Guiomar Novaes

GUIOMAR NOVAES
(85 anos)
Pianista

☼ São João da Boa Vista, SP (28/02/1894)
┼ São Paulo, SP (07/03/1979)

Guiomar Novaes foi uma pianista brasileira nascida em São João da Boa Vista, SP, no dia 28/02/1894, que construiu sólida carreira no exterior, particularmente nos Estados Unidos. Ficou especialmente conhecida pelas suas interpretações das obras de Frédéric Chopin e Robert Schumann. Foi importante divulgadora de Villa-Lobos no exterior.

Filha de Manoel José da Cruz Novaes e Anna de Carvalho Menezes Novaes, Guiomar foi a décima sétima dos dezenove filhos do casal. A família logo estabeleceu-se em São Paulo.

O piano, presente em sua casa e utilizado nas aulas de suas irmãs, despertou o interesse de Guiomar, que, aos quatro anos, começou a tocá-lo de ouvido. Aos seis anos, a menina passou a tomar aulas com Eugenio Nogueira, professor paulista, e ingressou, por vontade própria, no jardim de infância. Desde os primeiros dias escolares, acompanhava, ao piano, as canções entoadas pelas colegas.

Mais tarde, Guiomar Novaes passou a tomar aulas com Luigi Chiafarelli, um importante mestre italiano, considerado o responsável pelo seu desenvolvimento artístico. Luigi Chiafarelli também foi professor de inúmeros pianistas que alcançaram fama no país e no exterior. A menina Guiomar Novaes, vizinha de Monteiro Lobato, foi quem inspirou o escritor a criar a encantadora personagem Narizinho, a "menina do nariz arrebitado" do Sítio do Pica-pau Amarelo.


Em 1902, com oito anos, Guiomar Novaes apresentou-se publicamente pela primeira vez como artista.

Em outubro de 1909, com o auxílio do Governo do Estado de São Paulo, partiu para a Europa, para estudar em Paris. Ao desembarcar na França, Guiomar Novaes foi convidada para visitar uma compatriota que desejava ouvi-la: era a Princesa Isabel, também pianista, que vivia próximo a Versalhes, no exílio. Foi a Princesa Isabel quem estimulou Guiomar Novaes a incluir em seu repertório a "Grande Fantasia Triunfal Sobre o Hino Nacional Brasileiro", composição de Louis Moreau Gottschalk.

Guiomar Novaes frequentemente tocava a "Grande Fantasia Triunfal Sobre o Hino Nacional Brasileiro" nos recitais que fazia no exterior, evidenciando assim sua nacionalidade e contribuindo para o reconhecimento internacional do Brasil.

Na capital francesa, Guiomar Novaes inscreveu-se para prestar provas no Conservatório de Paris. Haviam 331 candidatos para doze vagas. Realizou a primeira prova em 18/11/1909. Após rígida seleção, o número de candidatos baixou para trinta. A segunda prova deu-se em 25/11/1909.

A comissão julgadora era formada por músicos como Claude Debussy, Moszkowski e Lazare-Lévy. Durante o primeiro exame, ela tocou um "Prelúdio" e "Fuga nº 1 de O Cravo Bem Temperado" de Johann Sebastian Bach, um estudo de Liszt-Paganini e a "3ª Balada de Chopin". No segundo exame, quebrando o protocolo dos concursos do Conservatório de Paris, Claude Debussy, fascinado com a jovem Guiomar Novaes, pediu a repetição da "3ª Balada de Chopin".

"Eu estava voltado para o aperfeiçoamento da raça pianística na França... a ironia habitual do destino quis que o candidato artisticamente mais dotado fosse uma jovem brasileira de treze anos. Ela não é bela, mas tem os olhos 'ébrios da música' e aquele poder de isolar-se de tudo que a cerca - faculdade raríssima - que é a marca bem característica do artista"
(Claude Debussy, 25/11/1909, Carta a André Caplet)



Após ser admitida em primeiro lugar, por unanimidade, estudou no Conservatório de Paris com o mestre húngaro Isidor Philipp, que afirmou não ter ensinado nada à aluna e sim aprendido com ela.

Em julho de 1911, na prova de encerramento do curso do Conservatório de Paris, Guiomar Novaes venceu a prova, que contava com 35 concorrentes, e ganhou o primeiro prêmio - que compreendia a quantia de 1200 francos e um piano de cauda.

Depois de conquistar o primeiro prêmio e deixar o Conservatório de Paris, Guiomar Novaes teve diversos oferecimentos de contratos, tocando em Paris, Londres, Genebra, Milão e Berlim.

Em 1913, retornou ao Brasil e se apresentou no Teatro Municipal de São Paulo e no Teatro Municipal do Rio de Janeiro.

Em 1914, com a eclosão da Primeira Guerra Mundial, Guiomar Novaes cancelou todos os compromissos na Europa e continuou apresentando-se no Brasil.

Em 1915, fez sua estreia nos Estados Unidos, onde realizou fantástica temporada, tocando em Nova York, Boston, Chicago, Norfolk, Newport e outras cidades norte-americanas, sendo aclamada pela crítica estadunidense, que a chama de "Lady Of The Singing Tone". Henry T. Finck, famoso crítico musical norte-americano, considerou-a a mais inspirada pianista.


Em janeiro de 1919, Guiomar Novaes perdeu sua mãe e companheira Dona Anna, mas não deixou de encantar as plateias americanas.

Em agosto de 1919, retornou ao Brasil, onde foi acolhida festivamente, recebendo o reconhecimento de seus compatriotas. Em novembro de 1919 partiu para os Estados Unidos, iniciando a temporada 1919-1920.

Em dezembro de 1920, estava no Brasil e oficializou seu noivado com o namorado, o arquiteto e compositor Octávio Pinto.

Em 1922 Guiomar Novaes participou da Semana de Arte Moderna - evento que revolucionou as artes brasileiras, marcando a chegada do Modernismo -, apesar de um pouco entristecida com as paródias feitas à Frédéric Chopin no I Festival da Semana de 22.

Também em 1922, Guiomar Novaes casa-se com Octávio Pinto. O casal teve dois filhos: Anna Maria e Luiz Octávio. A partir de 1922, Guiomar Novaes passou a incluir nos seus recitais as obras de Villa-Lobos, tornando-se importante divulgadora desse seu compatriota nos Estados Unidos. A partir daí, Guiomar Novaes alternou idas aos Estados Unidos e voltas ao Brasil.


Em 1938, tocou para o presidente Franklin Delano Roosevelt. A imprensa americana a reconheceu como a melhor pianista do mundo.

Em 1950, faleceu Octávio Pinto, seu marido e incentivador, que ficou no Brasil para cuidar de problemas cardíacos. Guiomar Novaes sentiu-se profundamente abalada, chegando a cogitar um fim de carreira, mas logo estava de volta aos palcos, fortalecendo-se com a música.

Em abril de 1967, foi escolhida, entre todos os artistas do mundo, para inaugurar o Queen Elizabeth Hall, em Londres, convidada pela rainha Elizabeth II do Reino Unido.

Nas décadas de 1960 e 1970, Guiomar Novaes foi condecorada com diversos títulos, medalhas, insígnias e comendas, e homenagens como a Ordem Nacional do Mérito, concedida pelo governo brasileiro, além de ter sido elevada ao grau de Cavaleiro da Legião de Honra de França. 1972 é o ano da sua última temporada nos Estados Unidos.

Existem dois documentários realizados sobre a Guiomar Novaes, um na década de 70 e o "Infinitivamente Guiomar Novaes" (2003) dirigido por Norma Bengell.

Morte

Em janeiro de 1979 Guiomar Novaes sofreu um derrame cerebral e seu estado de saúde passou a inspirar cuidados.

Guiomar Novaes faleceu às 20h00 do dia 07/03/1979, aos 85 anos, em São Paulo, SP, vítima de um infarto do miocárdio.

Todos os grandes jornais americanos publicaram um anúncio fúnebre intitulado "In Tribute To Guiomar Novaes".

Seu velório aconteceu na Academia Paulista de Letras. Foi sepultada no Cemitério da Consolação, em São Paulo, no dia 08/03/1979, ao som da "Marcha Fúnebre", da "Sinfonia Eroica", de Beethoven.

Críticas Destacadas

"Para escrever sobre um recital de Guiomar Novaes - a brilhante jovem pianista brasileira - é preciso valer-se de uma requintada lista de adjetivos e aplicá-los no superlativo. Mesmo assim, é difícil transmitir com precisão, o domínio que essa jovem e talentosa artista tem sobre o seu público."
(Musical America, 2 de dezembro de 1916)

"A palavra gênio não é simplesmente indicada para sua interpretação, mas é a expressão adequada para caracterizar a habilidade desta jovem pianista que faz reviver os grandes compositores. Há alguma coisa de misterioso e de mágico. Ela quase nos faz acreditar em espiritismo e reencarnação."
(Henry T. Finck. New York Evening Post, 12 de novembro de 1917)

"Ela toca como se estivesse improvisando ou como se algum espírito invisível estivesse soprando ao seu ouvido os segredos mais profundos de toda a harmonia."
(Times, Louisville, 27 de fevereiro de 1919)

"Sob seus dedos privilegiados, o piano adquire todos os timbres da orquestra, fazendo-nos ouvir a suavidade das flautas, a melancolia dos instrumentos de madeira, a sonoridade dourada dos metais ou a maleabilidade das cordas."
(O Estado de São Paulo, 7 de outubro de 1936)

"Novaes é a mais pessoal das pianistas. Faz coisas ao seu próprio modo. Cria suas próprias normas. Frequentemente tem ideias singulares. Mas tem a autoridade e intuição musical para ser sempre absolutamente convincente."
(The New York Times, 5 de dezembro de 1954)

Depoimentos da Artista

"Eu sempre toco uma peça de maneira diferente, pois descubro alguma coisa nova e me surpreendo como é que não tinha pensado nisso antes. Arte é a coisa mais sutil que existe. Nem sempre conseguimos compreendê-la."
(Guiomar Novaes, Great Woman & piano, Time, Nova York, 13 de dezembro de 1954)

"Para mim, é importante que o estudante tenha a oportunidade para desenvolver-se simples, normal e naturalmente num ser humano completo, que compreenda e aprecie a significação da verdade e do belo. Dessas coisas, em última análise, é que deve resultar um impulso para a Música. Do contrário, esta será pouco mais do que uma ginástica de dedos, uma máquina bem exercitada, mas sem alma. Toque com seus dedos e seu cérebro, mas cante com sua alma."
(Guiomar Novaes, A conference with Guiomar Novaes, The Etude Music Magazine, Março de 1939)

"Tocar piano nunca foi um esforço para mim. Há pessoas que estudam seis, sete ou oito horas por dia. Acho-as admiráveis. Talvez tenham muito a preparar, é natural. Eu nunca estudei tanto tempo, não tenho paciência. Gosto de tocar piano uma ou uma hora e meia e depois olhar para o céu. Mais tarde volto ao trabalho."
(Guiomar Novaes, Great Woman Piano, Time, Nova York, 13 de dezembro de 1954)

Fonte: Wikipédia