Elsie Houston

ELSIE HOUSTON-PÉRET
(40 anos)
Cantora

* Rio de Janeiro, RJ (22/04/1902)
+ Nova York, Estados Unidos (20/02/1943)

Elsie Houston-Péret foi uma soprano brasileira. Elsie Houston era filha de James Franklin Houston, um dentista estadunidense do Tennessee que se estabeleceu no Rio de Janeiro em 1892, e de Arinda Galdo, uma carioca descendente de portugueses da Ilha da Madeira.

Diva Lírica

Tendo iniciado na adolescência e na Europa seus estudos de canto lírico (foi aluna da soprano Lilli Lehmann, na Alemanha), em 1922, Elsie Houston conheceu o maestro e compositor Luciano Gallet, de quem tomou o gosto por harmonizar canções folclóricas em estilo erudito. Nos anos seguintes, fez amizade com expoentes do Movimento Modernista, como Mário de Andrade, Oswald de Andrade, Tarsila do Amaral, Pagu, Manuel Bandeira e Murilo Mendes.

Em 1927, já era reconhecida internacionalmente como um grande nome do canto lírico, apresentando-se em Paris ao lado de Arthur Rubinstein e Villa-Lobos na Maison Gaveaux, e no ano seguinte em Praga, no I Congresso Internacional das Artes Populares.

Foi também durante sua passagem por Paris em 1927 que Elsie Houston conheceu e casou-se com o poeta surrealista e militante trotskista Benjamin Péret. Entre 1929 e 1931, o casal residiu no Brasil, e Benjamin Péret incentivou a esposa a pesquisar o folclore e as religiões afro-brasileiras, o que fizeram durante viagens pelo Norte e o Nordeste do Brasil em 1929. A colaboração foi prolífica. Em 1930, enquanto Benjamin Péret contribuía com a Revista de Antropofagia e publicava os estudos "O Almirante Negro" e "Candomblé e Macumba"Elsie Houston lançava, em Paris, o livro "Chants Populaires du Brésil", e no ano seguinte, o ensaio La musique, la danse et les cérémonies populaires Du Brésil. Neste período, ela ainda gravou várias canções folclóricas com arranjos próprios.

Em 1931, nasceu o filho dos Péret, a quem o pai deu o estranho nome de Geyser (Satan chegou a ser cogitado, mas convenceram-no a descartar a ideia. No mesmo ano, o casal, hostilizado pelo regime anti-comunista de Getúlio Vargas, é obrigado a deixar o Brasil rumo à França. Geyser foi deixado no Brasil, aos cuidados da avó materna. Na França, o casal Péret pareceu ter se distanciado progressivamente, em boa parte, supõe-se, graças ao gênio rude e intransigente do poeta, difícil de tolerar mesmo entre seus colegas surrealistas. Benjamin Péret partiu em 1936 para lutar na Guerra Civil Espanhola e lá se envolveu com uma mulher mais jovem, a pintora hispano-mexicana Remedios Varo. Em 1937, por este e/ou outros motivos, Elsie Houston decidiu mudar-se para Nova York.

Cantora da Noite

Em má situação financeira, Elsie Houston havia cantado na noite parisiense e lá desenvolveu uma performance que nada mais era do que um ritual de macumba estilizado. Ao mudar-se para Nova York, passou a apresentar-se em boates sofisticadas da cidade, como o Le Ruban Bleu e o Rainbow Room, atraindo atenções pelo exotismo da cerimônia de vudu (como a entendiam os norte-americanos) e por seus notáveis dotes vocais, que já foram comparados aos de um pássaro da selva. Segundo escreveu um repórter da Time Magazine, iluminada por um círculo de velas, ela "batia num tambor" e "cantava invocações a Iemanjá, deusa do Brasil (sic), Ogum, deus da guerra e a Exú, o demônio (sic)".

Apesar de seus problemas anteriores com o governo brasileiro, e sem atingir a dimensão de uma Carmen Miranda, Elsie Houston também parece ter atuado como uma "embaixatriz" dentro do espírito da "Política de Boa Vizinhança" que então imperava entre os Estados Unidos e seus vizinhos sul-americanos. Entre 1939 e 1940, ela apresentou um programa semanal de rádio pela NBC, a "Fiesta Pan Americana", onde divulgava a música brasileira.

Apesar de ter rompido com Benjamin Péret e de nem mesmo citar publicamente seu nome (para a já citada matéria da Time Magazine, ela justificou isso declarando que "ele era anti-nazista e ainda vivia em Paris"), Elsie Houston aparentemente ainda se considerava casada com o poeta. Todavia, isso não a impediu de manter um romance com o conde belga Marcel Courbon.

Caso Encerrado?

Na tarde de 20 de fevereiro de 1943, Elsie Houston foi encontrada morta em seu apartamento na elegante Park Avenue. Segundo informou ao New York Times o detetive William Chaplain, da polícia de Nova York, tratava-se de um "aparente suicídio". O corpo foi encontrado por Marcel Courbon, citado na reportagem como um "amigo", na cama, "totalmente vestido", mas sem sapatos. Ao lado do corpo, um vidro de pílulas para dormir, vazio, e dois "bilhetes de suicida" escritos em francês: um endereçado à irmã, Mary "Maria" Pedrosa, que residia em Washington D.C., e outro ao próprio Marcel Courbon.

Nas notas, Elsie Houston afirma estar "terrivelmente confusa" e acrescentava: "por favor, não deixe ninguém saber disso". É motivo de especulação o que ela não queria que ninguém soubesse. Falou-se que sua carreira estava em declínio, posto que o Rainbow Room havia fechado as portas pouco depois da entrada dos Estados Unidos na Segunda Guerra Mundial e que outras "embaixatrizes exóticas", como Olga Coelho, haviam tomado o seu lugar na preferência do público.

Outra hipótese levantada é que ela, uma pesquisadora séria, odiava a vida em Nova York e as performances que tinha de fazer para sobreviver. Ou então que jamais se recuperou da separação de Benjamin Péret. Ou mesmo que Marcel Courbon a desprezava. E até mesmo que ela foi assassinada num complô stalinista. Provavelmente, jamais se descobrirá o verdadeiro motivo por trás do suposto suicídio de Elsie Houston.

Elsie Houston por Mário de Andrade

Em 1943, Mário de Andrade escreveu um obituário para a cantora, em cuja introdução se lê:

"Era uma cantora esplêndida. Possuía técnica larga, auxiliada por uma inteligência excepcional em gente do canto. Tão excepcional que Elsie Houston conseguia vencer as vaidades, reconhecer suas pequenas deficiências técnicas e os limites naturais da sua voz. E era um gozo dos mais finos a gente perceber a habilidade com que ela escolhia programas ou disfarçava os escolhos ocorrentes no meio duma canção."

Discografia

  • 1930 - Morena Cor De Canela / Saudades da Bahia (Columbia)
  • 1930 - Vou Prá Bahia / Coração Das Muié (Columbia)
  • 1930 - Tristeza (Januário de Oliveira) / Macumbagelê (Columbia)
  • 1930 - O Barão Da Bahia / Cadê Minha Pomba Rola (Columbia)
  • 1930 - Aluga-se Um Coração / Cheguei! (Columbia)
  • 1930 - Puxa O Melão, Sabiá! / Coco Dendê Trapiá-Ai Sabiá Da Mata (Columbia)
  • 1930 - Eh! Jurupanã / Aribu (Columbia)
  • 1932 - Capote Do Mangô É Teu / Vejo A Lua No Céu (RCA Victor)
  • 1996 - Rare Recording Of Songs From Brazil, Russia And The United States (Sanctus)
  • 2004 - Elsie Houston - A Feminilidade do Canto (Atração Fonográfica)

Publicações

  • 1930 - Chants Populaires Du Brésil (Paris: Librairie Orientaliste Paul Geuthner)

Fonte: Wikipédia

Vadico

OSVALDO DE ALMEIDA GOGLIANO
(51 anos)
Compositor e Pianista

* São Paulo, SP (24/06/1910)
+ Rio de Janeiro, RJ (11/06/1962)

Osvaldo de Almeida Gogliano, mais conhecido como Vadico, foi um compositor e pianista brasileiro. Filho de Erasmino Gogliano e Maria Adelaide de Almeida. Todos seus irmãos estudaram música, coisa que Vadico se interessou na adolescência. Seu irmão, Dirceu, afirmou: "Era daqueles músicos natos. Trazia notável sensibilidade artística e um extraordinário senso de estética musical".

Embora não tão reverenciado, Vadico foi um dos parceiros mais constantes do sambista carioca Noel Rosa. Morou por 15 anos nos Estados Unidos, onde conseguiu cidadania e estudou com o maestro Mario Castelnuovo-Tedesco.

Vadico nasceu em São Paulo, era filho de imigrantes italianos e viveu no Brás com os pais até aproximadamente os 20 anos, quando abandonou o ofício para cantar em festivais. Foi mais um autêntico sambista paulista e brasileiro.


Vadico e a cantora Dalva de Oliveira
Vadico começou a estudar música aos 16 anos e dois anos depois tocava piano profissionalmente, época em que venceu um concurso com "Isso Mesmo É Que Eu Quero". Em 1929, "Arranjei Outra" foi gravada por Francisco Alves e "Deixei de Ser Otário" foi incluída na trilha sonora do filme "Acabaram-se Os Otários".

Vadico conheceu Noel Rosa em 1932, nos estúdios da gravadora Odeon, que de imediato pôs letra em "Feitio de Oração", seguida de parcerias notáveis como "Feitiço Da Vila", "Pra Que Mentir", "Conversa De Botequim", "Cem Mil Réis", "Provei", "Tarzã, O Filho do Alfaiate", "Mais Um Samba Popular", "Quantos Beijos" e "Só Pode Ser Você". Com Marino Pinto, Vadico compôs sucessos como "Prece" e "Súplica". Também fez parceria com Vinicius de Moraes em "Sempre a Esperar".

Em 1939, Vadico foi para os Estados Unidos apresentar-se com a orquestra de Romeu Silva na Exposição Internacional de Mundial de Nova York. No ano seguinte, retornou e radicou-se no Estado norte-americano da Califórnia, onde viveu durante oito anos. Lá, gravou músicas do filme "Uma Noite No Rio", com Carmen Miranda, e a partir de então, tornou-se pianista da cantora luso-brasileira e do Bando da Lua.

A pedido da Universal Pictures, compôs "Ioiô", que acabou virando tema de outro filme. A convite de Walt Disney, musicou em 1943 o desenho animado "Saludos, Amigos", que apresentava o papagaio Zé Carioca como símbolo do Brasil.

Em 1949, Vadico rodou a Europa e as Américas dirigindo a orquestra da Companhia de Bailados de Katherine Dunham. Voltou ao Brasil em 1956, quando começou a trabalhar como diretor musical da TV Rio.

Ao longo de sua carreira compôs cerca de 10 obras eruditas e 80 populares, sendo 11 delas com Noel Rosa.

Em 11/06/1962, enquanto preparava-se para um ensaio com uma orquestra no estúdio da Columbia, Vadico sofreu uma ataque cardíaco e morreu.


Discografia

  • 1955 - Conversa De Botequim / Duvidoso
  • 1955 - Tarzan O Filho Do Alfaiate / Não Sobra Um Pedaço
  • 1956 - Dançando Com Vadico
  • 1980 - Vadico - Evocação III (Póstumo)

Fonte: Wikipédia