Célia Villela

CÉLIA DA CONCEIÇÃO VILLELA
(68 anos)
Cantora

* Belo Horizonte, MG (24/11/1936)
+ Petrópolis, RJ (01/01/2005)

Célia da Conceição Villela nasceu em 24/11/1936, em Belo Horizonte, MG. Célia Villela começou sua carreira artística com 4 anos de idade, quando foi levada por sua mãe a um programa infantil das Emissoras Associadas de Belo Horizonte. Sua atuação no programa agradou tanto que passou a ser atração fixa do mesmo, com a aprovação dos pais.

Tornou-se profissional em 1947, quando tinha 10 anos, ganhando 50 cruzeiros por apresentação. Ao mesmo tempo em que atuava no rádio, sua família não se descuidou de sua educação. Depois do curso primário, fez o secundário na Escola Izabel Hendricks. Fêz também uma prova na academia de balé da professora Natile Lessa, que lhe garantiu uma bolsa de estudos integral.

Em 1950, com 13 anos, estava em plena moda o ritmo do baião e Célia Villela foi eleita a Rainha do Baião de Minas Gerais, e passou a ter seu programa próprio na Radio Guarani de Belo Horizonte, que se chamava "Aí Vem o Baião", irradiado das 20:00 hs às 20:30 hs.

Estava iniciando o curso científico quando foi contratada pela Radio Tupi do Rio de Janeiro. Era uma época de renovação nas Emissoras Associadas, e haviam contratado muitos elementos da Radio Nacional, inclusive Brandão Filho. Célia Villela mudou-se para o Rio de Janeiro com sua mãe e somente mais tarde é que sua irmã Marlene veio ao seu encontro. O ordenado de Célia Villela na Tupi era de 3.500 cruzeiros mensais e ela, vendo que precisava ganhar mais, aceitou um convite de Carlos Machado, o grande empresário do teatro burlesco, para ingressar no seu elenco. Tinha então quase 15 anos, mas aumentou a idade nos documentos para 18 anos e conseguiu que seu pai lhe concedesse a emancipação.

Sua carreira em boite começou na Beguin, night-club no Hotel Glória, ganhando 7.000 cruzeiros. Tomando parte em diversos shows de Carlos Machado, mais tarde no Night & Day, também viajou muito. Sua primeira excursão foi para Curaçao, Caracas e Puerto Rico e foi uma prova de fogo.

No Hotel Tamanaco de Caracas, a maior parte do elenco feminino ficou gripada e Célia Villela, além de seus papéis, teve que fazer o das outras. O trabalho exaustivo prejudicou sua saúde e em San Juan de Puerto Rico ficou uma semana acamada, com pneumonia. Com a trupe de Carlos Machado ainda esteve no Uruguay, Argentina  e até em Cuba, onde trabalhou muito tempo.

Celia foi aos Estados Unidos duas vêzes. Primeiro com a companhia de Carlos Machado e outra com Francisco Carlos e Marion, quando ficou por lá três meses. Sempre procurando estar a par do que se passava artísticamente no exterior, ela trouxe dos Estados Unidos os primeiros discos de Elvis Presley. De Puerto Rico trouxe um novo ritmo que começava a fazer sucesso por lá e que se chamava cha-cha-cha. Quis gravar o cha-cha-cha mas ninguém lhe deu ouvidos.

Carlos Machado precisava de uma crooner e ela, então, foi à Belo Horizonte buscar sua irmã Marlene Villela para o lugar. Sofreu outra pneumonia e resolveu deixar de trabalhar em boites, mesmo tendo um salário de 18.000 mensais.


Estudou violão e, ao ouví-la, Benil Santos levou-a para a RGE, para gravar um 78 rpm com as melodias "Trem Do Amor", versão também de Fred Jorge para "One Way Ticket To The Blues" (H. Hunter e J. Keller) e "Conversa Ao Telefone", versão de Fred Jorge para "Pillow Talk" (Peper James),  ambas lançadas num mesmo 78 rpm pela gravadora RGE, e "Passo A Passo", seu maior sucesso, versão de "Step By Step", hit do grupo norte-americano The Crests, todas incluídas no primeiro LP de Célia, intitulado "E Viva a Juventude!!!", lançado em 1961.

Um dia, Abelardo Barbosa, o Chacrinha, ouvindo seu entusiasmo na defesa do rock, convidou-a para participar de seu programa na Radio Globo, justamente numa polêmica em que ele atacaria e ela defenderia o rock. Pouco depois Célia Villela era contratada pela Emissora Metropolitana e TV Continental, onde lançou o programa "Célia, Música e Juventude", e "Na Roda Do Rock", na Rádio Globo. Mais tarde na Rádio Guanabara animou o "Festival da Juventude" e posteriormente na TV Rio, apresentou o "Célia Vilela Na TV" aos sábados às 16:40 hs.

Entre os títulos que mais preza estão os de "10 Nomes Mais Queridos", "Revelação de Animadora de TV" de 1961 e "Rainha da Televisão de 1962-1963", todos eles ganhos em concursos da Revista do Radio.


O segundo LP de Célia Villela, "F-15 Espacial", somente foi lançado em 1964.

Célia Villela era candidata natural a substituir Celly Campello quando esta abandonou a carreira em 1962 para se casar, tanto que foi eleita Rainha da TV em concurso de 1963 da Revista do Rádio, conceituada na época.

A cantora aproveitou o reinado e lançou em 1964 o LP "A Rainha Da TV" pela Musidisc. Duas músicas do disco, "Dançando o Hully-Gully" e "Acho Que Me Apaixonei", foram incluídas no segundo e último LP da carreira, intitulado "F-15 Espacial", que se destaca por dois fatos: é um dos primeiros LPs brasileiros de rock lançados em estéreo e, pra arrematar, inclui composições de Roberto Carlos e Erasmo Carlos em separado. Repare que Roberto Carlos resgata "O Broto Displicente", na letra de "Acho Que Me Apaixonei", quando compôs "Parei Na Contramão", primeira obra em parceria com Erasmo. Este disco também serve para confirmar um fato conhecido: a produção individual dos músicos passou a ser assinada em dupla. Observe que o Erasmo Carlos aparece como o autor de "Alguém Na Vida Da Gente", mas logo na sequência, quando regravada na Chantecler por Idalina de Oliveira, o nome de Roberto Carlos é acrescentado.


Célia Villela e Neil Sedaka
Começou na piscina e acabou na boite...
Que o Neil Sedaka tem um xodó pela Célia Vilela, convenhamos, isso nem é preciso dizer. Está à vista. Basta lembrar que em sua primeira visita ao Brasil, em 1959, Neil Sedaka esteve sempre ao lado da jovem cantora, empolgado com sua simpatia e alegria contagiantes.
Depois, no início de 1960, cheia de saudades, foi Célia Villela quem viajou para a America do Norte, lá encontrando o mesmo Neil Sedaka, fazendo amizade ainda, com a familia Sedaka.
Longe um do outro, continuaram trocando cartas muito carinhosas, ela pedindo que ele voltasse ao Brasil. E Neil Sedaka voltou mesmo. No aeroporto do Galeão, a primeira pessoa a abraçá-lo foi Célia Villela, naturalmente. De manhã à noite durante a permanência de Neil Sedaka no Rio de Janeiro, Célia Villela esteve ao seu lado. Ele fez questão de mostrar-lhe o Rio de Janeiro, de norte a sul.
Estiveram nas praias, nas boites, em todos os recantos gostosos da nossa cidade. A Revista do Radio os surpreendeu na piscina do Copacabana Palace e também numa boite granfiníssima.
Se há mesmo romance? É claro que eles dizem que não. 'Somos apenas bons amigos'. Mas, sabem como é... Verdade é que, se o Rio de Janeiro tivesse cicerones assim, como a Celinha, o mundo inteiro viria para cá.
(Revista do Rádio - 04/03/1961)


Célia Villela e Carlos Becker
Casamento
Com a presença de pessoas muito íntimas e até com algum segrêdo, realizou-se em 30/09/1965, o casamento de Célia Villela. Ela já havia se afastado da vida artística e só souberam que a cantora havia casado, por ocasião do lançamento do seu novo LP, quando começou a dar entrevistas em programas de rádio.
Havia a intenção de fazer-se a cerimônia na intimidade, mas a doença da avó de Célia Villela agravou o caso. Por este motivo, a veneranda senhora estava à morte, foram eliminadas todas as festas e cancelada a recepção que seria oferecida aos amigos. Mas a avó de Célia, melhorou depois de realizado o casamento. Faleceu 3 meses depois, como se tivesse resistido até então para ver o casamento da neta.
Foi na casa do então noivo, em Copacabana que se realizou a cerimônia civil, mas com alguns amigos presentes. Perante os juízes e padrinhos, Célia Villela e Carlos Eduardo Becker foram declarados marido e mulher. Os padrinhos de Célia foram a tia de Carlos, Adelaide Azevedo Pinheiro e o irmão do noivo Sérgio Becker. Os padrinhos do noivo foram seus cunhados, Ialdi e Sônia Santos. Ela trajava um tubinho rosa, de shantung de sêda, com bolero tipo Chanel. Carlos estava de terno de tropical inglês cinza escuro e gravata cinza pérola.
Tudo estava combinado para que o ato religioso fôsse realizado num templo carioca com a presença dos amigos e do publico fã da cantora. Mas, quando faltavam poucos dias, Célia Villela lembrou-se de uma promessa que fizera e tudo foi modificado. Para cumprí-la os noivos foram à Aparecida do Norte, SP, e lá casaram em 05/10/1965,  na Igreja de Nossa Senhora da Aparecida. Os padrinhos de Célia foram os pais de Carlos, Adolfo Becker e Maria Clisie Becker, e os padrinhos de Carlos foram Marlene Villela e Sérgio Becker.
O vestido de Célia era um tubinho de seda branca, bordado com pedras de cristal e levando uma blusa interna de musselina branca. Na cabeça usava um chale de renda rosa claro com uma camélia em cima, e na mão um terço. Carlos usava terno de tropical azul-marinho.
Falando a reportagem, Célia declarou a intenção de abandonar a carreira artística, mantendo apenas para contato com os fãs, o seu contrato de gravações com a Musidisc, que recentemente lançou o LP "F-15 Espacial". Ela agora quer apenas cuidar do lar, do marido e dos filhos, quando estes vierem.
Há grande afinidade entre Célia Villela e Carlos Becker, não só afetiva, mas artística, pois ele é músico e dirigente do conjunto The Angels, da Copacabana Discos. Além de suas atividades artísticas, Carlos Eduardo exerce outra profissão, como funcionário de categoria do Banco do Estado da Guanabara, e acaba de ser aprovado em concurso para o Banco do Brasil. A lua de mel que teve a duração de 20 dias foi passada na fazenda do pai de Carlos situada perto de Nova Friburgo, RJ.
(Revista do Rádio) 

Célia poderia estourar na Jovem Guarda, mas antes do programa entrar no ar, no segundo semestre de 1965, a cantora abandonou a carreira e casou-se com o músico Carlos Becker. A partir de então se tornou reclusa e consta que Albert Pavão a teria convidado em 1987 para que desse seu testemunho sobre a História do Rock Brasileiro para o Museu de Imagem e Som do Rio de Janeiro, mas Célia Villela não aceitou.

Célia Villela faleceu em 2005, em Teresópolis, Rio de Janeiro, em 01/01/2005, e não há maiores detalhes a respeito.

Indicação: Miguel Sampaio

Geraldo Pereira

GERALDO TEODORO PEREIRA
(37 anos)
Cantor e Compositor

* Juiz de Fora, MG (23/04/1918)
+ Rio de Janeiro, RJ (08/05/1955)

Filho de Sebastão Maria e de Clementina Maria Teodoro, tinha três irmãos. Nasceu em Juiz de Fora, MG, e em 1930, mudou-se para o Rio de Janeiro para morar com o irmão mais velho, Manoel Araújo, conhecido como Mané-Mané e que morava no Santo Antônio, no Morro da Mangueira. Passou a trabalhar como ajudante do irmão no balcão de uma tendinha mantida por ele no Buraco Quente, localidade do Morro da Mangueira.

Pouco tempo depois, deixou de trabalhar na tendinha do irmão e empregou-se como soprador de vidro na Fábrica de Vidro José Scaroni, na Rua Gonzaga Bastos, lá permanecendo por pouco tempo. Já nessa época, participava de rodas de samba no Morro da Mangueira na casa de Alfredo Português.

Em 1931, passou a estudar na Escola Pará, em Vila Isabel, posteriormente Escola Olímpia do Couto, onde fez o curso primário. Nessa época, conheceu Buci Moreira, Padeirinho e Fernando Pimenta, que tinham idade semelhante a sua e que se tornariam futuros sambistas.

Terminou o curso primário e, adolescente ainda, já compunha sambas para a escola Unidos de Mangueira, hoje extinta. Logo fez amizades com os bambas do morro e aprendeu violão com Cartola e Aloísio Dias.


Aos 18 anos, deixou o morro para viver no subúrbio de Engenho de Dentro e tirou sua carteira de motorista. Logo mudou-se para a Lapa, empregando-se na Prefeitura do Rio de Janeiro como motorista de caminhão de limpeza urbana, emprego que manteve por toda a vida. Passou a frequentar os bares da cidade, inclusive o Café Nice, ponto de encontro de sambistas e da boêmia carioca. Com parceria de Nelson Teixeira, compôs o samba "Se Você Sair Chorando", gravado em 1939 na Odeon pelo cantor Roberto Paiva. Inscrita no concurso carnavalesco promovido em 1940, a música classificou-se entre as finalistas.

Por volta de 1940, conheceu Isabel, grande amor de sua vida, musa inspiradora de sambas como "Acabou a Sopa" (Geraldo Pereira e Augusto Garcez) gravado em 1940 por Cyro Monteiro, que se tornaria um de seus mais fiéis interpretes e o principal divulgador de suas obras, e "Liberta Meu Coração", gravada em 1947 por Abílio Lessa.

Nos anos seguintes, diversas músicas suas foram gravadas por cantores de destaque: os sambas "Falta de Sorte" e "Pode Ser?" (Geraldo Pereira e Marino Pinto), foram gravados respectivamente por Aracy de Almeida e Isaura Garcia, em 1941.

Nos anos de 1942 e 1943, Odete Amaral, Moreira da Silva e o grupo Quatro Ases e Um Curinga lançaram composições suas. Em 1943 apresentou-se no programa "Vesperal das Moças", na Rádio Tamoio do Rio de Janeiro. Durante essa época, fez amizade com Valdir Machado, que o incentivava a cantar e que se tornou seu parceiro. Fez algumas apresentações esporádicas na Rádio Nacional.

Em 1944 participou do filme "Berlim na Batucada", de Luís de Barros, interpretando o papel do Cabo Laurindo. Foi também em 1944 que conseguiu seu primeiro grande sucesso, com a gravação de "Falsa Baiana", por Cyro Monteiro, samba inspirado na esposa do compositor Roberto Martins, incapaz de sambar com sua fantasia de baiana no Carnaval. O samba deu-lhe renome nacional.


"Bolinha de Papel", gravado pelos Anjos do Inferno em 1945, repetiu o êxito do ano anterior. Ainda em 1945, depois de aprovado num teste da gravadora Continental, o sambista estreou como cantor, interpretando os dois lados de um 78 rpm: "Mais um Milagre" e "Bonde de Piedade" (Geraldo Pereira e Ari Monteiro). O disco não alcançou sucesso e ele preferiu lançar suas criações seguintes por meio de outros cantores.

Em 1949, Blecaute gravou "Que Samba Bom", um dos maiores sucessos de venda da década. Em 1950, o próprio compositor gravou "Pedro do Pedregulho", lançando-se definitivamente como intérprete de suas composições a partir de 1951, quando Cyro Monteiro se encontrava impossibilitado de gravar, por conta de uma doença nos pulmões. Gravou o samba "Escurinha" (Geraldo Pereira e Arnaldo Passos) na Sinter. Ainda no mesmo ano, tornou a compor em parceria com Wilson Batista, saindo pela Continental o samba "Cego de Amor", na voz de Deo.

Em 1952 participou do filme "O Rei do Samba", de Luís de Barros. Interpretado por ele, a RCA Victor lançou, em 1953, "Cabritada Malsucedida" (Geraldo Pereira e Jorge Gebara). O ano de 1954 marcou seu último grande sucesso, "Escurinho", gravado na Todamérica por Cyro Monteiro.

Participou ainda do espetáculo "Clarins em Fá", na boite Esplanada, em São Paulo, fazendo muito sucesso com seu samba "Pau Peroba" (Geraldo Pereira, Buci Moreira e Albertina Rocha). Nesse ano, registrou na Columbia suas últimas produções, "Maior Desacerto" (Geraldo Pereira, Silva Júnior e Ari Garcia) e "Eu Vou Partir", título que parecia prever o fim prematuro de sua vida atribulada.


Em 08/05/1954, aos 37 anos, encerrava uma carreira de grande sambista, e em muitos pontos inovadora. Geraldo Pereira morreu vítima de hemorragia intestinal, aos 37 anos, em conseqüência de uma briga num bar da Lapa com o lendário malandro Madame Satã.

Após sua morte, diversas composições suas foram regravadas. Nos anos 60, João Gilberto regravou "Bolinha de Papel". Em 1971, Paulinho da Viola regravou "Você Está Sumindo". Em 1980 foi lançado o disco "Wilson, Geraldo e Noel", no qual João Nogueira interpreta composições de Geraldo Pereira, Noel RosaWilson Batista.

Em 1981, a gravadora Eldorado lançou o LP "Evocação V", inteiramente dedicado ao compositor, interpretado por Elton Medeiros, MonarcoJackson do Pandeiro entre outros. Sua música "Se Você Sair Chorando" foi regravada nesse disco por um coro de oito cantores.

No Carnaval de 1982, o compositor foi homenageado no enredo "Geraldo Pereira, Eterna Glória do Samba" (João Ramos Pacheco), da Escola de Samba Unidos do Jacarezinho.

Em 1990, Chico Buarque regravou "Sem Compromisso" (Geraldo Pereira e Nelson Trigueiro).

Em 1995 foi lançado o livro "Um Escurinho Direitinho: A Vida e a Obra de Geraldo Pereira", de autoria de Luís Fernando Vieira, Luís Pimentel e Suetônio Valença (Relume-Dumará, Rio de Janeiro).

Em 1996, Zizi Possi cantou "Escurinha" em seu show e, em 1997, Gal Costa regravou com grande sucesso o samba "Falsa Baiana", em seu CD "Acústico MTV".

Indicação: Eric Spagnuolo