(73 anos)
Cortesã
* Formiga, MG (1800)
+ Bagagem, MG (20/12/1873)
Filha de um cometa (assim eram chamados os caixeiros-viajantes), a
menina Anna Jacintha de São José chegou a Araxá com os avós em 1805. À
medida que se tornava moça, a beleza de Ana ia causando inveja nas
outras mulheres. Durante toda a vida, Dona Beija, como ficou conhecida,
irritou as mulheres e encantou os homens.
Ela tornou-se personagem histórica no Triângulo Mineiro. Suas peças
podem ser vistas num museu em Araxá e sua história desperta a
curiosidade na cidade de Estrela do Sul. O escritor Pedro Divino Rosa
conta no livro Dona Beija, que a menina Ana nunca estudou mas “a falta
das letras não diminuiu sua inteligência”.
Apaixonada pelo fazendeiro Manoel Fernando Sampaio, Anna Jacintha
tornou-se sua noiva. O noivo lhe deu o apelido de Beija por compará-la
à doçura e à beleza da flor “beijo”.
Em 1815, a bela jovem foi raptada pelo ouvidor do Rei, Joaquim Inácio Silveira da Motta, que ficou fascinado com sua beleza. Por dois anos, Beija viveu como amante do ouvidor na Vila do Paracatu do Príncipe.
Depois disso, ele
retornou para Portugal e Ana Jacinta retornou a Araxá assim que recebeu a
notícia que seu ex-amor Antônio havia casado com outra.
Ao retornar a Araxá, ela encontrou um ambiente hostil. A conservadora sociedade local não a via como vítima, mas como uma mulher sedutora de comportamento duvidoso. As mulheres da cidade, consideravam-na um grande risco para os valores éticos da época e sendo assim, tornou-se uma pessoa indesejada e marginalizada pela sociedade.
Para vingar-se de Antônio, por ele ter casado com outra, Anna Jacintha
resolveu prostituir-se e tornar-se amante de todos os homens que estavam
casados com as mulheres que a condenaram.
Pairam dúvidas de que esta seja uma foto de Dona Beja. |
Ela se tornou célebre, atraindo os homens das
regiões mais remotas, para conhecer os seus encantos: esses a cobriram
de dinheiro, jóias e pedras preciosas. A lenda conta a existência de uma “Fonte da Jumenta”, água
miraculosa, que concedia juventude, saúde e beleza a Dona Beija e onde
ela banhava-se todos os dias.Conta-se que Dona Beija jamais esqueceu
Antônio. Uma noite, movido
pela embriaguez, Antônio invadiu a Chácara do Jatobá e Dona Beija terminou por
escolhê-lo, dormiu com ele, engravidou e deu luz a uma menina.
Dona Beija quem ordenou para que matassem Antônio, a fim de vingar-se da família dele que era contra o caso amoroso entre o seu filho e Dona Beija. Ela, por causa disso, foi à justiça, mas seria libertada com a ajuda dos seus fiéis amigos.
Dona Beija quem ordenou para que matassem Antônio, a fim de vingar-se da família dele que era contra o caso amoroso entre o seu filho e Dona Beija. Ela, por causa disso, foi à justiça, mas seria libertada com a ajuda dos seus fiéis amigos.
A primeira referência a Anna Jacintha em Araxá, data de 1819, no
registro de batismo de sua filha natural Tereza Thomázia de Jesus, na
Igreja Matriz de São Domingos. Esta filha foi, mais tarde, legitimada por Francisco José da Silva, através de uma escritura lavrada em Cartório no ano de 1831. Solteira, Anna Jacintha teve uma segunda filha, Joana de Deus de São José, que nasceu em 1838 e foi batizada no mesmo ano.
Levando-se em consideração sua condição de mulher solteira e
mãe de duas filhas, fato incomum para os padrões morais
então vigente, estamos falando do século XIX, tudo indica que
Anna Jacintha de São José alcançou uma posição de destaque na sociedade
local. Prova disto é o fato das filhas terem contraído matrimônio
com pessoas influentes.
Tereza Thomázia de Jesus foi casada com Joaquim Ribeiro da Silva e teve 6 filhos: Theodora Fortunata da Silva, casada com Fortunato José da Silva Botelho,
líder político em Araxá, Joaquim Ribeiro da Silva, Francisco Ribeiro da
Silva, Saturnino Ribeiro, José Ribeiro da Silva e Antônio Ribeiro da
Silva.
Joana de Deus de São José foi casada com Clementino Martins Borges e teve os seguintes filhos: Haideé, Mercedes, Ester, João, Clemente, Amaziles e “Nhonhô”.
Joana de Deus de São José foi casada com Clementino Martins Borges e teve os seguintes filhos: Haideé, Mercedes, Ester, João, Clemente, Amaziles e “Nhonhô”.
Anna Jacintha de São José mudou-se para Bagagem durante a corrida em
busca de diamantes, em meados do século 1853. Segundo Pedro Divino Rosa, um cortejo formado por
carroças bem talhadas apareceu na subida do Córrego da Onça, povoado de
Bagagem (hoje Estrela do Sul). “Uma mulher aparentando riqueza e muito
bela comandava o comboio. Era Ana Jachinta de São José que chegava em
terras bagageiras”.
Tendo lá iniciado, por
ocasião da morte de sua neta Theodora Fortunata, um processo de
reclamação de herança contra o marido da mesma, Fortunato José da Silva
Botelho.
Desse período em diante constam, também, uma solicitação do
ressarcimento do dinheiro por ela empregado na construção da ponte sobre
o Rio Bagagem (1873), a escrava Paulina (1864), a cópia de seu
testamento (1869) e a certidão do inventário realizado após sua morte
ocorrida em 1873, em Bagagem, atual Estrela do Sul, Minas Gerais.
Referências a Dona Beja são encontradas também no inventário de sua
filha Tereza Thomázia de Jesus e Joaquim Ribeiro da Silva Botelho
(1852), no inventário da neta Theodora Fortunata da Silva Botelho
(1857), em escritura particular de compra e venda de imóvel (Capoeira de
Anna Jacintha de São José) e em outra escritura que cita a “Chácara da
Beja”.
Ela passou a morar numa casa grande com uma senzala nos fundos onde
ficavam os escravos. “Dona Beija também chegou a tocar garimpo e ganhou
muito dinheiro com os diamantes que encontrou”, disse o escritor.
Pouco antes de morrer, dona Beija deixou-se fotografar. Doente, se
pôs de pé, apoiada numa cadeira. Em 20 de dezembro de 1873, diz a lenda que, ela faleceu com tuberculose devido a intoxicação com metais utilizados no garimpo.
Ela
foi enterrada em um caixão com adornos em zinco, cujo, suspeita-se ter
sido encontrado em junho de 2011, durante escavações para construção de
um chafariz, na cidade de Estrela do Sul, na praça da Igreja Matriz,
onde havia o antigo cemitério da cidade.
A telenovela brasileira produzida pela Rede Manchete, "Dona Beija", foi inspirada em sua vida.
Esta seria a única foto de Dona Beja, tirada pouco antes de sua morte, em 1873 por infecção, aos 73 anos. |
Roupas e Sapatos de Beija Podem Ser Vistos no Museu
O Museu Histórico de Araxá Dona Beija atrai turistas o ano inteiro em
um casarão construído no início do século XIX, seguindo as
características arquitetônicas do período colonial mineiro. Ao longo do
tempo, esse casarão serviu de residência no andar superior e, no andar
térreo, para um estabelecimento comercial. Foi criado por Assis Chateaubriand, em 1965, ano em que Araxá
comemorou o seu centenário como cidade. Recebeu esse nome em homenagem
ao personagem mitológico de Anna Jacintha de São José.
No início era um Museu de Arte e de História. Hoje retrata a história
de Araxá, incluindo referências sobre os índios araxás, os
colonizadores, os tropeiros e criadores de gado, a descoberta das águas,
o universo doméstico e produtivo no século 19, o turismo e Dona Beija.
O acervo é formado por objetos arqueológicos, utensílios domésticos,
móveis do século XIX, imagens sacras, telas de conhecidos artistas
brasileiros e araxaenses, documentos históricos e figurinos. O museu
dispõe de uma sala de exposição permanente, no andar térreo, batizada
como “Lugar de Memória”. Neste espaço são lembrados vários cidadãos que
fizeram a história da cidade por meio de referências pessoais e objetos
que identificam suas atuações. Tem ainda uma sala de multimeios, uma cafeteria e uma loja de
produtos artesanais. O prédio do museu é tombado como patrimônio
histórico da cidade.
Museu Dona Beja |
Rapto Levou o Triângulo a Ser Mineiro
Para o escritor Pedro Divino Rosa, o rapto da adolescente Anna
Jacintha de São José acabou passando para a história como um dos motivos
que levaram ao desmembramento do Sertão da Farinha Podre, hoje
Triângulo Mineiro, da capitania de Goiás e a sua anexação ao território
mineiro.
“O nome Farinha Podre foi batizado assim em referência aos sacos de
farinha que os bandeirantes que desbravavam a região deixavam pendurados
nos troncos das árvores”, disse o pesquisador. Segundo ele, quando
voltavam ao lugar marcado o produto estava apodrecido.
Pedro Divino Rosa conta em seu livro “Dona Beija” que, em 1814, os
moradores desta região fizeram um abaixo-assinado a Dom João VI pedindo
que a região voltasse para Minas Gerais. Naquela ocasião, o ouvidor
Joaquim Ignácio de Oliveira da Motta acabou apoiando os goianos contra o
movimento do povo que queria ser mineiro. Seus opositores fizeram então
um levantamento da vida do ouvidor e descobriram suas falcatruas, entre
elas, a do rapto de uma menina virgem em Araxá.
“Por ter raptado a menor e mandado matar o avô de sua refém, o
ouvidor foi denunciado ao governo de Goiás por seus inimigos políticos e
corria o risco de perder o posto e ainda ser julgado por seus próprios
adversários”, afirmou o escritor. Segundo ele, para escapar do julgamento, Joaquim Ignácio decidiu
apressar a aspiração do povo na região e, em 1816, por um alvará real
assinado por Dom João VI, o território conhecido como Sertão da Farinha
Podre voltava em definitivo para a capitania mineira.
“Também não houve julgamento”, disse Pedro Divino Rosa. “Um tempo
depois Joaquim Ignácio voltaria impune à corte e ainda com o título de
benemérito da região. Posteriormente, retornou a Portugal, onde morreu
com mais de 80 anos.”
Fonte: Wikipédia, Defender e Recanto da Lídia