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Roberto Drummond

ROBERTO FRANCIS DRUMMOND
(68 anos)
Jornalista e Escritor

* Ferros, MG (21/12/1933)
+ Belo Horizonte, MG (21/06/2002)

Roberto Francis Drummond foi um jornalista e escritor brasileiro. Participou da chamada Literatura Pop, marcada pela ausência de cerimônias e pela proximidade com o cotidiano.

Antes de residir, a partir da adolescência, em Belo Horizonte, a família do escritor viveu em Guanhães, Araxá e Conceição do Mato Dentro. Na capital mineira, iniciou no jornalismo na extinta Folha de Minas. Aos 28 anos, passou a dirigir a revista Alterosa, fechada pela Ditadura Militar em 1964. Durante um ano trabalhou no Rio de Janeiro, retornando a Belo Horizonte em 1966, onde passou a escrever colunas esportivas e crônicas.

O sucesso na literatura começou com seu primeiro livro, "A morte de D.J. em Paris", em 1971. Relançado em 1975, bateu recordes de vendas, recebendo o Prêmio Jabuti de Autor Revelação. Ao receber o Prêmio Jabuti, Roberto Drummond ganhou notoriedade nos meios literários brasileiros.

Na década de 80 publicou "Hitler Manda Lembranças" (1984) e "Ontem à Noite Era Sexta-Feira" (1988), iniciando uma nova fase em sua produção literatura, com enredos mais complexos.

Em 1991, lançou seu maior sucesso, o romance "Hilda Furacão", que foi adaptado para a televisão por Glória Perez, numa minissérie. Pare ele, o fato de o livro ter se tornado sua obra-prima resultou numa espécie de prisão: "Sou um eterno refém de 'Hilda Furacão'", dizia o escritor.

O cenário principal da trama é a capital mineira do final dos anos 50 e início dos anos 60. Os capítulos de "Hilda Furacão" seguem o modelo de suspense dos folhetins, instigando a leitura do próximo. Várias ações ocorrem quase ao mesmo tempo, dando ao texto conferindo uma dinâmica expressiva. A história central focaliza a personagem que dá nome ao romance, Hilda Furacão, que foi levada também ao teatro na direção de Marcelo Andrade.

Ele publicou também "Inês é Morta" (1993) e a biografia "Magalhães: Navegando Contra o Vento" (1994). Num de seus últimos livros, "O Cheiro de Deus" (2001), Roberto Drummond ironiza seu próprio sobrenome e narra histórias do clã Drummond em solo brasileiro.


Torcedor fanático do Atlético Mineiro, cronista do jornal Estado de Minas, escreveu a crônica "Para Torcer Contra o Vento", na qual descreveu a cena de um uniforme do time sendo lavado:

"Se houver uma camisa branca e preta pendurada no varal durante uma tempestade, o atleticano torce contra o vento!"


Roberto Drummond também fez um programa esportivo diário na TV Bandeirantes de Belo Horizonte.

Pouco antes de sua morte, concluiu a novela "Os Mortos Não Dançam Valsa".

Roberto Drummond morreu vítima de um infarto, no dia da partida entre Brasil x Inglaterra pelas quartas-de-final da Copa do Mundo de 2002.

Roberto Drummond era casado com Maria Beatriz, com quem teve uma filha, Ana Beatriz.

Foi homenageado pela prefeitura de Belo Horizonte com uma estátua de bronze em tamanho real na Praça Diogo de Vasconcelos, na Savassi, e pela prefeitura de Ferros com um Centro Cultural em seu nome.

Passados 10 anos da morte de Roberto Drummond, sua obra, sua paixão pelo futebol e seu legado para a literatura nacional foram novamente destacados pelos relançamentos de alguns de seus livros e de um documentário dirigido por Breno Milagres sobre a vida do escritor, além de uma homenagem da torcida atleticana no dia 23/06/2012, durante o jogo Atlético x Náutico, pelo Campeonato Brasileiro, no Estádio Independência.

Obras
  • 1971 - A Morte de D.J. em Paris
  • 1978 - O Dia em Que Ernest Hemingway Morreu Crucificado
  • 1980 - Sangue de Coca-Cola
  • 1982 - Quando Fui Morto em Cuba
  • 1984 - Hitler Manda Lembranças
  • 1988 - Ontem à Noite Era Sexta-Feira
  • 1991 - Hilda Furacão
  • 1993 - Inês é Morta
  • 1993 - O Homem Que Subornou a Morte & Outras Histórias
  • 2001 - Magalhães: Navegando Contra o Vento
  • 2001 - O Cheiro de Deus
  • Dia de São Nunca à Tarde (Publicação Póstuma)
  • Os Mortos Não Dançam Valsa (Publicação Póstuma)
  • O Estripador da Rua G (Publicação Póstuma)
  • Uma Paixão em Preto e Branco (Publicação Póstuma).

Mocinha da Mangueira

RIVAILDA DO NASCIMENTO SOUZA
(76 anos)
Porta-Bandeira

* Rio de Janeiro, RJ (1926)
+ Rio de Janeiro, RJ (26/07/2002)

Mocinha era filha de Angenor de Castro, um dos fundadores da Mangueira, e sobrinha de Raimunda, a primeira Porta-Bandeira da história da Escola. E foi Tia Raimunda, a primeira porta-estandarte da Estação Primeira de Mangueira, quem lhe ensinou a sambar e a amar aquela bandeira. A menina que acompanhava os ensaios, em 1952, já Mocinha, defendia o pavilhão da Verde-e-Rosa, como 2ª Porta-Bandeira. E parecia inevitável ser a segunda, posto que a primeira, era Neide, uma lenda, que disputava com Vilma, da Portela, outra fera, o posto de Rainha da Passarela.

Mas quem aprendeu com a primeira de todas, acabaria por roubar a cena. No auge da disputa pelo Estandarte de Ouro, o "Oscar" do Carnaval carioca, no ano de 1980, de um lado a primeira da Mangueira, e do outro a primeira da Portela, o prêmio foi parar justamente nas mãos da segunda da Mangueira. No ano seguinte já desfilava na Avenida Presidente Vargas como 1ª Porta-Bandeira.

E Mocinha passou a ser adulta, entrou no meio das gigantes, e no seu reinado, absoluta, levantou mais dois "Estandartes de Ouro", acumulando assim três prêmios "Estandartes de Ouro" em sua carreira.

Seu principal parceiro foi o Mestre-Sala Delegado. Além dele, outros também se destacaram como Lilico, Edinho, Jorge Rasgado, Arísio e Arilton.

No ano de 1988, em decorrência de problemas de saúde, teve que se afastar da função que a consagrou como símbolo da Escola em 36 anos de dedicação.

Integrante do Conselho de Baluartes da Escola, presidido pelo intérprete JamelãoMocinha desfilou como primeira porta-bandeira da escola por 36 anos consecutivos. Ela era uma das porta-bandeiras mais antigas da Verde-e-Rosa. Desde 1991, quando entregou o posto, Mocinha saía no carro dos baluartes, junto com Dona Zica e Dona Neuma, e outros destaques da agremiação.

Mocinha morava no Morro da Mangueira, na zona norte do Rio de Janeiro, com a filha. Diabética, nos últimos anos vinha sofrendo problemas de saúde, como complicações nos rins e insuficiência respiratória.

Beth Carvalho, Mocinha e Delegado (Inauguração da Marquês de Sapucaí)
Morte

Rivailda do Nascimento Souza, a Mocinha, um dos principais símbolos da escola, morreu na manhã de 26/07/2002, aos 76 anos, vítima de insuficiência renal crônica. Ela estava internada no Hospital Geral de Bonsucesso desde segunda-feira, 22/07/2002. O corpo de Mocinha foi velado por integrantes da Escola no Cemitério Memorial do Carmo, no Caju, zona Portuária do Rio de Janeiro.

Indicação: Miguel Sampaio

Zilda do Zé

ZILDA GONÇALVES
(82 anos)
Cantora e Compositora

* Rio de Janeiro, RJ (18/03/1919)
+ Rio de Janeiro, RJ (31/01/2002)

Começou a carreira artística apresentando-se na Rádio Transmissora na qual conheceu o compositor e seu futuro marido José Gonçalves. Pouco depois formou com ele a Dupla da Harmonia.

Em 1938, ano em que se casou, passou a atuar com o marido na Rádio Cruzeiro do Sul onde a dupla foi rebatizada pelo radialista Paulo Roberto em cujo programa atuavam como "Zé da Zilda e Zilda do Zé", abreviada para Zé e Zilda, como apareceram no selo dos discos que gravaram.

Em 1946, teve o samba-choro "Caboclo Africano" (Zilda Gonçalves e José Gonçalves), gravado na Continental por Jorge Veiga. Gravou com o marido as marchas "A Hora Da Onça" (Zilda Gonçalves Ari Monteiro) e "Morena Do Brasil" (Zilda Gonçalves Oldemar Magalhães).

Em 1952, gravou com o marido a marcha "Parafuso" (Zilda Gonçalves, José Gonçalves e Adelino Moreira). Nesse ano, o samba "Nosso Amor" e o mambo "Filho De Mineiro" (Zilda Gonçalves e José Gonçalves), foram gravados por Emilinha Borba na Continental.

Zilda do Zé e Zé da Zilda
Em 1953 a dupla gravou o bambu "Levou O Diabo" (Zilda GonçalvesJosé Gonçalves e O. Silva), e a marcha "Vendedor De Pirulito" (Zilda GonçalvesJosé Gonçalves e Diamantino Gomes). Nesse ano, gravou com José Gonçalves a marcha "Saca Rolha", que foi seu maior sucesso. Teve ainda a marcha "Quebra Mar" (Zilda GonçalvesJosé Gonçalves e Adelino Moreira), gravada por Marlene e "Pedido A São João" (Zilda GonçalvesJosé Gonçalves e Ricardo Galeno) também uma marcha, gravada pelos Vocalistas Tropicais, as duas na gravadora Continental.

Em 1954, gravou com José Gonçalves o samba "Destruiram O Morro" (Zilda GonçalvesJosé Gonçalves e Claudionor Santana), as marchas "Ressaca" (Zilda Gonçalves José Gonçalves), que obteve grande sucesso, e "Guarda Essa Arma" (Zilda GonçalvesJosé Gonçalves e Jorge Gonçalves). Ainda nesse ano, o Coro de Artistas da Odeon gravou os sambas "Império Do Samba" (Zilda Gonçalves José Gonçalves), um dos destaques do ano, e "Samba Do Assovio" (Zilda GonçalvesJosé Gonçalves e A. Silva).

Em 1955, teve a marcha "Ressaca" gravada em ritmo de tango pela Orquestra Típica de Osvaldo Borba. No mesmo ano, fez com José Gonçalves e Rubens Campos, a marcha "As Águas Continuam" e, com José Gonçalves, Adolfo Macedo e Airton Borges o samba "Vai Que Depois Eu Vou", gravadas pouco depois da súbita morte do marido, expressamente para homenageá-lo no carnaval. Especialmente o samba "Vai Que Depois Eu Vou" foi um dos mais cantados no carnaval daquele ano. Ainda em 1955, Nora Ney gravou com Ataulfo Alves e Suas Pastoras o samba "Vou De Tamanco" e Linda Rodrigues o samba "Olha No Espelho", parcerias com José Gonçalves, os dois na gravadora Continental. Gravou também o samba-canção "Meu Zé" (Zilda Gonçalves Ricardo Galeno), e com Lili, gravou "Maria Joaquina" (Zilda Gonçalves José Gonçalves).

Zilda do Zé e Zé da Zilda
Em 1956, continuou a gravar sozinha lançando pela Odeon os choros "Iaiá Faceira""Mambo Maçador" e os sambas "Laranja Madura" e "Perdoar", parcerias com José Gonçalves.

Em 1957, lançou o samba "Felicidade" (Zilda GonçalvesJosé GonçalvesMarcelino Ramos e Eli Campos), e a marcha "Eu Quero Beber" (Zilda GonçalvesJosé Gonçalvese e W. Goulart).

Em 1958, gravou o samba "Amor, Vem Me Buscar" (Airton Borges, Adolfo Macedo e Adilson Moreira), e a marcha "Feiura É Apelido" (Zilda GonçalvesJosé Gonçalves e Colatino). Mesmo depois da morte do marido, ela fazia questão de manter o nome dele nas parcerias, como homenagem.

Em 1959, sagrou-se vice-campeã do concurso para músicas carnavalescas da prefeitura do então Distrito Federal com o samba "Vem Me Buscar", de sua autoria e por ela mesma defendido em espetáculo realizado com grande presença de público no Teatro João Caetano.

Em 1960, gravou para o carnaval a marcha "Seu Talão Vale Um Milhão" (Nelson Trigueiro, S. Mesquita e Elpídio Viana), num disco que tinha ainda os sambas "Quero Morar" (Zilda GonçalvesF. Garcia e Vanda Rodrigues), e "Volte Mulher" (Zilda Gonçalves José Augusto), e a  marcha "Pente Fino" (Zilda GonçalvesRaul Sampaio e Haroldo Lobo).

Em 1961, gravou o samba "Vem Amor" (Zilda GonçalvesRomeu Gentil e Paquito), e a marcha "O Papagaio" (José Roberto Kelly, Mário Barcelos e Leda Gonçalves).

Em 1963, fez com Carvalhinho o samba "O Lelê Da Lalá" e com Jorge Silva o bolero "Meu Castigo" gravados por Roberto Audi na Copacabana.

Em 1972, fez sucesso no carnaval com a marcha "A Nega Ficou Maluca" (Zilda GonçalvesZé Filho e Carlos Marques).

Discografia

  • 1961 - Vem Amor / O Papagaio (Copacabana, 78)
  • 1960 - Quero Morar / Volte Mulher / Pente Fino / Seu Talão Vale Um Milhão (Athena, 78)
  • 1958 - Amor, Vem Me Buscar / Feiura É Apelido (Odeon, 78)
  • 1956 - Iaiá Faceira / Mambo Caçador (Odeon, 78)
  • 1956 - Laranja Madura / Perdoar (Odeon, 78)
  • 1956 - Felicidade / Eu Quero Beber (Odeon, 78)
  • 1955 - Meu Zé / Maria Joaquina (Odeon, 78)

Indicação: Miguel Sampaio

Cassandra Rios

ODETE RIOS
(69 anos)
Escritora

* São Paulo, SP (1932)
+ São Paulo, SP (08/03/2002)

Cassandra Rios foi uma escritora brasileira, autora de dezenas de livros que há quarenta anos escandalizaram o Brasil por seu estilo pornográfico, dentre eles "A Tara", "Tessa, a Gata", "Volúpia do Pecado", "A Paranoica", "Muros Altos", "Uma Mulher Diferente", "Cabelos de Metal" e "A Borboleta Branca", entre outras dezenas de títulos. O romance "A Noite Tem Mais Luzes" atingiu a marca de 700 mil exemplares vendidos.

Nascida em 1932 com o nome de Odete Rios, Cassandra foi uma das autoras mais vendidas dos anos 60 e 70, e também das mais perseguidas pela censura, que não tolerava o forte conteúdo erótico de sua obra, considerada pornográfica pelos setores mais conservadores da cultura.

Em seus livros, Cassandra Rios falava com liberdade e muita sensualidade sobre assuntos mais que polêmicos para a época, como o homossexualidade feminina, as relações entre sexo, religião, política e cultos umbandistas, que "atentavam" contra a moral defendida pelos militares. Lésbica assumida, chegou a vender quase trezentos mil exemplares de seus livros por ano, um sucesso editorial que só seria igualado décadas mais tarde pelo escritor Paulo Coelho.

Estreou com "Volúpia do Pecado" (1948) e foi um sucesso popular com incontáveis livros, ao lado da também considerada pornógrafa Adelaide Carraro. Com a abertura, um de seus livros, "A Paranóica", foi adaptado para o cinema com o título de "Ariella", interpretado por Nicole Puzzi. Ariella era uma menina rejeitada que vivia numa mansão e que descobre que seu tio fingia ser seu pai para ficar com sua fortuna. Para se vingar, passa a usar o próprio corpo, desintegrando a família.

Aos 33 anos, em meados dos anos 1960, Cassandra Rios era uma mulher completamente diferente das da época. Porte alto, vestindo terninho e com certa altivez, destacava-se mesmo estando numa multidão. Além de escritora, nesta época foi dona de uma livraria na Avenida São João, ao lado da Galeria do Rock, em São Paulo,onde podia ser encontrada diariamente.

Em 1976, a autora tinha 33 dos 36 livros que havia publicado apreendidos e proibidos em todo o país. Desde então, desapareceu completamente do noticiário. Abandonada, editando os últimos livros por conta própria, Cassandra Rios queixava-se que sempre se sentiu incomodada pelo fato de sua vida pessoal ser confundida com as atmosferas que criava em suas obras.

Numa entrevista à revista TPM, afirmou: "O que mais me incomodou foi me encararem como personagem de livro. Então, não tenho capacidade para ser escritora?"

Cassandra Rios faleceu no Hospital Santa Helena em São Paulo, aos 69 anos, vítima de câncer, em 08/03/2002.


Contexto

Como dita os manuais da literatura comparada, para entender Cassandra Rios é preciso entender sua época e ambiente.

Não havia imagens de sexo, a não ser em livros de medicina legal. No Brasil pré-contracultura, taras individuais não eram debatidas. O estranho era considerado desvio a ser combatido pelo Estado, com a censura.

A exibição de seios só era permitida em documentários sobre índios. "Amaral Neto, o Repórter" serviu para muitos adolescentes descobrirem o que havia escondido numa mulher.

Cassandra Rios falava às claras sobre o prazer feminino. Talvez por isso tenha sido uma das personalidades mais censuradas. Tratava-se de uma mulher escrevendo sobre tesão de mulher, numa sociedade cuja predominância religiosa afirmava que a mulher apenas se deitava com um homem para gerar filhos de Deus.

Seus livros surpreendiam. Cassandra Rios rivalizava com uma outra autora erótica e sua contemporânea, Adelaide Carraro. Enquanto Cassandra Rios tinha um estilo mais ousado, extrovertido, Adelaide Carraro era linear, contida. Em Cassandra Rios, há empresários corruptos, que fazem despachos em terreiros de umbanda.

Cassandra Rios já no título era direta, como, por exemplo, "A Volúpia do Pecado", de 1948, seu livro de estréia, que a transformou numa das autoras mais vendidas da história da literatura brasileira. Ela o escreveu com 16 anos. Fazia uma literatura assumidamente popular. Eram livros baratos. Havia desenhos provocantes nas capas: moças oferecidas em poses sutilmente sensuais.

Nas poucas entrevistas que deu, ela dizia que, no fundo, era uma simples dona-de-casa conservadora, que suas narrativas fluíam sem controle e que ela mesma ficava enrubescida com aquelas cenas mais quentes.

Chegou a escrever um livro sério, "MezzAmaro", uma autobiografia que não fala de sexo, com 400 páginas. Chegou a ter o livro "A Paranóica" adaptado para o cinema, sobre uma filha que descobre que seu pai é falso e quer apenas roubar a grana da família. Na tela, o livro virou "Ariella", revelando a atriz Nicole Puzzi.

Em muitas faculdades brasileiras, pesquisadores deveriam estar estudando Cassandra Rios. Foi uma precursora. Sua importância não será esquecida. Nem a libido de suas personagens.


Algumas Obras

  • Volúpia do Pecado
  • Carne em Delírio
  • Nicoletta Ninfeta
  • Crime de Honra
  • Uma Mulher Diferente
  • Copacabana Posto 6 - A Madrasta
  • A Lua Escondida
  • O Gamo e a Gazela
  • A Borboleta Branca
  • As Traças
  • A Tara
  • O Prazer de Pecar
  • Tessa, a Gata
  • A Paranoica
  • Breve História de Fábia
  • Um Escorpião na Balança
  • Muros Altos



Zizinho

THOMAZ SOARES DA SILVA
(80 anos)
Jogador de Futebol

* São Gonçalo, RJ (14/09/1921)
+ Niterói, RJ (08/02/2002)

Thomaz Soares da Silva nascido em 14/09/1921, foi um dos mais refinados jogadores de futebol de todos os tempos, terceiro a alcançar o estrelato brasileiro e quarto na galeria dos maiores de todos os tempos. Virou o ídolo de Pelé quando jogou pelo São Paulo e foi o segundo brasileiro a ser reconhecido mundialmente. Seu azar foi, além de jogar em uma época em que a televisão de certa forma não existia, haver perdido a copa de 1950 realizada no Brasil.

Zizinho foi um craque que não conseguiu incluir no currículo o título da Copa do Mundo, mas que foi eleito o craque de um Mundial, e que conseguiu algo especial: ser o grande ídolo do Rei Pelé.

Zizinho nasceu em São Gonçalo, Rio de janeiro, em 14/09/1921 e rapidamente teve reconhecido o seu talento nos gramados. Em 1939, com 18 anos, fez um treino no Flamengo e encarou o desafio de entrar no lugar de Leônidas da Silva, craque da Copa disputada na França um ano antes. E o jovem não se intimidou: marcou três gols e foi imediatamente aprovado pelo treinador Flávio Costa. E foi um dos destaques do rubro-negro na conquista do tricampeonato carioca em 1942, 1943 e 1944.

No clube, disputou 318 jogos e marcou 145 gols. Mas deixou a Gávea de forma traumática. Já um dos principais jogadores do país e titular absoluto da Seleção Brasileira, foi negociado com o Bangu pouco antes da Copa de 1950. O presidente do Flamengo na época, Dario de Mello Pinto, teria dito que nenhum jogador rubro-negro era inegociável. Diante disso, o patrono do clube de Moça Bonita, Guilherme da Silveira, teria perguntado qual seria o valor para contratar Zizinho. E bancou a pedida, criando uma saia-justa para Dario de Mello Pinto, que não conseguiu voltar sua palavra.

E rapidamente, o Flamengo percebeu o erro que havia cometido. Em 20/08/1950, em jogo da segunda rodada do Carioca, Zizinho comandou o Bangu na goleada por 6 a 0 sobre o Flamengo. Com um gol do Mestre Ziza, assim apelidado pelo fino trato com a bola no pé.

Zizinho ficou no Bangu até 1957, quando já veterano, aos 36 anos, foi contratado pelo São Paulo. E o meia mostrou mais uma vez a sua categoria, sendo peça-chave para que o tricolor conquistasse o título paulista daquele ano.

Castilho e Zizinho
Em 1958, se transferiu para o Audax Italiano, pelo qual encerrou a carreira em 1962.

Pela Seleção Brasileira, Zizinho estreou em 18/01/1942, contra a Argentina, no Campeonato Sul-Americano disputado no Uruguai. Em 53 jogos, marcou 30 gols.

Foi campeão sul-americano em 1949, mas não conseguiu obter o tão sonhado título mundial. Com um problema no joelho esquerdo, só estreou no terceiro jogo do Brasil na Copa de 1950, contra a Iugoslávia. E foi decisivo para que a Seleção vencesse a partida por 2 x 0, um gol dele, e avançasse para a fase final.

Após brilhar com o time nas goleadas sobre a Suécia (7 x 1) e Espanha (6 x 1), teve que amargar a decepção da derrota para o Uruguai na decisão, em um Maracanã superlotado. Decepção que seria eterna.

Após o jogo, desorientado, como admitiu tempos depois, caminhou a pé do Maracanã até a Praça XV, para pegar a barca para Niterói, onde morava. Um trajeto de oito quilômetros.

Uma tristeza eterna. Que resistia mesmo 50 anos depois do fatídico 16 de julho. Em 2000, durante entrevista para a Rede Globo, pediu para interromper a conversa ao se emocionar lembrando a partida. A amargura era tanta que evitava falar com jornalistas em épocas de Mundial. Sabendo que o assunto Copa de 1950, fatalmente, seria mencionado.

Zizinho faleceu em 08/02/2002 vítima de problemas cardíacos.

Fonte: Globo Esporte (Blog memória E.C.)
Indicação: Miguel Sampaio

Adelino Moreira

ADELINO MOREIRA DE CASTRO
(84 anos)
Cantor e Compositor

☼ Porto, Portugal (28/03/1918)
┼ Rio de Janeiro, RJ (07/05/2002)

Adelino Moreira de Castro foi um compositor luso-brasileiro. Entre suas obras destaca-se o grande sucesso "A Volta do Boêmio", primeiramente gravada por Nelson Gonçalves. Ele é um caso raro na história da Música Popular Brasileira. Um compositor que construiu a carreira com talento e cuidado e conseguiu manter um confortável padrão de vida, principalmente porque nunca parou de receber direitos autorais.

"Se qualquer compositor quiser ganhar dinheiro com música no Brasil, tem antes que me consultar. Eu sei vender discos. Eu faço músicas para vender. Eu faço o que o povo quer"
(Adelino Moreira - Anos 70)

Nascido na cidade do Porto, em Portugal, em 28 de março de 1918, Adelino Moreira de Castro chegou ao Brasil com apenas um ano de idade. O pai, comendador Serafim Sofia, era joalheiro e, em busca de vida melhor, instalou-se com toda a família na Praça Mauá, no Rio de Janeiro. Não demorou a prosperar e a mudar-se para Córregos, onde, segundo Adelino Moreira, "era dono de quase toda a cidade".


Estudou com um padre numa igreja do Morro do Pinto. Aos 12 anos, entrou na Escola São Bento, em Niterói, RJ. Cursou até o segundo ano científico, que abandonou para trabalhar com o pai. Não só se tornou exímio na ourivesaria, mas também se contagiou com o amor paterno pela poesia e pela música. Nessa época, Adelino Moreira tinha aulas de violão e guitarra portuguesa e tentava as primeiras composições.

Em 1936, casou com Maria da Conceição Barbosa, da qual se separaria em 1951. Em 1938, em Campo Grande, subúrbio carioca, começou a aprender bandolim, passando depois para guitarra portuguesa.

Em 1943, o comendador patrocinava o programa "Seleções Portuguesas", na Rádio Clube do Brasil. Dirigido pelo maestro Carlos Campos, professor de guitarra de Adelino Moreira, o programa logo passou a contar com a presença constante do futuro compositor, que interpretava fados e umas canções de sua autoria.

Em 1945, convidado por João de Barro, diretor artístico da Continental, gravou os fados "Olhos d'Alma" e "Anita", o samba "Mulato Artilheiro" e a marcha "Nem Cachopa, Nem Comida", todos de sua autoria. Em outro disco, interpretou "Manita" e "Adeus", ambas de Carlos Campos e Américo Morais.


Consciente de que aquelas 78 rotações ainda não significavam a entrada para o estrelato, Adelino Moreira voltou à oficina do pai e, em 1947, montou a própria ourivesaria. Só passou a se interessar pela carreira musical quando conquistou a independência financeira. No ano seguinte, foi para Portugal, onde se apresentou no Teatro Sá de Miranda e gravou, pela Pharlophon portuguesa, vários discos de música brasileira. Retornando ao Brasil, tinha uma certeza: não queria ser cantor. Mas se dedicaria com afinco à composição.

Em 1952, Adelino Moreira conheceu Nelson Gonçalves. Impressionado com o estilo do cantor, o compositor lhe entregou "Última Seresta" para ser gravada. Essa música inaugurava uma parceria que se estenderia por muitos anos e que faria de Nelson Gonçalves o principal intérprete de Adelino Moreira. Nos anos seguintes, o cantor lançaria os primeiros dois grandes êxitos do compositor: os sambas-canções "Meu Vício é Você", de 1955, e "A Volta do Boêmio", de 1956.

Na década de 60, Adelino Moreira e Nelson Gonçalves passaram também a compor juntos, surgindo, assim, vários sucessos, como o bolero "Fica Comigo Esta Noite" e os sambas-canções "Escultura" e "Êxtase".

Ainda nos anos 60, vários outros cantores gravaram músicas de Adelino Moreira, entre eles, Ângela Maria, Carlos Galhardo, Núbia Lafayette e Orlando Silva.

"Eu compunha para todo mundo. Todos os cantores de sucesso gravavam coisas minhas. Eu fazia música de acordo com a necessidade. Se precisava fazer 36 músicas por ano, eu fazia!"
(Adelino Moreira)


Em 1966 alguns desentendimentos separaram Adelino Moreira de Nelson Gonçalves. A briga duraria até 1971, quando voltaram a trabalhar juntos. E, em meados da década de 70, além de continuar a compor.

De 1967 a 1969, atuou de disc-jockey na Rádio Mauá, do Rio de Janeiro. Em 1970 abriu uma churrascaria em Campo Grande, RJ, onde se apresentaram muitos cantores famosos. Em 1975 tornou-se empresário de Nelson Gonçalves.

Adelino Moreira faleceu no dia 07/05/2002, vítima de infarto do miocárdio em sua residência em Campo Grande, RJ. À época do falecimento era vice-presidente da Sociedade Brasileira de Autores, Compositores e Escritores de Música (SBACEM), associação em que foi várias vezes presidente, como também do Escritório Central de Arrecadação e Distribuição (ECAD).

Fonte: Adelino Moreira
Indicação: Miguel Sampaio

Dom Mita

NILTON LUIZ FERREIRA
(61 anos)
Cantor, Compositor e Percussionista

☼ Bauru, SP (23/04/1940)
┼ Rio de Janeiro, RJ (02/01/2002)

Nílton Luiz Ferreira conhecido por Dom Mita, foi um compositor, cantor e percussionista. Aos 13 anos de idade foi morar no morro de São João, no Engenho Novo, subúrbio do Rio de Janeiro onde frequentava as rodas de samba e começou a aprender pandeiro passando em seguida para outros instrumentos de percussão.

Dom Mita surgiu no inicio da década de 1970, participando do movimento black music, ao lado de Gerson King Combo, Carlos Dafé, Tim Maia, Sandra de Sá, Cassiano e Os Diagonais e Banda Black Rio.

No ano de 1973 Tim Maia gravou de sua autoria "A Paz no Meu Mundo é Você".

Em 1975 Alcione gravou de sua autoria "É Amor... Deixa Doer", no LP "A Voz do Samba". No ano seguinte, a cantora incluiu outra composição sua, "É Melhor Dizer Adeus", no disco "A Morte de um Poeta", pela gravadora Philips.

Dois anos depois, em 1977, Carlos Dafé lançou o LP "Pra Que Vou Recordar o Que Chorei" pela gravadora Warner, no qual interpretou "De Alegria Raiou o Dia", parceria de ambos. Neste mesmo ano, foi feito um vídeo clip para o programa "Fantástico", da Rede Globo com a música. No ano seguinte, Carlos Dafé incluiu no disco "Venha Matar Saudades", também pela Warner, outra parceria de ambos, "Pobre de Quem".


No ano de 1979, Jurema, no disco "Eu Nasci no Samba", interpretou duas composições suas: "Velho Papo de Ilusão" (Dom MitaCarlos Barbosa) e "Não se Preocupe" (Dom MitaEdson Carlos).

Em 1985, Agepê gravou "Atalhos" (Dom Mita e Carlos Barbosa).

No ano 2000, a gravadora Warner lançou a série "Dois Momentos". Nesta coleção, compilou dois discos de Carlos Dafé: "Pra Que Vou Recordar o Que Chorei" e "Venha Matar Saudades", colocando em evidência neste ano, composições da década de 1970 que foram fomentadoras do movimento black music brasileiro, dentre elas duas composições de sua autoria dos respectivos LPs.

No ano 2001, apresentou o show "Mita & Convidados" no Teatro Rival, no Rio de Janeiro. Nesse show fez o lançamento de seu último disco "Dom Mita", CD no qual incluiu "Menininha da Coroa" (Dom Mita e Jackson Góes) com participação de Marysa Alfaya, "Minha Deusa", com arranjos de Lincoln Olivetti, "Tente Entender" (Dom Mita e César), "Libra" (Durval Ferreira, Oswaldo Rui da Costa e Macau) e ainda "De Alegria Raiou o Dia", interpretada em dueto como o parceiro Carlos Dafé. Neste mesmo ano Seu Jorge, ex-integrante do grupo Farofa Carioca, gravou "De Alegria Raio o Dia" (Dom Mita e Carlos Dafé) com a participação especial de Carlos Dafé.

No ano de 2004, "De Alegria Raio o Dia", interpretada em dueto com Carlos Dafé, foi incluída no na coletânea "Black Music Brasil", do selo Som Sicam. Do disco também participaram Carlos Dafé, Lúcio Sherman, Luís Vagner, Banda União Black, entre outros.

Dom Mita faleceu em 2002 e está sepultado no Cemitério de Irajá, Zona Norte do Rio de Janeiro.

Discografia

  • 2004 - Black Music Brasil (Selo Som Sicam)
  • 2001 - Dom Mita (Beverly)

Vera Abelha


VERA ABELHA
(47 anos)
Atriz e Transexual

* (1955)
+ (2002)

Vera Abelha era um travesti que circulava em São Paulo, nos anos 70 e 80, na região do Largo do Arouche. Ela usava colar de pérola, cabelo chanel e scarpin salto cinco. Vera Abelha fez muito sucesso na noite paulistana. Era chique e chegou a ser atriz, sendo protagonista de uma peça de Darcy Penteado, no Teatro Augusta.

Vera Abelha fez uma participação marcante no filme "Eu Te Amo" no ano de 1981, dirigido por Arnaldo Jabor. No filme, Vera Abelha interpretou ela mesma durante um encontro com o personagem vivido pelo ator Paulo César Pereio dentro de um carro. Vera Abelha, no filme, o travesti-psicanalista, tem por Paulo César Pereio um amor de mãe.

Vera Abelha foi a estrela da peça "A Engrenagem do Meio", de Darcy Penteado, e era uma espécie de musa invertida de Francisco Bittencourt. Foi, também, a terceira mulher no filme de Arnaldo Jabor, "Eu Te Amo".

Vera Abelha e Paulo César Pereio
Arnaldo Jabor fala sobre sua experiência com Vera Abelha:
"Uma das sequências mais impressionantes do filme talvez seja o momento em que o personagem Paulo, vivido por Paulo César Pereio, tem um encontro amoroso com um travesti - Vera Abelha. Travesti? Diria que não é bem um travesti. A seqüência, como afirmei, recebeu um tratamento meio shakesperiano, meio alucinado, mágico.
Para a cena fizemos uma lua artificial brilhando sobre as pedras do Arpoador, sobre as ondas. Ipanema vista de longe, um clima irreal. Sei o quanto é difícil encontrar um ator para fazer esse papel, por isso procuramos um travesti que se superasse, que fosse e adquirisse formas de mulher, que fosse, enfim, uma pessoa de talento e inteligência capazes de dignificar o papel, um monólogo longo e complicado. Vera Abelha foi capaz. Ela é um senhor talento!"

Orlando Villas-Bôas

ORLANDO VILLAS-BÔAS
(88 anos)
Humanista e Sertanista

☼ Botucatu, SP (12/01/1914)
┼ São Paulo, SP (12/12/2002)

Orlando Villas-Bôas era o último sobrevivente de quatro irmãos indigenistas. Era o mais velho e último dos irmãos Villas-Bôas - Cláudio, Leonardo e Álvaro. O sertanista e indigenista nasceu em 12 de janeiro de 1914 em Botucatu, interior de São Paulo e se tornou fazendeiro, a exemplo de seu pai, Agnello. Foi um menino travesso quando estudava no grupo escolar do bairro paulistano de Perdizes, e seu espírito irrequieto predizia o futuro de sertanista e indigenista, sempre em busca de novas fronteiras.

Em 1935 Orlando Villas-Bôas alistou-se no Exército onde ficou até 1939 e foi expulso porque só obedecia "às ordens que julgava certas", conforme dizia.

Aos 29 anos resolveu trocar o emprego e a vida na cidade pela selva. Orlando Villas-Bôas dedicou grande parte de sua vida à defesa dos povos da selva.

Conheceu o deputado Ulysses Guimarães na escola, a quem apresentou a Jânio Quadros, seu amigo - e Ulysses Guimarães muito o agradeceu depois, pois se iniciou na política ao conhecer Jânio Quadros. Depois de trabalhar numa empresa de petróleo, onde se sentia entendiado e tendo provocado a própria demissão, dirigiu-se para o estado de Goiás, remando durante 22 dias no Rio Araguaia e que era o início de uma história de 40 anos pela causa indígena, abraçada depois pelos irmãos Cláudio, Leonardo e Álvaro.


Com Cláudio e Leonardo, Orlando fez o reconhecimento de numerosos acidentes geográficos do Brasil Central. Em suas andanças, os irmãos abriram mais de 1.500 quilômetros de picadas na mata virgem, onde surgiram vilas e cidades. Foi indicado duas vezes para o Prêmio Nobel da Paz, com Cláudio, em 1971 e, em 1976, pelo resgate das tribos xinguanas.

Os irmãos lideraram a Expedição Roncador-Xingu, iniciada em 1943 e que depois de 24 anos deixou em seu rastro mais de 40 novas cidades, 19 campos de pouso e o Parque Nacional do Xingu, criado por lei em 1961, com a ajuda do antropólogo Darcy Ribeiro.

A criação do Parque Nacional do Xingu em 1961 foi conseguida facilmente por Orlando Villas-Bôas, dada sua amizade com o então presidente da República, Jânio Quadros. O Xingu tem cerca de quatro mil habitantes divididos entre 13 nações assentadas em 2.800.704,3343 hectares - mais ou menos o tamanho da França e Inglaterra juntas. 

Na expedição, Orlando, Cláudio, Leonardo e Álvaro, mapearam os seus encontros com catorze tribos indígenas, conseguindo permissão tácita para instalar as bases da Fundação Brasil Central. Cuidadosos, eles souberam agir contra idéias militaristas ou contra a ação de especuladores.

Crítico da influência do homem branco, Orlando Villas-Bôas destacava que 400 anos depois do início da colonização europeia, cada uma das tribos assentadas às margens do Rio Xingu mantinha sua própria cultura e identidade.

Orlando Villas-Bôas contava que ao chegar à mata pela primeira vez encontrou os índios amedrontados, se homiziando e lançando flechas. Ele dizia que jamais reagiu às flechadas e procurava ganhar a amizade dos índios transmitindo-lhes um espírito de confiança e amizade. 

Orlando Villas-Bôas
Orlando e seus irmãos ajudaram a consolidar o Parque Nacional do Xingu com o apoio do Marechal Cândido Rondon, de Darcy Ribeiro e do sanitarista Noel Nutels.

Os irmãos sertanistas Orlando, Cláudio, Leonardo e Álvaro Villas-Bôas cuidadosamente mapearam seus encontros com as 14 tribos indígenas que encontraram, obtendo sempre permissão para instalar as bases da Fundação Brasil Central. Cientes da fragilidade das comunidades às doenças da civilização ocidental, eles impediram que a política militarista se instalasse entre pessoas armadas apenas com flechas e os fuzis de um Brasil que passo a passo procurava fazer da terra um motivo de exploração econômica.

A esposa de Orlando Villas-Bôas, a enfermeira Marina Villas-Bôas, conta muitas das suas proezas. Ele a viu pela primeira vez em um consultório médico, e, como precisava de uma enfermeira para a expedição que chefiava resolveu convidá-la. Ela aceitou participar e ficou cerca de 15 anos trabalhando pela missão indígena. "Nesse tempo contraíu malária 15 vezes e Orlando pelo menos umas 200", conforme disse.

Marina chegou ao parque do Xingu em 1963 e logo no início enfrentou uma epidemia de gripe, além de cuidar de muitos casos de malária. "Os índios tinham o organismo puro, e pegavam com facilidade as doenças de branco, mas conseguimos êxito rapidamente".

O lazer, no Xingu, era algo restrito a jogos de cartas e passeios nas margens do rio segundo Marina. "À noite, jogávamos baralho ou conversávamos", relata. "Assim, eu me apaixonei por ele, só que Orlando demorou quase dois anos para perceber".

Em 1978, Orlando Villas-Bôas deixou definitivamente o Parque Nacional do Xingu. Em 1984, aposentou-se para viver em sua casa no bairro paulistano de Alto da Lapa, e cultuava, num grande galpão nos fundos de casa, uma espécie de miniatura da Mostra do Redescobrimento (Exposição Brasil + 500, montada no Pavilhão da Bienal no ano 2000), composta de grande variedade de objetos indígenas, guardados em prateleiras, cada um com uma história a contar. Ele, e seus três irmãos eram contrários à ação colonizadora que se iniciara há quatro séculos.

Irmãos Villas-Bôas (Foto: Beatriz Lefèvre)
Procuraram descobrir intacto um universo de hábitos e ética inteiramente diferentes. À medida que encontravam novas tribos assentadas às margens do Rio Xingu e seus afluentes se deparavam com povos que tinham sua própria cultura e identidade e isso os fascinava e fazia do seu trabalho uma meta de vida. E, ao voltar à vida doméstica, queria conviver com um exemplar da mata, que tinha no reduto de sua própria casa.

Os Villas-Bôas contribuíram para preservar vidas humanas, culturas antigas, valores que, depois de perdidos, não podem mais ser recuperado. Garantiram a sobrevivência de nações inteiras no Parque Nacional do Xingu ao consolidá-lo como espaço, com a orientação humanista do marechal Cândido Mariano da Silva Rondon, e o apoio do antropólogo Darcy Ribeiro e do sanitarista Noel Nutels.

Sem ter completado o segundo grau, a vivência no Xingu permitiu que Orlando Villas-Bôas publicasse, em co-autoria com seu irmão Cláudio Villas-Bôas, 12 livros e inúmeros artigos em jornais e revistas internacionais, como a National Geographic Magazine.  Algumas das aventuras da Expedição Roncador-Xingu foram contadas em "A Marcha Para o Oeste", escrito com Cláudio Villas-Bôas. Já no fim da vida, Orlando Villas-Bôas começou a escrever uma autobiografia lançada após seu falecimento.

Tanto juntos quanto individualmente, os irmãos receberam honras acadêmicas, reconhecimento de cidadanias e títulos honorários, homenagens à sua atuação na política de proteção à cultura indígena.

Orlando Villas-Bôas foi demitido da Fundação Nacional do Índio (FUNAI), órgão que ajudou a criar, em fevereiro de 2000 pelo seu então presidente, Carlos Marés de Souza. A demissão causou revolta da opinião pública e retratação formal do presidente Fernando Henrique Cardoso.

Orlando Villas-Bôas morreu aos 88 anos, em 12/12/2002, no Hospital Albert Einstein, em São Paulo, vítima de Falência Múltipla dos Órgãos.

Homenagens

Orlando Villas-Bôas recebeu diversas homenagens em razão do trabalho desenvolvido, dentre elas:

  • Medalha do Fundador, concedida pela Royal Geographical Society Of London, com a aprovação da Rainha da Inglaterra;
  • As mais altas condecorações brasileiras, como o Grau Oficial da Ordem do Rio Branco e Grão Mestre da Ordem Nacional do Mérito entre outras;
  • Membro do The Explorers Club Of New York;

Foi indicado para o Prêmio Nehru da Paz e para o Prêmio Nobel da Paz, por Julian Huxley e Claude Lévi-Strauss.

Recebeu, ainda, cinco títulos Doutor Honoris Causa de universidades estaduais e federais brasileiras e algumas dezenas de títulos de cidadãos honorários de diferentes cidades brasileiras.

Em 2001 foi homenageado como enredo pela escola de samba Camisa Verde e Branco.

Fonte: Wikipédia

Neville George

NEVILLE GEORGE TREBILCOK
Dublador, Locutor, Ator, Apresentador de Telejornal, Produtor, Roteirista e Tradutor
(63 anos)

* São Paulo, SP (12/03/1939)
+ Rio de Janeiro, RJ (19/10/2002)

Neville George trouxe para a publicidade brasileira a locução mais coloquial. Ainda estava longe do considerado coloquial de hoje, mas para a época em que começou a gravar comerciais, sua locução fazia a diferença. Tanto que nos anos 1970 ele gravava muito, mas muito mesmo, os mais diversos produtos. Falava mais baixo, mais macio, adequava mais o tom ao produto, à mensagem. Dono de um timbre muito bonito e elegante, tinha um som ligeiramente anasalado e seus finais de frase eram um pouco alongados o que conferia à sua voz uma personalidade única. Foi uma mudança de referencial.

Gravava vídeos institucionais em português, inglês, espanhol, francês e italiano. Inteligente e culto, usou sua versatilidade para atuar em diversas áreas: locutor, ator, dublador, apresentador de telejornal, produtor, roteirista e tradutor.

Neto por parte de pai de um imigrante inglês, iniciou sua carreira como representante comercial, quando foi descoberto nos estúdios de dublagem, tendo vivido a época de ouro dos estúdios Arte Industrial Cinematográfica (AIC) de São Paulo.


No final dos anos de 1960 Neville George foi para o Rio de Janeiro trabalhar na TV Cinesom, aonde alem de dublador foi narrador da empresa por algum tempo. Além disso, também passou pelas empresas Dublasom Guanabara e Herbert Richers.

No início dos anos de 1970 retornou a São Paulo, a foi dublar no CineCastro, tendo feito na empresa a voz do Coronel Robert E. Hogan interpretado por Bob Crane em "Guerra, Sombra e Água Fresca", entre outros.

Em meados dos anos 70, Neville George se afastou da dublagem e foi trabalhar em um telejornal como apresentador na TV Tupi de São Paulo.

Em 1999 quando a emissora Rede TV! foi inaugurada, Neville George foi chamado para ser o locutor da mesma.


Na dublagem se destacou-se por grandes personagens como a terceira voz de Barney Rubble na série clássica de "Os Flintstones"James T. West interpretado por Robert Conrad na série "James West"Drº Leonard McCoy interpretado por DeForest Kelley na primeira temporada de "Jornada Nas Estrelas"Omir em "Viagem Ao Fundo Do Mar"Drº Doug Phillips interpretado por Robert Colbert em "O Túnel do Tempo"Coronel Hogan em "Guerra, Sombra e Água Fresca", além de ter narrado algumas vezes o desenho animado "A Corrida Maluca" e a abertura de "Além da Imaginação".

Muito novo, com aproximadamente 20 anos, Neville George casou com Ruth Maria e desta união nasceram Adriana e André.

Casou com Siomara Nagy, locutora e dubladora.

Aos 40 anos, depois de se separar da Siomara NagyNeville George se casou novamente com Maria Cristina e desta união nasceram Fabiana Trebilcock e Manuella.

Neville George lutava contra um Câncer no Pâncreas, e veio a falecer no dia 19 de outubro de 2002, deixando uma marca na dublagem brasileira e deixando o seu trabalho de narração da Rede TV!, aonde era admirado por muitos. Esse é mais um dos grande profissionais da dublagem do nosso país.

Escute AQUI a voz de Neville George.

Adélia Iório

ADÉLIA IÓRIO
(87 anos)
Apresentadora e Atriz

* São Paulo, SP (08/02/1924)
+ São Paulo, SP (15/06/2011)

Adélia Iório nasceu em São Paulo, em 8 de fevereiro de 1924. Ela era apresentadora do programa "Adélia e Suas Trapalhadas", a partir da metade da década de 60 na TV Excelsior de São Paulo. Nessa emissora também trabalhava o seu esposo, o ator Átila Iório. O casal tinha um filho.

Adélia Iório começou a carreira no cinema em 1945. O primeiro filme em que participou foi "No Trampolim da Vida"

Adélia Iório estrelou nos filmes "Os Três Cangaceiros" (1959); "Só Naquela Base" e "Os Dois Ladrões"  (1960); "Um Candango na Belacap" e "O Dono da Bola" (1961); "Bom Mesmo é Carnaval" (1962); "Sonhando Com Milhões" (1963); "Engraçadinha Depois dos Trinta" (1966); "No Paraíso das Solteironas" e "Deu a Louca no Cangaço" (1969); "Nua e Atrevida", "Jeca e o Bode" e "Os Desempregados" (1972); "Uma Tarde Outra Tarde" (1974) e "Pedro Bó, o Caçador de Cangaceiros" (1976).

Na televisão, Adélia Iório foi apresentadora e atriz. Apresentou programas e também fez várias novelas. Na TV Globo, Adélia Iório fez parte do elenco da novela "Locomotivas", em 1977.

Uma curiosidade, embora seja triste, ocorreu no programa de Adélia Iório num certo dia de 1970. Ferreira Netto, que era na época o diretor da emissora, entrou intempestivamente no estúdio e falou no ar que a emissora havia sido cassada pelo governo e portanto ia deixar de existir. Foi retirado o "cristal" e a emissora saiu do ar. Todos choraram, pois foi realmente um momento muito triste.

Adélia Iório faleceu em 10 de dezembro de 2002.

Fonte: Museu da Fama e Adriano Reis

Sérgio Bernardes

SÉRGIO WLADIMIR BERNARDES
(83 anos)
Arquiteto

* Rio de Janeiro, RJ (09/04/1919)
+ Rio de Janeiro, RJ (15/06/2002)

Sérgio Bernardes foi exímio arquiteto de prédios, designer de móveis, projetista de automóveis e aeroplanos, planejador urbano, pensador de sistemas, piloto de corridas, candidato a prefeito do Rio de Janeiro, professor e, sobretudo, uma pessoa cativante e irresistível para todos que o conheceram.

Nascido no Rio de Janeiro, desde jovem Sérgio Bernardes pilotava monomotores, e disputava corridas pela cidade.

Cursou arquitetura pela Faculdade Nacional de Arquitetura da Universidade do Brasil, hoje Universidade Federal do Rio de Janeiro. Um ano antes de sua graduação, um dos seus projetos, o Country Club de Petrópolis, foi publicado na revista francesa L’Architecture d’Aujourd’hui, em edição dedicada à nova arquitetura brasileira.

Graduado em 1948, trabalhou com Lúcio Costa e Oscar Niemeyer no início de sua carreira, sendo autor de obras representativas como o projeto do pavilhão brasileiro na Feira Mundial da Bélgica em 1958, do Pavilhão de São Cristóvão, do Centro de Convenções de Brasília, do Mastro da Bandeira Nacional de Brasília e do Hotel Tropical Tambaú em João Pessoa. Também concebeu um grande número de projetos encomendados por órgãos públicos, no entanto destacou-se por seus projetos residenciais. São dele os projetos de casas de muitas celebridades, como a do cirurgião plástico Ivo Pitanguy.

Ao longo de sua carreira Sérgio Bernardes venceu algumas Bienais, dentre elas a de Veneza, em 1964, cujo prêmio em dinheiro trocou por uma Ferrari, que levava em suas viagens ao exterior e pilotava em autódromos.

O imóvel onde funcionava seu antigo escritório, na Barra da Tijuca, Rio de Janeiro, transformou-se em 1999 na boate A Nuth Lounge.
Sérgio Bernardes apresentando Plano para o Rio de Janeiro (Foto: Divulgação)
O Livro "Sérgio Bernardes"

A última mulher do grande Sérgio Bernardes, Kykah Bernardes escreveu, com Lauro Cavalcanti, diretor do Paço Imperial, um livro sobre a obra do visionário e notável arquiteto que morreu em 2002. O lançamento de "Sérgio Bernardes", pela editora ArtViva, foi na Livraria Argumento do Leblon. Ivo Pitanguy e Mariza Monte também prestigiaram.

Sérgio Bernardes foi um pioneiro, um audacioso do traço, um bon vivant, bom amigo, amante das mulheres e, sobretudo, um arquiteto extraordinário. Entre suas audácias, está o Pavilhão de São Cristóvão, com seu telhado côncavo, "o maior vão do mundo", que infelizmente o poder público não conservou, deixou despencar, fazendo com que a obra única acabasse virando apenas mais uma arena.

Sérgio Bernardes, um homem afável, que não colecionava atritos, acabou vítima de seu próprio temperamento conciliador, quando não soube dizer não à encomenda de um mastro de bandeira fincado em Brasília, na Praça dos Três Poderes, pelos Governos Militares. Mal sabia ele que isso seria visto como um gesto colaboracionista e uma ofensa ao conjunto da obra de Lúcio Costa e Oscar Niemeyer. Pelo resto de sua vida, o genial Sérgio Bernardes passou a ser alvo de constrangimentos e preconceitos. Mas sua obra magnífica e sua personalidade notável, com o tempo, transformaram o episódio numa página inexpressiva de sua história profissional.

Morte

Sérgio Bernardes, de 83 anos, morreu na manhã do dia 15/06/2002 em sua casa, no Rio de Janeiro. A morte ocorreu por Falência Múltipla dos Órgãos, decorrente de um derrame que, nos últimos dois anos, havia paralisado parcialmente seus movimentos. Sérgio Bernardes  foi sepultado no Cemitério de João Baptista.

Apesar do derrame, Sérgio Bernardes ainda trabalhava.  Passou os últimos momentos envolvido na recuperação do Pavilhão de São Cristóvão, projetado por ele em 1958. "Nunca parou de produzir. Estava sempre envolvido em algum projeto", contou Maria Rosa Bernardes, nora do arquiteto. Sérgio Bernardes deixou dois filhos e nove netos.

Pavilhão de São Cristovão
Principais Obras

  • 1951 - Residência Lota Macedo Soares
  • 1958 - Pavilhão Brasileiro na Feira Mundial da Bélgica
  • 1958 a 1960 - Pavilhão de São Cristóvão, Rio de Janeiro
  • 1966 - Hotel Tropical Tambaú em João Pessoa
  • 1972 - Centro de Convenções de Brasília
  • 1972 - Mausoléu do ex-General Castello Branco, Fortaleza, Ceará
  • 1980 - Aeroporto Internacional Presidente Castro Pinto
  • 1989 a 1990 - Casa Kouri
  • Hotel Tropical de Manaus
  • Residência Turkson

Premiações

  • 1º Prêmio na 2ª Bienal Internacional de São Paulo, com a residência Lota de Macedo Soares
  • 1952 - Bienal de Veneza, com a residência Jadir de Souza
  • 1958 - Exposição de Bruxelas, com o Pavilhão do Brasil
  • 1964 - Bienal de Veneza