixou a pensão descendo a Rua Quintino Bocaiúva em direção à Rua Direita. Atingiu a Avenida São João entrando pela Rua São Bento e, ao descer a Ladeira do Martinelli, parou subitamente. Na esquina de Líbero Badaró com Avenida São João um homem soprava uma gaita enquanto um outro recolhia uns trocados.

1959
A lembrança de sua infância imediatamente veio à tona mas era preciso arrumar uma gaita. Onde? De mala em punho, dirigiu-se à tradicional Casa Manon que distava cerca de cem metros de onde se encontrava e perguntou ao vendedor:

"O senhor tem gaitas para vender?"

O balconista o olhou de alto a baixo e desconfiado chamou o gerente. Edu insistiu na pergunta e o gerente respondeu:

"Esse instrumento não vende... ninguém toca... tenho um estoque antigo aí."

Imediatamente Edu fez uma proposta perguntando-lhe que comissão poderia receber caso vendesse as gaitas do estoque. Combinaram trinta por cento.

Eram duas dúzias de gaitas e após escolher uma delas, Edu começou a tocar na porta da loja. Em menos de duas horas todas estavam vendidas. Vitorioso, o menino com então 17 anos, iniciou sua vida como músico ambulante. Seu primeiro repertório era composto da fantasia lírica, nome que passou a dar à seleção de trechos de óperas com a qual havia ganho o concurso, além de alguns tangos e rancheiras.

Em 1934, um grupo de amigos o convidou para acompanhá-los numa viagem de carro ao Rio de Janeiro, aonde chegou em pleno sábado de carnaval desembarcando na porta da Galeria Cruzeiro, atual Edifício Avenida Central.

O clima do Rio de Janeiro era bem mais acolhedor e o ambiente cultural fervilhava. No famoso Café Nice, rapidamente se integrou com os famosos nomes da época. Mário Lago, Luiz Barbosa, Frazão, Nássara, Carlos Galhardo, Francisco Alves, Custódio Mesquita, Lamartine Babo, Braguinha, Jorge Murad e Nônô foram os primeiros que conheceu.

1973
No mesmo ano, foi levado à Rádio Mayrink Veiga onde conheceu César Ladeira que o contratou para fazer o prefixo de um novo programa, sendo escolhido o tema de "O Gordo e o Magro". Há no entanto um problema – disse César Ladeira. Eduardo Nadruz é anti-radiofônico... Após pensar um pouco, sugeriu: "Que tal Edu e sua gaita? Edu é apelido de Eduardo, nome curto e incisivo!" - arrematou. A partir daquele momento, como num passe de mágica, Eduardo foi transformado em Edu da Gaita pelo mesmo homem que deu o nome de Pequena Notável à Carmem Miranda.

Seu novo emprego não duraria no entanto mais do que dois meses, pois uma limitação técnica do antigo instrumento não lhe permitia grande variação do repertório. As antigas gaitas de boca não possuíam a chave de meio tom. Era como tocar num piano só com as teclas brancas. Apesar de demitido, insistiu se apresentando em circos, na porta de cinemas, teatros e restaurantes.

Entre 1935 e 1939, tudo o que um homem pudesse imaginar no sentido de garantir o seu sustento pessoal aconteceu a Edu: Camelô, pianista de bordel, secretário de bookmaker, cantor de tangos, datilógrafo e vendedor de livros didáticos, isso entremeado com apresentações esporádicas com sua gaita.

Músico Excêntrico
Em princípios de 1937, foi convidado a participar do espetáculo no Cassino Copacabana, porém era necessário apresentar a carteira profissional. Dirigiu-se ao ministério do trabalho onde ocorreu um diálogo que deu lugar à concessão de um dos documentos mais surrealistas da história da música profissional do Brasil:

"Impossível! O homem não tem profissão definida, diz que é tocador de gaita... isso não existe em nenhuma categoria musical ou artística!"

Chega um outro e comenta:

"Seu Furtado, se o homem faz música é músico... seja em que instrumento for. Quem toca piano é pianista, violino é violinista, gaita só pode ser gaitista..."

Furtado mais uma vez argumentou que a classificação tinha que ser como músico e não como instrumentista e, após uma calorosa discussão, entregou a Eduardo Nadruz a carteira profissional número 70.748, série 27, determinando sua condição de "Músico Excêntrico" (em 1948, já famoso e reconhecido, foi emitida a segunda via, ratificando a primeira).

1979
Mais uma vez o novo emprego não duraria muito e pela mesma razão: a limitação técnica da harmônica de boca e por isso, no início de 1939, Edu resolveu deixar de vez o instrumento que lhe atormentava. Entretanto, não tinha coragem de dizer que o abandonara.

Certo dia, ao chegar no Café Nice foi surpreendido por uma pergunta de Nônô:

"Edu, você não toca mais aquela gaitinha?"

Edu respondeu que o problema era a falta de recursos técnicos do instrumento. Na mesa ao lado, o guitarrista da famosa orquestra de Romeu Silva - Fernando - ouvia o diálogo e interviu:

"Acabei de chegar da feira mundial de Nova York e lá, por uma questão de curiosidade, comprei uma gaita que tem uma chave ao lado que, quando acionada sobe meio tom na afinação original."

Edu segurou as mãos de Fernando e começou a gritar:

"Ela existe, nunca me enganei! Estou salvo!"

Às nove horas da noite, Fernando retornou trazendo um estojo com uma gaita cromática de 64 vozes. Trêmulo, Edu quase não consegui abri-lo. Pegou a gaita, olhou o instrumento, acionou a chave e soprou levemente. Em sua volta, em plena rua do Rio de Janeiro, compositores, músicos, cantores, garçons e fregueses no Café Nice aguardavam ansiosos a demonstração. Edu começou a tocar e um fato surpreendente ocorreu: tudo o que estava armazenado no seu subconsciente foi sendo executado o que arrancou aplausos da platéia improvisada.

Ainda em 1939, Sílvio Caldas o leva para a Rádio Mayrink Veiga, agora em definitivo, onde trabalharia durante onze anos.

Edu gravando seu ultimo disco - Eldorado Studios - 1980
Apresentado ao dono do Cassino da Urca - Joaquim Rolla - foi contratado porém começaria com uma experiência no Cassino Icaraí, onde no entanto não permaneceria por mais de três meses devido a um sério desentendimento motivado pela falta de apoio às suas pretensões como solista. Jaime Redondo, o diretor artístico, entendia que suas apresentações eram apenas uma questão de curiosidade e nunca de uma arte definida. Enfim, uma excentricidade de pouca duração.

Ao retornar para o Rio de Janeiro na barca da Cantareira, o artista estava plenamente convencido de que o desentendimento com Jaime Redondo era apenas o início de uma luta que perduraria por toda a sua vida.

Na Rádio Mayrink Veiga, as coisas não eram muito diferentes e então Edu procurou o superintendente da emissora, Edmar Machado, e o fez ver que sua carreira estava ameaçada, pois necessitava de orquestrações para poder se desenvolver mais seriamente. Era preciso de uma vez por todas quebrar aquele "tabu". Edmar concordou, mas não sabia como resolver o problema.

Ao sair do escritório, um músico que entrava na sala de Edmar para pedir um "vale" e tinha ouvido a conversa disse-lhe: "Quero conversar com você. Me espere."

Esse músico chamava-se Printeas Passos, na época um dos maiores trombonistas do Brasil. Atuava na orquestra da Rádio Mayrink Veiga e era uma das atrações do conjunto do célebre Fon-Fon - "jamais escrevi uma orquestração para ninguém, mas tenho certeza que não terei dificuldade. Quer tentar comigo?"

Foram para o estúdio e Edu executou uma seleção de melodias espanholas que incluía La Leyenda Del Beso, Lady Of Spain, La Violetera e El Relicário. Passos pediu um prazo de duas semanas e ao fim desse período, concluiu o trabalho que foi coroado de pleno êxito, conquistando inclusive a aprovação dos músicos da orquestra.

Edu consertando gaitas
Inaugurava-se a partir daquele momento, uma nova fase da carreira de Edu. A fantasia espanhola abriu o caminho para uma série de outras orquestrações que o fariam retornar ao Cassino da Urca, agora como atração principal, onde permaneceu até o fechamento do jogo em 1946.

No período compreendido entre outubro e dezembro de 1945, um fato ocorrido no Estúdio A da Rádio Mayrink Veiga mudaria em definitivo o destino artístico de Edu que se deparou com um violinista – João Corrêa de Mesquita - ensaiando o Moto Perpétuo de Paganini...

"O que é isso Mesquita, vai tocar o Moto Perpétuo?" - perguntou.

Mesquita respondeu que não. Somente tinha o hábito de ensaiar aquela peça para melhorar sua técnica. Edu se interessou... Será que eu conseguiria tocar pelo menos alguns compassos em meu instrumento?

"Bem, alguns você poderá executar, mas se você conseguisse tocar todo o Moto Perpétuo seria uma proeza, pois você se tornaria o primeiro músico no mundo a soprá-lo..."

Naquela época, Edu já havia se tornado famoso ao apresentar em sua modesta harmônica aquilo que dela não se esperava. Tendo evoluído em seus estudos e pesquisas, considerou que poderia figurar dentro de âmbito mais responsável e, motivado pelo entusiasmo e pelo futuro que vislumbrava para justificativa da presença de sua harmônica no cenário artístico mundial, resolveu empreender a suprema escalada de sua carreira profissional.

Onze anos de estudos foram precisos para a conquista da peça na qual se esbarra com as tremendas dificuldades representadas por 2400 notas, executadas sem pausa de espécie alguma, num tempo máximo de 4 minutos.

Em junho de 1956, Edu gravou na íntegra o célebre Moto Perpétuo de Paganini no tempo recorde de 3 minutos e 21 segundos, tornando-se o primeiro em toda a história da música instrumental de sopro a alcançar essa façanha, demonstrando indiscutivelmente as possibilidades técnicas de seu instrumento. Mais do que a conquista pessoal, o seu grande objetivo era demonstrar que a harmônica de boca é um instrumento completo que deveria figurar no mesmo nível dos outros. Infelizmente, ainda hoje a gaita de boca é um instrumento "sem cátedra" ou seja, não é estudado e ensinado nas escolas de música.

Edu da Gaita
Sua luta não foi totalmente em vão: em 22 de novembro de 1958, no Teatro Municipal do Rio de Janeiro, acompanhado pela Orquestra Sinfônica Brasileira e em primeira audição mundial, Edu executou o concerto para harmônica de boca e orquestra de Radamés Gnattali, sob a regência do autor, ganhando o prêmio de música erudita conferido pela Prefeitura do Rio de Janeiro naquele mesmo ano. Isso significa que uma literatura musical da mais alta relevância já foi iniciada, abrindo caminho para que a modestíssima harmônica se transforme num instrumento definido e respeitado. Edu ainda trabalharia durante longos anos na Rádio Nacional e se apresentaria também em excursões pelo exterior.

A partir do final da década de 60, o país que tanto amou e ao qual dedicou a conquista do Moto Perpétuo e todo o restante de sua obra, começou a esquecê-lo. Edu no entanto nunca quis deixar sua pátria, apesar dos conselhos dos amigos e, na solidão de sua casa, mesmo abandonado, continuou se dedicando com afinco à arte que jamais aviltou ou vendeu. Morreu pobre e nobre.

"A música foi a razão da minha vida."

Essas foram, literalmente suas últimas palavras, ditas na manhã de 22 de agosto de 1982, após uma homenagem proporcionada por seu filho, esposa e alguns poucos amigos, que reproduziram num pequeno gravador o Moto Perpétuo de Paganini, aplaudindo artista que ainda teve forças para agradecer.

Em 23 de agosto, falecia Eduardo Nadruz, um dos maiores músicos que o Brasil já teve.

O resgate de sua obra tem importância não apenas para a preservação da cultura nacional, mas também para divulgar de uma forma mais ampla, inclusive em outros países - onde seu trabalho ainda é praticamente inédito - o nível técnico que é possível atingir com a harmônica de boca, permitindo que outros no futuro possam sucedê-lo e até mesmo superá-lo.

Fonte: Edu da Gaita

Pinheiro

JOÃO CARLOS BATISTA PINHEIRO
(79 anos)
Jogador de Futebol e Técnico

* Campos dos Goytacazes, RJ (13/01/1932)
+ Rio de Janeiro, RJ (30/08/2011)

Zagueiro viril, de ótimo porte físico com seu 1,87 m de altura, sendo ainda bastante forte, se impôs como o xerife da zaga do Fluminense em 605 jogos. Foi o segundo jogador que mais defendeu o tricolor e durante doze anos 1949/1961 foi titular no Fluminense.

Pelo Fluminense, Pinheiro foi campeão carioca de 1951 e 1959, da Copa Rio de 1952, do Torneio Rio-São Paulo de 1957 e de 1960, além de vários outros títulos de menor expressão.

Antes de defender o Fluminense, Pinheiro atuou pelo Americano Futebol Clube de sua cidade natal, tendo jogado neste clube como goleiro, zagueiro, meia-armador e centroavante.

Defendeu também a Seleção Brasileira em 17 jogos (11 vitórias, 3 empates, 3 derrotas e 1 gol marcado), sendo campeão dos Jogos Pan-Americanos de 1952 e da Taça Bernardo O'Higgins em 1955. Foi titular da Copa do Mundo de 1954.

Ao terminar a sua carreira como jogador, Pinheiro trabalhou nas categorias de base do Fluminense como técnico, ganhando diversos títulos e revelando muitos jogadores para o tricolor.

Chegou a ser técnico profissional e dirigiu vários times com sucesso, como Goytacaz, Americano de Campos, Bangu, América Mineiro, Cruzeiro, entre outros.

Morte

O ex-zagueiro e técnico Pinheiro faleceu na terça-feira, 30/08/2011, aos 79 anos vítima de falência múltipla dos órgãos causada por um câncer de próstata. Ele estava internado desde o dia 04/07/2011 no Hospital Pan-Americano, na Tijuca, bairro da zona norte do Rio de Janeiro.

Fonte: Wikipédia

Renata Agondi

RENATA CÂMARA AGONDI
(25 anos)
Nadadora

* Santos, SP (08/02/1963)
+ Canal da Mancha (23/08/1988)

Renata Câmara Agondi foi uma nadadora brasileira famosa por ter tentado atravessar a nado o Canal da Mancha, quando morreu, em agosto de 1988.

Renata Agondi
Renata Agondi, grande nome da natação brasileira nos anos 80, reunia todas as condições para ter figurado entre os maiores nomes da natação mundial de águas abertas. Em suas participações em provas internacionais, Renata foi capaz de impressionar os especialistas e despertar o respeito dos demais atletas.

Em 1986, em sua primeira atuação na Travessia de Capri-Napoli, uma das mais charmosas provas de mar aberto do mundo, Renata terminou em terceiro lugar entre as mulheres e na sexta posição na geral, superando o também brasileiro Igor de Souza, que terminou em sétimo.

Com o tempo de 9 horas, 27 minutos e quatro segundos, Renata ainda ficou com o título de vice-campeã da categoria profissional. A campeã feminina, a holandesa Monique Wildchut com uma experiência incomparável no tocante à Renata, completou a prova em 9 horas, 10 minutos e 35 segundos.

Renata começou a nadar com a idade de oito anos, no Aprenda a Nadar do Fluminense Futebol Club, do Rio de Janeiro, agremiação pela qual conquistou suas primeiras medalhas e títulos.

De 1980 a 1982, Renata manteve-se afastada da natação para retomá-la já em Santos, no Clube de Regatas Saldanha da Gama. Antes de integrar a equipe da Associação Santa Cecília de Esportes, ela ainda atuaria pelo Clube Internacional de Regatas.

Nas piscinas, Renata exibiu muito talento, mas foram nas provas de águas abertas que ela realmente se encontrou. Em um curto espaço de tempo, transformou-se na principal competidora da categoria no estado de São Paulo e numa das melhores do país.

Depois das participações em provas internacionais na Itália, ela entendeu que chegara a hora de encarar o maior desafio de todos, a travessia das gélidas águas do Canal da Mancha.

No fatídico dia 23 de agosto de 1988, totalmente exaurida pelo esforço extremo provocado por uma imperdoável falha na rota e apresentando um acentuado quadro de hipotermia, Renata veio a falecer, deixando uma lacuna irreparável.

Revolution 9
A história de Renata, sua passagem pela Secretaria de Esportes de Santos, pela Liga Santista de Desportos Aquáticos, pela Faculdade de Comunicação da Universidade Católica de Santos, seus amores e outras confidências são encontradas no livro Revolution 9 de Marcelo Teixeira, que ganhou sua versão cinematográfica com o documentário Renata.

Renata dava o nome aos seus diários de Revolution 9, em homenagem aos Beatles, grupo pelo qual demonstrava grande admiração.

Marcelo, que é presidente da última agremiação que a nadadora defendeu, a Associação Santa Cecília de Esportes (ASCE), escreveu o livro para homenagear a amiga e antiga atleta. Afinal, a própria Renata queria que isso acontecesse:

"Quando morrer, eu quero que façam um livro com meus diários. Sei que não são importantes, mas são bacanas porque contam uma vida, e uma vida por mais insignificante que seja, é muito importante para aprendermos sobre nós mesmos."

Menotti del Picchia

PAULO MENOTTI DEL PICCHIA
(96 anos)
Poeta, Jornalista, Tabelião, Advogado, Político, Romancista, Cronista, Pintor e Ensaísta

* São Paulo, SP (20/03/1892)
+ São Paulo, SP (23/08/1988)

Com cinco anos de idade mudou-se para a cidade de Itapira, interior de São Paulo, onde foi aluno de Jacomo Stávale. Bacharel em Direito pela Faculdade do Largo de São Francisco, formado em 1913.

Nesse ano de 1913 publicou Poemas do Vício e da Virtude, seu primeiro livro de poesias. Na cidade de Itapira foi agricultor e advogado militante. Lá criou o jornal político O Grito e escreveu os poemas Moisés e Juca Mulato. Colaborou em vários jornais, entre os quais Correio Paulistano, Jornal do Comércio e Diário da Noite.

Em 1924 criou, com Cassiano Ricardo e Plínio Salgado, o Movimento Verde-Amarelo, de tendência nacionalista. Publicou vários romances, entre eles Flama e Argila, O Homem e a Morte, Republica 3000 e Salomé, além de livros de ensaios e de crônicas.

Menotti del Picchia e Joaquim Inojósa
Atividade Política

Foi membro do Partido Republicano Paulista durante a República Velha, participou da Revolução de 1932 como ajudante de ordens do governador Pedro de Toledo. Escreveu um livro sobre a Revolução de 1932, chamado A Revolução Paulista.

Exerceu vários cargos públicos. Foi o primeiro diretor do Departamento de Imprensa e Propaganda do Estado de São Paulo, deputado estadual em duas legislaturas, membro da constituinte do Estado de São Paulo e deputado federal pelo Estado de São Paulo em três legislaturas.

Atividade Cultural

Foi diretor de A Noite e A Cigarra, entre 1920 e 1940, além de diversos outros jornais e revistas.

Com Oswald de Andrade, Mário de Andrade e outros jovens artistas e escritores paulistas, participou da Semana de Arte Moderna de fevereiro de 1922 no Teatro Municipal de São Paulo. Foi um dos mais combativos militantes da estética modernista.

Em 1937 foi diretor do Grupo da Anta, com Cassiano Ricardo, e diretor do Movimento Cultural Nacionalista Bandeira, com Cassiano Ricardo e Cândido Mota Filho.

Paulo Menotti del Picchia
Em 1943, foi eleito para a cadeira 28 da Academia Brasileira de Letras, tendo sido suas principais obras Juca Mulato (1917) e Salomé (1940). Um livro seu de elevada popularidade é Máscaras (1920), pela sua nota lírica.

Presidiu a Associação dos Escritores Brasileiros, seção de São Paulo. Foi agraciado com o título de Intelectual do Ano em 1968, e aclamado Príncipe dos Poetas Brasileiros em 1982.

Em 1960, recebeu o Prêmio Jabuti de poesia, concedido pela Câmara Brasileira do Livro.

A poesia de Menotti del Picchia vincula-se à primeira geração do Modernismo. Em 1984, recebeu o Prêmio Moinho Santista - Categoria poesia.

Representações na Cultura

Menotti Del Picchia já foi retratado como personagem no cinema e na televisão, interpretado por Carlos Gregório no filme O Homem do Pau-Brasil (1982) e Ranieri Gonzalez na minissérie Um Só Coração da Rede Globo (2004).

Morte

Morreu em São Paulo, no dia 23 de agosto de 1988. Seu corpo foi velado na Academia Paulista de Letras, da qual também era membro, e sepultado no Cemitério São Paulo.

Em sua homenagem, foram fundados na cidade de Itapira o Parque Juca Mulato e a Casa Menotti Del Picchia (24 de março de 1983) onde podem ser vistos objetos e livros que pertenciam ao autor.

Fonte: Wikipédia

Marechal Deodoro da Fonseca

MANUEL DEODORO DA FONSECA
(65 anos)
Militar, Político e Presidente do Brasil

* Cidade de Alagoas, AL (05/08/1827)
+ Rio de Janeiro, RJ (23/08/1892)

Foi um militar e político brasileiro, Proclamador da República e primeiro Presidente do Brasil.

O governo Deodoro foi marcado pelo esforço da implantação de um regime republicano e por grande instabilidade política e econômica, devido as tentativas de centralização do poder e oposição por parte de outros setores das Forças Armadas. A crise teve seu ápice no fechamento do Congresso Nacional do Brasil, o que mais tarde acabou levando à renúncia de Deodoro da Fonseca.

Família

Monumento a Marechal Deodoro da Fonseca
Filho de Manuel Souza da Fonseca (1785 - 1859) e Rosa Maria Paulina da Fonseca (1802 - 1873). Seu pai também foi militar, chegando à patente de tenente-coronel, e pertencia ao Partido Conservador. Deodoro tinha duas irmãs e sete irmãos, três dos quais morreram na Guerra do Paraguai: Afonso Aurélio da Fonseca (o mais jovem), alferes do 34º batalhão dos Voluntários da Pátria, o capitão Hipólito Mendes da Fonseca, morto na Batalha de Curupaiti, e o major Eduardo Emiliano da Fonseca, morto no Combate da Ponte de Itororó.

Seu irmão mais velho, Hermes Ernesto da Fonseca, pai do também Presidente da República e marechal Hermes Rodrigues da Fonseca, chegou ao posto de marechal-de-exército. Deodoro foi também presidente da província de Mato Grosso, por indicação do imperador Dom Pedro II. Foi governador da Bahia e comandante-de-armas das províncias da Bahia e do Pará.

Dois outros de seus irmãos se destacaram na carreira militar e política: Severiano Martins da Fonseca, que chegou ao posto de marechal-de-campo e Pedro Paulino da Fonseca, que foi coronel honorário do Exército Brasileiro, governador de Alagoas, logo quando proclamaram a república, e também senador pelo mesmo estado. Além disso, seu irmão, Pedro Paulino da Fonseca, foi o pai de Orsina da Fonseca, esposa do filho de um outro irmão seu, também seu sobrinho, o Presidente da República marechal Hermes Rodrigues da Fonseca, compondo, portanto, um casamento entre primos.

Deodoro da Fonseca passou por muitos problemas no seu mandato presidencial, o primeiro da História do Brasil, dedicando-se a implantar um regime republicano sólido. Seu governo enfrentou severa instabilidade política e econômica no país.

Juventude

Em 1843, aos dezesseis anos, Deodoro matriculou-se no Colégio Militar do Rio de Janeiro, terminando em 1847 o curso de artilharia. Em 1845, já era cadete de primeira classe. Em 1848, participou de sua primeira ação militar, ajudando na repressão da Revolta Praieira, insurreição promovida pelos liberais de Pernambuco.

Casou-se aos 33 anos, no dia 16 de abril de 1860, com Mariana Cecília de Sousa Meireles, considerada pelos biógrafos mulher educada, religiosa, modesta e prendada. O casal não teve filhos. Seu sobrinho, Hermes da Fonseca, que também chegou à presidência da república, era tratado por Deodoro como um filho e curiosamente, Hermes casou-se pela segunda vez com uma moça de família nobre, a famosa artista Nair de Tefé von Hoonholtz.

Carreira Militar

Em 1852, foi promovido a primeiro-tenente. Em 24 de dezembro de 1856, recebeu a patente de capitão. Em dezembro de 1864, participou do cerco à Montevidéu, durante a intervenção militar brasileira contra o governo de Atanasio Aguirre no Uruguai. Pouco depois, o Uruguai, sob novo governo, mais o Brasil e a Argentina formariam o Tratado da Tríplice Aliança, contra a ofensiva do ditador paraguaio Francisco Solano López.

Em junho de 1865, rumou com o Exército Brasileiro para o Paraguai, que havia invadido a província de Mato Grosso. Deodoro comandava o segundo Batalhão de Voluntários da Pátria. Seu desempenho no combate lhe garantiu menção especial na ordem do dia 25 de agosto de 1865. No ano seguinte, recebeu comenda no grau de cavaleiro da Imperial Ordem do Cruzeiro e, em 22 de agosto, a patente de major.

Em 18 de janeiro de 1868 foi promovido a tenente-coronel, por atos de bravura. Também por atos de bravura, recebeu a patente de coronel, em 11 de dezembro do mesmo ano. Pelo decreto de 14 de outubro de 1874, Deodoro foi promovido a brigadeiro, patente equivalente ao atual general-de-brigada. Em 1885, tornou-se pela segunda vez Comandante D'armas da província do Rio Grande do Sul, cargo exercido juntamente com o de vice-presidente da província. Tornar-se-ia, depois, presidente interino dessa mesma província. Em 30 de agosto de 1887, recebia a patente de marechal-de-campo.

Pelo seu envolvimento na Questão Militar - confronto das classes armadas com o governo civil do Império – Deodoro foi chamado de volta ao Rio de Janeiro. Na verdade, Deodoro havia permitido que a oficialidade da guarnição de Porto Alegre se manifestasse politicamente, o que era proibido pelo governo imperial. Chegando ao Rio de Janeiro, Deodoro foi festivamente recebido por seus colegas e pelos alunos da Escola Militar. Foi, então, eleito primeiro presidente do Clube Militar, entidade que ajudara a constituir.

Em 1888 Deodoro foi nomeado para o comando militar do Mato Grosso. Permaneceu no posto somente até meados de 1889, quando voltou para o Rio de Janeiro.

A Proclamação da República

A despeito da intensa propaganda republicana, a ideia da mudança de regime político não ecoava no país. Em 1884, foram eleitos para a Câmara dos Deputados, apenas três republicanos, entre eles os futuros presidentes da República Prudente de Moraes e Campos Sales. Na legislatura seguinte, apenas um conseguiu ser eleito. Na última eleição parlamentar realizada no Império do Brasil, a 31 de agosto de 1889, o Partido Republicano só elegeu dois deputados.

Percebendo que não conseguiriam realizar seu projeto político pelo voto, os republicanos optaram por concretizar suas ideias através de um golpe militar. Para tanto, procuraram capitalizar o descontentamento crescente das classes armadas com o governo civil do Império, desde a Questão Militar. Precisavam, todavia, de um líder de suficiente prestígio na tropa, para levarem a efeito seus planos.

Foi assim que os republicanos passaram a aproximar-se de Deodoro, procurando seu apoio para um golpe de força contra o governo imperial. O que foi difícil, visto ser Deodoro homem de convicções monarquistas, que declarava ser amigo do imperador Dom Pedro II e lhe dever favores. Dizia ainda Deodoro querer acompanhar o caixão do velho imperador.

Em 14 de novembro de 1889, os republicanos fizeram correr o boato, absolutamente sem fundamento, de que o governo do primeiro-ministro liberal Visconde de Ouro Preto havia expedido ordem de prisão contra Deodoro da Fonseca e o líder dos oficiais republicanos, o tenente-coronel Benjamin Constant. Tratava-se de proclamar a República antes que se instalasse o novo parlamento, recém-eleito, cuja abertura estava marcada para o dia 20 de novembro.

A falsa notícia de que sua prisão havia sido decretada foi o argumento decisivo que convenceu Deodoro finalmente a levantar-se contra o governo imperial. Pela manhã do dia 15 de novembro de 1889, o marechal reuniu algumas tropas e as pôs em marcha para o centro da cidade, dirigindo-se ao Campo da Aclamação, hoje chamado Praça da República. Penetrando no Quartel-General do Exército, Deodoro decretou a demissão do Ministério Ouro Preto - providência de pouca valia, visto que os próprios ministros, cientes dos últimos acontecimentos, já haviam telegrafado ao Imperador, que estava em Petrópolis, pedindo demissão. Ninguém falava em proclamar a República, tratava-se apenas de trocar o Ministério, e o próprio Deodoro, para a tropa formada diante do Quartel-General, ainda gritou um "Viva Sua Majestade, o Imperador!"

Enquanto isso, Dom Pedro II, tendo descido para o Rio de Janeiro, em vista da situação, reuniu o Conselho de Estado do Império do Brasil no Paço Imperial e, depois de ouvi-lo, decidiu aceitar a demissão pedida pelo Visconde de Ouro Preto e organizar novo Ministério.

Os republicanos precisavam agir rápido, para aproveitar os acontecimentos e convencer Deodoro a romper de vez os laços com a Monarquia. Valeram-se de outra notícia falsa. Quintino Bocaiuva e o Barão de Jaceguai mandaram um mensageiro a Deodoro, para informar-lhe que o novo primeiro-ministro, escolhido pelo Imperador, era Gaspar Silveira Martins, político gaúcho com quem Deodoro não se dava por conta de terem disputado o amor da mesma mulher na juventude. Assim, foi Deodoro convencido a derrubar o regime.

Pelas três horas da tarde, reunidos alguns republicanos e vereadores na Câmara Municipal do Rio de Janeiro, foi lavrada uma ata, declarando solenemente Proclamada a República do Brasil, que foi levada ao Marechal Deodoro.

À noite do dia 15, o Imperador encarregou o conselheiro José Antônio Saraiva de presidir o novo Ministério. O novo primeiro-ministro dirigiu-se por escrito ao Marechal Deodoro, comunicando-lhe a decisão do Imperador, ao que respondeu Deodoro que já havia concordado em assinar os primeiros atos que estabeleciam o regime republicano e federativo.

O Governo Provisório

Na noite de 15 de novembro de 1889, foi constituído o Governo Provisório da República recém-proclamada, tendo como chefe o Marechal Deodoro, com poderes ditatoriais. O Ministério foi composto de republicanos históricos, como Campos Sales, Benjamin Constant e Quintino Bocaiuva, e de liberais da Monarquia que aderiram de primeira hora ao novo regime, como Ruy Barbosa e Floriano Peixoto. Todo o Ministério era membro da maçonaria brasileira. Deodoro foi o 13º Grão-Mestre do Grande Oriente do Brasil, eleito a 19 de dezembro de 1889 e empossado a 24 de março de 1890.

O primeiro ato do novo governo foi dirigir uma proclamação ao país, anunciando a mudança de regime e procurando justificá-la. Pelo Decreto nº 1 foi adotada, a título provisório, a república federativa como forma de governo da nação brasileira, até que resolvesse a respeito o Assembleia Nacional Constituinte que seria convocada. As províncias do extinto império brasileiro foram transformadas em Estados Federados.

De todas as províncias chegaram logo manifestações de adesão ao novo regime, quase sempre da parte dos velhos partidos monárquicos. Destarte, a República foi estabelecida em todo o país praticamente sem lutas, salvo no estado do Maranhão, em que antigos escravos tentaram esboçar uma reação, correndo às ruas da capital com a bandeira do Império e dando vivas à Princesa Isabel. Foram dispersos pelo alferes Antônio Belo, com o saldo de três mortos e alguns feridos. Os três negros, de que a História não guardou os nomes, foram os únicos mortos da Proclamação da República do Brasil.

Em 16 de novembro, Deodoro mandou uma mensagem ao Imperador destronado, intimando-o a deixar o país juntamente com a Família Imperial Brasileira, dentro de 24 horas, e oferecendo-lhe a quantia de 5 mil contos de réis para seu estabelecimento no exterior. Dom Pedro II recusou a oferta, e partiu na madrugada de 17 de novembro para Portugal.

Na manhã do dia 19 de novembro, Deodoro da Fonseca recebia em sua casa alguns republicanos, liderados por Lopes Trovão, os quais iam submeter, já como fato consumado, à sua apreciação, o projeto da nova Bandeira do Brasil. Deodoro, porém, considerou a bandeira que lhe fora apresentada por Lopes Trovão como um arremedo grosseiro da bandeira dos Estados Unidos. Os republicanos insistiram que só restava a Deodoro oficializar a bandeira por eles apresentada, pois a mesma já tremulava em alto mar, no mastro do Alagoas, navio que conduzia o Imperador deportado ao exílio.

Irritado, Deodoro deu um soco na mesa, exclamando:

"Senhores, mudamos o regime, não a Pátria! Nossa Bandeira é reconhecidamente bela e não vamos mudá-la de maneira nenhuma!"

Os republicanos ficaram sem resposta e a sua bandeira foi, posteriormente, para o Museu da Marinha, ficando conhecida como a bandeira provisória da República, embora nunca tenha sido oficializada.

Diante da decisão inflexível de Deodoro, foram mantidos na bandeira nacional o losango amarelo no retângulo verde, da antiga bandeira do Império, substituindo-se as armas da monarquia, por uma esfera celeste, tendo ao centro o Cruzeiro do Sul, e cortada por uma faixa branca, com o mote Ordem e Progresso. A bandeira foi desenhada por Raimundo Teixeira Mendes, presidente do Apostolado Positivista do Brasil, com o auxílio de Miguel Lemos e do professor de astronomia Manuel Pereira Reis.

Na tarde daquele 19 de novembro, o chefe do Governo Provisório baixou o Decreto nº 4, oficializando a Bandeira Nacional. A exposição de motivos do Decreto, considerava que as cores verde e amarelo, "independentemente da forma de governo, simbolizam a perpetuidade e integridade da Pátria entre as outras nações".

Reconhecimento Internacional

A primeira nação a reconhecer o novo governo foi a Argentina, em 20 de novembro de 1889. Indispostos com o Império, por suas intervenções militares na região platina, os argentinos promoveram em Buenos Aires homenagens especiais à Proclamação da República no Brasil.

Seguiram à Argentina, os demais países hispanófonos da América: Venezuela (em 5 de dezembro), Bolívia (em 12 de dezembro), o Chile (em 13 de dezembro), o Paraguai (em 19 de dezembro), o Peru (em 27 de dezembro), o México (em 27 de janeiro de 1890) e o Equador (em 29 de janeiro).

Os Estados Unidos, nação que os republicanos brasileiros preconizavam como padrão a ser imitado pelo Brasil, retardaram o reconhecimento oficial da república brasileira até 29 de janeiro de 1890. Acredita-se que, ao receber a notícia do golpe militar que proclamaou a República do Brasil, o então presidente americano, Benjamin Harrison, disse ter deixado de existir a única verdadeira República da América Latina.

O governo da França quis aproveitar-se do ensejo para conseguir do Brasil o reconhecimento de seus supostos direitos sobre o norte do Amapá. Assim sendo, só reconheceu a República brasileira em 20 de junho de 1890.

O Império Alemão reconheceu o governo republicano brasileiro em 29 de novembro de 1890. A Grã-Bretanha aguardou que se promulgasse a nova Constituição, e só em 4 de maio de 1891 o representante diplomático do Brasil foi recebido pela Rainha Vitória do Reino Unido.

Até o fim de 1891, a república brasileira estava reconhecida por todas as nações civilizadas. Só a Rússia é que não quis reconhecer o novo regime, senão depois do falecimento de Dom Pedro II, por ato de 26 de maio de 1892.

Os Atos do Governo Provisório

Proclamação da República por Henrique Bernardelli
Como não havia ninguém para anistiar, o governo republicano resolveu decretar a grande naturalização, em 14 de dezembro de 1889, pela qual passariam a ser brasileiros todos os estrangeiros residentes no país que não manifestassem, no prazo de seis meses, o propósito de conservar a respectiva nacionalidade.

Em 18 de dezembro de 1889, houve um motim no 2º Regimento de Artilharia Montada. Era um sintoma da indisciplina militar que se seguiu ao golpe que proclamou a república. Embora não se tenha demonstrado qualquer relação do motim com elementos monarquistas, o Governo acusou-os de maquinarem o levante, decretando o banimento do Visconde de Ouro Preto, de seu irmão Carlos Afonso de Assis Figueiredo e de Gaspar da Silveira Martins.

Também a imprensa foi acusada de insuflar perturbações contra o regime. Assim, por um decreto de 23 de dezembro resolveu-se instituir a censura e suprimir a liberdade de imprensa, criando uma junta, composta só de militares, incumbida de julgar sumariamente os que fossem acusados de abusos no exercício do jornalismo. Historiadores afirmam que o Governo Provisório Republicano foi a primeira ditadura militar do Brasil.

Em 15 de janeiro de 1890, Deodoro da Fonseca foi aclamado, pelas tropas, Generalíssimo de Terra e Mar, tornando-se, assim, o único oficial-general de seis estrelas no Brasil. Por decreto de 25 de maio, todos os ministros civis receberam a patente de general-de-brigada.

Em 7 de janeiro de 1890 foi decretada a separação entre a Igreja e o Estado. Por um decreto de Deodoro, o Brasil deixou de ser um país oficialmente católico, apesar de o catolicismo ser professado pela quase totalidade do povo brasileiro, na época. Foi também extinto o padroado, ou seja, a intervenção do Estado nos assuntos da Igreja.

Em 23 de janeiro do mesmo ano, foi institucionalizado o casamento civil, ficando sem efeitos jurídicos o matrimônio religioso. Também foi instituído o registro civil, proibido o ensino de religião nas escolas públicas e secularizados os cemitérios.

Em 17 de janeiro de 1890, o Ministro da Fazenda, Ruy Barbosa, intentando deslocar o eixo da economia brasileira da agricultura para a indústria, deu início a uma reforma monetária e bancária, baseada nos melhores livros estrangeiros. A reforma consistia em autorizar os bancos a emitir papel-moeda sem lastro em ouro e prata. O sistema de bancos emissores e as facilidades concedidas para a organização de empresas provocaram inflação e uma desastrosa especulação financeira, com a crise da bolsa e a ruína de numerosos investidores. A crise ficou conhecida como o Encilhamento.

Por iniciativa do Ministro da Guerra, Benjamin Constant, foi reformado o ensino militar, de modo a receber nítida influência da doutrina positivista. Entrando Benjamin Constant em grave divergência com Deodoro, foi transferido para a recém-criada pasta da Instrução Pública, Correios e Telégrafos, o que significou, de fato, a sua morte política. Para substituí-lo, no Ministério da Guerra, foi nomeado o marechal Floriano Peixoto.

Em 11 de outubro de 1890, foi promulgado o novo Código Penal, que extinguia a pena de morte, em tempo de paz, no Brasil.

Duas correntes republicanas se chocavam dentro do próprio Governo Provisório: a corrente liberal-democrática, que visava a uma República federativa e presidencial, com separação de poderes, nos moldes estadunidenses e a corrente positivista, que defendia uma ditadura republicana, segundo os princípios do filósofo Auguste Comte. Venceu a corrente liberal-democrática, sustentada por Campos Sales, Ruy Barbosa e Prudente de Moraes.

Em 17 de janeiro de 1891 houve a última reunião ministerial do Governo Provisório. Nela tratou-se de uma concessão de garantia de juros para as obras do Porto de Torres, no Rio Grande do Sul - concessão que Deodoro prometera a uma amigo pessoal.

Ruy Barbosa, o Ministro da Fazenda, que não pôde comparecer à reunião, mandou seu voto por escrito, absolutamente contrário, tanto a esta como a outras garantias de juros. Os Ministros presentes foram todos do mesmo parecer. Deodoro permaneceu irredutível e, quatro dias depois, a 21 de janeiro, aceitava a demissão coletiva do Ministério, nomeando, para substituir os ministros demissionários, antigos políticos do regime monárquico, chefiados pelo Barão de Lucena, amigo íntimo de Deodoro.

O Congresso Nacional Constituinte de 1890

Deodoro da Fonseca fotografado por A. Leterre
Em 3 de dezembro de 1889 o Governo Provisório nomeou uma comissão especial para elaborar o projeto de constituição que seria apresentado ao Congresso Constituinte da República. Compunham-na Joaquim Saldanha Marinho, signatário do Manifesto Republicano de 1870, que foi escolhido presidente da comissão; os republicanos históricos Américo Brasiliense de Almeida Melo, Francisco Rangel Pestana e os juristas Antônio Luís dos Santos Werneck e José Antônio Pedreira de Magalhães Castro.

Iniciados os trabalhos, três foram os anteprojetos que seus membros elaboraram, os quais foram reduzidos a um só, inspirado nas constituições dos Estados Unidos e da Argentina. Foi entregue, em 30 de maio de 1890, ao Governo que, de 10 a 18 de junho realizou minuciosa revisão, efetuada, em especial, por Ruy Barbosa, melhorando sua redação e modificando sua estrutura. Em 22 de junho de 1890 era aprovado o projeto dito do Governo Provisório.

O Congresso Constituinte foi convocado por decreto de 21 de dezembro de 1889, para reunir-se no dia 15 de novembro de 1890. No dia 15 de setembro realizaram-se as eleições em todos os estados brasileiros.

O Congresso Nacional Constituinte instalou-se, com toda a solenidade, no dia 15 de novembro de 1890, no Paço da Boa Vista, Rio de Janeiro. O Congresso compunha-se principalmente de pessoal novo na política brasileira: republicanos históricos ou de última hora, muitos militares e alguns remanescentes dos partidos da monarquia, quase sempre discretos ou adesistas entusiastas. Depois de eleger a sua Mesa (sendo eleito presidente do Senado e do Congresso o republicano histórico Prudente de Moraes), o primeiro ato do Congresso foi reconhecer os poderes do Governo Provisório, e prorrogá-los até que se promulgasse a nova Constituição.

Houve um acordo geral para que fosse imediatamente votado e aprovado o projeto do Governo. Não se fizeram, pois, alterações significativas.

Depois de pouco mais de três meses, em 24 de fevereiro de 1891, foi solenemente promulgada a Constituição Republicana.

De acordo com uma disposição transitória da Constituição de 1891, o presidente e o vice-presidente do primeiro período republicano deveriam ser excepcionalmente eleitos pelo Congresso Constituinte.

Deodoro da Fonseca apresentou-se como candidato a presidente, tendo como candidato a vice, na mesma chapa, o almirante Eduardo Wandenkolk. Na época, presidente e vice eram eleitos separadamente. Como já havia forte oposição a Deodoro, esta articulou a candidatura de Prudente de Moraes, o presidente do Congresso, tendo o marechal Floriano Peixoto como candidato a vice. Floriano Peixoto, além de candidatar-se a vice-presidente, na chapa de Prudente de Moraes, apresentou também candidatura própria à presidência.

Apurada a votação, em 25 de fevereiro de 1891, foi obtido o seguinte resultado na eleição para presidente:

Deodoro da Fonseca - eleito com 129 votos
Prudente de Moraes - 97 votos
Floriano Peixoto - 3 votos
Cédulas em branco - 2

Para vice-presidente foi eleito o candidato da oposição, Floriano Peixoto, com 153 votos, contra 57 recebidos pelo Eduardo Wandenkolk.

A vitória de Deodoro explica-se pelo temor de que o velho marechal desse novo golpe militar, fechando o Congresso e restaurando a monarquia. Mesmo os líderes da oposição haviam resolvido que, numa eventual vitória de Prudente de Moraes, o Congresso lhe daria imediatamente posse do cargo, instalando-se sem demora o governo no próprio edifício do Parlamento, onde esperariam os acontecimentos, convocando para as imediações do prédio as forças militares com cuja lealdade podiam contar.

Eleição de Deodoro e Demissão do Seu Ministério

Em 25 de Fevereiro de 1891, Deodoro é eleito Presidente do Brasil pelo colégio eleitoral, formado por senadores e deputado federais.

No mesmo dia o marechal Floriano Peixoto foi eleito, também pelo colégio eleitoral, vice-presidente da República, terminando assim o Governo Provisório. Um pouco antes, em janeiro do mesmo ano, todo o seu ministério havia se demitido, permitindo a Deodoro formar um novo ministério.

Em 1890, Floriano Peixoto era Ministro da Guerra de Deodoro da Fonseca, no lugar de Benjamin Constant. No dia 20 de Janeiro de 1891, demitiu-se, juntamente a todo o ministério do Presidente.

O Governo Constitucional de Deodoro

A fase constitucional do governo de Deodoro da Fonseca foi de fevereiro a 3 novembro de 1891, quando Deodoro deu um golpe de estado.

Havia, naquele momento histórico, um conflito entre os militares e os políticos civis. Os militares queriam se manter na política e eram favoráveis a uma centralização absoluta e a concentração do poder político, enquanto os civis desejavam a volta dos militares aos quartéis e lutavam por um governo descentralizado e federalista.

Durante sua estadia na presidência, Deodoro foi nomeado Grão-Mestre do Grande Oriente da Maçonaria do Brasil.

Os republicanos de São Paulo apoiavam Floriano Peixoto, apesar das tendências centralizadoras deste. Devido ao apoio de São Paulo, os militares ficaram divididos, e isso veio mais tarde a provocar a queda de Deodoro.

O Fechamento do Congresso e a Ditadura de Deodoro

Eleito pelo Congresso Nacional (indiretamente), Deodoro iniciou seu mandato sob forte tensão política. Tinha a oposição do Congresso e da população devido à crise econômica.

Tal ato gerou violenta reação, fazendo com que, entre agosto e novembro de 1891, o Congresso tentasse aprovar a Lei de Responsabilidades, que reduzia os poderes do presidente.

Deodoro contra-atacou a decisão do Congresso Nacional: em 3 de novembro de 1891, Deodoro decretou a dissolução do Congresso, lançando um Manifesto à Nação, para explicar as razões do seu ato. Tropas militares cercaram os prédios do Legislativo e prenderam líderes oposicionistas, a imprensa do Distrito Federal foi posta sob censura total, decretando, assim, o Estado de Sítio no país.

Encouraçado Riachuelo (1880)
A Primeira Revolta da Armada

A primeira Revolta da Armada ocorreu no dia 23 de novembro de 1891, quando o almirante Custódio de Melo, acionado por Floriano Peixoto, a bordo do Encouraçado Riachuelo, ameaçou bombardear o Rio de Janeiro caso Deodoro não renunciasse. O marechal Deodoro, então, cedeu às pressões e renunciou ao cargo de Presidente da República, entregando o poder ao vice-presidente, Floriano Peixoto.

O Restabelecimento do Congresso

Ao assumir, em 23 de Novembro de 1891, Floriano Peixoto anulou o decreto de dissolução do Congresso e suspendeu o Estado de Sítio.

Entre novembro de 1891 e março de 1892, afastou os governadores que haviam apoiado o golpe de Deodoro, substituindo-os por aliados.

O segundo mandato fora conseguido em grande parte graças à pressão dos militares (especialmente do exército), contra a vontade do setor civil e de parcelas dos militares.

Deodoro da Fonseca, em 3 de novembro de 1891, com a aprovação da lei que permitia o impedimento do presidente, dissolveu o Congresso.

O governo de Deodoro da Fonseca, com o fechamento do Congresso, a decretação do Estado de Sítio e a política financeira do ministro Ruy Barbosa, ruiu.

Monumento-Túmulo ao Marechal Deodoro da Fonseca
Depois da Presidência

Manuel Deodoro da Fonseca faleceu no Rio de Janeiro, em agosto de 1892. Pediu para ser enterrado em trajes civis, no que não foi atendido. Seu enterro teve toda a pompa e honras militares. O marechal que Proclamamou a República do Brasil, cujo fato histórico é hoje feriado nacional, era acometido de uma forte crise de Dispneia, popularmente conhecida como "dificuldade de respiração" ou "falta de ar", o que impedia o primeiro Presidente do Brasil de dormir.

Foi enterrado num jazigo familiar no Cemitério do Caju, mas teve seus restos exumados e transferidos para um monumento na Praça Paris, no Rio de Janeiro, em 1937.

Representações na Cultura

Deodoro já foi retratado como personagem no cinema e na televisão, interpretado por Castro Gonzaga na minissérie República (1989). Também teve sua efígie impressa nas notas de Cr$ 20 (vinte cruzeiros) de 1950, nas de Cr$ 50,00 (cinquenta cruzeiros) de 1970, nas de Cr$ 500,00 (quinhentos cruzeiros) de 1981 e cunhado no verso das moedas de 25 centavos em circulação atualmente no Brasil.

Fonte: Wikipédia