Mario Gonzalez

MARIO GONZALEZ
(96 anos)
Golfista

☼ Santana do Livramento, RS (22/11/1922)
┼ Rio de Janeiro, RJ (29/07/2019)

Mario Gonzalez foi um golfista nascido em Santana do Livramento, RS, no dia 22/11/1922. É considerado o melhor golfista brasileiro de todos os tempos.

Mario Gonzalez começou a jogar golfe com oito anos de idade, tendo seu pai como seu professor.

Surgiu para o esporte em 1939, em sua cidade natal. Tinha apenas 17 anos e ficou com o título de campeão do Campeonato Amador do Brasil, iniciando uma série de conquistas que marcariam para sempre a história do esporte no Brasil.

O jovem gaúcho monopolizou os campeonatos brasileiros de amadores até 1949 e, depois de vencer pela nona vez, profissionalizou-se e transferiu-se de São Paulo para o Gavea Golf & Country Club, no Rio de Janeiro.


Head Pro do Gavea Golf de 1949 a 1984, foi vitorioso no Amador Brasileiro por nove vezes e campeão do Aberto Brasil oito vezes. Venceu vários abertos em clubes brasileiros e detém o recorde de 16 importantes vitórias internacionais: Ganhou, entre outros títulos, quatro vezes o Campeonato da Argentina, duas vezes o Aberto da Argentina, duas vezes o Aberto do Uruguai e uma vez o Campeonato Amador da Espanha, o Aberto da Espanha e o título amador do Aberto da Inglaterra.

Mario Gonzalez jogou com os melhores jogadores do mundo, tais como Bobby Jones, Gene Sarazen, Henry Cotton, Martin Pose, Roberto de Vicenzo, Ricardo Rossi, Peter Thompson, Kel Nagle, Sam Snead, Arnold Palmer, Billy Casper, George Archer, Flory Van Donck, Lloyd Mangrum e muitos outros.

Mario Gonzalez representou o Brasil em 16 Copas do Mundo.

Foi mencionado por Peter Thompson, cinco vezes vencedor do Aberto Britânico, na revista estadunidense Golf Digest como um dos dez melhores jogadores do mundo com quem já jogou.

Em sua homenagem, em 2012, foi criada a Taça Mario Gonzalez, disputada anualmente entre duplas por países durante o campeonato amador do Brasil, e no Gavea Golf And Country Club há uma estátua do golfista, em tamanho natural, feito pelo artista Edgar Dulvivier.

Morte

Mario Gonzalez faleceu na noite de segunda-feira, 29/07/2019, aos 96 anos. A causa da morte não foi divulgada.

O velório de Mario Gonzalez ocorrerá na quarta-feira, 31/07/2019, das 9h00 às 11h00, no Cemitério Memorial do Carmo, na Zona Portuária do Rio de Janeiro.

Títulos

Principais Competições Internacionais
  • 3 vezes o Campeonato Amadores da Argentina
  • 2 vezes o Campeonato Aberto da Argentina
  • 2 vezes o 1º Amador do Aberto da Argentina
  • 2 vezes o Campeonato Aberto do Uruguai
  • 2 vezes o 1º Amador do Aberto do Uruguai
  • 1 vez o Campeonato Aberto do Sul da Argentina
  • 1 vez o Campeonato Amador (Puerta de Hiero) da Espanha
  • 1 vez o Campeonato Aberto da Espanha
  • 1 vez o Campeonato Internacional de Duplas Mistas de Portugal
  • 1 vez o Saint George Cup da Inglaterra
  • 1 vez 1º amador no Campeonato Aberto da Inglaterra
  • 1 vez vencedor da classificação do Campeonato Amador dos Estados Unidos (Omaha, Nebraska)


Principais Competições Nacionais
  • 9 vezes o Campeonato Amador Brasileiro
  • 8 vezes o Campeonato Aberto Brasileiro (Profissionais e Amadores)
  • 3 vezes o 1º amador do Aberto Brasileiro

Fonte: Wikipédia e JB FM
#FamososQuePartiram #MarioGonzalez

Ruth de Souza

RUTH PINTO DE SOUZA
(98 anos)
Atriz

☼ Rio de Janeiro, RJ (12/05/1921)
┼ Rio de Janeiro, RJ (28/07/2019)

Ruth Pinto de Souza, nacionalmente conhecida como Ruth de Souza, foi uma atriz, primeira dama negra do teatro, do cinema e da televisão brasileira.

Ruth de Souza nasceu no Rio de Janeiro, no bairro do Engenho de Dentro, no dia 12/05/1921, e logo mudou-se com a família para um sítio em Porto Marinho, interior de Minas Gerais, ficando lá até os 9 anos de idade. Com a morte do pai, ela e a mãe voltaram a morar no Rio de Janeiro, em uma vila, no bairro de Copacabana.

Filha de um lavrador e de uma lavadeira, desde criança Ruth de Souza sonhava em ser atriz. Encantou-se pelo teatro e o cinema quando assistiu ao filme "Tarzan, O Filho Das Selvas" (1932).

Com ingressos que a mãe, lavadora de roupas, ganhava das patroas, ia assistir a espetáculos no Theatro Municipal.
"Eu era apaixonada por cinema. Queria ser atriz, mas naquela época não tinha atores negros, e muita gente ria de mim: 'Imagina, ela quer ser artista! Não tem artista preto!'. Eu ficava meio chateada, mas sabia que ia fazer. Como, não sabia!"

Ruth de Souza interessou-se pelo teatro e, em 1945, ingressou no Teatro Experimental do Negro, grupo liderado por Abdias do Nascimento. Ela abriu caminho para o artista negro no Brasil, tendo participado, ao lado de outras mulheres negras, do primeiro grupo de teatro negro a subir ao palco do Teatro Municipal do Rio de Janeiro com a peça "O Imperador Jones", de Eugênio O'Neill.

Como uma das pioneiras da TV brasileira, a atriz participou de programas de variedades e musicais no início das transmissões da TV Tupi, até adaptar para a televisão, com Haroldo Costa, a peça "O Filho Pródigo", que havia encenado no Teatro Experimental do Negro.

Estreou no cinema em 1948 no filme "Terra Violenta", baseado no romance "Terras do Sem-Fim", de Jorge Amado. Participou de inúmeras produções, tais como "Falta Alguém no Manicômio" (1948), "Também Somos Irmãos" (1949), "Ângela" (1951) e "Terra É Sempre Terra" (1952).

Na década de 50, participou de radionovelas e começou a atuar nos teleteatros da TV Tupi.

Em 1953, conquistou reconhecimento nacional por sua participação em "Sinhá Moça", o que impulsionou sua carreira de atriz cinematográfica. Em "Sinhá Moça" Ruth de Souza fez uma dupla inesquecível com Grande Otelo


Em 1954, no Festival de Veneza, Ruth de Souza foi a primeira atriz brasileira indicada ao prêmio de melhor atriz num festival internacional de cinema: "Sinhá Moça", a versão para o cinema de Tom Payne.

Em entrevista ao Memória Globo, ela lembrou que, por pouco, não levou o prêmio e ainda superou atrizes consagradas como Katherine Hepburn e a Michèle Morgan. Lili Palmer foi a vencedora.
"Era muito importante o festival, Veneza, o Festival de Veneza naquela época acho que era mais importante que o de Cannes, era muito importante. E aí, quando veio a notícia de que Lili Palmer tinha ganho o prêmio e eu tinha perdido por dois votos. Dois votos... Então, a Katherine Hepburn e a Michèle Morgan ficaram para trás, ficaram em quarto lugar, não sei.. Para mim, foi como se eu tivesse ganho o prêmio, foi muito importante para a minha carreira, inclusive!"
(Ruth de Souza)

Em 1959, viveu outro momento especial no palco, quando protagonizou "Oração Para Uma Negra", de William Faulkner, com Nydia Lícia e Sérgio Cardoso, no Teatro Bela Vista, em São Paulo.


Ruth de Souza recebeu bolsa de estudo da Fundação Rockefeller e passou um ano nos Estados Unidos, estudando na Universidade de Harvard e na Academia Nacional do Teatro.

Na década de 60, adquiriu sucesso na televisão com a telenovela "A Deusa Vencida" (1965), de Ivani Ribeiro, na TV Excelsior.

Ruth de Souza esteve também no clássico "O Assalto Ao Trem Pagador" (1962), de Roberto Farias.

Ruth de Souza era grande admiradora do cinema por entender que era onde o artista negro tinha mais oportunidades.
"O cinema sempre deu mais oportunidade para o negro, desde o Grande Otelo. Eu tive sorte na continuidade de trabalho, tanto no teatro quanto na televisão. Sempre tive trabalho, mas são poucos os negros que têm. Isso foi benção de Deus!"
Em 1968, integrou o elenco da TV Globo onde se tornou a primeira atriz negra a protagonizar uma telenovela, "Passo dos Ventos" (1968) de Janete Clair e "A Cabana do Pai Tomás" (1969), escrita por Hedy Maia, Glória Magadan e Walther Negrão. Até então, participou intensamente da teledramaturgia da emissora, atuando em diversas produções.


Na TV Globo, Ruth de Souza atuou em mais de 20 novelas. Entre elas: "A Cabana do Pai Tomás" (1969), "Pigmalião 70" (1970), "Os Ossos do Barão" (1973), "O Rebu" (1974), "Duas Vidas" (1976) e "O Clone" (2001). Também atuou em seriados como "Memorial de Maria Moura" (1994) e "Na Forma da Lei" (2010).

Ruth de Souza foi homenageada pela escola de samba carioca Acadêmicos de Santa Cruz no carnaval de 2019, com o enredo "Ruth de Souza - Senhora Liberdade. Abre as Asas Sobre Nós".

Seu último trabalho foi na minissérie "Se Eu Fechar Os Olhos Agora" (2018), que foi ao ar em 2019 na TV Globo. Na história recriada por Ricardo Linhares a partir do romance original de Edney Silvestre, ela viveu Madalena. Idosa e abandonada, a personagem era "adotada" pelos meninos Paulo Roberto (João Gabriel D’Aleluia) e Eduardo (Xande Valois) antes de ser assassinada de forma brutal e misteriosa.

Nos últimos anos, Ruth de Souza considerava-se aposentada, mas estava lúcida e bem de saúde.

Morte

Ruth de Souza faleceu na manhã de domingo, 28/07/2019, aos 98 anos. Ela estava internada no Centro de Tratamento Intensivo do Hospital Copa D'Or, em Copacabana, na Zona Sul do Rio de Janeiro, vítima de uma pneumonia. A causa da morte não foi informada pelo hospital.

O velório de Ruth de Souza ocorrerá na segunda-feira, 29/07/2019, no Theatro Municipal a partir das 8h00. Na primeira parte, o velório será fechado para a família até 10h00, segundo informações da assessoria do Theatro Municipal. Em seguida, será aberto ao público até às 12h00.

Carreira

Televisão
  • 1951 - Grande Teatro Tupi
  • 1952 - Grande Teatro Tupi
  • 1953 - Grande Teatro Tupi
  • 1954 - Grande Teatro Tupi
  • 1955 - Grande Teatro Tupi
  • 1965 - A Deusa Vencida ... Narcisa
  • 1968 - Passo Dos Ventos ... Mãe Tuiá
  • 1969 - A Cabana Do Pai Tomás ... Cloé
  • 1969 - Verão Vermelho ... Clementina
  • 1970 - Assim Na Terra Como No Céu ... Isabel
  • 1970 - Pigmalião 70
  • 1971 - O Homem Que Deve Morrer ... Maria das Dores
  • 1972 - Bicho do Mato ... Zilda
  • 1973 - O Bem Amado ... Chiquinha do Parto
  • 1973 - Os Ossos Do Barão ... Elisa
  • 1974 - O Rebu ... Lourdes
  • 1975 - Helena ... Madalena
  • 1975 - O Grito ... Albertina
  • 1976 - Duas Vidas ... Elisa
  • 1977 - Sinhazinha Flô ... Justina
  • 1978 - Sinal De Alerta ... Adelaide Santiago
  • 1980 - Olhai Os Lírios Do Campo ... Mariana
  • 1982 - Sétimo Sentido ... Jerusa Bueno
  • 1983 - Caso Verdade
  • 1984 - Caso Verdade
  • 1984 - Corpo A Corpo ... Jurema Nascimento Rangel
  • 1986 - Sinhá Moça ... Balbina
  • 1986 - Cambalacho ... Dona Aparecida
  • 1987 - Mandala ... Josefa Santana (Zezé)
  • 1987 - Expresso Brasil ... Chiquinha do Parto
  • 1988 - Fera Radical ... Cecília
  • 1989 - Pacto De Sangue ... Mãe Quitinha
  • 1990 - Rainha Da Sucata ... Juíza Elizabeth
  • 1992 - De Corpo E Alma ... Amiga de Calu
  • 1993 - Você Decide (Episódio: "A Cor Do Amor")
  • 1994 - Memorial De Maria Moura ... Siá Mena
  • 1995 - Você Decide (2 Episódios)
  • 1996 - Quem É Você? ... Isolina Barroso
  • 1997 - Você Decide (Episódio: "Enrascada")
  • 2000 - Você Decide ... Isaura (Episódio: "A Mãe Preta")
  • 2001 - O Clone ... Mocinha da Silva (Dona Mocinha)
  • 2004 - Senhora Do Destino ... Marina Cazarredo
  • 2006 - Sinhá Moça ... Mãe Maria
  • 2007 - Amazônia, De Galvez a Chico Mendes ... Madrinha Entrevada
  • 2007 - Duas Caras ... Tia Nena
  • 2008 - Faça Sua História ... Passageira (Episódio: "Super Mamãe Suzete")
  • 2010 - Na Forma da Lei ... Velha Oxalá
  • 2018 - Mister Brau ... Ela Mesma (Episódio: "01 de maio de 2018")
  • 2018 - Se Eu Fechar Os Olhos Agora ... Madalena dos Santos


Cinema
  • 1948 - Terra Violenta ... Empregada
  • 1948 - Falta Alguém No Manicômio ... Júlia
  • 1949 - Também Somos Irmãos ... Rosália
  • 1950 - A Sombra Da Outra
  • 1950 - Aglaia
  • 1951 - Ângela ... Divina
  • 1951 - Terra É Sempre Terra ... Bastiana
  • 1953 - Sinhá Moça ... Sabina
  • 1954 - Candinho ... Dona Manuela
  • 1956 - Quem Matou Anabela?
  • 1957 - Osso, Amor E Papagaios ... Benedita
  • 1958 - Ravina ... Mariana
  • 1959 - Fronteiras Do Inferno
  • 1960 - Mistério Da Ilha De Vênus ... Mama Rata
  • 1960 - Favela
  • 1961 - Bruma Seca ... Luísa
  • 1961 - A Morte Comanda O Cangaço ... Rezadeira
  • 1962 - O Assalto Ao Trem Pagador ... Judith
  • 1963 - O Cabeleira ... Jovina
  • 1963 - Gimba, O Presidente Dos Valentes ... Chica
  • 1968 - O Homem Nu ... Testemunha de Jeová
  • 1974 - Pureza Proibida ... Cotinha
  • 1975 - Ana, A Libertina ... Empregada
  • 1976 - Um Homem Célebre
  • 1977 - Quem Matou Pacífico?
  • 1977 - Ladrões De Cinema ... Rainha Louca
  • 1980 - Fruto Do Amor ... Ana Maria
  • 1987 - Jubiabá
  • 1994 - Boca ... Srª Esteban
  • 1999 - Um Copo De Cólera
  • 2001 - A Negação Do Brasil ... Ela Mesma
  • 2003 - Aleijadinho - Paixão, Glória E Suplício ... Joana Lopes
  • 2004 - As Filhas Do Vento ... Maria Aparecida (Cida)
  • 2015 - O Vendedor De Passados ... Dona Célia
  • 2018 - Primavera ... Josephina / Matilda / Madre Amélia


Teatro
  • 1945 - O Imperador Jones
  • 1946 - Todos Os Filhos De Deus Têm Asas
  • 1946 - O Moleque Sonhador
  • 1947 - O Filho Pródigo
  • 1947 - Terras Do Sem-Fim
  • 1948 - Recital Castro Alves
  • 1948 - A Família E A Festa Na Roça
  • 1949 - Aruanda
  • 1949 - Filhos De Santo
  • 1950 - Calígula
  • 1958 - Vestido De Noiva
  • 1959 - Oração Para Uma Negra
  • 1960 - Oração Para Uma Negra
  • 1961 - Quarto De Despejo
  • 1964 - Vereda Da Salvação
  • 1967 - O Milagre De Anne Sullivan
  • 1978 - A Revolução Dos Patos
  • 1980 - Passageiros Da Estrela
  • 1983 - Requiém Para Uma Negra
  • 1994 - Anjo Negro

Ruth de Souza e Grande Otelo
Prêmios e Indicações

Prêmios Internacionais
  • 1954 - Festival Internacional de Cinema de Veneza  -  Troféu Leão de Ouro a Melhor Atriz "Sinhá Moça" (Esta indicação fez de Ruth a primeira atriz brasileira indicada a um prêmio internacional de cinema)


Prêmios Nacionais
  • 1976 - Troféu APCA (Associação Paulista de Críticos de Arte)  -  Melhor Atriz Coadjuvante "Pureza Proibida" (Venceu)
  • 2004 - Festival de Gramado  -  Melhor Atriz "As Filhas Do Vento" (Venceu)
  • 2006 - Prêmio Contigo! de Cinema Nacional  -  Melhor Atriz "As Filhas Do Vento" (Indicado)
  • 2018 - 5º Festival Brasil de Cinema Internacional   -  Melhor Atriz Coadjuvante "Primavera" (Venceu)

Fonte: Wikipédia e G1
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Roniquito

RONALD RUSSEL WALLACE DE CHEVALIER
(46 anos)
Economista

☼ Manaus, AM (1937)
┼ Rio de Janeiro, RJ (Janeiro de 1983)

Ronald Russel Wallace de Chevalier, mais conhecido por Roniquito, foi um economista nascido em Manaus no ano de 1937.

Filho do escritor Ramayana de Chevalier e irmão da atriz, jornalista, escritora e compositora Scarlet Moon, falecida em 05/06/2013, Roniquito talvez tenha sido o sujeito mais sem censura da história de Ipanema.

Segundo conta Ruy Castro, no livro "Ela é Carioca", o economista Roniquito de Chevalier foi o verdadeiro inventor da palavra "Aspone" (Assessor de Porra Nenhuma).

Ele às vezes entrava num botequim e se anunciava:
"Senhoras e senhores, aqui Ronald de Chevalier. Dentro de alguns minutos... Roniquito!"
Mesas estremeciam. Todos sabiam que aquele rapaz bem-nascido, bem vestido, bem-falante e de profissão economista, que acabara de entrar recitando Shakespeare ou Baudelaire, iria cumprir a ameaça.

Dali a três ou quatro uísques (não havia uma progressão, era de repente), ele se aproximava de alguém (o queixo proeminente quase espetando a cara do outro) e dizia alguma coisa tão ofensiva que fazia o outro espumar e partir para assassiná-lo. Talvez porque o que ele dissesse fosse a verdade.

Certa vez o cartunista Jaguar tentou acompanhá-lo por uma noite: Foram expulsos de quatro bares.

Scarlet Moon não lembra o ano exato, apenas que o fato se deu no começo da década de 70. Ladrões invadiram o Antonio's, principal reduto da boemia carioca, dominaram os frequentadores e começaram a esvaziar os caixas. Assustados, todos ficaram em silêncio, exceto um homem franzino, que interrompeu a ação diversas vezes insistindo para que os ladrões levassem também uma lista de pessoas e valores ao lado da caixa registradora: Era a relação dos devedores do bar, o "pendura".

Esse homem era Ronald Russel Wallace de Chevalier, o Roniquito, e a história é uma das muitas que cercam um dos personagens ao mesmo tempo mais amados e odiados da Ipanema dos anos 60 e 70. 

Roniquito era tão corajoso quanto frágil fisicamente. Escapou centenas de vezes de ser desmembrado ou de ter os ossos da face transformados em paçoca por punhos poderosos. Muitas vezes foi salvo pelos amigos, que brigavam por ele. Em outras, apanhou de verdade e aguentou firme.

Conta-se que, numa dessas, o sujeito que o espancava perguntou-lhe: "Chega ou quer mais?". E Roniquito, no chão, com o sapato do brutamontes sobre seu pescoço, ainda conseguiu olhar para cima e articular: "Cansou, filho da puta?".

Roniquito dizia o que pensava para qualquer um, não importava o cargo, a idade, a cor, o sexo, ou o tamanho da pessoa.

Umas dessas foi o cronista Antônio Maria, que, sozinho, seria capaz de massacrar vinte Roniquitos. Numa discussão no Bottle’s Bar, no Beco das Garrafas, em 1962, Roniquito provocou Antônio Maria ao duvidar de sua competência como homem de televisão. Para ele, homem de televisão era seu amigo Walter Clark, então diretor comercial da TV Rio e que estava calado na mesa, temendo o pior.

Roniquito ofendia Antônio Maria e pedia o testemunho do boêmio dentista Jorge Arthur Graça, o "Sirica", também sentado com eles. Antônio Maria aguentou enquanto pôde, até que Roniquito soltou a frase final: "Antônio Maria, você foi parido por um ânus!".

Ao ouvir isso, Antônio Maria ficou vermelho e atirou-se enfurecido sobre RoniquitoWalter Clark e quem mais estivesse por ali. A muito custo, foi contido por Jorge Arthur Graça e mais uns dez.

Walter Clark e Roniquito eram amigos de adolescência em Ipanema. Conheceram-se no Colégio Rio de Janeiro, depois de uma prova de redação na qual Walter Clark, recém-chegado de São Paulo, teria tirado 10. A primeira frase de Roniquito para Walter Clark foi: "Você é o garoto que tirou 10? Você me parece bem medíocre...". Nunca mais se separaram.

Nos anos 60, Walter Clark contratou Roniquito para trabalhar na administração da TV Rio e toureou os insultos que Roniquito disparava contra o próprio chefe, Péricles do Amaral.

Quando Walter Clark saiu para fazer a TV Globo, em 1965, levou Roniquito com ele. Com o estrondoso sucesso da TV Globo a partir de 1970, a máquina começou a andar sozinha e Roniquito e o próprio Walter Clark pareceram ficar sem função. Dizia-se que a única utilidade de Roniquito era beber uísque com Walter Clark durante o expediente - em xícaras de chá, para dar menos na vista.

Foi quando, ao ser perguntado sobre o que fazia na TV Globo, Roniquito respondeu com a expressão depois popularizada por Carlinhos de Oliveira:
"Sou aspone. As-po-ne. Assessor de porra nenhuma!"
A palavra, consagrada nacionalmente, ainda não chegou ao Dicionário Aurélio.

Mas não era bem assim. Na própria TV Globo, sua atuação esteve longe de ser a de um "Aspone". Numa época de crise, por exemplo, ajudou a equacionar uma pesada dívida da TV Globo para com a Receita Federal.

Roniquito era um economista brilhante, ex-aluno de Octávio Gouveia de Bulhões, Roberto Campos e Mário Henrique Simonsen, e fora o orador da sua turma, da qual fazia parte Maria da Conceição Tavares.

Em fins dos anos 50, saiu da faculdade para um emprego na Comissão Econômica Para a América Latina (CEPAL). Mário Henrique Simonsen, por sinal, vivia consultando-o sobre questões econômicas, antes, durante e depois de ser Ministro do Planejamento do governo de Ernesto Geisel - e sendo derrotado por ele no xadrez.

Sóbrio, Roniquito trabalhava também no Ministério da Fazenda, escrevia uma coluna semanal no Correio Braziliense e dava palestras em universidades e cursos de pós-graduação. E, sóbrio ou ébrio, passava a impressão de ser íntimo de todos os livros do mundo: Falava inglês e francês, sabia poetas inteiros de cor e conhecia muita literatura, sendo apaixonado por William Faukner.

Suas estantes eram impecáveis, com os livros organizados por assunto, todos sempre à mão. Em música Roniquito era capaz de assobiar até os clássicos. Parte dessa erudição lhe vinha de família: Seu pai, o amazonense Walmik Ramayana de Chevalier, era poeta e médico. O Ramayana do nome era uma referência ao célebre poema hindú.

Walmik Ramayana de Chevalier carimbou seus filhos com nomes bonitos, mas, para brasileiros, estrambóticos: Roniquito era Ronald Russel Wallace de Chevalier. Dois de seus irmãos eram Stanley Emerson Carlyle de Chevalier e, claro, Scarlet Moon de Chevalier.

Por intermédio do pai, Roniquito ainda usava calças curtas quando se sentou para beber pela primeira vez com Vinícius de Moraes e Paulo Mendes Campos. Ou seja, já começou entre os profissionais. Na mesma época, para exibir Roniquito, o pai mandou-o imitar Ruy Barbosa para Lúcio Cardoso. Roniquito imitou Ruy Barbosa à perfeição, com todos os pronomes no lugar. Lúcio Cardoso ficou fascinado: "Nunca vi um menino de dez anos beber tão bem!".

Muitos anos depois, Lúcio Cardoso deu-lhe para ler os originais de seu romance "Crônica da Casa Assassinada" e pediu-lhe sua opinião.

Mas, quando Lúcio Cardoso o enxotou de uma festa em seu apartamento por ele estar zombando do namoro secreto de Paulinho Mendes Campos com Clarice Lispector, Roniquito foi para debaixo da janela de Lúcio Cardoso e começou a gritar o insulto que, na sua opinião mais o ofenderia: "Faukner do Méier! Faukner do Méier!".

A relação de Roniquito com os escritores era cruel. Ao cruzar com Fernando Sabino num restaurante, Roniquito perguntou-lhe: "Fernando Sabino, quem escreve melhor, você ou Nelson Rodrigues?".

Fernando Sabino gaguejou: "Bem... Nelson Rodrigues, é claro!".

Mas Roniquito fulminou: "E quem é você para julgar Nelson Rodrigues?".

Roniquito fez pior com o suave Antônio Callado, a quem perguntou se já tinha lido FaulknerAntônio Callado disse que, evidentemente, já tinha lido. Roniquito então disse: "Bem, se já leu Falkner, você sabe que você é um bosta!".

Para Roniquito, segundo a crônica escrita por Ferreira Gullar, a música do amigo Tom Jobim seria uma simples cópia da música do maestro Villa-Lobos. Clarice Lispector surgiria como uma "wannabe" Virginia Woolf.

Amicíssimo de seus amigos, certa vez Roniquito foi ao velório de um deles, entrou na sala errada e, diante da família compungida esbravejou: "Esse defunto é horroroso! O nosso é muito mais bonito!". Sob o mesmo tema escapou de várias surras no circuito Ipanema-Leblon, quando ao chegar nos bares e verificar a ausência dos seus amigos dizia: "O lugar está cheio de ninguém!".

Comemoração de vitória do Fluminense no Antônio's Bar
Na foto, da esquerda para direita, o garçom Marcos Vasconcellos, Roniquito Chevalier, Nelson Motta, Chico Buarque e Lúcio Rangel
Se Roniquito se limitasse a desfeitear os amigos, seria apenas um bebum inconveniente. Mas ele também não tinha a menor cerimônia com o poder, nem mesmo quando esse era o truculento poder militar. Certa vez, numa recepção na TV Globo, Roniquito foi apresentado a um general. Depois de certificar-se de que ele nunca lera Machado de Assis, perguntou-lhe se pelo menos entendia de música. O general hesitou e Roniquito exemplificou: "Nem essa?". E, com a voz e os dedos imitando uma corneta, solou o toque da alvorada.

Em outra visita de autoridades à TV Globo, Roniquito perguntou a Pratini de Moraes, Ministro dos Transportes do governo Emílio Garrastazu Médici, se ele sabia o tamanho de um vergalhão. O ministro vacilou e Roniquito emendou: "Pois devia saber, porque o governo está enfiando um vergalhão no rabo do povo!".

De outra feita, no governo de Ernesto Geisel, quando Roniquito conversava com o seu amigo, o Ministro da Previdência Luiz Gonzaga do Nascimento Silva, outro ministro, Severo Gomes, este da Indústria e Comércio e dono dos cobertores Parahyba, tentou se meter. Roniquito cortou-o: "Não estou falando com fabricante de lençóis!".

Em todas essas ocasiões, Roniquito foi salvo do opróbrio na Globo porque era adorado por Walter Clark e Boni. Chegou a ser posto de quarentena diversas vezes, mas a punição nunca era mais do que simbólica. De certa forma, Roniquito era o que Walter Clark, com todo o seu poder, gostaria de ser: Fino de berço e grosso por opção - Walter Clark era o contrário.

Mas a maior sem-cerimômia de Roniquito para com o poder foi em 1967 e envolveu o Marechal Costa e Silva, já presidente. Segundo a história muito bem contada por Ferdy Carneiro, Roniquito estava ciceroneando um figurão americano convidado do Governo, a pedido de Nascimento Silva. Naquela manhã ele levou o visitante para almoçar no restaurante do Museu de Arte Moderna (MAM). Antes de irem para a mesa, resolveram reforçar-se no bar com alguns uísques.

Por coincidência, na mesma hora, Costa e Silva também estava no Museu de Arte Moderna (MAM) para almoçar. A comitiva presidencial, sem as normas de segurança que depois se tornariam comuns, passou por Roniquito no momento em que este catava seu isqueiro no paletó para acender um cigarro.

Com o cigarro no canto da boca, Roniquito viu o presidente. Avançou, cravou o queixo nas medalhas de Costa e Silva e perguntou: "O senhor tem fogo?".

Os seguranças, como que subitamente acordados de um rigor mortis, pularam sobre ele. O americano, sem entender o que se passava e já incapaz de fazer um quatro, se a isso fosse solicitado, balbuciou qualquer coisa como "Whatthegoddamfuckdoyouthinkyouredoin'" e foi também abotoado.

Os dois foram levados para o 3º Distrito, na Rua Santa Luzia, por desacato à autoridade. Diante do delegado, o americano esbravejava com voz pastosa: "I’m an American shitizen! Call the embashy!".

O delegado perguntou: "Quê que o gringo tá falando?".

"Ele tá dizendo que a polícia no Brasil é uma merda!", traduziu Roniquito.

"Ah, é? Pois ele vai ver o que é merda!", bramiu o delegado.

O americano pediu para usar o telefone. Roniquito traduziu: "Ele está dizendo que no Brasil ninguém respeita os direitos humanos!".

"Direitos humanos é o cacete! Ele vai entrar no pau!", ganiu o delegado.

O americano perguntou a Roniquito por que o delegado estava tão brabo.

Roniquito sussurrou para o delegado: "Agora ele está dizendo que o Brasil é uma ditadura facista!".

Por sorte, quando estava prestes a ser apresentado ao pau-de-arara, o americano conseguiu mostrar um documento com o emblema do governo americano. Foi dado o telefonema e, em poucos minutos, chegaram as tropas da embaixada e do Itamaraty para libertar Roniquito e o gringo.

Mas, por causa de Roniquito, concluiu Ferdy Carneiro, por pouco não se declarou uma guerra entre o Brasil e os Estados Unidos, tendo como pivô um palito de fósforo.

Não admira que Roniquito não tenha sido levado a sério quando se ofereceu para ser trocado pelo embaixador Burke Elbrick, sequestrado em 1970.

Roniquito deixou sua marca como boêmio num Rio de Janeiro que não existe mais. Uma boa fonte de assunto para mesa de bar numa sexta-feira. E foi assim certa noite em 1964, quando bebia com Paulo César Saraceni e Armando Costa num bar de Copacabana. Os três esculhambavam o golpe e as Forças Armadas em altos brados. Numa das mesas próximas havia um grupo de militares que se sentiu ofendido. Os militares foram à 13ª Delegacia e convocaram a polícia para prender os difamantes.

Armando Costa estava no banheiro quando os policiais chegaram. Ao se aproximarem da mesa, foram desacatados por Roniquito. Levaram Paulo César Saraceni e ele presos. Armando Costa, saindo do lavabo, tentou ser preso também mas não conseguiu.

Na delegacia, embora Paulo César Saraceni e o delegado tentassem, não conseguiam aplacar a ira roniquitianaPaulo César Saraceni ligou para Tio Pandiá, que chegou prontamente, conversou com o delegado e convenceu-o a liberar os dois.

Conseguiu porque o delegado não aguentava mais o discurso irado de Roniquito. Num determinado momento, Paulo César Saraceni disse que ia embora e levaria o Tio Pandiá com ele, para ver se Roniquito se acalmava e ia junto. Mas Roniquito estava tomado de ódio dos militares e continuava sua peroração. Tio Pandiá e Paulo César Saraceni fizeram menção de partir. Desta vez foi o delegado que estrilou: "Pelo amor de Deus! Não deixa esse cara aqui não!"

Livre dos espíritos, Roniquito era um gentleman. Beijava as mãos das senhoras e encantava-as com sua inteligência e educação. Mas era bom não confiar. A poção que o fazia passar de Drº Jekyll a Mr. Hyde, ou de Drº Roni a Mr. Quito, segundo Marcos de Vasconcelos, vinha em toda espécie de garrafas. Com uma única palavra ele seria capaz de provocar um terremoto.

Uma elegante senhora do Flamengo, que só conhecia o seu lado fino, convidou-o para um jantar em sua casa. Roniquito comportou-se bem no jantar, mas bebeu vinho demais, desmaiou sobre o prato e foi levado roncando para um sofá.

Terminado o jantar, um dos convidados propôs uma brincadeira então na moda, "A palavra é...".

No meio do jogo, Roniquito deu sinais de que estava acordando. A dona da casa achando que ele queria participar da brincadeira, foi até o sofá, de mãos postas e com um sorriso de beatitude: "Roniquito, a palavra é...".

E Roniquito, meio zonzo de sono: "Ca-ra-lho".

Naturalmente, foi expulso pelo filho da anfitriã.

Quem o conhecesse mal, diria que Roniquito tinha um temperamento bélico. Mas era a sua falta de paciência para com os enganadores que o levava a ser radical. Poucos meses depois do golpe de 1964, intelectuais reunidos no Teatro Santa Rosa promoviam um debate emocionado e anódino sobre os "Caminhos da Democracia no Brasil". Propunham "Estratégias de Ação".

Foi quando se ouviu, do fundo da platéia, sua voz característica: "Muito bem. E quem vai fornecer as metralhadoras?". O debate acabou ali.

Roniquito ganhou sua biografia "Drº Roni & Mr. Quito - A Vida do Amado e Temido Boêmio de Ipanema", escrita por Scarlet Moon de Chevalier, sua irmã e lançada em setembro de 2006.

Drº Roni & Mr. Quito
A Vida do Amado e Temido Boêmio de Ipanema

Optando por um andamento cronológico, o livro de Scarlet Moon de Chevalier, que traz no nome uma referência a Drº Jekyll e Mr. Hyde, do livro "O Médico e o Monstro", de Robert Louis Stevenson, apresenta Roniquito, que era alcoólatra, no auge de sua lenda etílica mas também flagra a sua faceta mais sóbria, quando, por exemplo, na qualidade de economista respeitado, dava orientações de investimento a um garçom do Antonio's - que, por conta da ajuda e dos conselhos financeiros do amigo, conseguiu comprar um táxi após o fechamento do lugar.

Um dos fundadores da Banda de Ipanema, Roniquito teve em sua vida postos mais sérios. Trabalhou com Carlos Lessa na Comissão Econômica para a América Latina (CEPAL), como chefe do Serviço Econômico e Financeiro da Carteira de Cooperativas do Banco Nacional da Habitação (BNH), como assessor de Walter Clark na TV Globo e no Ministério da Fazenda. Nem por disso deixou de carnavalizar a pompa: A ele costuma ser atribuída a cunhagem da palavra "Aspone", diminutivo de "Assessor de Porra Nenhuma", vocábulo já acolhido pelo Dicionário Houaiss. 

Não rejeitando o mito, mas sem o edulcorar, o livro de Scarlet Moon ajuda a deixar ver as possíveis contradições e sofrimentos escondidos na figura pública de Roniquito de Chevalier.

No livro, Scarlet Moon conta, pela primeira vez em público, o episódio de sua prisão por porte de droga, em meados dos anos 70, segundo ela, involuntariamente por culpa do irmão. É o momento mais comovente do livro, pois passar três meses num presídio mudou sua vida e rompeu uma ligação que havia entre os dois.


Na época, ainda sob o impacto da raiva e da mágoa, ela escreveu uma carta ao irmão, que nunca respondeu ou falou do assunto. "Só quando eu fui escrever o livro, minha outra irmã, Bárbara, que havia arrumado as coisas de Roniquito após a morte dele, me entregou a carta. Ele a guardara por mais de cinco anos, sinal de que ficara tocado", disse. "Hoje, relendo aquela carta, me sinto moralista, como se quisesse ensinar a ele como viver".
"Andei sabendo que você anda triste, sem mulher, arrasado e sentindo-se culpado por toda essa situação que estou vivendo. [...] As penas que eu própria busquei, estou dando um jeito, e agindo, para deixá-las. Quanto a você? Tem só se lamentado e enchido a cara! Continua não confiando em seu potencial intelectual e criativo! [...] Inteligência a serviço da vacilação não leva a nada. E olha, cadeia é muito triste!"
Foram dez anos de entrevistas com amigos do irmão, 13 anos mais velho e ciumento da caçula da família, e muitas idas à Biblioteca Nacional para pesquisar os jornais da época, porque Scarlet Moon não se atém nas histórias de sua família, dá um painel da época, de como as coisas aconteciam num passado utópico em que havia uma ditadura, mas as pessoas insistiam em criar e em ser felizes, embora nem sempre fosse possível realizar os dois projetos.

Ela não doura a pílula, pois conta que o irmão, alcoólatra que chegou a um estado terminal, levou a cabo três casamentos por não suportar a rotina das pessoas comuns, e sabia ser perverso e destruidor. "No entanto, quando fui conversar com seus filhos, cada um contou uma história mais comovente da convivência com o pai", lembra Scarlet Moon. "Isso se repetiu várias vezes e, mesmo com toda a convivência, me surpreendi com o que descobri de sua vida".

Embora seja personagem dessa biografia, Scarlet Moon quase não aparece no livro e suas histórias só estão lá quando explicam o irmão. E olha que ela tinha casos para contar. Foi modelo aos 14 anos, quando nenhuma menina ainda sonhava com essa profissão, uma das fundadoras do Jornal Hoje, da TV Globo, e, durante quase três décadas, musa e mulher do roqueiro Lulu Santos, que sempre destacou a influência dela em sua música. "Eu não queria falar de mim e sim de Roniquito e de seu tempo".

Morte

Roniquito foi atropelado em dezembro de 1981, em frente ao Antonio’s. Um fusca o acertou, quebrou-lhe as duas pernas, jogou-o longe e fugiu sem socorrê-lo. Um ônibus que vinha atrás viu o acidente e parou. O motorista recolheu Roniquito, colocou-o no ônibus e levou-o para o Hospital Miguel Couto.

Histórias surgiram até em torno desse atropelamento. Segundo uma delas, ao passar voando defronte da varanda do Antonio’s e ao ver o ar assustado dos amigos, Roniquito teria perguntado: "O que foi, porra? Nunca viram o Super-Homem?".

Na verdade, o atropelamento lhe seria fatal. Roniquito quebrou as pernas em vários lugares, teve sequelas graves e foi submetido a seis operações durante o ano de 1982.

Como todo filho de médico, gostava de se automedicar e passou a tomar uma farmácia de remédios. Mas não parou de beber - mesmo de bengala e pé engessado, chegou a ir algumas vezes à Plataforma, fazendo piada com a própria desgraça.

Roniquito também foi visto em restaurantes tomando um líquido que parecia café. Ao ser perguntado, "Tomando café, Roniquito?", respondeu: "Estou. Irish cofee!" (café com uísque). Mas era também asmático e o uso da bombinha, misturado a bebida e remédios, provocou-lhe uma insuficiência cardíaca.

Quando teve um infarto fulminante, em janeiro de 1983, estava sozinho em seu apartamento no Posto 6. Só o encontraram horas depois.

Roniquito foi sepultado com o pé no gesso e de olhos abertos.

O anúncio da sua morte no Jornal do Brasil era uma enciclopédia da vida brasileira. Tinha de ministros de Estado a garçons de botequim. Carlinhos Oliveira disse a seu respeito:
"Ninguém podia ser patife perto dele. Ninguém ousava!"
Paulo Francis escreveu um comovente obituário na Folha de S. Paulo:
"Roniquito fazia o que não temos coragem de fazer - virar a mesa contra os horrores brasileiros. Mas, o leitor dirá, por que então não escrever jornalismo polêmico ou até ficção? É uma boa pergunta. Mas talvez a resposta esteja no Brasil. Nosso horror é de uma tal ordem de vulgaridade que uma resposta vulgar de baderneiro talvez seja mais adequada do que análises ou contra-modelos. Roniquito manteve uma juventude, uma infância de poeta: Protestava em pessoa, pondo a vida em risco tantas vezes, pela gente que desafiava"
Para seu amigo Jaguar, muito mais que um herói-bandido, Roniquito foi um mistério:
"Todos nós morremos de saudade de um sujeito que vivia nos desmoralizando!"
Roniquito viveu pouco e, apesar do muito que aprontou (ou talvez por isso), deixou muitos amigos, famosos como a cantora Nana Caymmi, o jornalista e escritor Sérgio Cabral e o ator Hugo Carvana, e muitos anônimos.

#FamososQuePartiram #Roniquito

Eliane de Grammont

ELIANE APARECIDA DE GRAMMONT
(25 anos)
Cantora e Compositora

☼ São Paulo, SP (10/08/1955)
┼ São Paulo, SP (30/03/1981)

Eliane Aparecida de Grammont, foi uma cantora e compositora, nascida em São Paulo, SP, no dia 10/08/1955, tornada célebre por ter sido vítima de feminicídio por parte de seu ex-marido Lindomar Castilho, crime este que marcou a história do país como parte da campanha de combate à violência contra a mulher.

Eliane de Grammont era filha da compositora Elena de Grammont, e seus irmãos na maioria seguiram a carreira jornalística e no rádio, caso de sua irmã Helena de Grammont, jornalista da TV Globo. Seu pai morreu de miocardiopatia, doença que também vitimou dois de seus irmãos.

Em 1977 Eliane conheceu na gravadora RCA Victor o cantor de boleros Lindomar Castilho, que então experimentava um grande sucesso popular, havendo vendido em um de seus LPs mais de 800 mil cópias - número bastante expressivo para a época. Começaram um namoro e após dois anos se casaram, em 1979.


A família de Eliane foi contra a união, mas ela contrariou os parentes para unir-se ao cantor. Também insistiu em que o casamento se desse pela separação de bens, para deixar claro que não estava com ele em razão de seu sucesso e fortuna. Lindomar Castilho exigiu que ela parasse de cantar.

Durante o breve relacionamento o casal teve uma filha e, diante do abuso de álcool pelo cantor, dado a crises violentas de ciúme, episódios de agressão, separações e reconciliações, culminou com o desquite após pouco mais de um ano de casamento, em 1980.

Seis meses depois do fim do casamento ela ainda tentou uma reconciliação, mas Lindomar Castilho exigiu que ela assinasse um documento contendo dez compromissos, entre os quais pedir perdão à empregada que há anos trabalhava para ele e que fora motivo de brigas do casal.

Eliane havia descoberto que também era portadora a miocardiopatia que matara seus familiares, e ainda assim tentou retomar a carreira como cantora. Foi então que recebeu o convite de Carlos Randall para se apresentar no Café Belle Époque, e com ele passou a ter um romance.

O Crime

Eliane de Grammont, que interrompeu a carreira com o nascimento da filha, estava há cerca de um ano separada de Lindomar Castilho e se apresentava num bar em São Paulo quando o cantor a alvejou com vários tiros, atingindo ainda o músico que a acompanhava, o violonista Carlos Roberto da Silva, conhecido pelo nome artístico de Carlos Randall, ferido no abdome. Carlos Randall era primo de Lindomar Castilho, que o levou para São Paulo em 1974.

Lindomar Castilho desconfiava do envolvimento amoroso de Carlos Randall com sua ex-mulher, situação que foi agravada quando este também se separou da mulher. Após o crime, Lindomar Castilho tentou fugir mas foi detido e espancado por populares, que o amarraram até a chegada da polícia. Ferida mortalmente, Eliane chegou a ser levada a um pronto-socorro, mas chegou sem vida.

No momento em que fora assassinada Eliane cantava a música de Chico Buarque, "João e Maria", justamente no momento dos versos que diziam "Agora era fatal que o faz-de-conta terminasse assim".

Durante o julgamento a defesa de Lindomar Castilho explorou alegações de que a vítima era uma mãe que não cumpria com as suas obrigações, além de ser uma mulher infiel e de conduta reprovável. Durante o tempo em que durou, mulheres protestavam diante do tribunal pelo direito à vida, e aos poucos, homens foram se juntando para provocá-las, sob o argumento de um "direito" de matar em casos de "defesa da honra" masculina.

Através de eufemismos então em voga, seu advogado Waldir Troncoso Perez arguiu que o réu agiu tomado por "violenta emoção". Na época, tais crimes eram justificados com escusas como passionalidade, perda da paz ou "legítima defesa da honra". Atuou na assistência de acusação o então presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Marcio Thomaz Bastos e cinco dos sete jurados votaram pela condenação.

Contexto Histórico e Cultural

Ainda em liberdade, Lindomar Castilho respondeu ao júri em 1984 e mulheres se manifestaram diante do fórum. No segundo dia do julgamento muitos homens foram levados até lá (segundo relatos, contratados para tal) e passaram a jogar ovos nas manifestantes e a gritar-lhes palavras como "mulher que bota chifre tem que virar sanduíche".

No contexto social da época a impunidade era gritante. Na época a canção de Sidney Magal pregava: "Se te agarro com outro / Eu te mato / Te mando algumas flores / E depois escapo".

Mesmo condenado Lindomar Castilho recorreu livre.

Na época o adultério era considerado um crime pelo Código Penal Brasileiro vigente, e tramitava ainda no Congresso um projeto que excluía esse tipo delituoso.

Impacto Cultural e Defesa da Mulher

O crime, onde Lindomar Castilho alegava ter sido traído pela mulher, ganhou grande repercussão no Brasil, não somente por envolver nomes bastante conhecidos da música popular da época, como também por ter a imprensa assumido, então, importante papel na mudança da visão social dos chamados "crimes passionais", recebendo da mídia ampla cobertura.

Depois de uma missa em homenagem a Eliane de Grammont, celebrada na Igreja da Consolação no dia 04/04/1981, mais de mil mulheres vestidas de preto marcharam em protesto contra a violência masculina, com palavras de ordem como "Quem ama não mata!", até o Cemitério do Araçá.

Diversas instituições de luta pelos direitos da mulher surgiram em razão dos protestos contra esse feminicídio. Uma delas foi o "Grupo Masculino de Apoio à Luta das Mulheres", integrado por diversos intelectuais e que lançou então um "Manifesto Contra a Barbárie".

O cartunista Henfil, que apresentava um quadro chamado "TV Homem" no programa diário de televisão TV Mulher, publicava uma seção na revista ISTOÉ onde escrevia cartas à sua mãe e comentava fatos da semana. Na edição de 08/04/1981, ao comentar o fato de que policiais haviam vestido um assaltante de mulher e o fizeram assim desfilar pelas ruas, como humilhação, escreveu ironicamente:
"Por que é que vestir um homem de mulher é humilhar, é desmoralizar? Por que ser mulher é a coisa mais humilhante e desmoralizada que tem? Pior que ser cachorro, pato ou galinha? (...) Pois. É por isso que um (dois, três, mil) Lindomar Castilho tem o legítimo direito de matar a Eliane de Grammont. Ah, ele é apenas misericordioso. Quis livrar a Eliane da humilhação, da desmoralização de ser... uma mulher."
Em novembro de 1982, respondendo em liberdade pelo crime, Lindomar Castilho foi impedido por centenas de mulheres de se apresentar num show em Goiânia, com a distribuição de um panfleto que trazia uma foto dele com a esposa e a filha Liliane e os dizeres: "Eliane Gramont(sic) não vai cantar hoje. Ela está morta!".

Homenagens

Na capital paulista, no bairro da Barra Funda, foi dado o nome Eliane Aparecida de Grammont a uma de suas ruas já em dezembro de 1981.

Eliane de Grammont também é nome de rua na cidade Londrina, no Paraná.

Em São Paulo existe a Casa Eliane de Grammont, instituição Estatal destinada a dar apoio psicossocial e jurídico a mulheres em situação de violência de gênero, mantida pela prefeitura de São Paulo.

Fonte: Wikipédia
#FamososQuePartiram #ElianedeGrammont

Juarez Soares

JUAREZ SOARES MOREIRA
(78 anos)
Jornalista Esportivo e Político

☼ São José dos Campos, SP (16/07/1941)
┼ São Paulo, SP (23/07/2019)

Juarez Soares Moreira, também conhecido pelo apelido de China, foi um político e jornalista esportivo nascido em São José dos Campos, SP, no dia 16/07/1941.

Juarez Soares era filho de Adolfo Soares Moreira e Josefina Soares Moreira. Formou-se em Pedagogia na Faculdade Oswaldo Cruz, de São Paulo, e foi casado por mais de 30 anos com a jornalista Helena de Grammont.

Em 1958, com 17 anos, começou a trabalhar na Rádio Cultura de Lorena, no interior de São Paulo, transmitindo os jogos do campeonato da Segunda Divisão.

Em 1961, transferiu-se para São Paulo, capital, onde foi aprovado em testes nas Emissoras Associadas, passando a trabalhar como repórter esportivo. Até o ano de 1969, quando foi para a Rádio Globo a convite de Pedro Luís Paoliello, o então diretor de Esportes, Juarez Soares já havia passado também pelas rádios Tupi e Gazeta.

Sua carreira evoluiu quando se transferiu para a Rádio Tupi, levado por Pedro Luiz, um dos principais locutores esportivos da época. Juarez Soares fez parte da "Equipe 1040" na Rádio Tupi, que marcou época na história do rádio brasileiro.

Atuou como repórter na TV Globo na década de 1970 até o início dos anos 80, participando da cobertura da emissora na Copa do Mundo de 1982, na Espanha. Nessa época também foi locutor nas rádios Globo e Excelsior.

Juarez Soares no telejornal "Bom Dia São Paulo", da TV Globo
Na TV Globo, em São Paulo, Juarez Soares trabalhou ao lado de locutores que marcaram época na televisão, como Ciro JoséLuciano do Valle. Além disso, teve reportagens esportivas veiculadas nos principais telejornais da emissora e fez parte da equipe dos programas "Globo Esporte" e "Esporte Espetacular".

Como repórter, cobriu pela TV Globo a Olimpíada de Montreal, no Canadá, em 1976, a Copa do Mundo de 1978, na Argentina, e a Copa do Mundo da Espanha, em 1982.

Na Copa da Espanha, que a TV Globo transmitiu com exclusividade, Juarez Soares acompanhou a Seleção Brasileira ao lado do cinegrafista Daniel Andrade.

Juarez Soares também participou da estreia do telejornal "Bom Dia São Paulo", em 1977, onde permaneceu por quase três anos como comentarista esportivo ao lado dos apresentadores Carlos Monforte e Dácio Arruda.

Até sair da TV Globo, após a Copa do Mundo de 1982, conciliaria seu trabalho na televisão com a atuação nas rádios Globo e Excelsior. Na Rádio Excelsior, fez o programa "Balancê" ao lado de Osmar Santos, no início da década de 1980.


Em seguida, Juarez Soares teve uma breve passagem pela Rádio Record e depois se transferiu para a TV Bandeirantes, onde trabalhou por 11 anos ao lado de Luciano do Valle, principalmente no programa "Show do Esporte".

Na TV Bandeirantes, Juarez Soares chegou a assumir o posto de Diretor de Esportes, participando ainda da cobertura de três Copas do Mundo - 1986, no México, 1990, na Itália, e 1994, nos Estados Unidos - como comentarista e como responsável pela cobertura jornalística da Seleção Brasileira.

Em 1994, Juarez Soares passou a trabalhar no SBT, onde ficou até o ano de 2000.

Em 2001, foi convidado por Milton Neves para participar do programa "Debate Bola" da TV Record. Em seguida, virou comentarista e chefe de equipe da Rádio Record, ocupando as duas funções até 2011. Teve passagem também pela TV Cultura, no programa "Cartão Verde".

Apesar de ter trabalhado ao longo de sua carreira principalmente no rádio e na televisão, Juarez Soares também atuou como jornalista em outros veículos de mídia, como nos jornais Folha da Manhã e Mundo Esportivo e no site de esportes do portal Terra.

Juarez Soares foi comentarista da Rádio Transamérica, que o demitiu em janeiro de 2016. Foi comentarista de futebol na RedeTV! até 05/04/2019, quando foi demitido. Também em 2019, voltou ao rádio esportivo como comentarista do programa "Capital da Bola", pela Rádio Capital.
Juarez Soares com amigos durante o 33º Prêmio Ford ACEESP, em 19/122016 no Esporte Clube Sírio, em São Paulo
Carreira Política

Juarez Soares foi filiado ao Partido dos Trabalhadores (PT) por 21 anos, legenda pela qual foi eleito vereador em 1988 como o 6º vereador mais votado da cidade e o terceiro melhor do Partido dos Trabalhadores (PT), com quase 40 mil votos.

Após as eleições, aceitou o convite da então prefeita Luiza Erundina para assumir o cargo de Secretário dos Esportes da cidade de São Paulo. Em sua gestão, conseguiu com que o Grande Prêmio do Brasil de Fórmula 1 voltasse a ser disputado no Autódromo de Interlagos.

Juarez Soares desfiliou-se do Partido dos Trabalhadores (PT) em 2003 e em junho do mesmo ano ingressou no Partido Democrático Trabalhista (PDT), sendo candidato a vice-prefeito na chapa de Paulo Pereira da Silva, o Paulinho da Força, nas eleições de 2004. Mas a chapa não obteve sucesso amargando a 5ª colocação com 86.549 votos (1,4% dos votos válidos).

No governo de José Serra a frente da Prefeitura de São Paulo, Juarez Soares foi secretário-adjunto da Secretaria do Municipal do Trabalho, mas pediu exoneração no início de 2006, quando o jornal Folha de S.Paulo publicou uma denúncia de nepotismo contra ele, que mantinha a filha e o genro empregados na secretaria onde trabalhava.

Juarez Soares foi casado com a também jornalista Helena de Grammont, irmã de Eliane de Grammont, vítima de um assassinato passional ocorrido em 30/03/1981 pelo ex-marido, o cantor Lindomar Castilho.

Morte

Juarez Soares faleceu na terça-feira, 23/07/2019, aos 78 anos, em São Paulo, SP, vítima de um infarto fulminante. Ele lutava contra um câncer.