Ricardo Bandeira

RICARDO BANDEIRA
(59 anos)
Mímico, Poeta, Escritor, Dramaturgo, Compositor, Produtor e Diretor Teatral

* Rio de Janeiro, RJ (11/01/1936)
+ São Paulo, SP (10/10/1995)

Considerado um dos maiores mímicos do Brasil. Ricardo Bandeira trabalhou no teatro e no cinema por mais de 45 anos. Dirigiu filmes e espetáculos teatrais que fizeram sucesso no Brasil e no exterior.

No cinema seu maior sucesso foi O Menino Arco-Íris de 1983 com Paulo Autran, Lima Duarte, Antônio Fagundes e Dercy Gonçalves, que chegou a representar o Brasil no Festival de Veneza.

Seu último espetáculo teatral foi "Carlitos no Circo" em 1993. Escreveu e dirigiu a peça de sucesso "Todo Mundo Nu"

Além de ter sido um excelente mímico, foi, também, poeta, escritor, dramaturgo, músico, compositor, produtor e diretor teatral. Nasceu em 11 de janeiro de 1936, no subúrbio da Leopoldina, no Rio de Janeiro. Estudou na Escola Prudente de Moraes e, depois, no Colégio Batista Brasileiro, onde se iniciou no Teatro de Fantoche.

Aos 16 anos, ingressou no teatro profissional, na Companhia de Procópio Ferreira, representando Cleanto em "O Avarento, de Molière". Fez, ainda, "Escola de Maridos", do mesmo autor, "O Demônio Familiar", de José de Alencar e "Deus Lhe Pague", de Joracy Camargo. Procópio Ferreira tornou-se, posteriormente, um grande admirador dele.

Em 1955, produziu, interpretou e dirigiu para a TV Record de São Paulo o infanto-juvenil "Tic-Tac O Amigão", que foi líder do Ibope durante um ano. Trabalhou na Companhia Jaime Costa, no Teatro de Revistas, nas Companhias Mesquitinha, Zilco Ribeiro e Wellington Botelho. Participou dos filmes A Família Lero-Lero da Cinematográfica Vera Cruz, "A Pensão de Dona Estela" da Multifilmes e "A Doutora é Muito Viva" da Maristela.

Ricardo Bandeira quando estudou com Jean-Louis Barrault (1956)
Embora muitos digam que foi um mímico autodidata, Ricardo Bandeira estudou balé com Maria Carmem Brandão (1956-57), foi para Paris estudar a arte da mímica com Jean Louis Barrault, com quem entrou em contato com a gramática corporal de Decroux e estudou a arte da pantomima com Marcel Marceau, que tanto o marcou em sua carreira.

Em 1958, estreou a Cia Ricardo Bandeira, no Teatro Arena de São Paulo, com o espetáculo em dois atos "As Aventuras de Bonifácio" e "Pequena Homenagem a Charles Chaplin". Excursionou ao sul do país e, em 1959, estreou "Novas Pantomimas de Bonifácio" e o mimodrama "A Seca". Apresentou-se no Teatro Municipal de São Paulo e no Rio de Janeiro, no Teatro Maison de France. Recebeu da Associação Paulista de Críticos Teatrais, hoje Associação Paulista de Críticos de Arte, o Prêmio Honorífico. Em 1960, estreou no Teatro de Cultura Artística de São Paulo, o mimodrama "Carnaval", apresentado no Teatro Brasileiro de Comédia e Teatro Municipal de São Paulo.

Ricardo Bandeira foi uma referência para toda uma geração de mímicos e deixou muitos discípulos, entre eles Alberto Gaus, idealizador do Solar da Mímica e Cléber França. Fizeram parte de sua companhia Flávio Migliacio, César Macedo, Guilherme Corrêa, Célia Helena, Tereza Sodré, Marilena Ansaldi e outros. Em seu livro "Atos-Movimento na Vida e no Palco" (1994), Marilena Ansaldi, ao relatar sua experiência no Festival da Juventude em Helsinki, na Rússia, em 1962, escreve:

"Ricardo Bandeira foi absolutamente ovacionado em todas as suas apresentações. Foi uma contribuição notável a da delegação brasileira ao festival."

Ricardo Bandeira excursionou pela América Latina, no Uruguai, Argentina, Chile e Venezuela. Em 1962, foi para a Europa, onde recebeu o prêmio no Festival de Teatro da Finlândia, com o seu personagem Bonifácio. Apresentou-se em várias cidades da antiga União Soviética e nos Estados Unidos. Na volta, montou "Um Americano em Moscou".

Ricardo Bandeira com Marcel Marceau em Paris
Em 1963-64, excursionou pelo Brasil com novos espetáculos. Em 1967, apresentou sua primeira versão de Hamlet, de William Shakespeare, no Teatro Nacional de Comédia do Rio de Janeiro, sob o patrocínio do embaixador Pascoal Carlos Magno. Na segunda versão desta montagem, apresentou-se em São Paulo, no Teatro Ruth Escobar e fez, em 1968, uma bem sucedida turnê pela Europa, onde recebeu, pela segunda vez, o prêmio de primeiro lugar no Festival Internacional da Bulgária. Estendeu sua turnê por outros países da Europa e Estados Unidos.

De volta para o Brasil, estreou o espetáculo "O Acrobata Pede Desculpas Mas Não Cai", inspirado na obra de Fausto Wolff. Em 1970, recebeu pela terceira vez, o primeiro prêmio no Festival Internacional de Teatro em Stratford-on-Avon, na Inglaterra, com Hamlet. Entre 1971 a 1976, criou os espetáculos "História da Incivilização", "Que Fazer com a Minha Juventude", "Eu! Maiakovski!, Eu! Beethoven", "Coração de Vidro" e "Ricardo III", criação livre sobre a obra de William Shakespeare, pela primeira vez em toda a história do teatro representada por um único ator.

Adotou um estilo de movimentação que se assemelhava à mímica objetiva de Marcel Marceau, e embora trouxesse as ilustrações objetivas, era poética e repleta de metáforas. Por meio de suas apresentações, Ricardo Bandeira nos fez repensar, assim como Marcel Marceau, que a relação entre mímica objetiva e mímica subjetiva é mais complexa do que imaginávamos e são dois elementos indissociáveis como será incansavelmente pontuado pela mímica contemporânea. Marcel Marceau, certa vez, no Brasil, assistiu à apresentação de Ricardo Bandeira e marcou o meio artístico ao falar:

"Esse é o meu sucessor brasileiro."

Após sua morte, seu nome parece ter sido banido do teatro brasileiro, nunca mais se publicou nada sobre ele e sua memória praticamente foi abandonada, causando grande prejuízo existencial para a mímica.