Zózimo Bulbul

ZÓZIMO BULBUL
(75 anos)
Ator, Cineasta e Roteirista

☼ Rio de Janeiro, RJ (21/09/1937)
┼ Rio de Janeiro, RJ (24/01/2013)

Zózimo Bulbul foi um ator, cineasta e roteirista brasileiro. Primeiro ator negro a protagonizar uma novela na televisão brasileira, "Vidas Em Conflito" (1969) na extinta TV Excelsior, onde foi par romântico de Leila Diniz. O escândalo do par fez com que a censura da ditadura militar vetasse a novela. Aproveitando-se da polêmica, o estilista Dener Pamplona convidou Zózimo para desfilar, tornando-o o primeiro modelo de uma grande grife brasileira.

"Fui capa de revista, um sucesso! Só que não me conformaria em ser um ator vazio."
(Zózimo Bulbul)

Sua carreira começou nas peças do Centro Popular de Cultura da União Nacional dos Estudantes (UNE) e se encorpou no cinema, no qual se tornou um dos maiores expoentes da cultura afro-brasileira, como fazia questão de ressaltar, nas décadas de 1960 e 70.

No cinema, estreou em 1962 em um dos episódios do filme "Cinco Vezes Favela", um dos no marcos do Cinema Novo. Ao longo de 50 anos de carreira, Zózimo Bulbul atuou em mais de 30 filmes, incluindo clássicos como "Terra em Transe" (1967), de Glauber Rocha, "Compasso de Espera" (1973), de Antunes Filho e "Grande Sertão" (1965), de Geraldo Santos Pereira.

Chacrinha chamava o ator Zózimo Bulbul de "O negro mais bonito do Brasil".

Em 1974, estreou como diretor com o curta em preto e branco "Alma no Olho", uma reflexão da identidade negra por meio da linguagem corporal. Zózimo aproveitou os negativos que sobraram do filme de Antunes Filho para rodar seu curta-metragem. Os integrantes da censura achavam que a obra tinha tom "subversivo" e o chamaram para depor. Perguntaram sob ordem de quem ele havia feito filme tão sofisticado, imaginando que chegariam a uma complexa mente comunista. "Sob ordens do amigo e poeta Vinicius de Moraes", respondeu Zózimo.


Seu filme mais conhecido, no entanto, é um documentário de 1988 intitulado "Abolição", com entrevistas de personalidades sobre o centenário da abolição.

Foi o fundador do Centro Afro Carioca de Cinema. Realizou três curtas, cinco medias e um longa-metragem, todos com foco na cultura afro descendente e na luta contra as desigualdades.

Em 2010, a convite do governo do Senegal, Zózimo fez o média-metragem "Renascimento Africano", que mostra o país nas comemorações dos 50 anos de independência deste país.

Em novembro de 2012, o ator foi homenageado pelos 50 anos de carreira no 6º Encontro de Cinema Negro Brasil, África e Caribe, evento que foi criado por ele.

Uma das últimas entrevistas que concedeu foi para o documentário em produção do cineasta americano Spike Lee. Em novembro de 2012, comentou como transcorreu a conversa.

"Tinha morado em Nova York quando a ditadura apertou por aqui. Fiz muitos contatos, que sempre me ajudaram na organização dos festivais de cinema. Spike esteve no Brasil e o único cineasta brasileiro que quis entrevistar foi a mim. Porque ele sabia do meu comprometimento com os irmãos africanos e em fazer com que o cinema seja ferramenta de luta."

Zózimo Bulbul já estava enfraquecido pelo câncer que enfrentava havia alguns anos. Falava com dificuldade. Estava muito atento ao noticiário e enalteceu a figura do presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Joaquim Barbosa, na condução do julgamento do mensalão.

"Que maravilha de atuação. Impôs-se com rigor e inteligência como não se via há muito."

Zózimo Bulbul trabalhou até novembro de 2012.

Morte

Zózimo Bulbul sofreu um infarto às 9h50 de quinta-feira, 24/01/2013, aos 75 anos. Zózimo estava seu apartamento, na praia do Flamengo, ao lado da mulher, Biza Vianna com que era casado havia 30 anos. Ele lutava desde junho de 2012 contra um câncer no colo do intestino.

O velório começou às 17h00 de quinta-feira, 24/01/2013, na Câmara dos Vereadores do Rio de Janeiro. O enterro ocorreu às 12h00 de sexta-feira, 25/01/2013, no Cemitério São Francisco Xavier, no Caju, Zona Portuária da cidade.

"É um sentimento horrível, horroroso, mas o que existe agora é um grande alívio, pois ele estava sofrendo muito. Tenho a certeza de que ele lutou muito, o tempo todo, e se orgulhava muito de todas as coisas que conquistou em vida. É um guerreiro, um rei africano."
(Biza Vianna, viúva de Zózimo)

Comentários e Notas de Pesar

"Minha ficha ainda não caiu. Por enquanto ainda estou reagindo de uma maneira prática a tudo isso. Mas é muito doloroso perder o Zózimo desta maneira. Ele tinha uma força de viver muito grande. Acho que é exatamente isso que está unindo as pessoas neste momento."
(Monalisa Alves, que trabalhava com o diretor no Centro Afrocarioca de Cinema há três anos)


"Zózimo Bulbul teve uma trajetória fantástica, reconhecida. Mais que um ícone do seu tempo, é alguém que rompe paradigmas, faz o novo e por isso se torna conhecido no Brasil e no exterior. Ele nos deixa o exemplo de quem sempre quis fazer mais e melhor. E fez."
(Marta Suplicy - Ministra da Cultura)


"Foi contando a história dele que comecei a dirigir. Meu primeiro trabalho no Canal Brasil foi um 'Retratos Brasileiros' sobre ele. Descobri-lo como o primeiro negro protagonista masculino de uma telenovela no Brasil e tantas outras coisas me revelou um novo mundo"
(Lázaro Ramos)

"O povo brasileiro tem avançado muito nessa caminhada para construir a igualdade de oportunidades entre negros e não negros, e o Zózimo é um dos protagonistas que vêm de longe lutando contra o racismo e em prol da igualdade. Por isso eu digo que o Brasil ficou hoje menos afro-brasileiro, com uma dor intensa. Mas as futuras gerações conhecerão o trabalho de Zózimo, a riqueza de sua obra e de sua militância."
(Eloi Ferreira de Araujo - Presidente da Fundação Cultural Palmares)

"Ele foi o primeiro cara que cunhou esse termo 'cinema negro', com características brasileiras, mas muito africano. Aqui no Brasil ele me colocou em conexão com o cinema mundial. Para mim, é uma perda muito pessoal desse pai do cinema negro, mas que também muitas vezes assumiu o papel de um pai biológico para mim."
(Jefferson De - Diretor de "Bróderr" e "5x Favela")


"Ele não era só um ator de qualidade, mas um ícone da cultura negra, um líder do movimento negro. Tinha uma capacidade imensa de agregar pessoas em torno dele."
(Cacá Diegues)

O Centro de Articulação de Populações Marginalizadas divulgou nota lamentando a morte do ator e cineasta, um dos contemplados em 2011 na última edição do Prêmio Camélia da Liberdade, concedido pela entidade.

De acordo com a nota, Zózimo Bulbul manifestou grande emoção pelo reconhecimento de seu trabalho de luta contra o preconceito.

Carreira


Televisão
  • 1996 - Xica da Silva
  • 1994 - Memorial de Maria Moura
  • 1969 - Vidas em Conflito

Cinema

  • 2005 - As Filhas do Vento
  • 2004 - O Veneno da Madrugada
  • 2003 - Oswaldo Cruz - O Médico do Brasil
  • 2002 - A Selva
  • 1988 - Natal da Portela
  • 1987 - Tanga (Deu no New York Times?)
  • 1984 - Quilombo
  • 1982 - A Menina e o Estuprador
  • 1980 - Giselle
  • 1980 - Parceiros da Aventura
  • 1978 - A Deusa Negra
  • 1975 - Ana, a Libertina
  • 1974 - El Encanto Del Amor Prohibido
  • 1974 - Brutos Inocentes
  • 1974 - Pureza Proibida
  • 1971 - Quando as Mulheres Paqueram
  • 1970 - A Guerra dos Pelados
  • 1970 - O Palácio dos Anjos
  • 1970 - República da Traição
  • 1969 - O Cangaceiro Sem Deus
  • 1969 - A Compadecida
  • 1969 - Em Compasso de Espera
  • 1968 - O Engano
  • 1968 - O Homem Nu
  • 1967 - Terra em Transe
  • 1967 - Garota de Ipanema
  • 1967 - El Justicero
  • 1967 - Proezas de Satanás na Vila do Leva-e-Traz
  • 1966 - Onde a Terra Começa
  • 1965 - O Grande Sertão
  • 1963 - Ganga Zumba
  • 1962 - Cinco Vezes Favela

2 comentários:

  1. que homem lindo. que absurdo foi a ditadura nesse pais. que momento vergonhoso aquele em que imepdiram esse deus negro lindo, atuasse com uma atriz branca. parabens por esse blog de lembranças

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    1. Obrigado você Razanil por seu comentário e pela participação no blog. Espero que visite sempre! Abraços

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