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Osório Duque-Estrada

JOAQUIM OSÓRIO DUQUE-ESTRADA
(56 anos)
Poeta, Crítico Literário, Professor e Ensaísta

Vassouras, RJ (29/04/1870)
┼ Rio de Janeiro, RJ (05/02/1927)

Joaquim Osório Duque-Estrada foi um poeta, crítico literário, professor e ensaísta brasileiro, nascido no então Distrito de Paty dos Alferes, pertencente ao Município de Vassouras, que veio a ser emancipado em 1988, no dia 29/04/1870.

Seu primeiro livro, um livro de poemas, foi "Alvéolos" (1886). Foi conhecido pela autoria da letra do Hino Nacional Brasileiro e sua atividade de crítico literário na imprensa brasileira do início do século XX. Foi membro da Academia Brasileira de Letras (ABL).

Seu poema de 1909, em versos decassílabos, foi oficializado como letra do Hino Nacional Brasileiro por meio do Decreto nº 15.671, do presidente Epitácio Pessoa, em 06/09/1922, véspera do Centenário da Independência do Brasil. O autor morreu cinco anos mais tarde, em 05/02/1927.

Osório Duque-Estrada era filho do tenente-coronel Luís de Azeredo Coutinho Duque-Estrada e de Mariana Delfim Duque-Estrada. Era afilhado do general Osório, Marquês do Erval. Estudou as primeiras letras na capital do antigo império, nos colégios Almeida Martins, Aquino e Meneses Vieira.

Matriculou-se em 1882 no imperial Colégio Pedro II onde recebeu o grau de bacharel em letras, em dezembro de 1888. Em 1886, ao completar o 5º ano do curso, publicou o primeiro livro de versos, "Alvéolos".

Osório Duque-Estrada começou a colaborar na imprensa, em 1887, escrevendo os primeiros ensaios no Rio de Janeiro, como um dos auxiliares de José do Patrocínio na campanha da abolição.

Em 1888 alistou-se também nas fileiras republicanas, ao lado de Silva Jardim, entrando para o Centro Lopes Trovão e o Clube Tiradentes, de que foi segundo secretário. No ano seguinte foi para São Paulo a fim de se matricular na Faculdade de Direito, entrando nesse mesmo ano para a redação do Diário Mercantil. Abandonou o curso de Direito em 1891 para se dedicar à diplomacia, sendo então nomeado segundo secretário de legação no Paraguai, onde permaneceu por um ano.

Regressou ao Brasil, abandonando de vez a carreira diplomática. Fixou residência em Minas Gerais, de 1893 a 1896. Aí redigiu o "Eco de Cataguases". Nos anos de 1896, 1899 e 1900 foi sucessivamente inspetor geral do ensino, por concurso. Bibliotecário do Estado do Rio de Janeiro e professor de francês do Ginásio de Petrópolis, cargo que exerceu até voltar para o Rio de Janeiro, em 1902, sendo nomeado regente interino da cadeira de História Geral do Brasil, no Colégio Pedro II.

Deixou o magistério em 1905, voltando a colaborar na imprensa, em quase todos os diários do Rio de Janeiro. Entrou para a redação do Correio da Manhã, em 1910, dirigindo-o por algum tempo, durante a ausência de Edmundo Bittencourt e Leão Veloso. Foi nesse período que criou a seção de crítica "Registro Literário", mantida, de 1914 a 1917, no Correio da Manhã. De 1915 a 1917, no Imparcial, e de 1921 a 1924, no Jornal do Brasil. Uma boa parte de seus trabalhos desse período foram reunidos em "Crítica e Polêmica" (1924).

Tornou-se um crítico literário temido e gostava de polêmicas. De todas as censuras que fez, nenhuma conseguiu dar-lhe renome na posteridade. Osório Duque-Estrada tinha espírito contestador; gostava de polêmicas e de censurar atitudes alheias, testemunhado por seus colegas na Academia Brasileira de Letras. Segundo as palavras de Arthur Motta, Duque-Estrada "tinha um temperamento agressivo e espírito intolerante. Determinava-lhe a índole uma predisposição para os teirós e ação contínua de combate".

Como poeta, não fez nome literário, a não ser pela autoria da letra do Hino Nacional Brasileiro. Além do livro de estreia, publicado aos 17 anos, "Flora de Maio", com prefácio de Alberto de Oliveira, reunindo poesias escritas até os 32 anos de idade. Revelou sensível progresso na forma e na ideia. Conservou a feição dos poetas românticos, apesar de publicado em plena florescência do Parnasianismo, de que recebeu evidentes influxos, conservando, contudo, a essência romântica.

Osório Duque-Estrada foi o segundo ocupante da cadeira 17 da Academia Brasileira de Letras (ABL), eleito em 25/11/1915, na sucessão de Sílvio Romero, recebido pelo acadêmico Coelho Neto em 25/10/1916. Recebeu o acadêmico Luís Carlos.

Obras

  • 1887 - Alvéolos (Poesia)
  • 1899 - A Aristocracia do Espírito
  • 1902 - Flora de Maio (Poesia)
  • 1909 - O Norte (Impressões de Viagem)
  • 1911 - Anita Garibaldi (Ópera-baile)
  • 1912 - A Arte de Fazer Versos
  • 1915 - Dicionário de Rimas Ricas
  • 1918 - A Abolição (Esboço Histórico)
  • 1924 - Crítica e Polêmica
  • Noções Elementares de Gramática Portuguesa
  • Questões de Português
  • Guerra do Paraguai
  • História Universal
  • História do Brasil
  • A Alma Portuguesa.

Encontram-se trabalhos seus na "Revista Americana", em "O Mundo Literário", na "Revista da Língua Portuguesa" e na "Revista da Academia Brasileira de Letras".

A letra do Hino Nacional Brasileiro manuscrita pelo autor, Joaquim Osório Duque-Estrada
Hino Nacional Brasileiro

Letra: Joaquim Osório Duque Estrada
Música: Francisco Manuel da Silva

Primeira Parte

Ouviram do Ipiranga as margens plácidas
De um povo heroico o brado retumbante,
E o sol da Liberdade, em raios fúlgidos,
Brilhou no céu da Pátria nesse instante.

Se o penhor dessa igualdade
Conseguimos conquistar com braço forte,
Em teu seio, ó Liberdade,
Desafia o nosso peito a própria morte!

Ó Pátria amada,
Idolatrada,
Salve! Salve!

Brasil, um sonho intenso, um raio vívido,
De amor e de esperança à terra desce,
Se em teu formoso céu, risonho e límpido,
A imagem do Cruzeiro resplandece.

Gigante pela própria natureza,
És belo, és forte, impávido colosso,
E o teu futuro espelha essa grandeza.

Terra adorada
Entre outras mil
És tu, Brasil,
Ó Pátria amada!

Dos filhos deste solo
És mãe gentil,
Pátria amada,
Brasil!

Segunda Parte

Deitado eternamente em berço esplêndido,
Ao som do mar e à luz do céu profundo,
Fulguras, ó Brasil, florão da América,
Iluminado ao sol do Novo Mundo!

Do que a terra mais garrida
Teus risonhos, lindos campos têm mais flores,
"Nossos bosques têm mais vida",
"Nossa vida" no teu seio "mais amores".

Ó Pátria amada,
Idolatrada,
Salve! Salve!

Brasil, de amor eterno seja símbolo
O lábaro que ostentas estrelado,
E diga o verde-louro dessa flâmula
- Paz no futuro e glória no passado.

Mas se ergues da justiça a clava forte,
Verás que um filho teu não foge à luta,
Nem teme, quem te adora, a própria morte.

Terra adorada
Entre outras mil
És tu, Brasil,
Ó Pátria amada!

Dos filhos deste solo
És mãe gentil,
Pátria amada,
Brasil!

Fonte: Wikipédia
#FamososQuePartiram #OsorioDuqueEstrada

Benedito Calixto

BENEDITO CALIXTO DE JESUS
(73 anos)
Pintor, Desenhista, Professor, Historiador, Escritor, Fotógrafo e Astrônomo Amador

☼ Itanhaém, SP (14/10/1853)
┼ São Paulo, SP (31/05/1927)

Benedito Calixto de Jesus foi um pintor, desenhista, professor, historiador e astrônomo amador brasileiro.

No final de século XIX e início do século XX, quatro gigantes das artes plásticas se destacaram no cenário paulista: Almeida Júnior, Pedro Alexandrino, Oscar Pereira da Silva e Benedito Calixto.

Considerado um dos maiores expoentes da pintura brasileira do início do século XX, Benedito Calixto de Jesus nasceu em 14/10/1853, no município de Itanhaém, litoral sul de São Paulo.

Benedito Calixto é o que se pode chamar de um talento nato. Autodidata, começou seus primeiros esboços ainda criança, aos 8 anos. Aos 16 anos mudou-se para Santos, SP, onde teve um começo de vida difícil, chegando a pintar muros e placas de propaganda para sobreviver.

Pátio do Colégio
Em Brotas

Entre os 17 e 18 anos, a convite do irmão mais velho, mudou-se para Brotas, interior de São Paulo, na época, próspera por sua produção de café. Foi morar na casa do irmão João Pedro, situada na esquina de uma praça, hoje denominada "Benedito Calixto". Como o irmão era o responsável pela conservação da igreja e das imagens ali existentes Benedito Calixto, que já tinha habilidades nesse oficio, o ajudava nessa missão, mas logo acabou ficando com a incumbência. Tendo material à sua disposição, nas horas vagas pintava telas com vistas do local, que oferecia aos amigos. Entre os primeiros quadros feitos no município estão o "Casamento dos Bugres" e "A Saída do Ninho", hoje em mãos de colecionadores em Brotas.

Na época decorou também a sala de jantar da casa do capitão Joaquim Dias de Almeida com motivos da fauna e flora brasileiras. Seu gênio alegre e comunicativo lhe trouxe grandes amizades no município. Um desses amigos, era o coronel Cherubim Vieira de Albuquerque, abastado cafeicultor da região, que veio a lhe encomendar diversos quadros. Entre estes, vistas de suas fazendas Paraíso e Monte Alegre em 1873. Retratou também nessa época o próprio coronel e sua filha Maria Eugênia de Albuquerque Pinheiro, quadros que ainda hoje se encontram no município.

Cubatão
De Volta a Itanhaém

Em 1877 retornou a Itanhaém para casar-se com sua prima de segundo grau, Antônia Leopoldina de Araújo. De volta a Brotas, continuou pintando paisagens das fazendas locais e retratos de grandes cafeicultores.

Em 1881 deixou Brotas e voltou a Itanhaém, onde nasceu sua primeira filha, Fantina. No final desse mesmo ano mudou-se com a família para Santos, SP, onde passou a pintar paisagens nos tetos e paredes das mansões dos prósperos comerciantes daquela cidade litorânea.

Paisagem (Da Série Mata) - 1910-20
Primeira Exposição

Fez sua primeira exposição em 1881 no salão do jornal Correio Paulistano, em São Paulo, não tendo conseguido vender nenhum trabalho, mas obteve apreciação favorável da crítica.

Em 1882, a sorte bateu em sua porta. Foi convidado a realizar trabalhos de entalhe e pintura na parte interna do Teatro Guarany, em Santos, o que lhe rendeu homenagens e uma bolsa de estudos, custeada por Nicolau de Campos Vergueiro, o Visconde de Vergueiro, para se aprimorar em Paris, onde ficou por quase um ano e frequentou o ateliê do mestre Rafaelli e a Academia Julian. Na Europa, realizou várias exposições de sucesso.

Em 1884, de volta à Santos, trouxe, na bagagem, um equipamento fotográfico e tornou-se pioneiro, no Brasil, em pintar a partir de fotografias.

Nos anos de 1886 e 1887, respectivamente, nasceram seus filhos Sizenando e Pedrina.

Em 1890, mudou-se para São Paulo.

Em 1897 voltou para o litoral e foi morar em uma casa construída por ele mesmo, em São Vicente. Produziu obras importantes para vários museus, entre eles o Museu do Ipiranga, em São Paulo, para inúmeras igrejas em todo o país, para associações, fundações, instituições, a exemplo da "Bolsa Oficial do Café", em Santos, onde uma de suas principais obras "A Fundação de Santos" ocupa uma parede inteira do salão principal, além de outras duas que também têm como tema o município de Santos e o vitral do teto com alegoria para os Bandeirantes.

Durante toda a sua trajetória produziu aproximadamente 700 obras, das quais 500 são catalogadas. Pintou marinhas, retratos, paisagens rurais, urbanas e obras religiosas. Estas últimas lhe renderam a Comenda de São Silvestre, outorgada pelo Papa Pio XI, em 1924.

Além da pintura se revelou como historiador, escritor e fotógrafo. Como historiador, resgatou a existência da então ignorada Capitania de Itanhaém, assim como sua importância na história da exploração e colonização do interior do Brasil, raças a minuciosas pesquisas a documentos seculares esquecidos em Itanhaém, São Vicente e São Paulo.

Benedito Calixto faleceu vítima de um infarto, no dia 31/05/1927, em São Paulo, na casa de seu filho Sizenando, para onde tinha ido com a intenção de comprar material para terminar duas telas para a Catedral de Santos. Foi enterrado no Cemitério do Paquetá, em jazigo perpétuo doado pela Prefeitura Municipal de Santos.

Suas duas últimas obras são intituladas "Noé" e "Melchisedech".

Foi homenageado na cidade de São Paulo com a Praça Benedito Calixto.

Paisagem Com Cruzeiro, 1920
Em Bocaina

Uma obra do acaso trouxeram as telas de Benedito Calixto para Bocaina, município do centro do Estado de São Paulo, hoje com 11 mil habitantes. A história registra que ele deveria pintar os seus quadros na Igreja Matriz de Jaú. Não houve acordo quanto ao preço e ele foi embora.

Em Bocaina, na época, estava o padre José Maria Alberto Soares. Ele gostaria de ter as telas do pintor em sua igreja e começou a escrever a Benedito Calixto, falando dessa vontade. Conseguiu sensibilizar o artista que veio a Bocaina e pintou as telas por um preço bem menor daquele que pedira em Jaú.

As obras podem ser consideradas o melhor da arte sacra pintada por Benedito Calixto, que por ter nascido e vivido em cidades litorâneas, pintou muitas marinhas. O próprio pintor considerava as telas "Salomé Recebe a Cabeça de João Batista" e "Transfiguração", como os seus melhores trabalhos sacros. Elas estão em Bocaina.

A 10/12/1923 começava seu último grande trabalho, a pintura dos quadros para a Matriz de São João Batista de Bocaina. Dominado pela ideia da morte próxima, dizia que nessa igreja seria o lugar onde se perpetuaria a sua derradeira arte.

Estátua de Benedito Calixto na Praça 22 de Janeiro - São Vicente, SP
Em São Carlos Exposição Permanente

Há uma exposição permanente "Benedito Calixto na Terra do Pinhal", com amplo panorama da vida e obra do célebre pintor brasileiro e trabalhos originais realizados por ele para o antigo Palácio Episcopal de São Carlos e que hoje pertencem ao acervo da municipalidade são-carlense, os quais são 8 afrescos que também estão na exposição.

A exposição é no Museu da Estação Cultura na Estação de São Carlos em São Carlos, de terça a sexta das 8:00 hs às 18:00 hs, e aos sábados, domingos e feriados, das 13:00 hs às 17:00 hs. A entrada é franca. O agendamento de grupos e escolas pode ser feito por telefone.

Auto-Retrato
Galeria de Pinturas

Fundação Pinacoteca Benedito Calixto, entidade sem fins lucrativos, localizada em um antigo casarão em estilo eclético e interior em Art Noveau à Avenida Bartolomeu de Gusmão, 15, Boqueirão, Santos, São Paulo, tem uma exposição permanente de obras de Benedito Calixto. Seu acervo é de cerca de 50 obras do pintor - marinhas, paisagens, retratos e nus, desenhados na Academia Julian, Paris. O local está aberto para visitação de terça a domingo das 14:00 hs às 19:00 hs. Grupos ou escolas, que quiserem monitoria, podem ser agendados. A Pinacoteca conta também com uma biblioteca, com acervo de livros de arte, e um Centro de Documentação sobre Benedito Calixto e sua obra.

Fonte: Wikipédia

Preto Amaral

JOSÉ AUGUSTO DO AMARAL
(55 anos)
Assassino em Série

☼ Conquista, MG (15/08/1871)
┼ São Paulo, SP (02/07/1927)

José Augusto do Amaral, conhecido por Preto Amaral, nascido em 15/08/1871, solteiro, era natural de Conquista, Minas Gerais. Seus pais escravos africanos do Congo e de Moçambique, haviam sido comprados pelo Visconde de Ouro Preto.

Preto Amaral foi voluntário da Força Pública do Estado de São Paulo, mas desertou. Era reincidente nesse tipo de atitude, que tomou em todos os corpos militares onde serviu: Brigada Policial do Rio Grande do Sul, Grupo de Artilharia Pesada em Bagé, Regimento de Infantaria de Porto Alegre, 13º Regimento de Cavalaria do Rio de Janeiro. Também se alistou na Marinha, mas abandonou o compromisso logo em seguida.

Em seu registro policial constam várias identificações para fins militares, três prisões por vadiagem em São Paulo (1920 e 1921), por vagabundagem em Bauru e Santos (1922) e, nesse mesmo ano por furto em São Paulo.

Nessa época, pós-escravatura no Brasil, era comum que negros fossem presos por esse motivo, pois muitos não conseguiam se empregar oficialmente e viviam de pequenos e eventuais trabalhos. Dessa forma, Preto Amaral constava como pessoa de maus antecedentes pela prática do que se denominava contravenção.

Os Crimes

13/02/1926: O menino Rocco, pequeno engraxate de 9 anos, trabalhava nas imediações da praça da Concórdia, próximo ao Teatro Colombo, no Brás. Cansado, estava pronto para ir embora. A garoa fina que caia espantava os fregueses naquela tarde cinzenta de São Paulo. As poucas pessoas que passavam pela rua estavam apressadas, tentando escapar da chuva.

Um homem alto, negro, aproximou-se de Rocco, pedindo que o ajudasse a carregar uma caixa com roupas, serviço pelo qual ele pagaria 4$000 (quatro mil réis). O menino, excitado com a oportunidade de ganhar um dinheiro extra, aceitou depressa. Seguiu-o da Avenida Celso Garcia até a ponte sobre o Rio Tamanduateí, próximo à Estação da Cantareira. Ao entrarem pela Rua João Theodoro, Rocco sentiu um frio no estômago ao ver-se desprotegido pela pouca luz... A rua estava sem iluminação. Antes que pudesse ficar com medo e sem nenhum aviso, o homem atacou o menino diretamente no pescoço, tentando estrangulá-lo. O garoto lutou bravamente com todas suas forças, mas, sem conseguir respirar, desmaiou. Julgando-o morto, o estranho arrastou-o para debaixo da ponte, rasgou suas roupas e preparou-se para violentá-lo, quando num golpe de sorte, um carro aproximou-se e estacionou. Receoso de ser flagrado, o estranho largou Rocco e fugiu.

O menino acordou um tempo depois, gemendo sem parar. Com muito esforço, machucado e enlameado, chegou até a rua. Duas moças que passavam por ali viram o menino e chamaram imediatamente um policial.

O motorista de táxi Basílio Patti estava saindo para trabalhar quando foi parado pelo grupo, ao atravessar a ponte da Rua João Theodoro. O policial pediu a Basílio Patti que levasse Rocco até a casa dos pais.

Aturdida com a história contada pelo filho, a família não deu queixa a polícia.

O criminoso tinha certeza de ter matado o menino. Depois de vagar a noite inteira pelo centro da cidade, voltou ao local no dia seguinte para dar vazão aos seus desejos sexuais. Surpreso, não achou cadáver algum...

05/12/1926: Sob as árvores da Avenida Tiradentes, sentado em um banco, Antônio Sanchez descansava e pensava em como faria para comprar uma refeição naquele dia. Tinha vindo de Barra Bonita, interior de São Paulo, para trabalhar na capital. Antônio Sanchez era franzino, doente e um pouco afeminado. Aparentava ter bem menos idade do que seus 27 anos. Morava em um apartamento alugado na Lapa, mas não sabia como iria arcar com as despesas. Estava morrendo de fome e não tinha conseguido ganhar dinheiro algum.

Um homem desconhecido, negro e alto, sentou-se ao seu lado. Disse chamar-se Amaral e começaram a conversar. Antônio Sanchez vendo que ele fumava, pediu-lhe um cigarro, comentando sobre a miséria em que se encontrava. Não tinha nem como pagar comida e sentia muita fome. Amaral, dando uma de bom samaritano, chamou o rapaz para almoçar com ele no Botequim do Cunha, que ficava em uma esquina da Rua Teodoro Sampaio. O convite foi aceito por Antônio Sanchez num piscar de olhos.

Depois de ver o rapaz almoçar com o prazer de quem aplaca a dor da fome, Amaral convidou-o para ir com ele até o Campo de Marte para ajudá-lo a fazer um serviço. Seria bem pago. Antônio Sanchez sentiu-se finalmente com sorte. Além de comer, acabava de arrumar um trabalho que ainda lhe renderia uns trocados. Confiando no novo "amigo", seguiu-o.

Ao chegarem ao Campo de Marte, seguindo uma picada que Amaral parecia conhecer bem, começou o ataque. Estavam em um lugar ermo, atrás de um bambual. Antônio Sanchez reagiu sem acreditar no que acontecia.

Os golpes de Amaral vinham sem trégua, e o rapaz tentava, em desespero, escapar. Mas o homem era bem mais forte que ele. Depois de uma luta desigual, Antônio Sanchez foi estrangulado. Ao ver o moço desfalecido, abaixou-se para ouvir se seu coração ainda batia. A lembrança do menino fujão de tempos atrás permanecia em sua memória. Com a certeza de que o rapaz não dava sinais de vida, violentou-o e fugiu em seguida. Para ele, não fazia diferença o fato de fazer sexo com Antônio Sanchez já morto.

24/12/1926: José Felippe de Carvalho, 12 anos, morava no Alto do Pari e conhecia bem os locais por onde perambulava. Às 16:00 hs, brincava com seu estilingue caçando passarinhos pela redondeza. Mais tarde, pediu permissão a mãe para ir a missa de Natal da Igreja de Santo Antônio. Ela regozijada com a religiosidade do filho, permitiu.

Chovia em São Paulo. Caminhando pelas proximidades do Canindé, José Felippe avistou um homem vendendo balões de gás. Fascinado, o menino aproximou-se e pediu um. O homem deu-lhe de presente e puxou conversa. Perguntou onde ele morava e o que fazia ali sozinho, e não deixou de reparar que o garoto tinha no bolso um estilingue. Alguns minutos depois, o balão de gás de José Felippe estourou. Amuado, pediu que o homem lhe desse mais um. O simpático sujeito satisfez-lhe a vontade e, continuando a conversa, comentou que em uma mata perto dali havia um local com muitos passarinhos. Se o garoto quisesse acompanhá-lo, poderia mostrar-lhe o local.

O menino, feliz da vida, concordou. Amaral, seguido por ele, foi até o Campo de Marte. Da mesma maneira que fez com Antônio Sanchez, atacou José Felippe, cometeu homicídio e, em seguida, deu vazão a seus desejos sexuais.

A mãe do menino ficou desesperada quando o filho único não voltou para casa. Saiu pelas ruas, de igreja em igreja, procurando-o freneticamente. Quando sua triste busca em nada resultou, deu queixa em uma delegacia do Brás pelo desaparecimento.

Como no caso de Antônio Sanchez, o corpo da vítima não foi localizado. José Felippe só seria reconhecido dias depois pelas roupas que vestia, quando sua mãe tomou conhecimento por meio de jornais que a polícia havia encontrado cadáveres de meninos sem identificação.

01/01/1927: Antônio Lemes, 15 anos e compleição franzina, estava de folga do trabalho. Era operário em uma fábrica de tecidos. Saiu de casa pedindo à mãe que guardasse seu almoço. Antônio Lemes disse que chegaria mais tarde, pois ia fazer um serviço extra para uma senhora no bairro da Penha.

Amaral, aproveitando o feriado, apostava dinheiro nos jogos de azar que se davam nas proximidades do Mercado Central. Logo avistou Antônio Lemes entre outras crianças que brincavam por ali. Levantou-se e convidou o garoto para almoçar com ele no Restaurante Meio-Dia, como fazia habitualmente. O rapaz aceitou.

Comeram, beberam vinho, e Amaral ofereceu 2$000 (dois mil réis) a ele para que o acompanhasse até a Penha. Como Antônio Lemes conhecia bem o bairro e tinha mesmo que fazer um serviço ali, concordou de bom grado.

Os dois seguiram para o largo do Mercado, onde tomaram o bonde. No ponto final da linha, seguiram a pé pela estrada de São Miguel. De vez em quando paravam em bares pelo caminho, para que Amaral tomasse uns tragos.

Na altura do quilômetro 39, Amaral pegou um atalho da estrada recém-construída. Quando se afastaram o suficiente, enlaçou fortemente o rapaz com o braço esquerdo, esganando-o com a mão direita. Antônio Lemes, pego de surpresa, não resistiu. Apenas empalideceu e desmaiou. Sem querer arriscar, Amaral enrolou um cinto de brim branco, de 85 centímetros de comprimento no pescoço de sua vítima e apertou-o com máxima força. Depois jogou-o no chão, tirou-lhe a calça, rasgou-lhe a camisa e fez sexo com o cadáver. Logo em seguida fugiu.

Dessa vez, o assassino não teria a mesma sorte. O corpo de Antônio Lemes foi encontrado no dia seguinte.

As Investigações

Ao começarem as investigações na área do Mercado, perto de onde o rapaz morava, alguém disse tê-lo visto na companhia de um homem negro. A polícia, sem perder tempo, começou a investigar todos os homens negros com antecedentes de pederastia, uma vez que Antônio Lemes havia sido sodomizado. Os jornais também noticiaram o crime com alarde.

A primeira testemunha a comparecer à delegacia, Roque Siqueira, havia lido as notícias sobre o crime nos jornais e informou ter visto, no primeiro dia do ano, um sujeito negro convidando um menino para almoçar com ele. Almoçaram no mesmo restaurante em que Roque Siqueira estava. Ele viu o adulto pagando algum dinheiro ao garoto. A testemunha disse à polícia que o sujeito era conhecido nas imediações do Mercado como um vagabundo que vivia da exploração do jogo de cartas naquela redondeza.

Os investigadores, acompanhados de Roque Siqueira, saíram a procura do suspeito. Não demorou muito para que o encontrassem.

Prisão e Confissão dos Outros Crimes

José Augusto do Amaral foi preso pelo assassinato de Antônio Lemes, mas não demorou a confessar seus crimes anteriores. Segundo ele, os atos de pederastia eram praticados somente após a certeza da morte da vítima, como se esse argumento atenuasse a sua culpa. As declarações do Preto Amaral foram feitas com naturalidade e sem a menor demonstração de emoção, segundo os relatos dos policiais e jornais da época.

Organizaram-se então diligências para pesquisar o Campo de Marte, onde o criminoso alegou ter deixado os outros corpos. Sem hesitar, Preto Amaral guiou os investigadores até um local próximo a um bambual, onde foi encontrada uma ossada humana. Mais adiante, sob a ramagem de uma pequena moita ressequida, jazia o cadáver de outro menino.

A polícia estava pronta para processar Preto Amaral e colocá-lo na cadeia pelo resto da vida, mas outra confirmação ainda surgiria: O Srº Carmine, pai do engraxate Rocco, procurou a polícia e contou o que acontecera com seu filho no ano anterior. O menino foi trazido ao gabinete do delegado, onde reconheceu Preto Amaral como seu agressor.

Outro que compareceu à delegacia foi Antonio Manoel Neves Filho, 16 anos, que quase caiu na armadilha do mesmo assassino. Ele foi abordado na Rua Voluntários da Pátria e seguiu Preto Amaral até Ponte Grande. Por sorte, quando estava no meio do matagal, conseguiu fugir. Também reconheceu Preto Amaral como seu agressor.

Mais uma vítima se apresentou, Manoel Antonio Neves, 13 anos. Ele contou ter sido convidado por um negro de nariz recurvo para acompanhá-lo até a Estação da Cantareira, com a finalidade de ajudar a trazer um embrulho para o Campo de Marte, onde estavam. Pelo serviço, receberia 1$000 (mil réis). Depois de alguns momentos na companhia do homem, Manoel Antonio Neves achou que alguma coisa estava errada e resolveu fugir. Ele também reconheceu formalmente José Augusto do Amaral como o homem que o "contratou".

A polícia não conseguiu comprovar a culpa de Preto Amaral no desaparecimento de outras crianças ocorridos na mesma época:

  • Antonio Ramalho Filho, 16 anos, desapareceu em 23/12/1926.
  • Luis Bicudo, 15 anos, encanador, desapareceu em 25/12/1926.
  • Sarkis Delclarei, 14 anos, desapareceu em 27/12/1926.
  • Vicente Scagelli, 17 anos, desapareceu em 27/12/1926.
  • Luis Hirah, 15 anos, telegrafista, desapareceu em 31/12/1926.

Estavam confirmadas todas as declarações de homicídio do suspeito, que dizia estar se sentindo melhor depois de sua confissão, mas ele não reconheceu ter abordado as vítimas vivas que o reconheceram na delegacia.

Segundo o Preto Amaral, suas noites estavam sendo atormentadas pelos fantasmas das pessoas para as quais fez algum mal. Esperava, com a admissão de seus crimes, viver em paz.

Enquanto estava preso, à espera de julgamento, Preto Amaral foi submetido a exames físicos e psiquiátricos. Os médicos concluíram que se tratava de criminoso sádico, necrófilo e pederasta, sendo a criança seu objeto especial. Tinha habilidade de praticar seus crimes sem ser descoberto e, se não fosse sua confissão, dificilmente os restos mortais de suas vítimas seriam encontrados.

No exame físico, foi constatado que seu órgão genital tinha um tamanho descomunal. Segundo Preto Amaral, uma "mulher da vida" jamais o atendia duas vezes. Ele atribuía esse fato a uma simpatia que fez quando adolescente. Aconselhado por amigos, teria marcado numa bananeira o tamanho desejado para seu pênis, com dois traços riscados a faca. Passado algum tempo, ao perceber que seu pênis se desenvolvia sem parar, correu até a árvore para modificar o traçado, mas já era tarde. Ela crescera demais e a distância entre os traços também. Desesperado, Amaral derrubou-a a machadadas na tentativa de interromper o processo, mas, segundo ele, o "encanto" permaneceu.

Na face anterior do braço esquerdo tinha tatuado desde os 14 anos, as iniciais do nome de sua mãe, Francisca Cláudia.

Preto Amaral era analfabeto, inteligente, tocava instrumentos musicais de ouvido e tinha excelente memória. Era ferreiro e cozinheiro. Morou em Minas Gerais, Espírito Santo, Bahia, Ceará, Amazonas, Pará, Bolívia, Argentina, Uruguai, Rio Grande do Sul e, finalmente, São Paulo.

Alegava ter alucinações depois de ter cometido seu primeiro crime. Jamais mostrou algum sinal de arrependimento sobre seus atos. Não se sabe se matou meninos nos locais onde morou antes de chegar a São Paulo.

Preto Amaral não refletia sobre suas ações. Era completamente impulsivo em relação a elas. Não percebia nada de anormal em seu comportamento.

Morte

O Preto Amaral, Monstro Negro, Papão de Crianças, Besta-Fera, Espigado ou Tucano, como também foi chamado, foi ficando cada vez mais debilitado enquanto estava na cadeia. Emagreceu, tinha febre constante e dores reumáticas.

Foi removido para a enfermaria da Cadeia Pública, onde faleceu vítima de tuberculose pulmonar em 02/07/1927, aos 55 anos, ainda sob prisão preventiva. Nunca chegou a ser julgado.

Preto Amaral é considerado o primeiro Serial Killer brasileiro e hoje sua história faz parte do Museu do Crime em São Paulo.

Fonte: "Serial Killer Made In Brazil" (Ilana Casoy)

Capistrano de Abreu

JOÃO CAPISTRANO HONÓRIO DE ABREU
(73 anos)
Escritor, Pesquisador e Historiador

* Maranguape, CE (23/10/1853)
+ Rio de Janeiro, RJ (13/08/1927)

Um dos primeiros grandes historiadores do Brasil, produziu ainda nos campos da etnografia e da linguística. A sua obra é caracterizada por uma rigorosa investigação das fontes e por uma visão crítica dos fatos históricos e suas pesquisas fazem contraponto à de Francisco Adolfo de Varnhagen.

Praça Capistrano de Abreu, no Centro de Maranguape
Historiador, João Capistrano Honório de Abreu nasceu na cidade de Maranguape, em 23 de outubro de 1853. Fez seus primeiros estudos em rápidas passagens por várias escolas.

Em 1869, viajou para Recife onde cursou humanidades, retornando ao Ceará dois anos depois. Em Fortaleza, foi um dos fundadores da Academia Francesa, órgão de cultura e debates, progressista e anticlerical, que durou de 1872 a 1875.

No Rio de Janeiro

Neste último ano, viajou para o Rio de Janeiro e aí se fixou, tornando-se empregado da Editora Garnier.

Foi aprovado em concurso público para bibliotecário da Biblioteca Nacional durante a gestão de Ramiz Galvão.

150 Anos do Nascimento de Capistrano de Abreu
Em 1879, foi nomeado oficial da Biblioteca Nacional. Lecionou corografia e história do Brasil no Colégio Pedro II, nomeado por concurso em que apresentou tese sobre o Descobrimento do Brasil e o seu desenvolvimento no século XVI. Eleito para a Academia Brasileira de Letras, recusou-se a tomar posse.

Dedicou-se ao estudo da história colonial brasileira, elaborando uma teoria da literatura nacional, tendo por base os conceitos de clima, terra e raça, que reproduzia os clichês típicos do colonialismo europeu acerca dos trópicos, invertendo, todavia, o mito pré-romântico do "bom selvagem".

É patrono da cadeira 15 da Academia Cearense de Letras e da cadeira 23 da Academia Brasileira de Literatura de Cordel.

Morreu no Rio de Janeiro, aos 73 anos, em 13 de agosto de 1927.

Fonte: Wikipédia