Ademar Casé

ADEMAR DA SILVA CASÉ
(90 anos)
Radialista

* Belo Jardim, PE (09/11/1902)
+ Rio de Janeiro, RJ (07/04/1993)

Ademar da Silva Casé, radialista, pai do diretor de teatro e TV Geraldo Casé, e avô da atriz Regina Casé, filho de João Francisco Casé e Rita Leopoldina Casé. Nascido na cidade interiorana de Belo Jardim, PE, aos cinco anos de idade teve de fugir da cidade com a família pois seu pai sofria ameaças de morte por questões políticas. João Francisco Casé havia feito campanha pra um compadre que concorria à prefeitura. Os votos não eram secretos e quem venceu foi o outro candidato.

Naquela época era comum esse tipo de perseguição. Política era questão de vida ou morte. Um dia anterior à fuga, um outro compadre dele havia sido assassinado. Através de um amigo da família, João Casé ficou sabendo que quatro homens estavam prontos para assassiná-lo, antes que a noite terminasse.

O tempo passou e João Francisco recebeu a notícia de que a situação em Belo Jardim estava novamente a seu favor. Seu compadre era finalmente o novo prefeito, o que foi determinante para o seu retorno a Pernambuco, no entanto por pressão de parentes e até mesmo de sua esposa, a nova morada seria em outra cidade, Caruaru, no ano de 1919.

Um imenso desafio esperava Ademar Casé e sua família naquele novo lugar. Uma epidemia mundial também atingiu a cidade. A Gripe Espanhola expandiu-se de uma maneira que em todas as residências alguém estava com o vírus. No lar de Ademar Casé não foi diferente. Todos na casa dele ficaram doentes, exceto sua mãe. O pai, João Francisco estava muito mal, não resistiu e morreu.

Em busca de melhores condições de vida e trabalho, Ademar Casé com apenas 17 anos, foi para Recife. As economias acabaram, o emprego não surgiu. As praças tornaram-se morada de Ademar Casé e a fome virou sua companhia. Através de um amigo de Caruaru, Ademar Casé conseguiu um emprego no Bilhares Recreio, no mais famoso e aristocrático salão de bilhar da Capital. Seu trabalho era varrer, arrumar o salão e organizar as mesas de bilhar.


Foi no Bilhares Recreio que Ademar Casé conheceu o capitão Rogaciano de Mello, e aproveitando a oportunidade Ademar Casé falou do seu interesse em ingressar na carreira militar. Afinal era uma grande oportunidade. Não demorou muito e ele já estava alistado no 21º Batalhão de Caçadores. Dias depois, Ademar Casé chegava no Rio de Janeiro com o grupamento militar.

Era 1922 o Rio de Janeiro fervia. O país estava vivendo um intenso clima político com a sucessão presidencial. O presidente Epitácio Pessoa elegeu o seu sucessor Arthur Bernardes, o que provocou revoltas e protestos em vários estados. O agrupamento militar com o qual Ademar Casé veio de Recife foi direcionado para a Vila Militar, primeiro regimento de Infantaria, um dos focos de oposição ao então novo presidente Arthur Bernardes.

Involuntariamente Ademar Casé entrou em combate, mas na Vila Militar diferentemente do que ocorreu no Forte, a revolta foi rapidamente abafada. Os envolvidos foram presos reenviados para outros estados. Ademar Casé foi preso e levado para São Paulo e depois transferido para a cidade de Rio Claro, ficando na Segunda Companhia de Metralhadoras Pesadas.

Dois meses depois, Ademar Casé foi posto em liberdade e embarcou no navio Lloyd de volta a Pernambuco. Mas o seu desejo de vencer na vida, de retornar a capital do país e "tentar a sorte na cidade grande" era cada vez maior. Fez alguns "bicos", juntou algumas economias e embarcou novamente para o Rio de Janeiro.

Após uma longa procura de emprego Ademar Casé conseguiu trabalho no Café Mourisco, um varejo de frutas. Lá conheceu um argentino que o convidou para trabalhar numa distribuidora de frutas argentinas no Brasil, permanecendo nesse emprego até o fim da Câmara de Comércio Brasil-Argentina que foi decretado pelo governo.


Em seguida trabalhou como corretor de imóveis, vendendo terrenos de um loteamento paradisíaco apresentado em plantas belíssimas. O que Ademar Casé e seus clientes não sabiam era que tudo não passava de uma farsa. Certo dia acompanhando um grupo de clientes numa visita ao loteamento, Ademar Casé e todos os clientes se decepcionaram. O lugar era terrível. Não tinha nada do que era apresentado no projeto e para completar um dos visitantes foi picado por uma cobra.

Novamente desempregado Ademar Casé tornou-se agenciador de anúncios para a revista Don Quixote e outras publicações como O Careta, Revista da Semana, Fon-Fon, Para Todos, Cena Muda e O Malho. Como o dinheiro era pouco, decidiu que precisava de mais um emprego e começou a ser vendedor de receptores Phillips.

Mais uma vez a criatividade e o espírito empreendedor desse nordestino ganharam asas. Com a lista telefônica na mão, Ademar Casé tinha nome e endereço de possíveis clientes. A tática era visitar as casas durante os dias úteis. Ele esperava o dono sair para trabalhar e só então tocava a campainha.

O segredo consistia em pedir para falar com o proprietário da casa chamando-o pelo nome como se realmente o conhecesse, em seguida falava para a esposa que tinha informações que o marido estava interessado em adquirir um rádio. E como a esposa nunca estava sabendo do assunto, e seria impossível saber, ele deixava o aparelho ligado e sintonizado na PRAA Rádio Sociedade do Rio de Janeiro, a melhor da época.

Quando voltava três dias depois a família já estava encantada pela novidade. Muitas vezes ainda contra a vontade o dono terminava comprando o aparelho. As vendas eram impressionantes e o diretor comercial da Philips do Brasil quis conhecer pessoalmente esse vendedor que chegava a levar 30 aparelhos no carro, vendia todos e voltava com um pedido de mais 27.


Aproveitando os contatos e a sua fama como grande profissional dentro da PhillipsAdemar Casé sugeriu a Vitoriano Borges, um dos diretores, o aluguel de um horário explicou que essa nova experiência seria ainda melhor e mais dinâmico do que o "Esplêndido Programa", programa de maior sucesso na época transmitida pela Rádio Mayrink Veiga.

Domingo, 14/02/1932, 20:00 hs, nasceu o "Programa Casé" que foi batizado em pleno ar. Ademar Casé não havia pensado em um nome para o programa e coube ao diretor da Rádio Phillips, Drº Augusto Vitoriano Borges improvisar:

"A Rádio Phillips do Brasil, PRAX, vai começar a irradiar o Programa Casé!"
Ainda em 1932, foi o primeiro a pagar cachês ao artistas. No mesmo ano, lançou o primeiro jingle comercial para a Padaria Bragança. Foi o primeiro também a fazer contratos de exclusividade, tendo contratado, em 1933, o cantor Sílvio Caldas.

Em 1936, foi responsável pelo lançamento da primeira novela do rádio brasileiro. Lançou diversos artistas, entre os quais, João Petra de Barros, Custódio Mesquita e Noel Rosa. Esse último, inclusive, atuou como contra regra em seu programa.

"Programa Casé" durou até 1951, quando foi convidado por Assis Chateaubriand para atuar na TV Tupi onde manteve seu espírito inovador com programas como "Noite de Gala".

Edmundo Peruzzi

EDMUNDO PERUZZI
(57 anos)
Regente, Arranjador, Instrumentista e Compositor

* Santos, SP (29/06/1918)
+ Santos, SP (03/11/1975)

Edmundo Peruzzi iniciou sua formação musical no Conservatório Musical de Santos, onde estudou sob a orientação de Sabino de Benedictis. Foi também integrante da Banda do Corpo de Bombeiros de Santos.

Em 1932, aos 14 anos de idade iniciou a carreira artística e apresentava-se como trombonista em espetáculos circenses. Em 1935, trocou o trombone pela flauta.

Em 1945, fundou Peruzzi e Sua Orquestra, passando a atuar em programas da Rádio Gazeta de São Paulo e apresentando-se em bailes realizados nos arredores da capital paulista. Gravou com sua orquestra seu primeiro disco, pela Continental, interpretando o choro "Perigoso" (Ernesto Nazareth) e a valsa "Em Pleno Estio" (R. Firpo). Gravou também com sua orquestra, com vocal de Armando Castro o samba boogie "Dança do Boogie-Woogie" (Carlos Armando) e o samba "Não Tenho Lar" (Carlos Armando e Orlando Barros). Gravou ainda, com um quarteto de saxofones o choro "Dedicação" (Orlando Costa, o Cipó).

Em 1948, a orquestra apresentou-se na Rádio Tupi de São Paulo.

Em 1951, contratado pela Rádio Mayrink Veiga, transferiu-se para o Rio de Janeiro, lá permanecendo por 10 anos e atuando à frente de várias orquestras radiofônicas. No mesmo ano, assinou com o selo Elite Special e lançou com sua orquestra os mambos "Italianinho" (Willy Franck e Gilberto Gagliardi) e "Caruaru" (Edmundo Peruzzi e Claribalte Passos). Ainda no mesmo ano, acompanhou com sua orquestra a cantora Neide Fraga e o grupo vocal Demônios da Garoa na gravação da marcha "Quando Chega o Natal" (Sereno) e do samba "Reveillon" (Francisco Ávila).

Em 1952 gravou os frevos "Frevo a Jato" (Lourival Oliveira) e "Estou Queimado" (Levino Ferreira).

Em 1953, com sua orquestra se apresentou no Teatro Municipal do Rio de Janeiro executando o "Moto Perpétuo" (Paganini) em ritmo de samba.

Em 1954, gravou com sua orquestra na Columbia o "Baião na África" (Edmundo Peruzzi e Avarese) e a barcarola "Rema, Rema" (Edmundo Peruzzi e Onízio Andrade Filho).

Edmundo Peruzzi  foi diretor da gravadora Discobras durante o período de 1957 a 1958.

Em 1958 lançou com sua orquestra de danças pela Polydor o samba rock "Rock Sambando" (Carlos Armando e Aires Viana) e o samba "Agora é Cinzas" (Bide e Marçal). Também na Polydor acompanhou a cantora Dalva de Andrade na gravação do mambo "No Azul Pintado de Azul" (Modugno e Migliacci), com versão de David Nasser e do bolero "Nunca Pensei" (José Batista e José Ribamar). Lançou pela Discobras o LP "Violinos e Teleco Teco".

Em 1959, fez a primeira das várias trilhas sonoras que compôs, para o filme "Depois do Carnaval", de Wilson Silva.

Em 1963, fez a trilha para o filme "O Cabeleira", de Milton Amaral. Fez a coordenação artística, orquestração e a regência da orquestra para o LP "As Grandes Escolas de Samba Com Orquestra e Coro", com gravações dos sambas enredo "Chica da Silva", "Rio dos Vice Reis", "Mestre Valentim", "Relíquias da Bahia", "Palmares", "Tristeza no Carnaval", "Mauá e Suas Realizações", "Vem do Morro" e "Toda Prosa".

Em 1964 realizou excursão para a Argentina.

Em 1967, apresentou-se no Paraguai.

Em 1968, fez a trilha sonora para "Traficante do Crime", filme de Mário Latini.

Em 1970, esteve no Peru onde realizou apresentações e fez arranjos para a orquestra do peruano Augusto Valderrama. Lançou ainda, pela Rosicler, o LP "Transa Junina".

Como arranjador, realizou gravações para artistas como Orlando Silva, Miltinho, Wilson Simonal, Clara Nunes e outros.

Discografia

  • 1970 - Transa Tunina (Rosicler, LP)
  • 1958 - Rock Sambando / Agora é Cinza (Polydor, 78)
  • 1958 - Violinos e Teleco Teco (Discobras, LP)
  • 1954 - Baião na África / Rema, Rema (Columbia, 78)
  • 1952 - Frevo a Jato / Estou Queimado (Elite Special, 78)
  • 1952 - Carioca / Aparecida (Elite Special, 78)
  • 1951 - Italianinho / Caruaru (Elite Special, 78)
  • 1945 - Perigoso / Em Pleno Estio (Continental, 78)
  • 1945 - Dança do Boogie-Woogie / Não Tenho Lar (Continental, 78)
  • 1945 - Dedicação / Pracinha (Continental, 78)

Indicação: Miguel Sampaio