Marília Monteiro de Barros Batista foi uma cantora, compositora e instrumentista brasileira nascida no Rio de Janeiro em 13 de abril de 1918. Em 29 de agosto de 1930, com 12 anos, levada pelo jornalista
Lauro Samo Nunes, pai de
Max Nunes, deu seu primeiro recital de violão no
Cassino Beira-Mar, cantando entre canções sertanejas, sambas e cateretês, suas primeiras composições.
Era filha do médico do Exército
Renato Hugo Batista e da pianista
Edith Monteiro de Barros Batista. Tinha três irmãos
Renato,
Henrique e
Valéria. Herdeira de tradicional família da sociedade carioca, neta do poeta e
Barão Monteiro de Barros, mostrou desde menina, seu interesse pela música.
Aos seis anos,
ganhou o primeiro violão por acaso. O barbeiro da família, numa ida à sua casa para cortar os cabelos do pai e do irmão, esqueceu lá o seu instrumento. A menina não largou nunca mais o violão, que seria uma de suas eternas paixões. Para o instrumento querido chegou até a escrever versos:
"Fala tudo que meu peito sente / pois, meu amigo verdadeiro / nem brincando você mente"
Aos oito anos, já compunha. Estudou no
Instituto Nacional de Música, atual
Escola de Música da Universidade Federal do Rio de Janeiro, onde formou-se em teoria, solfejo e harmonia, apesar de abandonar o curso de piano no 4º ano.
Começou a estudar violão com
Josué de Barros aos 12 anos, por iniciativa do próprio violonista, que depois de ficar encantado com um recital da menina no
Cassino Beira-Mar fez questão de ministrar-lhe aulas de graça. Depois, estudou violão clássico com o virtuoso
José Rebelo, pois sua intensão era tornar-se uma concertista. Apesar disso, seu interesse pela música popular sempre foi mais forte.
Um de seus passatempos favoritos era tricotar, atividade que exercia nos intervalos dos programas de rádio de que participava. Depois da morte de
Noel Rosa, foi a ela que
Dona Martha, a mãe do compositor, deu os manuscritos do filho. Entregou-os às mãos de
Almirante, que os conservou cuidadosamente.
Em 1933, a convite de
Almirante, participou, ao lado de
Silvio Caldas e
Ary Barroso, do show
"Broadway Cocktail", apresentado no
Cine-Teatro Broadway, e logo depois foi contratada por
Ademar Casé, que assistira ao espetáculo, para seu programa na
Rádio Philips. No programa
Ademar Casé, apresentou-se inicialmente (1934) ao lado de
Noel Rosa, com quem improvisava versos cantados com o estribilho
"De Babado Sim / De Babado Não", e depois sozinha (1935), lançando pelo rádio o samba de
Noel Rosa "Pela Décima Vez".
Em 1936 gravou com
Noel Rosa, na
Odeon,
"De Babado" (
Noel Rosa e
João Mina) e
"Cem Mil-Réis" (
Noel Rosa e
Vadico). Ainda com
Noel Rosa e acompanhada pelo conjunto de
Benedito Lacerda, lançou mais dois discos nesse ano: Pela
RCA Victor, os dois cantaram os sambas
"Quem Ri Melhor" (
Noel Rosa) e
"Quantos Beijos" (
Noel Rosa e
Vadico); e, em disco
Odeon, registraram
"Provei" (
Noel Rosa e
Vadico) e
"Você Vai Se Quiser" (
Noel Rosa). Aos poucos, foi-se tornando conhecida como compositora e uma das principais intérpretes de
Noel Rosa e já por essa época, seu trabalho lhe valeu o titulo de
"Princesinha do Samba" e, em 1940, gravou na
RCA Victor o samba-canção de
Noel Rosa,
"Silêncio de Um Minuto".
Em 1945, interrompeu a vida artística para casar-se e só retornou em 1950. Na década de 1960, resolveu voltar a estudar e formou-se em Direito.
Em 1945 interrompeu por alguns anos suas atividades musicais, retomando a vida artística cinco anos depois, quando lançou pela
Musidisc o LP
"Samba e Outras Coisas", que reuniu as composições que fez com o irmão
Henrique Batista -
"Nunca Mais",
"Você Não é Feliz Porque Não Quer",
"Imitação",
"Vai, Eu Te Dou a Liberdade",
"Praia da Gávea",
"Vila dos Meus Amores" e mais duas composições de
Noel Rosa.
Pela mesma etiqueta gravou em 1954, LP só com musicas de
Noel Rosa, nele incluindo o samba
"Tipo Zero" e, nove anos mais tarde, voltou a gravar só composições do compositor da Vila Isabel, num álbum com dois LPs, editado pelo selo
Nilser, de Nilo Sérgio, intitulado
"Historia Musical de Noel Rosa".
Em 1967 voltou a gravar sambas desse compositor. Em toda a sua carreira, gravou cerca de 30 discos, além dos LPs citados.
Destacou-se como intérprete e divulgadora da obra de
Noel Rosa, que conheceu em 1932, quando, com apenas 14 anos, foi convidada para cantar no espetáculo
"Uma Hora de Arte", no
Grêmio Esportivo Onze de Junho. Tornaram-se grandes amigos e até hoje os historiados da MPB se perguntam se ela foi a intérprete favorita de
Noel Rosa. Ainda em 1931, em festa realizada na casa da cantora
Elisinha Coelho conheceu grandes nomes da música popular da época: o maestro
Heckel Tavares, o compositor
Luís Peixoto,
Almirante e o
Bando dos Tangarás.
Em 1932, gravou seu primeiro disco com composições suas em parceria com seu irmão
Henrique Batista: o samba
"Pedi, Implorei" e a marcha
"Me Larga". Na ocasião foi acompanhada pelo violão de
Rogério Guimarães e o bandolim de
João Martins.
Em 1933, foi convidada por
Almirante para fazer parte do oitavo
"Broadway Cocktail", show que precedia o filme no
Cine Broadway, ao lado de grandes nomes da música popular de então:
Sílvio Caldas,
Jorge Fernandes e
Rogério Guimarães. O sucesso foi tanto que a jovem cantora recebeu convite de
Ademar Casé para integrar o famoso
"Programa Casé", na
Rádio Phillips, com um contrato altíssimo para a época, de 45 mil-réis.
No
"Programa Casé", em dupla com
Noel Rosa, ficaram famosos os improvisos com o samba
"De Babado" (
Noel Rosa e
João da Mina) e dos versinhos das propagandas de anunciantes do programa. Os improvisos, às vezes, chegavam a durar 10 minutos sem repetição de versos criados na hora por ela e o parceiro
Noel Rosa. Chegou a criar um prefixo para sua participação no programa:
"Fala o Programa Casé! / Veja se adivinha quem é... / Faço a pergunta por troça / pois todo mundo já conhece / A garota da voz grossa"
Foi no programa que a cantora lançou o samba de
Noel Rosa "Pela Décima Vez", em 1935.
Em 1936, gravou com
Noel Rosa o disco com o famoso samba
"De Babado" e com o samba
"Cem Mil-Réis" (
Noel Rosa e Vadico). No mesmo ano, gravou mais dois discos com
Noel Rosa, o primeiro, com os sambas
"Provei" (
Noel Rosa e Vadico) e
"Você Vai Se Quiser" (
Noel Rosa), pela
Odeon acompanhados pelo conjunto de
Benedito Lacerda.
O outro disco foi lançado pela
RCA Victor e acabou sendo o último disco gravado por
Noel Rosa com os sambas
"Quem Ri Melhor" (
Noel Rosa) e
"Quantos Beijos" (
Noel Rosa e Vadico), acompanhados pela orquestra de
Pixinguinha e coro de
Cyro Monteiro,
Odette Amaral,
Almirante e pelas pastoras e ritmistas da
Mangueira, puxados por
Cartola.
Após o enterro de
Noel Rosa, compôs com o irmão
Henrique Batista o samba
"Não Há Mais Samba Na Terra", apresentado na mesma noite na
Rádio Educadora. Nessa época, recebeu o título de
"Princezinha do Samba".
Integrou o elenco da
Rádio Nacional, desde a sua inauguração, em 12 de setembro de 1936. Para a rádio, passou a integrar o grupo vocal
As Três Marias, com o qual acompanhava cantores da emissora. Atuou ainda na
Rádio Cajuti,
Rádio Cruzeiro do Sul e
Rádio Transmissora, apresentando o programa
"Samba e Outras Coisas".
Em 1938, viajou ao Uruguai onde fez oito apresentações em rádios diferentes. Em 1940, gravou pela
RCA Victor o samba
"Silêncio De Um Minuto" (
Noel Rosa). No mesmo ano, gravou com
Edmundo Silva o samba
"No Samburá da Baiana" (
Moacir Bernardino e
J. Portela) e o batuque
"Vai Andar" (
Roberto Martins e
Mário Rossi). No mesmo ano, apresentou-se na
Rádio Tupi.
Em 1943, teve o samba
"Grande Prêmio" parceria com
Henrique Batista, gravado por
Linda Batista na
RCA Victor. Participou do programa de apresentação do novo programa de
Almirante em seu retorno à
Rádio Nacional, em 14 de março de 1944. Nesse mesmo ano, gravou seu último disco antes do casamento e do afastamento da vida artística por cinco anos interpretando os sambas
"Liberdade" (
Pereira Matos e
Manoel Vieira) e
"Salão Azul", de sua parceria com o irmão
Henrique Batista.
Depois de um longo afastamento, voltou à carreira artística na década de 1950. Nessa década algumas de suas músicas passaram a ser difundidas, entre elas
"Praça Sete", gravada com sucesso por
Elizeth Cardoso. Em 1951, gravou pelo selo
Carnaval os sambas
"Lamento" e
"Tamborim Batendo", parcerias com
Henrique Batista.
Em 1952, lançou pela
Musidisc o LP
"Samba e Outras Coisas" no qual interpretou, entre outras,
"Remorso" (
Noel Rosa),
"Imitação",
"Vai, Eu Te Dou a Liberdade" e
"Praia da Gávea", as três, parcerias com o irmão
Henrique Batista.
Em 1954, gravou um LP só com músicas de
Noel Rosa interpretando entre outras composições do
Poeta da Vila "Quando o Samba Acabou",
"Dama do Cabaré",
"Até Amanhã" e
"Com Que Roupa".
Em 1956, gravou dois discos pela
Musidisc interpretando os sambas
"Vila Dos Meus Amores",
"Você Não é Feliz Porque Não Quer" e
"Nunca Mais", de sua parceria com
Henrique Batista e
"Tipo Zero", de
Noel Rosa.
Em 1960 gravou o LP
"Marília Batista, Sua Personalidade, Sua Bossa", com composições como
"João Teimoso", que ela musicou a partir de versos deixados por
Noel Rosa,
"Morena Sereia" (
Noel Rosa e
José Maria de Abreu) e
"Consciência", de sua parceria com
Renato Filho.
Em 1961, apresentou-se em programas de TV e na
Rádio Inconfidência de Belo Horizonte. No mesmo ano, gravou pela
Copacabana os sambas
"Rio, 61" e
"Bossa do Futuro", de sua autoria.
Em 1963, gravou o LP duplo
"História Musical de Noel Rosa" pela
Nilser de
Nilo Sérgio cantando 44 obras do
Poeta da Vila.
Em 1965, participou com
Aracy de Almeida,
Dircinha Batista,
Cyro Monteiro e outros, do show de despedida do cantor
Sílvio Caldas, no Maracanãzinho, no Rio de Janeiro.
Em 1988, quando participou do projeto
"Corcerto Ao Meio Dia" no
Teatro João Teotônio, entrevista musical conduzida por
R. C. Albin, chegou a ir às lágrimas com o tributo de aplausos que recebeu da platéia que superlotava o teatro.
Marília Baista deixou cerca de 30 registros gravados em 78 rpm e vários LPs.
Discografia
- 1932 - Me Larga! / Pedi, Implorei (RCA Victor)
- 1932 - Enquanto Eu Viver Na Orgia / Eu Sou Feliz (RCA Victor)
- 1936 - De Babado / Cem Mil Réis (Odeon)
- 1936 - Provei / Você Vai Se Quiser (Odeon)
- 1936 - Quem Ri Melhor / Quantos Beijos (RCA Victor)
- 1940 - Adão Carnavalesco (RCA Victor)
- 1940 - Amendoim Torradinho / Silêncio De Um Minuto (RCA Victor)
- 1940 - No Samburá Da Baiana / Vai Andar (RCA Victor)
- 1944 - Liberdade / Salão Azul (RCA Victor)
- 1951 - Lamento / Tamborim Batendo (Carnaval)
- 1952 - Samba e Outras Coisas (Musidisc)
- 1953 - Marília Batista Com Orquestra Rádio e Trio Vocal (Rádio)
- 1954 - Poeta Da Vila Nº 1 (Discos Rádio)
- 1954 - Marília Batista Com Orquestra (Musidisc)
- 1956 - Vila Dos Meus Amores / Você Não é Feliz Porque Não Quer (Musidisc)
- 1956 - Tipo Zero / Nunca Mais (Musidisc)
- 1961 - Rio, 61 / Bossa do Futuro (Copacabana)
- 1962 - Marília Batista Com Orquestra (Musidisc)
- 1963 - História Musical de Noel Rosa (Nilser)
- 1966 - História Musical de Noel Rosa Por Marília Batista (Vols. 1 e 2)