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Maria Leopoldina

LEOPOLDINA CAROLINA JOSEFA FRANCISCA FERNANDA DE HABSBURGO-LORENA
(29 anos)
Rainha Consorte, Arquiduquesa e Imperatriz

☼ Viena, Áustria (22/01/1797)
┼ Rio de Janeiro, RJ (11/12/1826)

Leopoldina Carolina Josefa Francisca Fernanda de Habsburgo-Lorena, foi Arquiduquesa da Áustria, a primeira esposa do Imperador Dom Pedro I e Imperatriz Consorte do Império do Brasil de 1822 até sua morte, também brevemente sendo Rainha Consorte do Reino de Portugal e Algarves entre março e maio de 1826.

Era filha do Imperador Francisco I da Áustria e de sua segunda esposa Maria Teresa das Duas Sicílias. Seu casamento com Dom Pedro I e sequente Independência do Brasil fizeram com que se tornasse a primeira Imperatriz Consorte do país e a primeira Imperatriz do Novo Mundo.

A educação que Leopoldina recebera em infância e adolescência era eclética e ampla, de nível cultural superior e formação política mais consistente. Tal educação dos pequenos príncipes e princesas da família Habsburgo baseava-se na crença educacional iniciada por seu avô Leopoldo II, que acreditava "que as crianças deveriam ser desde cedo inspiradas a ter qualidades elevadas, como humanidade, compaixão e desejo de fazer o povo feliz".

Com uma profunda fé cristã e uma sólida formação científica e cultural - que incluía política internacional e noções de governo -, a arquiduquesa fora preparada desde cedo para reinar.

É considerada por muitos historiadores como a principal articuladora do processo de Independência do Brasil ocorrido entre 1821 e 1822, notadamente em setembro de 1822.

O historiador Paulo Rezzutti, autor do livro "D. Leopoldina - A História Não Contada: A Mulher Que Arquitetou a Independência do Brasil", sustenta que foi em grande parte graças a ela que o Brasil se tornou uma nação. Segundo ele, a prometida de Dom Pedro I "abraçou o Brasil como seu país, os brasileiros como o seu povo e a Independência como a sua causa".

Leopoldina foi também conselheira de Dom Pedro I em importantes decisões políticas que refletiram no futuro da nação, como o Dia do Fico e a posterior oposição e desobediência às cortes portuguesas quanto ao retorno do casal à Portugal. Consequentemente, por reger o país em ocasião das viagens de Dom Pedro I pelas províncias brasileiras, é considerada a primeira mulher a se tornar chefe de estado na história do Brasil independente.

A família imperial austríaca em 1805, por Joseph Kreutzinger.
Origem e Infância

Leopoldina pertencia à Casa de Habsburgo-Lorena, nobre família e uma das mais antigas dinastias da Europa, a qual reinou sobre a Áustria de 1282 até 1918, dentre outros territórios que imperaram e era a mais antiga casa reinante na Europa quando Leopoldina nasceu.

Era filha do último Imperador do Sacro Império Romano-Germânico Francisco II, o qual, a partir de 1804, passou a ser apenas o Imperador da Áustria com o título de Francisco I, porque Napoleão I exigiu que ele renunciasse ao título de Imperador, no ano em que Napoleão era sagrado Imperador dos franceses, e de sua segunda esposa e prima Maria Teresa da Sicília, Princesa das Duas Sicílias, de um ramo da Casa de Bourbon, pois era filha do Rei Fernando I das Duas Sicílias e de sua esposa, Maria Carolina da Áustria.

Francisco, seu pai, era viúvo de Isabel de Württemberg, morta sem descendência em 1790. Casaria por terceira vez com Maria Luísa de Áustria-Este, a quem Leopoldina chamava "mãe", que não teve filhos e morreu em 1816, e casou uma quarta e última vez com Carolina Augusta da Baviera, morta em 1873 sem filhos.

O nome completo da Arquiduquesa de Áustria, que viria a ser a primeira Imperatriz do Brasil, era Carolina Josefa Leopoldina Francisca Fernanda de Habsburgo-Lorena, como informa o seu biógrafo e grande estudioso de sua vida, Carlos H. Oberacker Jr., na obra "A Imperatriz Leopoldina: Sua Vida e Sua Época", confirmado também pela obra "Cartas de Uma Imperatriz", de Bettina Kann e outros autores.

Em um dos ensaios apresentados no livro, é citado um trecho do publicado no jornal austríaco Wiener Zeitung, de 25/01/1797, dando a notícia do nascimento da Arquiduquesa Carolina Josefa Leopoldina, acontecido três dias antes, num domingo, dia 22 de janeiro. Informa Oberacker Jr. (p. 301 e 302) que o nome Maria não se encontra entre os nomes de batismo da Arquiduquesa, o que de fato é verdade. Segundo ele, Leopoldina passou a usá-lo já em sua viagem para o Brasil, ao tratar de alguns negócios particulares. No Brasil, ela passou a assinar somente Leopoldina, ou utilizando o pré-nome Maria, como pode ser visto no seu Juramento à Constituição do Brasil. Uma outra hipótese também apresentada pelo mesmo autor é que Leopoldina teria adotado o nome Maria por sua grande devoção à Virgem e pelo fato de todas as infantas portuguesas usarem este nome.

Seu programa de ensino e dos arquiduques incluía disciplinas como leitura, escrita, alemão, francês, italiano, dança, desenho, pintura, história, geografia e música. Em módulo avançado, matemática (aritmética e geometria), literatura, física, latim, canto e trabalhos manuais.

Desde cedo, Leopoldina mostrou maior inclinação para as disciplinas de ciências naturais, interessando-se principalmente por botânica e mineralogia. Leopoldina herdou do pai o hábito do colecionismo: Montou acervos de moedas, plantas, flores, minerais e conchas.

Leopoldina cresceu no Palácio de Schönbrunn, em Viena, até a data de seu casamento com Pedro de Alcântara, em 1817, por procuração. Pedro de Alcântara de Bragança era Príncipe da Beira, depois Príncipe Real do Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves, e finalmente Imperador do Brasil como Pedro I e Rei de Portugal como Pedro IV.

No castelo, Leopoldina seguramente deve ter apreciado os salões chamados de Bergl com pinturas murais de autoria de Johann Wenzl Bergl realizadas em 1770 que mostram paisagens europeias com uma visão do Trópico, do período final do Barroco. Nelas, a natureza é estudada, analisada, ordenada, planificada - uma série de tapeçarias do patrimônio de Luís XIV, com motivos de paisagens brasileiras, plantas e animais tropicais das coleções da América do Sul no antigo Jardim Botânico, hoje o palmarium, e do zoológico de Schönbrunn, serviram como modelo.

Nas suas cartas, publicadas no livro "Cartas de Uma Imperatriz", declara zelar muito pelos deveres de princesa.

Depois de chegar ao Brasil, para onde veio entusiasmada pois se interessava por botânica e mineralogia, acabou respeitando e amando o país. Havia vindo acompanhada por numerosos cientistas, botânicos e pintores.

Dom Pedro I e Dona Leopoldina
Casamento em Viena

Teve enorme papel nas negociações do casamento o Marquês de Marialva, o mesmo que negociara, aconselhado por Alexander von Humboldt, a vinda para o Brasil da Missão Artística Francesa. Dom João VI tudo fez para incluir nas negociações a infanta Dona Isabel Maria, que seria regente do reino de Portugal de 1826 a 1828 e faleceria solteira. Marquês de Marialva foi, por exemplo, quem garantiu que a corte estava decidida a voltar para Portugal logo que o Brasil demonstrasse que havia seguramente "escapado das chamas das guerras da independência que avançavam nas colônias espanholas", obtendo assim o consentimento austríaco ao casamento.

O contrato foi assinado em Viena a 29/11/1816. O noivo era o príncipe Dom Pedro, filho de João VI e de Carlota Joaquina de Bourbon, herdeiro do trono do Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves.

A cerimônia do casamento, celebrada pelo arcebispo de Viena, se realizou na terça-feira dia 13/05/1817, data de aniversário de Dom João VI. A cerimônia foi realizada por procuração, na Igreja de Santo Agostinho, em Viena. Dom Pedro foi representado pelo tio de Dona Leopoldina, o arquiduque Carlos da Áustria-Teschen, grande chefe militar, herói da Batalha de Aspern-Essling, ocorrida em 1809. Maria Leopoldina e Pedro receberam uma bênção nupcial em 06/11/1817, no Rio de Janeiro, quando do desembarque da princesa no Brasil.

O ponto culminante das cerimônias de casamento foi atingido no Augarten de Viena onde, a 01/06/1817, Marialva, que tinha tido poucas oportunidades para revelar o esplendor, riqueza e hospitalidade de sua nação, deu uma suntuosa recepção para a qual fizera preparativos durante todo o inverno. Pouco tempo antes do casamento, duas fragatas austríacas, a Áustria e a Augusta, partiram para o Rio de Janeiro, com os móveis e decorações para a embaixada da Áustria recém instalada, o equipamento para uma expedição científica ao interior do Brasil e numerosas mostras de produtos comerciais austríacos.

Dona Leopoldina é recebida por Dom Pedro, a família real e a corte no Rio de Janeiro em 05/11/1817, por Debret.
Partida da Áustria, Travessia do Atlântico e Chegada ao Brasil

O cortejo matrimonial deixou Viena com esplendor em 03/06/1817, e em uma quinzena tinha atingido Florença, mas a esquadra portuguesa atrasou devido a complicações advindas da Revolução Pernambucana, só chegando a Livorno a 24/07/1817. O comboio matrimonial partiu a 15/08/1817, com Leopoldina, 28 pessoas da comitiva na nau Dom João VI e o embaixador austríaco Conde de Elz com seus auxiliares na nau Dom Sebastião. Entre o porto de Livorno e o Rio de Janeiro foi feita uma única escala, na Ilha da Madeira. A armada de Dona Leopoldina ancorou no porto do Funchal pela manhã do dia 11/09/1817, partindo do arquipélago português dois dias depois.

À chegada ao Rio de Janeiro, em 05/11/1817, a austríaca teria causado espanto aos reis, que esperavam uma bela princesa. Consta que tinha uma bela face e era obesa. Também era extraordinariamente culta para sua época, com grande interesse pela botânica.

A chegada, proporcionou a Jean-Baptiste Debret ocasião para sua primeira intervenção, onde teve 12 dias para ornamentar a cidade. O mesmo possuía um atelier no bairro do Catumbi, onde na sua qualidade de naturalista, fez mais tarde desenhos de plantas e flores para Leopoldina. Diria ele:
"J’ai été chargé d’exécuter gracieusement pour elle quelques—uns de ces dessins, ce qu’elle (l’impératrice) osait demander, affirmait-elle, au nom de sa soeur, l’ancienne impératrice des Français."
"Fui encarregado de executar graciosamente para ela alguns desenhos que ela ousava pedir, dizia, em nome de sua irmã, antiga imperatriz dos franceses."
Dom Pedro I e Dona Leopoldina visitando a Casa Dos Expostos, atualmente o orfanato Romão Duarte no Flamengo, RJ.
(Pintura de Julien Palliere 1826)
Pois uma irmã mais velha de Leopoldina foi Maria Luísa, a segunda esposa de Napoleão Bonaparte e segunda imperatriz dos franceses. No atelier, Jean-Baptiste Debret desenhou os grandes uniformes de gala da corte, em verde e ouro, as condecorações do novo Estado, como a Coroa de Ferro criada por Napoleão em 1806 para o Reino da Itália. Jean-Baptiste Debret desenhou também as insígnias da Ordem Nacional do Cruzeiro do Sul, comparáveis à da medalha da Legião de Honra, e as da Imperial Ordem da Rosa, instituída em homenagem à neta de Josefina, primeira esposa de Napoleão, Amélia de Leuchtenberg ou de Beauharnais, Duquesa de Leuchtenberg.

O historiador Carlos Oberacker, em seu livro "A Imperatriz Leopoldina - Sua Vida e Sua Época", narra que era exímia caçadora e que acompanhou o marido em caçadas na planície de Jacarepaguá durante a lua-de-mel. Ali, na sacristia da Igreja Nossa Senhora da Penha, existe uma cadeirinha, que, segundo a tradição, serviu a Dona Leopoldina. Mais tarde, a cadeirinha foi usada por Teresa Cristina, esposa de Dom Pedro II.

O jovem casal foi instalado em uma casa de campo nos terrenos da Quinta da Boa Vista. O diplomata Metternich interceptaria uma carta do Barão de Eschwege a seu sócio em Viena em que este dizia:
"Por falar no Príncipe Herdeiro, posto que não seja destituído de inteligência natural, é falho de educação formal. Foi criado entre cavalos, e a princesa cedo ou tarde perceberá que ele não é capaz de coexistir em harmonia. Além disso, a corte do Rio é muito enfadonha e insignificante, comparada com as cortes da Europa."
Na esteira de Leopoldina chegaram os primeiros imigrantes, colonos suíços que se fixaram nos arredores da corte, fundando Nova Friburgo e instalando-se na futura Petrópolis, residência de verão sobretudo do Segundo Reinado.

A partir de 1824, devido à campanha brasileira na Europa organizada pelo major Georg Anton von Schäffer, os alemães chegaram mais numerosos e se instalaram outra vez em Nova Friburgo e nas regiões temperadas das províncias de Santa Catarina e do Rio Grande do Sul, onde a colônia de São Leopoldo foi criada em sua homenagem. Alguns da Pomerânia foram para o Espírito Santo, vivendo até os anos 1880 em tão completo isolamento que nem falavam português.

Leopoldina em um vestido da Corte ostentando a Imperial Ordem do Cruzeiro do Sul, 1817.
Regência e Imperatriz do Brasil

1821 foi o ano de mudanças decisivas na vida de Leopoldina. Pertencente a uma das famílias mais conservadoras e duradouras da Europa - Habsburgo -, vinha de uma educação esmerada fundamentada aos moldes das monarquias absolutistas da época. "O meu esposo, Deus nos valha, ama as novas ideias", escreveu ao pai, uma assustada princesa Leopoldina em junho de 1821, desconfiada dos novos valores políticos constitucionais e liberais.

A princesa, antes carente de afeto e de aprovação, rapidamente dá lugar à mulher adulta que encara a vida sem ilusões. Com o desenrolar do atrito entre Portugal e Brasil, a princesa se envolvia cada vez mais no turbilhão dos acontecimentos políticos que precediam a Independência. Seu envolvimento com a política brasileira a levaria a desempenhar um papel fundamental na Independência, ao lado de José Bonifácio de Andrada. Nessa fase, Leopoldina distancia-se das ideias conservadoras (absolutistas) da corte de Viena e adota um discurso mais liberal (constitucional) a favor da causa brasileira.

Em 25/04/1821, a corte voltou para Portugal. Uma esquadra de 11 navios levou o rei, a corte, a casa real e o tesouro real, e só o Príncipe Pedro permaneceu no Brasil como regente do país, com amplos poderes contrabalançados por um conselho de regência. A princípio, Pedro foi incapaz de dominar o caos: A situação estava dominada pelas tropas portuguesas, em condições anárquicas. A oposição entre portugueses e brasileiros tornou-se cada vez mais evidente. Vê-se claramente, na correspondência de Leopoldina, que ela esposou calorosamente a causa do povo brasileiro e chegou a desejar a independência do país, sendo por isso amada e venerada pelos brasileiros.

Segundo Ezekiel Ramirez, abaixo citado, eram visíveis os sinais de uma nascente unidade brasileira como nação independente nas províncias do sul, mas o norte apoiava as Cortes de Lisboa e pediam independência regional. Se o Príncipe Regente tivesse deixado o país naquele momento, o Brasil estaria perdido para Portugal pois as cortes de Lisboa repetiam o mesmo erro que levou as cortes espanholas a perderem as colônias, procurando estabelecer contatos diretos com cada província em particular.

No Rio de Janeiro, milhares de assinaturas colhidas exigiam que os regentes permanecessem no Brasil.
"A corajosa atitude de José Bonifácio de Andrada e Silva contra a arrogância dos portugueses encorajou muito as aspirações de unidade que existiam nas províncias meridionais, especialmente em São Paulo. Um grupo de homens altamente cultos liderou este movimento."
Maria Leopoldina 
Depois do Dia do Fico, 09/01/1822, organizou-se novo ministério sob a chefia de José Bonifácio, "no fundo rigoroso monarquista", e o Príncipe Real cedo conquistaria a confiança do povo.

Em 15/02/1822 as tropas portuguesas deixaram o Rio de Janeiro, e sua partida representou a dissolução dos laços entre o Brasil e a metrópole. O príncipe foi triunfalmente recebido nas Minas Gerais.

Quando o marido, Príncipe Regente, viajou a São Paulo em agosto de 1822, para apaziguar a política, o que culminaria na Proclamação da Independência do Brasil em setembro, Leopoldina exerceu a regência. Grande foi sua influência no processo de Independência. Os brasileiros já estavam cientes de que Portugal pretendia chamar Pedro de volta, rebaixando o Brasil outra vez ao estatuto de simples colônia, em vez de um reino unido ao de Portugal. Havia temores de que uma guerra civil separasse a Província de São Paulo do resto do Brasil. Pedro entregou o poder a Leopoldina a 13/08/1822, nomeando-a Chefe do Conselho de Estado e Princesa Regente Interina do Brasil, com poderes legais para governar o país durante a sua ausência e partiu para apaziguar São Paulo.

A princesa recebeu notícias que Portugal estava preparando ação contra o Brasil e, sem tempo para aguardar o retorno de Pedro, Leopoldina, aconselhada por José Bonifácio de Andrada e Silva, e usando de seus atributos de chefe interina do governo, reuniu-se na manhã de 02/09/1822, com o Conselho de Estado, assinando o decreto da Independência, declarando o Brasil separado de Portugal.

Leopoldina envia-lhe uma carta, juntamente com outra de José Bonifácio, além de comentários de Portugal criticando a atuação do marido e de Dom João VI. Ela exige que Pedro proclame a Independência do Brasil e, na carta, adverte:
"O pomo está maduro, colhe-o já, senão apodrece!"
O oficial chegou ao príncipe no dia 07/09/1822. Leopoldina enviara ainda papéis recebidos de Lisboa, e comentários de Antônio Carlos Ribeiro de Andrada, deputado às cortes, pelos quais o Príncipe Regente se inteirou das críticas que lhe faziam na metrópole. A posição de Dom João VI e de todo o seu ministério, dominados pelas cortes, era difícil.

Enquanto se aguardava o retorno de Pedro, Leopoldina, governante interina de um Brasil já independente, idealizou a bandeira do Brasil, em que misturou o verde da família Bragança e o amarelo ouro da família Habsburgo. Outros autores opinam que Jean-Baptiste Debret, artista francês, foi o autor do Pavilhão Nacional que substituía o azul e branco da vetusta corte portuguesa, símbolo da opressão do antigo regime. Depois disso, Leopoldina se empenhou a fundo no reconhecimento da autonomia do novo país pelas cortes europeias, escrevendo cartas ao pai, imperador da Áustria, e ao sogro, Rei de Portugal.

Foi aclamada imperatriz em 01/12/1822, na cerimônia de coroação e sagração de Dom Pedro I.

Declínio da Saúde

A ligação escandalosa do marido com Domitila de Castro Canto e Melo, ou Titília, como ele a chamava na intimidade, deixava a imperatriz humilhada. A filha que teve com Domitila, na mesma época em que a imperatriz dava a luz outra criança, recebeu do pai o nome de Isabel Maria de Alcântara e o título de Duquesa de Goiás. Em carta à irmã que morava na Europa, Maria Leopoldina desabafa: "O monstro sedutor é a causa de todas as desgraças".

Solitária, isolada, devotada apenas a parir um herdeiro para o trono, o futuro Dom Pedro II nasceria em 1825 e Leopoldina tornava-se cada vez mais depressiva. Desde o início de novembro de 1826 a imperatriz não se encontrava bem de saúde. Cólicas, vômitos, sangramentos e delírios foram frequentes nas últimas semanas de vida da imperatriz, cuja saúde definhou rapidamente.

A Imperatriz Leopoldina era querida por todo o povo brasileiro, e sua popularidade era maior e mais expressiva do que a de Pedro, diga-se de passagem. O Rio de Janeiro começou a acompanhar a gravidade da doença de Dona Leopoldina. O embaixador da Prússia, Theremim, oficiava a respeito das demonstrações públicas a Berlim:
"A consternação no meio do povo era indescritível; nunca [...] foi visto igual sentimento uníssono. O povo se encontrava literalmente nos joelhos rogando ao Todo Poderoso pela conservação da imperatriz, as igrejas não se esvaziavam e nas capelas domésticas todos se encontravam de joelhos, os homens formavam procissões, não de habituais que quase costuma provocar risos, mas sim de verdadeira devoção. Em uma palavra, tal inesperada afeição, manifestada sem dissimulação, deve ter sido para a alta enferma uma verdadeira satisfação."
No dia 7 de dezembro, o Diário Fluminense noticiava que o povo do Rio de Janeiro continuava, em sua ansiedade, a procurar a todos os momentos saber do "estado aflitivo" de Dona Leopoldina:
"Já pelos boletins, já pessoalmente dirigindo-se à Imperial Quinta, onde se mistura grandes e pequenos, nacionais, e estrangeiros, ricos e pobres, com as lágrimas nos olhos, o rosto abatido e o coração repassado de amargura e inquietação, fazem tremendo esta pergunta - Como está a Imperatriz?"
Na tarde do dia 6 de dezembro, conforme noticiava o mesmo jornal, e confirmaria futuramente o sermão de Frei Sampaio. Diversas procissões acompanhando "as Sagradas Imagens das respectivas igrejas" tinham como destino a Capela Imperial. Segundo Frei Sampaio:
"Nunca se observou na estrada de São Cristóvão maior concurso de povo; atropelavam-se as carruagens; todos corriam em lágrimas, entretanto que no centro da cidade giravam as procissões de preces, com suas imagens, e com acompanhamento de todo o clero, assim regular ou secular. O povo não pode ver sem público sinais de piedade a imagem de Nossa Senhora da Glória, que nunca saiu de seu templo, e que pela primeira vez, debaixo de muita chuva, ia como visitar a princesa, que aparecia todos os sábados aos pés dos seus altares [...] Não houve, em uma palavra, irmandade alguma, que não levasse à Capela Imperial os Santos da maior devoção."
Túmulo de Dona Leopoldina na Cripta Imperial, São Paulo.
Causa da Morte

Há divergências sobre a causa mortis da primeira Imperatriz do Brasil. Para alguns autores, teria falecido em consequência de uma septicemia puerperal, enquanto o imperador se encontrava no Rio Grande do Sul, aonde fora inspecionar as tropas durante a Guerra da Cisplatina.

É no entanto muito difundida a versão de que Maria Leopoldina teria morrido em consequência das agressões desferidas contra si durante acesso de raiva de seu marido, o imperador, versão essa corroborada por historiadores como Gabriac, Carl Seidler, John Armitage e Isabel Lustosa. Essa suposta causa da morte sofreu um revés, com a recente exumação de seus restos mortais onde não se verificou nenhuma fratura.

Isso se teria dado em 20/11/1826, quando assumiria a regência do país para que Pedro pudesse viajar ao Sul para tratar da guerra contra o Uruguai. Querendo demonstrar ser mentira o boato sobre suas relações extraconjugais e o clima ruim entre o casal, Dom Pedro I resolveu que o beija-mão à regente seria feito em sua presença, junto a Domitila de Castro Canto e Melo, marquesa de Santos e dama de companhia da imperatriz.

Maria Leopoldina, arquiduquesa austríaca, achou uma enorme humilhação ser recebida pela corte junto à amante de seu marido, e afrontou Pedro recusando-se a entrar na sala do trono. O imperador, de gênio volátil, tentou arrastá-la pelo palácio, agredindo-a com palavras e chutes. Acabou por comparecer ao beija-mão acompanhado unicamente pela marquesa de Santos. Há que se ressaltar que não se conhece outra testemunha no momento do fato além dos três, e que as suspeitas sobre as agressões sofridas teriam sido levantadas pelas damas e médicos que ampararam Maria Leopoldina na sequência. Contudo, a realidade dos fatos fora outra:

Exagerou-se, que Pedro lhe dera um pontapé, razão da doença. A cena, presenciada pelo agente austríaco (refere-se ao embaixador austríaco, Filipe Leopoldo Wenzel, barão de Mareschal), consistiu em palavras desatinadas. O certo é que não faltaram motivos a Leopoldina para a perturbação da gravidez, a cujo malogro sucumbiu.

Cortejo fúnebre da Imperatriz Dona Leopoldina.
A imperatriz, que havia meses encontrava-se em grave processo de depressão e na 12ª semana de gravidez, teve a saúde profundamente abalada. Em sua última carta à irmã Maria Luísa, ditada à marquesa de Aguiar, menciona um terrível atentado que sofrera pelas mãos de seu marido na presença da amante:
São Cristóvão, 8 de dezembro de 1826, às 4 horas da manhã
Minha adorada mana!
Reduzida ao mais deplorável estado de saúde e tendo chegado ao último ponto de minha vida em meio dos maiores sofrimentos, terei também a desgraça de não poder eu mesma explicar-te todos aqueles sentimentos que há tanto tempo existiam impressos na minha alma. Minha mana! Não tornarei a vê-la! Não poderei outra vez repetir que te amava, que te adorava! Pois, já que não posso ter esta tão inocente satisfação igual a outras muitas que não me são permitidas, ouve o grito de uma vítima que de tu reclama - não vingança - mas piedade, e socorro do fraternal afeto para meus inocentes filhos, que órfãos vão ficar, em poder de si mesmos ou das pessoas que foram autores das minhas desgraças, reduzindo-me ao estado em que me acho, de ser obrigada a servir-me de intérprete para fazer chegar até tu os últimos rogos da minha aflita alma. A Marquesa de Aguiar, de quem bem conheceis o zelo e o amor verdadeiro que por mim tem, como repetidas vezes te escrevi, essa única amiga que tenho é quem lhe escreve em meu lugar.
Há quase quatro anos, minha adorada mana, como a ti tenho escrito, por amor de um monstro sedutor me vejo reduzida ao estado da maior escravidão e totalmente esquecida pelo meu adorado Pedro. Ultimamente, acabou de dar-me a última prova de seu total esquecimento a meu respeito, maltratando-me na presença daquela mesma que é a causa de todas as minhas desgraças. Muito e muito tinha a dizer-te, mas faltam-me forças para me lembrar de tão horroroso atentado que será sem dúvida a causa da minha morte. Cadolino, que por ti me foi recomendado, e que me tem dado todas as provas da maior subordinação e fidelidade, é quem fica encarregado de entregar-te a presente, e declarar-te o que por muitos motivos não posso confiar a este papel. Tendo ele todas as informações que são precisas sobre este artigo, nada mais tenho a acrescentar, confiando inteiramente na sua probidade, honra e fidelidade.
Faltaria ao meu dever se, além de ter declarado ao Marechal e a Cadolino que tenho dívidas contratadas (ou contraídas?) para sustentar os pobres, que de mim reclamarão algum socorro, e para as minhas despesas particulares, não dissesse a ti que o Flach, de quem tenho muitas vezes escrito, é digno de toda tua consideração e de meu Augusto Pai, a quem peço-te remeter a inclusa.
Este virtuoso amigo, além de ter se sacrificado e comprometido a si mesmo e seus negócios para me servir, não desprezou meio algum para me procurar socorros. Peço-te por quanto tens de mais sagrado de lhe prestares todo o auxílio, de modo que ele possa satisfazer aquelas dívidas que por mim tem contraído. Recomendo este exemplo da mais virtuosa amizade. Cadolino te dirá qual foi o procedimento de Marechal para comigo. A Marquesa de Aguiar fica encarregada de dar a ti os mais miúdos detalhes sobre quanto diz respeito às minhas queridas filhas. Ah, minhas queridas filhas! Que será delas depois da minha morte? É a ela que entreguei a sua educação até que o meu Pedro, o meu querido Pedro não disponha o contrário. Adeus minha adorada mana.
Permita o Ente Supremo que eu possa escrever-te ainda outra vez, pois que será o final do meu restabelecimento.
L. S. B. Marquesa de Aguiar Escrevi.
Maria Leopoldina, 1815.
Durante a agonia de Leopoldina surgiram os mais diversos boatos: De que a imperatriz era prisioneira na Quinta da Boa Vista, de que estava sendo envenenada por seu médico a mando da Marquesa de Santos entre outros. A popularidade de Domitília de Castro, que já não era das melhores, piorou, tendo sua casa em São Cristóvão sido apedrejada e seu cunhado, camareiro da imperatriz, alvejado por dois tiros. O direito de presidir as consultas médicas à imperatriz, como sua dama de companhia, lhe foram negadas, e ministros e funcionários do paço sugeriram que ela não deveria continuar frequentando a Corte.

O comunicado emitido em 11 de dezembro ao imperador sobre a morte de sua esposa relata convulsões, febre alta e delírios. O filho que carregava no ventre morreu consigo. Gozando de grande apreço pela população, que lhe admirava muito mais do que ao marido, teve sua morte chorada por grande parte da nação.

Esta versão dos acontecimentos foi propagada até a Europa, tendo a reputação de Pedro ficado de tal modo manchada que o seu segundo casamento tornou-se deveras dificultoso. É dito que o primeiro galardoado da Imperial Ordem de Pedro Primeiro, Francisco I da Áustria, teria recebido a comenda como um pedido de desculpas do Imperador brasileiro.

Luiz Roberto Fontes, médico legista que acompanhou a análise forense da família imperial realizada entre março e agosto de 2012, afirmou que uma doença grave causou o aborto e o óbito de Dona Leopoldina, e não uma briga entre o casal na Quinta da Boa Vista, no Rio de Janeiro.
"O que temos condições de dizer, hoje, é do que a imperatriz não morreu. Se houve mesmo uma briga por causa da traição de Dom Pedro I, ela não tem a ver com a morte de Dona Leopoldina. Ela teve uma infecção grave, mas não sabemos ainda qual é essa doença. Precisamos de mais análises para descobrir a causa da morte. A tomografia não mostrou fratura no fêmur ou em outro osso, descartando a lenda da queda de uma escada ou do acidente, provocado por Dom Pedro. Pelos exames, vimos que a causa pode ser uma grave infecção que ela teve por três semanas."
(Luiz Roberto Fontes ao público de uma palestra no Museu do Instituto Adolfo Lutz)

Morte e Preservação da Memória

Maria Leopoldina faleceu no Palácio de São Cristóvão, na Quinta da Boa Vista, bairro de São Cristóvão, na Zona Norte da cidade do Rio de Janeiro, em 11/12/1826, aos 29 anos.  Seu filho que carregava no ventre morreu com ela.

A cerimônia fúnebre foi presidida por Francisco Mont'Alverne, pregador oficial do Império do Brasil.

Seu corpo, revestido do manto imperial, foi colocado em três urnas: A primeira de pinho português, a segunda de chumbo (com a inscrição latina própria, sobre a qual havia uma caveira com duas tíbias cruzadas e, sobre esta o brasão imperial em prata) e a terceira de cedro.

Maria Leopoldina  foi sepultada no Convento da Ajuda, na atual Cinelândia. Quando o convento foi demolido, em 1911, os restos mortais foram transladados para o Convento de Santo Antônio, também no Rio de Janeiro, onde foi construído um mausoléu para ela e alguns membros da Família Imperial.

Em 1954, foram transferidos definitivamente para um sarcófago de granito verde ornado de ouro, na Capela Imperial, sob o Monumento do Ipiranga, na cidade de São Paulo.

A Imperatriz Dona Leopoldina e os seus filhos.
Óleo sobre tela, Domenico Failutti.
Museu Paulista da Universidade de São Paulo.
Descendência

De seu casamento com Dom Pedro I teve os seguintes filhos:

  • Maria II de Portugal (04/04/1819 - 15/11/1853), casada primeiro com Augusto de Beauharnais (sem descendência). Casada depois com o Príncipe Fernando de Saxe-Coburgo-Gota-Koháry (com descendência).
  • Miguel, Príncipe da Beira (Nascido e morto a 24/04/1820).
  • João Carlos, Príncipe da Beira (06/03/1821 - 04/02/1822).
  • Januária do Brasil (11/03/1822 - 13/03/1901), casada com o Príncipe Luís de Bourbon-Duas Sicílias (com descendência).
  • Paula do Brasil (17/02/1823 - 16/01/de 1833), morreu de meningite aos nove anos de idade.
  • Francisca do Brasil (02/08/1824 - 27/03/1898), casada com o Príncipe Francisco Fernando de Orléans (com descendência).
  • Pedro II do Brasil (02/12/1825 - 05/12/1891), casado com a Princesa Teresa Cristina das Duas Sicílias (com descendência0.

Juramento da Imperatriz Maria Leopoldina à Constituição do Brasil, 1824. Documento sob guarda do Arquivo Nacional.
Títulos e Tratamentos

  • 22/01/1797 - 11/08/1804: "Sua Alteza Real, Arquiduquesa Leopoldina da Áustria";
  • 11/08/1804 - 06/11/1817: "Sua Alteza Imperial e Real, Arquiduquesa Leopoldina da Áustria";
  • 06/11/1817 - 12/10/1822: "Sua Alteza Real, a Princesa do Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves";
  • 12/10/1822 - 11/12/1826: "Sua Majestade Imperial, a Imperatriz do Brasil;
  • 10/03/1826 - 28/05/1826: "Sua Majestade Fidelíssima, a Rainha de Portugal".

Representações na Cultura

A Imperatriz Leopoldina já foi retratada como personagem no cinema e na televisão, interpretada por Kate Hansen no filme "Independência ou Morte" (1972), Maria Padilha na novela "Marquesa de Santos" (1984) e Érika Evantini na minissérie "O Quinto dos Infernos" (2002).

A vida de Leopoldina também foi tema do enredo de 1996 da escola de samba Imperatriz Leopoldinense, cujo próprio nome já deriva indiretamente do seu, porque a escola é sediada na zona da Estrada de Ferro Leopoldina, assim batizada em homenagem à imperatriz. Na ocasião, a carnavalesca Rosa Magalhães recebeu apoio do governo da Áustria para a realização do desfile.

Em 2007, a atriz Ester Elias deu vida a uma Leopoldina no musical "Império", de Miguel Falabella, que conta parte da história do Império do Brasil.

Em 2017, a atriz Letícia Colin interpretou a Imperatriz Leopoldina na telenovela das 18h00 "Novo Mundo" na TV Globo.

Em 2018, Leopoldina e a Imperatriz Leopoldinense foram homenageadas pela escola de samba Tom Maior, no carnaval de São Paulo.

Fonte: Wikipédia
Indicação: Miguel Sampaio
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