Regina Léclery

REGINA MARIA ROSEMBURGO LÉCLERY
(34 anos)
Socialite

☼ Rio de Janeiro, RJ (1939)
┼ Paris, França (11/07/1973)

Aos 15 anos ela era uma garota típica de Copacabana, alegre e descontraída, dividindo-se entre a liberdade da praia e os limites de um apartamento. Aos 20 anos, segundo suas próprias palavras, foi "jogada pelos colunistas no estranho mundo da alta sociedade". Pouco depois, o casamento com o milionário Wallace Simonsen, a fortuna, a fama, a filha, tudo acontecendo muito rapidamente na vida de uma moça que já então se definia como "uma nova versão de Cinderela".

Dois anos de casamento, a separação, repetidas voltas ao mundo, amizade com os Kennedy, os Patiño, os Rothschild, os Rubirosa, através dos quais conheceu o que viria a ser o seu segundo marido, Gérard Léclery, rico industrial francês. A vida de Regina Léclery, ex-Simonsen, nascida  Rosemburgo, daria um livro.

Regina Rosemburgo nasceu no Leme, Rio de Janeiro. Trabalhou como recepcionista em banco, foi Charm-Girl, Miss Lagoinha Country Club - "aquelas frescuras todas", com as definiu depois. Casou-se em 1963 com o milionário Wallace Simonsen e passou a freqüentar o Jet-Set.

Em outubro de 1963, o casal passou com John Kennedy, em sua propriedade de Palm Beach, o último fim de semana da vida do presidente: Na sexta-feira seguinte ele seria assassinado.

Amiga de Salvador Dali, Roger Vadim, Jane Fonda, Marisa Berenson e Gunther Sachs, Regina Léclery teve o bom gosto de não esquecer as amizades antigas e obscuras. Bom gosto que se revelou próximo do bom senso: Apesar de ser uma mulher que tinha tudo para suscitar inveja, Regina Léclery era uma pessoa da qual ninguém fala mal.

Separou-se em 1966, quando já conhecia Gérard Léclery, dono da maior indústria de calçados da França. Mas só se casou com ele em 1968, depois de uma perseguição de dois anos e meio, que admite ter sido árdua, mas que começou da maneira mais desinteressada possível: Ao ser apresentada ao futuro marido, achou que ele não passava de um dos secretários de Gunther Sachs


Regina Léclery tinha casas na França, na Suiça e na Barra da Tijuca, além de um apartamento em Paris. Tinha um grande iate, ancorado permanentemente no Taiti, mas ele pegou fogo.
"Eu era muito amiga do Gláuber Rocha. Ele escreveu "Deus e o Diabo na Terra do Sol" lá em casa. Nós trabalhamos juntos, eu que ia fazer o filme. Meus amigos, na época, eram Paulo César Saraceni, Cacá Diegues, Nelson Pereira dos Santos, Luís Carlos Barreto e Joaquim Pedro. Gláuber estava se separando da primeira mulher, a Helena Ignês. A atual, a Rosinha, ele conheceu comigo. Nós fomos fazer um curso de cinema na Católica, em 1961. Aliás, a única vez que eu entrei numa faculdade na minha vida com Gláuber para fazer esse curso de cinema. E a Rosinha estava lá. Mas aí eu me casei com o Wallinho Simonsen e não fiz mais o filme. A gente era bem garoto. Eu esticava o cabelo de Gláuber, ele ia lá para casa e mamãe dizia para ele: 'Entra direto para o banheiro e toma banho. Depois vem comer!'. Várias cenas de "Deus e o Diabo na Terra do Sol" a gente imaginou juntos. O papel de Yoná Magalhães era o meu."
(Regina Léclery - Revista Realidade, maio 1973)

Embora fosse frequentemente apontada como uma das mais elegantes mulheres do Brasil, - Ibrahim Sued, inclusive, chegou a incluí-la em sua lista das dez mais - Regina Léclery considerava a elegância um negócio sem importância, pouco se preocupando com a moda.

Suas amigas, como Carmen Mayring Veiga e Teresa de Sousa Campos, é que muitas vezes a levavam, quase à força, para fazer compras nas butiques de Ipanema. No fundo, essa despreocupação às vezes confundia-se  com uma displicência desconcertante, traía a garota típica de Copacabana que, como uma Cinderela, transformou-se em princesa da noite para o dia.

Em razão dos negócios do marido, era em Paris que vivia mais tempo. Sua residência, uma luxuosa mansão, na sofisticada Avenue Foch, no andar imediatamente acima de Fritz Gunter Sachs. Quadros de Gaugin, Renoir, Picasso, a presença do motorista uniformizado, de um cozinheiro, um garçom, um maître e até de um valet de chambre davam a tudo um certo ar de nobreza.

Miss Lagoinha Country Club 1958

Maracanãzinho, Rio de Janeiro, 12/06/1958. Adalgisa Colombo, Miss Botafogo, foi eleita Miss Distrito Federal sob protestos e vaias, pois a preferida do público era Ivone Richter, Miss Riachuelo. Adalgisa Colombo, que tinha sido Miss Cinelândia e era manequim da Casa Canadá, ousou driblar as orientações e valeu-se de truques para valorizar seu tipo, tais como: Usou Óleo Johnson nas pernas em lugar de pancake para dar brilho e sensualidade às pernas, deu uma cavadinha no maiô para evidenciar a sexualidade e prendeu o cabelo, penteando-o em estilo coque, para valorizar o pescoço.
"...Mesmo assim o Miss Distrito Federal teria sido mais animado com a presença de Regina Rosemburgo, a Miss Lagoinha, que infelizmente desistiu na véspera por problemas particulares. Era a futura Regina Léclery (...) Com Regina, teria havido maiôs ainda mais cavados ou sabe-se lá que outros truques."
("Feliz 1958, O Ano Que Não Terminou", Joaquim Ferreira dos Santos - Editora Record - Rio, 1997)

Morte

Regina Léclery faleceu vítima de um acidente aéreo, no Boeing 707 da Varig, prefixo PP-VJZ, Voo 820 (Rio-Paris), em Paris, no dia 11/07/1973. Eram 15 horas em Paris. Mais 90 segundos, e todos estariam salvos. Entretanto, quando o comandante Gilberto Silva comunicou à torre do Aeroporto de Orly que havia fogo a bordo do avião, só pode voar mais 46 Km. Caiu num campo de plantação de cebolas, onde tentou pousar, para salvar os passageiros, a tripulação e os habitantes de um bairro de Paris.

O resultado foram 122 mortos, entre eles, Filinto Müller, presidente do Senado e do Congresso Nacional, Regina Léclery, socialite, o cantor Agostinho dos Santos, o iatista tricampeão mundial Jörg Bruder e os jornalistas Júlio Delamare e Antônio Carlos Scavone. Uma tragédia que chocou 100 milhões de brasileiros na época.

Foi um dos maiores desastres ocorridos em Orly. O aeroporto foi interditado e imediato socorro prestado pelas autoridades, que conseguiram retirar 12 tripulantes ainda com vida dos destroços.

Regina Léclery foi ao Rio de Janeiro somente para tratar de assuntos referentes à sua casa. Ia morar definitivamente em Paris e Genebra, onde estava pronta sua nova residência. Havia ainda outra, no Taiti. Viajou sozinha ao Brasil, deixando as filhas em Paris, com a governanta. Eram três as filhas: Roberta, nove anos, do casamento com Wallace Simonsen, Georgiana, três anos, do casamento com Gérard Lecléry e Márcia, nove anos, filha adotiva, mas criada em pé de igualdade com as outras.

Um traço inesquecível de Regina Léclery era que se alguém mostrasse vontade de possuir qualquer objeto que lhe pertencesse, ela não hesitava um segundo, e a pessoa o recebia como presente.

Fonte: Passarela Cultural, Revista Realidade (Maio 1973) e Revista Fatos & Fotos (23/07/1973)
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