Afrânio da Costa

AFRÂNIO ANTÔNIO DA COSTA
(87 anos)
Advogado e Esportista

☼ Macaé, RJ (14/03/1892)
┼ Rio de Janeiro, RJ (26/06/1979)

Afrânio Antônio da Costa foi um advogado e esportista brasileiro, filho de Mário Antonio da Costa e de Maria Izabel Costa, bacharel em Direito pela Faculdade Livre das Ciências Jurídicas e Sociais do Rio de Janeiro.

Colou grau em 28/12/1912 e advogou intensivamente no Fórum do Rio de Janeiro até 07/07/1931, para onde foi nomeado juiz de direito da 8ª Vara Criminal do Distrito Federal, após concurso. De sua documentação consta a certidão especificada de 694 causas por ele patrocinadas nos 18 anos de advocacia.

Ele foi o chefe da equipe brasileira de tiro esportivo e ganhou a medalha de prata nos VII Jogos Olímpicos de Verão, disputados em Antuérpia, na Bélgica, em 1920, ano em que o país esteve pela primeira vez representado nos Jogos por uma delegação.

Afrânio Antônio da Costa foi o primeiro esportista a ganhar uma medalha olímpica (Prata) para o Brasil, em 1920, nos Jogos de Antuérpia, na Bélgica, numa prova de tiro. Ele alcançou o feito um dia antes de Guilherme Paraense entrar para a história com a conquista da primeira medalha de ouro do Brasil, também no tiro, na mesma competição, mas em outra modalidade. Como atletas, os dois defenderam o Fluminense, no Rio de Janeiro.

Praticante e grande apreciador da modalidade, Afrânio da Costa, amigo do então presidente do Fluminense Futebol Clube, Arnaldo Guinle, foi um dos responsáveis pela construção do primeiro estande de tiro do clube, inaugurado em 1919.

Com a proximidade dos Jogos Olímpicos de 1920, Afrânio da Costa foi designado como chefe da equipe de tiro esportivo que iria, com a delegação brasileira, rumo a Antuérpia. Ao longo da viagem, que durou 28 dias, ele produziu um diário com relatos dos acontecimentos por todo o trajeto.

Revelou, por exemplo, que em Bruxelas, Bélgica, sua equipe teve as munições e os alvos de treinamento roubados. Assim que soube do roubo de armas e munição da equipe durante a escala que vôo havia feito em Bruxelas, Afrânio da Costa aproximou-se do coronel George Sanders, chefe da equipe dos Estados Unidos, e conseguiu o empréstimo de duas pistolas Colt e de 2.000 balas. O material emprestado resultou na conquista de três medalhas - uma de ouro, uma de prata e outra de bronze. Sem a iniciativa de Afrânio da Costa, o Brasil não teria sequer participado das provas.

Afrânio Antônio Costa e Dario Barbosa, participantes da equipe brasileira de Tiro dos Jogos Olímpicos da Antuérpia
Como atirador, Afrânio da Costa, que praticava tiro desde 1912, obteve 489 pontos na prova de Pistola Livre 50m Masculino, realizada no dia 02/08/1920. Aquela foi, portanto, cronologicamente, a primeira medalha olímpica conquistada pelo Brasil. A arma de Afrânio da Costa, também emprestada, era o mesmo Colt 22 com que o americano Alfred Lane havia conseguido o ouro em Estocolmo, oito anos antes. Com ela, Afrânio da Costa terminou na frente do próprio Alfred Lane (Bronze), porém atrás do também americano Karl Frederick (Ouro).

Na prova de Tiro Rápido 25m Masculino, Guilherme Paraense ganhou medalha de ouro.

Em 1922, nos Jogos Olímpicos Latino-Americanos disputado, organizado e patrocinado pelo clube onde competia, o Fluminense Futebol Clube, conquistou a medalha de prata na competição de Pistola Livre Individual e a de ouro na Competição Por Equipe, tendo sido por diversas vezes campeão carioca e brasileiro de tiro.

Afrânio da Costa participou da fundação, em 1923, da Federação Brasileira de Tiro (FBT). Foi vice-presidente da União Internacional de Tiro (UIT), hoje International Shooting Sport Federation (ISSF) e membro do Comitê Olímpico Brasileiro.

Advogado, Afrânio da Costa voltaria a integrar uma delegação olímpica brasileira como chefe da equipe de tiro que foi a Los Angeles, em 1932.

Em 1934 chefiou a Seleção Brasileira de Futebol na 2ª Copa do Mundo realizada na Itália.

Em 07/07/1937 foi transferido para a 2ª Vara Civel.

Em 14/03/1940 foi nomeado desembargador do Tribunal de Justiça. Como juiz de direito trabalhou no Tribunal de Justiça cerca de 7 anos, substituindo desembargadores titulares.

Em 04/06/1945, com o advento do regime eleitoral, instalou o Tribunal Regional Eleitoral do Distrito Federal e foi seu primeiro presidente por 2 anos. Dirigiu e orientou o primeiro alistamento eleitoral, após 1937, tendo atendido cerca de 750.000 eleitores. Sob sua presidência foram realizadas as eleições para Presidente da República e Congresso Nacional, em 03/10/1946 e para completar o Parlamento em janeiro de 1947. Não houve recursos para o Tribunal Superior durante sua gestão.

Fernando Soledade, Tenente Guilherme Paraense, Afrânio da Costa, Tenente Mário Maurety e Dario Barbosa
Por decreto de 09/06/1947, Diário Oficial de 10/06/1947, foi nomeado Ministro do Tribunal Federal de Recursos, e, a seguir, em 25/06/1947, escolhido por seus pares primeiro presidente. Na inauguração estiveram presentes o presidente da República, General Eurico Gaspar Dutra, todo o seu Ministério bem como o cardeal Jayme de Barros Câmara dentre outras autoridades.

Também em 1947, foi eleito para presidir a recém-criada Confederação Brasileira de Tiro ao Alvo (CBTA), no Rio de Janeiro, atualmente denominada Confederação Brasileira de Tiro Esportivo (CBTE).

Em 01/07/1949 foi nomeado para o Supremo Tribunal, tendo permanecido até marco de 1956.

Foi Cavaleiro da Milenar Ordem Soberana e Militar de Malta, tendo sido distinguido com as condecorações: Caxias, Rio Branco, Cinqüentenário da República, Maria Quitéria e Marechal Hermes.

Em reconhecimento público recebeu das mãos do presidente da República, Epitácio Pessoa, em fevereiro de 1921, nos salões do Fluminense Futebol Clube, em seção solene promovida pela Liga da Defesa Nacional, com a presença de todo o Ministério e o Corpo Diplomático, uma placa de ouro com dizeres alusivos ao alto significado da vitória em nome do esporte nacional. Foi saudado na ocasião pelo próprio presidente da República e por Henrique Coelho Neto, em nome da Liga de Defesa Nacional.

Conquistou na Bélgica, Argentina, Chile, França e Suíça 159 medalhas de ouro, 39 de prata e 25 de bronze, alem de 19 tacas de prata, 24 de bronze, além de objetos de arte. Foi 19 vezes campeão brasileiro.

Afrânio da Costa faleceu em 28/07/1979 no Rio de Janeiro, aos 87 anos, tendo sido velado na sede do Fluminense Futebol Clube, do qual havia sido Presidente.

Indicação: Miguel Sampaio

Lennie Dale

LEONARDO LA PONZINA
(60 anos)
Coreógrafo, Dançarino, Ator e Cantor

☼ Nova York, Estados Unidos (1934)
┼ Nova York, Estados Unidos (09/08/1994)

Leonardo La Ponzina, mais conhecido como Lennie Dale, foi um coreógrafo, dançarino, ator e cantor ítalo-americano radicado no Brasil.

O pai de Lennie Dale, um barbeiro fracassado que imigrara da Sicília e vivia amaldiçoando o dia em que decidira buscar a prosperidade na América, lamentava como mais um castigo da vida ter um filho bailarino.

Nascido no bairro de Brooklyn, em Nova York, iniciou sua carreira profissional no programa infantil "Star Lime Kids", co-estrelado por Connie Francis. Dos 14 aos 21 anos, deu aulas de balé, em tempo integral. Integrou o elenco do espetáculo "West Side Story", encenado na Broadway. Em seguida, mudou-se para Londres, onde foi contratado por um empresário de Shirley Bassey, realizando apresentações pela Europa e participando, ao lado de Gene Kelly, de um programa da televisão italiana.

Foi responsável pela coreografia para 500 bailarinos do filme "Cleópatra", protagonizado por Elizabeth Taylor, de quem se tornou amigo. Na ocasião, ficou conhecendo a grande estrela do filme de forma sui-generis: um dia abriu a porta errada no corredor dos camarins e defrontou-se com uma animada Elizabeth Taylor praticando sexo oral com Richard Burton. Nenhuma surpresa, eles acharam engraçado e acabaram tornando-se amigos.

Em 1960, uma de suas apresentações em Roma teve na platéia o empresário Carlos Machado, que o convidou para coreografar o espetáculo "Elas Atacam Pelo Telefone", encenado na boate Fred’s, no Rio de Janeiro. Logo em seguida, radicou-se no Brasil.


Lennie Dale foi personagem de destaque no cenário da bossa nova, dirigindo, nos anos 1960, vários shows no Beco das Garrafas, no Rio de Janeiro, chegando até a criar uma dança especial para a bossa nova. Inovou a concepção dos espetáculos musicais, ressaltando a necessidade de produção, ensaio e expressão corporal dos artistas nos shows. Impulsionava o talento de seus alunos, em aulas vespertinas no Bottle's Bar, usando a expressão "Cresce, baby!".

Em 1961, o restaurante Night And Day vibrava com o bailarino vestindo uma saia e estalando chicote, uma coreografia revolucionária para a época. Lennie Dale foi o introdutor da noção de ensaio em espetáculos de Música Popular Brasileira. Até então, o artista chegava na hora da apresentação e cantava, sem nenhuma preocupação com a produção ou expressão corporal.

Elis Regina, discípula de Lennie Dale, dizia que a ideia do famoso gesto de "puxar a rede com os braços" quando cantou "Arrastão", de Edu Lobo, e venceu a 1º Festival de MPB da TV Excelsior em 1965 tinha sido de Lennie Dale. Ele garantia que era criação dela.

O bailarino foi o responsável também pela coreografia da Bossa Nova que não era tida como uma música "dançante". Sob sua orientação vários artistas passaram a cuidar desse aspecto da apresentação, como Sérgio Mendes, que começou a usar dançarinas nos seus shows.

Para Nelson Motta, que o conheceu no tempo do Beco das Garrafas, "Lennie era uma pessoa especial, sempre animada, engraçada e carinhosa. Ele acrescentou profissionalismo às apresentações de Bossa Nova. Instituiu um padrão americano de produção e musicais. Além disso, tinha um ritmo e uma musicalidade fantástica!".


Participou, ao lado dos também dançarinos Joe Benett e Martha Botelho, de apresentações do conjunto instrumental Bossa Três, formado pelos músicos Luiz Carlos Vinhas (piano), Tião Neto (baixo) e Edison Machado (bateria), com os quais viajou, em 1962, para os Estados Unidos e se apresentou no "Ed Sullivan Show", um dos programas de maior audiência da televisão norte-americana na época. 

Em 1964, lançou, com o Bossa Três, o LP "Um Show de Bossa...". Nesse mesmo ano, apresentou-se com o Sambalanço Trio na casa noturna Zum Zum, no Rio de Janeiro. O show gerou o disco "Lennie Dale & Sambalanço Trio no Zum Zum". Também em 1964, participou, ao lado de Elis Regina, Agostinho dos Santos, Sílvio César, Pery Ribeiro e o Zimbo Trio, do show "Boa Bossa", espetáculo beneficente para a Associação de Moças da Colônia Sírio-Libanesa, dirigido por Walter Silva.

Gravou, em 1965, o LP "Lennie Dale".

Em 1967, lançou, com o Trio 3D, o LP "A 3ª Dimensão de Lennie Dale"

Atuou, em 1968, no show "Momento 68", promovido pela empresa Rhodia, ao lado de Caetano Veloso, Walmor Chagas, entre outros. O espetáculo teve texto de Millôr Fernandes.


No início dos anos 1970, criou, dirigiu e fez parte do grupo andrógino Dzi Croquettes, juntamente com Wagner Ribeiro, autor dos textos, e os bailarinos Ciro Barcelos, Cláudio Gaya, Reginaldo de Poli, Rogério de Poli, Cláudio Tovar, Paulo Bacelar, Carlinhos Machado, Benedictus Lacerda, Eloy Simões e Bayard Tonelli, que se apresentavam com maquiagem carregada e em trajes femininos. O primeiro show do irreverente grupo foi apresentado em 1972, sob o título de "Gente Computada Igual a Você", comédia de costumes que continha uma crítica à realidade político-social do país, à repressão sexual, à censura e à ditadura. O musical fez muito sucesso em São Paulo e o grupo foi depois levado pelo empresário Patrice Calmettes para a Europa, onde causou sensação na noite parisiense. Fez temporada na casa noturna Lê Palace, apresentou-se em Ibiza e em Londres, e participou do filme "Le Chat Et La Souris", de Claude Lelouch.

A vida dos Dzi Croquettes, no entanto, foi curta e acabou interrompida pela onda conservadora da época.

Lennie Dale chegou a voltar para os Estados Unidos, mas em 1971 retornava novamente ao Brasil, preso em seguida, por porte de maconha na Galeria Alaska. Passou um ano na Penitenciária Hélio Gomes onde, numa noite, sonhou que galopava sobre um cavalo branco, seguido por uma multidão de admiradores. O sonho repetiu-se exatamente um ano depois, na mesma data, e ele foi tomado por uma grande fé umbandista, pois identificou-se com a imagem de São Jorge Guerreiro. Embora calvo na vida real, no sonho via-se com uma longa cabeleira longa.

Lennie Dale possuía uma sapatilha roubada em Paris do russo Rudolf Nureyev e um exemplar da biografia de Madame Satã, seu ídolo máximo, um homossexual famoso por surrar policiais e travestir-se de Carmen Miranda.

Lennie Dale foi responsável pela coreografia da novela "Baila Comigo" (1981) e produziu o musical "1.707.839 - Leonardo Laponzina".

Morte

Leonard Laponzina morreu perto das 2h00 do dia 09/08/1994, aos 60 anos, no setor para pacientes com AIDS do Coler Hospital em Nova York. Lennie Dale estava doente há quase dois anos e desde janeiro vivia internado no hospital. Nos últimos tempos, extremamente magro, dormia numa cama d'água porque seu corpo estava coberto de feridas. Pouco antes de morrer, Lennie Dale ainda lúcido, pediu à mãe para ser cremado.

Discografia

  • 1964 - Um Show de Bossa… Lennie Dale Com os Bossa Três (Elenco, LP)
  • 1965 - Lennie Dale e o Sambalanço Trio-Gravado no Zum Zum (Elenco, LP)
  • 1965 - Berimbau / O Pato Lennie Dale e o Sambalanço Trio (Elenco, Compacto)
  • 1965 - Lennie Dale (Elenco, LP)
  • 1967 - A 3ª Dimensão de Lennie Dale Lennie Dale e Trio 3D (Elenco, LP)
  • 1967 - O Máximo da Bossa Vários Artistas (Elenco, LP)


Filmografia

  • Dzi Croquettes (Filme de Tatiana Issa e Raphael Alvarez)

Indicação: Luiz Mach