LINDOLFO LEOPOLDO BOECKEL COLLOR
(52 anos)
Jornalista e Político
* São Leopoldo, RS (04/02/1890)
+ Rio de Janeiro, RJ (21/09/1942)
Filho de João Boeckel e Leopoldina Schreiner, luteranos, descendentes dos primeiros imigrantes alemães que aportaram ao Brasil no começo do século passado.
Infância e Juventude
Tinha poucos anos quando perdeu o pai. Sua mãe mudou-se então com os três filhos
Alcides,
Elvira e
Lindolfo, para São Gabriel da Estrela, onde tornou a casar-se, pouco depois, com um alemão nato, que havia sido dono da linha de navegação do
Rio Caí,
João Antônio Collor. Dessa união não nasceram filhos, mas o padrasto criou grande afeição pelo menino, a quem se empenhou em dar a melhor educação que pode. Como penhor de gratidão e de afeto, desde jovem
Lindolfo acrescentou o sobrenome do padrasto ao do pai.
Frequentou a escola pública primária da Barra do Ribeiro, alguns anos mais tarde, já casada sua irmã Elvira e residindo em Porto Alegre, teve ele possibilidades de transferir-se para a capital, onde tirou os preparatórios provavelmente como aluno do professor Emílio Meyer.
Em 1906, aos 15 anos, é confirmado pelo bispo da Igreja Episcopal do Brasil em Porto Alegre. Em março desse ano havia ingressado no seminário dessa mesma igreja na cidade do Rio Grande, onde permaneceu até o ano seguinte, 1907. Nessa época publica seus primeiros livros de versos e paralelamente colabora com artigos e poesias de inspiração apostólica no semanário O Estandarte Cristão. Torna-se membro militante da Legião da Cruz, o que o faz iniciar a pregação do evangelho na cadeia pública da cidade do Rio Grande e acompanhar o reverendo Américo Vespúcio Cabral, pároco da Igreja da Trindade em Porto Alegre, em viagens missionárias.
Em 1907 trabalha numa escola dominical da Igreja da Trindade, na Cidade Baixa, em Porto Alegre, e ensina português na Associação Cristã de Moços. Dirige uma classe de ensinos bíblicos na Igreja da Trindade e se torna membro da direção de um boletim mensal da mesma Igreja.
Deixando o
Seminário Episcopal,
Lindolfo Collor forma-se em Farmácia, profissão muito procurada àquela época por rapazes de poucos recursos. Sendo essa, entretanto, uma atividade muito diversa da sua vocação. nunca a exerceu, mas transferiu-se, pouco depois, para Bagé, onde trabalhou durante um ano no jornal
O Dever, de
Adolfo Dupont.
Em 1907 e 1909 publicou seus primeiros livros, todos de versos:
Bosque Heleno,
Orquestração de Luz,
Caminho de Flores e
Poema dos Matizes, dedicado este último ao poeta gaúcho
Zeferino Brasil, com as seguintes palavras:
"A Zeferino Brasil, Mestre e Amigo, esta pedra fundamental do meu edifício literário".
Carreira na Capital da República
Em 1911, aos 21 anos, seguiu para a capital da República levando apenas uma carta de recomendação para
João Lage, proprietário de jornal
O Paiz. O início de sua carreira jornalística no Rio de Janeiro está relatado no artigo que em 1942, na semana seguinte ao seu falecimento, escreveu
João Luso:
"Não havendo vaga na redação de O Paiz trabalhou como colaborador do jornal, onde publicou entrevistas sobre teatro nacional com autores, críticos, jornalistas e homens de letras. Abria a série uma entrevista com Coelho Neto de quem se fez grande amigo e cuja casa passou a frequentar nos saraus semanais em que o poeta reunia as estrelas literárias do tempo".
Pouco depois entrava
Lindolfo Collor, pela mão de
João Luso, para a edição da tarde do
Jornal do Comércio, ao tempo uma das folhas de mais difícil acesso no Rio de Janeiro. Começou então a escrever sobre o assunto de sua predileção, a política, em folhetim semanal por ele lançado,
O Meu Sábado. A esse propósito escreveu
João Luso:
"Logo na primeira crônica se definiu o seu feitio de combatente. Precisava de batalhar, por isto ou contra aquilo, mas, coisa rara naquela idade, não se inflamava, não se excedia nos conceitos, não se desmandava no estilo. Esta foi sempre, de fato, uma das suas características mais constantes como escritor, como político, como homem privado: o equilíbrio, o espírito de justiça, a sinceridade de atitudes, o cuidadoso manejo das palavras".
Em 1913, paralelamente a estas atividades jornalísticas, entrou
Lindolfo Collor para o quadro de funcionários do Jardim Botânico e exerceu funções no gabinete do Ministro da Agricultura. Logo que se transferiu para o Rio de Janeiro,
Lindolfo Collor morou algum tempo em Niterói, mas em seguida fixou-se no então Distrito Federal em casa de um casal espanhol,
Tomasa e
Gregório Landeira, pertencente este ao corpo de funcionários da companhia de seguros
Sul América, com sede em Madri. O casal
Landeira privava da amizade de uma compatriota,
Maria Eugênia Sanchez Dias, casada com o jornalista
Luiz Bartolomeu de Souza e Silva e mãe de uma moça que aos
Landeira parecia ser a esposa ideal para
Lindolfo, pela beleza e fina educação que possuía. Insistia
Dona Tomasa em convidar seu hóspede para juntos visitarem a família
Bartolomeu de Souza e Silva, quando, um belo dia, ouviu dele uma resposta inesperada:
"Eu hoje vi a moça com que desejaria casar-me".
Lindolfo Collor não soube responder de quem se tratava. Havia visto na rua uma linda jovem, que acompanhou de longe para saber onde morava. Com espanto e alegria constatou
Dona Tomasa Landeira ser exatamente aquela a pessoa que desejavam aproximar do seu jovem amigo. Dentro de alguns meses, a 19 de fevereiro de 1914, realizava-se o enlace de
Lindolfo Collor com
Hermínia de Souza e Silva. A formalidade do pedido em casamento foi cumprida por um amigo chegado, o escritor gaúcho
Alcides Maia, que pouco depois viria a ser deputado federal pelo Rio Grande do Sul e membro da
Academia Brasileira de Letras.
Desde janeiro de 1914 começara Lindolfo Collor a trabalhar na redação de A Tribuna, jornal de que eram proprietários seu sogro e o Senador mato-grossense Antônio Azeredo, que se tornaria mais tarde presidente do Senado. Seus primeiros artigos em A Tribuna ocupavam o espaço de uma coluna a que ele dava o título de Pela Ordem.
Nessa época escreveu
Lindolfo Collor seu terceiro e último livro de versos,
Elogios e Símbolos, causa de uma séria desavença entre o autor e o crítico literário
Gilberto Amado. Encontrando-se os dois na Rua do Ouvidor,
Lindolfo Collor interpelou-o por suas criticas, que considerou deselegantes. A discussão acalorou-se e houve troca de empurrões que jogaram ao chão
Gilberto Amado. Este, sacando do revólver, alvejou seu contendor, que já se afastava, indo os tiros encravar-se na fachada da
Livraria Garnier, ponto de reunião de escritores e intelectuais da época. Possivelmente porque lhe houvesse pesado o excesso que, fora dos seus hábitos, cometera, ou porque concordasse que não era a poesia o caminho para o seu belo talento, resolveu
Lindolfo Collor retirar das livrarias todos os exemplares dos seus livros de versos e não tornou a escrever outros.
Já depois de casado, em 1917, formou-se no Rio de Janeiro pela Academia de Altos Estudos Sociais, Políticos e Econômicos, que teve vida breve.
Nesse mesmo ano, há 15 de maio de 1917, a propósito de uma tentativa de legislação social recomendada em mensagem à Câmara dos Deputados pelo presidente
Delfim Moreira,
Lindolfo Collor publica na
Tribuna um artigo com o título
Questão Social, onde já demonstra sua clara compreensão desse problema. São de
Lindolfo Collor, então com 27 anos de idade, estas palavras:
"Engana-se profundamente quem supuser que, dentro da nova ordem de coisas que nasce com o fim da luta das potências, (a 1ª Guerra Mundial) seja possível ainda ir eludindo a verdadeira situação do proletariado e adiando sua definitiva incorporação moral e econômica na civilização ocidental... A consciência do mundo está amadurecendo para a reforma social... O que é preciso é dar aos operários leis civis adequadas às suas necessidades nos diversos meios".
|
Lindolfo Collor (de óculos) sendo nomeado ministro, junto com outras personalidades, por Getúlio Vargas, em 03 de novembro de 1930. |
Retorno ao Rio Grande do Sul e Início da Carreira Política
Em 1919 foi convidado por
Borges de Medeiros, governador do Rio Grande do Sul e chefe do
Partido Republicano Rio-Grandense, para tomar parte na direção de
A Federação, órgão oficial do Partido e o maior jornal do estado. Mudou-se de volta a Porto Alegre com a esposa e as duas filhas pequenas. Apesar da dúvida inicial acerca do recém-chegado, volvido um ano, contando
Lindolfo Collor apenas 30 anos, já era diretor do jornal.
Era diretor de
A Federação quando houve no Rio Grande, em 1922-23, renhida campanha eleitoral entre os dois partidos que desde a
Revolução de 1893 vinham se defrontando:
O Libertador, que apoiava a candidatura de
Assis Brasil à sucessão estadual, contra a do presidente do Estado,
Borges de Medeiros, que pleiteava sua 5ª reeleição embora já estivesse no cargo há 4 sucessivas reeleições. Essa luta eleitoral transformou-se em protesto armado depois da nova reeleição de
Borges de Medeiros.
O estado do Rio Grande do Sul era a única unidade da Federação cuja Constituição, baseada nas ideias de
Augusto Comte, permitia a reeleição dos seus governadores. As notícias a respeito dos combates que se sucediam no interior do estado eram afixadas nos
"placards" dos dois principais jornais de Porto Alegre, instalados na mesma rua em prédios fronteiros no centro da cidade. O
Correio do Povo, defendendo o
Partido Libertador, dos assisistas ou maragatos e
A Federação, órgão oficial do
Partido Republicano, apoiando os borgistas ou pica-paus.
Formavam-se ali agitadas aglomerações que comentavam cada notícia com entusiasmo ou com animosidade, a ponto de provocar constantemente a intervenção dos cavalarianos da
Brigada Militar. Nessas ocasiões o diretor de
A Federação vinha à sacada do prédio e dirigia a palavra aos manifestantes exaltados, testemunhando assim sua decisão e coragem pessoal nunca desmentidos, nesse como em outros momentos de sua vida pública. Como acontecera na revolução de 1893, também esta, de 1923, só terminou com a mediação do governo federal: o Ministro da Guerra, general
Setembrino de Carvalho, natural do Rio Grande do Sul, foi enviado a Porto Alegre para negociar a assinatura do
Tratado de Paz de Pedras Altas, que pacificou os espíritos tornando inelegível, daí por diante, o governador do Estado.
Em 1924, quando da vitória eleitoral de
Artur Bernardes para a Presidência da República, o governo estadual se posicionara em favor da candidatura de
Nilo Peçanha em oposição à de
Artur Bernardes, também combatida pelo grupo de tenentes revolucionários que se deslocava pelo sul do Brasil em suas marchas de protesto contra o governo federal. Mas, depois de eleito
Artur Bernardes, o governador
Borges de Medeiros resolveu sensatamente aceitar a decisão das urnas e nesse sentido orientou o diretor de
A Federação, que escreveu um artigo assegurando ao novo presidente da República o apoio político do Rio Grande do Sul. Esse artigo, intitulado
Pela Ordem, a mesma rubrica sob a qual publicara
Lindolfo Collor seus primeiros artigos na
A Tribuna do Rio, atraiu para seu autor o desagrado dos tenentes revoltosos. Isto valeria mais tarde sérias dificuldades a
Lindolfo Collor no seu desempenho como Ministro do Trabalho, quando os mesmos tenentes passaram a exercer influente presença política no cenário federal, depois de haver apoiado a
Revolução de 1930.
Eleito deputado federal em 1924, voltou ao Rio de Janeiro onde assumiu o posto de redator-chefe de
O Paiz. Membro da Comissão de Finanças da Câmara, escreveu numerosos artigos sobre a estabilização da moeda, sobre o problema do padrão ouro e, já então, sobre a transformação da moeda nacional em cruzeiro.
No princípio do ano de 1925 integrou
Lindolfo Collor a Embaixada Especial que, chefiada pelo então senador
Lauro Müller, representou o Brasil nas solenidades comemorativas do 1º Centenário da Independência do Uruguai. Voltando ao Brasil, apresentou à Câmara dos Deputados pareceres sobre o convênio assinado em Montevidéu a 30 de março, e sobre o protocolo adicional que o acompanhou a seguir. O convênio estatuía
"regras práticas de vigilante amizade e de recíproca cooperação das Altas Partes Contratantes em caso de alteração da ordem nos seus respectivos territórios".
Em 1926 foi Lindolfo Collor reeleito para a Câmara Federal, tendo sido então o deputado proporcionalmente mais votado no Brasil.
Em seguida, visitou a Bacia do Prata e o Chile, convidado para pronunciar conferências no auditório de
La Prensa, de Buenos Aires, e na
Universidade do Chile.
Em 1928 fez parte da delegação brasileira, chefiada pelo senador
Raul Fernandes, à VI Conferência Pan-americana reunida em Havana, onde, em nome dos colegas congressistas, pronunciou um discurso sobre
José Martí, o herói nacional cubano. Em julho do mesmo ano participou também da Conferência Inter-Parlamentar de Comércio, em Paris.
Em 1929 foi um dos fundadores da
Aliança Liberal, movimento político iniciado pelo presidente de Minas,
Antônio Carlos Ribeiro de Andrade, para, em oposição à candidatura oficial de
Júlio Prestes, pleitear a sucessão presidencial para o Rio Grande do Sul na pessoa de seu presidente,
Getúlio Vargas. Coube a
Lindolfo Collor redigir o
Manifesto da Aliança Liberal, e em seguida foi-lhe confiada a direção do jornal
A Pátria, no Rio de Janeiro, onde seus editoriais, assinados com o pseudônimo de
Gil Pereira, eram a voz da campanha aliancista.
Na Câmara Federal teve como companheiros novamente
Getúlio Vargas e
João Neves da Fontoura, e os três se revezavam na liderança da bancada gaúcha. Nessa posição não faltaram a
Lindolfo Collor ocasiões de reafirmar o seu talento oratório. Entre seus brilhantes discursos marcou época uma oração pronunciada no dia seguinte ao assassinato de
João Pessoa Cavalcanti de Albuquerque, em Recife, que começava com estas palavras:
"Presidente da República, que fizeste do Presidente da Paraíba?"
Aquele acontecimento lamentável, sublinhado pelo comentário oportuno e inteligente de
Lindolfo Collor, foi o estopim da rebeldia contra a eleição de
Júlio Prestes e, desfazendo a indecisão do Rio Grande do Sul quanto à oportunidade de uma atitude de intransigência, precipitou o início da rebelião armada de 1930.
No encerramento da campanha da
Aliança Liberal o candidato oposicionista,
Getúlio Vargas, leu sua plataforma de governo. Esse documento, redigido por
Lindolfo ColIor, continha, entre outros pontos do programa a ser cumprido, a promessa da elaboração de uma legislação trabalhista. Com isso sairiam da alçada policial as questões surgidas entre o capital e o trabalho e o operariado brasileiro teria seus direitos assegurados.
Quando estourou a revolução, a 3 de outubro de 1930, estava
Lindolfo Collor em Porto Alegre. Junto a
Osvaldo Aranha participou da tomada do Quartel General, onde foi aprisionado o comandante da Região Militar, general
Gil de Almeida. Dias depois deslocava-se para Buenos Aires, incumbido de adquirir armas para as forças rebeladas e de obter o reconhecimento do governo revolucionário a ser instalado no Brasil.
A 24 de outubro, vitoriosa a revolução com a sublevação da guarnição do Rio de Janeiro e deposto o presidente
Washington Luís, ocupou o Governo da República uma
Junta Provisória da qual fazia parte o general
Tasso Fragoso, a chamado de quem regressou
Lindolfo Collor ao Brasil em 27 de outubro.
|
Lindolfo Collor, 1.º Ministro do Trabalho visitando uma indústria |
Ministro do Trabalho
Na organização do
Governo Provisório recusou o convite de
Getúlio Vargas, para ocupar outra pasta ministerial, e afirmou que só aceitaria a do Trabalho, a ser fundada em cumprimento ao que fora anunciado pela
Aliança Liberal. Em vista da tendência de
Getúlio Vargas de retardar o cumprimento daquela promessa de campanha,
Lindolfo Collor afirmou que, nesse caso, ficaria fora do governo. Um mês depois, instado por
José Antônio Flores da Cunha e
João Batista Luzardo, já nomeado chefe de polícia do Distrito Federal,
Getúlio Vargas concordou com as ponderações que lhe faziam aqueles dois companheiros a respeito da inconveniência de permanecer
Lindolfo Collor fora do governo, e afirmou:
"Está bem. Vou fundar esse ministério para aquietar o alemão".
A elaboração da legislação social brasileira, a primeira na América do Sul, pode ser considerada, de acordo com o ex-reitor da
PUC,
Fernando Bastos Ávila, o maior avanço social no Brasil depois da abolição da escravatura. Para estruturá-la foi grande a luta de
Lindolfo Collor. Teve que enfrentar os comunistas, que contavam com as injustiças sociais para levar o povo à revolta e seu partido ao poder, e teve que vencer a animosidade de alguns de seus companheiros revolucionários, sobretudo os
"tenentes", membros do
Clube 3 de Outubro, que não davam apoio ao seu trabalho. Já com as classes patronais, de onde mais naturalmente se poderia esperar uma oposição à legislação trabalhista, parece que o primeiro Ministro do Trabalho não enfrentou grandes dificuldades. O professor
Joaquim Pimenta, ativista, líder operário em Pernambuco e um dos melhores colaboradores de
Lindolfo Collor no Ministério do Trabalho, acentua esse aspecto realmente inesperado. Outro grande colaborador de
Lindolfo foi
Evaristo de Morais, primeiro consultor jurídico do Ministério do Trabalho, que deixaria esse cargo no mesmo dia da renúncia de
Lindolfo, em 1932. Também foram seus fiéis e eficientes companheiros de jornada
Agripino Nazaré,
Carlos Cavaco,
Heitor Moniz e
Horácio Cartier, além do diplomata
Heitor do Nascimento Silva que, já havendo prestado valiosos serviços junto à Organização Internacional do Trabalho em Genebra, foi cedido pelo Ministério de Relações Exteriores para auxiliar na formação do novo ministério.
A passagem de
Lindolfo Collor pelo Ministério do Trabalho durou apenas 15 meses, de dezembro de 1930 a março de 1932, durante os quais redigiu toda a estrutura da nossa legislação social. Norteado por algumas das legislações trabalhistas europeias e, dentro de um esclarecido ecumenismo, pela
Encíclica Rerum Novarum, de
Leão XIII.
Lindolfo Collor elaborou 12 decretos-leis acompanhados de Exposições de Motivos que apontam a sua oportunidade em face da evolução do pensamento de proteção ao operariado em todos os países mais adiantados do mundo.
Oposição a Getúlio Vargas
Lindolfo Collor permaneceu no Ministério apenas 15 meses. Alinhado entre os que reivindicavam a volta do país a um regime legal, idéia que não contava com as simpatias do ditador nem dos
"tenentes", deixou o
Governo Provisório a 3 de março de 1932, dia imediato ao
"empastelamento" do
Diário Carioca em revide à publicação de um artigo de
J. E. de Macedo Soares apontando a necessidade da convocação de uma Constituinte. Diretamente envolvidos nesse ato de violência contra a liberdade de opinião, deixaram o governo no mesmo dia
Joaquim Maurício Cardoso, ministro da Justiça, e o chefe de Polícia do Distrito Federal,
João Batista Luzardo, acompanhados também por
João Neves da Fontoura, consultor jurídico do
Banco do Brasil. Viajaram para Porto Alegre na madrugada de 4 de março de 1932, no mesmo momento em que era levada ao
Palácio Rio Negro, em Petrópolis, pelo professor
Joaquim Pimenta, a carta de demissão do ministro do Trabalho.
Daí em diante, e contando com o apoio de
José Antônio Flores da Cunha, governador do Rio Grande, puseram-se todos a preparar ativamente um movimento de reação à tendência ditatorial do
Governo Provisório e passaram a articular-se com os dirigentes paulistas, desgostosos com o tratamento desairoso que a ditadura dispensava ao seu estado.
A 9 de julho de 1932 irrompeu em Mato Grosso, sob a chefia do general
Bertoldo Klinger, o movimento revolucionário que se alastrou rapidamente até São Paulo. A
Frente Única do Rio Grande do Sul, constituída pela aliança de seus dois tradicionais partidos políticos, o
Republicano e o
Libertador, e representada pelo interventor
José Antônio Flores da Cunha, estava comprometida com a
Frente Única Paulista a acompanhar São Paulo nessa rebelião.
Inesperadamente, porém, pouco depois de iniciada a revolução, o interventor
José Antônio Flores da Cunha colocou o Rio Grande ao lado do governo ditatorial, o que decidiu a sorte do movimento armado em favor do governo central. A explicação para esse gesto imprevisto, soube-se mais tarde, teria sido um diálogo entre
Getúlio Dorneles Vargas e
José Antônio Flores da Cunha, a esse tempo ainda apoiando a causa de São Paulo, que achou por bem alertá-lo para as fortes probabilidades de vitória do
Movimento Constitucionalista. De acordo com o próprio
José Antônio Flores da Cunha e com
Daniel Krieger,
Getúlio Dorneles Vargas, teria respondido com ar severo e olhar distante:
"As tropas vitoriosas não me encontrarão aqui. Já decidi o que fazer....". Diante dessa perspectiva sombria o temperamento impetuoso e passional de
José Antônio Flores da Cunha ditou-lhe, certamente, a brusca decisão de colocar as forças da brigada gaúcha ao lado do governo federal.
Burlando a vigilância policial, que logo foi estabelecida em torno dos conspiradores, deixou
Lindolfo Collor seu apartamento na
Praça da Alfândega, em Porto Alegre, e foi reunir-se a um dos grupos sublevados, a coluna de
"provisórios" comandada por
Marcial Terra em Tupaciretã. Durante cerca de 40 dias com ela percorreu vários municípios rio-grandenses, dormindo muitas vezes ao relento, com a sela do cavalo por travesseiro. Finalmente, em setembro, cercada a
Coluna Marcial Terra por tropas legalistas, foi este obrigado a capitular. Um dos oficiais da força vencedora acompanhou
Lindolfo Collor até à fronteira, que atravessou em Paso de Los Libres, levando consigo apenas a roupa do corpo.
Primeiro Exílio
Reunido a vários companheiros em Rivera, e depois em Buenos Aires, escreveu em 15 de outubro de 1932, o manifesto ao Rio Grande do Sul, a São Paulo e à Nação, assinado também por
Raul Pilla,
João Batista Luzardo e
João Neves da Fontoura. Relata o processo da conspiração anterior à
Revolução Constitucionalista de São Paulo e atribui a responsabilidade da derrota ao interventor do Rio Grande do Sul. A essa altura
Lindolfo Collor já havia enviado uma carta ao amigo
José Antônio Flores da Cunha retirando o convite que lhe fizera para ser padrinho de seu terceiro e último filho,
Lindolfo Leopoldo Collor.
No verão de 1933 esteve
Lindolfo Collor na frente de operações da
Guerra do Chaco, no Paraguai, e escreveu a respeito uma série de artigos publicados no Rio de Janeiro e em
La Prensa, de Buenos Aires.
Em 1934, representando a companhia
Sul América Seguros, da qual, havia anos, era um dos diretores ao lado de
Antônio Carlos Ribeiro de Andrada, passou seis meses em Lima, no Peru, a fim de tratar da venda da carteira daquela companhia a uma seguradora de Quito, Equador.
Retorno ao Brasil
Em 1934, depois de decretada a anistia pelo governo
Vargas,
Lindolfo Collor regressou ao Brasil e foi candidato gaúcho à Assembleia Constituinte, sem sucesso. Voltou depois a residir no Rio de Janeiro onde, durante todo o ano de 1935, tornou a ocupar seu cargo na direção no
Grupo Sul América.
Dentro desse quadro político difícil,
Lindolfo Collor fez oposição ao governo
Vargas, apesar de haver tentativas de aproximação. Entre elas uma conversa realizada numa noite chuvosa no
Palácio Rio Negro em Petrópolis.
Mais tarde
José Antônio Flores da Cunha buscou aproximar-se da
Frente Única Rio-Grandense, para unir as forças políticas em seu Estado, diminuindo as manobras personalistas de
Getúlio Vargas. Buscando que o Rio Grande do Sul tivesse mais influência no âmbito nacional,
Lindolfo Collor concordou com uma fórmula alta de pacificação da política estadual, que foi sugerida pelo jurista
José Maria dos Santos.
Em janeiro de 1936, foi assinado um acordo entre o
Partido Libertador, chefiado por
Raul Pilla, o
Partido Republicano Rio-Grandense, ainda sob a orientação de
Borges de Medeiros, e o situacionismo estadual, representado pelo
Partido Republicano Liberal. Essa composição política, chamada
Modus Vivendi, teve curta duração, mas permitiu que fizessem parte do governo do Rio Grande, representando seus partidos,
Lindolfo Collor, na Secretaria de Finanças, e
Raul Pilla, na Secretaria da Agricultura.
Porém dentro do
PRR um clima de tensão motivou o rompimento do
Modus Vivendi em 14 de novembro. O
PRR voltou a apoiar o governo central, o
PL, o
PRC e o PRL, permaneceram fiéis na oposição e na aliança com os paulistas, a quem se sentia
Lindolfo Collor grande devedor, depois da frustração de 1932.
Com aproximação da sucessão presidencial de 1938, o
Partido Libertador e o Partido Castilhista integraram a
União Democrática Brasileira, apoiando a candidatura do governador de São Paulo,
Armando de Sales Oliveira, à presidência da República. O
PRR, por outro lado, se filiou à corrente situacionista federal, apoiando o nome do ministro da Agricultura,
José Américo de Almeida. Porém foram todos surpreendidos pelo Golpe de Estado em 10 de novembro de 1937, que instalou o
Estado Novo no Brasil, suprimindo novamente o Congresso Nacional, a Constituição, e as eleições já próximas.
Segundo Exílio
Ao mesmo tempo em que saíam para o exílio, por Santos e Salvador, os líderes udenistas
Armando de Sales Oliveira e
Otávio Mangabeira, embarcou
Lindolfo Collor no Rio de Janeiro, em novembro de 1938, com destino à Alemanha, onde alguns amigos tentaram interessá-lo em transações comerciais. Não era seu destino, porém, realizar-se no terreno dos negócios. Bom conhecedor da língua alemã, usada na zona colonial em que nasceu,
Lindolfo Collor aproveitou sua estada em Berlim para acompanhar os preparativos de guerra do
Führer, então em plena efervescência, e procurar penetrar as razões do fenômeno hitlerista. Enviou suas observações em uma série de artigos para o
Diário de Notícias do Rio de Janeiro, cujo diretor,
Orlando Dantas, era seu grande amigo, como bom amigo seu também era
Assis Chateaubriand, sócio majoritário da sociedade anônima
O Jornal, de cuja diretoria
Lindolfo Collor fazia parte ao lado do mesmo
Chateaubriand, de
Gabriel de Andrade e de
Rodrigo de Mello Franco.
Mas o famoso D.I.P. estava atento para impedir qualquer pronunciamento contrário às ditaduras europeias, com quem
Getúlio Vargas estava em boas relações. Assim, alguns dos artigos mais condenatórios do totalitarismo nazista não puderam sair a público, dada a crescente aproximação entre o governo brasileiro e o eixo Roma-Berlim, o que permitiu à Embaixada Alemã no Rio de Janeiro fazer sentir ao Ministério das Relações Exteriores seu desagrado diante das publicações de
Lindolfo Collor contrárias ao regime nazista.
Em janeiro de 1939 transferiu-se
Lindolfo Collor da Alemanha para Paris, onde o foi encontrar sua família. Até à deflagração da
Segunda Guerra Mundial, em agosto de 1939, enviou de Paris para o
Diário de Notícias suas observações sobre o desenrolar dos acontecimentos europeus de pré-guerra. Mais tarde esses artigos foram reunidos em dois livros sob os títulos
Europa (Emiel Editora, Rio, 1939) e
Sinais dos Tempos (Epasa, Rio, 1942). Este último foi para as livrarias no dia do seu falecimento.
Quando a Alemanha invadiu a Polônia e se tornou provável a invasão da França, Lindolfo Collor transferiu-se com a família para o sul da França e depois para Portugal, onde estaria menos exposto, desde que o fato de haver escrito contra o regime hitlerista o colocara na lista negra da ditadura alemã, e informações a respeito das opiniões anti-nazistas de Lindolfo Collor, fornecidas pelo embaixador alemão no Rio de Janeiro, constavam de uma nota distribuída às repartições competentes pelo governo do Reich.
Depois de uma etapa de algumas semanas em Lisboa, para efetuar o casamento de sua filha mais velha,
Leda, com o jornalista alagoano
Arnon de Mello,
Lindolfo Collor passou a residir em Baltar, pequena aldeia perto da cidade do Porto, na quinta onde lhe fora oferecida hospedagem por seu amigo, o comendador português
Pereira Inácio, residente no Brasil.
A ele, aos
Diários Associados, ao
Diário de Notícias, à
Sul América, durante os últimos dez anos de sua vida, em que esteve sempre no ostracismo,
Lindolfo Collor deveu sua subsistência, pois sempre foi homem de poucos recursos, que vivia do seu trabalho. Nada tinha de seu, além de uma casa em São Leopoldo, que oferecera à sua mãe por volta de 1935, e um apartamento adquirido em 1937 para sua residência no Rio de Janeiro. Pouco antes do seu falecimento desfez-se desse imóvel a fim de comprar a
"Chácara Nossa Senhora das Graças" de
Ildefonso Simões Lopes, na Rua Indiana, no Cosme Velho, para onde pretendia mudar-se logo que nela pudesse fazer algumas adaptações.
Retorno ao Brasil e Falecimento
Publicada a entrevista,
Lindolfo Collor é preso, libertado mas com a saúde debilitada, é atacado de
Pneumonia. Apesar de atendido pelo renomado clinico
Pedro da Cunha, veio a falecer no
Palace Hotel, na Avenida Rio Branco, onde estava hospedado desde que vendera seu apartamento para comprar a casa na rua Indiana. O velório se fez no salão nobre da
Associação Brasileira de Imprensa, então sob a presidência de
Herbert Moses.
Foi sepultado no Cemitério de São João Batista.
Fonte: Wikipédia