Eliane de Grammont

ELIANE APARECIDA DE GRAMMONT
(25 anos)
Cantora e Compositora

☼ São Paulo, SP (10/08/1955)
┼ São Paulo, SP (30/03/1981)

Eliane Aparecida de Grammont, foi uma cantora e compositora, nascida em São Paulo, SP, no dia 10/08/1955, tornada célebre por ter sido vítima de feminicídio por parte de seu ex-marido Lindomar Castilho, crime este que marcou a história do país como parte da campanha de combate à violência contra a mulher.

Eliane de Grammont era filha da compositora Elena de Grammont, e seus irmãos na maioria seguiram a carreira jornalística e no rádio, caso de sua irmã Helena de Grammont, jornalista da TV Globo. Seu pai morreu de miocardiopatia, doença que também vitimou dois de seus irmãos.

Em 1977 Eliane conheceu na gravadora RCA Victor o cantor de boleros Lindomar Castilho, que então experimentava um grande sucesso popular, havendo vendido em um de seus LPs mais de 800 mil cópias - número bastante expressivo para a época. Começaram um namoro e após dois anos se casaram, em 1979.


A família de Eliane foi contra a união, mas ela contrariou os parentes para unir-se ao cantor. Também insistiu em que o casamento se desse pela separação de bens, para deixar claro que não estava com ele em razão de seu sucesso e fortuna. Lindomar Castilho exigiu que ela parasse de cantar.

Durante o breve relacionamento o casal teve uma filha e, diante do abuso de álcool pelo cantor, dado a crises violentas de ciúme, episódios de agressão, separações e reconciliações, culminou com o desquite após pouco mais de um ano de casamento, em 1980.

Seis meses depois do fim do casamento ela ainda tentou uma reconciliação, mas Lindomar Castilho exigiu que ela assinasse um documento contendo dez compromissos, entre os quais pedir perdão à empregada que há anos trabalhava para ele e que fora motivo de brigas do casal.

Eliane havia descoberto que também era portadora a miocardiopatia que matara seus familiares, e ainda assim tentou retomar a carreira como cantora. Foi então que recebeu o convite de Carlos Randall para se apresentar no Café Belle Époque, e com ele passou a ter um romance.

O Crime

Eliane de Grammont, que interrompeu a carreira com o nascimento da filha, estava há cerca de um ano separada de Lindomar Castilho e se apresentava num bar em São Paulo quando o cantor a alvejou com vários tiros, atingindo ainda o músico que a acompanhava, o violonista Carlos Roberto da Silva, conhecido pelo nome artístico de Carlos Randall, ferido no abdome. Carlos Randall era primo de Lindomar Castilho, que o levou para São Paulo em 1974.

Lindomar Castilho desconfiava do envolvimento amoroso de Carlos Randall com sua ex-mulher, situação que foi agravada quando este também se separou da mulher. Após o crime, Lindomar Castilho tentou fugir mas foi detido e espancado por populares, que o amarraram até a chegada da polícia. Ferida mortalmente, Eliane chegou a ser levada a um pronto-socorro, mas chegou sem vida.

No momento em que fora assassinada Eliane cantava a música de Chico Buarque, "João e Maria", justamente no momento dos versos que diziam "Agora era fatal que o faz-de-conta terminasse assim".

Durante o julgamento a defesa de Lindomar Castilho explorou alegações de que a vítima era uma mãe que não cumpria com as suas obrigações, além de ser uma mulher infiel e de conduta reprovável. Durante o tempo em que durou, mulheres protestavam diante do tribunal pelo direito à vida, e aos poucos, homens foram se juntando para provocá-las, sob o argumento de um "direito" de matar em casos de "defesa da honra" masculina.

Através de eufemismos então em voga, seu advogado Waldir Troncoso Perez arguiu que o réu agiu tomado por "violenta emoção". Na época, tais crimes eram justificados com escusas como passionalidade, perda da paz ou "legítima defesa da honra". Atuou na assistência de acusação o então presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Marcio Thomaz Bastos e cinco dos sete jurados votaram pela condenação.

Contexto Histórico e Cultural

Ainda em liberdade, Lindomar Castilho respondeu ao júri em 1984 e mulheres se manifestaram diante do fórum. No segundo dia do julgamento muitos homens foram levados até lá (segundo relatos, contratados para tal) e passaram a jogar ovos nas manifestantes e a gritar-lhes palavras como "mulher que bota chifre tem que virar sanduíche".

No contexto social da época a impunidade era gritante. Na época a canção de Sidney Magal pregava: "Se te agarro com outro / Eu te mato / Te mando algumas flores / E depois escapo".

Mesmo condenado Lindomar Castilho recorreu livre.

Na época o adultério era considerado um crime pelo Código Penal Brasileiro vigente, e tramitava ainda no Congresso um projeto que excluía esse tipo delituoso.

Impacto Cultural e Defesa da Mulher

O crime, onde Lindomar Castilho alegava ter sido traído pela mulher, ganhou grande repercussão no Brasil, não somente por envolver nomes bastante conhecidos da música popular da época, como também por ter a imprensa assumido, então, importante papel na mudança da visão social dos chamados "crimes passionais", recebendo da mídia ampla cobertura.

Depois de uma missa em homenagem a Eliane de Grammont, celebrada na Igreja da Consolação no dia 04/04/1981, mais de mil mulheres vestidas de preto marcharam em protesto contra a violência masculina, com palavras de ordem como "Quem ama não mata!", até o Cemitério do Araçá.

Diversas instituições de luta pelos direitos da mulher surgiram em razão dos protestos contra esse feminicídio. Uma delas foi o "Grupo Masculino de Apoio à Luta das Mulheres", integrado por diversos intelectuais e que lançou então um "Manifesto Contra a Barbárie".

O cartunista Henfil, que apresentava um quadro chamado "TV Homem" no programa diário de televisão TV Mulher, publicava uma seção na revista ISTOÉ onde escrevia cartas à sua mãe e comentava fatos da semana. Na edição de 08/04/1981, ao comentar o fato de que policiais haviam vestido um assaltante de mulher e o fizeram assim desfilar pelas ruas, como humilhação, escreveu ironicamente:
"Por que é que vestir um homem de mulher é humilhar, é desmoralizar? Por que ser mulher é a coisa mais humilhante e desmoralizada que tem? Pior que ser cachorro, pato ou galinha? (...) Pois. É por isso que um (dois, três, mil) Lindomar Castilho tem o legítimo direito de matar a Eliane de Grammont. Ah, ele é apenas misericordioso. Quis livrar a Eliane da humilhação, da desmoralização de ser... uma mulher."
Em novembro de 1982, respondendo em liberdade pelo crime, Lindomar Castilho foi impedido por centenas de mulheres de se apresentar num show em Goiânia, com a distribuição de um panfleto que trazia uma foto dele com a esposa e a filha Liliane e os dizeres: "Eliane Gramont(sic) não vai cantar hoje. Ela está morta!".

Homenagens

Na capital paulista, no bairro da Barra Funda, foi dado o nome Eliane Aparecida de Grammont a uma de suas ruas já em dezembro de 1981.

Eliane de Grammont também é nome de rua na cidade Londrina, no Paraná.

Em São Paulo existe a Casa Eliane de Grammont, instituição Estatal destinada a dar apoio psicossocial e jurídico a mulheres em situação de violência de gênero, mantida pela prefeitura de São Paulo.

Fonte: Wikipédia
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