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Maria Bueno

MARIA DA CONCEIÇÃO BUENO
(38 anos)
Santa Popular

* Morretes, PR (08/12/1854)
+ Curitiba, PR (29/01/1893)

Maria da Conceição Bueno é considerada uma "Santa Popular" no estado do Paraná. Sua sepultura no Cemitério Municipal de Curitiba recebe um grande número de visitantes regularmente, principalmente no feriado de Finados, 2 de novembro.

Foi a filha mais nova de 7 irmãs, nascida em 08/12/1854, dia de Nossa Senhora da Conceição, no Rio da Prata, perto de Morretes, Litoral paranaense. O povo chamava o lugar de Biquinha de Prata, por causa da água cristalina e límpida do rio. Ainda na infância ela se mudou com a família para Campo Largo e depois foi morar em Curitiba.

Na noite do nascimento de Maria Bueno, sua mãe estava contente porque, na véspera, sonhou que havia visto uma santa muito bonita entrar em seu quarto. Ela teve vontade de gritar, não de medo, mas de alegria. A Santa, porém, fez um sinal, dizendo-lhe:

"Júlia, não temas. Eu sou a Mãe de Jesus. Vendo avisar-te que vais dar à luz a uma menina, e que está reservada a ela uma grande missão sobre a terra. Será uma alma milagrosa, que há de fazer muitos benefícios, aos seus semelhantes. Tenha Fé e Confiança!"
Contam que Pedro Bueno, embriagado, quis matar Maria Bueno, quando nasceu. Quando se preparava para arrebatar a cabeça da criança com uma garrafa, uma forte luz bateu em sua cabeça, fazendo-o cair desfalecido. Depois disso acordou diferente e transformou-se num bom homem. Deixou de beber e adorava Maria Bueno. Mais tarde, alistou-se como voluntário, na Guerra do Paraguai, morrendo em combate.

Júlia e sua filha Maria Bueno, sempre que podiam, iam visitar seus parentes e amigos no Porto de Cima e se hospedavam na casa, onde mais tarde foi realizada a gravação da novela "Maria Bueno", dirigida por Paulo de Avelar. Nesta casa, funcionou a Prefeitura, a cadeia e a Escola Professora Benedita da Silva Vieira, segundo depoimento da senhora Madalena Marques Ferreira, que diz que foi sua aluna.

Ana Júlia Leite Tenório, de 7 anos, ora no túmulo de Maria Bueno.
Depois, mudou-se para Campo Largo, PR. Mais tarde, sua mãe faleceu e sua irmã Maria Rosa começou a maltratá-la, ocasião em que Maria Bueno, ajudada por alguns padres, foi para Curitiba.

Jovem, bonita, gostava de dançar, por isso vivia nos bailes. Lá conheceu Inácio José Diniz, anspeçada do Exército. Ele insistiu e pouco depois foi morar junto com Maria Bueno.

Uma noite, em que Inácio Diniz estava de serviço no quartel, havia um grande baile. Maria Bueno queria ir dançar e Inácio Diniz não queria que ela fosse. Discutiram fortemente, Inácio Diniz foi para o quartel e Maria Bueno foi para o baile. Tarde da noite, Inácio Diniz saiu do quartel, onde hoje é o colégio São José, na Praça Rui Barbosa, e foi espionar Maria Bueno no baile.

Ficou furioso escondido nos matos da Rua Campos Gerais, hoje Rua Vicente Machado. Quando Maria Bueno passou sozinha, matou-a com um punhal, degolando-a. Era então a madrugada do dia 29/01/1893. O crime abalou a pequenina Curitiba da época. Inácio Diniz foi preso e julgado por um júri popular, do qual, tomaram parte proeminentes figuras curitibanas, e ele foi absolvido por unanimidade.

No lugar onde Maria Bueno morreu, foi colocada uma tosca cruz de madeira, local de prece, onde devotos afirmavam ter suas preces atendidas por Maria Bueno. Nos pés desta cruz, nasceu uma rosa vermelha. Maria Bueno era muito popular e admirada pelo povo, que ia rezar e acender velas. Contam que aconteceram graças e milagres, e transformou-se numa grande romaria.

Depois de algum tempo foi construído um túmulo para Maria Bueno, no Cemitério Municipal de Curitiba, no bairro São Francisco, local de romaria de devotos até os dias atuais.

O túmulo de Maria Bueno é muito visitado e tem no muro da frente e na parede do túmulo centenas de plaquetas com dizeres de agradecimentos de graças recebidas de muitas formas. Mais a frente foi construído um local só para acender as velas que os devotos levam para queimar agradecendo por pedidos atendidos.


Santa ou Mulher da Vida?

Muitas pessoas viajam de muito longe para visitar o seu túmulo. Hoje, Maria Bueno está enterrada num túmulo azul no Cemitério Municipal de Curitiba.

As certezas sobre Maria Bueno, santa canonizada pelo povo, repudiada pela Igreja, se resumem nas notícias publicadas nos jornais após seu trágico assassinato na madrugada de 29/01/1893, em Curitiba, PR.

Segundo o Diário do Comércio de 30/01/1893, Maria Bueno era "uma dessas pobres mulheres de vida alegre" (um eufemismo para prostituta) e fora assassinada a navalhadas numa cena de ciúmes.

O assassino teria sido seu amante, o anspeçada, na época primeiro soldado, e barbeiro do 8º Regimento de Cavalaria, Inácio José Diniz.

Nos autos do processo hoje desaparecido, o laudo do médico legista daria Maria Conceição Bueno, como cor de parda, não branca como sua imagem no túmulo, 30 anos presumíveis, de profissão lavadeira.

Nunca antes em Curitiba acontecera crime tão brutal, a cabeça quase separada do corpo e as mãos de Maria Bueno cheias de cortes pelos golpes de navalha ao tentar defender-se.

O motivo do crime teria sido ciúmes e aqui entram as duas versões sem provas, pois tanto o inquérito policial, quanto aos autos do processo não mais existem.


Na versão dos detratores de Maria BuenoInácio José Diniz havia proibido que ela fosse ao bordel naquela noite. Ela foi e ele a matou pela desobediência. Na versão dos devotos, Maria Bueno ao entregar roupa lavada foi morta ao resistir à tentativa de Inácio José Diniz estrupa-la.

Inácio José Diniz foi preso, julgado e, no julgamento, absolvido. Isso está documentado pela imprensa. Em A República de 13/07/1893, o repórter que acompanhou o julgamento protesta contra a absolvição: "Um grave perigo para a sociedade e incentivou à reprodução de novos crimes". Mas, o repórter não nos diz sob quais alegações a defesa conseguiu a absolvição. Para os retratores de Maria Bueno, a absolvição seria prova bastante de que ela não era nenhuma santinha.

Na Revolução Federalista de 1894, Inácio José Diniz cometeu um latrocínio quando Gumercindo Saraiva tomou conta de Curitiba. Pelo crime teria sido degolado por ordem de Gumercindo Saraiva, comandante federalista.

Para os devotos de Maria Bueno, este foi o primeiro milagre de santa: seu assassino morreu degolado como a degolou.

Dizendo ter visto os autos deste processo, Euclides Bandeira cita o novo crime de Inácio José Diniz em "Crônicas Locais" de 1941. Mas não se tem registro de sua degola. David Carneiro, em seu "Os Fuzileiros de 1894", confirma o fuzilamento, não a degola, dos criminosos e não cita Inácio José Diniz entre eles.

O local do crime virou ponto turístico e de devoção, porém os padres da Matriz teriam se recusado a encomendar o corpo e rezar missa por ser Maria Bueno prostituta. Em 1992, em fundamentada pesquisa publicada no "Nicolau" nº 45, Ruy Wachowicz sugere que a recusa dos padres fora por ser ela praticante de outra religião. Que outra religião seria? Macumba? Nas peças "Os Fuzis de 1894" (1970), de Walmor Marcelino, e "Maria Bueno" (1975), de Oracy Gemba, essa visão de Maria Bueno umbandista "pomba-gira" já fora antecipada.


Final

Em 1948, Sebastião Isidoro Pereira publicou "Maria Bueno, Onde a Alma de Maria Bueno", contribuiu com a força do seu milagre e autuou em nosso cérebro inundando-o com os pensamentos necessários.

Nesta visão psicografada, Maria Bueno seria morretense, última de uma série de 7 filhas. Mal-tratadas pelo pai alcoólatra, foi viver na casa de uma irmã casada, perto da Capela do Tamadoá, em São Luis do Purunan.

Moça bonita e muito dada, Maria Bueno provocava amores pecaminosos por parte de seu cunhado. Para evitar o pior, ela decidiu entrar num convento. Os padres da capela do Tamandoá mandaram Maria Bueno para Curitiba, aos cuidados de um casal de velhos.

Morto o marido, ela passa a ajudar a viúva nas despesas da casa, fazendo serviços para fora e ficou noiva de um rapaz de Morretes.

Na madrugada de 29/01/1893, Maria Bueno atendia uma festa numa casa perto, quando recebeu um bilhete da viúva chamando-a. Apesar do adiantado da hora, voltou para casa atravessando um matagal na rua Campos Gerais (Vicente Machado), entre Visconde de Nácar e Visconde do Rio Branco.

Rui Wachowicz, em sua pesquisa, afirma ser essa região, a zona do meretrício da época. Lá se encontrava emboscado Inácio José Diniz que enviou o bilhete falso. Inácio José Diniz tentou violentá-la e, ao defender sua honra, Maria Bueno foi degolada pelo assassino.

Essa versão novelesca é adotada pelos devotos e, em 1980, serviu de enredo para uma telenovela de Paulo de Avelar, transmitida com sucesso pela TV Paraná.

Na década de 1960, Arnaldo Azevedo, ex-campeão sul-americano de tênis, criou a Irmandade Maria Bueno e resolveu construir uma capela no túmulo dela. Convocou 7 virgens, 7 médiuns e 7 videntes. Através de uma das virgens em transe, Maria Bueno aprovou os planos da construção, reconheceu como sua uma foto onde uma moça veste blusa com zipper, útil aparato que só seria inventado nos anos 20. Essa foto veio a orientar um menino de dez anos para esculpir a imagem de Maria Bueno. A confusão com fotos parece ser uma constante em Maria Bueno. No livro "Ruas e Histórias de Curitiba" (1989), Valério Hoerner não só publica como autentica uma foto do julgamento de Inácio José Diniz, onde réu, público e guardas aparecem com roupas e fardas dos anos 1940.

A inauguração em 1962 da capela no túmulo de Maria Bueno no Cemitério Municipal de Curitiba trouxe novo alento e novas lendas ao culto. A irmandade se encarregou não só de vender velas e recolher o dinheiro, mas também de espalhar os milagres: o mais repetido é o dos ladrões que tentaram arrombar o cofre onde os devotos depositavam suas doações, e não conseguindo colocaram fogo na capela. Milagrosamente o fogo se apagou e não atingiu a imagem de Maria Bueno.

As romarias são intensas na capela de Maria Bueno, principalmente nos finados, quando há filas quilométricas. No início, os pedidos eram para casos de amor, arranjar marido, para o marido voltar a amar a mulher e deixar de beber, coisas assim. Nos últimos anos, com a crise, a maioria dos pedidos e para arranjar emprego.