Mostrando postagens com marcador 1949. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador 1949. Mostrar todas as postagens

Alfredo Balena

ALFREDO BALENA
(68 anos)
Médico, Farmacêutico e Humanista

* Nápoles, Itália (17/11/1881)
+ Belo Horizonte, MG (23/12/1949)

Alfredo Balena foi farmacêutico, médico e humanista ítalo-brasileiro. Foi um dos mais importantes fundadores da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais.

Com a idade de 2 anos ele foi para Ouro Preto, MG, onde passou sua meninice e juventude. Alí estudou as primeiras letras e ensaiou os primeiros passos. Seu ideal era a Medicina. Porém, como frisa o professor Oscar Versiani, não pôde logo estudar em vista da febre amarela que assolava o Rio de Janeiro. Em Ouro Preto mesmo, estudou Farmácia, diplomando-se em 1901.

Amainado o perigo da febre amarela no Rio de Janeiro, foi fazer seu curso médico, tendo-o terminado em 08/05/1907, quando defendeu, de modo brilhante, a tese: "Preservação da Infância contra a Tuberculose".

Em 1908 abriu seu consultório em Belo Horizonte, onde clinicou até a morte.

Alfredo Balena foi médico chefe de serviço da Enfermaria Veiga de Clínica Médica de Mulheres da Santa Casa de Misericórdia de Belo Horizonte por mais de 40 anos, entre 1908 e 1949. Nesse período, foi também membro do Conselho Médico Consultivo da direção médica da Santa Casa.

Fotografia, sem data precisa, da antiga sede da Faculdade de Medicina, inaugurada em 1914 na Avenida Mantiqueira, atual Avenida Alfredo Balena
Foi fundador, juntamente com outros 11 médicos, da atual Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais em 1911, àquela época denominada simplesmente de Faculdade de Medicina de Belo Horizonte. Foi importante integrante da comissão dos trabalhos para a criação da Universidade de Minas Gerais (UMG), atual Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), criada em 07/09/1927. Foi diretor da Faculdade de Medicina de Belo Horizonte por quase 20 anos, 1927-1933 e 1935-1949, com interrupção forçada de dois anos, de março de 1933 a junho de 1935, pois foi obrigado a deixar o cargo, italiano que era de origem, sob a alegação de não ser permitido o exercício de cargos de direção pública a não-brasileiros natos. Nesse período, assumiu a direção o seu vice-diretor, professor Antônio Aleixo, de março de 1933 a maio de 1934, catedrático de Dermatologia e Sifilografia.

Ao ser restabelecida a autonomia da Universidade de Minas Gerais, que fora cassada por Getúlio Vargas, assumiu a direção o professor Olinto Meireles, de maio de 1934 a junho de 1935, catedrático de Farmacologia.

Em 1935, com a nova lei que estabelecia normas para a eleição de diretores e cancelava a exigência anterior que qualquer dirigente fosse brasileiro nato, Olinto Meireles considera terminado o seu mandato.

Com a eleição e recondução de Alfredo BalenaOlinto Meireles é escolhido vice-diretor. Foram ainda vice-diretores de Alfredo Balena, em mandatos seguintes, os professores João de Melo Teixeira e Luís Adelmo Lodi.

Em 1946 foi aprovado o plano de obras de construção do novo hospital, o Hospital São Vicente de Paulo, anexo à Faculdade de Medicina, hospital-escola para os estudantes de medicina, hoje chamado Hospital das Clínicas de Belo Horizonte.

Durante o mandato de Alfredo Balena ocorreu a federalização da Universidade, cujo empenho na comissão dos trabalhos para a federalização da Faculdade de Medicina, ocorrida em 1949, foi de extrema importância.

Calçamento da Avenida Professor Alfredo Balena em Belo Horizonte, MG
Alfredo Balena presidiu a Associação Medico-Cirúrgica de Minas Gerais em 1916, de 1921 a 1927 e 1935, e o Sindicato Médico de Minas Gerais. Foi membro do Instituto Histórico de Ouro Preto, membro honorário da Academia Paulista de Medicina, membro honorário da Academia de Ciências Psicoquímicas de Palermo, na Sicília, membro correspondente da Sociedade de Medicina e Cirurgia de São Paulo, membro correspondente da Sociedade de Neuriatria e Psychiatria do Rio de Janeiro. Participou do Conselho Científico da Revista Médica de Minas na área de Clínica Médica, sob a direção científica do professor Lopes Rodrigues catedrático de Clínica Psiquiátrica da Faculdade de Medicina de Minas Gerais e docente da Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro. É o patrono da cadeira nº 57, Medicina Interna - Clínica Médica, da Academia Mineira de Medicina.

Na Faculdade de Medicina, foi professor de Fisiologia, Patologia Geral, Propedêutica Médica, Neurologia, Psiquiatria e catedrático de Clínica Médica. Era participante da comissão de redação da Revista Annaes da Faculdade de Medicina da UMG, colaborador efetivo da Revista Mineira de Medicina, órgão oficial da Associação Médico Cirúrgica de Minas Gerais, da Associação Mineira dos Farmacêuticos e da Sociedade Mineira de Odontologia.

Em 1944, convidou seu amigo e compatriota Luigi Bogliolo, residente àquela época no Rio de Janeiro, onde era professor catedrático de Clínica Médica da Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, na época simplesmente Universidade do Brasil, para se tornar professor catedrático de Anatomia e Fisiologia Patológica da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Pouco mais de um ano após a chegada de Luigi Bogliolo a Belo Horizonte, terminava a Segunda Guerra Mundial.

O espírito liberal e conciliador de Alfredo Balena poderia ser demonstrado pela citação de diversos episódios, um deles envolvendo o então diretor da Faculdade de Medicina e o então estudante Hélio Pellegrino, formado em 1947. Em seu livro "A Burrice do Demônio", publicado logo após sua morte, o escritor, poeta e psicanalista Hélio Pellegrino cita a seguinte passagem:

"Outro dia, remexendo velhos papéis, encontrei cópia de uma carta por mim endereçada ao professor Alfredo Balena, na época diretor da Faculdade de Medicina da Universidade de Minas Gerais. O documento traz a data de 7 de maio de 1946 e se destina a solicitar, do mestre venerado, ajuda da Escola para a publicação do jornal Geração, órgão da União Estadual dos Estudantes. Tinha eu, naquele tempo, 22 anos e - conforme convém à juventude - nutrida prosápia. Como redator-chefe do jornal, avisava ao professor Balena, 'por dever de lealdade', que as subvenções 'seriam levadas em conta de compreensão e estímulo aos ideais da mocidade, sem que nelas se configurasse qualquer espécie de compromisso'. Além do mais, era dito, na carta, com todas as letras, que o quinzenário da União Estudantil dos Estudantes teria 'nítida tendência socialista', dispondo-se a dizer a verdade duramente, 'na certeza de ser esta a única forma de fidelidade aos interesses do povo e da classe estudantil'.
Veio a subvenção, veio o primeiro número do jornal, com suas duras verdades. Na página de rosto, Wilson Figueiredo, hoje jornalista ilustre, me estrevista a propósito da vida, do amor, da morte - e da política. Tenho guardado esse número inaugural de Geração, salvo por acaso dos roazes ácidos do tempo."

Alfredo Balena faleceu em 23/12/1949, dias após do decreto que federalizava a Faculdade de Medicina da Universidade de Minas Gerais (UMG), outro velho sonho seu, para cuja concretização lutou obstinadamente. Morreu após quatro anos de terrível sofrimento, durante os quais conviveu estoicamente com repetidas crises de angor pectoris.

Pela grande proximidade e envolvimento com os alunos da Faculdade, foi conferido, após seu falecimento, ao órgão de representação dos alunos o nome de Diretório Acadêmico Alfredo Balena. Entre outras homenagens em reconhecimento aos serviços prestados à terra adotiva, seu nome foi dado à antiga Avenida Mantiqueira, hoje Avenida Alfredo Balena, onde situa, ainda hoje, a Faculdade que ajudou a criar e que tanto amou.

Obras

  • "Álbum Médico de Bello Horizonte - História da Santa Casa de Misericórdia de Bello Horizonte", 1912, constante na Biblioteca Pública Luís de Bessa de Belo Horizonte.
  • "Anatomia Patológica", oferta do Diretório Acadêmico Alfredo Balena - DAAB à Biblioteca J. Baeta Vianna, em 24 de março de 1969 - diretoria 68/69.
  • Oscar Caldeira Versiani reuniu seus trabalhos em três volumes intitulados "Obras do Professor Alfredo Balena", constantes da Biblioteca J. Baeta Vianna da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
  • Biblioteca de livros de Medicina e Biblioteca de livros de Literatura, doados à Faculdade de Medicina, como consta do seu inventário.

Trabalhos Científicos

  • Tese de doutoramento sobre "Preservação da Infância Contra a Tuberculose", aprovada com distinção, apresentada na conclusão do Curso de Medicina pela Faculdade Nacional de Medicina do Rio de Janeiro da Universidade do Brasil - 1907.
  • "Diagnóstico Precoce da Tuberculose Pulmonar", Memória apresentada no VI Congresso de Medicina e Cirurgia - 1911.
  • "Bradicardias Gripais", Memória apresentada ao VIII Congresso Brasileiro de Medicina e Cirurgia - 1918.
  • "Syndrome de Adams-Stokes Post Grippaes" em Archivos Brasileiros de Medicina - 1919.
  • "Tratamento da Choréa de Sydenham Pelas Injecções Intra-racheanas de Electrargol", Memória apresentada no I Congresso Brasileiro da Criança - 1922.
  • "Epilepsia Endócrina" em Jornal dos Clínicos - 1926.
  • "Novo Processo Terapêutico da Coréia de Sydenham" - Leuzinger - 1926 - Rio de Janeiro.
  • "Superioridade Intellectual e Desequilibrios Endócrinos", Brasil Médico - 1927.
  • "Desordens do Rithmo Cardíaco na Ancylostomiose", Memória apresentada no X Congresso Brasileiro de Medicina e Cirurgia - 1929.
  • "Desordens Reflexas do Ritmo Cardíaco na Uncinariose" - 1929.
  • "Derrames Pleurais nos Cardíacos" - 1930.
  • "Giardiose Biliar", Brasil Médico - 1934.
  • "Estudo Clínico da Giardiose Humana" - Memória apresentada no VI Congresso Médico Pan-Americano - 1935.
  • "Esplenomegalia Esquisotossomótica" - 1935.
  • "Insuficiência Cardíaca Incipiente" - 1935.
  • "A Giardiose e Sua Terapêutica" - 1938 e 1939.
  • "Vitamina A e a Resistência a Tuberculose Pulmonar" - 1940.
  • "Da Síndrome Gastro-Cardíaca de Roemheld" - 1946.
  • Diversas lições clínicas publicadas em várias revistas de Belo Horizonte e do Rio de Janeiro.


Fonte: Wikipédia

João Turin

JOÃO ZANIN TURIN
(70 anos)
Escultor

* Morretes, PR (21/09/1878)
+ Curitiba, PR (09/07/1949)

Considerado o precursor da escultura no Paraná, João Turin deixou um considerável acervo que inclui pequenas esculturas e baixos-relevos, pinturas, monumentos históricos e outras obras em locais públicos da capital e municípios paranaenses. João Turin destacou-se e é reconhecido como escultor animalista sendo premiado no Salão Nacional de Belas Artes no Rio de Janeiro em 1944 e 1947.

Também dedicou-se a pintura, porém, nunca almejou ser pintor. Chamava suas pinturas de "emoções" pois pretendia apenas representar lugares e temas que tivessem de alguma forma lhe inspirado.

De formação acadêmica, o artista iniciou seus estudos na Escola de Artes e Ofícios de Antônio Mariano de Lima em Curitiba, onde atuou como aluno e professor.

Aos 27 anos com auxílio do Estado, seguiu para a Bélgica e especializou-se em escultura na Real Academia de Belas Artes de Bruxelas, sob os ensinamentos do reconhecido mestre da estatuária, o belga Charles Van der Stappen. Por merecimento curricular, João Turin conquistou como prêmio um ateliê, carvão para aquecimento e modelo vivo. Dos diversos trabalhos realizados na academia, destaca-se a obra "Exílio".

Retornou ao Brasil em novembro de 1922, centenário da Independência e expos no Rio de Janeiro a estátua de Tiradentes, trabalho executado em Paris, nesse mesmo ano e que recebeu boas referências na imprensa francesa.

João Turin nasceu em Porto de Cima, município de Morretes, Paraná, no dia 21/09/1878 e faleceu em Curitiba, PR no dia 09/07/1949, aos 70 anos.

Fragmentos de Uma Passagem

Corria o ano de 1947. O marechal Eurico Gaspar Dutra vencia as eleições para a presidência da República, pelo Partido Social Democrático (PSD). O povo também elegia governadores para todos os estados e prefeitos para todas as cidades brasileiras. A imprensa noticiava o acontecimento máximo do ano, a visita ao Brasil do presidente dos Estados Unidos, Harry Trumann.

No Paraná, elegia-se pelo mesmo partido de Eurico Gaspar Dutra, Moisés Lupion, governador do Estado. O café ainda era a base da economia brasileira.

João Turin recebia duas premiações, a Medalha de Ouro no Salão Nacional de Belas Artes, no Rio de Janeiro com a escultura "Luar do Sertão" e concomitantemente, no Salão Paranaense em Curitiba, com o busto do mestre e filósofo Dario Veloso.

No tempo em que os salões ofereciam medalhas, a de ouro era a láurea e ambição maior do artista. João Turin referiu-se a essa conquista e a sua viagem ao Rio de Janeiro em um dos inúmeros manuscritos que deixou.

"Saí de Curitiba dia 15 de novembro de 1947, às duas horas e vinte minutos no avião da Cruzeiro do Sul, com meu tigre, para expô-lo no Salão Nacional de Belas Artes, no Rio de Janeiro. Cheguei às quatro horas e vinte e cinco minutos no Rio. Em toda minha vida só vi um tapete branco sob meus pés. Estava a três mil pés. Só pude ver o Cristo do Corcovado quando cheguei no Rio. O Último dia de entrega dos trabalhos estava fixado para o dia 15 de novembro e, sendo feriado, só pude entregar o tigre na segunda-feira, dia 17. Exposto na sala de entrada do Salão, não podia estar em melhor lugar. Obtive a Medalha de Ouro. Antes tarde do que nunca. Possuísse os meios que tenho hoje, quando estava em Paris, tinha certamente aberto um glorioso caminho, pela vontade e amor que tinha de produzir. Jovem e cheio de vida, tinha que trabalhar para outros que obtinham medalhas no Salão com as obras retocadas por mim. Assim mesmo, depois de tantos anos de esperança, não de receber medalhas, sim de fazer alguma obra que me satisfizesse completamente e que ainda não cheguei a este gozo e satisfação pessoal. Medalhas, diplomas, elogios, me entristecem, porque não fiz nada que possa me satisfazer..."
(Doc. 131 s/d JT - Arquivo da Casa João Turin)

Em 1944, João Turin recebeu no Salão Nacional do Rio de Janeiro com a escultura "Tigre Esmagando a Cobra"  uma Medalha de Prata. O artista vendeu as duas obras à Prefeitura do Rio de Janeiro. Ambas foram colocadas, em espaços públicos da cidade. "O Tigre Esmagando a Cobra", no Zoológico da Quinta da Boa Vista e "Luar do Sertão" na Praça General Osório. Em Curitiba uma reprodução de cada obra foi colocada, a primeira na Avenida Manoel Ribas, entrada do Parque Barigüi e a outra na Avenida Cândido de Abreu, próxima à Prefeitura.

João Turin permaneceu no Rio de Janeiro algum tempo para resolver os trâmites burocráticos referentes à venda das obras. Todas as vezes que ia ao Rio de Janeiro hospedava-se na casa do pintor Theodoro De Bona, marido de sua sobrinha Argentina.

Em 1947, a família De Bona vem para Curitiba passar as férias de verão e João Turin, como de costume, por necessidades profissionais ligadas ao Salão Nacional do Rio de Janeiro, hospeda-se na casa da sobrinha, responsabilizando-se pela segurança da residência e pelos cuidados com o cachorro, apelo constante de De Bona nas cartas enviadas a João Turin.

O calor intenso do Rio de Janeiro de 40º à sombra, abalou a saúde de João Turin. Mesmo sem concluir as negociações com a prefeitura, o artista retornou a Curitiba no início de maio de 1948. As negociações da venda da obra só foram ultimadas em setembro. Theodoro De Bona e Erbo Stenzel resolveram os assuntos pendentes.

A década de 40 foi de muito trabalho e compromissos para o artista, o que por um lado lhe deu segurança financeira e notoriedade, por outro, agravou sua saúde já debilitada. Era visível o abatimento do escultor, havia perdido peso e seu coração cansado dava sinais de alerta.

João Turin morreu trabalhando, deixou obras inacabadas. "As Quatro Estações", encomenda do governador Moisés Lupion, atualmente, reproduzidas em bronze, ficaram no cavalete e quem as retocou foi o escultor Erbo Stenzel.

Nos poucos dias que antecederam à sua morte, recebeu o comunicado de que havia obtido o primeiro lugar no concurso Pró-Monumento a Vicente Machado. Os bustos de João Gualberto, Dulcídio Lacerda e Sarmento de Morais, que deviam ser entregues em curto espaço de tempo para a Polícia Militar do Paraná, nem foram iniciados.

João Turin desejava viver mais. Prognosticou sua morte para 1972, no projeto de seu próprio jazigo. Não deu certo, a matemática da vida subtraiu-lhe vinte e três anos.

Queria fazer muitas fontes para Curitiba, "Dos Amores", "Do Primeiro Beijo", "Da Beleza", "Da Inocência", "Dos Curiosos" e muitas outras. No Paraná mais de vinte monumentos são de sua autoria.

"A arte é expressão de nossa vida, de nossas paixões, de nossos vícios e virtudes", dizia ele. Afirmava também que os artistas que se revoltaram contra o jugo dos pontífices foram os responsáveis pela liberdade e a renovação da arte.

Para ele, depois de Monet e de Cézzane, tudo se anarquizou e não podia admitir a falta de senso crítico daqueles que aceitavam tudo como arte.

João Turin, na Academia Real de Bruxelas, trabalhando na obra Exílio (1910)
Indignado com a demolição do antigo Teatro Guaíra, em 1947, desejou construir um teatro de estilo para Curitiba. Embora o arquiteto João De Mio lhe dissesse em carta para não se preocupar com isso, pois Curitiba estava suja, as ruas malconservadas, a cidade não merecia um teatro, existiam outras prioridades. O Pavilhão Carlos Gomes está muito bom, dizia João De Mio.

A mesma indignação causou a demolição de seu ateliê, no início da década de 50. Construído de acordo com o seu projeto e com características decorativas arquitetônicas próprias, onde a fauna, a flora paranaense e o índio se compunham em perfeita harmonia. Os motivos eram nossos, não precisávamos copiá-los dos modelos europeus, afirmava João Turin.

O pinheiro foi o ícone do estilo paranaense, criado por João Turin, e pelos pintores Lange de Morretes e João Ghelfi.

O Salão Paranaense na antiga sede do Clube Curitibano na Rua XV de Novembro e a residência do Drº Leinig na Rua José Loureiro, ambos em Curitiba, também não foram preservados.

João Turin foi um homem de boas relações e amigos. Era admirado pelo seu temperamento alegre, por sua simplicidade e franqueza, desde os tempos da Europa.

Em 1998, em comemoração aos 120 anos de nascimento do escultor, foi lançado o livro "A Arte de João Turin", projeto da sobrinha-neta do artista, Elisabete Turin, contando a trajetória do homem e do artista que ele foi. O livro também traz textos do professor e crítico de arte, Fernando Bini, do artista plástico Loio Pérsio e do Drº René Ariel Dotti, responsável pela instalação da Casa João Turin, na sua gestão como Secretário de Estado da Cultura.

Em 1999, foi realizado pela Secretaria Municipal de Educação um vídeo sobre a Casa e sobre João Turin, serviço da TV Professor.


Paulo da Portela

PAULO BENJAMIN DE OLIVEIRA
(47 anos)
Cantor e Compositor

* Rio de Janeiro, RJ (17/06/1901)
+ Rio de Janeiro, RJ (31/01/1949)

Paulo Benjamin de Oliveira tem sua história confundida com o surgimento e a fixação do próprio samba na cidade do Rio de Janeiro. De origem negra e proletária, vivendo no subúrbio carioca de Oswaldo Cruz, logo percebeu a importância desse gênero musical e a possibilidade de organização e valorização de sua gente a partir do samba.

Paulo foi capaz de interferir positivamente e contribuir para que o samba, da forma como era cultivado nos morros, se popularizasse.

Nascido em 17/06/1901, na Santa Casa de Misericórdia, era filho de Joana Baptista da Conceição e Mário Benjamin de Oliveira, que mais tarde abandonaria a mulher e os três filhos, tornando-se uma figura nebulosa na vida de Paulo.

Paulo só teve a instrução primária e trabalhou desde cedo para ajudar a família que mudou-se para Oswaldo Cruz no início dos anos 20. O subúrbio de então era comparado a uma roça, sem estrutura apropriada para abrigar a população de baixa renda. Porém, os pobres se divertiam em fandangos e em animados pagodes. Como muitos moradores vinham do Estado do Rio de Janeiro ou de Minas Gerais, cultivava-se o Jongo e o Caxambu.

Aos 20 anos de idade, Paulo já era conhecido por suas boas maneiras e jeito elegante em se vestir, apesar dos poucos recursos. Frequentador assíduo de festas, ajudava em suas organizações tendo fundado o primeiro bloco (e pretenso rancho como o costume da época) de Oswaldo Cruz: o "Ouro Sobre Azul".

Paulo da Portela, Heitor dos Prazeres, Gilberto Alves, Alcebíades Barcelos e Armando Marçal
Os pais de Natalino José do Nascimento (o "Seu Natal"), que viria a ser, muito mais tarde, presidente do Grêmio Recreativo Escola de Samba Portela, relacionavam-se com alguns sambistas do bairro do Estácio, entre eles os jovens bambas Ismael, Aurélio, Baiaco e Brancura, que passaram a travar relacionamento com Paulo.

Em 1922, ao lado dos companheiros Antônio Rufino dos Reis e Antônio da Silva Caetano, Paulo fundou o bloco "Baianinhas de Oswaldo Cruz". Vem dessa época o nome artístico Paulo da Portela (referência à Estrada do Portela), que servia para diferenciá-lo de outro Paulo, também sambista, de Bento Ribeiro. O nome Portela ficou conhecido inicialmente a partir do próprio Paulo. A escola veio depois.

Os três companheiros passaram a se reunir sob uma mangueira no número 461 da Estrada do Portela, visando uma atividade sócio-cultural que reunisse os amigos. Foi um sucesso e virou uma referência de samba no bairro.

No dia 11/04/1926, fundou-se o "Conjunto Carnavalesco Escola de Samba de Oswaldo Cruz". Antes de estabelecer-se na Estrada do Portela, a futura agremiação teve muitas sedes provisórias. A mais curiosa foi um vagão do trem que partia da Central do Brasil às 6:04 hs em direção ao subúrbio, onde os sambistas se reuniam diariamente para passar o samba. Um grupo saía de Oswaldo Cruz para encontrá-los pontualmente na Central do Brasil e dar início à atividade.

Aos domingos, todos conheciam os sambas ensaiados durante a semana. Conta-se que Paulo advertia quem se comportava mal e dava bom exemplo usando terno, gravata e chapéu, sendo seguido por alguns companheiros. "Seu Paulo", como fazia questão de ser chamado, gostava de ver todos com "pés e pescoços ocupados".


Paulo da Portela tinha consciência de que a atividade artística que produziam era rica e poderia tornar-se profissional, daí a preocupação em diferenciar a imagem do sambista do malandro vadio perseguido pela polícia. Paulo era conhecido por "professor" e é assim que muitos sambistas, ainda hoje, se referem a ele.

A Portela apresentou-se pela primeira vez com o nome "Quem Nos Faz é o Capricho", no carnaval de 1930. A partir de 1931, desfilou com o nome de "Vai Como Pode". A partir do dia 01/03/1935, a escola assumiu o nome Grêmio Recreativo Escola de Samba Portela, a pedido de um delegado de polícia que não gostava do antigo nome.

Inúmeros depoimentos dão testemunho da criatividade, inteligência e liderança de Paulo da Portela, de fato um verdadeiro professor que, apesar do baixo nível de escolaridade, lia muito e expressava-se muito bem, capaz de memoráveis discursos improvisados. Seus sambas cantam o próprio samba e o jeito simples da vida suburbana, cantam o amor da forma mais singela e terna, exaltam a mulher e a cidade que o conheceu e o aplaudiu. Paulo da Portela foi um sambista, mas também um cronista de sua gente simples que tanto soube valorizar.

Paulo afastou-se de sua escola querida em 1941 após desentendimento em pleno desfile, saindo magoado como revelam os versos de "O Meu Nome Já Caiu No Esquecimento":

"O meu nome já caiu no esquecimento
O meu nome não interessa a mais ninguém
E o tempo foi passando
E a velhice vem chegando
Já me olham com desdém

Ai quantas saudades
De um passado que se vai no além
Chora, cavaquinho, chora
Chora, violão, também

O Paulo no esquecimento
Não interessa a mais ninguém
Chora, Portela
Minha Portela querida
Eu que te fundei
Serás minha toda vida"


Paulo saiu da Portela e levou seu carisma para a Lira do Amor, pequena escola que o recebeu de braços abertos. Poderia ter ido para o Estácio ou a Mangueira, onde tinha companheiros como o compositor Cartola, mas já era muito conhecido e foi emprestar seu nome e sua imagem a Lira do Amor, escola de Bento Ribeiro.

Paulo da Portela faleceu em 31/01/1949, vítima de um Ataque Cardíaco. Seu cortejo fúnebre foi acompanhado por cerca de 15.000 pessoas. O comércio de Madureira fechou na véspera de mais um carnaval para chorar de saudade por seu poeta e professor.

Nas inúmeras rodas de samba que alegram a cidade, Paulo da Portela é lembrado pelos versos de "O Quitandeiro" (samba cuja segunda parte é assinada por Monarco, compositor e integrante da Velha Guarda da Portela). "Cocorocó" é outro divertido samba, para sempre registrado na voz de Clementina de Jesus.

No ano de seu centenário de nascimento, 2001, esperava-se uma homenagem maior da agremiação que ajudou a fundar. Mas a Portela não correspondeu aos desejos dos admiradores da obra de Paulo da Portela. No carnaval de 2001, o professor foi homenageado pelo bloco Mis a Mis com o enredo "De Pés e Pescoços Ocupados".

Indicação Miguel Sampaio