Gordurinha

WALDECK ARTUR DE MACÊDO
(46 anos)
Cantor, Compositor e Humorista

☼ Salvador, BA (10/08/1922)
┼ Rio de Janeiro, RJ (16/01/1969)

Fossem os curiosos tentar adivinhar-lhe o físico pelo apelido e Gordurinha seria até hoje mais um enigma na história da música popular brasileira. Magro na juventude, Waldeck Artur de Macêdo, nascido no bairro da Saúde, em Salvador, no dia 10 de agosto de 1922, ganhou seu apelido em 1938, quando já trabalhava na Rádio Sociedade da Bahia.

Do seu repúdio à colonização americana, epitomada pela goma de mascar, nasceu o bebop-samba, "Chicletes Com Banana", em parceria com Almira Castilho, que acabou por pronunciar o tropicalismo ao sugerir antropofagicamente na letra:

"Eu só boto be-bop no meu samba
Quando o Tio Sam tocar um tamborim
Quando ele pegar no pandeiro e no zabumba
Quando ele aprender que o samba não é rumba"

Ele mesmo chegou a gravar, como que a tirar um sarro, um rock intitulado "Tô Doido Para Ficar Maluco".

Mas não foi só de glória e reconhecimento tardio a vida deste que, ao lado do Trio Nordestino, iria se transformar no baluarte do forró na Bahia. Sua estréia no mundo da música se deu em 1938, quando fez parte do conjunto vocal Caídos do Céu que se apresentava na Rádio Sociedade da Bahia, fazendo logo depois par cômico com o compositor Dulphe Cruz. Logo se destacou pelo seu dom de humorista e pelo sarcasmo que iria ser disseminado em suas letras anos mais tarde.


Em 1942, cansado de tentar conciliar estudo e sessões de rádio, tomou a decisão e se debateu com um dilema conhecido de muitos: medicina ou carreira artistica? Como seus discípulos Zé Ramalho e Fred Dantas, Gordurinha caiu fora desse estória de clinicar. Largou a Faculdade de Medicina e seguiu sua sina de cigarra.

Os passos iniciais seriam dados numa Companhia Teatral. Caiu na estrada, mambembeando e povoando de músicas e pantomimas outras plagas.

Seu próximo passo seria um contrato na Rádio Jornal de Comércio, em Recife, no ano de 1951. Depois, o jovem compositor, humorista e intérprete Gordurinha passaria pela Rádio Tamandaré onde conheceu o poeta Ascenso Ferreira, figura folclórica do Recife, Jackson do Pandeiro e Genival Lacerda. Estes dois últimos gravariam em primeira mão várias das suas composições.

Em 1952 partiu para o Rio de Janeiro onde penou sofrendo gozações preconceituosas. Sublimando estes pormenores, conseguiu trabalhar nos programas "Varandão da Casa Grande", na Rádio Nacional, e "Café Sem Concerto" das Rádios Tupi e Nacional, duas das maiores no país, sempre fazendo tipos humorísticos. Ficou neste circuito até que almejou um sonho que já alimentava desde os magros dias do Recife que era um contrato na mais importante mídia do Brasil na época: a Rádio Nacional.

"Meu Enxoval", um samba-coco em parceria com Jackson do Pandeiro seria um dos carros chefes do disco "Forró do Jackson" (1961). Outro que se daria bem com uma composição do baiano seria o forrozeiro paraense Ary Lobo (mais um dos artistas que o Brasil insiste em esquecer) que prenunciou o mangue beat ao cantar "Vendedor de Caranguejo" que também seria gravado por Clara Nunes em 1974, e por Gilberto Gil no seu "Quanta" de 1997.

Em 1964 desagradado com o golpe militar, fugiu de casa deixando com os familiares a determinação para que destruíssem tudo o que parecesse comprometedor, especialmente uma foto em que aparecia tocando violão para o presidente João Goulart e o governador Leonel Brizola. Maltrapilho e doente, só reapareceu meses depois.  

Homenagens

Gordurinha seria homenageado na década de 70 com Gilberto Gil, que regravou "Chicletes Com Banana" e "Vendedor de Caranguejo". O cantor carioca Jards Macalé, também o homenageou com a regravação de "Orora Analfabeta", no seu segundo LP, "Aprendendo a Nadar", de 1974. Elba Ramalho, que em entrevista à revista Showbizz, elogiou sua divisão de versos, se rendeu ao talento do mestre ao dar sua versão de "Pau-de-Arara é a Vovozinha", no seu CD "Flor da Paraíba", de 1998.

A última homenagem recebida foi o lançamento do CD "A Confraria do Gordurinha", em rememoração aos 30 anos sem o artista. Contando com participação de Gilberto Gil, Confraria da Basófia e Marta Millani, e texto do pesquisador Roberto Torres. O CD têm 14 faixas e foi lançado em 1999.

Gordurinha faleceu em Nova Iguaçú, Rio de Janeiro, em 16/01/1969, vítima de um infarto  provocado por uma overdose.

Injustiça

A impressão que a livre imprensa nos passa é de estar contra um dos grandes gênios da música popular brasileira. Gordurinha foi um gênio não reconhecido e desprezado da elite musical. O que mais choca é o fato de a imprensa atual cheia de recursos para consulta como a internet se manter calada diante de fatos relevantes.

Algumas musicas de Gordurinha continuam sendo creditadas a outros cantores, creditadas por profissionais da arte e por leigos que publicam em sites, blogs, e na vasta imensidão da internet, que parece ser incontrolável e sem punições por seus erros.

Citaremos abaixo algumas das musicas que Gordurinha fez e como ele mesmo dizia, algumas de suas músicas fizeram um pouco de sucesso, tais como:

"Chicletes com Banana" que insistem em chamar de "Chiclete com Banana", "Súplica Cearense" em que insistem creditar a Luiz Gonzaga. Entre outros sucessos estão "Mambo da Cantareira", "Vendedor de Caranguejo", "Vendedor de Biscoitos", "Baiano Burro Nasce Morto", "Carta a Maceió", "Orora Analfabeta", "Oito da Conceição", entre outros.

11 comentários:

  1. obrigado pela matéria de seu blog, meu avô merece, acesse o blog de gordurinha e descubra mais curiosidades sobre meu avô

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    1. Obrigado Gordurinha Neto por sua participação no blog. Com muito prazer acessarei o blog pois tenho interesse em conhecer e inclusive aproveitar informações para enriquecer mais a biografia de Gordurinha aqui publicada>

      Informe o endereço do blog para que eu e os outros leitores possa acessar.

      Abraços

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  2. Parabéns pela dedicação ao fazer essa compilação de biografia do Grande Gordurinha, um artista da minha terra, que merecia um reconhecimento maior pela sua obra e pela luta contra o preconceito ainda insistente, infelizmente, contra os nordestinos.

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    1. Obrigado pelo comentário João Bani. Volte mais vezes ao blog. Um grande abraço!

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  3. Saudades de Gordurinha que estaria hoje 10/08 -completando 91 anos quando criança ouvia e gostava do Mambo da Cantareira. Em Alusão a Famosa Barca Rio-Niteroi - Tenho o Stand Play em 45 RPM.

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  4. Gordurinha nasceu em Jequié Bahia e não em Salvador

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    1. Segundo Ricardo Cravo Albin, musicólogo brasileiro, sendo considerado um dos maiores pesquisadores da Música Popular Brasileira, o local e data de nascimento de Gordurinha é Salvador, BA, 10/08/1922, e o local e data de morte é Rio de Janeiro, RJ 16/01/1969.

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    2. Você está errado, meu avô bnasceu em Salvador.

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  5. Meus Deus....cada ano que se passa eu entende e coheço menos de nossa música. Gordurinha escreveu grandes clássicos, mas sempre há mais do que imaginamos. Meu pai tocava acordeon, me ensinou muito de música, principalmente a nordestina. O blog esta de parabéns que lugar de conhecimento imenso.

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