Tia Amélia

AMÉLIA BRANDÃO NERY
(86 anos)
Compositora e Pianista

* Jaboatão, PE (25/05/1897)
+ Goiânia, GO (18/10/1983)

Nascida em Jaboatão, PE, em 25 de maio de 1897, começou a ter contato com o piano aos 4 anos de idade. Seu pai era maestro da banda da cidade de Jaboatão, e também clarinetista e solista de violão. Sua mãe tocava piano. Aos seis anos, Amélia começou a estudar música, mas, seu pai exigiu-lhe que se dedicasse aos clássicos. Com doze anos, ela compôs sua primeira música, a valsa "Gratidão".

Com 17 anos, ela se casou e seu esposo a impediu de seguir carreira como pianista, os planos que ela acalentava. Indo morar em uma fazenda nos arredores de Jaboatão, Amélia tocava somente nas festas de amigos. Ela aproveitou para estudar o folclore musical das cercanias da cidade. Com três filhos, e aos 25 anos, ela ficou viúva. Para criá-los, ela abraçou a carreira artística profissionalmente.

A Rádio Clube de Pernambuco a contratou e lá, ela começou a fazer sucesso.

Por volta de 1929, foi ao Rio de Janeiro resolver algumas questões de direitos autorais com a gravadora Odeon. Logo, foi convidada a dar recital no Teatro Lírico, com grande êxito. Era chamada de a coqueluche dos cariocas. Devido a esse sucesso, ainda se apresentou na Rádio Mayrink Veiga, Rádio Sociedade e Rádio Clube do Brasil.

Ao voltar para Recife, continuou na Rádio Clube de Pernambuco e retomou suas pesquisas sobre a música folclórica pelo interior do estado.

Em 1930, vários intérpretes de nossa música popular gravaram composições suas: Elisa Coelho, Vicente Cunha, Elsie Houston, Alda Verona, Jararaca, Stefana de Macedo e Silene Brandão Nery (sua filha).

Voltou ainda ao Rio de Janeiro para algumas apresentações, quando o Itamarati, em 1933, a convidou para excursionar pelas Américas ao lado de sua filha, Silene, para que elas apresentassem composições inspiradas no folclore brasileiro.

Na Venezuela, o governo local a convidou para permanecer dois anos no país estudando o folclore venezuelano. Ela recusou o convite e partiu para os Estados Unidos, onde foi contratada por uma emissora de rádio de Schenactady, apresentando-se durante cinco meses sob o patrocínio da General Eletric.

Apresentou-se em New York e em New Orleans. Em Hollywood, ela e a filha foram convidadas para participar de um filme da RKO Pictures ao lado da orquestra de Rudy Vallée, mas não quis apresentar-se cantando e recusou.

Ela e a filha excursionaram pelo Brasil em 1939. Quando Silene se casou, ela resolveu abandonar a carreira, apresentando-se uma única vez no Teatro Municipal do Rio de Janeiro, antes de se aposentar.

Foi morar em Marília, interior de São Paulo, e, depois, em Goiânia. Lá, na casa de sua filha, conheceu a cantora Carmélia Alves, que era uma grande admiradora do talento de Amélia. Foi Carmélia Alves quem a convenceu voltar a se apresentar. Depois de 17 anos, ela voltou apresentando-se no Rio de Janeiro e em São Paulo, com um repertório de chorinhos de sua autoria, agora com o nome artístico de Tia Amélia.

Trabalhou na Rádio Nacional, no Clube da Chave e em outros clubes cariocas, e em São Paulo atuou durante três meses na TV Record, TV Tupi e TV Paulista, hoje TV Globo. Viajou, em seguida, para Pernambuco trabalhando na Rádio Clube de Pernambuco e Rádio Jornal do Comércio, de Recife.


O seu grande sucesso, entretanto, foi o programa "Velhas Estampas", que manteve durante 14 meses na TV Rio, no qual, além de tocar piano e apresentar suas composições, contava histórias dos velhos tempos de sua juventude. A convite da Odeon gravou o LP "Velhas Estampas", interpretando ao piano diversas composições de sua autoria, entre elas os chorinhos "Dois Namorados", "Chora, Coração", "Sem Nome", "Bordões ao Luar" (nome escolhido pelo poeta Vinícius de Moraes), "Sorriso de Bueno" e algumas valsas, acompanhada pela Banda Vila Rica.

Com esse disco, grande sucesso de vendagem, recebeu o prêmio de melhor solista e compositora do ano. Lançou depois novo LP pela Odeon, "Musicas da Vovó no Piano da Titia", e em julho de 1960 foi contratada pela TV Tupi, do Rio de Janeiro, para fazer um retrospecto da época áurea do choro brasileiro, semelhante ao que já fizera no programa "Velhas Estampas".

Tia Amélia fez sua última gravação em 1980, aos 83 anos, pelo selo Marcus Pereira, com o LP "A Benção Tia Amélia", onde interpretava 12 composições inéditas, entre valsas e choros.

Nessa época, o historiador musical José Ramos Tinhorão escreveu sobre ela:

"Assim, quando se ouve o som atual de Tia Amélia, pode-se dizer que é toda a história do piano popular brasileiro que soa em sua interpretação."

Amélia Brandão Nery, a Tia Amélia, faleceu em Goiânia, GO, em 18 de outubro de 1983, aos 86 anos de idade.


A Casa de Tia Amélia

A casa onde residiu a famosa pianista Amélia Brandão localiza-se no final da Rua Duque de Caxias, em frente a Praça Santos Dumont, próximo aos Correios de Jaboatão Centro e à Primeira Igreja Batista de Jaboatão. Ela é bastante conhecida de todos, pois destaca-se por sua volumetria e arquitetura que indicam ser uma casa bastante antiga. O que poucos sabem é que ela foi residência de umas das artistas mais importantes e conhecidas surgidas em nossa terra: Amélia Brandão.

Apesar da importância que Amélia Brandão teve para a música brasileira, sua antiga residência encontra-se hoje abandonada e correndo sérios riscos de ser demolida. Isso está acontecendo por causa de um impasse jurídico sobre a propriedade da casa que está impedindo que os verdadeiros donos assumam a posse da residência. Enquanto a lenta justiça brasileira não resolve a questão, mais um patrimônio do povo jaboatonense vai desaparecendo.

Para quem quiser conhecer mais, é só consultar o livro "Relembrando Tia Amélia" de Adiuza Vieira Belo disponível no Instituto Histórico de Jaboatão.

Discografia

  • 1980 - A Benção, Tia Amélia
  • 1960 - Cuíca no Choro / Bom dia Radamés Gnattali
  • 1960 - As Músicas da Vovó no Piano da Titia
  • 1959 - Valência / Revoltado
  • 1959 - Velhas Estampas