Hilda Furacão

HILDA MAIA VALENTIM
(83 anos)
Ex Prostituta

* Recife, PE (30/12/1930)
+ Buenos Aires, Argentina (29/12/2014)

Hilda Maia Valentim, também conhecida como Hilda Furacão, foi uma famosa prostituta brasileira. Hilda é a mulher em que o romancista Roberto Drummond inspirou-se para escrever o livro "Hilda Furacão", grande sucesso de vendas, logo após a exibição da minissérie global "Hilda Furacão" (1998).

Nascida no início da década de 30 na cidade de Recife, migrou, muito pequena e com a família, para Belo Horizonte, MG. Na juventude, tornou-se famosa, em seu meio, como a prostituta "Hilda Furacão", nome este, ganho pela sua reputação de mulher de pouca paciência, gerando muitas brigas entre seus clientes e colegas.

Hilda e Paulo Valentim
Frequentando a zona boêmia de Belo Horizonte, mais precisamente no Hotel Maravilhoso, na Rua Guaicurus, conheceu o jogador Paulo Valentim, que nesta época jogava no Atlético Mineiro e com quem se casou, no final da década de 50, transformando-se na senhora Hilda Maia Valentim.

Com Paulo Valentim, morou em Buenos Aires, São Paulo e na Cidade do México, sempre acompanhando o marido, que jogou no Boca Juniors, no São Paulo e no Atlante. Após a aposentadoria de jogador do marido, o casal fixou residência em Buenos Aires, pois Paulo Valentim, quando jogador do Boca Juniors, tornou-se ídolo da torcida.

Hilda ficou viúva de Paulo Valentim em 1984, e, após a morte de seu filho, Ulisses, a mulher, que foi a primeira-dama da zona mineira e também a primeira dama da torcida do Boca Juniors, foi morar em um asilo no bairro Barracas, em Buenos Aires.

No Asilo

"A Hilda Furacão, onde ela estiver…"

Essa é a última das muitas dedicatórias que Roberto Drummond faz no livro "Hilda Furacão" (1991, Geração Editorial). Pois a verdadeira personagem, viúva do jogador de futebol Paulo Valentim, ídolo do Atlético, Botafogo, Boca Juniors - jogou ainda no Atlante (México) -,  em seus últimos dias de vida, solitária, morava em um asilo, o Hogar Drº Guillermo Rawson, no bairro Jujuy, em Buenos Aires, Argentina. Quem pagava as despesas era o município portenho.

Não havia mais o glamour e o luxo dos tempos dourados na capital argentina, nem resquícios da vida na zona boêmia de Belo Horizonte, que a tornou famosa nos anos 50. A realidade da mulher, que na obra de ficção de um dos maiores escritores mineiros se chamava Hilda Gualtieri von Echveger, é outra, completamente diferente da personagem da literatura. Ela, aliás, nunca frequentou o Minas Tênis Clube. Nem sequer sabe onde ficava.

Da cama para a cadeira de rodas. Empurrada por enfermeiros, rumo a uma sala-refeitório onde havia uma TV. Lá ela passava a manhã e almoçava, lanchava e jantava. No avançar das horas, a volta para a cama. Na cabeceira, sobre uma espécie de criado-mudo - um pequeno armário do tipo comum a hospitais -, um velho caderno grande, preto, de capa dura. Dentro, recortes da vida passada, do grande amor, o atacante e goleador Paulo Valentim. Vez ou outra, antes de dormir, ela dava uma folheada. Relembrava os bons tempos, os momentos românticos. Essa era a rotina diária da octogenária Hilda Furacão ou Hilda Maia Valentim, revelada com exclusividade pelo Estado de Minas.

Pode-se dizer que foi um lance de sorte Hilda ver, de repente, em seu caminho, uma brasileira, a capixaba Marisa Barcellos, assistente social do Hogar Drº Guillermo Rawson, que antes trabalhou na rua ajudando os sem-teto. Um dia, Marisa recebeu o relato de que uma mulher estava se recuperando de uma queda, num hospital municipal, sem apoio e sem ter para onde ir. Entrou em ação a assistente social. Foi à paciente e recolheu os documentos que estavam à mão para começar a ajudá-la: uma carteira de identidade requerida em Recife e uma autorização, em espanhol, que lhe permite viver na Argentina. Só.

A assistente chegou à história de Hilda e se surpreendeu com o passado da mulher, que foi famosa em Buenos Aires, personagem de reportagens em jornais e revistas. Era tratada como primeira-dama do Boca Juniors, mulher de um dos maiores astros do clube, apontado como um dos principais responsáveis pelos títulos de campeão argentino nos anos de 1962 e 1964. Uma dama que conheceu o luxo vivia agora na miséria, de favores. Antes de ser recolhida ao asilo, Hilda morava com a ex-companheira de um dos filhos que teve com Paulo Valentim, Ulisses, que morreu em 2013.


É na sala de TV e refeições que Hilda recebeu o Estado de Minas para, em um dos momentos de lucidez, contou que viveu uma vida de luxo, falou de venturas e desventuras.

"Com o Paulo, conheci 25 países. Onde o Boca jogava eu estava. Ele era o único que tinha permissão para levar a mulher. Eu ia a todos os lugares. O Jose Armando foi presidente do Boca e gostava muito do Paulinho e por isso eu era a única a viajar."

Hilda forçou a memória e voltou aos tempos de adolescência e a Belo Horizonte. Contou que chegou muito nova à capital mineira com o pai, José, a mãe, Joana Silva, e quatro irmãos. Isso, no entanto, não foi possível confirmar, pois ela pareceu confusa. Voltou a falar da união com Paulo Valentim. Viu uma foto dela, tirada logo depois do casamento com o jogador, e disse: "Estava embarazada (grávida)".

A foto pertencia ao falecido jornalista mineiro Jáder de Oliveira, que chegou a morar em Buenos Aires, vizinho do casal. Foi feita no apartamento onde HildaPaulo Valentim moravam. O comentário de Hilda surpreendeu, pois na época o casal já tinha um filho: Ulisses. Seria, então, o segundo filho? Uma foto confirma que eles tiveram dois e o mais novo teria morrido e foi enterrado na capital argentina. Desde então, ela evitava tocar no assunto. Quando percebeu que falou o que não pretendia, disfarçou.

Na verdade, Hilda criou algumas fantasias que a ajudaram a esconder o que considerava ruim na vida, como a história do segundo filho. A outra fantasia é para esconder a vida que levava em Belo Horizonte. Os tempos da zona boêmia, do Hotel Maravilhoso, na Rua Guaicurus, não existem na memória dela.

"O meu apelido, de Furacão, é antigo, porque eu era brigona. Se mexessem comigo estourava, discutia, queria bater. Sou assim desde pequena."

De repente, entrou na sala de TV e refeitório Jose Francisco Lallane, de 80 anos, um torcedor do Boca Juniors, que também vive no Hogar Drº Guillermo Rawson. Ela estava sentada onde gostava: bem perto da telinha. Da porta, avistou Hilda e gritou: "Tim, Tim, Tim, gol de Valentim". Esse era o canto da torcida para reverenciar o ídolo dos anos 60. Jose caminhou em direção a Hilda, ainda cantando. Ela sorriu. Ele pegou a mão dela e a beijou. Então, começou a falar de Paulo Valentim

"Era um craque. Era demais. Não passava jogo sem fazer gol. Uma vez, o Carrizo, goleiro do River Plate, já havia levado um gol de falta dele. Então, houve uma segunda falta e, antes que ele batesse e fizesse o segundo gol, Carrizo fingiu estar machucado e pediu substituição."

Hilda sorriu, estava feliz porque falavam do marido, um dos orgulhos de sua vida.

Morte

Hilda Furacão morreu em 29/12/2014. Ela sofria de problemas respiratórios e renais, mas morreu de morte natural, segundo a assistente social do asilo em que viveu seus últimos dias.

Fonte: Wikipédia, Correio BrasilienseCaio Rocha Ribeiro
Indicação: Miguel Sampaio

Um comentário:

  1. Mulher se sensibiliza e custeia enterro de Hilda Furacão, diz asilo argentino
    Benfeitora não quis se identificar, segundo diretor da instituição.O diretor do lar Guillermo Rawson, lugar em que Hilda viveu seus últimos anos, Jorge Stolbizer, disse que foi procurado no dia 31 de dezembro por uma pessoa interessada em dar um enterro digno à ex-prostituta, que se tornou um mito em Belo Horizonte.
    "Ela disse que é funcionária do consulado do Brasil em Buenos Aires e me pediu para que o nome dela não fosse divulgado. O consulado, segundo ela, não sabe da boa ação", conta Stolbizer. O motivo que fez a mulher procurar o asilo teria sido solidariedade. "Ela disse que teve pena e resolveu ajudar" Morreu e foi enterrada no maior esquecimento somente esta a responsavel pela ajuda do enterro e mais 1 pessoa compareceram.

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