J. B. de Carvalho

JOÃO PAULO BATISTA DE CARVALHO
(78 anos)
Cantor e Compositor

* Rio de Janeiro, RJ (26/04/1901)
+ Rio de Janeiro, RJ (24/08/1979)

João Paulo Batista de Carvalho foi um cantor e compositor brasileiro. Ficou conhecido como "O Batuqueiro Famoso". Notabilizou-se como cantor de corimas e pontos de macumba.

Iniciou a carreira artística em 1931, liderando o Conjunto Tupi na extinta Rádio Cajuti, e interpretando corimas, músicas cantadas durante os rituais de macumba. Dirigiu durante anos o Conjunto Tupi que teve entre seus integrantes o cantor e compositor Herivelto Martins. Foi o pioneiro na apresentação de pontos de umbanda em programas de rádio.

Consta que o grupo, que fez apresentações em quase todas as emissoras de rádio cariocas no início da década de 1930, sofria frequentes interrupções da polícia pois as pessoas entravam em transe ao ouvir as músicas.

Foi preso diversas vezes e dizia que sempre era solto devido à sua amizade com o presidente Getúlio Vargas.

Lançou seu primeiro disco solo pela RCA Victor em 1931, interpretando os batuques "E Vem o Sol" e "Na Minha Terrera", de sua autoria. Em seguida, gravou na Parlophon a marcha "Isto é Azar" e o samba "Gente Faladeira", obras de Maximiliano F. da Costa. Ainda em 1931, paralelamente à sua carreira solo também fez gravações com o Conjunto Tupi dirigido por ele e que seria integrado entre outros por Herivelto Martins e Francisco Sena, que posteriormente sairiam do conjunto formando a dupla Preto e Branco, embrião do lendário Trio de Ouro. Nesse ano de 1931 o Conjunto Tupi lançou o batuque "Cadê Viramundo", de sua autoria, que se tornaria seu maior êxito como compositor, sendo anos depois regravada pelo músico mexicano Xavier Cugat, o cateretê "Bambaia" (J. B. de Carvalho e P. Nascimento), os sambas "Foi Sem Querer" e "Fica no Mocó", o jongo "Palavra Caboclo" e a canção "Chegou o Fim do Mundo" todas de sua autoria.

Em 1932 gravou a toada "Saudade do Vaqueiro" (J. B. de Carvalho e Paulo Nascimento), que somente seria lançada três anos depois. Também nesse ano, fez novas gravações com o Conjunto Tupi que registrou, de sua autoria, a canção "Minha Cabocla Serrana", o batuque "Saci Pererê", os sambas "O Destino Há de Falar""Isto é Que é", o jongo "Quando o Sol Sair", a toada "Depois Daquela Montanha", e o samba-canção "A Palavra Adeus", além da macumba "Mironga de Moça Branca" (J. B. de Carvalho e Gastão Viana), a marcha "Da Cor do Meu Violão" (J. B. de Carvalho e Herivelto Martins). Essa marcha na verdade era somente de autoria de Herivelto Martins que ainda em começo de carreira cedeu-lhe a parceria em troca da gravação.

Em 1933, contratado pela Odeon gravou o samba canção "Quetuba da Ita" (J. B. de Carvalho e Maximiliano F. da Costa), a rumba "Cadê o Craveiro" (J. B. de Carvalho). Como era comum naquela época artistas lançarem discos num mesmo ano por gravadoras diferentes, gravou pela Columbia o samba "Vivo Tristonho" (César da Silva) e o batuque "Vê Se é" (J. B. de Carvalho). Ainda em 1933, o Conjunto Tupi gravou seus batuques "Lá no Horizonte", "Rei Coroado" e "Rompendo a Madrugada", e a canção "Boiadeiro".

Em 1935, já com o Conjunto Tupi tendo encerrado as atividades, voltou a gravar na RCA Victor e registrou a macumba "Meia Noite" (J. B. de Carvalho e J. Piedade), a toada-cateretê "Sinhá Maria Rosa" (Roberto Martins e Ataulfo Alves), as marchas "Criança Louca" (Sátiro de Melo), "Flauta de Bambu" (Sátiro de Melo e J. Bastos Filho), e os sambas "Se Você Não Quer Saber de Mim" (Sátiro de Melo), "Nosso Amor" (Sátiro de Melo e Jorge Nóbrega). Nesse mesmo ano, registrou na Columbia os sambas "Nega Reúna" e "Canta Meu Pandeiro", parcerias com J. Piedade.

Em 1936, lançou os jongos "Pomba Gira" (J. B. de Carvalho e Jorge Nóbrega), e "É Timbetá" (Getúlio Marinho), os sambas "Eu Nunca Pensei" (Paquito e Miguel Baúso), "Esta Mulher Me Provoca" (J. B. de Carvalho e Cândido Vasconcelos), "Falso Amor" (J. B. de Carvalho e Osvaldo Silva), que fez bastante sucesso, e a marcha "Alô Boy" (Kid Pepe, J. Piedade e Homero Ferreira).

Em 1937, gravou as macumbas "Caboclo do Mato" e "No Fundo do Mar" (João da Baiana e Getúlio Marinho), o batuque "Vem Baianinha" (Max Bulhões e Constantino Silva), as batucadas "O Batuque Começou" (Peterpan e Oscar Lavado), e "Foste Embora" (Djalma Esteves, Carlos Almeida e Raul Rezende), os sambas "Bateu Cinco Horas" (Haroldo Lobo e Milton de Oliveira), "Eu Era Bem Feliz" (J. B. de Carvalho e J. Nóbrega), "Só Um Novo Amor" (Max Bulhões), "Juro" (Haroldo Lobo e Milton de Oliveira), "Julgou Ser Feliz" (Valdemar Silva e C. Vasconcelos), "Não Sei Se Chorei" (Peterpan e M. Robledo), a marcha "Vaca Preta" (J. B. de Carvalho e Jorge Nóbrega).

Em 1938, gravou mais oito disco na RCA Victor registrando as marchas "Tereré Não Dá Camisa a Ninguém" (Valfrido Silva e Antônio Almeida), "Americana" (Tio Sam), "Dona Laura" (Arlindo Marques Jr. e Roberto Roberti), os sambas "Mulher Sem Dono" (J. Piedade e Torres Homem), "Minha Vida é Cantar" (Peterpan e J. Portela), "Gostei Do Teu Olhar" (Armando Marçal e Antônio Soares), "O Coração Ordena" (Alvaiade e Paquito), "Deve Ser Amor" (Nelson Trigueiro e Paquito), "Despedida" (Haroldo Lobo e Milton de Oliveira), e "Princípio de Amor" (Amado Régis), os cateretês "O Rancho De Sapé" (J. B. de Carvalho), "Na Boca Da Noite" (João Maia e Pedro Paraguassu), o jongo "Suará" (J. B. de Carvalho e Jorge Nóbrega), o maracatu "Bagé" (Odilon Carvalho e Raimundo Ferreira), e o batuque "Melodia Africana" (J. B. de CarvalhoIlca Airosa e Durval Fernandes), em gravação feita em dueto com a cantora Odete Amaral.

Em 1939 lançou um último disco pela RCA Victor com o ponto de macumba "Meia Noite" (Antenor Borges e Príncipe Pretinho), e o samba-canção "Grande Mágoa" (Raul Marques e J. Miranda Pinto). Ainda em 1939 foi para a Odeon e gravou os sambas "Em Sonhos Te Beijei" (Djalma Esteves e Milton de Oliveira), "Quando o Meu Amor Morreu", com arranjos seus, de Djalma Esteves e Milton de Oliveira, para a melodia do fox "My Love Parade" adaptada para ritmo de samba, "Foi Num Sonho" (J. Cascata e Roberto Martins), "Me Deixa Em Paz" (J. B. de Carvalho e Paulo Rodrigues), "Noite De Lua" (Max Bulhões e Felisberto Martins), "Com a Vida Que Pediste a Deus" (Ismael Silva), "Dormindo Sonhei" (Paquito, Chico Cuíca e Ernâni Dias), "Te Encontrei No Abandono" (Kid Pepe e Germano Augusto), "Sonhou" (Haroldo Lobo e Milton de Oliveira), e as marchas "Descança Palhaço" ( (J. B. de Carvalho e Nicola Bruni), "Mulata Nacional" (J. B. de Carvalho e Manoel Ferreira), "Touradas Na Avenida" (J. B. de Carvalho e Felisberto Martins).

Tendo atuado numa época em as gravações eram difíceis é de se notar a quantidade de gravações que chegou a fazer lançando seis disco em 1939 e mais oito no ano seguinte quando gravou as batucadas "Poeira" (J. Santos e Abigail Moura), "Ciúmes de Pai João" (Fausto Vasconcelos e Felisberto Martins), os samba-canção "Era Eu" (J. B. de Carvalho e Amadeu Veloso), "Suas Lágrimas" (Paquito e Henrique de Almeida), os sambas "Beira-Mar" (Paulo Rodrigues e Pedro Carvalho), "Falsa Jura" (Paulo Rodrigues e J. M. Hermida), "Se Ela Perguntar" (Amado Régis e Zé Pretinho), "Saudade De Um Batuqueiro" (A. Alexandrino, Max Bulhões e Elpídio Viana), "Não Há Quem Possa" (Edgard Freitas e Sá Róris), "Partiu... Para Onde Não Sei..." (Henrique Mesquita e Felisberto Martins), "Essa Sopa Vai Acabar" (Lázaro Martins e Pedrito), o samba jongo "Iaiá, Ioiô e a Cuíca" (Fausto Vasconcelos e Felisberto Martins), que foi gravado em dueto com a cantora Nena Robledo, e as marchas "Pó De Mico" (Haroldo Lobo e Milton de Oliveira), de grande sucesso no carnaval daquele ano, "A Mulher Faz o Homem" (Nelson Teixeira e Alberto Homsi), "Aguenta o Galho Carolina" (Paulo Rodrigues e Custódio Fontes), "Esta Noite Tive Um Sonho" (J. B. de Carvalho e Kid Pepe).

Ainda em 1940, registrou o batuque "Ponto Do Caboclo Rompe Mato" (J. B. de Carvalho e Nelson Trigueiro), em gravação na qual cantou em dupla com a cantora Eladir Porto, e o samba "Espero Não Zombar De Mim" (Lázaro Martins e Pedrito).

Em 1941, gravou os sambas "O Patrão Está Com a Palavra" (Paquito e Artur Vilarino), "Reportagem Carnavalesca" (Moreira da Silva e Davina Anita Pentone), "Só Eu" (Orlando M. Braga e Pedrito), a batucada "Bota a Canoa No Mar" (J. B. de Carvalho), a marcha-rancho "Lenda Da Rosa Vermelha" (Amado Régis), e o samba-canção "Só Você" (O. M. Braga, Henrique de Almeida e Nelson Trigueiro).

Em 1942, gravou as macumbas "Pai Xangô" (J. B. de Carvalho, Henrique de Almeida e Estanislau Silva), e "São Jorge Guerreiro" (J. B. de Carvalho e Amado Régis).

Em 1945, gravou pela Continental os sambas "Pra Que Esse Abandono?" e "A Estrela Brilhou", parcerias com Amado Régis, a marcha "Margarida" (Lauro Maia e Humberto Teixeira), e o samba "Não Vejo Lágrimas" (Mendonça de Souza).

Depois de alguns anos sem gravar foi contratado pela gravadora Todamérica em 1951 e, seguindo o sucesso do baião, lançou o que seria um novo gênero, o macumbaião gravando "Segura o Boi" e "Saravá", parcerias com Paulo Rodrigues.

Em 1952 gravou as macumbas "Salve Ogum" e "Pedra Rolou", de sua autoria, o baião "Na Encruzilhada" (J. B. de Carvalho e César Cruz), e o samba "A Baiana Chegou" (J. B. de Carvalho e João Dias).

Em 1953, gravou mais quatro macumbas "Cangira" (J. B. de Carvalho, Paulo Rodrigues e Valdir Machado), "Pena Verde" (J. B. de Carvalho e Ângela Dantas), "Ogum Megé" (Paulo Rodrigues), "Mãe D'água" e "Doum, Cosme e Damião", as duas em parceria com Amado Régis, e "São Benedito" (J. B. de Carvalho, Rossini Pacheco e Valdir Machado), os batuques "Ê-Rê-Rê (Caboclo 7 Flechas)" e "Ogum Meu Pai" (César Brasil e Otávio Faria), a marcha "Mei-Noite", (Wilson Batista, Brasinha e J. Batista), e o samba "Vai Pra Casa Do Teu Pai" (Paulo Cardoso).

Em 1954, regravou seu batuque "Cadê Viramundo" (J. B. de Carvalho) além de registrar também o batuque "São Jorge Guerreiro" (Antônio Almeida), as macumbas "Santo Antônio Caminhou" (J. B. de Carvalho e Ari Rebelo), "Pena Branca" (J. B. de Carvalho e Ângelo Dantas), "Ponto de Aniversário (Cosme e Damião)", "Oxumaré" e "Tranca Rua" as três em parceria com Otávio Faria, "Beira-Mar" (J. B. de Carvalho, Otávio Faria e Amado Régis), "Congo é" (J. B. de Carvalho e Ângelo Dantas), os sambas "Penei" (J. B. de Carvalho, Elpídio Viana e Ângelo Dantas) e "Papel De Palhaço" (Abílio de Oliveira), e o baião "Rojão do Lampião" (J. B. de Carvalho).

Em 1955, lançou mais quatro disco com composições de umbanda: as macumbas "Ogum Iara", "Pai Xangô", "Cabolco da Cachoeira", "Cabocla Jurema" e "Caboclo do Mato", todas de sua autoria, e "Dia Das Crianças (Cosme e Damião)" (J. B. de Carvalho e Rossini Pacheco), "Capoeira" (J. B. de Carvalho, Valter Tourinho e Guará), e a marcha "Bilhete à São João" (J. B. de Carvalho, Dias de Oliveira e Mauro Miranda).

Em 1956, gravou com o grupo J. B. de Carvalho e Seus Caboclos as macumbas "Ogum Megê Meu Pai" e "Exu Tranca Rua Das Almas", ambas parcerias com Álvaro F. Gonçalves.

Em 1957, gravou na RCA Victor o samba "Saudação a São Jorge", de sua autoria e os pontos "Ogum Megé" (J. B. de Carvalho e Zé Ferreira), "Saudação a Cosme e Damião" (J. B. de Carvalho e Jarbas Assad), e "Saravá Inhançã" (César Cruz e Silvinha Drumont).

Em 1960, gravou com o grupo J. B. de Carvalho e Seu Terreiro os dois últimos discos pela Todamérica interpretando as macumbas "Vencedor De Demanda" e "Tala Talá", as duas, composições em parceria  com Delmiro Ramos, "Ogum Sete Ondas" (J. B. de Carvalho e Pedro Nascimento), e "Estrela Dalva", de sua autoria.

Em 1961, dezessete de seus discos em 78 rpm foram relançados numa série da gravadora Continental. Lançou ainda com sucesso diversos LPs entre os quais "Terreiros e Atabaques" pela Todamérica, e "Batuque", pela Philips, muito vendidos em casas de artigos de umbanda.

No fim da década de 1960, retirou-se do rádio, mas retornou logo depois, em 1971, quando passou a dirigir na Rádio Carioca o programa "A Carioca dos Terreiros" no qual contou com a presença do locutor Moreira e de J. B. Júnior, que era seu filho, pandeirista e compositor da Portela. Esse programa atingiu grande audiência na época.

Sua longa carreira artística atravessou quase cinco décadas tendo lançado mais de 70 discos entre 78 rpm e LPs pelas gravadoras Odeon, RCA Victor, Columbia, Continental, Parlophon, Todamérica e Philips, deixando seu nome gravado na história da música popular não apenas pelo pioneirismo de levar pontos de macumba para o rádio, já que no disco nomes como João da Baiana e Getúlio Marinho também o fizeram na mesma época, mas pela continuidade de gravar esses pontos até o final da carreira.


Discografia


  • 1931 - E Vem O Sol / Na Minha Terrera
  • 1931 - Isto É Azar / Gente Faladeira
  • 1933 - Quetuba da Ita / Cadê O Craveiro
  • 1933 - Saudade do Vaqueiro
  • 1933 - Vivo Tristonho / Vê Se É
  • 1935 - Meia Noite / Sinhá Maria Rosa
  • 1935 - Criança Louca / Se Você Não Quer Saber De Mim
  • 1935 - Nosso Amor / Flauta De Bambu
  • 1935 - Nega Reúna / Canta Meu Pandeiro
  • 1936 - Poma Girá / Étimbetá
  • 1936 - Eu Nunca Pensei / Esta Mulher Me Provoca
  • 1936 - Falso Amor / Alô Boy
  • 1937 - Caboclo Do Mato / No Fundo Do Mar
  • 1937 - Vem Baianinha / O Batuque Começou
  • 1937 - Bateu Cinco Horas / Eu Era Bem Feliz
  • 1937 - Só Um Novo Amor / Juro
  • 1937 - Julgou Ser Feliz / Foste Embora
  • 1937 - Não Sei Se Chorei / Vaca Preta
  • 1938 - Tereré Não Dá Camisa A Ninguém / Mulher Sem Dono
  • 1938 - O Rancho De Sapé / Suará

Indicação: Miguel Sampaio

Silvinho

SÍLVIO ALBERTO JUSTO DA SILVA
(44 anos)
Cabeleireiro

* São Paulo, SP (1945)
+ Rio de Janeiro, RJ (06/10/1989)

Silvio Alberto Justo da Silva, o Silvinho, foi um cabeleireiro carioca que se tornou conhecido por seu leque de clientes famosas, entre as quais as atrizes Betty Faria e Elke Maravilha.

Silvinho foi talvez o mais importante Hair Stylist brasileiro dos anos 70, conhecido como "O Cabeleireiro das Estrelas" que participou intensamente da cena artística e fez inúmeros trabalhos para fotografia de moda, foto de beleza, publicidade, nus para as revistas masculinas, cinema e televisão.

Silvinho começou a galgar os céus do estrelato ainda na década de 60, quando já trabalhava como cabeleireiro, principalmente de moda e beleza. Mas foi na década de 70 que ele ficou famoso de vez, tornando-se referência de luxo e bom gosto nos visuais que criava.

Seu trabalho foi tão influente no mundo pop brasileiro dos anos 60, 70 e 80, que ele passou a ser visto quase como uma estrela de TV. E virou uma delas: passou a fazer parte do corpo de jurados do programa do Chacrinha na televisão, na década de 70.


Silvinho fez trabalhos na área de moda, publicidade, cinema, televisão e até penteados para as atrizes que posavam nuas nas revistas masculinas da época. Com impressionante talento e inesgotável exuberância, mesclava elementos hippies com toques underground e passou por todas as fases e modas: o tropicalismo, o black power, o desbunde dos 70, a disco, dentre outras.

Nascido em São Paulo em 1945, filho de mãe húngara e de pai descendente de imigrantes italianos, veio de uma família pobre, mas desde cedo revelou-se um virtuose no corte de cabelos. Na década de 60 já se destacava como um craque nos cortes de cabelos em um pequeno salão onde trabalhava. A atriz Renata Fronzi, que era dona de um salão de beleza chique na capital paulista, descobriu Silvinho e o carregou para trabalhar com ela.

A partir dali, todas as celebridades e elegantes queriam ser "cortadas" e penteadas pelo moço. Incluindo a modelo estrangeira Veruska, um dos ícones dos anos 60, que atuou no filme "Blow Up" no ano de 1966, de Michelangelo Antonioni, e veio ao Brasil ainda naquela década com o fotógrafo Franco Rubartelli. A top escolheu Silvinho para produzir seu visual para um editorial de moda.

O passo seguinte foi se mudar para o Rio de Janeiro, onde trabalhou no famoso salão Jambert, do espanhol Jambert Garcia, situado em Ipanema. O salão foi o mais badalado no Rio de Janeiro dos anos 70, repleto de tapetes persas e lustres de cristal. Logo Silvinho virou o preferido de mulheres famosas como Betty Faria, Sandra Bréa, Elke Maravilha, Yoná Magalhães, Zezé MottaMarina Montini e até Elis Regina. Além de cuidar do estilo capilar dessas poderosas, ele ficou muito amigo de várias delas, principalmente Betty Faria Sandra Bréa.

"As mulheres me contam tudo!"
(Silvinho em entrevista nos anos 70)

Betty Faria conta que, às vésperas de iniciar as gravações da minissérie global "Anos Dourados" (1986), que se passava na década de 50, estava em casa acompanhada do amigo e folheavam revistas antigas. Ao se depararem com uma foto da atriz italiana Gina Lollobrigida na década de 50, gritaram: "É esse cabelo!". Silvinho então fez o corte que imortalizou Betty Faria no papel da desquitada Glória.

Elke Maravilha e Silvinho
Sandra Bréa, por sua vez, só fazia cabelo com ele, inclusive nas inúmeras vezes em que posou nua para a revista Playboy. Uma delas, com os cabelos cacheados - obra de Silvinho. Segundo fonte, pouco antes de morrer, Sandra Bréa - que tinha os cabelos extremamente lisos - comentou: "Enrolar meus cabelos? Só Silvinho conseguia!".

Além de trabalhar como louco fazendo visuais para produção de revistas e TV - e não somente o cabelo, mas também a maquiagem e a produção das roupas, criando o visual completo das panteras -, ele ainda encontrava tempo para ferver. Vivendo o auge dos 70, era inevitável que Silvinho se jogasse na noite. Saía para a vida noturna acompanhado de mulheres badaladas e famosas, montadas por ele. Virou figurinha fácil em colunas sociais e também costumava desfilar no carnaval carioca, como em 1973, quando saiu pela Portela.

Também chegou a posar, ele mesmo, como modelo em editoriais de moda criados por ele, fazendo a linha Latin Lover, ao lado de pin-ups como Marlene Silva, Marina Montini e as próprias Elke MaravilhaSandra Bréa.

Em festas e badalações, surgia com visuais incríveis, explosivos e com toques de "Dzi Croquettes", o famoso grupo performático que também marcou os anos 70. De tão representativo, Silvinho foi uma das celebridades que fez uma ponta na novela global "Dancin' Days" (1978), como ele mesmo, surgindo na inauguração da discoteca que dava título à novela.

O filme norte-americano "Shampoo" (1975), por sinal, trazia como protagonista um esfuziante cabeleireiro, interpretado por Warren Beatty, que tinha casos com as inúmeras mulheres que penteava. Silvinho pode ser considerado uma versão verdadeira de tal personagem, já que, embora visivelmente andrógino e com uma sexualidade ambígua, teria tido flertes com algumas de suas estrelas, como Sandra Bréa.

O suposto romance entre SilvinhoSandra Bréa foi novamente comentado em 1993, quando a atriz anunciou publicamente que era soropositiva. Mas o cabeleireiro já não podia comentar o assunto, pois havia falecido em 06/10/1989, aos 44 anos, no Rio de Janeiro.

Ele descobriu ser portador do vírus do HIV em 1987, quando diagnosticou um câncer no estômago. Na época, ser soropositivo era uma sentença de morte. De fato, dois anos depois ele morria, e a causa da morte divulgada foi um linfoma no estômago e no esôfago.

Vários anos após sua morte, vale lembrar a importância de Silvinho, que acreditava fazer arte com sua profissão e ficou imortalizado como o mais importante Hair Stylist brasileiro dos anos 70.


Morte

Em 1987, ao iniciar um tratamento de câncer de estômago, Silvinho descobriu que também era portador do vírus da AIDS. De fato, dois anos depois, no dia 06/10/1989, no Rio de Janeiro, ele morria, e a causa da morte divulgada foi um linfoma no estômago e no esôfago.

Fonte: A Capa e Veja (11 de outubro, 1989 - Edição n° 1100 - Datas - Pág. 111)

Silvinho da Portela

SÍLVIO PEREIRA DA SILVA
(66 anos)
Cantor e Compositor

* Rio de Janeiro, RJ (1935)
+ Rio de Janeiro, RJ (08/02/2001)

Sílvio Pereira da Silva foi um cantor e compositor brasileiro. Desde os 16 anos, desfilava pelo Grêmio Recreativo Escola de Samba Portela, que viria a lhe emprestar o nome, tornando-o mais conhecido como Silvinho da Portela. No mundo do samba também era conhecido como Silvinho do Pandeiro. Fez parte do bloco carnavalesco Boêmios de Irajá, no qual atuava como ritmista e compositor.

Apesar de as escolas de samba sempre terem contado com pessoas responsáveis por puxar o canto, foi só muito mais tarde que surgiu a figura do intérprete oficial. Silvinho foi o primeiro a ocupar tal posto na Portela, entre 1969 e 1986. Em seguida foi cantor oficial da Viradouro, quando ainda desfilava em Niterói, e também do Império Serrano, além de ser Cidadão Samba em 1970.

Ao lado dos ritmistas Elizeu e Jorginho Pessanha, fez parte da delegação brasileira que se apresentou no "I Festival de Arte Negra", em Dakar, no Senegal, em 1966. Na ocasião, integrou o grupo de músicos que acompanhava Clementina de Jesus, Elton Medeiros, Ataulfo Alves, Heitor dos Prazeres, Paulinho da Viola, entre outros.

Silvinho da Portela estreou como puxador oficial da Portela em 1969, com "Treze Naus" (Ary do Cavaco). Vivenciou uma época áurea de sambas antológicos não só na história da Portela como na da própria MPB. Entre os sambas, cantou "Lendas e Mistérios da Amazônia" (Catoni, Jabolô e Waltenir), "Lapa Em Três Tempos" (Ary do Cavaco e Rubens), "Ilu-Ayê" (Cabana Norival Reis), "O Mundo Melhor de Pixinguinha" (Evaldo GouvêaJair Amorim e Velha), "Macunaíma" (David Corrêa e Norival Reis), "A Ressurreição das Coroas" e "Contos de Areia" (Dedé da PortelaNorival Reis).

Entre os sambas-enredos que interpretou, marcando época não só na Portela, mas na MPB como um todo, destacam-se "Lapa Em Três Tempos" (Ary do Cavaco e Rubens Alves de Sousa), com o qual a escola se classificou em 2º lugar do Grupo 1, em 1971. No ano seguinte, a Portela classificou-se em 3º lugar do Grupo 1 com o samba-enredo "Ilu Ayê" (Norival Reis e Cabana).

Em 1973, ao lado de Martinho da Vila, Darcy da Mangueira, Noel Rosa de Oliveira e Walter Rosa, participou do disco "A Voz do Samba", no qual interpretou de sua autoria "Amor de Raiz" (Silvinho e Jorge Barbosa) e "Escrevi" (Silvinho e Jorge José), além de "Caso de Amor" (Luiz Carlos e Miro).

Silvinho da Portela participou de um momento único, em 1975, ao interpretar "Macunaíma, Herói da Nossa Gente", de Norival Reis e Davi Corrêa, ao lado deste, Candeia e Clara Nunes, dois portelenses históricos. Com sua interpretação deu à escola o 5º lugar do Grupo 1.

No ano de 1978, lançou o seu único disco solo, "Silvinho e Suas Cabrochas".

No ano de 1999, participou de um show coletivo na casa noturna Rio Sampa, em Nova Iguaçu.

Na década de 80, Silvinho do Pandeiro também integrou a ala de compositores da Unidos da Viradouro. Venceu vários carnavais puxando o samba no tempo em que a escola vermelha e branco desfilava em Niterói. Na Portela, conquistou três vezes o Estandarte de Ouro, prêmio concedido pelo jornal O Globo, de Melhor Intérprete.

Em 1982, Neguinho da Beija-Flor, no disco "É Melhor Sorrir", pela gravadora Top Tape, interpretou "Um Grande Amor Se Acaba" (Silvinho da Portela, Xavier e Onofre do Catete).

Em 1983 conquistou o Estandarte de Ouro com o samba-enredo "A Ressurreição da Coroa, Reisado, Reino e Reinado" e que conseguiu o 3º lugar do Grupo 1 para a escola de samba.

Pouco antes de falecer, Silvinho da Portela participou do concurso de samba-enredo da Viradouro para o carnaval de 2001.

Silvinho da Portela faleceu vítima de um câncer na próstata, aos 66 anos, às vésperas do carnaval, em 08/02/2001, e foi sepultado no Cemitério de Inhaúma, no subúrbio do Rio de Janeiro. Ele deixou cinco filhos, 16 netos e quatro bisnetos.

Discografia

  • 1978 - Silvinho e Suas Cabrochas (LP)
  • 1973 - A Voz do Samba (LP)

Indicação: Miguel Sampaio

Paulo Monte

PAULO MONTE
(92 anos)
Ator, Apresentador, Dublador e Produtor

* (27/02/1921)
+ (13/02/2014)

Paulo Monte seguindo vocação artística dedicou-se ao canto. Começou sua carreira cantando, atuando então, nas rádios Mayrink Veiga, Cruzeiro do Sul e Educadora. Sua especialidade: músicas norte-americanas.

Logo após ingressou na orquestra de Carlos Machado participando dos shows dos antigos cassinos da Urca, Icaraí, Copacabana e Atlântico. Fez várias temporadas em Buenos Aires, tendo atuado na Rádio Belgrado.

Em 1945 viajou para os Estados Unidos, onde foi contratado pelo Copacabana Night Club de New York. Em seguida fez várias tournées com a orquestra dos Lecuona Cuban Boys, visitando 32 cidades norte-americanas. Desta feita divulgando a música popular brasileira.

Em 1946 cantando e apresentando shows, permaneceu durante oito meses nas cidades do México e Acapulco.

Em 1947 retornou aos Estados Unidos fixando-se na Califórnia, na cidade de Los Angeles. Ingressou na University Of Califórnia Letter And Arts (UCLA) fazendo um curso de arte dramática com a famosa atriz russa Maria Ouspenkaya. Completou o curso de fonética da língua inglesa na mesma universidade.

Integrou de 1956 a 1958 o elenco do Teatro Moinho de Ouro na TV Rio canal 13.

Em 1959 inaugurou a TV Continental, canal 9, na qualidade de ator, produtor, escritor e apresentador.

Em 1960 transferiu-se para a TV Tupi, canal 6, apresentando artistas internacionais como Les PaulMary Ford, Dorothy Dandridge, Julie  London e Sammy Davis Jr. Apresentou o programa "Qual é o Assunto?" e produziu e apresentou "Onde Está O Erro?".

Em 1961 foi eleito pelo O Globo, Radiolândia, Cinelândia e Rádio Globo, o melhor animador do ano, produzindo e apresentando nos canais 6 e 13 os seguintes programas: "A Grande Canastra Royal", "Sua Majestade o Cartaz" e "É Pra Cabeça".

Em 1962 apresentou na TV Rio, canal 13, o programa "Estampas Eucalol". Produziu e apresentou o programa "Cheque Mate Matinal".

Paulo Monte (Foto: Memória Globo)
Entre 1963 e 1964 produziu e apresentou na TV Excelsior de São Paulo o programa infantil "Brincando na Floresta". Na TV Excelsior do Rio de Janeiro, o programa "Bambino". Na TV Tupi, canal 6, apresentou os programas diurnos "Cássio Muniz" e "Ultralar".

Concomitantemente pertenceu ao quadro de funcionários da Itapetininga Propaganda - Departamento de Rádio e Televisão.

Em 1965 inaugurou a TV Globo, canal 4, sendo contratado  na qualidade de apresentador, ator e produtor.

Em 1967 viajou aos Estados Unidos para atualização e ampliação de conhecimentos dos meios de propaganda, na rádio e TV americana. Na TV Tupi apresentou, produziu e dirigiu os seguintes programas: "Programa Paulo Monte", "Notas e Notas", "O Contador de Estórias" e "Torneio Inter Colegial".

Em 1968 produziu e apresentou na TV Rio o programa "Toque Para Ganhar".

Em 1970 apresentou, produziu e dirigiu na TV Rio o programa "Cidade Em Ritmo". Nesse programa lançou o concurso "O Brasil é Assim", com a colaboração da assessoria especial de relações públicas da presidência da república no Estado da Guanabara e do jornal Última Hora.

Em janeiro de 1971 criou uma série de programas para a TV intitulado "Qual é o Problema?" focalizando problemas integrados ao interesse popular. "Qual é o Problema?" foi transmitido pela TV Rio, às sextas-feiras, no horário das 23:00 hs e alcançou ampla receptividade perante o público telespectador.

Em 1973 foi relações públicas da Riotur.

Em 1974 recebeu o diploma de Consultor Técnico de Turismo do Estado do Rio de Janeiro, outorgado pela Riotur, presidente Victor Pinheiro, e Flumitur, presidente Pedro Affonso Mibieli de Carvalho.

De 1983 a 1990 foi relações públicas da Linhas Aéreas Suíças (Swissair). Nesta empresa recebeu, em 1987, em Zurique, o prêmio de melhor relações públicas do mundo, entre os 35 relações públicas da Swissair espalhados pelo mundo. Vale destacar, também, que foi a primeira vez em que a empresa conferiu esse prêmio.

De 1984 a 1986 foi assessor chefe da Assessoria de Comunicação da Riotur e presidente da Associação Brasileira de Jornalistas de Turismo do Estado do Rio de Janeiro, reeleito para 1986/1988.

Paulo Monte e Virgínia Lane (Foto: Memória Globo)
Jubileu de Prata

Em 1971 lançou, na antiga TV Rio, o programa "Show de Turismo", divulgando o que há de mais significativo no turismo nacional e internacional.

Em janeiro de 1978, "Show de Turismo" estreou na TV Bandeirantes, canal 7, onde no dia 08/07/1996 comemorou o recorde de 25 anos de apresentações ininterruptas. "Show de Turismo", programa pioneiro e único no gênero a atingir essa longevidade na televisão brasileira.

As últimas apresentações do "Show de Turismo" foram na TV Bandeirantes do Rio de Janeiro. A atração contava com a participação das jornalistas Sônia Monte, sua esposa, e Adriana Azevedo.


Estados Unidos


Em Hollywood participou dos seguintes filmes:
  • Road to Marroco, Road to Rio (Paramount)
  • The Indian (Republic Pictures)
  • Thrill Of Brasil (Columbia Pictures)
  • Song Of The Thin Man (Metro Goldwynn Mayer)
  • We Were Strangers (Columbia Pictures)

Contratos com a Columbia Pictures, Paramount e Metro-Goldwyn-Mayer. Estágio na Columbia Broadcasting System (CBS) rádio e televisão.

Teatro:
  • Diamond Lil (Broadway)

Brasil

Cinema:
  • Sai de Baixo (Herbert Richers)
  • Gigante de Pedra (São Paulo)

Teatro (Peças em que atuou em papéis principais):
  • Helena Fechou a Porta
  • A Morte Do Caixeiro Viajante
  • Papai Lebonard
  • O Diálogo Das Carmelitas
  • Aconteceu Naquela Noite
  • É Preciso Viver
  • Sabrina
  • A Rainha Do Ferro Velho
  • Timbirá
  • Um Deus Dormiu Lá Em Casa
  • Duelo De Amor
  • Brasileiros Em Nova York

Rádio (Produção, Script e Locução):
  • Assim é Hollywood (Rádio Jornal do Brasil)
  • Rodando Com a Música (Rádio Eldorado)
  • Quem Manda é o Cliente (Rádio Eldorado)
  • Sinceramente Seu (Rádio Eldorado)

Televisão Programas:
  • Manoel de Nóbrega
  • Tele Teatro Continental
  • O Câmera Se Diverte

Programas (Como apresentador):
  • Festa Em Casa
  • Os Maiores Espetáculos Do Globo
  • Terra De Nossa Gente
  • Entrevistas Políticas
  • Bairro Feliz

Novelas (Como ator):
  • Um Rosto De Mulher
  • Amargo Verão


Foi criador do programa "Tele-cace", obra beneficente de Dona Stela Marinho.

Também trabalhou durante vários anos dublando filmes americanos para a Cine Castro.

Fonte: Cine e Magia, Band.com.br e Sônia Monte Assessoria, Produções, Cerimonial, Jornalismo e Turismo
Indicação: Miguel Sampaio

Tia Neiva

NEIVA CHAVES ZELAYA
(60 anos)
Médium Clarividente

* Propriá, SE (30/10/1925)
+ Brasília, DF (15/11/1985)

Neiva Chaves Zelaya, mais conhecida por Tia Neiva, foi uma médium clarividente brasileira que fundou o Vale do Amanhecer, doutrina espiritualista que agrega elementos de várias religiões.

Neiva era filha de Antônio e Dona Sinharinha, e tinha três irmãos: Nivaldo, José Luís e Linda.

Casou-se, aos 18 anos, com Raul Zelaya Alonso, então secretário do engenheiro Bernardo Sayão e com ele teve 4 filhos: Gilberto, Carmem Lúcia, Raul Oscar e Vera Lúcia.

Em 1949, com 22 anos e quatro filhos, Neiva ficou viúva e teve que buscar seu sustento. Começou sua vida profissional em Ceres, GO, onde montou o Foto Neiva, tirando retratos e vendendo material fotográfico, mas teve que desistir, por recomendação médica. Com sua forte personalidade, ela não se deixou abater. Trabalhou como costureira, agricultora e, por fim, comprou um caminhão e tirou habilitação profissional, a primeira concedida a uma mulher no Brasil, e começou a transportar cargas. Com seu caminhão e seus filhos a tiracolo, percorreu diversos estados brasileiros, atuando como fretista ou mascate, até fixar-se em Goiânia em 1957.


Em Goiânia passou a dirigir ônibus, porém mantendo seus caminhões em serviço. Nesse mesmo ano, com a oportunidade da construção da nova capital Brasília, Neiva mudou-se com a família para a Cidade Livre, atual Núcleo Bandeirante, ponto inicial das obras da nova cidade, trabalhando com  caminhões na NOVACAP.

Estava com 32 anos quando sua mediunidade se abriu, revelando-se sua clarividência. Durante mais um tempo, Neiva via e ouvia os espíritos e podia prever o futuro e revelar o passado das pessoas, o que a deixava desesperada por ter tido uma formação familiar rigorosamente católica. Sua trajetória, então, passou por penosa adaptação para aceitação de sua missão.

Em 1958 deixou a Cidade Livre, onde começara sua missão espiritualista, e junto com seus filhos e mais cinco famílias espiritualistas, fundou, em 08/11/1959, a União Espiritualista Seta Branca (UESB), na Serra do Ouro, próximo a Alexânia, GO.

Em um rústico templo iniciático, pacientes eram atendidos pelos médiuns que ali residiam, em construções de madeira e palha. Tia Neiva mantinha ali, também, um hospital e um orfanato com cerca de oitenta crianças. Plantavam, faziam farinha para vender, pegavam fretes, e tudo era válido para ajudar na manutenção do grupo.

Em 09/11/1959, Tia Neiva ingressou na Alta Magia de Nosso Senhor Jesus Cristo.


Em 1964 mudou-se para Taguatinga, DF, onde funcionou a Ordem Espiritualista Cristã, e sendo Tia Neiva mais uma vez internada por causa da tuberculose.

Após trabalhosa busca para encontrar o local certo para se fixar, Tia Neiva e seu grupo chegaram a Planaltina, DF, em 09/11/1969, onde fundou o atual Vale do Amanhecer.

Hoje, o Vale do Amanhecer conta com cerca de 100 mil médiuns, atuantes em cerca de 650 templos no Brasil e em outros países.

Pela Doutrina, Tia Neiva implantou a importante conduta doutrinária em seus médiuns, capacitando-os ao atendimento sob a ação das forças iniciáticas, sem precisar da manifestação dos pacientes, que não precisam revelar quem são, o que fazem ou de onde vêm.

Entre os feitos de Tia Neiva destaca-se o episódio que envolveu o deputado federal Gustavo Faria, do Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB) carioca. Em meados de 1978, passando por dificuldades financeiras, Gustavo Faria procurou a médium. Ela o tranquilizou, garantindo que a crise passaria. No Natal do mesmo ano, Gustavo Faria acertou na loteria. Tia Neiva também acertou sua última previsão política. Na reta final da disputa entre o falecido presidente Tancredo Neves e o deputado Paulo Maluf, ela vaticinou que nenhum dos dois chegaria à Presidência da República.

Tia Neiva morreu no dia 15/11/1985, em Brasília, aos 60 anos, vítima de um enfisema pulmonar.


Luciano do Valle

LUCIANO DO VALLE QUEIRÓS
(66 anos)
Locutor Esportivo, Apresentador de TV e Empresário

* Campinas, SP (04/07/1947)
+ Uberlândia, MG (19/04/2014)

Luciano do Valle Queirós foi um locutor esportivo, apresentador de televisão e empresário brasileiro.

Narrou várias Copas do Mundo e trabalhou em várias emissoras de rádio e televisão, como Rede Globo (1971-1982), Rede Record (1982-1983, 2003-2006) e Rede Bandeirantes (1983-2003, 2006-2014). Foi locutor de Fórmula 1 e transmitiu a fase áurea de Emerson Fittipaldi nessa categoria, que o transformou em um ídolo do esporte brasileiro.

Depois que saiu da Rede Globo no início dos anos 80, mais precisamente após à Copa de 1982, desenvolveu paralelamente uma carreira de empresário e promotor de esportes. Seu primeiro grande sucesso nessa carreira foi a promoção da seleção brasileira de voleibol, quando transmitiu um campeonato em São Paulo pela Rede Record. Seu trabalho tornou ídolos nacionais, jogadores como Bernard, William, Montanaro e Renan, que depois ficaram conhecidos como a "Geração de Prata" do vôlei brasileiro. Depois promoveria a carreira de Maguila, famoso lutador de boxe nacional.

Ao passar para a Bandeirantes, foi responsável pela ênfase da emissora nas transmissões esportivas (seu slogan passou a ser "Canal do Esporte"), exibindo aos domingos o programa de longa duração "Show do Esporte", que apresentava todo os tipos de evento esportivo, desde jogos de sinuca, boxe, automobilismo e esportes olímpicos.

Apresentou ao Brasil a Fórmula Indy e a Seleção Brasileira Masters de Futebol, que contava com seus grandes amigos Rivelino, Edu e Dario.

Durante o verão brasileiro, transmitia várias modalidades de esportes de praia, em programas especiais de verão.

Atualmente reduziu suas atividades empresariais, continuando como narrador e transmitindo o Campeonato Brasileiro pela Band, e as provas da Indy Racing League (IRL). Apresentou o programa "Apito Final", pela TV Bandeirantes, durante a Copa do Mundo de 2006, e transmitiu os jogos do Brasil na mesma copa pelo canal de televisão a cabo chamado Band Sports. Também apresentava com sua esposa Flávia do Valle, o programa "Tudo Em Dia", programa local exibidos aos domingos, na Band RS.


Morte

Luciano do Valle morreu na tarde de sábado, 19/04/2014, em Uberlândia, aos 70 anos. Ele foi internado em um hospital particular da cidade mineira, na tarde de 19/04/2014, após passar mal durante voo até a cidade - onde faria a transmissão do jogo entre Atlético-MG e Corinthians, no domingo, pelo Campeonato Brasileiro.

O jornalista, que viajava de São Paulo, foi socorrido ainda no aeroporto da cidade mineira pelo Corpo de Bombeiros. A morte do narrador foi confirmada pela TV Bandeirantes, emissora na qual trabalhava. O último jogo transmitido por ele foi a final do Campeonato Paulista - o título do Ituano sobre o Santos nos pênaltis no domingo, dia 13/04/2014.

De acordo com informações do hospital, o narrador deu entrada direto na Unidade de Terapia Intensiva (UTI). A causa da morte ainda não foi confirmada, e o hospital não passou mais detalhes sobre o ocorrido. O médico que o atendeu no voo relatou à Bandeirantes que a passagem de Luciano do Valle foi sem sofrimento, uma "morte súbita". Infecção na aorta, embolia pulmonar e infarto são algumas hipóteses levantadas pelo médico, mas ainda é cedo para determinar a causa da morte.

O jornalista da TV Globo Marco Aurelio Souza estava no mesmo voo do narrador e contou o que se passou no avião.

"Ele não se sentiu bem durante o voo. Não teve nenhum rebuliço no avião. Ele só comunicou à comissária que não se sentia bem e pediu que, quando o avião descesse, chamassem um médico. Estava na primeira fileira. Todos os passageiros saíram, mas ele permaneceu. Quando eu saía, o comandante já tinha saído da cabine e conversava com ele indicando que tinha chamado um médico. A gente ficaria no mesmo hotel. Quem me relatava as coisas era o Fernando Fernandes, da Band. O Luciano já foi muito mal para o hospital. Meia hora depois, o Fernando me ligou para dizer que ele tinha morrido de um problema do coração - relatou o jornalista."

O repórter da Bandeirantes Fernando Fernandes também estava no voo. Ele relatou, em entrevista para a emissora, que Luciano do Valle já não se sentia bem em São Paulo, antes do embarque.

"Tínhamos o voo às 13h30m de São Paulo para Uberlândia. Ele disse que estava com dor nas costas. No meio do voo, fui lá para a frente e vi que ele não estava bem, que estava suando - comentou Fernandes."

Indicação: Fadinha Veras

Dino Franco

OSVALDO FRANCO
(77 anos)
Cantor e Compositor

Paraguaçu Paulista, SP (08/09/1936)
+ Rancharia, SP (04/04/2014)

Sua paixão pela música começou ao ouvir, na infância, os grandes ídolos da música sertaneja Tonico & Tinoco, Palmeira & Luisinho, Torres & Florêncio, entre outros. Já aos 12 anos trocou a enxada pela carreira artística, abandonando de vez a lavoura, seu ganha-pão.

Em 1949, começou a cantar na Rádio Marconi em Paraguaçu Paulista, SP. Apresentava um repertório constituído essencialmente pelas músicas de seus ídolos. Exibia-se ainda em circos e festivais de música na região.

Em 1956, mudou-se para São Paulo e logo em seguida, usando o nome artístico de Pirassununga, passou a atuar com Tibagi, que desfizera sua dupla com Zé Marciano, e que depois formaria famosa dupla com Miltinho, a quem conhecera no interior. Surgiu então a dupla Tibagi & Pirassununga, que passou a apresentar-se na então Rádio Nacional de São Paulo em programa diário de 15 minutos, que ia ao ar às 19:00 hs. Na mesma época, a dupla foi contratada pela RCA Victor e lançou o xote "Peão de Minas" (Zé Claudino e Anacleto Rosas), e a rancheira "Falsos Carinhos" (Pirassununga e Benedito Seviero).

A dupla atuou durante três anos com bastante sucesso, desfazendo-se em fins dos anos 1950.

Em 1960, adotou o nome artístico de Junqueira e formou dupla com Juquinha. A dupla gravou 11 discos em 78 rotações, interpretando, entre outras, o xote "Mineiro Não Perde Trem" e a canção rancheira "Cela Fria", as duas de Silveira e Junqueira, a cana-verde "Moça Linda" (Lourival dos Santos e Piraci), e o tango "Traidor" (Piraci e Jeca Mineiro). A dupla teve um programa na Rádio Tupi paulista e durou cerca de três anos.

Ao longo dos anos 60, formou duplas com outros 15 parceiros, entre os quais Biá, Belmonte e Piratininga. Atuou também durante algum tempo sozinho quando gravou músicas mexicanas, gaúchas e folclóricas. Produziu e apresentou peças de teatro com Liu & Leu, Abel & Caim e Zico & Zeca.

Em 1961, com pseudônimo de Pirassununga, em parceria com Piratininga (Nelson Martins), gravou "Dança da Chula" (Arlindo Pinto e Zé Cupido), e "Tafuleira" (Ado Benatti e Marinho).

Em 1962, a dupla Pirassununga & Piratininga gravou outro 78 rpm para a CBS com "Aventureira" (Dino Franco) e "Capricho do Destino" (Dino Franco e Bráz Hernández).

Em 1963, a mesma dupla lançou dois discos, incluindo "Cuidado Moço" (Arlindo Pinto e Zé Cupido), e "Somos Alguém" (Pirassununga e Piratininga).

Em 1964, a dupla se desfez com a morte de Piratininga. Logo depois, formou dupla com Belmonte, da dupla Belmonte & Amaraí. A nova dupla gravou pela Chantecler, "A Fronha" (Belmonte e Anacleto Rosas Júnior), e "Coração de Fera", de autoria da dupla.

Em 1965, mudou seu pseudônimo para Junqueira, formando dupla com José Duarte da Costa. Junqueira & Juquinha gravaram "Retrato do Boi Soberano", de autoria da própria dupla e "Mineiro Não Perde o Trem" (Juquinha e Silveira).

Em 1966, foi campeão do festival de música sertaneja da Rádio Nacional. Na época morava em Goiás e apresentou na cidade goiana de Anicuns a composição "Natureza", defendida pela dupla Abel & Caim. Venceu outro festival com a música "Casa Pobre", defendida pela dupla Matogrosso & Mathias.

Em 1968, assumiu o nome artístico de Dino Franco e gravou sozinho o LP "Rincão Gaúcho", título de uma das faixas, de sua autoria com Zico.

Dino Franco e Mouraí
Entre 1971 e 1972, excursionou por diversas cidades, compondo nesse período, um de seus maiores sucessos, "O Sertanejo é Um Forte" (Dino Franco e Ari Guardião). Em 1972, foi contratado como produtor e diretor sertanejo pela gravadora Chantecler. Em seguida, formou dupla com Mouraí, sendo os pioneiros em regravações de grandes sucessos como "Sertaneja", "A Volta do Caboclo", entre outros. Fizeram shows por todo o Brasil, interpretando canções como "Minha Mensagem", uma moda ecológica de sua autoria e Nhô Chico, "Família do Interior" e outras. A dupla gravou cerca de 10 LPs, cultivando o estilo raiz, sem desprezar guarânias, boleros, polcas e querumanas.

Em 1980, compôs com José Rico, "Filho de Ninguém" e "Berço de Deus", gravadas na Chantecler pela dupla Milionário & José Rico, músicas que fizeram parte da trilha sonora do filme "Estrada da Vida".

Em 1984, teve a música "Pousada de Boiadeiro" (Dino Franco e Tião Carreiro) gravada no LP "Modas de Viola Classe A", da dupla Tião Carreiro & Pardinho.

Em 1987, teve as músicas "Velho Pouso de Boiada" (Dino Franco e Indio Vago) e "Amor e Saudade" (Dino Franco e José Milton Faleiros) gravadas por Sérgio Reis.

Nos anos 90, formou dupla com Mouraí com quem gravou cerca de 10 discos. Em 1998, teve a música "Amargurado" (Dino FrancoTião Carreiro) relançada no disco "Sucessos de Ouro", da dupla Tião Carreiro & Pardinho.

Teve diversas composições gravadas com sucesso pela dupla Liu & Leu, entre as quais, "Meu Ranchinho" (Dino Franco e Sebastião Victor), "Derradeira Morada", "Mágoa", "Rei da Capa", "Ingrata", "Retrato do Boi Soberano", "Um Pouco de Minha Vida" e "Paineira Velha", esta última, em parceria com Juquinha. Teve ainda sucessos gravados pela dupla Lourenço & Lourival como "A sementinha" (Dino Franco e Itapuã), "Minha Infância", "O Preço da Mentira" (Dino Franco e Tuta) e "As Três Namoradas" (Dino Franco e José Fortuna).

Em 2000, teve a música "Cheiro de Relva" (Dino Franco e José Fortuna) gravada por Daniel no CD "Meu Reino Encantado I".

Em 2004, compôs a música "Fronteira" especialmente para o CD de lançamento da dupla Denis & Fabiano.

Em 2005, para comemorar os 50 anos de carreira gravou um CD pela gravadora Atração que contou com a participação de diversos artistas.

Possui ainda cerca de 500 letras de músicas inéditas.

Em 2011, teve a sua música, "Amargurado" (Dino Franco e Tião Carreiro), regravada pela cantora e compositora Paula Fernandes, no DVD "Paula Fernandes Ao Vivo", lançado pela Universal Music. O álbum ultrapassou a marca de 700 mil cópias vendidas.


Morte

Dino Franco foi encontrado morto aos 77 anos por sua irmã em seu quarto na sexta-feira, 04/04/2014, em Rancharia, interior de São Paulo. De acordo com a delegacia da cidade, ele chegou a tomar café da manhã, mas voltou a dormir antes da morte.

Dino Franco faleceu no dia 04/04/2014, vítima de cirrose hepática. O velório ocorreu na Câmara Municipal de Rancharia. O sepultamento está ocorreu às 09:00 hs de sábado, 05/04/2014, no Cemitério Municipal de Rancharia.


Pinto Martins

EUCLIDES PINTO MARTINS
(31 anos)
Aviador

* Camocim, CE (15/04/1892)
+ Rio de Janeiro, RJ (12/04/1924)

Euclides Pinto Martins foi um aviador brasileiro. Ainda jovem e em fins de 1922 foi escolhido como parte da tripulação do avião Dornier DO-X fretado pelo jornal The New York World, que patrocinava a tentativa de uma viagem aérea pioneira entre as Américas do Norte e do Sul. Nasceu em Camocim, CE, no dia 15/04/1892. Entretanto, só foi batizado três meses depois, em 28/07/1892, na Igreja Matriz de  Macau, RN. O fato ocorreu porque seu pai, Antônio Pinto Martins, natural de Mossoró, RN, foi convidado para representar a Companhia de Salinas Mossoró Assú, em Macau. Por isso, Pinto Martins foi batizado na Matriz de Macau e registrado no Cartório Civil daquela cidade.

Sua mãe chamava-se Maria Araújo do Carmo Martins e dedicou-lhe muito amor e carinho. Pinto Martins era um menino  bem criado e de inteligência incomum. Aos cinco anos já começava a estudar na escola pública local. Três anos depois, em agosto de 1900,  seus pais se mudaram para Natal  e o jovem teve que continuar seus estudos primários no Colégio Americano, conhecido como Colégio das Capas Verdes.

Em 1903, já com onze anos, se transferiu para o Colégio Atheneu Norte Rio Grandense e, paralelamente, ingressou num curso noturno de náutica. Observem aí o seu gosto pelas viagens e aventuras.

Em 1907 embarcou no navio Maranhão saindo no ano seguinte, para ser segundo piloto do navio Pará. Infelizmente, um acidente de bordo interrompeu esta rápida carreira naval e, Pinto Martins, com problemas na carótida, desembarcou em Natal sendo aconselhado pelos médicos a abandonar a carreira.

No início de 1909, seu pai o mandou para os Estados Unidos com US$ 300,00 e uma recomendação para que uma empresa de amigos lhe repassasse uma certa quantia mensal para sua manutenção. Pinto Martins não perdeu tempo e matriculou-se no Drexell Institute na Filadélfia onde, três anos depois se formou em Engenharia Mecânica.

Além de estudar, Pinto Martins trabalhava como estagiário na Baldwin Locomotive, uma fábrica de vagões. Ali, o jovem  aprendeu a falar inglês rapidamente e se inseriu na sociedade local, conquistou uma namorada e se casou com Gertrudes Mc Mullan.

Pinto Martins regressou ao Brasil logo após a formatura em 1911. Desembarcou  do navio Booth Line, em Fortaleza. Convidado por seu pai, viajou para Natal, onde passou a trabalhar como engenheiro na Inspetoria Federal de Obras Contra a Seca e na Estrada de Ferro.

Como seu pai era maçom, Pinto Martins acompanhou-o e ingressou na loja maçônica "21 de Março".

Em Natal,  nasceu em 1914 sua primeira filha, Ceres, que viria a morrer, tragicamente, aos 31 anos de idade num acidente de avião em Porto Rico, com seu marido.

A vida de Pinto Martins foi marcada por constantes viagens e mudanças. No final da I Guerra Mundial, 1917, ele se mudou para Recife, PE, onde viveu por 2 anos. Ali, ingressou na Loja "Segredo e Amor"  (Loja Maçônica). A maçonaria foi outro fato marcante na vida de Pinto Martins.

Em 1918, faleceu sua jovem esposa e Pinto Martins, muito sentido,  retornou aos Estados Unidos. Apesar da dor da perda, acalentava no peito o desejo de uma grande aventura entre o Brasil e os Estados Unidos.

Procurou parcerias e acabou se associando a  Ladislau do Rego, que juntos, compraram um navio com  a idéia de criar, no Brasil, uma companhia de navegação de cabotagem. Lamentavelmente, o negócio não deu certo, pois o navio afundou.

Pinto Martins permaneceu nos Estados Unidos enquanto seu sócio neste negócio fracassado, voltou ao Brasil, terminando assim sua primeira tentativa de fazer algo grandioso.

Pinto Martins não esmoreceu, casou-se novamente com a americana Adelaide Sulivan. Adelaide era advogada e doze anos mais velha que seu marido, tendo lhe dado em 1920, uma filha: Adelaide Lillian.

Sampaio Correia II
O Avião

Euclides Pinto Martins não se conformou apenas com a navegação marítima. Colocou seu foco na aviação que se desenvolvia de forma espetacular por causa da guerra. Como parte desta idéia, entrou num curso de aviação e conseguiu o brevet de piloto em 1921. Com sua entrada no meio aeronáutico, conheceu  um veterano na área, Walter Hilton, instrutor de vôo na Flórida.

Com este novo amigo e a afinidade de idéias, Pinto Martins resolveu confidenciar a respeito de um velho sonho: Atravessar o Atlântico numa viagem de avião New York - Rio de Janeiro, desbravando assim essa rota aérea. A idéia encontrou eco na mente de seu colega e, juntos, começaram a trabalhar. Lutaram com força de vontade e, finalmente, conseguiram um banqueiro, Andrew Smith Jr., que asseguraria verbas para o atrevido projeto.

Assim, contrataram da Fábrica Curtis, um hidroavião biplano com 28 metros de envergadura e dois motores Liberty de 400 hp, cada. A máquina voadora pesava 8000 kg. Depois do avião pronto decidiram batizá-lo de Sampaio Corrêa em homenagem  ao senador e presidente do Aeroclube do Rio de Janeiro.

A tripulação era composta pelo piloto Walter Hinton, co-piloto Pinto Martins, mecânico de bordo Jonh Edward Wilshusen, da Fábrica Curtiss, e para retratar a travessia George Thomas Bye, jornalista do New York Word e o cinegrafista John Thomas Baltzel da Pathé News.


A Viagem

O hidroavião com sua equipe deveria decolar no dia 16/08/1922, mas ao colocá-lo no Rio Hudson, houve uma pequena avaria na asa esquerda, adiando então sua partida. Por fim, no dia 17/08/1922, decolou do estuário do Hudson o majestoso Sampaio Corrêa, aplaudidos por milhares de pessoas.

A meteorologia que iniciava seus estudos, previa riscos de tempestades mas a equipe, afoita, não se importou e decolou  sumindo no horizonte, assistidos das margens do Rio Hudson entre as ilhas de Manhatam e New Jersey. Logo abaixo o depoimento da Revista Semana do Rio de Janeiro, sobre a decolagem:

"A Doca do North River, diante da Rua 86, parecia mais um formigueiro humano. Mais de um milhão de pessoas havia se aglomerado de encontro ao cais com os olhos fixos no grande pássaro mecânico. O hidroavião Sampaio Corrêa, pintado de novo, ostentava nos flancos as bandeiras consteladas das duas grandes repúblicas irmãs. Às 15:00 horas contadas uma por uma nos relógios da cidade, os possantes motores começaram a roncar soturnamente. Com quatro  ou cinco manobras hábeis o aparelho movia-se, evoluía entre embarcações apinhadas de gente, procurando a parte mais ampla e livre do rio. Houve então um prodígio. Erguendo-se daquele milhão de almas em desatino, dez talvez cem milhões de vivas atroaram os ares. Concentraram-se neles, durante largo tempo, todos  os rumores da metrópole tumultuosa e fervilhante. New York que palpitou naquele brado, partido daquelas bocas de todas as idades, de todos os feitios, de todas as condições. Dir-se-ia que era a boca da cidade que gritava".    

A verdade é que, apesar de saberem estar na época de grandes temporais, nossos afoitos aventureiros, se atreveram a iniciar a viagem. Neste mesmo dia, 17/08/1922,  o avião foi obrigado a pousar em Nanten, por causa de um forte temporal. Pernoitaram ali, e decolaram de manhã com destino a Southport,  onde chegaram dia 19/08/1922. Prosseguiram viagem e dia 20/08/1922 chegaram em Charlston, sem dificuldades. Reiniciaram a viagem e tiveram que pousar em West Palm Beach devido a outro temporal. Partiram dia 21/08/1922 às 11:00 horas e amerissaram em Nassau, onde pernoitaram, seguindo de manhã com destino a Porto Príncipe no Haiti. Neste trecho foram surpreendidos por forte borrasca, perderam altitude e caíram no mar por volta das 20:00 hs, ao leste da ilha de Cuba, além do Cabo Maisi.

As coisas nesta noite ficaram pretas. Eles estavam em pleno Atlântico, escuridão total, riscos de tubarões e afogamento. Felizmente, não ficaram feridos na queda. O Sampaio Corrêa ainda flutuava e eles localizaram as pistolas sinalizadoras, encontradas com dificuldades no escuro. Assim os fogos de artifícios  iluminaram os céus do oceano, naquela noite, num desesperado pedido de socorro. Lamentavelmente, estes  sinais não foram vistos...

A situação tendia a complicar, pois no avião entrava água por buracos feito pela colisão com o mar. Foi neste clima de preocupação, que Pinto Martins com seus bons conhecimentos de náutica, lembrou-se que tinham uma lanterna grande, a qual achou numa parte do avião, ainda seca. O jovem intrépido subiu no nariz da nave naufragando e passou a  fazer sinais luminosos de socorro. Não demorou muito, pois perto dali, a Canhoneira da Marinha Americana Denver, viu os sinais luminosos e apitou, seguindo em socorro dos náufragos. Foram feitas tentativas, em vão, de rebocar o Sampaio Corrêa que acabou indo para o fundo do mar sob os olhares tristes dos aventureiros.

O próprio Pinto Martins deu a seguinte declaração ao Jornal do Brasil:

"... Sendo piores possíveis as condições atmosféricas, os aparelhos de altitude perderam a precisão. Reinava forte cerração e quando acreditávamos estar muito acima do nível das águas, nela batemos com violência. Com a força do choque o aparelho furou e foi invadido pela água..."

Avião perdido, os náufragos foram levados para a Base Naval de Guantânamo, em Cuba. Pinto Martins e seus amigos não enfraqueceram, continuaram com a idéia de provar que uma rota aérea ligando as Américas (norte e sul) era viável. Assim, acabaram conseguindo que o jornal The New York Word lhes dessem um outro avião para continuarem a viagem. Viajaram para Flórida, Escola Naval de Pensacola, onde outro avião adquirido pelo jornal os esperava. Era um hidroavião com seis anos de uso, que pertenceu a Base. Graças a esta doação, em 04/09/1922, em São Petersburgo,  na Flórida, receberam a nave e batizaram-na de Sampaio Corrêa II.

Nossos aventureiros continuavam afoitos e logo decolaram da Flórida, pousando em Porto Príncipe no Haiti em 07/09/1922. Ali, com problemas  no sistema de  refrigeração do avião ficaram 30 dias parados, até que peças de reposição chegassem de navio vindo dos Estados Unidos. Em 07/10/1922 decolam novamente com destino a São Domingos, República Dominicana, onde pernoitaram, seguindo para Porto Rico.

Continuaram a viagem chegando em Guadalupe e partiram para Martinica onde pousaram em 12/10/1922. Avião no ar novamente, com muitas dificuldades causadas por chuvas, chegaram em Port Spain, Trindad e Tobago, no dia 15/10/1922. Ali, perderam mais 30 dias com troca de hélices e outros consertos.

Em 21/11/1922, decolam para Georgetown na Guiana Inglesa, dali para Paramaribo, Guiana Holandesa, Caiena , Guiana Francesa e, finalmente em 01/12/1922, pousaram no Brasil, no Estado do Pará, no Rio Cunani, ao norte da foz do Rio Amazonas.

O episódio foi posteriormente narrado pelo próprio Pinto Martins a um repórter do jornal O Estado do Pará:

"Quando levantamos vôo de Caiena encontramos forte temporal pela proa. Rompemos o mau tempo com dificuldade, mas tivemos de procurar abrigo. Tomei a direção do aparelho (ele era co-piloto) e depois de reconhecer o Rio Cunani aí descemos às 3:30 hs. O tempo, lá fora, era impetuoso e ameaçador. Não nos foi possível prosseguir e passamos a noite matando mosquitos e com bastante fome, pois não contávamos interromper a rota…"

Os rapazes ávidos por aventuras, e estas não faltavam, prosseguiram para a Ilha de Maracá, Belém, e Bragança onde obrigados por um temporal, pousaram no Rio Caeté. Passaram três dias em Bragança seguindo viagem para São Luis, MA.

Às 12:00 hs do dia 14/12/1922, o Sampaio Correia II desceu na Baia de São Marcos, desembarcando na ilha de São Luis, no Maranhão, onde ficaram até dia 19/12/1922.

Finalmente, quatro horas e meia após a decolagem, dia 19/12/1922, pousaram em Camocim, terra natal de Pinto Martins. Depois das muitas já conhecidas homenagens, partiram no dia seguinte para Aracati, sem pousar em Fortaleza por dificuldades de amerissagem nas águas agitadas da enseada do Mucuripe.

Pernoitaram em Aracati e voaram para Natal onde dormiram um sono reparador. Logo bem cedinho, decolaram em direção ao sul. Mal viajaram 50 milhas quando o motor de bombordo apresentou um problema. Estavam sobrevoando ainda o território Potiguar, perto de Conguaretama, Bahia Formosa, e uma grave pane no motor esquerdo  os forçou a amerissar na citada Baía. Analisado o motor descobriram que algumas engrenagens estavam irremediavelmente danificadas e tinham que ser substituídas. Só conseguiram o conserto das peças em Recife, PE. Pinto Martins, que havia viajado para resolver o problema, retornou dias depois com as peças para reparar o motor.

Foi com muita dificuldades que decolaram de Bahia Formosa, rumo a Recife. Nova pane os forçou descer em Cabedelo, sendo que desta vez a coisa era bem pior. A viagem quase terminou por ali, não fosse o Comandante da Aviação Naval, Capitão de Mar e Guerra, Protógenes Guimarães que, vendo a situação desesperadora dos viajantes com o motor irrecuperavelmente danificado, doou-lhes um novo. Esta simpática doação possibilitou a continuação da viagem.

O futuro mostraria que este Comandante teria pela frente uma bela carreira e chegaria a ser Ministro da Marinha.

Trocado o malfadado motor, eles decolaram de Cabedelo e pousaram no Recife. Ali, como em todos os lugares que pararam, foram muito bem recebidos, com festas, visita ao Governador, enfim, todas as honrarias de heróis. Pinto Martins, em Recife, teve a alegria de abraçar seu pai e suas duas irmãs, Abgail e Carmen. Daí para frente, a viagem seria tranquila pois estavam no nordeste e a possibilidade de mal tempo era mínima.

Ficaram em Recife por 3 dias e seguiram viagem às 11:00 hs rumo a Alagoas, pousando em Maceió onde permaneceram até o dia seguinte. Dali até Salvador, após as festas costumeiras, foram apenas 3:50 hs. Na capital baiana, as festas e homenagens foram muitas. Autoridades diversas, inclusive o Cônsul Americano que prestigiou as cerimônias de saudações aos conquistadores da travessia.

Partiram no fim de semana, 04/02/1923, às 12:55 pousando em Porto Seguro às 16:30 hs. Após reabastecer o avião e tendo tido uma noite tranquila, partiram às 8:50 hs para Vitória no Espírito Santo. Eram 12:12 hs quando tiveram inícios as festividades de  recepção aos viajantes.

Walter Hilton e Euclides Pinto Martins
A Chegada

Faltava pouco para a chegada ao Rio de Janeiro e era necessário programar pois, uma esquadrilha da Aviação Naval, planejava escolta-los ao local da chegada. Autoridades estariam presentes, afinal seria a grande conquista de uma rota que viria a ser explorada, no porvir, por grandes empresas da aviação mundial.

Partiram, ansiosos, às 12:30 hs, com destino a Cabo Frio e depois ao Rio de Janeiro. Amerissaram em Cabo Frio às 15:15 hs em 07/02/1923 de fevereiro onde pernoitaram.

Às 10:35 hs decolaram voando sobre Araruama, Saquarema, Maricá e demais localidades costeiras fluminenses. Finalmente, às 11:32 hs do dia 08/02/1923, o avião é avistado sobrevoando a  Baía da Guanabara.

Ao pousar foram recebidos na lancha Independência do Ministério da Marinha onde o primeiro a ser abraçado pelo Senador Sampaio Correia foi Pinto Martins seguido por Hilton, o piloto, George Thomas, o jornalista e por fim o cinegrafista, John Thomas que, afinal, filmava o evento.
  
Vários dias de festas e glórias  aconteceram no Rio de Janeiro.

Viajou à Europa, voltou ao Rio de Janeiro e iniciou negociações para explorar petróleo.


Morte

Apesar de tantas glórias, Euclides Pinto Martins teve muitas dificuldades consequentes de suas aventuras. Dívidas adquiridas precisavam ser pagas. Após o "Raid", a fama e a glória, ele sentia o peso de ser um homem comum e com pouco dinheiro. Sua mulher se recusava a morar no Brasil e entrou com a ação e divórcio. Estava sendo pressionado para pagar o dinheiro emprestado para financiar o evento, U$19.000. Foi neste clima que, tristemente, encontraram  Pinto Martins  morto em seu quarto com um tiro na cabeça vitimado talvez por uma crise de depressão. Era o dia 12/04/1924, pouco mais de um ano depois de tão glorioso feito.

Nada mais se sabe a respeito de sua morte dada oficialmente como suicídio. Em profundo respeito a este grande conquistador nos limitaremos a reproduzir as palavras de seu pai sobre seu desaparecimento:

"Está provado que ele chegou a este estado de desespero levado por privações muito cruéis... Sua morte foi conseqüência da dignidade e altivez de seu caráter..."

Até hoje o episódio não está bem explicado, mas Monteiro Lobato, em seu livro "Escândalo do Petróleo e do Ferro", sustenta que Pinto Martins foi vítima dos poderosos lobbies interessados em atrasar o desenvolvimento brasileiro.

Em 1952, atendendo as aspirações dos seus conterrâneos, o presidente Café Filho sancionou lei no Congresso Nacional oficializando o nome de Pinto Martins para o aeroporto da capital cearense, que atualmente chama-se Aeroporto Internacional Pinto Martins. Justiça, mas ainda pequena, para o homem dinâmico que na década de 20 soube antever a importância econômica da ligação aérea regular entre os Estados Unidos e o Brasil. E que teve coragem de investir na exploração de petróleo, no Brasil, quando isso era por todos apontado como uma loucura. Sobre a relação de Pinto Martins com a exploração do petróleo, há algumas informações adicionais no livro de Monteiro Lobato "O Escândalo do Ferro e do Petróleo", que o coloca como um dos mártires dos estudos de prospecção de petróleo no país. A viagem New York - Rio de Janeiro também era considerada loucura, mas ele a concluiu.

A população de Camocim, CE, sua terra natal, considera-o um herói por seu ato de coragem e pioneirismo.