Pai Agenor

AGENOR MIRANDA ROCHA
(96 anos)
Babalaô, Professor, Poeta e Cantor

☼ Luanda, Angola (08/09/1907)
┼ Rio de Janeiro, RJ (17/07/2004)

Agenor Miranda Rocha, o Pai Agenor, é quase uma lenda no Candomblé. Nascido em Luanda, Angola, no dia 08/09/1907, foi iniciado aos cinco anos, em 1912, pelas mãos da Srª Eugênia Ana dos Santos, mais conhecida como Mãe Aninha de Xangô ou Obá Biyi, fundadora do Axé Opô Afonjá, na cidade Salvador, Bahia, devido a uma enfermidade, fato este que levou sua mãe carnal a senhora Zulmira Miranda, católica apostólica romana, fervorosa, a aceitar o feito com intuito de salvar a vida de seu filho.

Quando jovem, e já residindo na cidade do Rio de Janeiro, foi o ilustre professor, iniciado nos mistérios da Orixá Ewá, de onde segue que dado a união destes dois orixas, Oxalufã e Ewá, o digno professor, ou como ele se auto intitulava, Zelador de Santo, tinha um dom especial nos jogos sagrados dos búzios.


O Professor Agenor, como era conhecido, foi professor catedrático aposentado do Colégio Pedro II, nas cadeiras de matemática e latim. Cantor lírico, seguindo os passos de sua mãe, a soprano Zulmira Miranda e babalaô adivinho na referida tradição religiosa candomblé, um dos ocidentais mais conhecedores da herança e da cultura afro-brasileira, além de talvez uma das mais respeitadas personalidades religiosas por todas as lideranças de tradicionais terreiros do Brasil.

Foi o jogo de búzios (meridilogun) do Professor Agenor que decidiu a sucessão de importantes terreiros: Mãe Oké e Mãe Tatá, na Casa Branca do Engenho Velho; Mãe Stella, no Axé Opô Afonjá; Mãe Índia, no Terreiro do Bogun (o último grande jogo de sucessão antes do falecimento do professor).

Agenor Miranda também foi poeta e musicista. Seu jogo de búzios foi um dos mais procurados do país. O velho professor foi orientador espiritual e conselheiro de personalidades de diferentes procedências religiosas e de muitos babalorixás, como Tatá Makamba Malaiá em São Paulo, no ano de 1972 e orientador do Babá Augusto César de Logunedé.

Jorge Amado, Zélia Gattai, almirante Adalberto de Barros Nunes, Maria Zilda, Maria Bethânia, Gal Costa, Liege Monteiro, Hugo Gross, Zora Sejlman, Antônio Olinto, Vera Fisher, Marcelo Picchi, Camila Amado, Heloísa Perissé, Bel Kutner e Regina Casé, dentre muitos outros, foram amigos ou frequentavam a casa do velho professor.

"Quem não conhece Agenor, não conhece Candomblé"
(Mãe Menininha do Gantois)


Documentário: Um Vento Sagrado

Foi publicada no jornal Diário de São Paulo a matéria "O Zelador Dos Orixás Na Tela", feita pelo jornalista Marcos Pinho - "Um Vento Sagrado", do diretor e artista plástico baiano Walter Lima. O trabalho conta a história de Pai Agenor, um dos mais importantes nomes do candomblé no país. O trabalho de pesquisa consumiu mais de três anos de viagens, pesquisas e gravações no Rio de Janeiro, Salvador, São Paulo e Roma.

O filme "Brasil" (2001), mostra Pai Agenor em sua casa no Engenho Novo, subúrbio do Rio de Janeiro, onde figuram desde imagens de São Francisco e Buda até de Oxalá e outras divindades do candomblé. É no local que ele recebia visitantes em busca de aconselhamento e jogava búzios.

Suas declarações são desconcertantes.

"A força do candomblé está no sangue verde das plantas e não no sangue vermelho dos animais!"
(Pai Agenor - Comentário condenando os sacrifícios em cultos)

Professor aposentado, poeta, ensaísta, cantor de ópera e de fado, Pai Agenor era um homem múltiplo e incomum. "Ele é talvez a última das grandes figuras do candomblé", afirma Gilberto Gil. O retrato pintado por Walter Lima é o de um ser de personalidade instigante cujas opiniões são sempre respeitadas.

A fita mostra ainda o biografado sendo recebido pelo Papa em Roma e inclui poemas nas vozes de atores como Alessandra Negrini, Ingrid Guimarães e Camila Amado, além da narração de Othon Bastos e depoimentos dos acadêmicos Antônio Olinto e Paulo Alonso, do cantor Gilberto Gil, dos professores Muniz Sodré e Wilson Choueri e de outras personalidades.

Amante da música, talvez por influência de sua mãe, a fadista portuguesa Zulmira Miranda, cuja história está registrada na Casa do Fado e da Guitarra Portuguesa, Agenor fez uma incursão como cantor no mundo da música. Há alguns anos foram recuperadas algumas de suas antigas gravações e hoje circula nas mãos de seus amigos e admiradores CDs onde ele canta fados, canções italianas e músicas clássicas.

Amante da poesia, teve dois livros publicados ainda em vida, "Poemas Infantis" (1999), e "Oferenda - Como a Flor Que Se Oculta Entre as Folhas" (1998), pela Editora Sete Letras, traduzido na Espanha e editado pela Algorán Poesia, em 2001.


Seus poemas foram muito bem recebidos por serem, além de belos, expressão de um grande conhecimento também nesta arte. Tinha muitos amigos e admiradores, muitos alunos, e para todos estes deixou ainda o livro "Caderno de Português" (2000), escrito logo após uma intervenção cirúrgica bastante séria.

Pai Agenor faleceu em 17/07/2004, vitimado principalmente pelo agravamento de um simples caso infeccioso, uma vez que não conseguiu ser tratado a tempo em condições necessárias. Deixou muitos amigos e filhos em todas as partes do Brasil e no exterior, todos saudosos e consternados, principalmente por não terem podido ajudá-lo e intervir para que pudesse completar com "saúde e paz", como gostava de dizer, os seus almejados 100 anos de existência, que foi lembrado e comemorado no dia 08/09/2007.

Dentre as homenagens que recebeu está a Medalha Pedro Ernesto, no Rio de Janeiro.

Sobre ele há uma primorosa biografia: "Um Vento Sagrado", editado pela Editora Mauad e de autoria de Muniz Sodré e Luis Filipe de Lima.

Fonte: Wikipédia