José Rozenblit

JOSÉ ROZENBLIT
(89 anos)
Empresário

☼ Recife, PE (1927)
┼ Recife, PE (20/10/2016)

José Rozenblit foi um empresário brasileiro nascido em Recife, PE, no ano de 1927. Foi um dos fundadores da Fábrica de Discos Rozenblit, considerada por anos a maior fábrica de vinil do Brasil.

Seu pai possuía uma loja e após uma viagem aos Estados Unidos, José Rozenblit passou a importar e comercializar discos na loja da família e não demorou muito para inaugurar a Lojas do Bom Gosto, especializada em discos.

Em parceria com os irmãos, no dia 11/06/1954 fundou a Fábrica de Discos Rozenblit e que por anos foi a líder no mercado fonográfica como fornecedora de discos (22% do mercado nacional e 50% do regional). Paralelamente a fabricação do vinil, José Rozenblit manteve vários selos (gravadoras), sendo o principal, o selo Mocambo.

Após várias enchentes que quase destruíram a fábrica, em 1966, 1967, 1970, 1975 e 1977, além da concorrência, fizeram com que a Discos Rozenblit fechassem as portas em meados da década de 1980.

José Rozenblit foi presidente do Sport Club do Recife entre 1969 e 1970.

Fábrica de Disco Rozenblit

A indústria fonográfica no Brasil teve sua primeira fábrica de discos, a Odeon, por iniciativa do imigrante tchecoslovaco, de origem judaica, Frederico Figner (Fred Figner). A Odeon foi instalada no bairro da Tijuca, Rio de Janeiro, e manteve a liderança até 1924, quando o processo de gravação elétrica foi criado pela Victor Talking Machine, uma revolução na história da indústria fonográfica.

Produziram-se, assim, os discos de 78 rpm (Rotações Por Minuto) que reinaram até a década de 1960 e foram substituídos pelo LP (Long Playing = Longa Gravação), contendo entre quatro e doze músicas. No período de 1930 a 1960, o número de fábricas fonográficas no Brasil passou de três, Odeon, Victor e Colúmbia, para 150.

Dentre tantas, a única grande gravadora brasileira localizada fora do eixo Sul-Sudeste do país foi a Fábrica de Discos Rozenblit, que funcionou no Recife entre os anos de 1954 a 1984.

O comerciante José Rozenblit, criador da Fábrica de Discos Rozenblit Ltda., era proprietário de um estabelecimento comercial, as Lojas do Bom Gosto, que ficava próximo à Ponte da Boa Vista, no centro do Recife.

Lá, o cliente dispunha de seis cabinas, onde podia ouvir os álbuns antes de comprá-los ou não. Também podia se encontrar uma cabina especial de gravação, onde o cliente podia gravar jingles ou sua voz em acetato - algo raro no país.

A Loja não vendia apenas discos, ela também comercializava eletrodomésticos e móveis modernos, contudo, os vinis eram os responsáveis pela sua fama na cidade. Vez por outra, artistas plásticos locais expunham seus trabalhos no espaço físico da loja. Dessa forma, José Rozenblit se tornou conhecido entre artistas e intelectuais da cidade.

Em 1953, gravou duas composições de frevo, que foram prensadas no Rio de Janeiro, escolhidas pelo maestro Nelson Ferreira. O frevo de rua "Come e Dorme" e o frevo-canção "Boneca". O primeiro de autoria do próprio maestro e o segundo de José Menezes e Aldemar Paiva.

Esse fato foi decisivo para a criação da Fábrica de Discos Rozenblit. Em sociedade com os irmãos Isaac e Adolfo, a Fábrica, foi fundada em 11/06/1954, e instalada na Estrada dos Remédios, no bairro de Afogados. A estrutura abrigava dependências que serviam adequadamente ao processo de produção de discos, desde a gravação até a comercialização. Possuía um estúdio que comportava uma orquestra sinfônica e um moderno parque gráfico.


A criação da Fábrica quebrou o sistema de dependência de uma indústria estrangeira, a RCA Victor, para a produção e divulgação de discos de frevo e favoreceu a gravação de outros ritmos pernambucanos como o baião, coco, xote, maracatu, ciranda.  Aliás, a preocupação com a música local e regional caracterizou a produção da Fábrica de Discos Rozenblit que, esporadicamente, também produziu alguma coisa do eixo Rio-São Paulo.

Abriu filiais no Rio de Janeiro, São Paulo, Porto Alegre e investiu no mercado nacional: lançou artistas como Zé Ramalho e Tom Zé, e sucessos de grandes compositores como Pixinguinha, Tom Jobim e Ary Barroso.

A Fábrica de Discos Rozenblit também foi responsável por muitos sucessos internacionais. Parceira de gravadoras estrangeiras como Mercury, Barclay, Kapp entre outras, as matrizes de discos estrangeiros eram compradas, prensadas e embaladas e, dessa forma, a Rozenblit lançou no Brasil artistas como Steve Wonder, Diana Ross, Louis Armstrong.

A Fábrica de Discos também se dedicou a gravar vozes de escritores pernambucanos ora em prosa ora em versos, a exemplo de Gilberto Freyre, Ascenso Ferreira e Mauro Mota.

A marca visual dos discos da Rozenblit passou por vários selos de identificação onde o mais conhecido foi o Mocambo, utilizado desde 1953. Outros selos utilizados foram: Passarela, AU (Artistas Unidos), Arquivo e o Solar.

Coube a Fábrica de Discos Rozenblit o pioneirismo de gravar um disco do bloco O Bafo da Onça, um dos mais conhecidos do carnaval carioca.

No fim da década de 1960, gravou ao vivo as doze músicas classificadas do II Festival de Música Popular Brasileira promovido pela TV Record, São Paulo. Entre elas: "Disparada", de Geraldo Vandré, e "A Banda", de Chico Buarque

O inovador movimento Udigrudi - o movimento contra-cultural recifense que conciliava o rock psicodélico e a música regional, ilustrado não apenas pela música, mas também por peças teatrais, textos, cinema, artes plásticas e até artesanato - teve vez na Rozenblit. Dessa experiência, foram produzidos os discos "Satwa" (todo instrumental), de Lula Cortês e Lailson, e o "Paêbirú - Caminho da Montanha do Sol", de Lula Cortês e Zé Ramalho, que também reuniu grandes nomes como Geraldo Azevedo e Alceu Valença.


O maior sucesso nacional da Fábrica de Discos Rozenblit, entretanto, foi o frevo "Evocação nº 1" (Nelson Ferreira), seguido da marcha-rancho "Máscara Negra" (Zé Keti e Pereira Matos) e "Maria Betânia" (Capiba).

Embora o pioneirismo na divulgação da música nordestina e regional e, com menos frequência, da música nacional resultasse no sucesso da Fábrica de Discos Rozenblit, a competição com as gravadoras multinacionais enfraqueceu sua trajetória ascendente. As dificuldades financeiras começaram a surgir e se agravaram quando a Fábrica foi atingida pelas enchentes de 1966, 1967, 1970, 1975 e 1977.

Em 1966, a Fábrica de Discos Rozenblit foi praticamente arruinada. Contando com a ajuda oficial e privada foi restaurada em alguns meses.

Em 1967, a enchente destruiu quase tudo e a Fábrica de Discos Rozenblit ficou funcionando precariamente.

Em 1975, a ajuda veio do governo do Estado de Pernambuco que, por intermédio do Condepe, concedeu empréstimo para compra de equipamentos para soerguer a Fábrica. 

Na década de 1980, depois de muitos anos de sucesso e alguns de perda e grandes dificuldades financeiras, a Fábrica de Discos Rozenblit encerrou suas atividades.

José Rozenblit foi homenageado pelo Carnaval do Recife em 2003, e, há alguns anos, mantinha postura reservada e sofria complicações de um acidente vascular cerebral.

Para o historiador pernambucano Jacques Ribemboim, a importância de José Rozenblit, cujo nome tem origem russa, para a cultura do Estado vai além da música. Em Boa Vista, o berço das artes plásticas pernambucanas, Jacques Ribemboim cita a família Rozenblit, que residia no Centro do Recife, onde José Rozenblit viveu até o casamento, quando mudou-se para a Av. 17 de Agosto, em Casa Forte - endereço tombado hoje como referência da arquitetura modernista local.

"Muitos artistas locais só conseguiram lançar seus discos no mercado graças à Fábrica Rozenblit. Mas o legado foi além. Ele promoveu artistas locais ao encarregá-los da concepção das capas desses discos. Entre os chamados 'capistas' da Rozenblit, se lançaram grandes artistas plásticos locais. Ele contratou, por exemplo, Wilton de Souza. Wilton de Souza, junto com Lula Cardoso Ayres, que por sua vez não chegou a integrar o quadro de funcionários da Fábrica, foi um dos principais precursores do design pernambucano. Um pioneiro!"
(Jacques Ribemboim)


O artista plástico Wilton de Souza, que fundou o Clube da Gravura e o Ateliê Coletivo em parceria com Abelardo da Hora, Gilvan Samico, José Cláudio e outros nomes das artes plásticas do Estado, via em José Rozenblit um incentivador. Foi, por muitos anos, encarregado de coordenar o departamento de artes da fábrica.

"Perdemos um elemento de grande sensibilidade, não somente pela música, pela divulgação do nosso frevo, dos ritmos locais, mas pela arte de maneira geral", observa. Wilton de Souza se recorda do teste para trabalhar na Fábrica, um desenho que seria encartado em LP, e dos conselhos trocados com o empresário em relação à indústria da música e aos nomes dos discos prensados na Rozenblit. Em entrevista ao Viver, se emociona: "Falar sobre Rozenblit é, para mim, uma oportunidade de devolver um pouco do que ele me proporcionou", diz.

No documentário "Rosa de Sangue", com direção, roteiro e produção da jornalista e produtora cultural pernambucana Melina Hickson, a história da gravadora se revela em detalhes. Premiado com o 1º lugar de Melhor Documentário da XXV Jornada Internacional de Cinema da Bahia e 3º Lugar na categoria documental do VI Festival de Vídeo de Teresina, em 1998, ano em que foi lançado, o filme reúne depoimentos de músicos locais e nomes ligados à indústria fonográfica, como Zé da Flauta, Lula Côrtes e Zé Ramalho. Nele, é reforçado o valor histórico da Fábrica Rozenblit, naquela época o maior parque industrial fonográfico do país fora do eixo Rio-São Paulo.

"José Rozenblit foi um visionário. Ele estava recluso há muitos anos. Não falava à imprensa, o que reforça o valor documental de 'Rosa de Sangue', para o qual ele abriu as portas por vários dias de registros e gravações", explica Melina Hickson.

Ela aborda, nas filmagens, não somente as memórias da fase áurea da gravadora, mas também sua derrocada. "As cheias do Recife levaram muito material dele por água abaixo. Ele foi processado por muitos músicos, ficou muito abatido", conta Melina Hickson. Por vezes, enchentes quase destruíram a empresa, causando enormes prejuízos a José Rozenblit, que optou pelo encerramento das atividades da Fábrica em meados dos anos 1980. A situação era insustentável: praticamente todo o acervo de fitas matrizes havia sido perdido em sucessivas inundações nas décadas de 1960 e 1970.

Morte

José Rozenblit faleceu na noite do sábado, 29/10/2016, aos 89 anos, em consequência de um Acidente Vascular Cerebral (AVC). Poucas pessoas, entre familiares e amigos, compareceram à cerimônia judaica, que foi bastante simples, como pede a religião. José Rozenblit foi enterrado na manhã de domingo, 30/10/2016, no Cemitério Israelita, no Barro. 

Com a morte dele vai embora também um testemunho histórico da música do Estado, do Nordeste e do Brasil, de 1954 a 1984, período em que a fábrica produziu mais de dois mil discos. 

Indicação: Miguel Sampaio