Jaiminho

JAIME DIAS SABINO
(84 anos)
Funcionário Público, Papagaio de Pirata e Figura Folclórica

* Feira de Santana, BA (1929)
+ Rio de Janeiro, RJ (24/10/2013)

Nascido em 1929, em Feira de Santana, na Bahia, ele veio para o Rio de Janeiro sozinho, no navio Comandante Capela, aos 7 anos, fugido dos castigos que lhe eram aplicados na escola. Desde essa época o baixinho de 1,56 cm já usava terno e gravata, e foi assim durante toda a vida, chegando a colecionar mais de 200 ternos e 300 gravatas, figurino que servia inclusive para ir à praia, e para dormir. Logo que chegou ao então Distrito Federal, trabalhou como carregador de frutas na feira, pedreiro, porteiro, ator em mais de 40 filmes, entre eles "O Assalto Ao Trem Pagador", de Roberto Farias, e "Boca de Ouro", de Nelson Pereira dos Santos. Ele também foi estrela de fotonovelas. A de maior sucesso na revista Sétimo Céu, onde interpretou o irmão de Cauby Peixoto.

No dia a dia, pegava no batente como assessor da prefeitura de Nilópolis, na Baixada Fluminense, Rio de Janeiro. Mas quando morria alguém, seja um anônimo das redondezas, seja um famoso Brasil afora, Jaiminho se apressava para saber hora e local dos préstimos fúnebres e era presença certa.


Jaime Dias Sabino dormia de terno, gravata, banho tomado e barba feita. Pronto para o próprio enterro. "Se eu não abrir mais os olhos, é só me colocar no caixão que eu vou embora", dizia.

De terno e gravata, ele chegava com seu 1,60m dando os pêsames e, sem ninguém se dar conta, de repente está carregando o caixão. Assim fez com Chacrinha, Daniella Perez, Tancredo Neves, OscaritoCazuza, Nelson Gonçalves, Tim Maia, Irmã Dulce. O objetivo era um só: Aparecer.

Jaime Dias Sabino dedicou a vida a monitorar onde estariam as câmeras de jornais e TVs para tirar uma casquinha. Em sua casa, no Rocha, coleciona mais de 300 mil aparições. O mais famoso papagaio de pirata carioca aparece nas imagens atrás da Xuxa, ao lado da Angélica, dando abraço em Itamar Franco, em treino de futebol, em matéria de tragédia.

Desde o primeiro funeral, o do presidente Getúlio Vargas em 1954, foram mais de 1.153 sepultamentos na lista. Entre os que contaram com sua extrema-unção, ele destaca Chacrinha, Cazuza, Tom Jobim, Luís Carlos Prestes, Dina Sfat, João Saldanha, Roberto Marinho, Austregésilo de Athayde e os ex-presidentes militares Ernesto Geisel, Emílio Garrastazu Médici e João Figueiredo.

Despedida de Castelo Branco
Sobre participar de velórios, Jaiminho disse: "Vi que era bom, me sinto orgulhoso de prestigiar alguém importante. Se não vou lá e não seguro o caixão, fico triste", justifica. Funcionário da Prefeitura de Nilópolis desde 1964, alega representar a cidade quando chega nos velórios.

O arroz de velório acotovela-se até ficar tête-à-tête com o finado e conseguir dar os pêsames ao pé do ouvido da família. Mais do que isso, fazia questão de segurar a alça do caixão, até a sepultura. "Gosto de sentir o peso do morto!". Segundo Jaiminho, a ausência na partida dos pais alimentou o desejo de ver como era um funeral, como uma pessoa desaparecia debaixo da terra. "Quando papai e mamãe morreram, lá na Bahia, eu já morava aqui no Rio de Janeiro e não consegui dinheiro para ir".

Para se despedir de Irmã Dulce, no entanto, foi patrocinado. "Um cara, que eu não posso dizer quem é, disse que me pagaria a passagem caso eu chegasse perto do corpo e rezasse por ele". Não deu outra. Apesar da baixa estatura, Jaiminho venceu a multidão e conseguiu dizer adeus pessoalmente à religiosa morta em 1992. Ele lamentava, no entanto, não ter ido ao enterro de Ayrton Senna. "Estava com a passagem para São Paulo comprada!". Mas com a morte de seu filho, dias antes, foi proibido pela mulher de viajar. "Ela me trancou no quarto e disse que se eu fosse o casamento acabava!".

Despedida de Betinho
As aventuras de Jaiminho pelos cemitérios lhe renderam o apelido de Caveirinha e viraram um museu sobre ele mesmo. Nas paredes de um salão anexo a sua casa, ele colou milhares de fotografias para mostrar sua história. "É também a história do país, porque cada pessoa que morre é um pedaço do Brasil que vai embora", filosofava.

E Jaiminho coleciona causos. O fato mais inusitado que ele já vivenciou em sepultamentos foi o da atriz Dina Sfat, em 1989, quando caiu dentro da sepultura, junto com o então governador Marcello Alencar. "Segura o baixinho e o governador!", foi o que gritaram os presentes no velório, como conta Jaiminho. "Aquela foi a pior cena que vivi. O governador achou que eu o tinha empurrado", lembrou.

O mesmo episódio se repetiu anos depois. Desta vez foi no enterro do ator Jorge Lafond, quando ele e seu companheiro, Nil Ramos, conhecido como "Homem Celular", subiram em um túmulo, o qual acabou quebrando e os dois indo parar dentro da cova. A partir daí, a confusão se estabeleceu. As pessoas começaram a jogar terra nos penetras e a situação foi motivo de muitas risadas.

No do ex-presidente Castelo Branco, Jaiminho pegou no caixão errado.

Despedida do jogador Didi
Além de adorar aparecer em reportagens, também teve faceta como ator. Estrelou mais de 40 filmes e fotonovelas. Em 2010, concorreu a deputado estadual, tendo como bandeira a regulamentação da profissão de Papagaio de Pirata. Junto com outros papagaios de pirata, fundou o clandestino Sindicato dos Papagaios de Pirata, do qual era presidente.

O aposentado também fundou o Museu Histórico dos Papagaios de Pirata, em um galpão, no bairro do Rocha, Zona Norte do Rio, com um arquivo de 20 mil fotos, que destacam os mais de 50 anos dedicados à arte de aparecer na imprensa, sem ser convidado.

Segundo Jaiminho, suas aparições passaram de 135 mil, entre filmes, jornais e fotografias. Só em filmes, o papagaio contabiliza 40 participações. Na TV, já participou três vezes do programa do Jô Soares.

No velório de Oscar Niemeyer, bateu a marca de 1.153 funerais e aproveitou a oportunidade para gravar cenas do documentário "Aqui Jaz Jaiminho", de Alex Teixeira. Na ocasião, recriou o episódio do primeiro enterro de celebridade da sua vida, o de Getúlio Vargas, em 1954. O documentário será lançado em 2014 e vem sendo produzido desde 2007. Ele conta a saga do mais ilustre papagaio de pirata do Brasil.

Jaiminho sonhava alto com o dia de seu velório. "Se Deus quiser, vai ser na Câmara dos Vereadores de Nilópolis, com mais de 20 mil pessoas. Minha família, os amigos, o governador, o prefeito, o presidente da Beija-Flor, o Cauby Peixoto e a Ivete Sangalo. Sou louco por essa baiana!".

"Imagina se esse povo todo de quem eu carreguei caixão aparecesse para carregar o meu?"


Morte

Jaiminho morreu, na quinta-feira, 24/10/2013, no Rio de Janeiro, aos 87 anos, em consequência de um infarto. Segundo a filha, Regina de Sabino, ele estava internado há 45 dias em um hospital de Ipanema, chegou a ser operado para a colocação de stents, mas não resistiu a uma uma infecção.

Jaiminho era viúvo e deixou dois filhos, quatro netos e dois bisnetos. Ele foi enterrado na sexta-feira, 25/10/2013, às 15:00 hs, no Cemitério São Francisco Xavier, no Caju, na Zona Portuária.