GERALDO TEODORO PEREIRA
(37 anos)
Cantor e Compositor
* Juiz de Fora, MG (23/04/1918)
+ Rio de Janeiro, RJ (08/05/1955)
Filho de Sebastão Maria e de Clementina Maria Teodoro, tinha três irmãos. Nasceu em Juiz de Fora, MG, e em 1930, mudou-se para o Rio de Janeiro para morar com o irmão mais velho, Manoel Araújo, conhecido como Mané-Mané e que morava no Santo Antônio, no Morro da Mangueira. Passou a trabalhar como ajudante do irmão no balcão de uma tendinha mantida por ele no Buraco Quente, localidade do Morro da Mangueira.
Pouco tempo depois, deixou de trabalhar na tendinha do irmão e empregou-se como soprador de vidro na Fábrica de Vidro José Scaroni, na Rua Gonzaga Bastos, lá permanecendo por pouco tempo. Já nessa época, participava de rodas de samba no Morro da Mangueira na casa de Alfredo Português.
Em 1931, passou a estudar na Escola Pará, em Vila Isabel, posteriormente Escola Olímpia do Couto, onde fez o curso primário. Nessa época, conheceu Buci Moreira, Padeirinho e Fernando Pimenta, que tinham idade semelhante a sua e que se tornariam futuros sambistas.
Terminou o curso primário e, adolescente ainda, já compunha sambas para a escola Unidos de Mangueira, hoje extinta. Logo fez amizades com os bambas do morro e aprendeu violão com Cartola e Aloísio Dias.
Aos 18 anos, deixou o morro para viver no subúrbio de Engenho de Dentro e tirou sua carteira de motorista. Logo mudou-se para a Lapa, empregando-se na Prefeitura do Rio de Janeiro como motorista de caminhão de limpeza urbana, emprego que manteve por toda a vida. Passou a frequentar os bares da cidade, inclusive o Café Nice, ponto de encontro de sambistas e da boêmia carioca. Com parceria de Nelson Teixeira, compôs o samba "Se Você Sair Chorando", gravado em 1939 na Odeon pelo cantor Roberto Paiva. Inscrita no concurso carnavalesco promovido em 1940, a música classificou-se entre as finalistas.
Por volta de 1940, conheceu Isabel, grande amor de sua vida, musa inspiradora de sambas como "Acabou a Sopa" (Geraldo Pereira e Augusto Garcez) gravado em 1940 por Cyro Monteiro, que se tornaria um de seus mais fiéis interpretes e o principal divulgador de suas obras, e "Liberta Meu Coração", gravada em 1947 por Abílio Lessa.
Nos anos seguintes, diversas músicas suas foram gravadas por cantores de destaque: os sambas "Falta de Sorte" e "Pode Ser?" (Geraldo Pereira e Marino Pinto), foram gravados respectivamente por Aracy de Almeida e Isaura Garcia, em 1941.
Nos anos de 1942 e 1943, Odete Amaral, Moreira da Silva e o grupo Quatro Ases e Um Curinga lançaram composições suas. Em 1943 apresentou-se no programa "Vesperal das Moças", na Rádio Tamoio do Rio de Janeiro. Durante essa época, fez amizade com Valdir Machado, que o incentivava a cantar e que se tornou seu parceiro. Fez algumas apresentações esporádicas na Rádio Nacional.
Em 1944 participou do filme "Berlim na Batucada", de Luís de Barros, interpretando o papel do Cabo Laurindo. Foi também em 1944 que conseguiu seu primeiro grande sucesso, com a gravação de "Falsa Baiana", por Cyro Monteiro, samba inspirado na esposa do compositor Roberto Martins, incapaz de sambar com sua fantasia de baiana no Carnaval. O samba deu-lhe renome nacional.
"Bolinha de Papel", gravado pelos Anjos do Inferno em 1945, repetiu o êxito do ano anterior. Ainda em 1945, depois de aprovado num teste da gravadora Continental, o sambista estreou como cantor, interpretando os dois lados de um 78 rpm: "Mais um Milagre" e "Bonde de Piedade" (Geraldo Pereira e Ari Monteiro). O disco não alcançou sucesso e ele preferiu lançar suas criações seguintes por meio de outros cantores.
Em 1949, Blecaute gravou "Que Samba Bom", um dos maiores sucessos de venda da década. Em 1950, o próprio compositor gravou "Pedro do Pedregulho", lançando-se definitivamente como intérprete de suas composições a partir de 1951, quando Cyro Monteiro se encontrava impossibilitado de gravar, por conta de uma doença nos pulmões. Gravou o samba "Escurinha" (Geraldo Pereira e Arnaldo Passos) na Sinter. Ainda no mesmo ano, tornou a compor em parceria com Wilson Batista, saindo pela Continental o samba "Cego de Amor", na voz de Deo.
Em 1952 participou do filme "O Rei do Samba", de Luís de Barros. Interpretado por ele, a RCA Victor lançou, em 1953, "Cabritada Malsucedida" (Geraldo Pereira e Jorge Gebara). O ano de 1954 marcou seu último grande sucesso, "Escurinho", gravado na Todamérica por Cyro Monteiro.
Participou ainda do espetáculo "Clarins em Fá", na boite Esplanada, em São Paulo, fazendo muito sucesso com seu samba "Pau Peroba" (Geraldo Pereira, Buci Moreira e Albertina Rocha). Nesse ano, registrou na Columbia suas últimas produções, "Maior Desacerto" (Geraldo Pereira, Silva Júnior e Ari Garcia) e "Eu Vou Partir", título que parecia prever o fim prematuro de sua vida atribulada.
Em 08/05/1954, aos 37 anos, encerrava uma carreira de grande sambista, e em muitos pontos inovadora. Geraldo Pereira morreu vítima de hemorragia intestinal, aos 37 anos, em conseqüência de uma briga num bar da Lapa com o lendário malandro Madame Satã.
Após sua morte, diversas composições suas foram regravadas. Nos anos 60, João Gilberto regravou "Bolinha de Papel". Em 1971, Paulinho da Viola regravou "Você Está Sumindo". Em 1980 foi lançado o disco "Wilson, Geraldo e Noel", no qual João Nogueira interpreta composições de Geraldo Pereira, Noel Rosa e Wilson Batista.
Em 1981, a gravadora Eldorado lançou o LP "Evocação V", inteiramente dedicado ao compositor, interpretado por Elton Medeiros, Monarco, Jackson do Pandeiro entre outros. Sua música "Se Você Sair Chorando" foi regravada nesse disco por um coro de oito cantores.
No Carnaval de 1982, o compositor foi homenageado no enredo "Geraldo Pereira, Eterna Glória do Samba" (João Ramos Pacheco), da Escola de Samba Unidos do Jacarezinho.
Em 1990, Chico Buarque regravou "Sem Compromisso" (Geraldo Pereira e Nelson Trigueiro).
Em 1995 foi lançado o livro "Um Escurinho Direitinho: A Vida e a Obra de Geraldo Pereira", de autoria de Luís Fernando Vieira, Luís Pimentel e Suetônio Valença (Relume-Dumará, Rio de Janeiro).
Em 1996, Zizi Possi cantou "Escurinha" em seu show e, em 1997, Gal Costa regravou com grande sucesso o samba "Falsa Baiana", em seu CD "Acústico MTV".
Indicação: Eric Spagnuolo