Barão de Guaraciaba

FRANCISCO PAULO DE ALMEIDA
(75 anos)
Proprietário Rural e Banqueiro

☼ Lagoa Dourada, MG (10/01/1826)
┼ Rio de Janeiro, RJ (09/02/1901)

Francisco Paulo de Almeida, primeiro e único Barão de Guaraciaba, foi proprietário rural e banqueiro brasileiro, nascido em Lagoa Dourada, MG, no dia 10/01/1826.

Distinguiu-se por ter sido financeiramente o mais bem sucedido negro do Brasil pré-republicano. Possuiu diversas fazendas e cerca de duzentos escravos, com uma fortuna estimada à época em 700 mil contos de réis. Foi proprietário do emblemático Palácio Amarelo na cidade de Petrópolis, RJ.

Filho de António José de Almeida e de sua primeira esposa, Galdina Alberta do Espírito Santo, e casado com Brasília de Almeida (1844-1889).

Francisco Paulo de Almeida começou a trabalhar cedo, como ourives, especializado na confecção de abotoaduras de ouro e botões de colarinho. A filiação nas irmandades lhe possibilitou o aprendizado do violino e a autorização a tocar nos velórios, atividade que complementava seus ganhos.

Aos 16 anos, recebeu como parte da partilha de bens de sua mãe cerca de 257 mil réis. Cinco anos depois, por ocasião do falecimento da avó, foi-lhe concedido 99 mil réis. Considerando que esses valores eram parte da divisão entre numerosos herdeiros, pode-se supor que a família de Francisco tinha um bom nível econômico. Por essa época, Francisco trabalhava como tropeiro, viajando de Minas Gerais pela estrada geral que passava por Valença, Rio de Janeiro.

Casou tarde, por volta de 1860, aos 34 anos, com Brasília Eugenia da Silva Almeida, mulher branca, com quem teve 15 filhos. Neste ano comprou sua primeira fazenda no Arraial de São Sebastião do Rio Bonito. Começava sua ascensão como próspero cafeicultor no no Vale do Paraíba fluminense.

Palácio Amarelo, Petrópolis, RJ. Antiga residência do Barão de Guaraciaba
Os Negócios

Em poucos anos, o barão Francisco Paulo de Almeida comprou outras fazendas de café: Veneza, Santa Fé, Três Barras, Santa Clara e Piracema. Por último, em 1897, já na República, adquiriu a Fazenda Pocinho, entre os municípios de Vassouras e Barra do Piraí.

Suas fazendas estendiam-se pelo Vale do Paraíba fluminense somando um vasto território de 250 km2, centenas escravos e uma fortuna de quase 700 mil contos de réis, patrimônio de um bilionário. Só a fazenda Veneza, em Conservatória, possuía 400 mil pés de café. As sedes de suas fazendas eram belíssimas e ele vivia no extremo luxo. Na corte, possuía um espaçoso sobrado na Tijuca, Rua Moura Brito. Em Petrópolis, cidade de veraneio da nobreza imperial brasileira, era proprietário do célebre Palácio Amarelo, no centro da cidade. O palacete foi adquirido, em 1894, pelo governo para servir de sede da Câmara Municipal.

Homem talentoso para lidar com as finanças, o barão Francisco tinha investimentos diversificados. Em 1870, dedicou-se ao negócio de importação e exportação, com escritório situado na antiga Rua de Bragança, 31, na Corte. Participou da construção da Estrada de Ferro de Santa Isabel do Rio Preto, cujos trilhos atravessavam sua Fazenda Veneza e assistiu sua inauguração ao lado de Dom Pedro II, em 1883.

Aplicava em ações e foi sócio fundador do Banco Territorial de Minas Gerais e do Banco Crédito Real de Minas Gerais. A diversificação dos negócios evitou que Francisco perdesse sua fortuna com o declínio do café do Vale que levou à ruína os barões de café.

Fazenda Veneza, em Conservatória, RJ
O Título de Barão

Em 16/09/1887, Francisco Paulo de Almeida foi agraciado pelo título nobiliárquico de Barão de Guaraciaba. Segundo o decreto, assinado pela Princesa Isabel, regente do trono na ausência do imperador. O título fora-lhe concedido por "merecimento e dignidade" pela beneficência em favor da Santa Casa de Misericórdia de Valença, Rio de Janeiro, em que foi provedor no biênio 1882-1884.

Foi o primeiro e único barão negro do império. Na hierarquia nobiliárquica, barão era o primeiro título de nobreza, seguido por visconde, conde, marquês e duque, sendo este último o de maior importância. Era uma prerrogativa do monarca eleger quem ostentaria essas distinções. Não havia uma regra clara para a concessão, justificada, em geral, por "serviços prestados ao Estado".

Segundo Schwarcz, ao final do Império, a nobreza brasileira possuía 316 barões, 54 viscondes, 10 condes e nenhum duque. Duque de Caxias, o único duque em todo o período imperial, falecera em 07/05/1880. O nome Guaraciaba, palavra de origem tupi que significa "lugar do sol" (junção de kûarasy, sol, e aba, lugar) seguia a voga indianista presente na pintura acadêmica e nos romances brasileiros da época. Dar nomes indígenas aos títulos de nobreza conferia um caráter tropical e exótico à corte imperial.

O Barão e o Escravismo

Francisco Paulo de Almeida iniciou sua trajetória em uma época em que o fluxo de africanos escravizados foi mais vigoroso. A partir de 1850, com o fim do tráfico negreiro, a reposição da força de trabalho ocorreria por meio do tráfico interno. Como seria a relação de Francisco com a nobreza da Corte? E com a oligarquia cafeeira? Sabe-se que ele desfrutou da amizade da Princesa Isabel e do Conde D’Eu. Mas o título de barão só lhe foi concedido ao final de sua vida. Por essa época, viajava frequentemente à Europa, permanecendo por longo tempo em Paris onde seus filhos estudavam. Como grande fazendeiro, homem de negócios e aristocrata Francisco certamente acompanhou todos embates sobre questão da mão de obra: o fim definitivo do tráfico (1850), a Lei de Terras (1850), a introdução de mão de obra livre imigrante nas fazendas de café, a Lei do Ventre Livre (1871), do Sexagenário (1885) e a abolição (1888).

Embora fosse mulato, ou negro, segundo algumas fontes, o barão Francisco estava longe de ser um abolicionista. Na abolição de maio de 1888, ele tinha cerca de 200 escravos na sua fazenda Veneza, em Conservatória.

Após a Proclamação da República, adquiriu o Palácio Amarelo, atual sede do Legislativo da cidade de Petrópolis, foi perseguido pelo legislativo, até vender seu imóvel.

O Barão de Guaraciaba, pelos fatos percebidos, tinha uma visão aguçada de seu tempo, das relações próprias de sua sociedade e dos atributos que o indivíduo necessitava para nela estar e transitar. Nesta sociedade, além do poder econômico, para se situar, para estar, para se manter e para se relacionar com a sociedade, era preciso se preocupar com a instrução.

Por isso, suas filhas, além do programa de estudos preconizado pela Lei Nacional de 15/10/1827, que instituiu a instrução pública para meninas em todo o Império brasileiro (leitura, escrita, quatro operações de aritmética, gramática de língua nacional, os princípios da moral cristã e de doutrina da religião católica, apostólica e romana, bem como as prendas que servem à economia doméstica), estudaram piano, o segundo instrumento de sua devoção. Os filhos foram enviados para estudar em Paris, França.

Nos últimos anos de sua vida, o Barão de Guaraciaba, viajou constantemente para Paris. Faleceu em 09/02/1901, na casa de sua filha Adelina, situada à Rua Silveira Martins, 81. Foi sepultado no Cemitério São João Batista longe da Baronesa que foi sepultada no Cemitério de Bemposta, distrito de Três Rios, RJ.

Em vida, o Barão de Guaraciaba desfez-se de quase todos os seus bens, deixando de herança a Fazenda Pocinho e a Fazenda Santa Fé para suas filhas e para os homens deixou dinheiro em espécie. 

Mônica de Souza Destro
O Barão Negro, Seu Palácio e Seus 200 Escravos
Família resgata memória de um dos homens mais ricos do Brasil Imperial e que ganhou título da Princesa Isabel
(Por Caio Barreto Briso)

Algumas páginas poderiam se desfazer em mãos descuidadas. São documentos guardados a sete chaves há mais de um século. Embora esmaecidas, as folhas mancham de tinta os dedos de quem as manuseia. "Aqui está a história da nossa família", diz Mônica de Souza Destro, na sala de sua casa, em Juiz de Fora, MG. Ela tem muitas pastas empilhadas na sua frente, onde guarda fragmentos de uma história tão esquecida quanto fascinante.

Revirar esses papéis é voltar ao tempo do tataravô de Mônica, o mineiro Francisco Paulo de Almeida, primeiro e único Barão de Guaraciaba, um proprietário rural e banqueiro brasileiro. Um dos mais importantes barões do café do segundo reinado. Titulado como Barão de Guaraciaba pela própria Princesa Isabel, acumulou um enorme patrimônio no Vale do Paraíba fluminense. Suas fazendas estendiam-se pelos estados do Rio de Janeiro e também de Minas Gerais, somando um vasto território estimado em 250 quilômetros quadrados, e uma fortuna de quase 700 mil contos de réis, coisa de bilionário. Mas um detalhe tornava o barão diferente dos outros nobres: Ele era negro em um país escravocrata. Reinou em um mundo dominado por brancos.

"Foi um gênio das finanças. Seu patrimônio era colossal, nem a queda do café o fez quebrar. As sedes de suas fazendas eram belíssimas, ele vivia no extremo luxo. Tinha investimentos diversificados, aplicava em ações, fundou bancos. Foi sócio fundador do Banco Territorial de Minas Gerais e do Banco Crédito Real de Minas Gerais. Por isso se tornou um dos homens mais ricos de seu tempo."
(Afirma o historiador José Carlos Vasconcelos, especialista no passado do Vale do Paraíba)

Mônica de Souza Destro é a guardiã dos documentos históricos que reconstroem a história do barão. Com a ajuda de Vasconcelos, ela está montando a árvore genealógica de sua família. É um trabalho hercúleo. Em um software de genealogia instalado em seu computador, já cadastrou 580 nomes de parentes. A lista começa com os 15 filhos que o barão teve com a mulher, Dona Brasília, e chega até Marina, de 10 anos, caçula de Mônica.

Quem começou a organizar o arquivo da família foi seu avô, o engenheiro Antônio Augusto de Almeida e Souza. Até os 98 anos, idade em que morreu, cuidou com esmero de todas as fotos, inventários, testamentos e certidões de nascimento e óbito dos parentes. Cada filho e neto do barão possui uma minibiografia, escrita à mão por seu Antônio.


Embora fosse negro, o aristocrata estava longe de ser um abolicionista. Quando a Princesa Isabel assinou a Lei Áurea, tinha cerca de 200 escravos na Fazenda Veneza, em Conservatória, onde possuía mais de 400 mil pés de café. Mesmo com a abolição, a maioria continuou trabalhando para o barão, e alguns foram incluídos no testamento, caso de Isabelinha, que trabalhava na sede da fazenda e ganhou, na divisão da herança, o mesmo valor em dinheiro que os filhos: quase 2.000 contos de réis.

Para desenvolver a árvore genealógica da família, Mônica, que trabalha como secretária em um consultório médico, foi atrás dos primos mais distantes. Conheceu diversos parentes de quem nunca ouvira falar, vários deles encontrados no Facebook - nem todos se interessaram em ajudá-la.

Dos 13 filhos do barão, 12 casaram e aumentaram a família, a exceção é Serbelina, a primogênita, que só viveu até os 2 anos.

Com a morte do patriarca, em 09/02/1901, em uma mansão no Catete - para onde se mudou após vender o Palácio Amarelo, em Petrópolis, à Câmara dos Vereadores -, sua família se espalhou por cidades do Rio de Janeiro e de Minas Gerais. A maioria dos descendentes não se parece mais nem de longe com o barão. Alguns, como Mônica, têm olhos claros. As filhas do Barão de Guaraciaba se casaram com portugueses, e os filhos, com mulheres brancas.

Familiares e historiadores acreditam que o barão tenha começado a vida como ouvires, especialista na confecção de abotoaduras de ouro. Também ganhava dinheiro tocando violino em enterros. Mas foi ao tornar-se tropeiro que ele teria lucrado o bastante para comprar sua primeira fazenda, em meados do século XIX.

O que ainda não se sabe sobre o barão, a tataraneta Mônica está tentando descobrir. Seu sonho é escrever um livro contando a saga do negro que conquistou o Império.

"O ramo da minha família é um dos que possuem menos recursos. Mas a história está conosco. Para mim, é o que importa", afirma.

Indicação: Miguel Sampaio